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27 de novembro de 2019

Memórias Paroquiais de 1758 - Guisande - Lugares


Em 1758, três anos após o terrível sismo de Lisboa de 1755, em certa medida para saber da situação das terras e consequências do terramoto no território nacional, o Marquês de Pombal mandou realizar um inquérito em todas as paróquias. O mesmo foi enviado a todos os Bispos das Dioceses do país, para que por sua vez fosse encaminhado às então 4073 freguesias existentes em Portugal  e respondido pelos seus párocos. As respostas às diferentes perguntas (ver abaixo) deveriam ser tão precisas quanto possível e de seguida remetidas à Secretaria de Estado dos Negócios do Reino.

A tarefa de proceder à organização das respostas de todos os documentos coube ao Padre Luís Cardoso, sendo concluída apenas em 1832, já depois do seu falecimento, altura em que se terá completado o índice de todas as respostas aos inquéritos. Os originais das respostas ao inquérito encontram-se na Torre do Tombo.
Na paróquia de S. Mamede de Guisande, sucedendo ao Pe. Manuel de Carvalho, fundador da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, no presente ainda activa, era pároco na altura o Dr. Manuel Rodrigues da Silva, que respondeu ao referido inquérito.

Desde há muitos anos que é de consenso comum e adquirido que a nossa freguesia de Guisande é constituída pela Parte de Cima e pela Parte de Baixo e por 14 lugares, concretamente: Igreja, Quintães, Viso, Cimo de Vila, Outeiro, Estôse, Pereirada, Leira, Gândara, Fornos, Barrosa, Reguengo, Lama e Casaldaça.

No entanto, na resposta ao ponto 6º do referido inquérito de 1758, o pároco referiu as partes ou metades de Cima e de Baixo, bem como os 14 lugares, mas estes com nomes que diferem um pouco da situação actual.
Respondeu o abade que a metade de Baixo era formada por  sete lugares chamados de Reguengo, Barroza, Fornos, Lama, Lamozo e Cazaldaça; e que a outra metade, chamada de Cima, tinha oito lugares, chamados de Leyra, Estôze, Pereirada, Quintam, Oiteiro, Simo de Villa, Quintana e Trás-da-Igreja.
Ora atentos à descrição, e relevando a questão da grafia própria da época, o abade começa por se enganar no total de lugares da parte de Baixo, dizendo 7 quando elenca apenas seis. Além disso, acrescenta os lugares de Lamozo e Quintam (este último que corresponderá a Quintão), mas não refere os lugares do Viso e Gândara.

Claro que ficamos sem saber em rigor qual o uso da época, podendo até ser esse o alinhamento dos lugares da freguesia na época, pelo que posteriormente, certamente devido à expansão dos lugares, terão sido acrescidos o do Viso e o da Gândara enquanto que por sua vez os lugares de Lamozo e Quintam deixaram o estatuto de lugares, passando a sítios, que de resto ainda hoje são conhecidos.

O Abade Dr. Manuel Rodrigues da Silva à data do inquérito já paroquiava Guisande há vários anos pelo que não é crível que ainda desconhecesse a composição por lugares da sua paróquia a ponto de se justificar o que poderia ser um lapso.
De todo o modo, fica a dúvida e o mistério para procurar esclarecer no futuro.

Voltaremos a este assunto das Memórias Paroquiais e o inquérito de 1758 que lhe deu corpo.

Entretanto ficam abaixo as perguntas que constavam do Inquérito ordenado pelo Marquês de Pombal.

Acrescente-se que, pelo que fui lendo nas respostas dadas por certos párocos de certas freguesias, referentes a várias freguesias, tanto do nosso concelho como de Arouca, Castelo de Paiva e outras, nem sempre os párocos respondiam à totalidade das perguntas ou apenas resumiam as mesmas tanto quanto possível, ou diziam nada ter a declarar. Sendo os padres uma entidade com conhecimento e cultura bastantes, não podiam encontrar desculpa no desconhecimento ou incapacidade de resposta às várias perguntas. Preguiça, certamente, pois tempo é que não faltaria aos então clérigos.


As perguntas colocadas no inquérito de 1758 foram as seguintes:

Parte I: O que se procura saber da terra

1. Em que província fica, a que bispado, comarca, termo e freguesia pertence.

2. Se é d’el-Rei, ou de donatário, e quem o é ao presente.

3. Quantos vizinhos tem, e o número de pessoas.

4. Se está situada em campina, vale, ou monte e que povoações se descobrem dela, e quanto distam.

5. Se tem termo seu, que lugares, ou aldeias compreende, como se chamam, e quantos vizinhos tem.

6. Se a Paróquia está fora do lugar, ou dentro dele, e quantos lugares, ou aldeias tem a freguesia, e todos pelos seus nomes.

7. Qual é o seu orago, quantos altares tem, e de que santos, quantas naves tem; se tem Irmandades, quantas e de que santos.

8. Se o Pároco é cura, vigário, ou reitor, ou prior, ou abade, e de que apresentação é, e que renda tem.

9. Se tem beneficiados, quantos, e que renda tem, e quem os apresenta.

10.Se tem conventos, e de que religiosos, ou religiosas, e quem são os seus padroeiros.

11.Se tem hospital, quem o administra e que renda tem.

12. Se tem casa de Misericórdia, e qual foi a sua origem, e que renda tem; e o que houver de notável em qualquer destas coisas.

13. Se tem algumas ermidas, e de que santos, e se estão dentro ou fora do lugar, e a quem pertencem.

14. Se acode a elas romagem, sempre, ou em alguns dias do ano, e quais são estes.

15. Quais são os frutos da terra que os moradores recolhem com maior abundância.

16. Se tem juiz ordinário, etc., câmara, ou se está sujeita ao governo das justiças de outra terra, e qual é esta.

17. Se é couto, cabeça de concelho, honra ou beetria.

18. Se há memória de que florescessem, ou dela saíssem, alguns homens insignes por virtudes, letras ou armas.

19. Se tem feira, e em que dias, e quanto dura, se é franca ou cativa.

20. Se tem correio, e em que dias da semana chega, e parte; e, se o não tem, de que correio se serve, e quanto dista a terra aonde ele chega.

21. Quanto dista da cidade capital do bispado, e quanto de Lisboa, capital do Reino.

22. Se tem algum privilégio, antiguidades, ou outras coisas dignas de memória.

23. Se há na terra, ou perto dela alguma fonte, ou lagoa célebre, e se as suas águas tem alguma especial virtude.

24. Se for porto de mar, descreva-se o sitio que tem por arte ou por natureza, as embarcações que o frequentam e que pode admitir.

25. Se a terra for murada, diga-se a qualidade dos seus muros; se for praça de armas, descreva-se a sua fortificação. Se há nela, ou no seu distrito algum castelo, ou torre antiga, e em que estado se acha ao presente.

26. Se padeceu alguma ruína no terramoto de 1755, e em quê, e se está reparada.

27. E tudo o mais que houver digno de memória, de que não faça menção o presente interrogatório.

Parte II: O que se procura saber da serra

1. Como se chama.

2. Quantas léguas tem de comprimento e quantas tem de largura, aonde principia e acaba.

3. Os nomes dos principais braços dela.

4. Que rios nascem dentro do seu sítio, e algumas propriedades mais notáveis deles; as partes para onde correm e onde fenecem.

5. Que vilas e lugares estão assim na Serra, como ao longo dela.

6. Se há no seu distrito algumas fontes de propriedades raras.

7. Se há na Serra minas de metais, ou canteiras de pedras, ou de outros materiais de estimação.

8. De que plantas ou ervas medicinais é a serra povoada, e se se cultiva em algumas partes, e de que géneros de frutos é mais abundante.

9. Se há na Serra alguns mosteiros, igrejas de romagem, ou imagens milagrosas.

10. A qualidade do seu temperamento.

11. Se há nela criações de gados, ou de outros animais ou caça.

12. Se tem alguma lagoa ou fojos notáveis.

13. E tudo o mais que houver digno de memória.

Parte III: O que se procura saber do rio

1. Como se chama assim, o rio, como o sitio onde nasce.

2. Se nasce logo caudaloso, e se corre todo o ano.

3. Que outros rios entram nele, e em que sitio.

4. Se é navegável, e de que embarcações é capaz.

5. Se é de curso arrebatado, ou quieto, em toda a sua distância, ou em alguma parte dela.

6. Se corre de norte a sul, se de sul a norte, se de poente a nascente, se de nascente a poente.

7. Se cria peixes, e de que espécie são os que traz em maior abundância.

8. Se há nela pescarias, e em que tempo do ano.

9. Se as pescarias são livres ou algum senhor particular, em todo o rio, ou em alguma parte dele.

10. Se se cultivam as suas margens, e se tem muito arvoredo de fruto, ou silvestre.

11. Se têm alguma virtude particular as suas águas.

12. Se conserva sempre o mesmo nome, ou começa a ter diferente em algumas partes, e como se chamam estas, ou se há memória que em outro tempo tivesse outro nome.

13. Se morre no mar, ou em outro rio, e como se chama este, e o sitio em que entra nele.

14. Se tem alguma cachoeira, represa, levada, ou açudes que lhe embaracem o ser navegável.

15. Se tem pontes de cantaria, ou de pau, quantas e em que sítio.

16. Se tem moinhos, lagares de azeite, pisões, noras ou algum outro engenho.

17. Se em algum tempo, ou no presente, se tirou ouro das suas areias.

18. Se os povos usam livremente as suas águas para a cultura dos campos, ou com alguma pensão.

19. Quantas léguas tem o rio, e as povoações por onde passa, desde o seu nascimento até onde acaba.

20. E qualquer coisa notável, que não vá neste interrogatório.

26 de agosto de 2019

Escola do Viso em reconstrução



Como se sabe, na actualidade o edifício da Escola Primária do Viso, depois de ter ficado devoluto, sem comunidade escolar, acabou por ser integrado no Centro Cívico, onde o Centro Social S. Mamede de Guisande desenvolve as suas actividades, embora estas ainda a "meio gás" por falta da decisão da Segurança Social relativamente ao programa de apoio, no que tem sido uma falta grave do poder político, mantendo, por interesses de cativações orçamentais, num impasse o acordo inicialmente aprovado. Adiante.

Como se percebe, este emblemático edifício, sobre o qual já aqui temos falado, nomeadamente sobre aspectos relacionados à sua origem, foi sendo alterado na sua configuração, sobretudo ao nível da cobertura e da zona dos alpendres dos recreios, bem como, naturalmente, da zona envolvente.

Recuando um pouco no tempo, e consultando o arquivo do jornal "O Mês de Guisande", ficamos a saber que pelo ano de 1985 o edifício entrava em obras de requalificação, depois de muito tempo de reclamação por parte dos professores quanto às suas precárias condições. Manuel Alves, então o presidente da Junta de Freguesia de Guisande, desculpava o executivo pelo facto de tais obras serem da responsabilidade da Câmara Municipal e que esta tardava em resolver o assunto apesar da pressão que sobre ela mantinha desde há dois anos antes (No passado como na actualidade, Guisande esquecida e ignorada pelo poder político).

Como se pode ler pelo recorte do jornal "O Mês de Guisande" na edição de Setembro de 1985, as obras constavam essencialmente de colocação de soalho novo, uma placa no tecto, reconstrução da cobertura e sua estrutura, passando a mesma das "quatro-águas" originais para "duas-águas", bem como obras nos recreios e remodelação das instalações sanitárias. Também se previa a substituição do mobiliário. Manuel Alves previa que a Câmara Municipal gastaria com tais obras pelo menos dois mil contos.

Todavia,bem à portuguesa, porque não se planearam as obras para o período de férias, perspectivava-se que as mesmas não estariam concluídas antes do início do ano lectivo pelo que se colocou a necessidade de arranjar provisoriamente um local alternativo para o funcionamento das duas salas de aulas.  O presidente da Junta informou que o Sr. Manuel Tavares, no Viso, então presidente do Guisande F.C., poderia vir ceder por algum tempo, até à conclusão das obras, o edifício da sua habitação, que na altura estava em fase final de construção mas ainda não habitado. Porém, tal não se veio a concretizar, porque tal proposta não foi aceite pelo Sr. Tavares.

Como alternativa, o presidente da Junta indicou o Rés-do-Chão do recém construído edifício da Junta de Freguesia de Guisande, no lugar da Igreja. Assim, em 30 de Setembro de 1985, teve lugar uma reunião com a presença  do Delegado Escolar, Sr. Carlos Tenreiro e o Director da Escola do Viso, Sr. Prof. Carlos Alberto Letra, a fim de serem analisadas as condições do local para funcionamento das aulas, ainda que de modo provisório. O Sr. presidente da Junta na altura não pode estar presente mas deixou as chaves. 

O parecer dos responsáveis escolares foi negativo já que consideraram que a instalação tinha reduzida luz e ventilação naturais e um pé-direito baixo. Visitaram de seguida o piso superior e concluíram que ali existiam condições para a alternativa de funcionamento das aulas. No entanto esta escolha acabou por não agradar à Junta, que a recusou, justificando vários inconvenientes, pelo que uma vez mais surgiu a necessidade de uma nova alternativa. 

No início de Outubro, a solução acabou por ser sugerida à Junta de Freguesia pelo Sr. Professor Carlos Alberto Letra e localizava-se no lugar do Viso, no edifício pertencente ao Sr. Mário Sá, na ~então emigrante na Venezuela, cuja esposa, a Srª Cecília Almeida, na altura era funcionária da Escola Primária do Viso e daí ter sugerido a possibilidade ao director escolar. Contactado o Sr. Mário Sá, este concorda em ceder a Cave da sua habitação, ampla e espaçosa, e a Junta é posta ao corrente desta opção, concordando com a mesma e garantindo os trabalhos da instalação do mobiliário ematerial necessário às aulas.

Entretanto, pela freguesia foram surgindo algumas insinuações negativas de que a Sr.ª Cecília Almeida teria algum interesse em ceder a casa pela cobrança da renda (falava-se em 20 mil escudos mensais). Porém tal não correspondia à verdade já que a intenção e disponibilidade de empréstimo do espaço da Cave da habitação era a título gratuito, apenas sob a justa condição de no final serem garantidas as mesmas condições de conservação aquando da posse, caso se registassem alguns estragos.

Para esclarecer este assunto e sanar as insinuações, a Junta de Freguesia passou uma declaração assinada pelo seu presidente, pelo Delegado Escolar e pelos professores da Escola do Viso, atestando a cedência a título gratuito. Como contrapartida a Junta comprometia-se a pagar a correspondente factura da electricidade e reparar ou pintar o espaço caso fosse necessário, devolvendo-o aos proprietários nas mesmas condições à data da sua posse.

Para reforçar este assunto, a Direcção da Escola do Viso Nº 2 - Posto Telescola Nº 666, emitiu uma circular dirigida aos pais dos alunos agradecendo publicamente a cedência do espaço para funcionamento da escola provisória  ao Sr. Mário Sá e esposa. Solicitava ainda aos pais dos alunos para instruírem e sensibilizarem os filhos quanto à importância da máxima conservação do espaço de modo a não causarem estragos e prejuízos. 

O início das aulas foi então programado para o dia 7 de Outubro mas a Junta acabou por não assegurar a mudança do mobiliário até à data, pelo que só no dia seguinte foi possível arrancar com as aulas.

Pelas previsões da Câmara e da Junta de Freguesia, as obras de requalificação da Escola do Viso teriam uma duração de 15 a 30 dias mas certo é que as mesmas se foram prolongando e pelo final de Outubro o prognóstico já apontava para a proximidade do Natal. Por outro lado, o empreiteiro era ainda menos optimista e informava o director da Escola que previa o final das obras apenas para Abril do ano seguinte (1986).
Esta situação naturalmente não agradava aos professores e aos pais já que as aulas decorriam num espaço improvisado, sem as condições adequadas e a insatisfação e críticas começaram a ser dirigidas à Junta de Freguesia, por sua vez também acossada pela oposição.

As obras de facto não foram realizadas até ao Natal, mas não se prolongaram até Abril como tinha sido previsto pelo empreiteiro, tendo, sim, sido dadas como terminadas em Fevereiro de 1986. A mudança para a escola renovada aconteceu precisamente no dia 26 de Fevereiro desse ano. Terminara, pois, um período de funcionamento em local provisório que durou quase cinco meses.

Esta situação certamente que hoje já não é lembrada por muitos, mas aconteceu e faz parte do historial deste emblemático edifício que diz muito a várias gerações de guisandenses.

10 de agosto de 2019

Guisande Futebol Clube - Campos de Jogos - 2


Retomando os apontamentos à volta dos campos de jogos no historial do Guisande F.C., no anterior artigo referimos que o Campo de Jogos "Oliveira e Santos" foi inaugurado  em 2 de Novembro de 1986. Todavia, as obras realizadas até àquela data foram as estritamente necessárias para as condições mínimas na altura exigidas. Por conseguinte, depois dessa importante data, o campo de jogos, tal como o conhecemos hoje, foi resultado de várias obras durante diversos mandatos e dinamizadas por diferentes corpos gerentes.

As obras iniciais não foram fáceis porque desde logo as verbas então existentes eram escassas, como na altura, em Julho de 1985 o então presidente da Direcção, Sr. Manuel Tavares, dava conta em entrevista concedida ao jornal "O Mês de Guisande". 

De facto nesse mês de Verão, as obras iniciaram-se com a terraplanagem do terreno, realizada pelo empreiteiro de Paços de Brandão, Sr. Firmino Gomes, cujos trabalhos custaram 350 contos, mas tendo sido interrompidos porque não havia mais dinheiro. Em concreto existia numa conta do Banco Espírito Santo a quantia de 200 contos transitada da anterior Comissão de Obras e angariada para o campo de jogos anteriormente previsto noutro local da freguesia, mas cujo negócio deu em "águas de bacalhau" ou mesmo como então disse Manuel Tavares "...já haviam existido duas oportunidades para se criar campos de futebol e como é sabido ambas deram em fiasco e de uma maneira esquisita".

Como fonte de receita para as restantes obras necessárias à mudança de casa, Manuel Tavares esperava o apoio e colaboração da população, emigrantes, Junta de Freguesia e ainda da Câmara Municipal com o fornecimento de material e seu transporte.
Apesar dos constrangimentos financeiros face às necessidades da obra, o presidente da Direcção do clube dizia que "...isto não é para parar mas sim para prosseguir a todo o gás".

Como curiosidade do que Manuel Tavares declarou na referida entrevista ao jornal "O Mês de Guisande", as ideias ou projectos para o novo campo de jogos, incluiriam uma pista de atletismo e balneários subterrâneos. Ainda uma bancada central.
Estas boas ideias, excepto a bancada central, nunca vieram a ser concretizadas. Obviamente que o homem sonha e a obra nasce, diz o poeta, mas sem dinheiro e recursos as coisas ficam apenas pelos sonhos. Foi o que aconteceu. Em todo o caso, o Campo de Jogos tal como existe é de qualidade significativa e obviamente que custou muito do esforço da freguesia no seu todo.

A par das dificuldades financeiras da época, surgiram problemas com os aspectos legais do terreno doado pelo Sr. Américo Pinto dos Santos e sua esposa Maria Angelina Oliveira Gomes. A Câmara Municipal ter-se-á comprometido a tratar da legalização predial, nomeadamente junto das Finanças e depois na Conservatória do Registo Predial, pelo que seria complicado avançar-se com obras sem a doação estar devidamente formalizada e o terreno no nome do clube. 

Assim, de modo a adiantar o andamento das obras, em declaração que a seguir transcrevemos, e que na altura foi publicada no jornal "O Mês de Guisande", os doadores passaram um documento no qual declaram pública e oficialmente que "...para os devidos e efeitos legais, oferecem ao Guisande Futebol Clube uma parcela de terreno , sita no lugar do Reguengo, freguesia de Guisande, concelho da Feira, com a área de 12 mil metros quadrados, destinado ao campo de futebol do clube acima citado, não podendo a colectividade dar outro uso que não seja para o fim destinado e acima mencionado".

Mais declararam que o clube assim poderia dar início às obras que fossem destinadas à construção do campo de futebol e que desde essa data seriam da responsabilidade do clube. Mais ainda, que oportunamente, logo que as Finanças indicassem o Nº da inscrição matricial, formalizariam a doação por escritura notarial.
Esperamos vir a ter a oportunidade de publicar por aqui a escritura de doação. Para já, o recorte da publicação no "MG" da referida declaração.


Como se vê, no contexto das histórias relacionadas aos campos de jogos do Guisande F.C., há vários apontamentos de interesse e que se não forem anotados obviamente que acabarão por caír no esquecimento da nossa memória colectiva.

Voltaremos ao assunto.

31 de julho de 2019

Guisande Futebol Clube - Campos de Jogos - 1


Em anteriores apontamentos sobre alguns dos aspectos históricos e desportivos do Guisande Futebol Clube, já abordamos a questão dos campos de jogos que o clube teve como seus.
Mesmo que ainda sem elementos adicionais que melhor possam contribuir para documentar esta importante questão, procuremos, todavia, ao que foi escrito, acrescentar outros apontamentos, mesmo que repetindo alguns já anteriormente publicados.

Campo da Leira

Do que tenho memória, e há quem a tenha de forma mais precisa e mais recuada no tempo, e até mesmo experienciada, no caso de quem por essa altura jogava, o Guisande Futebol Clube realizava os  seus jogos caseiros num campo localizado no lugar da Leira, já próximo do lugar da Gândara, daí ter ficado conhecido como o "Campo da Leira", implantado à face da estrada que é hoje a Rua Nossa Senhora de Fátima.
O terreno era propriedade dos pais do Jorge da Silva Ferreira, por eles cedido a título de empréstimo e por isso num contexto provisório e precário.


Acima, vista aérea do local onde existiu nos anos 70 o campo de jogos da Leira. Como se perceberá, o antigo rectângulo de jogo ocupava espaço agora ocupado por algumas habitações.

Os pormenores relativos ao campo e às obras mínimas necessárias, como terraplanagem e construção de balizas e vedação do rectângulo de jogo, têm histórias e particularidades curiosas, de que alguns felizmente ainda se lembram, sobretudo o Sr. Valdemar Pinheiro, antigo atleta, massagista e dirigente do clube. Importa, recolher no papel ou em vídeo esses testemunhos que parecendo de somenos importância, são deveras interessantes até porque ajudam a compreender a dinâmica e envolvência daquele grupo de pessoas que por esses tempos  projectavam já a formação de um clube com a identidade guisandense.

Estávamos no início dos anos 70, eventualmente ainda no final dos anos 60, e ali o clube ainda sem estar constituído como tal, disputava com alguma regularidade jogos de carácter amistoso (por vezes pouco, diga-se), essencialmente contra equipas vizinhas, como o Lobão, o Romariz, o Pigeiros e outras mais. Obviamente, com as equipas das freguesias vizinhas a rivalidade era esperada e aumentada e que por esses tempos já arrastava multidões à Leira. Sempre que havia golo, o grito da assistência entusiasmada pelo mesmo, ecoava por toda a freguesia e chegava mesmo ao alto do Viso.

O campo, sendo já quase um luxo por esses tempos, obviamente que não tinha mais nada para além de um terreno mais ou menos plano e duas balizas que até chegaram a ser de madeira e ainda uma cerca também em barrotes de madeira. Por isso, os atletas equipavam-se e tomavam banho de forma muito improvisada numa ou noutra casa no lugar da Leira (como na casa do Coelho na Leira) ou  na Gândara (no que é hoje a Casa Neves). A água, quando a havia, era do poço e fria, fosse de Verão ou Inverno pelo que os duches eram debaixo da bica bombeada na hora. - Olha, foi golo do Guisande! - comentava-se.

O campo era de dimensões reduzidas e com pouco espaço para o público, sobretudo na central nascente, entre o campo e a estrada. Entre a baliza norte e os prédios vizinhos  havia pouco espaço pelo que sempre que a bola para lá era rematada "à Romariz" - chutão para o ar, sem qualquer nexo - , era um cabo dos trabalhos para a resgatar. Podia ser alguma má vontade do vizinho, mas temos que reconhecer que também era uma chatice constante e além do mais causava estragos na horta ou no jardim. É claro que tratou-se de remediar a coisa com uma rede alta colocada no topo norte mas mesmo assim por vezes lá surgia um remate desenquadrado não só com a baliza como com a rede e a bola lá seguia aterrando num pé de alface derrubando uma couve galega.

Apesar da precariedade deste campo, certo é que ali se disputaram grandes jogos, emotivos e com assistência de fazer inveja a muitos dos actuais jogos de campeonatos nacionais.
Em todo esse tempo que durou o Campo da Leira, foi-se cimentando a identidade do Guisande F.C. e dos vários jogadores que por ali passaram, sobretudo os da terra, alguns continuaram a aventura de jogadores do clube e mais tarde dirigentes. Foi, pois, uma etapa cheia de significado.

Campo da Barrosa

O campo de jogos na Leira durou alguns anos, quase até ao final da década de 70, mas mais tarde, já com o Guisande F.C. constituído como associação e devidamente federado na Associação de Futebol de Aveiro, aconteceu a mudança de casa e da Leira mudou-se para o lugar da Barrosa, num terreno também exíguo, localizado a nascente da casa do Sr. Raimundo Almeida e onde hoje se encontra implantado um pavilhão onde labora uma actividade de embalagens de cartão.

Uma vez mais era uma casa a título provisório. Segundo o testemunho de um dos presidentes da Direcção do clube desse tempo, a utilização do espaço estava sujeita ao pagamento de uma renda mensal, embora não tivesse memória para o valor que então era pago à proprietária, a S.ra Conceição, tia do Prof. Rodrigo Correia. Segundo o Sr. Valdemar Pinheiro, há a ideia de que o valor da renda mensal seria de 150 escudos.


Acima, vista do local onde existiu o Campo da Barrosa, à face sul da  actual Rua 25 de Abril. 
Ainda existente, um anexo que engloba parte ou mesmo a totalidade do que era então o balneário. Na platibanda da fachada existia um elemento decorativo com o emblema e a designação do clube.



Acima, vista parcial do campo da Barrosa, de sul para norte. Foto de meados dos anos 1980, praticamente nas vésperas de mudança para o então novo campo no Reguengo.


O Guisande F.C. oficialmente foi fundado em 31 de Outubro de 1979, data a que corresponde a outorga da escritura pública no 2º Cartório da Secretaria Notarial da Feira, com entrada a folhas 67 do livro nº 541-B. É certo que as suas origens ou raízes são bem anteriores, mas legal e oficialmente, apenas em 1979.
Por sua vez, a constituição da associação que tomou o nome de Guizande Futebol Clube, foi publicada no Diário da República nº 296, III série, de 26 de Dezembro de 1979, conforme o testemunha o extracto abaixo reproduzido.

Nota à margem: Importa lembrar que mesmo sem actividade formal há já algumas épocas, o clube está a poucos meses de celebrar 40 anos de fundação e seria bom que algo se fizesse em favor da efeméride. Fica o repto. Quiçá um encontro convívio entre ex-dirigentes, atletas e sócios. Porque recordar também é viver.



Por conseguinte, a entrada do clube nas competições oficiais da Associação de Futebol de Aveiro acontece logo no mesmo ano da fundação, concretamente na época desportiva de 1979/1980, tendo participado no Campeonato Distrital da 3ª Divisão - Zona Norte - da Associação de Futebol de Aveiro, com 24 atletas seniores inscritos. No final da competição de 24 jornadas o clube obteve um honroso 5º lugar. Era Presidente da Direcção o Sr. Manuel Rodrigues de Paiva.

Os jogos foram, pois, já disputados no novo Campo da Barrosa. Segundo memória do Sr. Valdemar Pinheiro, o primeiro jogo oficial ali disputado aconteceu com o Mocidade Desportiva Eirolense, uma equipa da zona de Aveiro, em que o Guisande F.C. venceu por 3-1.
Sobre este clube do Eirolense, diga-se que foi fundado um pouco antes do Guisande, precisamente em 15 de Outubro de 1976.

O Campo da Barrosa tinha dimensões mínimas, com reduzido espaço para a assistência, sobretudo nas laterais, mas tinha uns balneários, muito básicos, mas suficientes para a exigências desses tempos. As balizas ali instaladas vieram do Campo da Leira e mais tarde foram para o campo do Reguengo.


Acima o local onde existiu o Campo da Barrosa durante quase toda a década de 1980. No local ainda existe, como um anexo, o que era parte do balneário do clube. Muito básico, mas melhor que nada. Por muitos outros campos de jogos da vizinhança as condições não eram muito superiores.


Uma das boas equipas do Guisande F.C. que jogou no mítico Campo da Barrosa. Entre vários atletas, alguns da casa, como Joaquim Alves (Teixeira) e António Ribeiro.

Campo de Jogos "Oliveira e Santos"

O Guisande F.C. jogou, pois, no Campo da Barrosa uma grande parte da década de 80, antes de se mudar para o Campo de Jogos "Oliveira e Santos", no lugar do Reguengo, o que aconteceu após a inauguração deste em 2 de Novembro de 1986.

O acontecimento da inauguração foi notícia em jornais nacionais, como "O Comércio do Porto" e o jornal "O Jogo", entre outros, e também mereceu reportagem do jornal "O Mês de Guisande", na sua edição de Novembro de 1986.
A cerimónia, foi uma festa rija, com a presença de  autoridades locais, dirigentes, sócios e população em geral e dela fez parte o jogo inaugural com a equipa do Macieira de Sarnes, em jogo a contar para a 2ª jornada do Campeonato Distrital da 2ª Divisão, em que venceu por 1-0.
Recorde-se que o clube havia subido da 3ª para a 2ª Divisão na época de 1982/1983, depois de ter obtido o 3º lugar na classificação geral.

Quando se dá a inauguração  e mudança para o novo campo de jogos, era treinador da equipa o carismático Carlos Pedro. Do plantel constavam jogadores como Fonseca, Baptista, Ernesto, Pedro Moreira, Armindo Gomes, Azevedo, Vítor, João, Vivas, J. Augusto, Maximino e Américo Vendas, entre outros..

O presidente da Direcção do clube, o Sr. Manuel Rodrigues de Paiva declarou nessa ocasião que as obras teriam custado ao clube a verba de 7 mil contos, uma grande parte desse dinheiro angariado em peditório à população de Guisande e junto dos associados, para além dos apoios da Junta de Freguesia e Câmara Municipal, entre outras entidades e pessoas.

É claro que o campo de jogos nessa época não tinha as condições tais como as conhecemos hoje. Foi um trabalho continuado pelos anos seguintes, com obras e melhoramentos, tanto nos balneários como nas vedações, bancada e cobertura da bancada central. Todas as obras pelos anos seguintes couberam às várias direcções do clube bem como de modo especial à capacidade do saudoso Elísio Mota que soube congregar esforços e apoios que permitiram dotar o local com boas condições, muito acima das de vários clubes com maior pujança.

Até mesmo a equipa actual designada como Veteranos Guisande F.C., pese as dificuldades, tem conseguido tratar da manutenção das instalações e, tão importante como isso, dar vida ao espaço, disputando ali um campeonato de futebol de veteranos, mesmo que fora do âmbito da Associação de Futebol de Aveiro. No caso, faz parte da Associação de Atletas Veteranos de Terras de Santa Maria, no qual tem participado com mérito.




Acima, imagens de aspectos e localização do actual Campo de Jogos "Oliveira e Santos"

Os beneméritos:

Importa para a história do Guisande F.C. realçar que a construção deste campo de jogos no Reguengo só foi possível a partir da generosidade dos beneméritos Américo Pinto dos Santos e sua esposa Maria Angelina Oliveira Gomes (já falecidos), que doaram ao clube os terrenos chamados do "Albitre", necessários ao empreendimento e respectivos acessos envolventes. Daí a designação, Campo "Oliveira e Santos", numa junção de apelidos do casal de beneméritos.

Inicialmente o espaço até foi designado pomposamente de "Estádio Oliveira e Santos", mas  soava a ambição a mais, já que na realidade era nessa altura apenas um simples campo de futebol, ainda sem vedações, sem bancada e com um pequeno balneário. Nas condições actuais justificaria melhor o epíteto de estádio, mas isso é o menos importante. Estádio, Campo ou Parque de Jogos, vai dar ao mesmo e mais importante do que isso é o peso da história carregada e o que o clube representou e ainda representa. É certo que atravessa um período sem actividade, sem corpos gerentes e sem competições oficiais, para além da boa excepção referente à actividade da equipa de veteranos, mas pelo menos importa que a memória não morra e que se mantenha a esperança de que mais cedo ou mais tarde o clube possa ser reactivado, mesmo que num contexto de actividade diferente.

Infelizmente no contexto de poder local actual, a esperança não tem muito a que se agarrar, pois deixou de haver o "amor à terra e à camisola" e por agora as freguesias são geridas como um negócio, sem afectos e com pouco respeito pela memória, tradições e identidade de um passado colectivo. Podem dizer o contrário mas a realidade desmente-os.


Lápide em mármore colocada na frontaria da entrada do campo de jogos, em reconhecimento dos beneméritos.

Muito mais haverá a dizer, sobretudo em relação a este Campo de Jogos  "Oliveira e Santos", nomeadamente quanto às questões relacionadas com a angariação dos dinheiros, promoção e realização das obras. Ficará para próximos apontamentos.

Pelo meio, há interessantes histórias à volta de outros locais que estiveram na berlinda para serem  o campo de jogos do Guisande F.C., nomeadamente em Cimo de Vila na zona do Monte de Mó, junto ao limite com Louredo, em terrenos do Sr. Manuel Pereira e ainda em Linhares, em terrenos do Sr. Abel Correia Pinto, onde actualmente se implanta a fábrica da Utilbébé. Inicialmente este terreno foi prometido e disponibilizado pelo próprio Sr. Abel, e fizeram-se trabalhos de abate de árvores, limpeza e  desvio da mina de água ali existente, mas depois e à posteriori, alguns familiares do doador vieram exigir contrapartidas, nomeadamente na abertura de uma estrada a atravessar terrenos da família e face à esta situação inesperada e inicialmente não apresentada como condição, a hipótese do campo de futebol nesse local ficou sem efeito. Porventura interessou a alguns familiares o vender em vez de doar, como veio a acontecer. É compreensível mas pena que nem sempre à palavra dada se dê o valor.

Em resumo, por promessas que não passaram disso mesmo, ou porventura a oferta de chouriços na expectativa de se receber presuntos, a angariação de um terreno e construção do equipamento, deu umas voltas e com episódios algo caricatos e que hoje até nos fazem sorrir, mas que não se vieram a concretizar pelo que o destino acabou por conduzir à oferta efectiva do terreno por Américo Pinto dos Santos e esposa e assim, finalmente, se concretizou o Campo do Reguengo.

Voltaremos a este assunto com actualizações sempre que se justificarem.

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29 de julho de 2019

Monte do Viso - Ante-Projecto "Nova Face"


Com maior ou menor interesse, de um modo generalizado todos reconhecemos no Monte do Viso e na sua respectiva zona envolvente à Capela de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António e edifício da Escola Primária, actualmente integrado no Centro Cívico do Centro Social S. Mamede de Guisande, um dos locais mais aprazíveis da freguesia e palco comunitário de muitas iniciativas  de índole recreativo, cultural e religioso, incluindo a nossa maior festividade popular, a qual dentro de dias, já no próximo fim-de-semana, volta a ter lugar.

Todavia, o arraial ou parque do Monte do Viso, apesar do empenho depositado nele por várias juntas de freguesia e indiferença de outras, como a anterior e a actual, é fruto de uma dinâmica de interesses colectivos e singulares que não é de agora, nem das duas últimas décadas, mas bem mais de trás. 

Neste contexto, muitos já estarão esquecidos, mesmo os mais velhos, mas toda a reformulação do arranjo do Monte do Viso tal como o conhecemos na actualidade, a partir do seu aspecto anterior, tal como vemos parcialmente na foto acima, datada de 1982, tem as suas raízes numa ideia apresentada em 1986 na Assembleia e à Junta de Freguesia de então, encabeçada pelo Sr. Manuel Alves, pelo jovem deputado Rui Giro em representação da lista  FJI - Força Jovem Independente que, recorde-se, concorreu às Eleições Autárquicas de 1985 e 1989.

Essa ideia traduzia-se num ante-projecto designado de "Monte do Viso - Nova Face", cujo esquema de apresentação (reproduzido abaixo) foi publicado no jornal "O Mês de Guisande" em Novembro de 1987, cuja capa abaixo se estampa.



É certo que a solução que veio a desenvolver-se não seguiu à risca a ideia plantada no ante-projecto (nem era isso que se pretendia), que desde logo previa uma circulação marginal e envolvente, ao arraial, mas dela nasceu o interesse colectivo pela importância de dar uma nova face a esse bonito local. e fazer dele uma das nossas salas de visita.

A ideia foi bem recebida tanto pela Junta como pela Assembleia de Freguesia e depois disso foi também envolvida a Câmara Municipal, a qual veio a dar seguimento ao levantamento topográfico,  estudo e projecto. As juntas de freguesia seguintes, lideradas por Rodrigo de Sá Correia, Manuel Ferreira e Celestino Sacramento corporizaram essa ideia e aos pouco o parque chegou à configuração actual, conforme foto área abaixo. De resto, o arraial até já esteve com melhor aspecto, pois já com alguns ano decorridos notam-se naturalmente os desgastes nas pavimentações, coreto e jardins. As obras de conservação  nunca tiveram lugar e as pedras da calçada vão por ali andado ao rebolo. 

No nosso entendimento e no da FJI de então, a solução adoptada não foi a melhor e isso comprova-se pelo constrangimento viário que se verifica em dias de eventos no local. Por outro lado, o percurso da capela até ao fundo do monte deveria ser directo e apenas pedestre e não misto, com uma transição mal conseguida. Adoptou-se uma solução com menos arruamento e mais zona de parque,é certo, mas na altura mandou quem podia e quem pode manda, mesmo que mal. 

Mesmo na actualidade podia-se melhorar os aspectos de circulação com uma postura de trânsito em sentido único a envolver a Rua Nossa Senhora da Boa Fortuna e Rua de Santo António, mas tal obrigaria à sua requalificação, com alargamentos e pavimentações e o poder local agora organizado numa mistura incaracterística de freguesias, cada uma a olhar para o seu próprio umbigo, não tem estado para aí virado, apesar de na Rua de Santo António, a nascente da capela, os proprietários terem chegado a acordo para ceder terreno para o alargamento o que em muito beneficiaria o local e a circulação, sobretudo em dias de eventos, tanto mais que mesmo que a meio gás,  por ali vai estando de portas abertas o Centro Cívico. 



De lá para cá, as juntas que se sucederam não deram importância ao local e as obras estagnaram e muito há a fazer. De minha parte, enquanto membro da Junta, elenquei o local como palco de intervenção e requalificação, mas, para meu desalento e decepção, sem êxito. Fala-se, agora, que estão previstas intervenções nos pavimentos e passeios, mas o mandato vai a meio e para já nada, nem sequer limpeza. Mas haja esperança porque o dinheiro quando não se gasta deve andar por algures.

Mas estas são histórias que já não são lembradas e seria bom que procurássemos saber a origem das coisas e das suas raízes. E esta do arraial do Monte do Viso tem uma, ou mesmo várias. Por aqui, aos poucos, vamos tentando contá-las, a quem interessar.

12 de outubro de 2018

Guizande Futebol Clube - Escritura de constituição




Na continuação das minhas notas documentais que tenho vindo a escrever sobre a história do Guizande Futebol Clube, publico agora a cópia da escritura pública da constituição da associação, lavrada no Cartório Notarial de Vila Feira numa quarta-feira, 31 de Outubro de 1979. 
Por sua vez, a constituição da associação que tomou o nome de Guizande Futebol Clube, foi publicada no Diário da República nº 296, III série, de 26 de Dezembro de 1979.

Na referida escritura, em que constam onze artigos que regulamentam a associação constituída, no artigo 4º são definidas as qualidades dos associados (executantes, auxiliares, beneméritos e honorários).

São também identificados os sócios que estiveram ligados à fundação oficial do clube e que outorgaram a respectiva escritura. São apenas alguns nomes, não necessariamente os que mais ou menos contribuíram para a legalização do clube.  Certamente que muitos outros com maior importância  na época e mesmo nos primeiros tempos, não constam desta lista. De resto sabemos que muitas vezes nestes actos burocráticos participam aqueles que no momento da marcação da escritura apresentam disponibilidade para participar no acto. Contudo, reconheça-se, não deixa de ser marcante para quem participou em tal acto.

Para além de tudo o mais documentado na escritura, há uma nota importante, a que se refere o último artigo, o 11º, que esclarece o que tem sido uma dúvida para muitos, ou seja, que em caso de dissolução do clube por razões previstas na lei, todo o património do clube reverterá a favor da Junta de Freguesia de Guisande. Fica assim desfeita essa dúvida.

Quanto aos nomes subscritores do documento, pela ordem de outorgantes:

Manuel Rodrigues de Paiva
Júlio César dos Santos Alves
José Pires de Almeida Saraiva
Elísio Alcino Ferreira dos Santos
António de Oliveira Bastos
José de Almeida Peixoto
Valdemar Ferreira de Pinho
Domingos da Conceição Lopes
Elísio Gomes da Mota

Podem ler aqui a totalidade das notas que aos poucos tenho vindo a documentar.

28 de setembro de 2018

Olha o passarinho...


Esta fotografia de 16 de Junho de 1955, é porventura, das conhecidas, uma das mais antigas relacionada à nossa igreja matriz e zona envolvente a norte e nascente, com o adro e a residência paroquial. Como se poderá perceber, foi tirada a partir de um terraço da casa da família do Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva, então conhecida como Casa do Sr. Moreira (sogro do Dr. Joaquim Inácio).
Pode-se observar vários pormenores, desde logo as árvores que existiam no adro, como a famosa e frondosa cerejeira, abatida em 1 de Dezembro de 1956, de que já falamos aqui. Também uma oliveira na parte mais central, à direita Por essa altura o adro estava ainda despido quanto aos arbustos que foram plantados em fase posterior, pelo início dos anos 60..
Ainda os pormenores interessantes da residência paroquial, nomeadamente a pintura da chaminé original (esta posteriormente demolida e edificada em seu lugar uma mais pequena, aquando de obras na cozinha) bem como um lambrim igualmente em pintura. Não o sabendo, seria natural que fosse em tom azulado.
Ao fundo, percebe-se ainda a antiga Casa dos Mordomos, que anos depois, no princípio dos anos 60, seria demolida parcialmente para dar lugar ao actual Salão Paroquial.
Por todos os aspectos que dela se podem obter, esta foto é em si mesma um importante documento e testemunha de um passado já algo distante (63 anos).

Abaixo a foto com a indicação do local onde foi obtida a foto de cima


Abaixo a foto com a vista geral do local, na actualidade, percebendo-se a ausência da referida chaminé existente na residência paroquial em 1955.



27 de setembro de 2018

E a mocidade de Guisande foi à praia


Verão de 1967. Parecendo que não, já passaram mais de 50 anos, meio século sobre o momento aqui retratado. Nesse Verão  parte da boa mocidade guisandense foi  a banhos, pelo menos molhar os pés. 
Infelizmente alguns dos aqui retratados já são apenas saudade. Curioso o pormenor de apenas dois homens entre onze mulheres. Se não me engano, o da esquerda é o Sr. José Santos, da Lama (ou talvez não) e o da direita parece-me falecido Sr. António Gomes, marido da Celeste Fonseca (ao seu lado esquerdo), de Cimo de Vila. 
Repare-se que por detrás deste grupo em pose quase de equipa de futebol, estão mais alguns "artistas", certamente também de Guisande. Claro que neste grupo há por ali muita gente conhecida, como a já falecida Lucinda Monteiro, mas fica o suspense para quem dos mais velhos quiser identificar as demais figuras.
Saudades!

17 de setembro de 2018

Residência Paroquial de S. Mamede de Guisande


Numa altura em que o actual pároco de S. Mamede de Guisande, Pe. Arnaldo Farinha tem manifestado à comunidade a intenção de proceder a obras no interior da residência paroquial, para nela fixar habitação, como é de seu direito, importará saber alguns dados sobre este emblemático edifício que há mais de um século faz parte do património local e da paisagem envolvente à nossa bela igreja matriz.

Pela data gravada em pedra aposta sensivelmente ao centro da fachada principal voltada a poente, a sua construção reporta-se ao ano de 1907. Tem, pois, quase 110 anos de existência. Dos vivos guisandenses, não há nenhum que lhe tenha sobrevivido.

Como será de esperar, há poucos dados documentais que nos permitam saber com rigor alguns dos aspectos ligados à sua construção e história. 
Em todo o caso, fazendo uso e fé de actas da antiga Junta de Freguesia de Guisande, ao tempo denominada de Junta Paroquial, o edifício foi mandado construir pelo então pároco de Guisande, Pe. Abel Alves de Pinho, do qual pouco se sabe, para além de que era natural da freguesia de Fiães, do nosso concelho de Vila da Feira e que enquanto pároco também exerceu o cargo de secretário da então Junta Paroquial de Guisande.

Pela consulta do livro de actas dessa entidade administrativa, em concreto pela acta de 21 de Outubro de 1923, abaixo reproduzida, foi então apresentado o novo pároco, Padre Rodrigo José Milheiro, bem como o presidente da Junta informava que com a saída do antigo pároco Padre Abel Alves de Pinho, por exoneração pedida por este, certamente por idade avançada, ao abandonar Guisande decidiu vender a sua habitação, suas pertenças e terrenos, em 11 de Outubro de 1923, ao Reverendo Joaquim Esteves Loureiro. Esta venda foi a título de recordação pela sua passagem pela freguesia de Guisande e com o objectivo claro de passar a ser a residência dos futuros párocos da paróquia de S. Mamede de Guisande.

Tendo em conta que conforme é relatado na referida acta, a Junta considerou a venda como um benefício e a classificou como recordação pela passagem do Pe. Abel Alves de Pinho pela paróquia, só faz sentido que a referida venda fosse a favor da paróquia, para nela funcionar a residência dos futuros párocos. Se fosse para a posse e usufruto de uma pessoa particular, não faria sentido a tal consideração da Junta. Presumo, por isso, que a venda terá sido simbólica ou, mesmo que formal, a favor do Paço e na condição do edifício permanecer ao serviço da paróquia como residência.
Neste contexto, mesmo que assente em presunção, tudo indica que o Rev. Joaquim Esteves Loureiro foi apenas o representante legal do Paço no acto da venda.

Em concreto não conseguimos apurar quem seria este Reverendo Joaquim Esteves Loureiro, mencionado na acta, a quem o Padre Abel Alves de Pinho fez a venda da residência, mas como disse atrás, poderia ser o representante do Paço na outorga da escritura.
Depois de algumas pesquisas, ainda que não conclusivas, descobri que na Diocese do Porto existiu na mesma época um Pe. Joaquim Esteves Loureiro que entre outros cargos, foi pároco da paróquia de Ramalde, no Porto e Director da Irmandade dos Clérigos, na mesma cidade, nomeado para tal em 26 de Outubro de 1928. Terá sido ordenado em 12 de Novembro de 1911 pelo Bispo D. António José de Sousa Barroso (entre 1899-1918).
Tratando-se ainda da mesma pessoa, porque são várias as coincidências, o nome, o ser padre, ser do Porto e ter vivido pela mesma época, este Pe. Loureiro foi ainda  Director do Jornal "Voz do Pastor", um semanário da Diocese do Porto, fundado pelo Bispo D. António Barbosa Leão (entre 1919-1929), que foi publicado entre 13 de Fevereiro de 1921 e 27 de Dezembro de 1969.
É pois, muito plausível que este Reverendo Joaquim Esteves Loureiro tivesse especiais funções no Paço a ponto de poder ter sido o representante do mesmo na tal escritura de venda da residência paroquial de Guisande, em 11 de Outubro de 1923. Mas é ainda um assunto pendente e a confirmar.

A residência paroquial, como atrás se disse, tem na fachada principal a inscrição da data de 1907, precisamente no ano em que o seu proprietário foi instituído como pároco de S. Mamede de Guisande. Não faltando dinheiro, mesmo nessa época seria possível construir e acabar uma habitação no prazo de um ano ou menos.
Para edificar de raiz um edifício com as dimensões e qualidade do mesmo, teria, naturalmente, que ser pessoa de posses e com expectativa de ficar em Guisande muitos anos, o que de resto não aconteceu, pois por cá paroquiou apenas dezasseis anos, de 1907 a 1923. Seja como for, quase duas décadas.

De resto, esta boa atitude e generosidade na hora da despedida de Guisande e seus paroquianos, mereceram por parte da então Junta Paroquial de Guisande um voto de louvor e agradecimento por “todos os benefícios prestados” e ao mesmo tempo um voto de “sentimento por ter pedido a exoneração do cargo de pároco desta freguesia onde todo o povo sempre o estimara e admirava”. Nessa reunião ficou ainda deliberado enviar uma cópia da respectiva acta ao já retirado pároco, como prova dos votos expressos.




Acima as três páginas da acta da reunião de 21 de Outubro de 1923, a partir da qual o Padre Abel Alves de Pinho deixa de secretariar as reuniões da Junta Paroquial de Guisande e simultaneamente é apresentado o novo secretário e novo pároco de S. Mamede de Guisande, o Padre Rodrigo José Milheiro.

Como já referimos acima, o Padre Abel Alves de Pinho era natural da freguesia de Fiães, do concelho de Vila da Feira. Não conseguimos apurar grandes dados biográficos deste sacerdote e figura importante na freguesia de Guisande nas duas primeiras décadas do séc- XX, para além da sua naturalidade e da sua substituição pelo Padre Rodrigo José Milheiro. Pela leitura da acta, como já se referiu, o seu abandono da paróquia terá sido por exoneração a pedido do próprio, certamente pela sua idade avançada.

Para a história da freguesia e paróquia de Guisande fica a memória da sua prestação como pároco, secretário da Junta Paroquial e como benemérito ao vender a sua propriedade com a obrigação de passar a ser a residência dos párocos de Guisande, o que aconteceu até ao falecimento do pároco Padre Francisco Gomes de Oliveira, em 8 de Maio de 1998, deixando, desde então, de ter funções de residência.
Conforme se diz na introdução deste artigo, há agora a intenção do actual pároco, Pe. Arnaldo Farinha, de fazer obras interiores, adequando o edifício a características de habitabilidade de acordo com os modernos padrões e ali ficar a residir.
Esta questão, a das eventuais obras, é assunto que naturalmente não importa ao presente artigo.









Acima, algumas fotografias da residência paroquial de Guisande nas condições actuais.




Acima as plantas dos pisos do Rés-do-Chão e do Andar conforme existente.

O edifício na sua actual configuração, em grande parte correspondente ao original, é de base rectangular, com orientação nascente/poente, com dimensões exteriores de 14,20 m (fachada principal) por 9,60 m. Tem, portanto, uma área de implantação de 136,30 m2. A este ractângulo de base, nos anos 70 por ordem do então pároco Pe. Francisco Gomes de Oliveira foi acrescentada uma casa de banho, edificada de forma contígua à face da fachada norte/nascente. Este elemento tem cobertura plana em laje. Tem acesso pelo exterior (com ligação ao pátio) e pelo interior. Por sua vez, o edifício base tem uma cobertura convencional de "quatro-águas", revestida a telha de barro.

Como era norma construir na época, a estrutura baseia-se em paredes exteriores resistentes, em bom granito, e paredes intermédias também resistentes. As paredes do Rés-do-Chão têm espessura de aproximadamente 0,65 m.

O piso térreo, relacionado ao adro adjacente a poente, é constituído por uma zona alpendrada central, com portão voltado ao adro e arco aberto, permitindo o acesso ao logradouro (horta e quintal) a nascente, e por dois compartimentos laterais, um a norte e outro a sul, aos quais se acede interiormente a partir da zona central, designada de alpendre. O compartimento a sul é também acedido por porta exterior praticada na fachada sul.

Por sua vez, no Andar, o sobrado, desenvolve-se toda a zona de habitação propriamente dita, sendo composta por cozinha, sala de jantar, sala, escritório (eventualmente quarto) e ainda três quartos de dormir. Todos estes espaços são articulados por um corredor central que por sua vez liga também à porta exterior de serviço voltada a nascente. Também para nascente se projecta um pátio que por sua vez liga duas escadas exteriores, uma que liga ao adro e outra à zona do logradouro.

No Andar, o piso é constituído por uma estrutura em madeira revestida a soalho e as paredes são em sistema de frasquilho com acabamento em reboco de gesso e pintura, o mesmo acontecendo com o tecto. 
As caixilharias interiores são em madeira e as exteriores, também originalmente em madeira, foram há anos substituídas por caixilharias em alumínio termolacado. Tanto as janelas como as portas no Andar são encimadas por elemento fico tipo "bandeira".

Num sentido geral, todo o edifício pelo exterior e cobertura está em estado muito razoável. Interiormente, nomeadamente no Andar, estando com aspecto saudável, padece, todavia, dos efeitos da sua longa vida, com sinais evidentes de apodrecimento e de caruncho, sobretudo na parte estrutural do soalho. Por sua vez, as paredes e tectos têm também os sinais da idade para além de serem já de concepção desadequada aos modernos padrões. Interiormente todos os espaços do piso térreo têm pouco nível de acabamento, com algum reboco pintado, mas no geral quase de grosso e expostos à humidade, sobretudo no compartimento a norte, apesar de possuir algumas aberturas de ventilação praticadas na respectiva fachada bem como de aberturas tipo "gateiras" na fachada principal..

Sem qualquer presunção de análise técnica quanto à solução a adoptar em caso de obras, porque não é este o objectivo do artigo, bem como as eventuais obras e sua profundidade podem sempre ficar condicionados aos limites de orçamento, uma boa solução passará obviamente pela remoção total do soalho e sua estrutura, paredes e tecto em estuque e construção de uma laje pré-esforçada, montada em três vãos, por sua vez apoiados ou incrustados nas paredes exteriores e interiores resistentes. Depois, eventualmente paredes em divisórias em gesso cartonado (pladur) e tectos igualmente em gesso cartonado. Com o pavimento livre poder-se-á aplicar um programa funcional e adequado à utilização pretendida, no caso habitação e alguma ligação à função administrativa da paróquia.

 Actualizações:

Nota 1: Na data em que actualizamos este artigo, o Pe. Arnaldo Farinha já cessou funções de pároco da freguesia de Guisande, tendo em seu lugar tomado posse em 03 de Outubro de 2021, o Pe. António Jorge Correia de Oliveira, que assume igualmente a paroquialidade das freguesias de Caldas de S. Jorge e Pigeiros.

10 de setembro de 2018

Não há 32 mas há 7




Passam sete anos, mas parece que foi ontem que o progresso aterrou na nossa pacata freguesia para esventrar parte dela, precisamente  onde, de algum modo, a natureza fluía sem grande intervenção do homem, penas umas leiras arroteadas, umas represas, uns caminhos, umas minas, uns moinhos e pouco mais. Mas as coisas são assim e a natureza e a floresta só são importantes e intocáveis para as pequenas coisas, como um muro à face de um caminho ou um barracão de guarda de animais e pastos que são atentados aos regulamentos e ferem, dizem, os planos de ordenamento, até porque uma enxada ou machado mal usados já fazem estragos na flora e alteram o perfil natural. Porém, para os grandes desígnios, a floresta e o solo agrícola e as suas minudências humanas tornam-se coisas descartáveis e teatro de grandes operações mecânicas que tudo revolvem, aplanam e pavimentam.
Assim, nasceu uma auto-estrada para nela, a toda a velocidade, porque apressada, passar os instrumentos da civilização.
Que traga, ao país e à região, bom proveito. Para alguns trouxe concerteza.

 Parece que foi ontem.

9 de agosto de 2018

Festa do Viso - Guia e apontamentos


Elaborei do zero um documento a que chamo de "Festa em Honra de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António - Enquadramento, caracterização e guia de orientação de alguns dos seus aspectos organizativos e tradicionais"

Como justifico no próprio "...este documento não tem pretensões especiais nem disciplinares nem como alguma espécie de jurisprudência, mas apenas um simples resumo com a visão pessoal de alguns princípios que têm sido tradição e por isso "quase" regra.
Resulta em muito da experiência na primeira pessoa (como festeiro em 2004, com a participação no programa de duas bandas filarmónicas, José Cid, Paulo Bragança e três bons ranchos folclóricos, um deles do Alto Minho) bem como do testemunho de muitos anos, alguns deles na condição de vizinho privilegiado da festa.
Obviamente que tão importante ou mais do que este documento, é a transmissão de conhecimentos que cada comissão cessante deve legar à comissão nomeada. 
Por outro lado, a estrutura da nossa Festa do Viso não é compartimentada, mas antes dinâmica e é o resultado de sucessivos melhoramentos e introduções. Cada Comissão de Festas do passado contribuiu para a identidade da festa, sempre com algum elemento ou momento diferenciadores. Assim, tudo o que possa contribuir para preservar e enriquecer a tradição e melhorar o que nem sempre corre bem, é importante e positivo. A busca da perfeição, ou quase, deverá sempre nortear o ser humano. No futuro procurar-se-á actualizar alguns aspectos agora omissos ou ligeiramente abordados.
Se estes apontamentos à laia de guia informal a alguém puder ser útil, tanto melhor. Se não, valerá pela intenção de o ser.

Em resumo, vale o que vale, eventualmente pouco ou nada, mas se a alguém interessar, pode fazer o download do PDF e dar-lhe o proveito que entender. [LINK] Entretanto, quando se justificar, para corrigir gralhas ou acrescentar outros apontamento, publicarei uma versão revista.

10 de abril de 2018

Estrada da Barrosa



Acima, um extracto da acta da reunião da Junta de Freguesia de Guisande de 10 de Março de 1946, por isso com mais de 70 anos. O executivo então liderado por António Leite de Oliveira Gomes, delibera que "...é necessário proceder-se, quanto antes, aos acabamentos da estrada da capelinha do Bonfim ao lugar do Reguengo". Nada mais havendo a tratar, encerrou-se a sessão. Com apenas esta conclusão ou decisão ou mesmo uma intenção, que não colheu mais pormenores quanto ao que faltaria concluir, deve ter sido de curta duração a reunião.
Seja como for, como nota importante e documental, desta breve acta concluiu-se que por essa data estaria em obras a estrada a que actualmente designamos de Rua do Reguengo. Antes dessa obra o acesso principal ao centro do lugar do Reguengo seria pelo caminho que ladeia a norte a Quinta do Loureiro, hoje praticamente sem uso. Com a abertura referida, o lugar ficou com acesso mais facilitado à zona da capelinha e por isso à então estrada vinda do Viso e que seguia em direcção a Fornos e a Casaldaça, sendo esta uma das principais artérias da freguesia, mesmo que em terra batida.

22 de novembro de 2017

Junta da União de Freguesias - Executivo 2017/2021

 


Das eleições de 1 de Outubro de 2017, a lista do Partido Social Democrata encabeçada por José Henriques dos Santos, que assim se recandidatava ao cargo de presidente da Junta, venceu com maioria, elegendo 7 elementos contra os 6 do Partido Socialista. Tal vitória resultou essencialmente do retumbante resultado em Gião mercê da participação na lista do carismático e dinâmico empresário local  Manuel de Oliveira Leite e ainda pela perda de lugar do CDS, que deixou assim de servir de fiel de balança no que em muito contribuiu para a vitória dos "laranjas"..

Por sua vez, em Lobão, a vitória do PSD foi tangencial sobre o PS, com David Neves a sair reforçado na votação face às anteriores eleições mas sem conseguir lograr a vitória. Em Louredo, em perda mas sem surpresa, também venceu o Partido Social Democrata. Já em Guisande, ao contrário das eleições em 2014 com a vitória por maioria do PSD, desta feita venceu o PS onde Celestino Sacramento integrava a lista.

24 de outubro de 2017

24 de Outubro de 1954–Inundação na ribeira da Mota

foto_antiga_queda_ponte_lavandeira[4]

Hoje, dia 24 de Outubro de 2017 tivemos um dia quase de Verão, com céu azul e temperatura bem alta. Mas se recuarmos no tempo, mais precisamente 63 anos, por isso a 24 de Outubro de 1954, abateu-se sobre a nossa freguesia de Guisande e freguesias vizinhas, sobretudo do lado sul e poente, como Pigeiros, Caldas de S. Jorge, Fiães e Lobão, uma chuva forte e persistente, designada de tromba-de-água, que em poucas horas, naquele Domingo de manhã, galgou as margens da ribeira da Mota, arrastando dos campos, com a sua impetuosidade, toda a vegetação e medas de palha ou de canas de milho. 

Em resultado, com a pressão da água e dos detritos dos campos e margens arrastados, a ponte da Lavandeira, entre os lugares do Reguengo e Viso, acabou por ceder, desmoronando-se, sendo, pouco depois, edificada a ainda actual ponte. Provisoriamente, como se vê na foto acima, foi realizado um estrado em vigas e tábuas de madeira para assegurar a passagem de carros e pessoas. 

Ainda hoje, as pessoas mais idosas recordam-se desse Domingo chuvoso e daquela que foi certamente a maior cheia da ribeira da Mota de que há memória, o que de resto também sucedeu no rio Uíma

. Mesmo a cheia de 2001 terá sido apenas uma humilde amostra quando comparada com a de há 63 anos.

Neste foto acima vê-se o paredão norte totalmente demolido. Curiosamente percebe-se que o caudal da ribeira era quase diminuto, pelo que se deduz que estivesse a ser desviado pelos regos das levadas a montante, de modo a permitir a intervenção provisória na ponte. Também pode sugerir que essa cheia teve de facto características muito concentradas pelo que logo que passou a tromba-de-água, o caudal voltou ao seu normal.