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12 de março de 2024

O amor! O que é o amor?


O amor! O que é o amor?
Já o cantaram e choraram poetas,
Despiram-lhe a alma,
Vestiram-no de dramas,
Pintaram-no de risos,
Afogaram-no em lágrimas.

Declamaram que era fogo a arder sem se ver,
Ferida não sentida a doer,
E tudo e em tudo o mais,
No que se possa dizer e escrever.
Será tudo isso, o amor,
Mas mais do que isso o que for
Aquém e além dele.

Porventura, até será tudo ou nada,
Relação de ódio ou apaixonada,
Enlaces e desenlaces
Carnais, entre humanos e bestas,
Num palco universal, teatral,
Numa realidade fingida
Ou num fingimento real.

O amor pode, pois, ser tudo,
Do mais profundo sentimento
À mais serena aragem;
A carícia do vento na seara,
A fonte a matar a sede,
O grilo a cantar no prado,
Um afago macio, um encosto,
A doçura macia do mel,
Na carne o sabor do sal
Uma lágrima a rolar no rosto,
Uma mão delicada na pele
De homem, mulher ou animal.

11 de março de 2024

Na brisa dos dias

Sente-se no ar a serenidade

Dos dias tristonhos,

Dos lamentos contidos,

Das angústias esmagadas,

Dos gritos sufocados.


Mas espreita a oportunidade,

De realizar os sonhos,

Com mil abraços sentidos

E nas costas palmadas,

No triunfo dos vingados.

29 de fevereiro de 2024

Iluminado


És vela acesa na escuridão,

A rasgar o mais denso breu

Como na falésia o farol;

O dia tem luz do teu clarão

A iluminar todo o meu céu

Como se dele foras o sol.

Desejado fruto



Olha, vê amor,

Os pessegueiros já a florir

Num dia assim, ameno, enxuto;

Com tempo e calor

Em cada flor há-de ressurgir

O esperado, desejado fruto.


Vê que singeleza,

O rosado das flores,

Em sabores prometidos;

Há nelas a certeza

Da leveza das cores,

Do peso dos sentidos.

Poema à Ti Elisa


Partiu a Ti Elisa, num dia assim,

De Fevereiro com cheiro a quaresma,

Promessa de uma Páscoa de aleluias.

Sabemos, todos sabemos, que há fim,

Porque a morte ao homem é a mesma

Soma final, total, da conta dos dias.


Foi irmã, criada, afilhada fiel,

Presença certa em quem confiar,

Companheira no espírito de missão.

No resumo final cumpriu o  papel,

De mão a decidir, luz a iluminar,

Fazer da sua via a do seu irmão.


Na vida temos isto como certeza

Ainda que a deixar máguas, penas:

Uma alma pode ser toda grandeza

Mesmo que por coisas tão pequenas.



27 de fevereiro de 2024

Poema à minha mãe

Eu queria fazer um poema 

À minha mãe, à sua vida,

Da infância que não teve,

Do fulgor da juventude

À fraqueza na velhice.


Uma vida lógica, teorema

A provar a verdade vivida,

Sem temer porque não deve

Nada à riqueza ou saúde,

Nem mal que Deus visse.


Foi somente mulher de luta

Mãe de filhos que tantos são

Na diária freima da labuta

De lhes dar de si  amor e pão.


No fim de tudo, tudo é vitória,

Numa vida vivida com sentido,

Na prostração, oração e glória,

De todo o modo, dever cumprido.

15 de fevereiro de 2024

Querer e poder


Dizem que basta querer para poder,

Mas que fazer quando se quer e não pode?

E ao homem, fazer o que não quer

Mesmo querendo não fazer, quem lhe acode?

Querer e poder, o antagonismo

Entre a vontade e possibilidade

De um resultado por si funesto;

O poder querer que o dualismo

Seja uno, anátena da divisibilidade,

Número perfeito, conta sem resto.


O poema aborda um dilema interessante sobre a relação entre querer e poder, explorando a tensão entre a vontade e a capacidade de realizar algo ou quando a razão prevalece sobre a vontade ou o contrário. 

Também questiona a noção de que basta querer para poder realizar. Ele sugere que há situações em que se quer algo, mas não se tem a capacidade ou condição da sua realização, criando um conflito interno entre o desejo e a possibilidade.

O poema ressalta a dualidade entre querer e poder, destacando-os como forças opostas que muitas vezes entram em conflito. A vontade humana (querer) pode se chocar com as limitações da realidade (poder), criando um antagonismo que gera frustração e incerteza.

A expressão "resultado por si funesto" sugere que essa luta entre querer e poder pode levar a consequências inconsequentes ou mesmo negativas. Quando a vontade não é acompanhada pela capacidade de realização, pode-se entrar em um estado de impotência ou desespero.

O poema alude à ideia de que o ideal seria a unificação do dualismo entre querer e poder. Ele propõe a ideia de um "número perfeito" ou "conta sem resto", onde a vontade e a capacidade se tornam uma só entidade. Isso sugere uma busca pela harmonia e equilíbrio entre o desejo e a capacidade de realização.

Em suma, o poema oferece uma reflexão profunda sobre as complexidades da vontade humana e sua relação com a realidade circundante. Ele nos lembra que nem sempre podemos realizar o que queremos e que essa luta interna entre querer e poder é uma parte intrínseca da experiência humana, nas suas forças e fragilidade.

14 de fevereiro de 2024

Eternamente namorados


Num destino que Deus tece,

A idade, a vida, amadurece,

Mas antes da fruta, a flor,

Com ou sem perfume ou cor.

Desejo de abundância, prece, 

Generosa a colheita acontece

Na prosperidade de cada dia,

Amor, na tristeza ou n´alegria.

Partida


No vagar dos dias adventos,

Num tempo límpido, primeiro,

Era a promessa da existência

De quanto aos olhos subsiste;

Mas esvaíram-se em momentos,

Dias e anos, o tempo inteiro,

Uma vida, toda a essência,

Resumida a um só dia triste 

9 de fevereiro de 2024

Vazio


Na minha aldeia havia uma escola

Que se enchia de crianças

Aprendendo a escrever, 

A ler,  a juntar letras

Numa descoberta de saber,

A contar, a fazer contas,

A somar esperanças,

A subtrair a ignorância,

A dividir amanhãs com mais sol.

A imaginar histórias, 

Contadas e pintadas.

Diziam a uma voz as tabuadas

Como na igreja a rezar avé-marias.

O recreio era todo folguedos,

Corridas, trotes e galopes,

Jogos, brincadeiras,

Um palco de heróis fingidos,

Nas aventuras duras e reais.

Eram assim os dias, 

A encher as cabeças de ensinamentos

Como de água os cantis, os caminhantes

Antes de atravessar desertos.


Mas os tempos trouxeram a mudança

Como o vento de sul a anunciar chuva.

Foram saindo e crescendo,

Fazendo-se homens e mulheres,

Pedras duras do edifício da vida.

Mas num renovar minguado,

Na velha escola as algazarras

Foram perdendo fulgor e voz

E os companheiros mais solitários.


Um dia, por fim, o fim.

Alguém anunciou

Que não já não havia crianças.

A escola fechou, emudeceu.

Os ecos das leituras,

O cheiro dos lápis de cor,

Deixaram-se de se ouvir

E perderam o aroma.


Na minha aldeia

A escola já não é ela

Mas ainda lá está, triste,

Arrumada noutros ofícios,

Mas ainda a guardar memórias e ecos.

Na minha aldeia os caminhos

Já não fervilham de labuta

Pelo pão de cada dia.

Os campos já não dão pão,

E as águas são lágrimas perdidas.

Muitos partiram ou morreram,

Todos envelheceram.


É agora, a aldeia, um  triste casario, 

Quase sem gente dentro,

Sem vizinhos, 

Bons dias ou boas noites,

Como um crepúsculo permanente 

Onde a noite espera para a amortalhar

E a foice o resto ceifar

Deixando um restolho de nada,

O vazio.

Companheira

 

Já vai longa a jornada.

A tua pele da frescura juvenil

Foi arada em sulcos pelo tempo

E na negrura dos cabelos já neva 

Num anúncio de Inverno.

Também me verás assim,

Já sem o viço da mocidade,

Os olhos mais turvos

E o cantar do pisco mais difuso.

Mas é bom que assim seja,

Porque não há começo sem fim,

Primavera sem Inverno,

Ou vindima sem mosto.


Mas há ainda caminho a fazer,

Com curvas a esconder,

Como cortina do palco da vida,

O que falta percorrer,

Um dueto a representar,

Até que o pano caia.


Vais, pois, seguindo,

Num corpo já dolente,

Com o passo já cansado,

Mas contigo vou indo,

Nem atrás, nem à frente,

Tão somente, a teu lado.

8 de fevereiro de 2024

Com calma


Ainda agora passou por aqui,

O atleta,

Fado a correr,

Num cansaço,

Com os pés no caminho,

Olhos nas horas,

Ns minutos e segundos

Na ânsia de chegar à certa.


Mas foi-se sem ver o que eu vi,

Pela certa;

A ave a tecer,

Passo a passo,

A renda de um ninho;

A cor das amoras,

O verde dos vales fundos

Onde a vida toda desperta.


Onde nos leva a correria,

Neste ritmo, cego, cansado,

Rápido, a direito como seta?

A calma nos minutos do dia

Dá sabor a cada passo dado,

Com alma a alcançar a meta.

7 de fevereiro de 2024

Dúvida permanente


Poderá uma vida inteira

E a sabedoria dela colhida

Dar respostas às perguntas,

Por mera curiosidade

Ou dúvidas, somente?


Será sempre esta a canseira

Da questão não respondida,

Porque palavras já defuntas

Levaram na morte a verdade;

Ficou a dúvida permanente.

6 de fevereiro de 2024

Silêncio a cantar



Ainda que a noite esteja

Ofuscada de escuridão,

Há-de haver sempre luz;

Se não um clarão de lua,

Um pirilampo a piscar.


Se a raiva que me sobeja

Ecoa e fere como trovão,

Nos nossos corpos nus,

Enlaçados na cama tua,

Haverá silêncio a cantar.

29 de janeiro de 2024

Poesia?


Soubesse eu de poesia. Num quarteto, soneto ou ode, pronto soprava para longe o nevoeiro que cega e entontece. Soubesse eu, mas não sei.

Cavo na prosa, que não é de brisas, antes de pesos, arrastos, algemas e grilhetas. Desconhece a inspiração. Nada lhe vem do alto ou do sublime, é obra de enxada em terra dura, com morosidades de boi antigo nas voltas da nora.

Obriga-me a escrever beijo, quando por vontade escolheria ósculo. Falo de lusco-fusco, envergonhado de dizer arrebol. Mas poeta não é qualquer, nem quem quer, só aquele que as Graças favorecem.


J. Rentes de Carvalho

27 de janeiro de 2024

Olhares - Espigueiros numa manhã de sábado

 


A minha alma é celeiro 

Onde te recolhi madura

Como grão primeiro

De uma ceifa pura.

Na essência do repartir

Foste à terra amante,

A germinar, a florir,

A dar fruto abundante.


AA-24012024

1 de janeiro de 2024

Ano novo


Dia de novo ano,

O primeiro de quantos faltar,

O princípio do fim,

O começo do resto.

Do passado ufano

Pouco adianta dele contar

O que fez por mim,

Porque ténue, funesto.


Assim correm os dias,

Os meses e os anos:

Alegres, em correrias,

Relevando desenganos.

24 de dezembro de 2023

Glória a Deus nas alturas!





Natal! 

Quando a humanidade se alevanta

No mais pequeno, humilde dos seus

Como rei de todas as criaturas;

Um coro de anjos ecoa e canta

Na plenitude de todos os céus:

- Glória! Glória a Deus nas alturas!


Natal!

A humildade, a esperança renascida

Como uma árvore a acordar, a florir,

Na alvorada de cada nova Primavera;

Renasce Jesus, como ímpeto da vida,

Messias já vindo mas sempre a surgir

Ao encontro fraterno de quem espera.

1 de novembro de 2023

Sessenta mais um

O que pode um homem escrever no dia do seu próprio aniversário? Tantas e tantas coisas, mas já de tanta experiência a fazer anos, já pouco importa o que escrever. Há um ano, a dobrar o cabo dos sessentas, fiquei-me por um poema, que a seguir relembro. Por conseguinte, é mais uma onda a rebentar na praia e cada vez mais, mansa e a espumar-se. Talvez já não valha a pena ter ondas à moda de Peniche, enormes, alterosas, como que ainda com toda a praia por sua conta onde rebentar. A esta altura da caminhada, uma onda tépida, macia, a massajar os pés, é quanto basta.

Seja como for, escreva-se o que se escrever, com mais ou menos filosofias, mesmo na forma de um poema, no fim de contas tudo se resume a elas, às contas. Mas, felizmente, ainda bem, a quantos anos chegaremos é uma dúvida que de algum modo nos aguenta. Os muitos que ao longo da história não resistiram à dúvida, determinaram eles o desfecho. Mas, porra, ainda não sou um Camilo, um Antero ou uma Florbela! 

Haja caminho para se caminhar e vida para se viver!


Eis-me aqui, sereno, nos sessenta,

Se é que nisso haja importância;

Não mais que onda que arrebenta

Na dura costa da irrelevância.


Deixe-se, pois, que o mar do tempo

Se debata até que a falésia caia;

Virá depois, manso, em contratempo,

A espumar-se, sereno, na praia

31 de outubro de 2023

Subir, descer?


Num mundo de tempo

Em que nada se dá,

Porque tudo vendido,

Pela conta devida,

Sigo em passo lento

Mas certo, com afã,

Cada passo vencido,

No degrau da subida.


Mas já pouco importa

Se para lá se chegar

É a subir ou a descer:

Chegados a tal porta

Pouco há a esperar,

Não mais que morrer.