26 de agosto de 2019

Escola do Viso em reconstrução



Como se sabe, na actualidade o edifício da Escola Primária do Viso, depois de ter ficado devoluto, sem comunidade escolar, acabou por ser integrado no Centro Cívico, onde o Centro Social S. Mamede de Guisande desenvolve as suas actividades, embora estas ainda a "meio gás" por falta da decisão da Segurança Social relativamente ao programa de apoio, no que tem sido uma falta grave do poder político, mantendo, por interesses de cativações orçamentais, num impasse o acordo inicialmente aprovado. Adiante.

Como se percebe, este emblemático edifício, sobre o qual já aqui temos falado, nomeadamente sobre aspectos relacionados à sua origem, foi sendo alterado na sua configuração, sobretudo ao nível da cobertura e da zona dos alpendres dos recreios, bem como, naturalmente, da zona envolvente.

Recuando um pouco no tempo, e consultando o arquivo do jornal "O Mês de Guisande", ficamos a saber que pelo ano de 1985 o edifício entrava em obras de requalificação, depois de muito tempo de reclamação por parte dos professores quanto às suas precárias condições. Manuel Alves, então o presidente da Junta de Freguesia de Guisande, desculpava o executivo pelo facto de tais obras serem da responsabilidade da Câmara Municipal e que esta tardava em resolver o assunto apesar da pressão que sobre ela mantinha desde há dois anos antes (No passado como na actualidade, Guisande esquecida e ignorada pelo poder político).

Como se pode ler pelo recorte do jornal "O Mês de Guisande" na edição de Setembro de 1985, as obras constavam essencialmente de colocação de soalho novo, uma placa no tecto, reconstrução da cobertura e sua estrutura, passando a mesma das "quatro-águas" originais para "duas-águas", bem como obras nos recreios e remodelação das instalações sanitárias. Também se previa a substituição do mobiliário. Manuel Alves previa que a Câmara Municipal gastaria com tais obras pelo menos dois mil contos.

Todavia,bem à portuguesa, porque não se planearam as obras para o período de férias, perspectivava-se que as mesmas não estariam concluídas antes do início do ano lectivo pelo que se colocou a necessidade de arranjar provisoriamente um local alternativo para o funcionamento das duas salas de aulas.  O presidente da Junta informou que o Sr. Manuel Tavares, no Viso, então presidente do Guisande F.C., poderia vir ceder por algum tempo, até à conclusão das obras, o edifício da sua habitação, que na altura estava em fase final de construção mas ainda não habitado. Porém, tal não se veio a concretizar, porque tal proposta não foi aceite pelo Sr. Tavares.

Como alternativa, o presidente da Junta indicou o Rés-do-Chão do recém construído edifício da Junta de Freguesia de Guisande, no lugar da Igreja. Assim, em 30 de Setembro de 1985, teve lugar uma reunião com a presença  do Delegado Escolar, Sr. Carlos Tenreiro e o Director da Escola do Viso, Sr. Prof. Carlos Alberto Letra, a fim de serem analisadas as condições do local para funcionamento das aulas, ainda que de modo provisório. O Sr. presidente da Junta na altura não pode estar presente mas deixou as chaves. 

O parecer dos responsáveis escolares foi negativo já que consideraram que a instalação tinha reduzida luz e ventilação naturais e um pé-direito baixo. Visitaram de seguida o piso superior e concluíram que ali existiam condições para a alternativa de funcionamento das aulas. No entanto esta escolha acabou por não agradar à Junta, que a recusou, justificando vários inconvenientes, pelo que uma vez mais surgiu a necessidade de uma nova alternativa. 

No início de Outubro, a solução acabou por ser sugerida à Junta de Freguesia pelo Sr. Professor Carlos Alberto Letra e localizava-se no lugar do Viso, no edifício pertencente ao Sr. Mário Sá, na ~então emigrante na Venezuela, cuja esposa, a Srª Cecília Almeida, na altura era funcionária da Escola Primária do Viso e daí ter sugerido a possibilidade ao director escolar. Contactado o Sr. Mário Sá, este concorda em ceder a Cave da sua habitação, ampla e espaçosa, e a Junta é posta ao corrente desta opção, concordando com a mesma e garantindo os trabalhos da instalação do mobiliário ematerial necessário às aulas.

Entretanto, pela freguesia foram surgindo algumas insinuações negativas de que a Sr.ª Cecília Almeida teria algum interesse em ceder a casa pela cobrança da renda (falava-se em 20 mil escudos mensais). Porém tal não correspondia à verdade já que a intenção e disponibilidade de empréstimo do espaço da Cave da habitação era a título gratuito, apenas sob a justa condição de no final serem garantidas as mesmas condições de conservação aquando da posse, caso se registassem alguns estragos.

Para esclarecer este assunto e sanar as insinuações, a Junta de Freguesia passou uma declaração assinada pelo seu presidente, pelo Delegado Escolar e pelos professores da Escola do Viso, atestando a cedência a título gratuito. Como contrapartida a Junta comprometia-se a pagar a correspondente factura da electricidade e reparar ou pintar o espaço caso fosse necessário, devolvendo-o aos proprietários nas mesmas condições à data da sua posse.

Para reforçar este assunto, a Direcção da Escola do Viso Nº 2 - Posto Telescola Nº 666, emitiu uma circular dirigida aos pais dos alunos agradecendo publicamente a cedência do espaço para funcionamento da escola provisória  ao Sr. Mário Sá e esposa. Solicitava ainda aos pais dos alunos para instruírem e sensibilizarem os filhos quanto à importância da máxima conservação do espaço de modo a não causarem estragos e prejuízos. 

O início das aulas foi então programado para o dia 7 de Outubro mas a Junta acabou por não assegurar a mudança do mobiliário até à data, pelo que só no dia seguinte foi possível arrancar com as aulas.

Pelas previsões da Câmara e da Junta de Freguesia, as obras de requalificação da Escola do Viso teriam uma duração de 15 a 30 dias mas certo é que as mesmas se foram prolongando e pelo final de Outubro o prognóstico já apontava para a proximidade do Natal. Por outro lado, o empreiteiro era ainda menos optimista e informava o director da Escola que previa o final das obras apenas para Abril do ano seguinte (1986).
Esta situação naturalmente não agradava aos professores e aos pais já que as aulas decorriam num espaço improvisado, sem as condições adequadas e a insatisfação e críticas começaram a ser dirigidas à Junta de Freguesia, por sua vez também acossada pela oposição.

As obras de facto não foram realizadas até ao Natal, mas não se prolongaram até Abril como tinha sido previsto pelo empreiteiro, tendo, sim, sido dadas como terminadas em Fevereiro de 1986. A mudança para a escola renovada aconteceu precisamente no dia 26 de Fevereiro desse ano. Terminara, pois, um período de funcionamento em local provisório que durou quase cinco meses.

Esta situação certamente que hoje já não é lembrada por muitos, mas aconteceu e faz parte do historial deste emblemático edifício que diz muito a várias gerações de guisandenses.