29 de janeiro de 2018

Reversão da Reforma Administrativa e anulação das uniões de freguesias


A propósito da petição que já anda apor aí a circular para reversão da malfadada Reforma Administrativa que conduziu à extinção de centenas de freguesias, nomeadamente de Guisande, e à sua acomodação em uniões, na maior parte dos casos mal amanhadas, já falamos aqui neste artigo.
Como se tem lido, estas petições públicas estão a circular em algumas das nossas freguesias vizinhas afectadas pelas uniões, como Vale, Pigeiros e Louredo. Podem estar a ser promovidas noutras freguesias, mas pelo menos do nosso conhecimento são as atrás referidas. 

Sem prejuízo de outra posição, não surpreende, pois, que  estejam fora destas preocupações e deste processo de petição, as freguesias cabeças das uniões, nomeadamente Lobão, Caldas de S. Jorge e Canedo, num sinal claro de que, do mal o menos,  são as freguesias que menos perderam com as uniões e que de algum modo até ganharam alguma importância face à preponderância de cabeça e local de sede e mesmo porque concentraram em si investimentos que pela regra da proporcionalidade caberiam a cada uma das freguesias agregadas.

A este propósito teve alguma razão Celestino Sacramento, da bancada do PS, quando na última assembleia de freguesia (primeira do novo mandato) tomou voz e falou em 400 mil euros como cabendo a Guisande. É certo que as contas agora não são feitas assim, mas é uma orientação válida e lógica. Ora se o orçamento anual da nossa Junta da União das Freguesias tem rondado os 600 mil euros, olhando para a tal proporcionalidade de número de habitantes/eleitores, a Lobão, em números redondos, caberia metade do bolo, 3/6, e a cada uma das três demais freguesias (Gião, Louredo e Guisande) caberia 1/6. Ou seja, 300 + 100 + 100 + 100 mil euros. Como eu disse, números redondos e como balizamento, porque em rigor os orçamentos anuais de alguns executivos da ex-Junta de Freguesia de Guisande,  até ultrapassaram em muito os tais 100 mil euros, dependendo dos subsídios e apoios especiais a determinadas obras. 

Para além do mais, a ter em conta o compromisso inicial deste processo, de que uma das mais valias das uniões seria procurar incrementar as freguesias menos desenvolvidas de modo a limar diferenças, estava implícito um natural acréscimo de verba de modo a que a médio prazo se pudessem gerar equilíbrios e homogeneidade em todo o território. Ora isto não aconteceu no primeiro mandato da nova realidade administrativa, e em muito devido aos compromissos e dificuldades financeiras herdadas, mas mesmo agora que sanadas e até com um presente de um substancial saldo positivo herdado do anterior executivo, na ordem dos 100 mil euros, não nos parece que este ajustamento vá acontecer no actual mandato, até porque os sinais dados neste primeiro trimestre são ilucidativos dessa inoperância.

Assim sendo, alguém acredita que Guisande nestes próximos quatro anos vai absorver um investimento de 400 mil euros? Ou mesmo, optimistamente, 300 mil? Ou mesmo Louredo? Qualquer leigo na matéria, até pela leitura do processo eleitoral de Outubro de 2017, perceberá que as fatias de leão irão naturalmente para Lobão e para Gião. No final far-se-ão contas, mas, para mal da tal importância de homogeneidade de desenvolvimento, não nos parece que tão cedo  venha a ser uma realidade e isto porque na actualidade são poucos os "tolos" sem arte pelo que na hora de partir e repartir... 

Tal como a minha ex-colega de Junta, Marta Costa, de Louredo, que integra o movimento de petição naquela freguesia, afirmou recentemente no Jornal N que enquanto membro no executivo sentiu uma enorme desilusão e incapacidade, eu também falo com a autoridade de quem esteve no executivo e experimentou uma igual frustração e igual incapacidade quanto às expectativas que os mentores das uniões de freguesias criaram, apregoaram e defenderam como certas, até mesmo por parte da nossa Câmara Municipal. Foi de facto uma desilusão e uma luta inglória a das freguesias mais pequenas, perdendo autonomia, identidade e investimento, mesmo nas coisas mais básicas como limpezas de ruas e espaços, públicos.

Posto isto, mesmo estando convencido que o poder de decisão estará apenas no Governo, e não tanto ou nada nas petições públicas e força dos movimentos, faz todo o sentido que a população expresse nas petições a sua posição, numa espécie de referendo quanto às actuais uniões.
Entretanto, em notícia de hoje, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, divulgou que o assunto da reorganização será levado  à Assembleia da República até final do mês de Junho.  Vamos ser optimistas e esperar que então saia algo de positivo para as freguesias discriminadas.

Nota: Para apalpar o pulso aos habituais clientes desta casa, e diariamente andarão na ordem dos 400 visitantes, criamos, ao lado, uma simples sondagem na qual se pede a opinião quanto à possibilidade de reversão da Reforma Administrativa e à consequente anulação ou reformulação das uniões de freguesias tidas como fracassos, como a nossa. Podem, pois, querendo, votar.

27 de janeiro de 2018

S. Vicente Mártir - Louredo


Ocorre neste Domingo, 28 de Janeiro, a Festividade em honra de S. Vicente Mártir, padroeiro da freguesia vizinha de Louredo.
Noutros tempos, apesar de ocorrer em pleno Inverno, e por isso sujeita às inconstâncias do tempo, era uma festa de tradição nas redondezas e o povo, mesmo de Guisande, lá acorria ao "S. Vicente de Ferreira", para pagar promessas, comprar regueifa e figos.

Esta de convencer o povo, tanto de Louredo como das vizinhanças, que o seu patrono era o S. Vicente, mas o Mártir e não o de Ferrer (Ferreira), é uma luta antiga, travada pelo próprio e saudoso pároco louredense, Pe. Acácio Freitas. De resto, na sua monografia sobre a freguesia de Louredo, relata que deu logo com esta confusão do povo, mesmo no início da sua vinda para a freguesia. Passamos a transcrever essa passagem, que é elucidativa:

"Poucos dias após a entrada nesta paróquia, a 23 de Novembro de 1958, vieram ao meu encontro três senhores, cujos nomes já não recordo, dizendo ser a "Comissão de Festas em honra do Padroeiro, São Vicente Ferreira". Devo confessar que estranhei ouvir falar em semelhante Santo e sugeri se não seria "São Vicente Ferrer". 

Disseram-me que era assim que os párocos, meus antecessores, o apelidavam. Como fui apanhado de surpresa, combinamos o programa da festa para o dia 22 de Janeiro, como era da tradição. Após a sua retirada, fui imediatamente consultar o Afio Litúrgico, de Pius Parsch, que tinha mais à mão, e verifico afinal que no dia 22 de Janeiro se festejava São Vicente Mártir e não São Vicente Ferrer, cuja festa se celebra a 05 de Abril. 

No Domingo seguinte procurei elucidar a comunidade de que o Padroeiro de Louredo é São Vicente Mártir e não São Vicente Ferrer (vulgo "Ferreira") e apresentei as seguintes razões para que não houvesse lugar a mais dúvidas: 

a) — São Vicente Ferrer ("Ferreira") era natural de Valença, Espanha. Aparece vestido com o hábito dominicano e um sol com as iniciais de Jesus (J.H.S.) na mão. Foi presbítero, isto é, sacerdote pregador, como quase todos os dominicanos, e a sua festa celebra-se, como já foi dito a 05 de Abril. 

b) — São Vicente Mártir era natural de Huesca, também Espanha. Aparece vestido de diácono, (não chegou a ser ordenado de presbítero), geralmente com um corvo (que protegeu o seu cadáver de outras aves de rapina), sobre as sagradas escrituras numa das mãos e uma palma (a palma do martírio) na outra; ou então com a palma numa das mãos e uma embarcação na outra; ou ainda com a grelha (sobre a qual foi martirizado) a seus pés; além de outras insígnias alusivas ao seu martírio. Cf. "VIII CENTENÁRIO DA TRASLADAÇÃO DAS RELÍQUIAS DE SÃO VICENTE, 1173-1973, Câmara Municipal de Lisboa, Palácio Pimenta / 3 de Dezembro/1973". 

No entanto, e apesar de muitas vezes se ter insistido em Sermões, Homilias, Palestras etc, que é o São Vicente Mártir e não Ferrer, ainda nos nossos dias muitas pessoas continuam a falar na Festa de São Vicente Ferreira. 

Lembremos que o São Vicente Ferrer quase não é conhecido em Portugal; e São Vicente Mártir é padroeiro de muitíssimas terras, inclusive da cidade de Lisboa, onde é mais conhecido por São Vicente de Fora, por ter aportado, (segundo reza a tradição), a esta cidade numa embarcação, vindo da Catalunha. 

Então quem é o nosso padroeiro? Nasceu em Huesca, Catalunha, Espanha, por volta do ano 270, filho de pais nobres. Foi educado e instruído nas Sagradas Escrituras pelo Bispo Valério, de Saragoza, que ao reconhecer a sua sabedoria e virtudes o ordenou de Diácono e o incumbiu de levar a mensagem de amor, (que Jesus Cristo veio trazer a terra), a toda a Catalunha. 

Durante a perseguição de Diocleciano, imperador romano, foi convidado a renegar a sua Fé Cristã. Como não aceitasse o convite do imperador, foi açoitado e atormentado no potro. Continuando bem firme nas suas convicções religiosas, foi estendido sobre uma grelha incandescente; rasgadas as suas carnes com dentes de ferro; queimado com tochas ardentes etc. Resistindo a todos estes tormentos com um semblante de alegria, deitaram-no sobre um leito todo macio para tentar dissuadi-lo. Como a sua Fé se robustecia cada vez mais, recebeu a coroa do martírio pelo ano 304 da nossa era. 
Foi lançado a uma fossa e depois ao mar, mas um corvo de proporções gigantescas arrebatou-o às ondas e, segundo a tradição, tê-lo-á deixado sobre uma embarcação que o transportou até Lisboa. (São Vicente de Fora). "

Como se leu, o Pe. Acácio percebeu que apesar de ter travado uma luta constante e duradoura no sentido de catequisar os seus fregueses quanto ao seu patrono, seu nome e origem, admitiu que na actualidade (1967) ainda se fazia essa confusão. A confusão, que ainda se mantém nos nossos dias, resultava, no entanto e apenas, da transição das tradições, usos e costumes, incluindo os testemunhos orais. Assim, esta do S. Vicente de Ferreira em Louredo ainda está para durar.

Seja como for, no texto que acima se transcreveu da monografia de autoria do Pe. Acácio, é referido pelo próprio que o S. Vicente Ferrer ou Ferreira, é pouco conhecido por cá. Assim é, efectivamente, mas dá-se a curiosidade de tal santo espanhol estar precisamente muito perto de Louredo, nem mais nem menos que na Capela do Viso - Guisande, sendo que, mesmo aqui, pouco conhecido e divulgado como tal. Apenas mais um dos muitos santos e santas de Deus que vão adornando igrejas, capelas e ermidas.

Abaixo fica a imagem do respectivo santo do qual alguém, há tempos, teve a feliz ideia de o passar para uma bonita pagela.


Outra curiosidade, encontrei pela internet uma pintura barroca da escola espanhola de Francisco Ribalta, sem data precisa, mas do séc. XVII, em que  aparecem lado a lado estes dois S. Vicentes, o Mártir e o Ferrer, acompanhados de S. Raimundo de Penhaforte, outro santo espanhol. Como se vê, de algum modo estes santos apesar de não serem contemporâneos entre si, encontram-se pela arte e certamente na devoção e oração de muitos devotos.


Colheita de sangue 27/01/2018


Na jornada de colheita de sangue realizada hoje, 27 de Janeiro de 2018, no Centro Social, no Monte do Viso, contabilizaram-se 44 presenças e 38 dádivas. Por comparação, em Julho do ano passado, ocorreram 53 presenças e as mesmas 38 dádivas.

Tempos houve em que na nossa freguesia  estes valores eram pelo menos a triplicar. Vários factores têm contribuído para uma redução substancial dos dadores a participar, mas mesmo assim continua a ser um número significativo. Agradece-se a todos quantos participaram, tanto dadores como organização. Bem hajam!

Pão, pão, queijo, queijo

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24 de janeiro de 2018

Colheita de Sangue - Este sábado, 27 de Janeiro de 2018

No próximo Sábado, 27 de Janeiro de 2018, das 09:00 às 13:00 horas, será realizada mais uma colheita de sangue nas instalações do Centro Social  S. Mamede de Guisande, no Monte do Viso.
Num período em que novamente têm sido noticiadas carências de sangue nas nossas unidades hospitalares, ganha uma acrescida importância a generosidade dos dadores.
É certo que os dadores têm sido desconsiderados pelas entidades estatais, o que em muito tem contribuído para um decréscimo das dádivas, mas importa não ficar indiferente a esta necessidade cívica e porque dessa generosidade todos podemos vir a beneficiar. Por isso, venha doar sangue e doar vida. 


22 de janeiro de 2018

Criancices, censura e hipocrisia



Está instalada a polémica à volta do novo programa de entretenimento da estação televisiva SIC, SuperNanny. Creio que já todos saberão como funciona pelo que me escuso de estar a explicar. Grosso modo é alguém que se substitui aos pais na tarefa de educar e com métodos mais ou menos discutíveis procura "pôr na linha" algumas crianças problemáticas, daquelas que batem e insultam os paizinhos, entre outros mimos filiais. A própria SIC justifica-o como sendo "...um programa educativo que ajuda pais e mães a educar os seus filhos com a finalidade de corrigir os problemas de conduta". Apesar desta justificação, não é nem mais nem menos que um típico programa de lixo, um reality show, onde de algum modo se explora a vida alheia e com uns condimentos televisivos se serve fresco aos consumidores ávidos deste tipo de conteúdos.

A polémica à volta do primeiro episódio traduziu-se num rol de críticas e tomadas de posição de algumas entidades, nomeadamente a Comissão Nacional de Protecção de Direitos das Crianças e Jovens (CNPDCJ), a Unicef, o Instituto de Apoio à Criança, bem como vários especialistas, que alertaram ao longo da última semana que o programa viola os direitos das crianças. Estas críticas e recomendações de suspensão do segundo episódio, caíram em "saco roto" e a SIC transmitiu o programa, tornando-se, como fruto proibido, o programa mais visto no respectivo horário.

Pessoalmente, na minha humilde e leiga opinião, há de facto matéria que deve merecer crítica e por isso contenção, desde logo o facto de se estar a expor uma criança e o que isso poderá representar no seu futuro quanto à sua reserva de intimidade, sabendo-se que na actualidade com as ferramentas da internet e das redes sociais, o que for publicado acaba irremediavelmente por ser guardado e  partilhado, nem sempre por pessoas com boas intenções, ficando permanentemente esse rasto. Os efeitos ou consequências futuras podem de facto ser  nefastas e adversas. 

Há, por outro lado, outras questões paralelas, subjectivas ou objectivas, de direito ou de ética, que podem ser discutidas, como a questão da família da criança receber dinheiro como contrapartida à cedência da imagem dos filhos e a sua legitimidade para disporem destes como sua propriedade, sendo que responsáveis por elas, Mas parece-me que por parte das entidades referidas, para além de algumas razões de princípio e de fundo, diria até de bom senso, há também e sobretudo muita hipocrisia e muita censura, esta própria de outros tempos. Hipocrisia porque nunca se viu qualquer reacção deste tipo de entidades quanto à exploração permanente das criancinhas noutro tipo de exposição pública e mediática, nomeadamente a participação em filmes, novelas, espectáculos e reality shows televisivos nas áreas das suas habilidades e talentos, cantigas, culinárias, etc, etc. 

Parece-me que com mais este exemplo, mesmo que supostamente num regime de plena liberdade e garantias, estamos a atravessar um período de alguns excessos de zelo fascizantes, tratando criancinhas como adultos e adultos como criancinhas. A coisa já começou nas limitações aos fumadores, agora ao consumo de sal e açúcar, venda de snacks, etc, etc. Não tarda a termos uma Comissão de  Censura a determinar o que podemos comer, beber e vestir, o que nos leva a concluir que estamos já a ser educados por uma SuperNanny hipócrita, autoritária e censuradora, nem mais nem menos que o Estado e algumas das suas instituições.