2 de outubro de 2017

Autárquicas 2017–Resultados para a Assembleia de Freguesia da nossa União - Leituras


Fechados que estão os resultados eleitorais para a Assembleia de Freguesia da União de Freguesia de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, já é possível fazer algumas leituras, embora estas em política possam seguir por caminhos diferentes. Há, porém, situações tão objectivas e evidentes que é impossível ignorá-las.

Olhando, pois, para os resultados, pode-se chegar a algumas e às seguintes leituras:
- O grande vencedor da noite foi Manuel de Oliveira Leite, o homem-forte de Gião. Aqui sem dúvida que a figura e o carisma sobrepôs-se ao partido.
- Os resultados equilibrados em Lobão, com o PSD a ter uma vantagem de apenas 31 votos, retiram a Lobão o argumento de que por si só decide o resultado eleitoral. Não foi assim e poderá não ser assim no futuro.

- A José Henriques, deve-se reconhecer a coragem de ter enfrentado uma eleição que de antemão se sabia ser muito difícil e num contexto de descontentamento geral, que de resto se reflectiu nos resultados. Em todo o caso, como presidente e único responsável directo pelo modelo seguido, ainda que fortemente condicionado pelos factores de compromissos financeiros, mudança administrativa e mandato encurtado, teria que ser ele próprio a enfrentar esses predicados, até porque, de uma concelhia algo autista, nem sequer se equacionou outra alternativa de liderança. Assim sendo, não teve como não ser assim. É certo que nesta luta esteve muito bem escudado por Manuel Oliveira Leite, comprovado nos resultados, mas é justo que se lhe reconheça essa coragem.

- David Neves, cabeça-de-lista do PS, deve sentir-se orgulhoso porque fez um excelente resultado, mesmo em Lobão, sendo apenas apanhado pelo tornado "Leite". Porventura fez uma campanha pouco incisiva, demasiado soft e sobretudo com um grande erro de casting ao começar a campanha apenas 15 dias antes das eleições deixando o eleitorado numa dúvida e envolto num nevoeiro de tabú que demorou mais de um mês a dissipar. Se a lista entrou no tribunal no início de Agosto, não fez nenhum sentido estar a ocultar-se a mesma durante quase mês e meio. A meu ver esta passividade fez muita diferença, sobretudo na campanha digital ao nível das redes sociais.

- Em Guisande, mesmo com o PS a apresentar como representante uma ilustre desconhecida, sem qualquer intervenção ou dinâmica na comunidade local, beneficiou do efeito do carisma positivo de Celestino Sacramento, que se envolveu até de uma forma mesmo pessoal, quase intimista, bem como obviamente lucrou o PS com uma vontade por parte de uma maioria do eleitorado em penalizar um recandidato cabeça-de-lista do PSD que considerou ter estado longe de uma actuação de proximidade para além  do ónus da escassez de obras e alguma incapacidade de resolver assuntos básicos como as limpezas das ruas e espaços ajardinados. Pode-se, pois, concluir sem sofismas que em Guisande ganhou o Celestino Sacramento.

- A maioria absoluta do PSD deve-se também ao CDS que deixou Fernando Almeida de lado e que assim descapitalizou o eleitorado certinho que tinha em Gião a favor do homem-forte. Em circunstâncias normais o CDS teria eleito um elemento que teria sido importante para impedir uma maioria absoluta.

- Quanto a Guisande, apesar de uma diferença de 101 votos entre a vitória do PS e da derrota do PSD, comparativamente às últimas eleições intercalares de 2014 o PS apenas ganhou mais 59 votos e porque o PSD teve menos 112 votos do que em 2014, a diferença residiu obviamente na sua dispersão por votos brancos (este ano com mais 26), nulos (este ano com mais 9) e mesmo na redução de número de votantes (este ano com menos 26). Ou seja, é legítimo concluir que poucos votos passaram directamente do PSD para o PS, o que de resto é comum ao país.

- Puxando um pouco a brasa à sardinha, em Louredo, mesmo vencendo o PSD, a saída de Marta Costa, muito competente, conhecedora e apaixonada pela sua freguesia, teve os seus custos e o partido perdeu 135 votos, o que é significativo. Do mesmo modo, independentemente das leituras que cada um poderá fazer, também em Guisande a saída de Américo Almeida resultou numa perda para o PSD de 112 votos comparativamente a 2014. Creio que são legítimas estas leituras.

- Assim sendo, e ainda com outras leituras e estatísticas por fazer, vamos pois continuar a ter uma Junta e Assembleia de Freguesia dominadas pelo PSD. Se na Assembleia vão continuar algumas das figuras do anterior mandato, já no executivo a mudança é de 80%. A ver vamos como se compatibilizam os perfis e carismas de José Henriques e Manuel Leite, que esperamos que seja uma compatibilidade profícua em favor da União e de cada uma das quatro células.

- Quanto a Guisande, continuo a lamentar que a sua representante não ocupe um lugar de tesoureira ou secretária na Junta, como era justo que fosse, tendo em conta uma rotatividade de cargos. Uma desconsideração da concelhia, sem dúvida e que de algum modo também se reflectiu no resultado em Guisande em que o PSD foi fortemente penalizado. Infelizmente quem manda nestas coisas quase sempre de forma teimosa e contra a maré, não quer ler nem compreender ou corrigir os sinais.

Do mal o menos, nesta desconsideração centralista para com Guisande, pelo menos, em princípio, teremos o Dr. Rui Giro como presidente da Assembleia de Freguesia, cargo que certamente desempenhará com qualidade.

Finalmente, espero e desejo que o resultado penalizador de Guisande não resulte em qualquer  tentação de revanchismo e que, pelo contrário, se aproveite a oportunidade para se demonstrar pela positiva que os guisandenses fizeram mal em não continuar a acreditar no PSD.