1 de janeiro de 2000

Tradição da Páscoa



Na celebração da Páscoa na nossa paróquia de S. Mamede de Guisande, para além das cerimónias litúrgicas que são próprias do tempo, como o Tríduo Pascal, assume extrema importância a Visita Pascal também designada de Compasso. 

Nas origens, o Compasso era composto apenas por uma cruz, transportada pelo Juiz da Cruz, o pároco, o sacristão e uma ou outra pessoa ligada ao serviço da paróquia ou mesmo familiar do Juiz da Cruz. 
Este Compasso, após a realização da missa de Páscoa, pela manhãzinha, percorria todos os lugares da freguesia, terminando já a altas horas da noite. Começava no lugar da Igreja e terminava no lugar de Cimo de Vila.

Com o aumento do número de casas, o número de equipas foi crescendo e actualmente e desde há alguns anos são três as equipas a percorrer a freguesia durante a manhã e a tarde. 

As equipas ou "Cruzes" são compostas pelo pároco, quando tem disponibilidade, pelos ministros da Comunhão, por acólitos, pelo Juiz da Cruz e por membros da família deste. Não sendo regra nem tradição, nos últimos anos tem também participado o Juiz da Cruz eleito para o ano seguinte.

A eleição do Juiz da Cruz decorre de um processo já antigo mas que não tem sido regular na forma, mas que em princípio assenta nos seguintes pressupostos: Anualmente, são escolhidos dois homens, naturais da freguesia ou casados na freguesia, em regra casados há 20/25 anos. Esta escolha, que alternadamente deve considerar residentes na Parte de Cima e residentes na Parte de Baixo da freguesia, é da responsabilidade do pároco e/ou da Camissão da Fábrica da Igreja. Uma vez escolhidos os dois candidatos, estes são submetidos a uma eleição que decorre por tradição na Missa Vespertina do Dia de Reis. São divulgados os nomes e convidadas as pessoas presentes a dirigirem-se ao anunciante e ao ouvido deste pronuncia o nome do seu preferido. No final são contabilizadas as escolhas e divulgado o eleito. Em rigor é eleito como Mordomo da Cera o qual assumirá a função de Juiz da Cruz passados dois anos. Ou seja, como exemplo, sendo nomeado em 2017 será Juiz da Cruz em 2019. Este interregno já foi de quatro anos mas com desistentes tornou-se mais curto.
Os eleitores por tradição eram apenas homens casados mas nos últimos anos, por alguma perda de interesse, tem-se aberto algumas excepções, já tendo votado mulheres. Infelizmente este método de eleição, desde o falecimento do Pároco P.e Francisco de Oliveira, em 1998, tem vindo a perder algum consistência e importância no que acaba por tirar alguma dignidade à eleição. Apesar destas contingências, a tradição tem-se mantido embora o cargo ou função de Juiz da Cruz já não seja tão considerada e desejada desde logo porque implica algumas responsabilidades e despesas, nomeadamente com a organização do Almoço do Juiz da Cruz na segunda-feira de Páscoa.