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11 de março de 2024

Para a próxima é que vai ser!

O Domingo foi de eleições. Mais umas, no sítio do costume e quase com as mesmas caras  e com igual objectivo de sempre, o de fazer de conta que decidimos o nosso destino. Mas em rigor não decidimos coisa alguma e, conforme já se percebeu pelos resultados, será uma questão de deixar passar a Páscoa, as férias, o Verão, e depois seguir-se-á mais um acto, tão teatral quanto todos os passados e futuros.
Já nada é como dantes. Como nas relações na cama, se a coisa for muito frequente, entra-se na rotina e perde-se-lhe a conta, o entusiamo, e para voltar a aquecer é preciso refrescar. Um trocadilho, um paradoxo, mas afinal como um bom alfaiate a tirar-nos a medida ao corpo para nele caber um fato, as coisas são mesmo assim e hão-de continuar como tal. Somos meros manequins de prova.

Até o dia com chuva e cinzento ajudou a este melancolismo, sem entusiasmo, e a noite encerrou-se sem foguetes nem caravanas a passear entusiasmo tolo ou sentido. Nas televisões um dejá-vu, os habituais lugares comuns, todos a procurarem afirmar que o copo ficou meio cheio porque vê-lo meio vazio é admitir perdas e derrotas. Todos agem como se fossem vitoriosos e até quem não foi a votos foi tido e achado como vencedores ou perdedores. 

O costume, nada de novo. Como diz o Fernandinho, mesmo num dia nublado e com chuva o sol brilha; nós é que não o vemos. Talvez por isso a clássica CDU teime em resistir até à extinção, com um PCP já sem defesa pela foice e martelo gastos, ferido a cada cajadada eleitoral, mas a prometer luta e defesa dos trabalhadores, dos valores de Abril e contra a direita reaccionária, ou lá o que isso seja, como se ainda no ar o odor do Verão Quente e das tropelias do  PREC. Mas nisso, reconheça-se-lhes, são coerentes, e uma formiga há-de sempre fazer comichão ou cócegas nos tomates de um elefante. 
Na próxima, quem sabe se não votarei no Raimundo, que até me parece boa pessoa. Afinal, como dizia o brasileiro Tiririca, "pior do que está não fica". Perdido por perdido...

Viva a liberdade e a democracia que, desde quase há meio século, nos permitem sonhar que para a próxima é que há-de ser. Afinal até um relógio parado tem horas certas duas vezes ao dia. Quem sabe se não será na próxima?

14 de fevereiro de 2024

Tio Neca

Foi hoje a sepultar, em dia de cinzas, num simbolismo cristão e dobrado da nossa essência, a de condição de pó que à terra retorna, para em pó se transformar. Persistem a alma e a memória.

Não sei a quem, creio que ao Sr. Albertino, mas a alguém passou o testemunho do homem mais velho da nossa comunidade. É o ciclo da vida.

12 de março de 2023

Uma velha porta


Uma velha porta, escancarada, numa velha casa de pedra desabitada, pode evocar uma grande variedade de sentimentos, como de abandono e solidão. É como se a casa estivesse esquecida pelo tempo e pelos moradores, deixando apenas essa porta antiga para lembrar de um tempo em que a casa era habitada e próspera.

No entanto, essa porta também pode ser vista como uma fonte de beleza e mistério. Ela pode ter histórias para contar, segredos guardados em suas dobradiças enferrujadas e madeira desgastada pelo tempo. Talvez tenha sido a entrada para uma vida feliz e cheia de alegria, ou talvez tenha testemunhado momentos de tristeza e solidão.

Essa porta antiga pode nos fazer refletir sobre como tudo na vida é passageiro e como as coisas mudam com o tempo. Ela nos lembra que, assim como a casa que a abriga, nós também envelhecemos e passamos por transformações ao longo do tempo, deixamos de ser funcionais e úteis ao ponto do abandono e da decrepitação. É importante aprender a apreciar cada momento da vida, pois ele não durará para sempre.

Uma velha porta pode nos lembrar que tudo tem um começo e um fim. Ela pode ter sido a entrada para uma vida cheia de histórias e memórias. É como se a porta fosse um portal para outro mundo, que agora está fechado e só pode ser acessado pelas nossas imaginações.

Além disso, essa porta pode nos inspirar a imaginar o que há por trás dela. Talvez haja tesouros escondidos, ou um jardim secreto que ninguém nunca viu. É como se essa porta velha fosse um convite para explorar o desconhecido e descobrir novas maravilhas.

Em resumo, uma porta velha em uma casa de pedra desabitada pode ter muitos significados e nos inspirar de diferentes maneiras. Ela pode evocar sentimentos de tristeza e solidão, mas também pode ser uma fonte de beleza, mistério e inspiração para explorar o desconhecido.

9 de dezembro de 2021

Falar mal, escrever pior


De um modo geral, falámos mal e escrevemos pior, ou seja, sem papas na língua, maltratamos a nossa língua. A de Camões, a de Eça, a de Pessoa, etc. E não se pense que este é um problema de gerações, entre os que têm a velhinha quarta classe, ou nem isso, e os que têm já mais tempo passado nas escolas do que fora delas, incluindo muitos dos nossos licenciados. De resto a velhinha quarta classe bem que poderia ser actualmente equiparada ou mesmo superior ao grau de conhecimento supostamente adquiridos com um 9º ano. Porque passei por ela, não tenho nenhumas dúvidas disso. Por outro lado temos visto que as exigências curriculares estão muito infantilizadas, pouco exigentes e os malabarismos das tutelas são mais que muitos em nome do alcançar metas e objectivos de aprovações, em que retenções, este um moderno eufemismo para reprovações, são coisas a evitar, dê por onde der, a não ser, claro, que se falte à disciplina dessa coisa moderna chamada Cidadania e Desenvolvimento, em que se moldam os modernos e politicamente correctos conceitos de posicionamento na sociedade. Será daí, porventura, onde saem burocratas que querem que o termo "natalício" se substitua por "festividade", como se uma tradição de ligações intrinsecamente de uma religião, seja um chapéu que convém caber em todas as cabeças, como se não exista a liberdade e opção de usar e gostar, ou não, de chapéus. Parece que chamam a isso inclusão. Adiante!

Continuando (e aqui devo ter metido a pata na poça porque parece que os puristas recomendam que não se comece um parágrafo com um gerúndio), falamos mal e escrevemos pior porque na realidade não praticamos nem exercitamos de forma continuada e proactiva. E se quanto ao falar, a isso somos obrigados, nem que seja para pedir pão na padaria e carapaus na peixaria, já o escrever, nem por isso. Mesmo que o analfabetismo seja apenas residual nas gerações mais idosas, por motivos compreensíveis, a verdade é que é substancial o analfabetismo funcional no que se refere à escrita, mas não só. Para além de dificuldades de oralidade e escrita, há a somar muita incapacidade de ouvir e de perceber o que se diz e escreve.

Acontece que a proliferaçao e generalização das redes sociais e das mensagens de texto vieram de algum modo obrigar-nos a recorrer à escrita, e aí é que a porca tem torcido o rabo porque, expostos, os maus exemplos de mal escrever são mais que muitos, mesmo que em textos curtos, muitas vezes numa simples frase. Mas ninguém sente pudor por isso, quanto menos vergonha, a ponto de se auto-instruir e melhorar. Siga!

Claro que podem dizer que mesmo escrevendo mal se fazem entender, ou que escrevem mal porque os dedos, finos ou grossos não tocam nas letras certas do ecrã do telemóvel, mas isso não desresponsabiliza quem reiteradamente escreve mal e porcamente e dá testemunho disso, não com pudor mas até com um certo orgulho espertalhão como se o escrever mal seja uma naturalidade e com a desculpa de que  "...para o que é serve". De resto, uma gralha, a falha de uma ou outra vogal, é perceptível, mas  como desculpa do mau escrever, não pega de todo. Mas lá vamos rindo e cantando usando abreviaturas e onamatopeias e emojis, dando chutos no cu das pontuações, como se vírgulas e pontos sejam coisas de somenos importância na nossa língua.

Assim, quem escreve mal, de um modo geral não procura instruir-se, voltar a pegar nos livros de gramática e aumentar o seu vocabulário. Em suma, ler e escrever mais, não apenas curtas frases mas textos com algum significado e estrutura. É a ler, boa literatura, e a escrever, que melhor se pode falar e bem escrever. 

Há estudos que referem que em Portugal mais de 60% da população não lê um único livro durante cada ano, quando muito vai lendo as "gordas" dos jornais ou dos roda-pés dos noticiários televisivos, estes nem sempre bons professores porque tantas vezes com erros e gralhas. Por aqui percebe-se muito do estado das coisas a que chegamos. 

Assim, ainda de um modo geral, mesmo entre os nossos "amigos" das redes sociais, são raros aqueles que se aventuram a publicar textos, opiniões, ideias ou pensamentos com  mais que duas ou três linhas. Temos, pois, uma comunidade que escreve apenas de forma reactiva e raramente activa. Para esses os donos das redes sociais até criaram os tais botões de likes e emojis para com um simples boneco se poder expressar sentimentos e reacções. Somos, definitivamente, reactivos. E percebe-se o porquê de uma grande parte dos utilizadores recorrerem aos ditos memes e partilha de catrefadas de textos e mensagens em vez de os produzirem de sua própria autoria.

Não surpreende que neste contexto a malta da escrita, os opinion makers quase não se encontrem pelas redes sociais, nomeadamente no Facebook. Mesmo em outras contas que frequento, esses autores são raridades e invariavelmente ao fim de algum tempo ausentam-se porque sentem que estão a ser chuva no chão molhado, deslocados como um adepto rival no meio da bancada do clube da casa. Quem os quiser ler e seguir tem que ir aos seus próprios espaços, como blogs ou em artigos de jornais online. Não nas redes sociais. Mas, verdade seja dita, quem os segue ou procura ler, não é quem fala e escreve mal. Esses gostam, no geral, de coisas curtas, divertidas, frases feitas, nada de muito substancial, e num repente um simples "peido" colhe centenas de likes enquanto que um interessante artigo passa ignorado. Não falo por mim, porque sei do que a casa gasta, mas é mesmo assim num sentido geral. É, afinal de contas, a cultura da banalização, se quisermos, da vulgaridade exponenciada.

Em suma, frequentar as redes sociais pode ser interessante para manifestarmos os nossos egos, exibir as nossas habilidades, os nossos recordes nas corridas, mostrar o que comemos, o que vestimos, o desporto que praticamos, os sítios que visitamos, expondo-nos, a nós e aos nossos, mais do que na justa medida, mas em rigor pouco aprendemos sob um ponto de vista de partilha de ideias e raramente damos valor a quem as expressa de forma estruturada, mesmo que não concordemos com elas. E desse modo não deixa de ser paradoxal que em ferramentas capacitadas ou ideais para isso, as usemos de forma desadequada, quase em sentido contrário, um pouco como usar uma motosserra para cortar cabelo ou luvas de boxe para segurar agulhas.

Mas, como diria alguém, é a vida, e na diversidade é que está a riqueza, mesmo que o nivelamento, pelo que se vê,  se vá fazendo por baixo. 

Este é apenas um ponto de vista muito pessoal, susceptível de contraditório. Não é, pois, uma homilia, mas, todavia, como remata o padre no fim dela, "- Que assim seja!".

1 de novembro de 2021

A idade do tempo ou o tempo da idade


Quando tinha 12 anos, desejava ter 18. Quando tinha 18, não me importava de reverter aos 25. Quando fiz 25, já fiquei na dúvida se não seria preferível voltar a ter 18.

Quando fiz  30 percebi que estava no meio da ponte, não como um burro, porque esse pode sempre voltar para trás, mas numa aceitação passiva de que nem novo nem velho, porventura na idade com que se poderia desejar que o contador do tempo parasse de forma definitiva.

Aos 40 deixou de haver qualquer piada em festejar o próprio aniversário. Aos 50 a certeza de que a coisa agora era sempre para descarrilar, porque a partir dali o caminho é sempre a descer e só fica a faltar saber, como a um calhau que se lança ravina abaixo,  em que curva vamos ficar imobilizados.

Em resumo, já pouco interessa  desvendar a dúvida de saber os anos que temos e os que possamos vir a ter, porque a certeza de uma jamais poderá responder à incerteza de outra.

Cícero, esse filósofo da velha Roma, já dizia que os homens eram como os vinhos, aos quais a idade azeda os maus e apura os bons. O problema é que às tantas já nem sabemos se estamos mais apurados ou mais azedados e com os mais novos a beberem apenas Coca Cola e refrigerantes, já não vamos ter quem nos julgue e avalie com competência e sobretudo sabedoria.

Assim como assim, e porque não há volta a dar, sigamos na expectativa de que somos um bom vinho, apurado quanto baste, mas sem veleidades de vir a ser saboreado na plenitude.

Para além de tudo, esta coisa de ter aniversário em Dia de Todos os Santos, não ajuda, antes carrega de um simbolismo esta dictomia da angústia ou libertação do tempo e da idade.

12 de outubro de 2021

Como um pneu furado...


Em 1 de Julho de 2021, portanto já há quase 3 meses e meio, demos aqui conta de uns buracos que teimavam em ser buracos, mesmo às portas de entrada de uma instalação industrial, concretamente na Rua de Trás-os-Lagos, aqui em Guisande, defronte das antigas instalações da Patrícios S.A.

Pois bem, como ninguém mexeu uma palha, passado todo este tempo, os buracos lá continuam, firmes e hirtos e naturalmente mais largos e mais fundos.

No fundo, não dos buracos mas da questão, está neste episódio um bocadinho da explicação e justificação da derrota de quem pretendia dar continuidade à Junta que a partir do próximo Sábado deixa de o ser.

Há coisas assim, pequeninas, aparentemente insignificantes, quase invisíveis, como um furo numa câmara-de-ar, mas que aos poucos deixa o pneu vazio  e o veículo sem condições de circular.

Como disse Johann Goethe, "- Quem não é fiel às pequenas coisas, jamais será nas grandes!"

11 de junho de 2021

Sem cerejas mas com dignidade

 



Isto de se ser melro novo numa cerejeira sem cerejas, não é fácil. Mas não faltam opções: Ervilhas, favas, nêsperas, amoras, etc. Para quem não vive de rendimento mínimo, o jovem melro lá vai levando a vida com dignidade. E tem que comer porque está a deitar corpo e é preciso alanrajar o bico e enegrar as penas.

1 de novembro de 2020

Serenidade

Se nos barram a entrada, se nos mutilam a liberdade de expressar os nossos sentimentos e memória por tantos próximos que partiram, que fique pelo menos a serenidade de um olhar, porque ainda não houve tempo para nos cegarem.

22 de junho de 2019

Fábulas contadas

Ao grande filósofo espanhol José Ortega y Gasset está atribuído o pensamento de que "o homem é ele próprio e as suas circunstâncias". 
Não podia estar mais de acordo. Ora nesta linha de reflexão, é de torcer o nariz áqueles que alvitram preferir os desafios difíceis aos fáceis. Porventura, ao contrário, será de valorizar mais quem prefere os desafios fáceis, não porque sejam, efectivamente, fáceis, mas porque se por eles enfrentados, pelas suas capacidades, tornam-se desde logo e à partida fáceis. Como analogia, transpor um muro de um metro de altura pode ser tarefa difícil para um humilde e digno burro,  mas não o será seguramente para um fogoso cavalo. No entanto, pensará o burro que por alvitrar para a burricada que gosta de coisas difíceis o muro vai encolher ou a ele lhe vão crescer asas ou aumentar as pernas. Bem que dali pode "tirar o burrinho da chuva". 
Assim, pode até perceber-se a sobranceria dos que proclamam que gostam das missões difíceis, mas no fim de contas e no fim da jornada, alguns deles não fazem mais que contornar o muro que continua ali, solidamente teimoso, intransponível e demasiado alto para quem não sabe saltar, trepar ou voar.
Em todo o caso, para não complicar a filosofia que pode estar subjacente ao pensamento do filósofo espanhol, por cá o povo resume isso a um simples ditado ou provérbio: "quem te manda a ti, sapateiro, tocar rabecão?".
Cada  um é, pois, para o que nasce e para as circunstâncias que o fazem ou moldam como diferente e capacitado, ou não, a enfrentar ou a contornar os desafios de acordo com a sua natureza e grau de dificuldade.

10 de dezembro de 2018

Perlins e afins



Todos sabemos que as crianças entusiasmam-se com pouco e os pais acompanham o entusiasmo destas. Vê-las contentes, a sorrir e a sonhar é, afinal, o mais importante. O resto é  folclore... “That’s all, folks”. A juntar a estes ingredientes, o entusiasmo comum pelo Pai Natal da Coca-Cola e temos, assim, o contexto para o sucesso de perlins e afins, um pouco por todo lado onde o comércio tenha tentáculos.
 Mas por estes dias, em que o Uíma vai de azul e a Feira de vermelho e espanhóis, nada como dar um salto a Arouca e ver e respirar a coisa com um ar um pouco mais arejado, e mais de verde. Por ali, ainda se circula e respira-se com uma (ainda) pontinha de genuinidade, seja na envolvência da vila, seja no convento e amplos jardins entre as tendinhas costumeiras de artesanato, licores, enchidos, cebolas, alhos, castanhas cruas e a assar. Para a fantasia, o "Celeiro Encantado" armado nos húmidos calabouços do velho convento, onde as crianças se deliciavam no ambiente de mistério que só elas detectam.
Nada como um Domingo com sol a cheirar a Natal, por mais banalizado que este esteja. Já nada é como era, mas ainda é Natal. 

1 de novembro de 2018

1, 2, 20, 30?


Em certa ocasião alguém terá perguntado a Galileu Galilei: - Quantos anos tens?
- Cinco, oito ou dez... - respondeu Galileu, em evidente contradição com as suas rugas, cabelo e barbas brancas.
Mas justificou:- Tenho, na verdade, os anos que me restam de vida, porque os já vividos não os tenho mais.

É verdade, muitos o sabem, faço anos neste emblemático dia 1 de Novembro, dia que a Igreja consagra a todos os Santos e Santas. E todos os anos, invariavelmente, sou cumprimentado por isso. Alguns cumprimentos sentidos, sobretudo de familiares e outros de circunstância, mas igualmente saborosos. Todavia, há sempre um misto de sentimentos porque, pelas características do dia, sou cumprimentado em pleno cemitério, onde me encontram. E assim, não apenas a partir dos 50 anos e da tal  curva do tempo e da vida, em que supostamente o percurso passa a ser de descida (sabe-se lá se aos céus se aos infernos), em tal cenário receber um cumprimento de parabéns lembra-nos de forma mais vincada a efemeridade da vida e o nosso inevitável destino terreno, ali, envolto em terra fria e sob uma pesada lápide de granito. É certo que em face da nossa crença e fé, aspiramos a que haja uma segunda vida, porventura mais gloriosa e menos infernal do que esta terrena, mas isso é apenas fé e tantas vezes fezada, pelo que sem certezas desse lado místico ou espiritual, importa que procuremos fazer desta vida terrena, enquanto por cá andamos, um pequeno céu. Por isso, a amizade e cordialidade entre outros bons valores humanos são sempre rumos certos que devemos procurar seguir e transmitir. É verdade que somos de barro fraco e nem sempre suportamos as pequenas ou grandes colisões do dia-a-dia, mas se formos capazes de fazer algum esforço nesse sentido, pelo menos não teremos passado pela vida  em vão. Não temos que passar a constar nos livros da História, não que sejamos fracos, mas , porra, pelo menos justificar uma ou outra lágrima sentida de quem por cá fica.

23 de agosto de 2018

Mata borrão

O Venâncio já não tem idade para brincar aos cucos, pelo que no peso dos seus sessenta anos, bem feitos - assegura - considera que já viu de tudo e o que faltará para ver já pouco ou nada contará para o totobola da surpresa. 
Educado sobre valores que pelos tempos actuais vão definhando como minhoca em pedra quente, até que pereça mirrada, mesmo assim contemporizava com  a naturalidade das mudanças, de resto em consonância com o que já nos seiscentos poemizava o grande Camões: 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Apesar de compreender a mutação dos tempos e das vontades, continuava o Venâncio a não encaixar certas coisas que ia vendo, por as achar tão simplisticamente difíceis de perceber, se não as consequências pelo menos as origens. Como, por exemplo, logo ali ao seu lado, na praia, onde, de barriga ao sol, não conseguia evitar ver e ouvir um grupo de adolescentes, mais para crianças do que para adultos, em cenas e predicados próprios de um filme, no mínimo para maiores de 16 anos, tendo eles, os actores num palco real de areia quente e macia, talvez uns 13 ou 14 anitos. Aquela rapariguinha de corpo delgado e cabelos compridos, quase da cor da areia em que se rebolava com um rapazola pouco mais velho, possivelmente dois ou três anos antes celebrara a comunhão solene. Na escola, onde certamente "aprendera" algumas daquelas disciplinas próprias de adultos, frequentaria o sexto ou sétimos anos.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

As conversas e as "acções" daquele grupo de rapariguitas e rapazitos soavam ao Venâncio como algo pouco natural e fora de tempo e como não visse por perto a sombra de adultos com ares de pais ou, modernamente, encarregados de educação, questionava para si próprio se aquelas criançolas, sobretudo as raparigas, não tinham pais, ou  pai ou mãe. E se tinham, sabiam eles ou preocupavam-se em saber onde, quando e como passavam o tempo os filhos e filhas, e com quem? Poderiam tais filhos de tenras idades ter noção das consequências de algumas das suas "brincadeiras"? Ou, como na escola de antigamente, confiava-se no mata-borrão para apagar ou remediar certos excessos líquidos? É certo que nos tempos que correm consomem-se pílulas, mesmo do dia seguinte, como quem come gomas ou se chupa rebuçados da tosse, mas lá vem o dia em que a cântara parte a asa e mesmo sob a alçada da legalidade, não cheira nada bem a perspectiva de um aborto a uma criança, porventura de forma recorrente. E ser mãe adolescente, não sendo, infelizmente novidade, também não se afigura como positivo para nenhuma das partes. Os maus resultados sobram para todos, até para os pais que, invariavelmente, seguindo uma atitude de "deixa andar", de facilitismo e excessiva permissividade, criam as bases certinhas para estas brincadeirinhas de crianças a fazer de adultos.

Mesmo que lhe causem confusão estas coisas a destempo, o Venâncio voltou os olhos para o jornal desportivo e rematou bem à sua maneira, a de quem já não tem pachorra para debates e arrebates de moralidade ou falta dela: - Se der merda, alguém que limpe! E para certas borradelas não há mata-borrão que valha.

Continuou distraído, o Venâncio, a ler uma qualquer notícia sobre o tema das eleições no Sporting onde um labrego chamado Bruno Carvalho, como lapa, parece teimar em não se despegar do poder num clube histórico, mas poderia muito bem ter lido que as mães adolescentes em Portugal são mais de duas mil por ano, seis por dia, e só não são mais porque a pastilha faz "milagres" e os abortos são mais que muitos. Afinal de contas, ali, bem ao lado do Venâncio, a estatística poderia estar a consolidar-se.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

31 de julho de 2018

Sporting sempre!



Um Domingo à tarde, em pleno Verão. Por cá já muitos emigrantes em merecido período de férias, a ajudar a encher as estradas, os restaurantes e as esplanadas. 
Nunca fui emigrante mas percebo e compreendo que esta nossa mania portuguesa dos saudosismos leva-nos a querer encher o corpo e a alma revendo pessoas, lugares e coisas mal se cruze a fronteira. Ora se o Casimiro esteve três dias a banhos no Gerês e quando chegou sentiu-se como estivesse ausente três anos, não surpreende que o Manel da Zira, depois de um ano longe de Guisande, logo que chegado à aldeia, mesmo antes de rever a família, passe por Espinho, para ver e sentir o mar e embriagar-se daquele ar salgado e sentir no rosto as frescas nortadas, as mesmas das idas à praia em solteiro. Já o Chico do Albertino, logo que arrumadas as trouxas vai direitinho à Tasca da Aida encostar-se ao balcão e beber o melhor "paralelo" do mundo e arredores, incluindo a Suiça. A Fernanda do Neves, essa faz questão de ir a Fátima agradecer a Nossa Senhora e aos pastorinhos. No regresso faz paragem na Mealhada, tão sagrada quanto a da Cova da Iria, e ver regalada na travessa um rosário de pedaços dourados de tenro leitão, seja no Virgílio, no Pedro, na Meta ou no Rocha (este já na estrada do Luso). Cá vai! Amém!

Ora o Zé Canadas, chegado da Suiça, nesse Domingo à tarde, encheu o carrão com a mulher e os filhos e foi de abalada até Castelo de Paiva e na Rua da Boavista, apontada à praça dominada pelo austero conde lá do sítio, entrou na concorrida Adega Sporting, lugar de antigas petiscadas e pela qual, nos domingos cinzentos entre  La-Chaux-des-Fonds e Le Locle, tanto suspirou, imaginando o doce sabor acanelado das rabanadas, o picante das moelas ou o vinhadalho do bucho.
Depois de alguma espera, porque ali o espaço é pequeno para tanta fama, lá arranjou uma mesa corrida e os cinco instalaram-se. - Então, o que vai ser? Para mim quero moelas e no final uma rabanada. E para vós? Quereis uma rabanada, bucho, moelas, rojões, orelha? E tu Nandinha? Vai uma punheta de bacalhau? Não querem nada?!!! Mau...
Que nada. Nem xus-nem-mus. Nem a filharada nem a esposa, de calcinha branca, medrosa de a pintar de tinto, estranhadiços naquele ambiente de tasca, mostraram qualquer interesse na petiscada. O Canadas percebeu o recado de tantos narizes torcidos e logo esmoreceu. Envergonhado e rendido, pediu apenas uma rabanada e "uma malga" (de verde tinto). O empregado recolheu as toalhas e os talheres dos putativos comensais. Toda aquela mesa cheia de gente para comer uma rabanada, terá questionado, intrigado e surpreso.

O Canadas, comeu rapidamente e nunca uma rabanada de Paiva lhe soube tão amarga. Saiu triste e envergonhado e de tão acompanhado sentiu-se sozinho e desamparado. Já nada era como dantes e as trainadas de outros tempos que viveu na Adega Sporting com os amigos do namoro, já eram apenas uma saudade e desejo que o atormentava no pouco tempo desocupado na Suiça.

Confesso que fiquei com pena do Canadas, ainda por cima com o Tono Henriques a testemunhar tal infortúnio, sorrindo, maroto, por debaixo do bigode branco ainda bordado do grosso tinto.
Já de saída, ainda vi o Canadas a esgueirar-se ligeiro para o carrão e contornar apressado a praça, certamente a jurar para si próprio que para matar estas saudades de petiscada numa adega castiça de paredes de um granito duro, mais vale só que mal acompanhado. - E anda um homem a vir por aí abaixo apressado, a comer quilómetros e a contar horas para vir comer uma rabanada sozinho no meio de uma multidão a torcer o nariz! Foda-se!

12 de julho de 2018

Mudança de género na generalidade


Está no pico da actualidade o assunto da aprovação pelo Parlamento da nova lei da  mudança de género.  Pessoalmente não tenho grande opinião e é assunto que não me aquece nem arrefece. Mas sim, se há homens que se sentem mulheres, mesmo com um par de tomates, seja feita a sua vontade. Ou ao contrário, se há mulheres que se sentem homens, mesmo que tenham que usar sutiã, porque não? Que não seja por isso. 

De resto até acho que estes direitos deviam alargar-se a outras espécies. Por exemplo, o meu cão, há tempos que anda a chatear-me que quer mudar para galinha, desconfiando eu que com isso reclame o pleno direito de poder aceder à capoeira. Ora estou certo que se a coisa avançar por aí fora, não faltarão até raposas a querer mudar para galinhas e lobos para cordeiros. Com um pouco de sorte teremos até porcos a reivindicar o direito a  serem considerados senhores doutores e concorrer a eleições e também eles fazerem parte da casa da democracia e assim legislar tão importantes matérias a favor das tão discriminadas minorias. E o que não faltam neste país são minorias, para as quais há um filão legislativo por explorar. 

Brincadeiras à parte, há muito que se deixou de chamar os bois pelos nomes e não devemos estar admirados por mais esta. Outras virão. Ainda não somos Deus ou deuses mas já vamos dando cartas no que toca a mudar algumas configurações de fábrica que até aqui pensávamos serem próprias da natureza das coisas e dos seres. 

Mas esta é apenas a modesta opinião de quem não tem opinião. Ora se o ele tem direito a ser ela, e vice-versa, deixem que eu tenha direito a ela, à opinião, mesmo não a tendo.

8 de junho de 2018

Assembleia de Freguesia - Sessão Extraordinária - 15 de Junho de 2018

Num sentido geral, dado o interesse do assunto em apreciação, discussão e deliberação, será importante a participação do público nesta sessão extraordinária da Assembleia da União das Freguesias.

Em todo o caso, será sempre uma deliberação da Assembleia de Freguesia e não do  público. De resto a opinião deste, pelo menos no que diz respeito a Guisande, já está devida e claramente expressa nas largas centenas de pessoas que subscreveram a petição a favor da desagregação. Assim, sendo importante a presença do público, todavia, não me parece que esta seja decisiva na deliberação que vier a ser tomada.

Pessoalmente congratulo-me que o Sr. presidente da Assembleia de Freguesia tenha agendado o assunto, porque é importante. Qualquer decisão desta sessão extraordinária que contribua para a reposição anterior à Reforma Administrativa, com Guisande independente ou, em última análise face a essa impossibilidade, e como mal menor, a reformulação e integração numa União de Freguesias mais equilibrada, apenas com Louredo ou com Gião, terá o meu apoio.

Acreditando que a desagregação é do interesse geral de ambas as quatro freguesias que actualmente compõem a nossa União, porque até ao momento tem sido uma decepção e longe de se traduzir numa melhoria quer ao nível de obras e melhoramentos, quer nos serviços básicos de manutenção de espaços e equipamentos, limpezas e atendimento, só espero uma deliberação categórica da Assembleia: A favor, por unanimidade.

Neste contexto, cada um que decida por si, esteja presente ou ausente, mas pela minha parte, não tendo direito a voto nem qualquer poder ou influência decisória, o mais provável é que não assista. Afinal, a minha posição é pública e de há muito decidida.

7 de junho de 2018

Desnorte


Diz-nos o DN:

"Dificuldade em usar rosa-dos-ventos, em prova de aferição do 5.º ano, ilustra problemas para analisar e interpretar informação

É apenas um indicador analisado, entre centenas, num relatório que abrange dois anos de provas de aferição - 2016 e 2017 - de várias disciplinas e anos de escolaridade. Mas não deixa de ser preocupante. Pelo menos do ponto de vista simbólico. Entre os mais de 90 mil alunos que realizaram as provas de aferição de História e Geografia do 2.º ciclo, no ano passado, 45% não conseguiram localizar Portugal continental em relação ao continente europeu utilizando os pontos colaterais da rosa-dos-ventos. Ou seja: não conseguiram localizar o país no Sudoeste da Europa."

Pelos vistos há quem conclua que, ...pelo menos do ponto de vista simbólico, é preocupante. Simbolismos à parte, é mais do que isso: É ignorância, pura e dura. Mesmo não se exigindo que, como nos tempos da "velha senhora" se saiba de cor-e-salteado os nomes dos principais rios, suas nascentes e fozes, bem como as serras e suas alturas, linhas de caminhos-de-ferro, suas estações e apeadeiros (, não só de Portugal Continental como das províncias ultramarinas, como ainda sabe o meu tio de 93 anos) seria elementar e básico que qualquer aluno da 4ª classe, pelo menos soubesse localizar Portugal no mapa, bem como a sua morada.

Esta ignorância é ainda mais grave quando hoje em dia qualquer criança ou adolescente tem nas suas mãos (constantemente) um equipamento capaz de, entre muitas inutilidades, ter também muitas apps de ensino e cultura e mapas, muitos mapas. E quanto a mapas, o do Google até nos entre pela porta adentro
De quem é então a culpa? Do Estado, do sistema, dos professores, dos pais, dos alunos? Porventura todos com responsabilidades porque a pretexto do uso das tecnologias, porque estas nos respondem a tudo ao toque de um dedo, deixaram-se de se ensinar certas matérias, ou então passam sobre elas como gato por brasas.

Mas é o que temos. Deixa andar!

6 de junho de 2018

A Chica partiu




A Chica partiu. Repousa agora ao fundo do quintal, entre moutas de cidreira e ervas de S. Roberto e à sombra dos loureiros. A chorá-la terá sempre um regato, lamuriento, que passa logo à beira, um pouco abaixo.
Fica o consolo de ter tido cá por casa (desde que, ali por volta de 2009/2010, apareceu pequenita - foto abaixo -, sem se saber de onde) quase uma década de anos bem vividos e felizes, nada lhe faltando, nem mesmo o esforço emocional e financeiro de ainda se poder fazer algo num final em que problemas de saúde se agravaram muito rapidamente. Possivelmente mazelas de três semanas em que desaparecida ou rapinada, deixou de aparecer por casa antes do último Natal. Já quando se tinham perdido as esperanças, entrou de rompante em casa, magra, debilitada e faminta. Recuperou, passou o Natal em casa e como de costume entrava no presépio pernoitando ao lado do burro e da vaca, certamente também a aconchegar o Menino Jesus, sempre frio na sua túnica de barro. Depois disso teve uma recaída mas novamente cuidados veterinários devolveram-na à rotina diária, sempre perto de casa.
Mas pronto, agora partiu, não sem surpresa pois ainda há poucos dias andava na sua rotina habitual. Como um familiar chegado, a Chica deixa saudades e uma mágoa de tristeza e vazio. Mesmo tentados a recordar os momentos e peripécias alegres de um já passado, as suas manchas pretas laterais que pareciam dois grandes olhos, o seu rabo preto a terminar num branco pom-pom, que agitava sempre que lhe chamávamos pelo nome, só agravam a tristeza.
Fica a saudade de uma gata, que até nunca foi de mimos ou de deixar passar a mão pelo pêlo. De algum modo de uma natureza algo selvagem e daí o ter sido sempre livre. Afinal, cumpriu o seu destino de gato. Dorme agora à sombra do loureiro que algumas vezes trepou sorrateira à cata de algum pardal distraído.
É certo que um animal não merecerá nunca mais feição e carinho que uma pessoa, mas também, principalmente quando ao longo de dez anos faz parte da casa e da família e vive e partilha os momentos bons e menos bons.

6 de Junho de 2018

4 de junho de 2018

Charadas, pensamentos e chapéus

1 - E lá se foi a salsa-burra. Está reposta a circulação nos dois sentidos. Mas há por aí mais passadiços.

2 - E é este um mês de Junho? O de outros tempos, recuando aí uns 30 ou 40 anos, morreria de vergonha.

3 - O progresso diz-nos que os caminhos passam a estradas. Ora quando as estradas, ou parte destas, passam a caminhos, algo está mal ou o conceito de progresso está invertido, como quem diz, de pernas-para-o-ar. Mas se há coisa que de pouco vale, é chover no molhado ou malhar em ferro frio, até porque, como alguém dizia, "ovelhas não são para mato". Ora há rebanhos dos quais não faz sentido fazer parte enquanto neles houver velhos carneiros que já não mudam hábitos, não fazendo nem deixando fazer, pastando apenas onde a erva lhes cheira a viçosa. Quando assim é, mais vale deixar de mansinho o redil e deixar entregue o mesmo à "carneirada", como saberia dizer o indefectível presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, também ele um mestre em muitos ofícios e outras artes, incluindo a da autocracia. 

4 - Portugal, 2 - Tunísia, 2 ; Bélgica, 0 - Portugal, 0. A coisa promete. Afinal, no Europeu de 2016 a coisa foi mais ou menos por ali, tremida mas sem partir.

5 - O chapéu (vocábulo que deriva do francês antigo chapel, atual chapeau) é um item do vestuário, com inúmeros variantes, que tem a função principal de proteger ou enfeitar a cabeça.
Várias palavras estão relacionadas ao chapéu e seu uso, confecção e tipos. Chapeleiro é aquele que confecciona o chapéu, ao passo que a chapelaria é o local onde este é feito ou vendido. Já chapeleira é a caixa onde o mesmo é acondicionado. O hábito antigo de saudar alguém tirando-se o chapéu era denominado chapelada.
Nas casas, no comércio e em repartições públicas até meados do século XX o porta-chapéus era um móvel presente e indispensável - uma vez que as regras de etiqueta não permitiam o uso do adereço em lugares cobertos. [fonte: wikipédia]

28 de maio de 2018

Erros que saem karius

Tivesse sido num jogo de amadores veteranos e a coisa já seria escandalosa. Mas não, aconteceu ao guarda-redes da equipa do Liverpool, o alemão Lorius Karius, e logo num jogo com a importância de uma final da Liga dos Campeões de Futebol frente ao Real Madrid.
O resultado, que deu a 13ª Taça dos Campeões à equipa espanhola, já todos sabem: 1-1 na normalidade e 3-1 se juntarmos dois erros incríveis e infantis do guardião dos "reds".
Ronaldo, esteve demasiado discreto e nem seu deu por ele. Figura do jogo, foi o galês Gareth Bale, com um magnífico golo de "bicicleta" que só não tem sido mais falado e extasiado porque não foi do rei Midas Ronaldo.
Pelo meio, o "mauzinho" do costume, Sérgio Ramos, com a maldade e impunidade habituais, tratou de despachar o egípcio Salah, o goleador do Liverpool, prendendo-lhe o braço que na queda teve um deslocamento do ombro, atirando-o para fora do jogo e de outros futuros jogos, estando em risco a sua participação no Mundial da Rússia. No final, cinicamente, Ramos deseja-lhe as rápidas melhoras. Sem Salah e com Karius, o jogo ficou resolvido. Olé! 
É futebol, mesmo que se diga que este, da Liga dos Campeões, é de outro nível. Na verdade...até os "frangos" a este nível são monumentais e servidos em dose dupla e decisiva.
Há erros que saem Karius.

24 de maio de 2018

Ser português

Faleceu Julião Tomar. Tinha 95 anos. De origens modestas, filho de um pai carpinteiro e de uma mãe lavradeira, era o mais velho de onze irmãos. Ainda iniciou a escola primária mas bem antes do exame da quarta classe já tinha sido instalado como aprendiz de trolha de um tio paterno. Assim, muito cedo começou a ter contacto com o cimento, areia, cal e azulejos. Logo depois de amargar na tropa, onde lhe aproveitaram os dons de trolharia para conservar tudo o que era paiol e camarata, abalou até terras de França onde com muitas dificuldades lá arranjou trabalho na construção civil. Depois, casou, teve filhos, netos e bisnetos. Com a idade da reforma regressou à sua aldeia, em terras transmontanas e continuou a ser um comum cidadão, um português como milhões de outros.

Em face da importância deste português comum, o Governo mandou cumprir três dias de luto nacional e a Junta da aldeia vai erguer-lhe um busto na praça central. De todos os quadrantes da sociedade local e nacional, são inúmeros os testemunhos quanto à importância deste português comum pelo seu contributo para a sociedade portuguesa. Foi um mestre da argamassa e do assentamento de azulejos, sempre à frente do seu tempo, inovador quanto baste, sem renegar o conservadorismo da arte da trolharia e no uso da colher e talocha. Para além disso, destaque pela sua luta contra o regime do Estado Novo, principalmente quando viu um seu painel de azulejos com estrelas vermelhas, martelos e foices, removido da casa de banho de uma escola da freguesia por ser considerado subversivo, por fugir aos tradicionais padrões de flores e passarinhos.

É bom ser-se um português comum.