11 de maio de 2017

Historiando – Quando os párocos eram secretários da Junta de Freguesia

No seguimento da referência que no artigo recente fizemos ao Padre Abel Alves de Pinho, este fez parte da Junta de Freguesia de Guisande, nesses tempos ainda com a designação de Junta Paroquial de Guisande, na qual exercia o cargo de secretário e que habitualmente escrevia as actas das reuniões daquele órgão. Exerceu esse cargo pelo menos desde 1914 (data do início do livro mais antigo das actas das reuniões da Junta) até 1923, já que nesse ano, a 21 de Outubro tomou posse como pároco de Guisande o seu substituto Padre Rodrigo José Milheiro. Não conseguimos, todavia, apurar se este cargo de secretário pelo pároco resultava de eleição, nomeação formal ou informal ou simplesmente a título de voluntário ou mesmo por inerência tendo em conta o seu estatuto de pároco, o que na prática e na época lhe conferia o estatuto de pessoa mais importante da freguesia. É um assunto a procurar esclarecer noutra altura.
 
Pela consulta do livro de actas da Junta Paroquial de Guisande, em concreto pela acta de 21 de Outubro de 1923, abaixo reproduzida, foi apresentado o novo pároco, Padre Rodrigo José Milheiro, bem como o presidente da Junta informa que com a saída do antigo pároco Padre Abel Alves de Pinho, por exoneração pedida por este, certamente por idade avançada, ao abandonar Guisande decidiu vender a sua habitação, suas pertenças e terrenos, em 11 de Outubro de 1923, ao Reverendo Joaquim Esteves Loureiro. Esta venda foi a título de recordação pela sua passagem pela freguesia de Guisande e com o objectivo claro de passar a ser a residência dos futuros párocos da paróquia de S. Mamede de Guisande.
Não conseguimos apurar quem seria este Reverendo Joaquim Esteves Loureiro, mencionado na acta, a quem o Padre Abel Alves de Pinho vendeu a casa onde residia, suas pertenças e terrenos, incluindo uma parcela de olival atrás do cemitério (ocupado pelo actual novo cemitério), mas certamente seria algum clérigo representante do Paço Diocesano. Deduz-se também que tenha sido uma venda a título simbólico dado a junta considerar tal como um benefício. Seja como for, parece garantido que a nossa actual residência paroquial de Guisande e respectivas pertenças e terrenos, eram nessa altura propriedade particular do Padre Abel Alves de Pinho.
A residência paroquial tem na fachada principal a inscrição da data de 1907 que se deve referir ao ano de construção, ou seja, precisamente no ano em que o seu proprietário foi instituído como pároco de S. Mamede de Guisande. Teria, naturalmente, que ser pessoa de posses e com expectativa de ficar em Guisande muitos anos, o que de resto não aconteceu pouco esteve apenas dezasseis anos, de 1907 a 1923.
 
De resto, esta boa atitude e generosidade na hora da despedida de Guisande e seus paroquianos, mereceram por parte da então Junta Paroquial de Guisande um voto de louvor e agradecimento por “todos os benefícios prestados” e ao mesmo tempo um voto de “sentimento por ter pedido a exoneração do cargo de pároco desta freguesia onde todo o povo sempre o estimara e admirava”. Nessa reunião ficou ainda deliberado enviar uma cópia da respectiva acta ao já retirado pároco, como prova dos votos expressos.

Acima as três páginas da acta da reunião de 21 de Outubro de 1923, a partir da qual o Padre Abel Alves de Pinho deixa de secretariar as reuniões da Junta Paroquial de Guisande e simultaneamente é apresentado o novo secretário e novo pároco de S. Mamede de Guisande, o Padre Rodrigo José Milheiro.
 
Como já referimos em artigo anterior, o Padre Abel Alves de Pinho era natural da freguesia de Fiães, do concelho de Vila da Feira. Não conseguimos apurar grandes dados biográficos deste sacerdote e figura importante na freguesia de Guisande nas duas primeiras décadas do séc- XX, para além da sua naturalidade e da sua substituição pelo Padre Rodrigo José Milheiro. Pela leitura da acta, como já se referiu, o seu abandono da paróquia terá sido por exoneração a pedido do próprio, certamente pela sua idade avançada. Para a história da freguesia e paróquia de Guisande fica a memória da sua prestação como pároco, secretário da Junta Paroquial e como benemérito ao vender a sua propriedade com a obrigação de passar a ser a residência dos párocos de Guisande, o que aconteceu até ao falecimento do pároco Padre Francisco Gomes de Oliveira, em 8 de Maio de 1998. Apesar de já não ter funções de residência, e tem-se equacionado a sua requalificação para voltar a cumprir esse propósito, todavia ainda é um edifício do Paço Diocesano e por inerência da paróquia, servindo de apoio às actividades da mesma.
 
Quanto ao Padre Rodrigo José Milheiro, que substitui como pároco de Guisande o Padre Abel Alves de Pinho, pouco mais sabemos da sua biografia para além de que que era natural da freguesia vizinha de Pigeiros. Foi pároco de Guisande desde 21 de Outubro de 1923 até 11 de Setembro de 1936 (treze anos), data em que tomou posse como pároco na paróquia de Santo André de Escariz, concelho de Arouca. Escariz, é uma antiga freguesia, com  foral concedido por D. Manuel em 10 de Fevereiro de 1514, que chegou a pertencer ao antigo concelho de Fermedo, este extinto pela reforma de 24 de Outubro de 1855 e pelo qual passou a pertencer ao concelho de Arouca.
 
Fica assim mencionada para memória presente e futura este período da história da Junta de Freguesia (Paroquial) de Guisande, em que dois padres e párocos assumiram o papel de secretário. Todavia, como já atrás referimos, faltará esclarecer se este cargo de secretário exercido pelos dois párocos de então resultava ou não de eleição, se por nomeação formal ou informal ou simplesmente a título de voluntário ou mesmo por inerência, tendo em conta os seus estatutos de párocos. Como já dissemos, é um assunto a procurar esclarecer noutra altura.
A. Almeida