2 de maio de 2018

Quem parte e reparte e não fica com a melhor arte


Daqui a uns dias , a 24, 25 e 26 de Maio, decorrerá em Santa Maria da Feira mais uma edição do Imaginarius - Festival Internacional de Teatro de Rua. Sem dúvida um evento que se tem vindo a afirmar nacional e internacionalmente no panorama cultural como um dos fortes pilares da política cultural da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira. Todavia, apesar de aos poucos o festival começar a estender-se a alguns palcos fora da sede do concelho, tem ainda a marca de um exagerado centralismo, que alguém em tempos designou de "cova". Será bom que nas edições futuras o evento seja alargado a outros palcos.

Reconhecidamente a cultura é uma das vertentes identificadoras do desenvolvimento dos povos e sociedades, mas a mesma só faz sentido pleno quando todos os outros importantes índices de desenvolvimento estejam assegurados, nomeadamente o que concerne a equipamentos e infraestruturas. Talvez por isso, faz-me alguma confusão que nos permitamos dar espaço a eventos culturais, para elites ou massas, necessariamente com avultadas despesas, desde logo associadas à promoção, e que, paradoxalmente, o concelho ainda tenha muitas e muitas ruas em estado deplorável. Bem sabemos que, mesmo que em quantidade em detrimento de qualidade, têm sido repavimentadas, que não necessariamente requalificadas, muitas e muitas ruas, um pouco por todo o concelho, quiçá com critérios de prioridades nem sempre entendíveis. Sabemos que a CMF e o seu presidente têm feito esse esforço de repavimentação, que se enaltece, mas ainda falta muito para lá chegar.

Com tantos e profundos buracos (por cá, entre outras, atente-se nas ruas do Outeiro, Nossa Senhora da Boa Fortuna, Santo António, Barreiradas, Leira, Fonte, etc), é também nestas ruas que diariamente muitos "artistas" feirenses que as percorrem, exibem ali as suas artes performativas, incluindo malabarismos, gincanas e declamações de poesias tão  inspiradas quanto contundentes dirigidas aos políticos que nos governam. Assim sendo, este imaginarius bem real, mesmo que muito sui generis, acaba por ter bons palcos em todas as freguesias, numa descentralização democrática.

Em resumo, desculpando alguma ironia, as artes nas ruas, ou outras, são desejáveis e bem vindas mas não seria mau que primeiramente se desse às ruas a arte da boa pavimentação. Mas, não sendo assim, manda quem parte e reparte esta arte.