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8 de agosto de 2019

Rabiscos - Pipi das Meias Altas


Quem não se recorda da série de televisão "Pippi das Meias Altas", no original sueco com o título de "Pippi Langstrump" e noo inglês "Pippi Longstocking" ? Certamente que apenas os mais velhos.
A reboque dessa memória fiz o rabisco acima, com a sorridente Pipi e o seu inseparável amigo macaco Herr Nilson (por cá, Sr. Wilson).

A Pipi era interpretada por Inger Nilsson que em 4 de Maio passado completou 60 anos, já que nasceu em 1959. O nome da personagem ficou para sempre colado à actriz pelo que a mesma tem salientado publicamente que preferia não ser tão conhecida apenas por esse facto mas pelo todo da sua carreira, já que o seu trabalho tem sido diversificado, nomeadamente na televisão sueca e alemã, onde tem tido algum êxito.

A série de televisão baseia-se nos livros infanto-juvenis escritos pela também sueca, Astrid Lindgren.

Antes da versão para TV, "Pippi das Meias Altas" foi realizado como um filme para cinema, em 1949, então com Viveca Serlachius no papel da Pippi. 
A série para televisão, com produção sueca, teve o seu início em 1969 com continuidade até 1973, creio que com 13 episódios, sempre com Inger Nilsson no papel principal. 

Para além desta série, a que de facto popularizou a Pippi das Meias Altas, esta figura do imaginário infanto-juvenil teve ainda outras versões, nomeadamente uma soviética, em 1982 e uma americana, em 1988. Teve ainda uma versão de origem canadiana, em animação, com 26 episódios, em duas temporadas de 1997 a 1999, que também se tornou muito popular. 

Entre nós, a série "Pippi das Meias Altas" passou na RTP em meados dos anos 70, por isso a preto-e-branco.
Como não podia deixar de ser, então uma criança, eu, como muitos outros, assisti com entusiasmo infantil às aventuras da Pippi das Meias Altas e seus amigos. Creio que a série passava aos domingos à tarde.

Pippi era uma rapariga de 10 anos, com uma figura deveras característica, com as suas pernas altas e magras, vestidas com umas longas meias coloridas (donde lhe advém o apelido), cabelo ruivo, atado em duas espécies de tranças ou puxos laterais, com o rosto sardento, um nariz arrebitado e uns dentes um pouco salientes. Pippi destacava-se pela sua irreverência, permanente boa disposição mas sobretudo pela sua coragem e incrível força, que lhe permitia pegar com facilidade nas coisas mais pesadas. Penso que era essa a sua característica que mais fascinava as crianças de então que seguiam avidamente os episódios.

Entre nós, a série foi um êxito e como tal, por essa altura, entre outras vertentes de marketing, foi  editada uma caderneta de cromos, que coleccionei, cuja tema era dedicado ao filme "Pippi e os Piratas".
Pippi tinha dois inseparáveis amigos, os irmãos Tommy (Pär Sundberg) e Annika (Maria Persson) e ainda o inseparável macaco, chamado Sr. Wilsson. 

Neste filme, os amigos, em plena brincadeira, descobrem uma garrafa com uma mensagem de socorro, por coincidência enviada algures pelo pai de Pippi, o capitão Langkous, que tinha sido feito prisioneiro por um grupo de ferozes piratas, encontrando.se algures numa ilha do Pacífico. Então Pippi e os amigos (que estavam de férias), a bordo do seu balão voador, decidem ir à procura do pai para o resgatar.

Depois a aventura continua, entre muitas peripécias, com o confronto com os piratas e finalmente a libertação do pai de Pippi e o regresso de todos a casa, à Vila Revoltosa.
A caderneta, com uma dimensão de 238 x 335 mm,  é uma edição da Casa Arnaldo, sendo composta por 182 cromos, com fotogramas do respectivo filme. 

A caderneta tinha inserto um cupão que depois de preenchido dava direito ao sorteio de uma viagem à Suécia. 
As saquetas dos cromos tinham também senhas surpresa (250000), cada qual correspondente a 1 ponto. Depois, somando os diversos pontos  era possível reclamar vários prémios, tais como jogos, puzzles e livros, correspondendo a cada qual um determinado número de pontos de acordo com uma tabela impressa na caderneta.



1 de julho de 2018

Cromos da May - Quem se lembra?


Como está na moda e dá um ar de modernidade, ainda tentei dar um título em inglês, "Who remember?",  mas de certeza absoluta que, para o caso, quem não se lembra de certeza é a malta mais nova, precisamente a mais suscpetível a inglesismos. Assim sendo, eventualmente apenas os mais velhos lembrar-se-ão  destes cromos de futebol que tenho cá pelo baú.
São cromos raros, de colecções do final dos anos 60, início dos anos 70, produzidos pela May Portuguesa SARL, então localizada na Coina - Barreiro. Vendiam-se com uma saborosa chiclete, então conhecidas por goma de mascar ou em inglês, "chewing-gum".
Estes cromos juntos dos coleccionadores valem de  1 a 20 euros a unidade ou mais. Uma das poucas cadernetas editadas, com 120 cromos, pode custar mais de 500 euros.

13 de abril de 2018

Nota de 20 escudos - A verdinha


Desde 1 de Janeiro de 2002 que Portugal, como membro da da Comunidade Europeia (actualmente União Europeia) desde 1986, está integrado no chamado sistema de moeda única europeia, ou Zona Euro. Por conseguinte, a nossa moeada é o Euro, o que na actualidade vigora em 19 dos 28 países membros. 
Todos sabemos do conjunto de dificuldades de adaptação ao novo dinheiro bem como a curiosidade que na altura despertou. A curiosidade passou, é certo, mas as dificuldades, principalmente de conversão, ainda fazem parte do dia-a-dia de muitas pessoas, de modo especial dos idosos. Actualmente, de um modo geral, já estamos mais ou menos familiarizados com o sistema, mas de facto foi uma etapa marcante para todos os portugueses e obviamente para a população dos Estados que aderiram ao sistema. Muitos dizem que com nítido prejuízo para Portugal.

Do tempo dos escudos, uma das mais emblemáticas notas foi sem dúvida a de 20 escudos, com a efígie de Santo António, popularmente conhecida como "verdinha". Esta nota entrou em circulação em 27 de Janeiro de 1965 e foi retirada de circulação mais de duas décadas depois, concretamente em 30 de Maio de 1986, sendo substituída anteriormente em 31 de Outubro de 1977 por uma nota também em tom verde, mas com um design mais moderno e com a efígie do almirante Gago Coutinho. Em 30 de Maio de 2006 terminou o prazo para a troca das notas de 20 escudos por euros, existindo então 27 milhões de notas ainda por trocar. Até essa data muitas foram de facto trocadas mas um grande número ficou nas gavetas dos portugueses, esquecidas, perdidas, roubadas ou simplesmente para amostra de saudosos tempos. Deste modo, no mercado do coleccionismo são relativamente vulgares mas os seus preços podem ir de 1 a 10 euros ou bem mais, dependendo do estado de conservação e de alguma particularidade que as tornes raras.

A nota de que falamos foi impressa na Inglaterra, tendo sido produzidas  mais de 229 milhões de unidades, todas com a data de 26 de Maio de 1964. A data e as assinaturas do vice-governador e do administrador do Banco de Portugal foram posteriormente  impressas em Portugal e com tinta preta. Uma das séries ficou com essa impressão um pouco desenquadrada ficando com o O da frase "O Administrador" a coincidir com o olho do peixe da gravura. Obviamente que tais notas são raridades e muito valorizadas por coleccionadores.

A "verdinha" era uma nota muito vulgar, porque a de valor mais baixo de todas as notas nesses tempos em circulação e por isso mesmo era das mais populares. Apesar de baixo valor, dizem os entendidos que comparativamente nos dias de hoje teria um valor aquisitivo similar à nota de 10 euros, mas certamente que ainda mais importante pois compravam-se com ela coisas com muita mais importância do que actualmente uma nota de 10 euros.

1 de fevereiro de 2000

Catecismo - "Quem sóis Vós, Senhor?" - Catecismo do 1º ano - Iniciação



Este catecismo foi posto em circulação em 1971, patrocinado pela Comissão Episcopal da Educação Cristã e pelo Secretariado Nacional da Catequese, numa fase experimental, com o propósito de colher sugestões de párocos, pais e catequistas. Depois disso consolidou-se e continuou a ser utilizado durante vários anos incluindo os anos 80. A edição que possuo e da qual extraí as ilustrações deste artigo é de 1987.

Trata-se de um catecismo que graficamente rompia com as características mais realistas da anterior série do Catecismo Nacional, em uso nos anos 50 e 60, do qual falaremos em próxima oportunidade. Por conseguinte as ilustrações ocupam um maior espaço, bastante coloridas e de traço mais estilizado. Os textos também são mais resumidos, confinando-se a frases curtas e objectivas, quase sempre extraídas da Bíblia e do Evangelho. Como quase todos os catecismos do 1º ano dá forte ênfase às principais etapas da vida de Cristo, tal como a Anunciação, Natividade, Paixão e Ressureição.

É composto por 24 lições e comporta ainda as principais orações como o Benzer, o Pai-Nosso, Avé-Maria, Oração da manhã, Oração da Noite e o Acto de Contrição.

Formato: 117 x 168 mm - 64 páginas. Não tem indicação do ilustrador.

É um catecismo muito bonito e que certamente faz parte da memória de tantos portugueses que na época frequentaram a catequese católica.






3 de janeiro de 2000

Colecções de cromos


As colecções de cromos sempre foram um dos passatempos preferidos das crianças, mas não só. Coleccionar é um modo de aprender e absorver cultura, principalmente com as colecções de teor didáctico. Com elas aprendia-se história, geografia, características dos povos, raças e costumes, fauna, flora, etç.

É claro que, principalmente para os rapazes, os cromos de futebol foram sempre os mais apetecidos e coleccionados. Com esses cromos, definiram-se paixões pelos clubes e sonhava-se com os ídolos, fossem um Eusébio, um Yazalde ou um Pavão.
Cromos dos rebuçados Victória

Na nossa freguesia de Guisande, os cromos, ainda no tempo dos caramelos e dos brindes associados, vendiam-se principalmente nas mercearias da S.ra Amélia e do Sr. Domingos "Gaipira", ambas no lugar de Casaldaça. Não tenho memória de serem vendidas noutros locais e creio que nem mesmo na mercearia do Sr. Neca.

Para além das muitas colecções que ano a ano iam sendo editadas e vendidas, recordamos sobretudo a colecção de cromos dos rebuçados da Fábrica de Confeitaria Victória, da cidade do Porto, que ali pelos finais dos anos 60 e princípios dos anos 70 deliciavam a rapaziada. Primeiro porque adoçáva-mos a boca, como autênticos glutões, na ânsia de desembrulhar os cromos (afinal os próprios invólucros dos rebuçados), chegando a encher a boca com dezenas desses pequenos rebuçados com sabor a mel, quando o que pretendíamos, afinal, eram os cromos. Com cinco tostões (50 centavos) comprava-se uma mão cheia de rebuçados.
Estes, uma vez recortados, eram colados e coleccionados em pequenas cadernetas, feitas de papel muito fino e frágil. A própria goma amarelada do rebuçado humedecido servia de cola. Outros, porque na altura não havia a panóplia de colas escolares de agora, utilizavam uma mistura de farinha de centeio ou de trigo com água, e com umas gotas de limão ou vinagre, para não azedar. Estes métodos resolviam, à falta de melhor, mas hoje, com trinta e quarenta anos de velhice, muitos dos cromos apresentam um aspecto escurecido, o que é pena.
A colecção, no caso a série Zoológica (há mais séries da Victória, de que noutra altura recordaremos, nomeadamente com figuras da História de Portugal, e mesmo de jogadores de futebol)) era composta por 200 cromos, começando pelo número 1, a vespa, até ao número 200, o veado.
Da bicharada constavam insectos, mamíferos, peixes, répteis e aves.

Esta coincidência, de dois nomes iniciados pela letra V, certamente será uma referência propositada à Victória. Esta colecção, como muitas outras, tinha os seus cromos considerados difíceis, quer dizer que eram raros e saíam em pouca quantidade. Neste caso, os mais raros ou difíceis eram os cromos do bacalhau, da cobaia e do cabrito. À volta deste facto, na época chegou-se a generalizar o dito popular "é mais difícil do que o bacalhau."
Este estratagema dos cromos raros ainda hoje é aplicado e tem a ver com questões editoriais e para obrigar à compra de mais cromos na expectativa de sair o cromo em falta e tão ansiado.
Estes cromos, por serem em papel muito fino (chamado papel cebola), eram ideais para o jogo do vira. Os diversos jogadores, sobre uma mesa ou sobre um muro ou o pátio de uma escada, colocavam um cromo com a estampa virada para baixo. Depois, de acordo com a ordem estabelecida, o jogador  formava uma concha com a palma da mão e batia em cima do monte de cromos com o objectivo de os fazer virar. Os que virasse era ganhos. Convém dizer que eram usados sobretudos os cromos repetidos e havia alguns números que eram às dezenas, em contraponto aos cromos raros.

A colecção, retrata o mundo animal, com insectos, peixes, crustáceos, aves, mamíferos selvagens e domésticos, répteis, etc, em desenhos de um grafismo simples, e impressos a uma cor, mas em cores diferenciadas (ou seja, há cromos na cor azul, vermelho, verde, preto e sépia), permitindo páginas coloridas e apelativas.

Houve mais do que uma versão no aspecto do design dos bichos, com os da primeira versão desenhados de forma muito infantil e com pouca ou nenhuma qualidade. No entanto, pela raridade, têm igual ou superior valor de colecção. Os produzidos pela década dos anos 1970 eram mais elaborados, sendo o seu autor um Carlos Biel, com o qual cheguei a ter o prazer de conversar por contacto de email.  Terá dito que não podia assinar os desenhos dos cromos mas que em alguns deles, de forma dissimulada lá conseguiu colocar pelo menos as iniciais do nome.

Nessa versão os cromos eram desenhados em cor monocromática mas em diferentes tons, nomeadamente, vermelho, verde, azul, castanho e preto, no que depois de colados davam um aspecto colorido. Claro está que poucos ligavam ao ordenamento da cor, já que o mesmo cromo podia ter qualquer uma das cores referidas, mas outros, mais preciosistas, faziam combinações de cor, ou por página, por linha ou coluna.

Pessoalmente tenho mais do que um exemplar de ambas as versões.







2 de janeiro de 2000

Livros escolares antigos


Aqui se recordam algumas das capas de livros escolares de outros tempos, que estou certo, passaram pelas mãos de muitos guisandenses durante o seu percurso no Ensino Primário, tanto na escola do Viso como na escola da Igreja.
Para já ficam as capas mas com tempo falaremos de modo particular de cada um dos livros.
 
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1 de janeiro de 2000

Catecismos de outros tempos - Doutrina Cristã - I Volume - Primeira Comunhão


De todos os livros que marcaram a minha infância, e creio que a de muitos rapazes e raparigas da minha geração aqui em Guisande, os catecismos, a par dos livros da escola primária, ocupam um lugar especial na prateleira das nossas recordações, memórias e nostalgias.

Nesta secção dedicada aos catecismos, trago à luz da memória o meu catecismo da primeira classe. Trata-se do primeiro volume de uma série chamada “Doutrina Cristã – Catecismo Nacional”, uma edição do Secretariado Nacional de Catequese, publicado durante os anos 50 e 60 e que serviu de base para o ensino da catequese ao nível de todo o país. Estes catecismos foram impressos na Litografia União Limitada, de Vila Nova de Gaia.

Este primeiro volume está profusa e excelentemente ilustrado pela mão da artista Laura Costa, com o seu traço inconfundível, repleto de cor e pormenor. Cada ilustração, por si só, era uma lição e estou certo de que muitos recordarão o seu Catecismo apenas pela beleza das respectivas gravuras.

O Catecismo tem uma dimensão de 12 x 17 cm e 32 páginas.

É importante referir que estes catecismos, tinham uma publicação de apoio, chamada de Caderno de Trabalhos Práticos (que possuo), com gravuras das lições, a preto e branco, destinadas a serem pintadas pelos alunos, bem como textos picotados, também destinados a serem preenchidos. Todavia, talvez pelo seu custo, acrescido ao do catecismo propriamente dito, e dadas as dificuldades económicas da maioria dos pais das crianças nesse tempo, tenho a ideia de que muito raramente este caderno era adquirido. Pelo menos não me recordo de o possuir na altura nem de o mesmo ter sido aplicado na minha Catequese.

Por outro lado, existia ainda um volume auxiliar, destinado às Catequistas, chamado Guia de Ensino, bastante extensivo, com a explicação da mensagem da aula e respectivas actividades, constituindo-se num excelente auxiliar das sessões de Catequese, principalmente em meios pobres onde nem sempre as Catequistas tinham formação adequada.

De referir que quando transitei para a segunda classe da Catequese (por alturas de 1969), foram adoptados outros catecismos, pelo que tudo indica de que esta série de que falámos deixou de ser publicada e utilizada, desconhecendo-se se tal mudança ocorreu a nível nacional, ou apenas no âmbito Diocesano, mas tudo parece indicar que a alteração editorial foi geral. De qualquer forma esta fantástica série “Doutrina Cristã – Catecismo Nacional”, vigorou pelo menos durante duas décadas, um caso invulgar de longevidade, tendo em conta que actualmente os manuais de escola e catequese mudam quase de ano para ano e com edições diversas.

Os objectivos deste primeiro volume, vocacionados para a preparação da Primeira Comunhão, estavam assim expressos no prefácio do mesmo:

    “ Eu sou a Verdade” – disse Jesus. O presente Catecismo vem dar cumprimento a um voto do Concílio Plenário. É destinado a todas as crianças de Portugal, que devem fazer a sua primeira Comunhão à roda dos 7 anos (como desejava São Pio X) a fim de despertar já nos seus corações infantis uma autêntica vida cristã.

    Foi para facilitar o trabalho educativo nas Famílias, nas Catequeses e nas Escolas, - a quantos são responsáveis pela alta missão de fazer desabrochar na alma infantil a virtude e a santidade, - que este Catecismo se elaborou por iniciativa do Venerando Episcopado.

    Espera-se que o zelo de todos os educadores cristãos faça valorizar o presente texto oficial, cujas lições se acham ligadas ao Tempo Litúrgico (de fins de Outubro a Maio: as lições marcadas –A, servem para melhor permitir essa ligação, na hipótese duma aula semanal).

    Ensinando-se, cuide-se da formação cristã da criança: atenda-se às condições várias da sua preparação cristã e desenvolvimento; faça-se com que ela compreenda toda a doutrina, a ame e aplique à sua vida; procure-se que retenha de memória o que deve reter e consequentemente se prepare de modo a poder já confessar-se e comungar pelo Tempo Pascal.

    Na festa de Nª Sª do Rosário, aos 7 de Outubro de 1953. M. Cardeal Patriarca.

Como verificámos por este texto, este primeiro volume tinha objectivos específicos mas concretos no ensino da doutrina das crianças que pela primeira vez entravam no ciclo da Catequese.

Oportunamente falaremos dos restantes volumes desta série de Catecismos. Abaixo deixamos algumas páginas deste catecismo bem como do tal caderno de apoio (duas últimas imagens).










Pormenores – Arco-Cruzeiro


arco_igreja

Esta inscrição pintada no arco-cruzeiro do edifício da igreja matriz, que divide e capela-mor da nave principal, certamente passará despercebida a muitos dos guisandenses, mas sobretudo a sua tradução. A inscrição está em latim: "Non est hic aliud nisi domus Dei et porta caeli". Tem a seguinte tradução: "Este não é outro lugar senão a Casa de Deus e a porta do Céu".
Recordo-me, e conheço-a desde então, quando foi explicada e ensinada pelo Padre Francisco, aquando de uma visita a Guisande de uma associação cultural, em meados dos anos 80, então numa acção de intercâmbio com a Associação Cultural da Juventude de Guisande.

arco_pintura

O arco-cruzeiro, apresenta uma pintura a cores com motivos florais clássicos. Estão em bom estado  geral porque foram alvo de restauração, ainda no tempo do Padre Francisco. Todavia, incompreensivelmente, tendo em conta o cuidado e rigor de observação conhecidos no Padre Francisco, o trabalho foi muito mal executado e apresenta pouco rigor nos diferentes motivos. Eventualmente terão sido considerados os aspectos económicos pois um restauro rigoroso seria substancialmente mais dispendioso. Deste modo, verifica-se que basicamente a pintura foi retocada sem cuidado nos pormenores e na fidelidade das cores originais.

Fontanários – Lavadouros Públicos


Os lavadouros ou fontanários públicos são infra-estruturas existentes em muitas das nossas aldeias, construídas pelas câmaras municipais e juntas de freguesia, sobretudo nos anos 50 e 60. Eram equipamentos que vieram dar resposta a necessidades básicas das populações, como o acesso ao abastecimento de água bem como a locais adequados à lavagem das roupas.

Numa época em que poucas aldeias tinham rede eléctrica, os poços eram raros e os que existiam eram destinados essencialmente a rega, com extracção de água a ser feita pelos tradicionais engenhos, movidos a força animal ou, mais tarde, por motores a petróleo, caros e nem sempre eficientes, os fontanários tiverem um papel importante no quotidiano das populações locais.

Por conseguinte, para abastecimento de água para as necessidades do dia-a-dia, existiam sobretudo as nascentes naturais e minas, nas encostas dos montes, mas implicavam deslocações para o seu transporte, sendo uma tarefa tão necessária quanto dura e difícil. Por esses tempos poucas eram as casas com fontes próprias provenientes de minas e delas sobretudo a das casas mais abastadas.

Com os fontanários, distribuídos por vários locais de cada aldeia, tornou-se mais fácil e cómodo aceder a este recurso no que foi uma substancial melhoria das condições do povo.
A freguesia de Guisande também teve o seu período áureo destes equipamentos, quase sempre incorporando as componentes de fontanário e lavadouro.

Correndo o risco de omitir um ou outro, são conhecidos os dos seguintes lugares: Cimo de Vila, Viso, Reguengo, Fornos, Casaldaça, Quintães e Estôse. A maior parte ainda funciona mas, naturalmente, pouco ou nada utilizados, seja como fontanário ou como lavadouro.

O lavadouro das Quintães, muito vivo nas nossas memórias, pois ficava num local de passagem habitual de quem se dirigia vindo das Quintães para a Igreja, sobretudo usando o carreiro como um atalho,  já não existe desde os meados doas anos 1990. Foi vendido pela Junta de Freguesia de então. Naturalmente que numa legítima opção de gestão e num processo legal e aprovado em Assembleia de Freguesia, mas sem dúvida uma perda irreparável para o património colectivo. 

Para além do mais, e para maior pena neste processo, desconhece-se qualquer levantamento fotográfico que tenha sido efectuado, pelo menos para preservar a memória imagética de um equipamento que durante muitos anos serviu as populações e que assim fazia parte do nosso património rural e colectivo.

Para a criançada da escola da Igreja, foi palco de muitas aventuras e traquinices e era um local de reunião e muitas vezes ali se resolviam as contas, as redacções e as palavras difíceis que a professora encomendava como o trabalho de casa. O acesso a este fontanário realizava-se por uma interessante viela, em calçada de pedra e bordejada de morangos silvestres, com entrada na actual Rua das Quintãse, junto ao limite sul da casa da Rosário Lopes.

Do mesmo modo, quanto ao fontanário/lavadouro de Fornos, artisticamente um dos mais bonitos, o terreno que ocupava foi permutado também num processo pela Junta e Assembleia de Freguesia. Apesar disso, pelo menos neste caso houve o bom senso e o cuidado de ser reconstruído num local próximo, com o aproveitamento dos materiais do original , incluindo o elemento em pedra talhada com lápide em mármore, com a inscrição "Amigos de Fornos e Junta", bem como da tradicional bomba de extracção e a respectiva roda. Do mal o menos. Este lavadouro ainda hoje é utilizado.
Este fontanário/lavadouro localizava-se entre o limite sul da Casa do Bacêlo e o terreno actualmente propriedade do Sr. Valter Neves. O fontanário localizava-se a uma cota baixa, pelo que o acesso era por uma escada estreita.

O fontanário do Viso, localiza-se na zona chamada de Vale Grande, a norte da casa do Sr. Manuel Tavares. Por se situar num local um pouco ermo, nos anos 80, não sem alguma polémica, foi edificado um fontanário com lavadouro na encosta do monte do Viso, sendo demolido, em 1990, aquando das obras de requalificação do respectivo local. Foi-se o novo mas ficou o velho, com boa e generosa água mas, naturalmente, abandonado.

O fontanário de Casaldaça, era muito concorrido, sobretudo como lavadouro já que a sua água nunca foi muito apreciada nomeadamente por se considerar ser água infiltrada da ribeira que corre ao lado.
Para os mais novos, convém referir que o antigo caminho passava ali numa cota mais baixa do que a actual estrada. Frequentemente as águas da ribeira, sobretudo no Inverno, eram demasiadas para a estreita passagem e galgavam por cima do caminho o que dificultava a passagem de que descia do Viso e Quintães para Casaldaça, a caminho das mercearias locais.
A Junta da União das Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, em 2015 realizou ali obras de conservação e voltou e repor a água na fonte mas na actualidade encontra-se novamente sem água na fonte, sem grande utilização e, em rigor, abandonado.

O fontanário do Reguengo será um dos mais bonitos, sobretudo pelo enquadramento, junto ao moinho e ribeira e até há pouco tempo tinha água abundante e de qualidade. Com a pressão urbana nas proximidades da nascente, a água tem estado classificada como imprópria para consumo, o que é pena. O local envolvente continua abandonado e sem qualquer preocupação por parte das Juntas na sua conservaçãoe requalificação. 

Do mesmo modo, o fontanário de Cimo de Vila também tem tido a água imprópria. Este fontanário sempre foi abundante de águas, provenientes da encosta das Corgas e para além de abastecer a fonte e o lavadouro, muito concorrido, as águas sobrantes eram retidas numa presa ao lado e aproveitadas para regas. As águas desta presa, com vários consortes, regavam campos no próprio lugar bem como das Quintães e Viso.
Com a construção da Auto-Estrada A32 a nascente deste fontanário de Cimo de Vila foi destruída e tanto quanto se saiba, sem qualquer compensação ou substituição, numa grave omissão por parte da Junta de Freguesia de então. Para minorar o corte da água, numa acção de  chico-espertice, foi feita uma ligação à rede proveniente da nascente do Monte da Mó, que abastece a fonte no Monte do Viso, mas principalmente no tempo de Verão a água é pouca o que gera situações de descontentamento e conflitos na sua gestão. Quanto à estrutura que cobre o equipamento, sem qualquer estética, encontra-se degradada.

O fontanário/lavadouro de Estôse também sempre foi muito utilizado mas foi igualmente, uma "fonte" de problemas constantes para as diversas Juntas, quanto à sua conservação e manutenção, nomeadamente pelo facto de estar implantado à face de um grande muro de sustentação de terras.
Tendo em conta que na altura de Verão a água deixa de cair naturalmente na fonte, a Junta de Freguesia levou a cabo (anos 80) a perfuração de um furo o que tem garantido o abastecimento mas por vezes com cortes nomeadamente por problemas no sistema eléctrico.

Sem a componente de lavadouro, e apenas como fonte, também importa trazer à memória a Fonte do Ribeiro, junto  à ribeira da Mota, onde esta atravessa a estrada. Com as obras da Alameda da Igreja, no início dos anos 90, esta fonte foi, e muito bem, preservada, tendo sido criado um acesso por escada. É um dos bons exemplos de preservação já que mesmo pouco ou nada utilizada, não deixava de ser um elemento do nosso património rural. 
A esta fonte esteve sempre ligado um mito de que as suas águas teriam como nascente a zona do cemitério, pelo que a criançada dizia que "era água dos mortos". Fosse ou não fosse, era uma água bem viva e refrescante e que ajudou a matar muitas sedes da criançada da escola da Igreja. A este propósito, diga-se em abono da verdade, a malta preferia a bica de frescas águas que caíam abundantes lavadouro particular da Ti´Ana Fontes, hoje desaparecido na sua configuração original e que em horas de intervalo ou recreio da escola ou da catequese, sobretudo em dias quentes, abria-se generosa à sede de magotes de crianças esbaforidas e ofegantes com as correrias e brincadeiras.

Também em 1999, a Junta de Freguesia de Guisande, com a cedência por parte dos consortes, aproveitou uma nascente existente no Monte da Mó para trazer água natural até uma fonte que instalou no Monte do Viso, debaixo da sombra do secular sobreiro.
Conforme atrás referido, a água desta nascente foi dividida com o fontanário de Cimo de Vila.

Para comodismo dos utilizadores destes fontanários e lavadouros, as juntas nos anos 80/90 procederam à sua cobertura, mas nem sempre da melhor forma, com estruturas em chapa ou em betão, mas sem qualquer cuidado estético o que em nada dignificaram estes elementos do nosso património rural.
É verdade que os tempos são outros e já todos temos a água na torneira, mesmo da rede pública que serve a generalidade da freguesia, e a roupa é lavada na comodidade de uma máquina eléctrica.

Todavia, pela importância que tiveram noutros tempos e pelo significado que têm, os fontanários ou lavadouros públicos são importantes elementos do nosso património colectivo e que por isso devem ser preservados. O abandono, desmazelo e até a sua alienação, nunca foram grandes decisões, o que só nos tem empobrecido, sobretudo culturalmente.
 
Ainda antes da generalização dos fontanários e lavadouros públicos, a água era procurada junto das próprias nascentes, obrigando a deslocações permanentes à procura dessas águas sendo a mesma transportadas em recipientes, sobretudo pelas mulheres e crianças. Dessas nascentes algumas ainda existem mas já esquecidas e mesmo abandonadas.

Importa, pois, que haja nas pessoas, e sobretudo nos seus representantes, a sensibilidade necessária à valorização destes e doutros aspectos que fazem parte do património intrínseco de uma terra e da sua população. Quem não for capaz de compreender isto, não é digno de se armar em defensor dos interesses de uma terra e do seu povo.
 
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- Fontanário/Lavadouro do Reguengo (1966)

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- Fontanário/Lavadouro de Cimo de Vila

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- Desenhos (de memória) do Fontanário/Lavadouro das Quintães

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- Fontanário de Casaldaça (1966)

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- Vista geral do fontanário e lavadouro de Casaldaça

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- Lavadouro/Fontanário de Fornos

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- Pormenor do lavadouro/Fontanário de Fornos - Inscrição na lápide: "Amigos de Fornos e Junta"

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- Bomba de roda, existente no Fontanário/Lavadouro de Fornos

A cerejeira do adro de fora

Poucos já se recordam, mas no adro exterior da igreja matriz de Guisande, hoje baptizado de Adro Padre Francisco Gomes de Oliveira, sensivelmente a meio do mesmo, mais ou menos no sítio do topo nascente do actual separador, existiu em tempos uma grande cerejeira à volta da qual as crianças e demais povo se abrigava do sol em tempos de estio ou dançava quando havia festas de catequese.
Essa cerejeira, talvez por provocar alguma sujidade com as folhas que caíam no Outono ou ainda porque o Padre Francisco já tinha em mente fazer obras de requalificação no adro, a verdade é que no dia 1 de Dezembro de 1956 a cerejeira foi abatida a machado, como testemunham as fotografias abaixo reproduzidas.
 
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- Aqui, no início dos anos 50, vê-se a cerejeira no centro do adro de fora, com as crianças a brincarem ao seu redor.

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- Foto de 8/12/1954 (dia da Imaculada Conceição), vendo-se a cerejeira por detrás do andor de Nossa Senhora de Fátima. Portanto, sensivelmente dois anos antes do seu abate.

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- 1/12/1956 - Os artistas prontos a começar o abate. Não havia moto-serra, foi a machado.

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- A cerejeira já no chão, pronta a ser retalhada em lenha

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- Os artistas, a posarem para a posteridade. Alguém os reconhece?

O Cemitério Paroquial


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- Vista parcial do Cemitério Paroquial de Guisande, em fotografia datada de 1966

Conforme se pode verificar, ainda existiam as sebes de bucho a delimitar os quatro canteiros e para além dos jazigos da Casa do Sr. Almeida do Viso, da capela da Casa do Sr. Moreira da Igreja e mais um ou outro jazigo realizados em granito, a maioria das campas eram rasas, em terra, assinaladas com as características lápides de louza. As dificuldades eram outras e, porque não dizê-lo, as vaidades eram menores.

As verdejantes sebes em bucho foram retiradas aquando da pavimentação das zonas de circulação, no ano de 1973.
Também (na zona marcada por círculo vermelho) se pode ver ainda a existência da lápide em granito, encimada por uma cruz que existia na campa do Padre Carvalho, fundador da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Infelizmente, por desmazelo ou por outro motivo, esta lápide foi destruída ou encontra-se desaparecida. Foi um acto imperdoável e que em nada dignifica a freguesia e a respectiva confraria.

A ter em conta as informações constantes na monografia "Defendei Vossas Terras", do nosso ilustre conterrâneo o Cónego Dr. António Ferreira Pinto, o cemitério terá sido edificado no ano de 1910, logo a seguir à construção da residência paroquial (1906/1908) e a Casa dos Mordomos. 
Ainda segundo a mesma fonte, o cemitério seria quadrado com as dimensões de 40 x 40 m, por isso com 1600,00 m3, mas terá errado nas medidas pois na realidade a geometria do cemitério velho corresponde a um rectângulo com as dimensões de 30 x 40 m. 
As obras de construção foram custeadas por ofertas (subscrição) de um grupo de guisandenses, certamente dos mais abastados.

Apesar dessa indicação de data (1910), temos razões para pensar que o local terá começado a ser usado para sepultamentos por volta de 1846 na sequência da proibição de sepultar os mortos dentro dos templos religiosos, o que até aí era prática. Esta medida ocorreu no tempo do Costa Cabral, que a par de outras acções pouco populares, desencadearam a conhecida revolução da Maria da Fonte.

Por conseguinte, até 1910, data em que foram realizadas as obras, presume-se que o cemitério era um espaço amplo constituído por campas razas.
Já só os mais antigos se lembram, mas no cemitério velho, sensivelmente um em cada canto, existiam 4 enormes cedros, tão característicos dos cemitérios antigos, que mais tarde acabaram por ser abatidos.

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- Data inscrita no frontão da entrada do cemitério, que se refere ao ano das obras de vedação

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- Data inscrita na calçada do cemitério, evocando o ano em que foi realizada a pavimentação. Até então os passeios de circulação eram em terra de saibro

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- Vista de sul para norte, abarcando o cemitério novo e o cemitério velho

O cemitério foi ampliado no final dos anos 80, tendo sido benzido e inaugurado pelo Bispo Auxiliar da Dioceso do Porto, D. Manuel Pelino, em 15 de Julho de 1990, depois de ter visitado a freguesia para a aadministração do Sacramento do crisma.
A ampliação foi desenvolvida para sul do cemitério antigo, desenvovendo-se em relação a este com uma cota ligeiramente inferior.
Esta ampliação veio cobrir a necessidade de procura de terreno para campas e jazigos a que o cemitério velho já não correspondia. Tendo em conta o lento crescimento da freguesia, de resto um problema nacional, com o abaixamento da taxa de natalidade, pelo que se prevê que o actual cemitério cubra as necessidades durante pelo menos as próximas duas décadas.

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- Capela da Casa do Sr. Moreira. Belo trabalho em cantaria lavrada, de autoria de um mestre guisandense (Raimundo Fonseca e filhos)

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- Belo conjunto com capela em granito e imagem em mármore. Tal como a capela da Casa do Sr. Moreira, esta capelinha  foi esculpida pelo mestre guisandense (Raimundo José da Fonseca)

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- Vista aérea do Cemitério Paroquial de Guisande. A contorno azul o cemitério velho e a contorno vermelho o cemitério novo