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18 de outubro de 2022

As memórias da casa chanfrada - Toninho do Viso




Há casas assim, que mesmo de portas e janelas fechadas estão permanentemente, dia e noite, escancaradas às nossas memórias. Entramos nelas com pézinhos de lã, como fantasmas, damos umas voltinhas e voltamos a sair sem ter feito ranger o velho soalho ou fazer chiar os gonzos das portas.

Esta casa, a da fotografia, todos a conhecem. Fica ao fundo do monte do Viso. Chamo-lhe eu a casa chanfrada, não porque lá viva ou tenha vivido gente com umas quartas-feiras a menos; bem pelo contrário, sempre lá viveu gente ajuizada, de nome, honrada e de trabalho. 

Casa chanfrada porque tão somente tem uma das suas esquinas recortada com um chanfro, como se o mestre pedreiro ali fosse ao canto e..zás, lhe cortasse uma talhada e, por conseguinte, dessa esquina resultou uma face adicional na qual, em cima e em baixo rasgaram portas, sendo que a de cima, a do Andar, dá para uma elegante varanda, a que o nosso povo designa de sacada. Já agora, a encimar as duas portas do Andar, duas belas padieiras com florões bem talhados na pedra.


Manuel Alves da Silva

Do que me lembra, pertenceu a casa a Manuel Alves da Silva, depois a seu filho António Alves da Silva e já depois da partida da sua esposa, Maria da Conceição Ferreira Fontes, em Abril de 2020, com 94 anos, pertence ainda à herança, mas dela usufrui sobretudo a filha Micas, e é sabido que se há alguém com um passado e ainda presente de trabalho laborioso nas coisas da terra é a esposa do Manuel Tavares. De resto, pela fotografia acima, veem-se ainda ali espigas a dourar num final de Outono, mas poderia ser um montão de espigas de dentadura a sorrir, vindas das ribeiras, prontas a desfolhar ou um carrego de bandeiras de milho ou feijão a secar. Aquele fundo do monte foi sempre assim, desde que me conheço, uma eira do povo, mas sobretudo da Micas. 

António Alves da Silva, nasceu em 29 de Março de 1928. Era filho de Manuel Alves da Silva (foto acima) e de Carolina Pereira de Jesus. Era neto paterno de António Alves da Silva e de Margarida Rosa de Jesus (esta de Duas Igrejas). Era neto materno de António Rodrigues Caldeira e de Joaquina de Jesus. casou em 15 de Abril de 1950 com Maria da Conceição Ferreira de Fontes.

O pai do Antoninho, na imagem acima, nasceu em 14 de Março de 1898. Era filho de António Alves da Silva, da Barrosa, e de Margarida Rosa de Jesus, esta natural de Duas Igrejas. Era neto paterno de Manuel Alves da Silva e de Maria Soares. Era neto materno de António Ferreira de Passos e de Rosa Maria de Jesus (de Duas Igrejas).

Por parte do seu avô paterno era bisneto de José Francisco da Silva e de Rosa Maria de Jesus e por parte da esposa do seu avô paterno era bisneto de Manuel Ferreira de Passos e de Rosa Maria de Jesus.

De resto eram assim, noutros tempos, os largos dos lugares. No monte do Viso, atrás da capela, era uma eira comunitária do tamanho do mundo onde secavam palha, espigas e milho já malhado a assolhar dourado estendido em lençóis. 

Pois bem, só por si, esta estreita fachada orientada para sudeste, tem muita história, porque, pessoalmente, me remete para as tardes de Domingo, em que o antigo proprietário, o saudoso senhor Antoninho (António Alves da Silva), abria aquelas portas de par em par  e enchia o lugar com o som da sua aparelhagem em que punha a rodar um velho disco de uma qualquer sinfonia de Beethoven, Mozart ou Wagner. 

Era uma das suas paixões, a música clássica e os respectivos discos. Outra, era conhecido o seu gosto por café, que o levava várias vezes ao dia à Corga de Lobão, onde normalmente o tomava. Talvez se apaixonasse por esta mulata bebida quando com seus pais esteve no Brasil, daí, para alguns, ter ficado com o apelido de "Toninho da Brasileira".

Não sabia do actual destino dessa boa colecção de discos de vinil, mas informou-me a neta que ali continua intacta à guarda da família. Quanto a tocar, porventura não, ou esporadicamente, mas as orquestras ainda soam sinfonicamente na memória como que orientadas pela batuta do maestro do tempo.

Escusado será dizer que entrei várias vezes nessa saleta onde o senhor Antoninho se deliciava a ouvir a sua música intemporal. Nesse aspecto partilhava com ele o gosto e paixão pela música clássica. 

- Ó Almeida, sobe cá acima. Anda aqui ouvir uma coisa! - Desafiava-me por vezes quando ali passava depois do almoço de Domingo. E sabia, naturalmente discutir essa música, os nomes dos grandes compositores e sua obras.

A reboque desse gosto comum pela música, chegou-me a emprestar, com recomendações de mil cuidados, porque o não concedia a mais ninguém, alguns discos para eu passar na saudosa Rádio Clube de Guisande. Recordo-me particularmente do disco com o oratório Messiah de Georg Friedrich Händel, com o tão popular Hallelujah, que passei por alturas da Páscoa.

Mas para além desta particularidade relacionada à música clássica, a casa chanfrada traz-me muitas mais memórias. Desde logo, o referido senhor Antoninho durante anos teve ali uma barbearia. Não era propriamente um desenrascado Fígaro, como o da ópera de Rossini (O Barbeiro de Sevilha), que  naturalmente deveria ter na sua colecção de discos, mas era o quanto bastasse a ser o barbeiro do Viso. 

Mas se é verdade que o senhor Antoninho tinha sensibilidade para a música clássica, não posso dizer tanto da sua arte de barbeiro. Por várias vezes saía de lá, eu e as demais crianças do lugar, com golpes de tesouradas no pescoço e nas orelhas e até mesmo na véspera da minha comunhão solene deu-me uma golpada inadvertida no belo remoinho que por esse tempo tinha no cabelo junto à testa. As fotografias que guardo dessa solenidade, são testemunhas dessa sinfonia de tesouradas. Mas, verdade se diga, em defesa do mestre barbeiro, as crianças eram irrequietas e ali presas naquela toalha que parecia uma camisa de forças, o melão não lhes  parava quieto pelo que se punham a jeito para uns deslizes do Ti Antoninho.

Se encontrava um piolho, bicho que por esses tempos era um caseiro habitual nas cabeçolas da rapaziada, o Senhor Antoninho aniquilava-o logo ali, esmagando-o com a  unha do polegar contra a própria cabeça do dono. Morria o piolho e ali já ficava sepultado na cova aberta, tal era a pressão feita no couro cabeludo.

Por outro lado, para rapar  a parte detrás dos pescoços e junto às orelhas, usava aquelas velhas máquinas manuais de corte de cabelo, que mais pareciam um corta relva, que pressionava com força. Sentir aquele tcheq-tchec-tcheq, pela cabeça acima era uma aflição danada. Depois, para terminar o trabalho, umas valentes chapadas encharcadas de Pitralon para queimar e desinfectar os cortes e arranhões. 

Feito o trabalho, revirados o assento e o encosto da cabeça para o cliente seguinte, que tanto poderia ser o meu tio Neca, como o Ti David ou o António Santiago, e retirado o lençol com que nos amortalhava, assim, aliviado e sem saudade daquele castigo capilar, deixava eu a barbearia para trás. Lampeiro, como a fugir, não fosse ser chamado para algum retoque, subia o monte com o pescoço vermelho como o de um peru e a cabeça e rosto a arderem num formigueiro desgraçado. Dali a pouco meses repetir-se-ia o calvário, porque, regra geral, pelo menos três vezes ao ano. Pela Festa do Viso, Natal e Páscoa.

Mas era assim, e as barbearias, como a do Viso do Ti Antoninho, por esse tempo não tinham contemplações com esquisitices de limpeza. A barba era aparada à navalhada e só de ver o barbeiro a afiar aquela espada numa tira de couro oleada já dava tremuras. Pela prateleira frontal, onde estavam dispostos pentes, tesouras e navalhas, ali eram penduradas tiras de papel de jornal onde a cada passagem da navalha pelas fuças, o barbeiro nelas depositava, um a seguir ao outro, montes de espuma com barba. 

O chão, esse parecia um posto de tosquia de ovelhas, como um relvado de cabelos de todos os tons, lisos, encaracolados, de crianças, jovens e velhos. Era varrido à vassourada apenas quando acabava o dia. 

Finalmente, ainda outra memória: Por muitas vezes, quando eu criança descia o monte mandado pela minha mãe à loja (mercearia) a Casaldaça, o Sr. Silva (Manuel Alves da Silva), pai do referido senhor Antoninho, debruçado na janela central de cima, atirava-me uma moeda de 1 escudo e pedia: - Ó Merquito, traz-me uma maço de cigarros Sporting! Compra rebuçados com o troco!

Nessa altura havia cigarros com nomes dos principais clubes. Não sei qual seria o clube do Sr. Silva, mas é de supor, pela marca dos cigarros, que o Sporting. A verdade é que se não fora os belos cromos com as vistosas camisolas  encarnadas a vestir jogadores como o Eusébio, o Coluna, o Simões, o José Augusto e o Águas, entre outros, e eu não seria benfiquista mas sim sportinguista à custa de comprar tantos maços de tabaco às riscas verdes-brancas para o Sr. Silva do Viso e dos rebuçados que o pouco troco me permitia lamber.

Mas, fechando a cancela a estas memórias, toda essa saudosa gente boa, o Sr. Silva, a sua mulher, a Dona Carolina, o seu filho António, tratado por Antoninho ou Toninho, ou mesmo a mulher deste, a Ti São, já todos partiram e hoje já só subsistem em algumas das nossas memórias. Nas dos familiares, certamente,  mas nas minhas, seguramente.

Por tudo isto, a casa chanfrada continua ali a avivar-me esses tempos, episódios e figuras passadas. 

Mas volvidas décadas, desaparecidas umas pessoas e envelhecidas outras, mantém-se sempre gracioso aquele cisne, na sua pose cimentada, ali ao fundo da balaustrada da escada da casa, a fazer-nos lembrar a música do bailado do Lago dos Cisnes, de Tchaikovski, que certamente na sala de cima tantas vezes o Sr. Antoninho pôs a tocar no velho gira-discos.

Se há alguém que terá ouvido todas aquelas sinfonias, óperas e concertos, o cisne será certamente um deles. 

É perguntar-lhe!

Finalmente, mesmo que já não fazendo parte das minhas memórias, importa dizer que nesta casa chegou a funcionar pelos anos 1940 uma escola destinada a raparigas. Isto antes da construção da escola primária do Viso. Mesmo com a escola do Viso em funcionamento, na parte da tarde sobretudo os alunos da 4.ª classe ali tinham aulas para reforçar ou complementar os estudos, como preparação para o exame da 4.ª classe que por essa altura era coisa séria.


29 de setembro de 2022

Irmã Alzira Santos

A irmã religiosa Alzira Santos, deu a cara no página online da Agência Ecclesia, onde fala na primeira pessoa sobre a sua experiência enquanto responsável pelo refeitório social em Lisboa da  Congregação Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, onde se integra. 

Lamenta a falta de dignidade das pessoas pobres, na sociedade contemporânea. Entre outras considerações que ali podem ser lidas, diz que, “Já assisti a funerais de pessoas e pensei que há animais que têm mais dignidade. Acompanha-se um funeral e, já nem digo uma Missa, mas não se vê sentimentos da família. Fico a pensar como é que é possível, em 2022, onde se diz que o mundo está tão desenvolvido, encontrarmos situações muito difíceis”.

Alzira Santos é uma figura que nos prestigia. O artigo merece leitura atenta porque reflecte a visão de quem na primeira pessoa lida com o lado da pobreza e da doença.

27 de setembro de 2022

O Tono Mota chegou aos 60





O Tono Mota (António dos Santos Mota) chega, neste dia 27 de Setembro, aos 60 aninhos. Nascido a 27 de Setembro de 1962, é assim, em cerca de um mês, um pouco mais velho que eu. 

Não sei quantas crianças nasceram em Guisande neste ou no ano anterior. Seriam 4, 5,  meia-dúzia? Mais ou menos? Admito que o ignoro, mas sei que no ano de 1962, por isso há 60 anos, nasceram em Guisande 33 crianças. Foi frutífero, parece-me. Deu homens e mulheres com vidas de trabalho, seriedade e dignidade. São hoje homens e mulheres de família, com filhos e netos, quiçá bisnetos. 

Uns ainda por cá, outros por terras de fora e ainda umas poucas que a morte já ceifou, de que destaco, pela idade jovem com que partiu, bem como por ser também meu colega de infância e juventude, o Carlos, filho do Zeferino Gomes, também já falecido, e da D. Fernanda. Que Deus o tenha na sua companhia!

Dessa trintena de gente nascida em 62, julgo saber o nome de vários: O António Mota, de quem agora recordo a propósito do seu aniversário, a Paula Lopes, o Mário Joaquim, a Maria Albertina, a Maria da Conceição (do Alcides de Jesus), o Joaquim (da Guilhermina), a Maria Fernanda, o Carlos (do Teixeira), o José Carlos (da Pereirada), a Maria da Anunciação, a Laura (falecida), a Maria Albertina (da Eva), o Leonel (do Menina), a Maria de Fátima (da Natália), o Carlos Alberto (meu primo), o Carlos Alberto (do Zeferino) (falecido), que atrás referi, o Eduardo (da Palmira), o António Fernando (do Cartel), a Maria Jacinta, da Leira, e outros mais. Portanto, mesmo não sabendo o dia e mês de aniversário da maior parte deles, alguns já fizeram e outros a fazer os tais 60 anos, de algum modo, para além de um número redondo, cheio de significado. 

Seja como for, o Tono do Mota, ou o Mota, como o chamo, tenho-o como um dos melhores amigos dos bons velhos tempos, desde a escola primária, Ciclo Preparatório, em Lobão, pelos tempos de juventude, confidências e conquistas de namoricos e depois os tempos da tropa, ele no Exército, na especialidade de Comandos, orgulhosamente com a sua boina vermelha, e eu na Marinha, com o meu panamá branco.

É certo que depois de ambos casados (e fui ao seu casamento, num dia frio de Inverno, na freguesia de Louredo), as nossas vidas naturalmente tornaram-se outras, já não com a liberdade desenfreada de solteiros e tempos de copos e farras, mas fazendo então pela vida,  construindo casa e criando filhos. Apesar disso, até pela proximidade dos nossos ninhos, fomos sempre "tropeçando" um no outro, ora no café,  no trabalho, ao final de uma missa, ou mesmo numa qualquer festa, pondo então a conversa e o rumo da vida mais ou menos em dia.

O Mota foi sempre um tipo certinho, menos dado a brincadeiras e tropelias como, por comparação, com as do Beto Jorge, outro amigo comum dos bons velhos tempos. Mas se não tão expansivo e brincalhão como o filho do Albertino, seguramente mais assertivo, sempre leal nas pequenas e grandes coisas, no tempo em que partilhamos muito das nossas saídas em solteiros. De resto muitas vezes ia-mos à boleia um do outro, nas nossas motorizadas, na minha Fórmula 1 EFS-Sachs e na dele, uma V5 Sachs. 

Temos, por isso, mesmo que já enevoadas pela neblina do tempo, muitas aventuras e histórias em comum, correndo e galgando tudo quanto era sítio, festas e desfolhadas, na cata de raparigas namoradeiras. E quando algum de nós se prendia, mesmo que por dois ou três domingos, era simultaneamente um nó na garganta, porque depois do almoço, de um café e um "pneu" (águas castelo com uma rodela de limão) no café do Américo, acabada na RTP a corrida de Fórmula 1, quase sempre ganha pelo Nelson Piquet, Alan Prost ou Nikki Lauda, lá ía-mos os dois, já não juntos a partilhar a motorizada, mas separados, cada um por si. 

É claro que nisto de procurar a rapariga certa para a vida era uma espécie de jogo de aprendizagem por tentantiva e erro, e assim depois de dois, três ou quatro domingos a dar conversa, lá ficávamos novamente solteiros e de novo juntos nas saídas. Mas algum dia tinha que ser e o Mota, bem dentro do seu estilo de certinho, pouco depois de terminar a tropa, procurou assentar e arranjou uma valente mulher para a vida, ali bem perto de casa, na vizinha freguesia de Louredo. Lá me deixou, o Mota,  sozinho nas saídas domingueiras, mas nesta coisa de colegas de solteiro é como a partida das andorinhas depois do Verão e sentidos os primeiros frescos de Outono, uma a uma vão partindo todas.

Assim, poucos anos depois também lá deixei a solteirice e, seguindo o exemplo do Mota, fiquei igualmente por perto, até mesmo na mesma terra. Coisas.

Como disse, o Mota casou bem,  fez casa, criou e educou bons filhos e tem estado por ali bem perto da igreja de Louredo, quase a meio caminho da sua casa natal, no lugar do  Reguengo, que parte dela herdou dos pais, o Sr. Celestino e a Sr.a Isabel. 

Teve sociedade na área da construção civil com o seu irmão Manel que já depois deste abraçar a reforma, tem estado a trabalhar por sua conta e risco, sempre com muito trabalho e competência, mas sem canseiras exageradas, destas que por vezes e como certas corridas, nos levam à tentação de dar passos maiores que as pernas, tropeçando. Para quê empreender  muralhas se podemos fazer muros? O Mota foi e é assim, de passos curtos mas certos.

Apesar da sua discrição, tem integrado a vida da comunidade de Louredo, fazendo parte, desde há anos, do seu excelente grupo coral. Quem diria? Um pedreiro a arrancar salmos, hossanas e aleluias? É assim mesmo! Afinal, comigo e com outros, como o Rui Giro, o Orlando, o Maximino Gonçalves, etc, fez parte do grupo de alunos da primeira escola de música de Guisande, ali pelo início dos anos 1980, no Salão Paroquial. De resto, como nas parábolas cristãs, todos temos alguns talentos e, por poucos que sejam, importa que os façamos render e apresentar boas contas a quem no-los confiou. 

Não quero nem importa dar rasgados e exagerados elogios ao Mota, nomeadamente enfeitar o ramalhete com flores que ele não tem no seu jardim, mas tão somente  enaltecer a sua simplicidade, o bom carácter, a amizade e a lealdade, e dizer-lhe, publicamente, que tenho-o como amigo e um dos melhores dos meus bons velhos tempos. 

Não sei se me tem em igual conta, mas quero acreditar que sim, e por isso, porque quase a par nesta coisa do caminhar pelos degraus da escada da vida, em que nunca sabemos quando terminará, vamos continuando a subir, ou, como me parece ao chegar aos 60, a descer, mas que seja, até quando Deus quiser. Importa é descer de passo firme, sem nunca escorregar.

Bom aniversário, Mota, e que venham muitos mais e bons e que eu os conte!

16 de setembro de 2022

Gente nossa - O José Almeida está de parabéns!



Porra! Anda um homem a escrever coisas bonitas e sentidas para os de fora e não as há-de escrever sobre alguém da família? 

Mas olhem que não é fácil, porque nestas coisas de enaltecimentos, os famíliares são sempre os mais poupados, não porque esquecidos ou menosprezados, mas um pouco como o pai do filho pródigo no tratamento para com o seu primogénito: - Filho, tu estás sempre comigo, e as minhas coisas são as tuas!

Mas a verdade é que esta parábola é mesmo difícil de mastigar, ao alcance  de poucos na sua aplicação, mas por isso, por quase impossível ao entendimento pelos olhos da nossa frágil humanidade, é que Cristo a contou como exemplo. Mas, retomando, nestas coisas de falar dos outros, estes são os filhos pródigos e os da casa, os filhos mais velhos. Creio estar desculpado ou pelo menos justificado.

Mas, hoje, a propósito do seu aniversário, e nem importa saber quantos, quero dar uma palavrita ao José Almeida, meu primo por parte dos nossos pais, o meu, o António, o dele, o Joaquim.

O José Almeida, o Zé ou o Zé da Glória, está naturalmente mais mole porque com o peso dos anos, os ensinamentos da vida e as artimanhas dos ossos. Mas mesmo que ainda com uns arrebates dos velhos tempos, já não é o que era de impetuoso, e por isso para melhor. Tinha um temperamento de mar do norte, ora calmo e sereno, ora a levantar ondas e tempestades. A bem dizer, fervia em pouca água, mas com a particularidade de apenas quando sentia que estava a ser desrespeitado ou desconsiderado.

Perdoar-me-á, mas só para atestar esta fácil fervura, partilho um episódio testemunhado na primeira pessoa: Houve uma altura em que o acompanhava à lota a Matosinhos onde comprávamos peixe congelado. Ao chegar, no parque de estacionamento estava ali um lugar disponível, mas ele precisava de dar a volta com a sua carrinha e então pediu-me que ficasse a guardar o lugar enquanto manobrava. Assim fiz, mas entretanto chega de rompante um chico-esperto, que mesmo contra a minha indicação de que o meu primo já ali vinha estacionar, ignorou e estacionou. Pois, bem! Ali chegado e posto ao corrente, o meu primo enfrentou o tipo com impropérios, sacou de uma espécie de bacamarte de partir queixadas, que tinha algures na carrinha, e o condutor espertalhão, perante aquela tempestade vulcânica não teve outro remédio senão, com o rabo entre as pernas, esgueirar-se a ir procurar abrigo. É que se não fosse isso, e a propósito do local, ele iria apanhar umas valentes solhas, congeladas, porque mais duras. Mas felizmente, a coisa resolveu-se, senão iria ser ali uma peixeirada. E num instante o Zé já estava outra vez envolto em bonança, calmo, sereno, a encher a carrinha de peixinho do mar do norte.

Mas apesar desta sua característica, o Zé é uma pessoa com uma enorme bondade e disponível para ajudar. É certo que esse seu temperamento por vezes dificulta as coisas, para ele e para quem com ele convive, mas, porra, quando um homem se sente com razão, não há força que o cale! Fosse a jogar uma sueca, a ver ou ouvir um jogo do seu Porto, convinha não agitar as águas com o Zé.

O José tem uma vida pacata e certinha, que vive ao lado da sua Adelaide de sempre, boa e fiel companheira, mesmo a aturá-lo na fervura. Bom marido, bom pai, e bom avô. Criou filhos e já com netos, e creio que bisnetos. Casou cedo, porque apesar de viver numa família onde nada faltava, tinha uma educação austera e por esses tempos as mãos maternas, porque calejadas, eram pesadas. Assim casou novo e e a lua-de-mel não tinha aquecido e já marchava para o serviço militar em África. Depois emigrou para França, regressou, trabalhou na Câmara Municipal da Feira e, finalmente, na merecida reforma, já há uns anos.

Mesmo com esse seu tal feitio que não é defeito, foi sempre participante da vida comunitária, exercendo, e bem, a sua quota parte de cidadania. Integrou corpos directivos do Guisande F.C., fez parte da política, do associativismo, até do Grupo Coral, e desde há alguns anos que é ministro da Comunhão cá na paróquia. Não se pode exigir mais. Há quem, literalmente, nunca tenha mexido uma palheira pela terra e pela comunidade.

Por tudo isso, e bastaria o ser gente, tanto mais boa gente porque familiar, faço votos de um feliz aniversário e que por cá ande muitos mais, mesmo que de vez em quando chateado com os ossos. É a vida!

Parabéns, primote, e desculpa qualquer coisinha por te expor assim publicamente!


14 de agosto de 2022

António - Um homem com o perfil certo

 


Dizem-me que o António está hoje de parabéns! O António Azevedo da Conceição é dos nossos! É gente nossa! Uns chamam-lhe o Tono do David, outros o Tono Ministro, e alguns, ainda, o Tono sacristão. De facto é tudo isso mas é mais do que isso. É gente nossa, porque dos bons, daqueles que têm dedicado uma parte significativa das suas vidas, à paróquia ou freguesia, tantas vezes em detrimento da sua própria. 

Desde há muitos anos, mesmo décadas que o António faz parte da mobília da casa nas suas diferentes tarefas, mas sempre procurando dignificar a sua e nossa terra e paróquia, num compromisso quase sacerdotal, passando por diferentes párocos e diferentes tempos. E com muito resiliência pois certamente, que pelas constantes mudanças, terão sido muitos os desafios, as alterações e adaptações, e certamente que nem sempre de feição à sua forma de ver, viver e sentir a paróquia. Qualquer outro já há muito que teria dado à sola e dedicar-se apenas a si e aos seus. Mas o António tem mostrado ter o perfil certo para estas coisas de dedicação e ajuda na paróquia. 

Foi pena que não tivesse ido mais longe e poderia hoje ser um bom sacerdote ou diácono. Mas a opção de vida foi sua e a missão que escolheu, não tem sido de somenos importância. Tanto nas coisas da paróquia como na dedicação à família, no cuidado prestado aos seus pais e à irmã. Solteiro por opção e missão, casou-se com essa responsabilidade de filho e irmão e a ela tem sido fiel.

É costume dizer-se que ninguém é insubstituível, e é verdade, mas o Tono é quase desses que, como analogia numa equipa de futebol, o treinador olha para o banco de suplentes e não vê ali ninguém capaz de assegurar a sua qualidade. 

Assim, sendo, dêmos valor ao António Ministro, porque apesar de estar sempre com um ar jovem, a verdade é que já passou dos setentas, e naturalmente não andará por cá toda a vida, como de resto qualquer um de nós, e nunca devemos deixar para amanhã o que podemos fazer e dizer hoje. Por mim, mesmo que o já tenha dito, digo-o agora novamente: Obrigado, António, por servires a paróquia, naturalmente com as tuas limitações e defeitos próprios, mas com muita dedicação, dignidade e amor. 

Bem hajas!


Nota posterior:

Já depois de escrever o texto acima, que teve aqui centenas de visitas e na rede social inúmeros comentários positivos e de gratidão e apreço pelo papel do António na paróquia, estive com ele e fez-me sentir que teria preferido que nada escrevesse. Percebo e compreendo, porque o António é assim mesmo e gosta de se esquivar destes elogios públicos.

Eu compreendo, repito, a sua posição e de algum modo peço que me desculpe pelo atrevimento e alguma exposição a que o sujeitei, mas sendo no contexto da sua acção num espaço público e comunitário, que a todos diz respeito, continuo a achar que é sentido e merecido. 

De resto, excesso de humildade por vezes também nos prejudica. Tantas vezes com a nossa dedicação e esforço em prol dos outros e da comunidade, ficamos sentidos por não vermos esse esforço reconhecido e até, pelo contrário, criticado. Ora se assim é, não podemos ficar incomodados quando de algum modo sentimos que esse mesmo esforço e essa mesma dedicação, são, afinal, reconhecidos. Não podemos é ficar aborrecidos porque nos criticam ou incomodados porque nos elogiam, porque às tantas as pessoas ficam confusas ou indiferentes. A humildade é uma qualidade que devemos cultivar em nós próprios, mas sabe sempre bem sentir o carinho e reconhecimento dos outros e quando este é expresso não o podemos repudiar. É sinal de que estamos no caminho certo, a ser úteis e prestáveis à comunidade onde nos integramos. 

Face a isto, o António deve compreender que embora o não peça nem o procure, deve aceitar, sem incómodos, que os outros lhe reconheçam e agradeçam o seu trabalho na paróquia. E não é demais que o façam. 

28 de maio de 2022

É bonito quando somos fiéis aos nossos princípios


...E é tão bonito quando somos fiéis aos nossos princípios, leais às nossas causas e sobretudo à terra e às pessoas que representamos e em nós confiam. Parabéns, Celestino, por nos fazeres acreditar que ainda há valores que valem!

Assim foi na sequência da sessão extraordinária da Assembleia da União das Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, realizada no polo da Junta em Guisande.

Inexplicavelmente as coisas estavam combinadas para fazer esbarrar. Numa posição legítima mas incompreensível, a lista do Partido Socialista tentou virar o bico ao prego contra a manifesta vontade das freguesias que pedia a desagregação (Gião, Louredo e Guisande). 

Lobão não requereu porque sente-se bem nesta União, como peixe na água, porque em rigor foi a única freguesia que não perdeu identidade, por razões óbvias, desde logo como cabeça da União, a manutenção da sua sede como principal e o presidente da sua área geográfica. É compreensível que se sinta bem. 

Celestino Sacramento, apesar das tentativas em fazer mudar a sua posição, bem como do seu estado de saúde na ocasião, manteve-se fiel aos seus princípios e causas e com toda a naturalidade votou a favor da desagregação, indo contra a sua bancada, que se absteve depois de perceber que já não inverteria a posição da maioria que se pronucniou a favor. Foi estranho, mas foi assim.

É de registar esta posição firme, convicta e fiel do Celestino. Nem poderia ser diferente!

25 de maio de 2022

O Jorge Ferreira está de parabéns!


Sei que não vai muito com estas manifestações (lamechices) expressas de forma pública, mas atrevo-me a fazê-lo, essencialmente porque me considero seu amigo e tenho-o igualmente em tal conta.

Sendo certo que é um pouco mais velho do que eu, temos tido uma boa relação desde há muito. E começou logo quando foi convidado ao meu casamento, ainda com o cabelo e bigode pretos. 

Depois, muitos anos em actividades ligadas à Associação Cultural de Guisande "O Despertar", companheiro de futebol de salão quase durante vinte anos e, mais recentemente, companheiro habitual das caminhadas por trilhos, subindo e descendo montes e vales, sempre numa boa passada.

Por tudo isso é merecida uma justificação de parabéns por mais um aniversário. De resto nem custa dar os parabéns aos amigos. 

Em todo o caso, principalmente para os mais novos que naturalmente não conhecem ou ignoram o percurso dos mais velhos, importa lembrar que o Ferreira, como quase sempre lhe chamámos, merece os parabéns, não só dos mais chegados, como familiares e amigos, mas de um modo geral de todos os guisandenses, já que para além de tudo teve e ainda tem um importante percurso e um contributo de cidadania, que é de enaltecer num tempo em que muitos dos valores que nos ligam à identidade da freguesia estão em perigo. 

O Jorge foi um exemplar jogador do Guisande F.C., dirigente da Associação “O Despertar”, sempre pronto e disponível, nomeadamente quando existia a secção de natação e Escola de Música. Ainda membro da Assembleia de Freguesia e secretário da Junta de Freguesia de Guisande (2001-2005). Colaborador nas coisas da paróquia, provavlemente mais que muitos que são assíduos fregueses.

Mesmo agora, já merecedor do retempero da reforma, continua a ajudar o Centro Social, a Associação de Dadores de Sangue, etc.

Para além de tudo, enquanto funcionário do Banco Espírito Santo, foi sempre prestável e disponível para ajudar na questão das burocracias relacionadas às nossas poupanças. Quem já não precisou dos seus serviços e favores?

Por tudo isso, desculpa lá, Jorge, mas fica aqui este registo. Não devemos guardar para amanhã o que podemos e devemos dizer hoje.

Parabéns, e quanto a anos de vida que venham, se não muitos, pelo menos os suficientes, mas bons, pois ainda temos muitos quilómetros para trilhar por esses montes e vales e a próxima jornada já está marcada. 

Não importa quantos faças mas os que faltam fazer. Parabéns!

11 de abril de 2022

Genealogia - Famílias Almeida e Fonseca - As minhas raízes


Os meus avós paternos - Maria da Luz e Joaquim Gomes de Almeida


Os meus pais à data do casamento.
 

A genealogia é uma disciplina auxiliar da História que estuda a origem, a evolução e a dispersão das famílias, assim como dos seus respectivos nomes, sobrenomes ou apelidos. 

Uma árvore genealógica pode ser reconstituída com recurso à consulta de documentos escritos, como nos diversos actos legais. Entre nós, para além dos dados existentes nas Conservatória do Registo Civil, os mais comuns são os antigos assentos paroquiais que registavam os baptizados/nascimentos, casamentos e óbitos. Os livros mais antigos, quando não perdidos ou destruídos, foram para o Arquivo Distrital de Aveiro e mesmo para o Arquivo Nacional da Torre do Tombo. 

Mas muitos outros documentos podem ser usados e consultados, como inventários, testamentos, escrituras, actos religiosos, actos militares, judiciais, etc. Não é de todo fácil quando se pretende começar do zero, mas há quem se preste a isso de forma diligente e metódica. Dá trabalho, comporta tempo e gastos.

Por conseguinte, determinar a origem e sequência geracional de uma família não é para todos, porque é tarefa que esbarra em muitas dificuldades e são frequentes os becos sem saída em alguns ramos.

Seja como for, será sempre interessante que de um modo ou outro saibamos dar importância a esta questão e saber quais são as nossas raízes, e inventariá-las de modo tão profundo quanto possível e tomar notas e apontamentos de modo a que possam subsistir para as gerações futuras.

Em tempo passado estive tentado em começar a montar a árvore genealógica da minha família, começando pela ramo paterno, mas depois acabei por deixar o assunto de lado.  Mesmo agora não tenho, por enquanto, pretensões a retomar de forma exaustiva o empreendimento, porque continua a requerer tempo disponível, que ainda não tenho, e diligências que requerem também tempo. Seja como for, deixo por ora alguns apontamentos que hão-de servir para futuro trabalho.


O princípio:

Eu, Américo da Fonseca Gomes de Almeida, sou um (o segundo) de oito filhos de António Gomes de Almeida e de Eugénia Alves da Fonseca, nascido e criado no lugar de Cimo de Vila, na freguesia de Guisande, ali encostadinho à traseira da capela do monte do Viso. Já depois de casado, em 1988, habitei no lugar da Igreja e depois desde 1994 no lugar de Casaldaça onde construi casa e nela vivo. 

Quanto ás minhas raízes do lado paterno:

Pegando na ponta do novelo do ramo paterno, o pai do meu pai, o meu avô, era Joaquim Gomes de Almeida, conhecido como Ti Joaquim do Viso, por ser do lugar do Viso, embora já no início do lugar de Cimo de Vila, na freguesia de Guisande, em 27 de Abril de 1885 e foi baptizado em  3 de Maio desse mesmo ano. Era filho de Raimundo Gomes de Almeida (meu bisavô), também do considerado lugar do Viso, Guisande, e de Delfina Gomes de Oliveira (minha bisavó), do lugar de Casal do Monte, freguesia de Romariz. Faleceu o meu avô em 23 de Dezembro de 1965, tinha eu 3 anos, mas ainda com vagas memórias da sua figura.

O meu bisavô paterno, foi Raimundo Gomes de Almeida, abastado lavrador do lugar do Viso, Guisande, e nasceu em 19 de Janeiro de 1849 e foi baptizado em 24 do mesmo mês e ano e teve como padrinho Raimundo José de Almeida, da Casa do Loureiro, da Barrosa, e como madrinha Joana Rosa de Almeida, do lugar da Lama, Guisande. Faleceu com 56 anos de idade no dia 10 de Dezembro de 1905. 

Era filho de Domingos José Gomes de Almeida (meu trisavô paterno), nascido em 22 de Março de 1813 e falecido em 14 de Abril de 1894,  e de Joaquina Rosa de Oliveira, falecida em 10 de Abril de 1884, do lugar da Barrosa (minha trisavó paterna). Era neto paterno de  Domingos José Francisco de Almeida e de Maria Felizarda de São José da Silva Loureiro (meus tetravós), estes do lugar da Barrosa, Guisande, e neto materno de Manuel José de Matos e de Maria Rosa de Jesus (meus tetravós), do lugar da Lama, Guisande.  Por sua vez o Domingos José Francisco de Matos era filho de Domingos Francisco de Almeida Vasconcelos e de Clara Angélica Rosa, de Mafamude - Vila Nova de Gaia. Por sua vez os pais de Maria Felizarda de S. José da Silva Loureiro eram  Manuel Gomes Loureiro de Tomásia Rosa da Silva de Jesus. Por sua vez os pais de Manuel Gomes Loureiro eram António Gomes Loureiro e Joana Pinto de Jesus. Por sua vez os pais de Tomásia Rosa da Silva de Jesus eram José Alves da Silva e Maria Joana de Jesus. 

O meu trisavô paterno, Domingos José Gomes de Almeida, tinha vários irmãos, dos quais o José Gomes de Almeida, nascido a 22 de Setembro de 1807 e falecido em 03 de Agosto de 1879, que foi sacerdote que ficou conhecido como Padre do Loureiro, que chegou a ser pároco nas Caldas de S. Jorge, o Raimundo José de Almeida, nascido a 23 de Novembro de 1809  e falecido a 23 de Janeiro de 1897Rita, nascida a 18 de Fevereiro de 1817, a Maria Felizarda, nascida a 28 de Julho de 1815, o António Joaquim, falecido em 21 de Fevereiro de 1890, a Ana Felizarda, falecida em 20 de Setembro de 1891 com 65 anos e a Rita Felizarda, falecida em 25 de Setembro de 1895 com 70 anos.

Dos nomes acima referidos dos irmãos do meu trisavô paterno, o António Joaquim Gomes de Almeida era o avô materno de minha avô paterna. Por isso os meus avôs paternos eram primos em grau afastado já que os seus avôs eram primos em primeiro grau.

O meu avô paterno, Joaquim Gomes de Almeida, casou com 30 anos de idade, em 2 de Julho de 1916  com Maria da Luz, de 24 anos.

A minha avô paterna, Maria da Luz, nasceu em 18 de Novembro de 1890, no lugar do Viso e foi baptizada no dia 19 desse mesmo mês, tendo como padrinho Raimundo de Almeida Leite de Resende e como madrinha Maria da Luz de S. José, ambos do lugar da Barrosa, Guisande. Faleceu em 15 de Novembro de 1967 com 77 anos de idade. Tinha eu 5 anos pelo que tenho ainda algumas lembranças dela. Era filha de José Joaquim Gomes de Almeida e de Maria da Conceição de Jesus, então moradores no lugar do Viso, freguesia de Guisande, sendo por isso meus bisavôs. Era neta materna de António de Pinho e de Maria Joaquina de Jesus, do lugar da Barrosa, freguesia de Guisande e neta paterna de António Joaquim Gomes de Almeida e Joaquina Antónia de Jesus, do lugar de Casaldaça, freguesia de Guisande.

Por sua vez, o meu avô paterno era o mais novo de três irmãos, sendo o mais velho, Raimundo Gomes de Almeida, nascido a 1 de Setembro de 1880, tendo falecido no estado de solteiro, com 28 anos, em 5 de Abril de 1908. Terá sido acometido por um ataque quando passava a cavalo junto à presa das Corgas, na zona de Centes - Cimo de Vila, tendo ali caído e perecido, desconhecendo-se se fulminado pelo ataque, se por afogamento. 

Este meu tio-avô, Raimundo, também conhecido por Raimundinho, teve como padrinhos de baptismo o seu primo Raimundo José de Almeida, do lugar da Lama, Guisande, e Maria de Oliveira, de Romariz, familiar por parte da sua mãe Delfina.

O meu avô teve ainda um irmão mais velho, de nome Rufino, que faleceu em 15 de Setembro de 1884 apenas com 10 meses de idade..

Teve como mais velha dos irmãos, a Joaquina Gomes de Oliveira, nascida a 6 de Março de 1882 e baptizada a 9 desse mês e ano, tendo tido por padrinhos António José de Oliveira e a sua avó materna. Faleceu em 4 de Agosto de 1969 com 87 anos.



Joaquina Gomes de Oliveira - irmã de meu avô-paterno.


Esta Joaquina veio a casar com 22 anos em 13/09/1904 com Sebastião José Correia, da freguesia do Vale, em 13 de Setembro de 1904, tendo este falecido ainda novo, com 40 anos, em 23 de Abril de 1922. Ambos estão sepultados no Cemitério Paroquial do Vale. Tiveram um grande número de filhos (meus segundos primos), nomeadamente a Josefina Gomes de Oliveira, nascida a 31/01/1906 e falecida a 05/11/1981, a Aurora Gomes de Oliveira, nascida a 20/02/1915 e falecida a 26/06/2005, e a Adelina Gomes de Oliveira (irmã religiosa), nascida a 19/01/1921 e falecida a 27/08/2002, e outros mais cujos nomes espero vir a apurar.

Este Sebastião era natural da freguesia do Vale, sendo filho de António José Correia (de Louredo) e de Henriqueta Gomes Correia (de Escariz).


Os meus avôs paternos tiveram os seguintes filhos:

Delfina da Glória Oliveira, nascida a 19 de maio de 1918, que casou com Manuel Baptista dos Santos, da freguesia de Lobão, em 12 de Outubro de 1940, de quem teve vários filhos, incluindo o  Joaquim (28 de Outubro de 1942 a 6 de Outubro de 2022), que viveu em Pigeiros, e António de Oliveira Santos(1 de Agosto de 1941 a 29 de Janeiro de 2023), que viveu no lugar do Reguengo, junto à Capelinha do Senhor do Bonfim, casado com Conceição Alves Lopes (São do Cabreiro).

José Gomes de Almeida, que casou em Louredo com Celeste Aurora Correia e tiveram quatro filhos, a Maria Goreti, a Maria de Fátima, o Paulo e a Natália.

António Gomes de Almeida (meu pai) que casou com  Eugénia Alves da Fonseca, tendo tido oito filhos, o Joaquim António, casado com Maria Cecília Gonçalves, o Américo (eu próprio), casado com Maria Preciosa Gonçalves, o Manuel António, casado com a Lurdes Sá, a Isabel Maria, casada com o António Freitas de Oliveira, o Adérito Aires, casado com a Madalena Henriques, o Alcino, divorciado de Rosa Maria, a Lina Eugénia, casada com o Manuel Augusto e a Georgina Susana, casada com o Carlos Gonçalves. Todos com filhos e alguns com netos. Tem a minha mãe 16 netos (média de 2 por filho) e já com bisnetos.

Maria Celeste Gomes de Almeida, nascida em 2 de Novembro de 1919, já falecida,, que não tendo casado teve dois filhos, o Joaquim, casado com a Laurinda, e o António Alcino, casado com a Elsa, com filhos e netos.

Joaquim José Gomes de Almeida, nascido em 18 de Novembro de 1920, que casou com Maria Glória Henriques Pereira em 16 de Novembro de 1946, com que teve vários filhos, a  Maria Amália, casada com o Alcino Alves, o Joaquim (21 de Janeiro de 1949-31 de Outubro de 2017), o José, casado com a Adelaide, a Maria Dulcília, casada com o Mário Sá e o Fernando Jorge, casado com a Maria Rosa Valente, todos casados, com filhos e netos. Ainda como filho de Joaquim José e Maria Glória, um Agostinho, de que me não recordo pois terá falecido menor.

Manuel Joaquim Gomes de Almeida, nascido em 7 de Outubro de 1923, solteiro. Já depois da escrita original deste apontamento, actualizo que este meu tio faleceu em 11 de Fevereiro de 2024 já depois de ter completado 100 anos em 7 de Outubro de 2023.

1.ª Laurinda Gomes da Luz, nascida em 1926, falecida em 4 de Dezembro de 1929 com 3 anos de idade.

2.ª Laurinda Gomes da Luz, que casou com Avelino de Sousa, do lugar da Teixugueira da freguesia de Lobão, com quem teve três filhos, a Maria do Céu, solteira, o Carlos Alberto, casado em Gião com a Manuela Marques, de cuja união têm os filhos Tiago e Diogo,  e a mais nova, a  Elsa Maria, solteira.


Quanto ás minhas raízes do lado materno, dos Fonsecas:

O meu avô materno era Américo José da Fonseca, nascido em 20 de Março de 1919 e falecido em 17 de Julho de 2001, sendo um dos vários filhos de Raimundo José da Fonseca (meu bisavô), do lugar do Carvalhal, freguesia de Romariz, e de Margarida da Conceição (minha bisavó), do lugar das Quintães da freguesia de Guisande. 

Não deixa de ser curioso que os meus bisavôs, paterno e materno, tenham ambos o nome de Raimundo.

Este meu bisavô materno, Raimundo, era um mestre pedreiro e canteiro afamado, tendo por aí diversas obras de cantaria e escultura. Terá sido ele a realizar a fonte existente na sacristia da nossa igreja matriz bem como a capela mortuária da Casa do Moreira, existente no nosso cemitério e ainda o jazigo de meus avôs paternos.

O meu bisavô materno era filho de António José da Fonseca (por isso este meu trisavô) e de Maria de Oliveira (minha trisavó), do lugar do Carvalhal, freguesia de Romariz, existindo por ali vários meus parentes. Era neto paterno de Manuel José da Fonseca e Margarida Rosa de Jesus e neto materno de Manuel Ferreira da Silva e de Ana Maria de Oliveira.  Nasceu em 19 de Outubro de 1884. Faleceu em 17 de Novembro de 1929 com 45 anos de idade. Tinha 22 anos quando casou em 09 de Maio de 1907. 

A minha bisavó materna, Margarida da Conceição, nasceu em 19 de Julho de 1885. Era filha de António Caetano de Azevedo, carpinteiro, e de Maria da Conceição, costureira, do lugar das Quintães - Guisande. Era neta paterna de Francisco Caetano dos Santos e de Ana Joaquina dos Santos e neta materna de João Francisco e de Arminda Gomes da Conceição, estes do lugar de Cimo de Vila. Era bisneta paterna de Caetano Francisco dos Santos e de Maria Rosa Gomes e bisneta materna de Manuel Joaquim de Azevedo e de Maria Joaquina dos Santos. 

Desta minha bisavó Margarida, consegui identificar alguns irmãos, nomeadamente a Alexandrina, o Domingos e o David, este nascido em 25 de Maio de 1904 e deste tendo sido madrinha de baptismo. Ainda o Justino, este que era o pai do David Azevedo da Conceição (pai do António ministro, entre outros) e da Laurinda Gomes da Conceição, conhecida pela D. Laurinda que esteve à frente do Grupo da LIAM aqui em Guisande.

Tinha 21 anos quando casou em 09 de Maio de 1907 com Raimundo José da Fonseca. Faleceu em 30 de Agosto de 1979 com 94 anos de idade.

Dos irmãos do meu avô materno tenho lembrança, sem ordem de idade, do Alexandrino Fonseca (que viveu no lugar de Azevedo da freguesia das Caldas de S. Jorge, tendo falecido num acidente de estrada, em Pigeiros), do Joaquim José da Fonseca, do Manuel José da Fonseca (padrinho do meu irmão Manuel) e da Laurinda Fonseca. Ainda irmão de meu avô, o Justino Fonseca, que nunca conheci porque faleceu muito novo. Também uma Maria da Conceição, de que não tenho memória, nascida em 12 de Junho de 1909, pelo que terá sido a mais velha dos filhos.

O meu tio-avô Alexandrino José da Fonseca, nasceu a 13 de Setembro de 1914 e casou em 17 de maio de 1942 com Maria Glória Gomes de Pinho. Tiveram dois filhos, um rapaz, que não tenho memória do nome e uma rapariga, a Celeste. A sua casa no lugar de Azevedo, Caldas de S. Jorge, onde por lá fui várias vezes em criança na companhia de minha bisavó, está desabitada e quase em ruína.

O meu tio-avô Manuel José da Fonseca casou em 31 de Julho de 1933 com Ermelinda Pedrosa das Neves, de quem teve vários filhos dos quais conheço a Margarida, que ainda vive no lugar de Fornos, casada com o Sr. Justino, ainda a Lúcia, esta casada com o Sr. Óscar Melo, e residente no lugar da Mota, Canedo, o Joaquim, que creio que está viúvo e vive em Vila Nova de Cerveira, o António, nascido em 12 de Junho de 1934, e que casou em S. Silvestre-Coimbra com Maria Isabel Cortesão em 16 de Fevereiro de 1964.e ainda o Gil das Neves Fonseca, que não vejo há muitos anos e que viverá por Lourosa. Casou em 29 de Dezembro de 1974 com Maria Margarida Ferreira de Pinho. Ainda o Reinaldo das Neves Fonseca, que nasceu a 1 de Março de 1944.

Do meu tio-avô Joaquim José da Fonseca, que casou com Albertina de Oliveira, tenho lembrança do Alexandrino, do Hilário, nascido a 20 de Fevereiro de 1936, do Abel, da Alzira, da Ilda, da Conceição, da Celeste, da Madalena e da Idília.

Da minha tia-avô Laurinda, que casou com Alexandre Ferreira de Almeida, teve como filhos o Joaquim, nascido em 5 de Abril de 1949, casado em 19 de Agosto de 1973 com Maria de Fátima Coelho Assunção, e residente em Lourosa, a Maria da Conceição, a Adelaide, ambas casadas e residentes no lugar das Quintães, freguesia de Guisande. Aind aum leonel nascido em 20 de Dezembro de 1952 que terá falecido menor pois não tenho lembrança dele.

A minha avó materna era Lúcia Alves, do lugar do Outeiro, falecida quando minha mãe era de tenra idade. Era irmã de Joaquim Francisco Alves, marido de Águeda Rosa da Costa, casal que teve os filhos (primos de minha mãe) António da Costa Alves, Fernando da Costa Alves, Domingos da Costa Alves, Joaquim da Costa Alves, Ermelinda da Costa Alves, Maria da Conceição Costa Alves, Maria Gorete da Costa Alves e Rosa Maria da Costa Alves.

O meu avô materno, enviuvou cedo e casou em segundas núpcias com Maria Isabel Moreira Barbosa (minha madrinha), natural de Alfena - Ermesinde, Valongo, nascida em 20 de Novembro de 1929  e falecida em 14 de Julho de  2020, com 90 anos. Estão sepultados no Cemitério Paroquial de Guisande.

Deste segundo casamento não houve filhos. Do primeiro casamento minha mãe teve mais três irmãos, Manuel Alves da Fonseca, nascido a 10 de Setembro de 1940, tendo falecido em 16 de Outubro de 2018, com 78 anos, casado com Maria Amélia da Conceição, nascida no lugar do Viso, Guisande,  a 16 de Junho de 1943 e falecida em 16 de Dezembro de 2018, de quem teve numerosos filhos,  meus primos a saber: Maria da Conceição Fonseca da Mota, Victor Manuel da Conceição Fonseca, Isabel Maria da Conceição Fonseca, António da Conceição Fonseca, Jorge Rufino da Conceição Fonseca, Domingos da Conceição Fonseca, Paulo Joaquim da Conceição Fonseca, Agostinho Fernando da Conceição Fonseca (falecido ), José Carlos da Conceição Fonseca, Jacinta Maria da Conceição Fonseca, Felisberto da Conceição Fonseca e Jacinto da Conceição Fonseca

Ainda filho de meu avô, o meu tio, José Indes Alves da Fonseca, nascido em 10 de Fevereiro de 1945 e falecido em Abril de 2023, com 78 anos de idade, que teve vários filhos em uniões distintas, tendo da  última, com Maria de Fátima Lopes da Silva, o filho José Aires Lopes da Fonseca, nascido em 8 de Dezembro de 1975 e a filha Rosália Maria Lopes da Fonseca, nascida em 27 de Maio de 1975. 

Do primeiro casamento deste meu tio José Indes, com uma Palmira, de Fiães, tenho lembrança de um filho (meu primo) de nome Jaime, e pelo menos uma outra filha, da qual não tenho lembrança do nome.

O meu avô materno teve ainda uma outra  filha, a  Alcina Alves da Fonseca, da qual pouco sabemos já que terá saído de casa em criança acolhida por familiares em Lourosa após a prematura morte da mãe, e que mais tarde casou e emigrou para França. 


Observação: Este artigo será actualizado e corrigido conforme for sabendo de mais dados sobre os respectivos ramos familiares. Alguns dados são baseados na memória pelo que, já não estando fresca, podem padecer de incorrecções ou lapsos. A quem, sobretudo familiares, puderem acrescentar, complementar ou corrigir informações, agradeço o contacto pessoal.

4 de março de 2022

Ao longo dos tempos - Carlos Cruzadas


Sob o pseudónimo de Carlos Cruzadas, Carlos da Silva Cruz, um bom guisandense nascido em Labercos - Lomba - Gondomar,  tomou-se de coragem e em edição de autor fez publicar um livro de textos e poemas a que deu o título de "Ao longo dos tempos - Letras, palavras e frases cruzadas"

De algum modo, um registo autobiográfico em que nos diferentes poemas e textos exprime com sensibilidade o seu pensamento e visão sobre os lugares onde nasceu, cresceu e vive e, para além deles, da visão poética das coisas e  do mundo e do seu lugar nele.

Noutros tempos, falamos de poesia e do poema permanente que é nossa freguesia de Guisande e mesmo na partilha da figura que em certa medida me ajudou a cultivar, a de Miguel Torga. De resto, não estará esquecido quando aqui há já uns anitos fomos em peregrinação a S. Martinho de Anta conhecer um pouco daquele reino fantástico de que falava o transmontano.

Assim, aos livros que noutras alturas tive o privilégio dele receber, soma-se agora este muito particular e certamente mais significativo. 

Fico à espera do próximo livro do Carlos Cruzadas. Quanto ao meu, para breve, e um segundo, esse com outro contexto e menos pessoal, se não correr mal será para meados do próximo ano. De resto já está em fase final.

Parabéns ao Carlos e um bem-haja! Deixo como remate um bonito poema do nosso patrono das coisas da poética, Miguel Torga.


Prospecção

Não são pepitas de oiro que procuro.

Oiro dentro de mim, terra singela!

Busco apenas aquela

Universal riqueza

Do homem que revolve a solidão:

O tesoiro sagrado

De nenhuma certeza,

Soterrado

Por mil certezas de aluvião.

Cavo,

Lavo,

Peneiro,

Mas só quero a fortuna

De me encontrar.

Poeta antes dos versos

E sede antes da fonte.

Puro como um deserto.

Inteiramente nu e descoberto.


16 de setembro de 2021

Celestino Sacramento - A idade da dedicação

 



Se a cartada para algumas forças concorrentes for a de "provas dadas", Guisande terá objectivamente em Celestino Sacramento um exemplo concreto. 

É certo que pelo seu já longo contributo de cidadania em prol de Guisande, e que ainda perdura, não só como vice-presidente do Centro Social S. Mamede de Guisande, mas como elemento activo ligado aos movimentos da paróquia, seria merecido o descanso e faria sentido que para estas lides da política e disputas eleitorais o candidato representante pelo PS fosse alguém um pouco mais novo, mesmo que igual e obrigatoriamente conhecedor da realidade da freguesia. Todavia, este tipo de personalidades, conhecdoras da freguesia, com provas dadas na cidadania e interessadas pelo bem público e comum, reconheçamos, da esquerda à direita, são aves raras, ou espécies por descobrir. Por isso, a norma, e mesmo para o futuro, será o dar lugar a ilustres desconhecidos e desconhecedores.

Assim sendo, uma vez mais louve-se o esforço e dedicação do Celestino Sacramento, de longe, de todos quanto integram as diferentes listas à Assembleia da União das Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, aquele com mais provas dadas, conhecimento profundo e dedicação por Guisande, que de forma voluntariosa avança para um segundo mandato depois de  há quatro anos ter levado o PS a vencer na freguesia de forma retumbante. Será para repetir? O povo, que é livre e soberano na escolha, o dirá.

3 de novembro de 2018

Figuras guisandenses - José de Pinho



Como qualquer terra, Guisande sempre teve e tem, ainda, figuras que por uma ou outra característica pessoal, profissional ou de outra natureza, acabam por ser justamente consideradas como carismáticas ou "castiças", isto é, de boa casta, peculiares, com carisma e características únicas. Assim, não é condição para tal adjectivo que seja alguém formado como doutor, professor ou engenheiro. De resto, neste lote, há por aí doutores e engenheiros que pouca ou nada fizeram ou fazem a favor do bem comum e da comunidade onde se inserem e o seu contributo é o mesmo de que um qualquer iletrado ou até bem menos. Mas isso são outras histórias.

Neste contexto, e assente que uma boa e importante figura não tem que ser doutor ou engenheiro, podíamos aqui evocar figuras guisandenses, bem castiças, carismáticas, que porventura, fruto dos tempos, até não passaram de ilustres analfabetos, iletrados, daqueles incapazes de ler uma palavra do tamanho da torre da nossa igreja, mas em contrapartida, isso sim, doutorados na universidade da vida, alguns verdadeiros mestres nas cadeiras do saber, da manha, da cultura geral, da história, da natureza e das suas coisas, tão especialistas na arte de estrumar um campo lavradio como na poda da vinha ou como parteiros de uma vaca prenha.

Destas muitas figuras, é claro que gostaria de, amiúde, evocar algumas, mesmo que de forma breve e sem preocupações biográficas, mas também, reconheça-se, não é tarefa fácil e nem sempre o tempo disponível é simpático.

Aqui nesta minha casa digital, já falamos de algumas importantes figuras, desde logo o Pe. Francisco Gomes de Oliveira, como também o Cónego António Ferreira Pinto, Pe. Agostinho da Silva e o Pe. José Pereira de Oliveira. Todavia, muitas outras figuras guisandenses, do passado e do presente, mereciam ser aqui lembradas, mesmo que os seus feitos não fossem os ligados às letras, artes e ciências, como atrás se disse. Mas, quem sabe, aos poucos vá preenchendo a caderneta.

Neste pensamento e vontade, recordo que pelo início dos anos 90 o jornal "O Mês de Guisande" procurou saber um pouco mais de outras figuras e a algumas fez entrevistas onde se ficou a saber um pouco mais das suas histórias e estórias, nomeadamente dos já falecidos Joaquim Dias,  o "Pisco", Belmiro da Conceição Henriques, a Ti Clara e Ti Ana Alves. Deles já só resta a saudade mas através dessas páginas ficaram gravadas memórias que têm o mesmo valor que livros e diplomas.

Neste enredo todo, e tendo vós já visto as imagens acima, muitos, os mais velhos, terão já reconhecido a figura do Sr. José Pinho, morador que foi no lugar da Gândara, vizinho da Casa Neves, no gaveto do velho caminho para o Santo Ovídeo.
Para os mais novos, menos dados a estas coisas de outros tempos, o que é normal, podemos referenciar que era o avô da Marisa Pinho e por conseguinte pai do Sr. Ramiro Pinho, que desde há anos habita no lugar do Casal, na freguesia de Gião, onde tem um escritório de contabilidade.

José de Pinho nasceu em 28 de Agosto de 1912 e faleceu com quase 82 anos em 26 de Março de 1994. Do que conheço e me lembro, era irmão do também conhecido e carismático Miguel de Pinho (cabo cantoneiro) que viveu longos anos próximo da ponte da Lavandeira e da também conhecida  Miquelina Pinho que viveu em Casaldaça. Como filhos, do meu conhecimento, deixou o Ramiro (a viver em Gião) e a Fernanda (creio que a viver por Vila Maior).

Já quanto ao recorte de uma primeira página do jornal semanário "O Correio da Feira", datado de 11 de Agosto de 1978, digamos que é ele o acender do rastilho para esta simples evocação ou memória que pretendo fazer sobre o Sr. José de Pinho. Como poderão observar, o tal recorte ainda tem colada a vinheta da assinatura do jornal. De facto José de Pinho foi durante vários anos assinante deste centenário e histórico jornal feirense, o qual ainda se publica. Não eram muitos os assinantes em Guisande, mas ele era um deles.

Do uso deste jornal, vem precisamente a minha primeira memória sobre o Sr. José Pinho. Era eu ainda criança e sempre que ia à Missa ou ao Terço, lá estava ele, na sua figura imponente, pois era homem de porte avantajado, com uma altura muito próxima dos 1,90 m, e nos momentos em que as regras pediam aos fieis para se ajoelharem, ele sacava do bolso do casaco um exemplar do jornal "O Correio da Feira", dobrado em quatro partes e o pousava no soalho da igreja para nele assentar os joelhos. Não que fosse grande almofada o jornal, mas porque impedia de sujar as calças. Era assim naqueles tempos e esse gesto era muito frequente. Alguns homens tinham um lenço só para esse propósito, mas de todos apenas me lembro de ser feito com um jornal por esse morador da Gândara. Ora como era assinante, todas as semanas lá recebia um novo exemplar que certamente guardava no bolso para ler e reler e  usar como tapete nas suas devotas genuflexões, fosse na missa à consagração fosse no terço ou adoração ao laudate.

José de Pinho, que se conste não era doutorado, mas era notoriamente um homem culto e de letras. De resto, sempre ouvi apregoar que "quem lê jornais, sabe mais". Para além do referido jornal "O Correio da Feira", era simultaneamente assinante de outros títulos da imprensa escrita, como o "O Comércio do Porto", o "Tempo" e ainda o nosso jornal mensal "O  Mês de Guisande", do qual sempre foi um carinhoso assinante. Por inúmeras vezes, quando eu ali ia distribuir o jornal, antes do correio o fazer, ficava largos minutos á conversa com este "doutor" da Gândara. Creio que quem o bem conheceu e com ele conversou não lhe recusará este estatuto.

Por conseguinte, pela amostra dos jornais que assinava e por conseguinte lia com regularidade, notoriamente era um homem bem formado e informado das actualidades, não só do concelho como do país, nomeadamente nesses tempos tão conturbados dos anos 70, politicamente muito marcantes no período pós 25 de Abril de 1974.

De José de Pinho sabe-se que era uma pessoa muito conservadora, homem de ideologia de direita, de resto a justificar a sua relação com o CDS de Freitas do Amaral e Adriano Moreira, que sempre foi apoiante convicto. Não surpreende, pois, que tenha sido assinante do jornal semanário "Tempo", um órgão informativo conotado com a direita. Não se sabe até que ano José de Pinho foi assinante deste jornal marcadamente político, mas eventualmente apenas até finais da década de 1980. De resto os anos 80 foram bem mais calmos e a jovem democracia portuguesa  aos poucos ia ficando estabilizada. Talvez por isso e por algumas convulsões internas entre redacção e administração, o "Tempo" terminou o seu tempo e  sua missão findou no final do ano de 1990. Todavia, foi marcante e vários jornais retomaram muito das suas orientações, tanto gráficas como de abordagem jornalística.



Ainda quanto ao semanário "Tempo" designado de "liberal e independente", para o contextualizar na figura e personalidade do seu assinante Nº 1881, José de Pinho, este jornal foi fundado em 29 de Maio de 1975 por Nuno Rocha (Porto, 13 de Fevereiro de 1933- Cascais, 5 de Julho de 2016). Este jornalista, que alguém caracterizava como cosmopolita, passou antes por títulos como o "Primeiro de Janeiro", "Diário Ilustrado", "Diário de Lisboa" e "Diário Popular". Considerado controverso e conservador, implementou um estilo no jornal que depois Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso levariam para "O Independente".

Por tentar fundar o "Tempo" Nuno Rocha foi preso a 13 de Abril de 1975, em casa, por membros do COPCON (Comando Operacional do Continente), ficando detido durante 17 horas em Caxias. Este facto não deixa de ser significativo pois mesmo depois da revolução, continuou a haver actos persecutórios criticados ao antigo regime recém derrubado, nomeadamente privação do exercício da liberdade, incluindo a de imprensa e prisão por motivos políticos. No fundo, era fruta da época e para além dos fascistas de direita havia os de esquerda. Coisas e singularidades.

Em 1976, em pleno "Verão Quente", o semanário chegou a vender mais de 100 mil exemplares. Paulo Portas, conhecido político, estreou-se nele como cronista e mais tarde veio a fundar o jornal "O Independente".

Como já referi, o"Tempo" era assumidamente de centro-direita e surgiu então para contrariar a tendência de esquerda dos jornais da época que dominava a imprensa portuguesa. Os articulistas do semanário "Tempo" escreviam e davam conta das preocupações perante o rumo que Portugal levava, durante o PREC e na sua aventura que indiciava resultados catastróficos para o país. Pressentia-se que o país saíra de uma ditadura de direita e que se encaminhava para uma de esquerda, traindo o que diziam ser a gênese da revolução de Abril de 74.
O "Tempo" era assim uma contra-corrente e talvez por cá José de Pinho encontrasse nele e nas suas posições editoriais uma linha de pensamento ideológico que entendia ser a melhor para o rumo do país e daí o tronar-se assinante.

Naturalmente que para além desta faceta de homem de leituras, há muitos outros episódios ligados à figura e personalidade de José de Pinho, mas creio que para além deles, e outros terão melhores testemunhos, por mim quero simplesmente realçar um aspecto que ressaltava, o seu lado de homem culto, que lia muito e procurava estar fundamentado e informado das suas ideias e ideais. Por mim, é essa a memória que guardarei desse homem e dessa figura guisandense.

19 de setembro de 2018

José Coelho, que também é Gomes de Almeida



(Há uns anitos, à sombra do sobreiro junto à capela de Nossa Senhora da Conceição - Abelheira - Escariz )


(num encontro da LIAM em Fátima, ao lado das já saudosas D. Laurinda e D. Lucinda)

Quem não conhece o Zé Coelho? Pois bem, está hoje de parabéns. 92 anos feitos, porque quis o destino que nascesse no dia 19 de Setembro de 1926. Será já dos homens mais velhos da freguesia de Guisande. 
Tenho uma carinho e consideração especiais por este cidadão do mundo com o qual comecei a ter algum relacionamento a partir do momento em que recém chegado de África do Sul, por volta do final dos anos 80 veio ao estúdio da então Rádio Clube de Guisande, cantar umas cantigas acompanhadas pela sua guitarra de fados. Mais tarde, por volta da viragem do século, uma maior e frequente proximidade, participando nas reuniões, iniciativas e convívios do Núcleo da LIAM de Guisande, no qual estávamos então envolvidos. Eu de viola e ele de guitarra, foram muitas as cantigas ao desafio e a fazer dançar muita e boa gente com ritmos de viras e chulas. Mais tarde, que o instrumento era velho, comprou uma nova guitarra e deu-me a velha, que ainda guardo.
Infelizmente os anos passam e pesam para todos, sobretudo para quem já passa dos 90. Apesar disso, certamente que mais debilitado, passando já os dias no Centro Social em Gião, ainda temos a alegria de ter por cá o Zé do Coelho. Que ainda seja por muitos e bons anos. Parabéns Coelho!

Sobre a sua vida, ele próprio, em quadras que escreveu há alguns anitos (doze), faz uma retrospectiva da mesma. Poderia, depois disso, já ter acrescentado mais algumas, mas o que viveu já é muito, em idade e em experiências. De resto, como ele próprio diz na quadra final "...São histórias alegres e tristes, Mas com elas se faz a vida".


Nasci no ano de 1926
No dia 19 de Setembro.
Aqui conto minhas histórias,
De todas elas eu me lembro.

Minha terra é Guisande,
De Santa Maria da Feira,
Meu amor por ela é grande,
Será assim a vida inteira.

Com sete anos de idade
Comecei a ir para a escola,
E desde aí fui crescendo
Ganhando juízo na tola.

É para as queridas crianças
Que vou contar a minha história,
Recordar meus velhos tempos
Que tenho gravados na memória.

Eram tempos bem difíceis
Diferentes do que tendes agora,
Para a escola ia-mos a pé
E a pé vínhamos embora.

Não havia autocarros
Nem estradas alcatroadas,
Caminhávamos só por quelhas
Velhas, sujas e apertadas.

Só existiam três carros
Aqui, na minha freguesia,
Hoje há casas com dois e três,
O que não falta é burguesia.

Findado o tempo de escola
Logo comecei a trabalhar,
Mas procurando novos rumos
A África fui parar.

Foi em Outubro de 1954
Que para Angola emigrei,
Das dificuldades desse tempo
Vou contar-vos o que passei.

Foi Angola a escolhida,
Por ter língua igual,
Assim aprendi na escola,
Angola também era Portugal.

Passei por grandes dificuldades,
Algumas delas vou contar,
Pois não arranjava trabalho
E o dinheiro estava a acabar.

Só ao fim de alguns meses
Consegui o primeiro emprego,
Ali trabalhei vários anos
Com vontade, força e apego.

Era uma fábrica de cerveja,
E Cuca se chamava,
Bebida loura e fresquinha,
A muitos a sede matava.

Assim fui vencendo na vida
E muita coisa melhorou,
Mas foram tempos difíceis,
Comi o pão que o “diabo amassou”.

Durante o dia trabalhava
Só à noite fazia a comida,
Que guardava para o outro dia.
Assim era a minha vida.

Até a pobre roupa
Era eu quem lavava,
Como o clima era quente
Pela noite ela secava.

Assim trabalhei oito anos
Com amor e dedicação,
Mas ao fim desse tempo
Sofri nova desilusão.

Comecei de novo a sofrer
E a perder já a ilusão,
Pois em Angola rebentara
A chamada revolução.

Dez anos tinham passado,
A Portugal tive de voltar.
Angola estava em guerra
E era perigoso lá continuar.

Em Portugal passei dois anos
Sempre na vida a lutar,
Mas com saudades de África
Desejava regressar.

Foi para a África de Sul
Que desta vez emigrei,
E assim com outra história,
Vou contar-vos o que passei.

Facilmente arranjei trabalho,
Era coisa que lá não faltava,
Mas tinha outro problema
Era o inglês que não falava.

Todo o dia trabalhava
Mas à noite ia para a escola
Aprender a língua inglesa
E encaixá-la bem na tola.

Até para ir ao mercado
Comprar o que precisava,
Como não sabia falar inglês
Nem o dinheiro contava.

Assim fui aprendendo
Mas tudo um pouco custou,
É para vós saberdes, meninos,
O que o emigrante passou.

Trabalhando e estudando
Muita coisa aprendi,
Hoje, com meus oitenta anos,
Estou feliz por chegar aqui.

Meus dois filhos estão na África
E eu por cá, vivo sozinho.
É triste a solidão,
Mas Portugal é que é meu ninho.

Hoje tenho meus pensamentos
Em África e em Portugal,
Mas Portugal é minha terra,
Aonde nasci e sou natural.

Todos os anos de avião,
Meus filhos e netos vou rever,
Vou matar a saudade,
E um mês fico lá a viver.

Tenho filhos, também noras
E netos da vossa idade,
Que me fazem recordar
Meus tempos de mocidade.

Nas minhas férias em África
Sempre falo com muita gente
Relembro minha juventude
E vejo como hoje tudo é diferente.

Foi para vós meus meninos
Que escrevi a minha história,
Peço-vos que não a esqueçais
Guardai-a na vossa memória.

Se um dia tiveres que emigrar
Pensai bem antes de o fazer,
Mas por vezes até faz bem
Na vida um pouco sofrer.

 Desta feita vou terminar 
E fazer a minha despedida,
São histórias alegres e tristes
Mas com elas se faz a vida.

José Coelho Gomes de Almeida

12 de agosto de 2018

Barbearia Central - Contra os canhões, escanhoar



Infelizmente, que se conste, já não faz (desfaz) barbas o Sr. Albertino. Para quem estava habituado a esses luxos, como o Tio Neca, tem agora que se remediar com um escanhoamento às mãos do sobrinho. Mas gosta, sobretudo, do final, quando à moda do saudoso Ti´Antoninho, leva com umas generosas "chapadas" de Pitralon que lhe refresca e perfuma as rugas dos seus quase 95 anos, bem conservados, diga-se.
Esta Barbearia Central só abre portas por encomenda e uma vez por semana,  quando o sol espreita do lado de Vila Seca.

Já agora, a origem do termo escanhoar:

A parte inferior dos pêlos, tal como as penas das aves, está inserida em tubos naturais da própria pele denominados vulgarmente por canhões.
Escanhoar significa «cortar os pêlos da barba até aos canhões», ou seja, até ao limite acima da pele.

[fonte: Ciberdúvidas]