Tudo no seu lugar. Como diria Mário Quintana, "Os anjos não dão os ombros, não; quando querem mostrar indiferença os anjos dão as asas.”
29 de janeiro de 2019
Crónicas do cavalheiro de calças clássicas - O Anjos
Tudo no seu lugar. Como diria Mário Quintana, "Os anjos não dão os ombros, não; quando querem mostrar indiferença os anjos dão as asas.”
22 de setembro de 2018
Perfume do céu
Não era propriamente novo, pois já andava nos setentas, mas, como o diz o ditado que "o olho do dono é que engorda o gado", compreende-se, salvo as devidas diferenças, que o olho azul da Celeste passados quase cinquenta anos ainda visse no seu Simão o rapazola viçoso e alegre que numa dança no terreiro da festa ao Santo Ovídeo, a conquistou para sempre. Talvez por dançar, quiçá por cantar, porventura por dançar e cantar tão bem, a ponto de, por carinho, o ter baptizado de o seu "Pisco".
Acredito que o Pisco estará por esta altura a extasiar-se com o seu perfume e mesmo que tão forte e intenso não morrerá de asfixia ou intoxicado, pela simples razão de que morto já está.
23 de agosto de 2018
Mata borrão
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
Continuou distraído, o Venâncio, a ler uma qualquer notícia sobre o tema das eleições no Sporting onde um labrego chamado Bruno Carvalho, como lapa, parece teimar em não se despegar do poder num clube histórico, mas poderia muito bem ter lido que as mães adolescentes em Portugal são mais de duas mil por ano, seis por dia, e só não são mais porque a pastilha faz "milagres" e os abortos são mais que muitos. Afinal de contas, ali, bem ao lado do Venâncio, a estatística poderia estar a consolidar-se.
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
31 de julho de 2018
Sporting sempre!
Já de saída, ainda vi o Canadas a esgueirar-se ligeiro para o carrão e contornar apressado a praça, certamente a jurar para si próprio que para matar estas saudades de petiscada numa adega castiça de paredes de um granito duro, mais vale só que mal acompanhado. - E anda um homem a vir por aí abaixo apressado, a comer quilómetros e a contar horas para vir comer uma rabanada sozinho no meio de uma multidão a torcer o nariz! Foda-se!
27 de dezembro de 2017
Ficção - Quando ser bom cansa
Se havia na aldeia de Cagadães pessoa generosa, altruísta, confidente, amigo do amigo, não era o pároco Pe. Elias, ainda que com nome do santo profeta a seu favor, ou nem sequer o presunçoso presidente da Junta, o Jacinto das Dornas, mesmo que dono de casa farta, o melhor cliente do alfaiate Carlinhos das Tesouras e condutor do melhor carrão da terra. Não! Não era nenhuma destas figuras, mesmo que na presunção de que os respectivos cargos devessem ser modelos de bons exemplos ou de melhores acções, de humildade e dedicação à causa alheia dos fregueses. Mas o povo, de longa data já desconfiado e experimentado, é das pessoas com tais responsabilidades públicas e comunitárias que menos espera em matéria de bondade e bem-fazer a favor dos outros, dos próximos ou dos afastados. Ficavam assim de fora, excluídas, estas duas “importantes” figuras da terrinha.
2 de junho de 2014
Podia ser verdade… D. Sancho II
Agora que o Condado Guisandensis até já tem um rei, seria interessante que a governação pudesse ser entregue a esse D. Sancho II de caracóis e barba rebelde. É verdade que a História o considera como "um rei ausente" e que acabou "escorraçado" das terras portucalenses, indo acabar os seus dias sem glória a Toledo - Castela, mas certamente que poderia fazer grandes cousas a favor deste nosso condado.
No estado em que estão as coisas, algumas poderiam ser resolvidas à espada, nem que esta fosse política e correctamente substituída por um pau de marmeleiro. Por exemplo, poderia começar por quem no Monte do Viso andou a queimar lixos de limpezas e ali deixou o monte de cinzas e restos da fogueira junto à escada/bancada. De seguida poderia aplicar a justiça real a quem deixou espalhadas no chão do terreiro do mesmo Monte do Viso umas cintas plásticas que terão sido utilizadas para prender uma rede de ensombramento num recente encontro de idosos. Limpeza e asseio não é para todos porque alguém se esqueceu que depois da festa e do desmontar da barraca há que limpar o que se sujou.
Será certamente curto o reinado deste rei D. Sancho II, que até poderia ser o rei Artur de Camelot e da Távola Redonda, mas para além de reinar sobre o real evento da Viagem Medieval ao Reino das Fêveras e do Porco-no-Espeto, lá para os calores de Agosto, poderia no entretanto ser usado em nosso benefício, pelo menos nesta fase em que a governação da União de Juntas de Freguesia está numa espécie de reino de faz-de-conta.
Podia ser verdade...mas o mais importante por agora, é dar os parabéns ao Artur por ser figura de cartaz. Tem figura e estilo. Parabéns!
26 de maio de 2014
Podia ser verdade…. Passadiço na ribeira da Mota
Pode já ninguém lembrar-se, mas as obras do que seria o Parque de Lazer da Ribeira da Mota, próximo da ponte da Lavandeira, foi uma das bandeiras do programa eleitoral da lista do Partido Socialista nas eleições autárquicas de 2009 para a freguesia de Guisande. Claro que foi uma das muitas promessas por cumprir. Nada se fez como, pelo contrário, o espaço original, com alguma vegetação e árvores, foi destruído com o depósito de terras e britas que ali funcionou durante as obras de construção da A32, sendo que ninguém sabe quanto rendeu tal aluguer. Uma triste tristeza mas nada que espante tal a miséria de governação a que estivemos sujeitos.
Entretanto, e podia ser verdade, sabe-se que uma das primeiras obras a realizar no território de Guisande pela futura Junta da União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, será a construção de um passadiço e circuito na margem da ribeira da Mota, desde o lugar da Igreja até ao lugar do Reguengo, sendo que a obra será para continuar para norte passando pela ponte do Cascão entre Louredo e Gião e continuando pelo menos até ao lugar da Mota já em território de Canedo.
Esta obra, a exemplo do que já acontece nas Caldas de S. Jorge, Lobão e Fiães, junto ao rio Uíma, permitirá a prática saudável de passeios e caminhadas junto ao rio num ambiente de natureza, podendo-se ouvir o coaxar das rãs e sinfonias de melros e outras passaradas canoras. Podia ser verdade…
Abaixo algumas imagens de como poderá ficar (clicar para ampliar):
16 de janeiro de 2014
Os Loureiros
Na aldeia de Sandiães não havia família mais numerosa que a dos Loureiros, que só à sua conta formava quase o lugar inteiro de Casal do Viso.
O rasto da origem da família recuava a Bonifácio Loureiro, bisavô daquela gente toda. Ainda criançola e de pés descalços viera ter a Sandiães, a casa de um parente afastado, mandado e recomendado pelos pais, pobres caseiros dos lados de Cabreiros, com pedido de lhe dar carga de trabalho e rédea curta. Em troca receberia apenas a escola primária e pouco mais que uma côdea molhada de caldo de couves e feijões.
Quase de origem misteriosa, que as poucas falas adensavam, cresceu e fez-se homem o Bonifácio Loureiro, que à custa de tanto trabalho e de um casamento feliz e espertalhão com a Alzirinha, filha única do João dos Travassos, timbrado debaixo de uma meda de palha à sombra do estio de um Agosto, em poucos anos conseguiu aumentar o rol de leiras, várzeas e tapadas e morreu de velhinho com fama de lavrador abastado com bens ao sol e ao luar e várias cabeças de gado a pastar pelos viçosos lameiros.
Deixou uma corja de filhos e filhas que entre si dividiram propriedades e nelas, dispostas ao longo do velho caminho, edificaram um casario juntinho como ramos apegados ao mesmo tronco. É esta, pois, a breve história da origem dos Loureiros em Sandiães.
Unida nessa fraternidade serrana, nunca ninguém subtraiu a fama de trabalhadores a essa famelga. Lavradores, pedreiros e trolhas, os Loureiros eram exemplos de como se faz vida cavando e construindo de sol a sol.
Apesar dessa imagem de mouros e gente de trabalho, os Loureiros não gozavam de grande fama na freguesia porque poucas vezes iam ao redil do padre Arnaldo e deste pouca farinha faziam da cantilena de que nem só de pão vive o homem. Desde o mais velho, o Joaquim até à mais nova, a Celina, os Loureiros gostavam pouco de missa e muito menos de sermões. Por desfastio, e porque até por entre tojo e carqueja brotam as mais delicadas flores, eram, todos eles, devotos zelosos de S. Tiago, que se abrigava na capela do lugar e onde, lá pelos calores de Julho, se celebrava uma rija romaria.
Por essa altura, era ver os Loureiros, zelosos e vaidosos, ou na sua opa escarlate a empunhar a vara do juiz da festa ou a segurarem as pernas da aranha do pálio que regava de sombra a careca macia do padre Arnaldo, ou então na sacristia a recolherem as esmolas e promessas. Mesmo na véspera, a Celina, a Rosa e Cassilda bordejavam o arraial e capela de enfeites e grinaldas de papel de crepe.
Porém, dançada a última cantiga e estourado o último foguete, a famelga voltava à aridez do trabalho e da canseira nos campos, e para com as demais festas, fossem elas quais fossem, mesmo que pelo Natal ou Reis, a carranca de Lazarim era a cara com que recebiam peditórios e rusgas de Janeiras. Para estas, mal se ouvia o tinir do ferrinho e o chocalhar da pandeireta lá no alto da curva do caminho velho, trancas à porta e luzes amortiçadas. – Que passassem e andassem! - Dali, esmolas só para o S. Tiago!
Américo Almeida