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22 de agosto de 2022

As bandas à banda

 




Na Festa de Canedo, tudo parece ser grande e desmesurado. Apesar disso, algumas coisas são pequenas, pequeninas.

Não se compreende, de todo, que duas bandas filarmónicas, com o prestígio da dos Mineiros do Pejão e da de Lousada, sejam remetidas para pequenos coretos, sem condições aos tamanhos das bandas (sobretudo a do Pejão), com os músicos apertados como sardinhas em lata, sem se poderem mexer. Ainda, por agravo, ali juntinho dos barulhos das diversões.

Caricato e ilustrador disto, o facto do 1.º flautista da Banda dos Mineiros do Pejão (ver foto), à falta de espaço ter que tocar com o braço por fora de um dos pilares do coreto e com os pés mesmo na borda. 

Por sua vez, o homem dos bombos teve que ficar numa espécie de varanda suspensa, acrescentada como um anexo. Algum músico que pretendesse dali sair em emergência, tinha que passar por cima dos colegas e, como um ginasta, transpor o varandim do coreto com os naturais riscos, como vi.

Não sei como os responsáveis pelas bandas acedem e concordam a actuar naquela vergonhosa falta de condições, que os desprestigiam porque desconsiderados. Todos precisam de facturar, mas é triste.

Paradoxalmente, o palco principal, imenso, à sombra, na parte central do arraial, vazio, com os apetrechos da cantora pimba que ali actuará à noitinha.

Paradoxos e exemplos de como as bandas filarmónicas, baluartes da nossa melhor cultura e tradição são tantas vezes assim desconsideradas por organizações com pouca sensibilidade para estas coisas. 

Demasiado mau para bandas com tanta qualidade. Provavelmente não voltarei ali para ver bandas postas à banda.

Há limites!

Que Nossa Senhora deles tenha piedade!

21 de agosto de 2022

Sempre a aprender

Uma festa genuína, algures por aí. Está-se mesmo a ver!

Mas, sempre a aprender, os altifalantes não debitavam música de folclore ou de cantores pimba. Nada disso! Nada mais que um relato de futebol!!!

Eu não sei se o S. Miguel Arcanjo ou a Nª Sª da Saúde são adeptos do Porto ou do Sporting, e até acho que não são por ninguém em particular, porque são pelas pessoas e não por clubes de futebol. E gente fanática pelos clubes é o que mais há por aí e não é preciso que o fanatismo chegue a gente santificada. Era o que faltava! 

Mas, esta é novidade, e  se a moda pegar, até pode ser vantajosa para as comissões de festas. Assim, quem sabe, em vez de gastarem balúrdios em cantores pimbas e em bandas de baile, passamos a ter uns relatos de futebol. Na sexta á noite, um Arouca-Vizela, no sábado, um Braga - Famalicão, e na segunda feira, uma coisa em grande, um Benfica-Porto ou um Sporting-Benfica. 

Josés Malhoas, Toys e Zés Amaros, ponde-vos finos! A pólvora acaba de ser inventada!

Abençoados tempos de fartura


(gente boa da "Quinta do Canastro", que tive o privilégio de me terem ajudado na minha caseirinha boda de casamento (final dos anos 80)


Noutros tempos, uma boda de casamento era tão genuína quanto top. Desculpem usar esta palavra “top”, mas está na moda, e fica fixe ser usada. Dá-nos um ar de quem usa t-shirts floridas.

Mas, dizia, a boda de casamento, era genuína porque conseguia reunir festa, celebração e simplicidade. Assim, o jovem casal definia a data de casamento e ia de seguida dar uma volta pelos restaurantes da moda, contratar o serviço da boda, que era só o almoço. Nada de ceias ou merendas: Assim, visitava-se o Dindão, o Senhora da Hora, o Taco Dourado, o Lano, o Topa, o Cruzeiro, o Pinheiro, o Algarvio, depois o Bolhão, etc, etc.

Mesas corridas, dispostas em forma de U, os familiares juntinhos aos noivos, no topo, escondidos atrás de um bolo parecido com a torre de Pisa, os casados de um lado, os solteiros do outro, por aí fora.

Depois as entradas com camarões, rojõezinhos, croquetes, moelas, polvo, orelha de porco, etc. Depois vinha a canjinha ou uma sopa de legumes bem passada, seguindo-se, mais a sério, a salada russa com filetes de pescada e, se mais ao luxo, bacalhau com puré de batata. Confortada a barriga, lá vinha o cozido à portuguesa, se a família de origem mais lavradoresca assim o determinava, ou em alternativa um assado misto num bordel gorduroso de carnes de cabrito, vitela e porco.

Depois lá vinha o desfile de doces e frutas, onde não podiam faltar as laranjas e as bananas e as uvas ou cerejas, dependendo da época. Já com o estômago a abarrotar, o remate com café e bagaço. Depois os amigos mais atrevidos começavam a bater e a partir pratos com os talheres, desafiando os casais, casados ou namoradeiros, a darem o seu beijinho. - E é p´rá noiva! - E é p´rós padrinhos!...  

Também podia acontecer o leilão com o corte da gravata do noivo e a subida do vestido da noiva, isto quando o ambiente já estava mais descontrolado. E alguns noivos aproveitavam porque poderia dar para ir ao Algarve. Finalmente, despedidos os convidados, umas fotos para o quadro do quarto num qualquer jardim público, depois, xixi e cama.

No dia seguinte o jovem casal ia em lua de mel à praia a Espinho ou ao jardim do Palácio de Cristal ou ainda, se mais endinheirado, até Troia, ou mesmo ao Algarve. E não era para todos.

Era assim, e a coisa aos convidados ficava quase sempre barata, porque sabiam quanto em cada restaurante custava a despesa aos noivos. Era à certa, cabendo aos familiares um esforço suplementar para uma ajuda ao início da vida de casados. 

Mas em pouco tempo a coisa deu uma volta de 180 graus e os casamentos e bodas dos anos 70 e 80 parecem anedotas quando comparados com os de hoje.

Vieram as quintas, as quintarolas, os protocolos, os vídeos, os drones, os palhaços, as bandas, as casas dos queijos, dos enchidos, dos doces, das frutas,  das esculturas de melancias e abacaxis, fontes e cascatas de chocolate, corta-sabores, desemperra línguas, etc, etc.. No protocolo ou na etiqueta da indumentária, as madames são um S. Miguel para cabeleireiras e esteticistas. Usam um vestidinho na cerimónia, outro no almoço e outro ainda na ceia. 

Já a ida para a igreja é uma preocupação definir se de carro normal, se de Ferrari, se de carro clássico antigo, se de limousine, se de charrete puxada por cavalos ou póneis, se de mota, de bicicleta, de trotinete, etc, etc. A pé, como eu, ninguém vai!

Os convites com design de artista, de seda, papiro ou papel biológico, prendinhas e lembranças todas xpto, fotos dentro de corações, no lago, no baloiço, na bicicleta, etc. 

As cerimónias na igreja, quando as há, e há porque as igrejas, com padres e acólitos, são sempre cenários irrecusáveis, mesmo se os noivos não são de missas, são de arromba com flores importadas, arranjos dignos de um casamento da realeza inglesa, grupo coral contratado, o Avé Maria do Schuberth e o Aleluia do Cohen.

Quando o álcool começa a fazer das suas, há danças do pinguim, do comboio, do quadrado, do quizomba, do kuduro, do barão, etc, etc. Há banho de espumante e de champagne francês e no fim da noite o fogo de artifício, 

Nas redes sociais os noivos e convidados partilham tudo e mais alguma coisa e até agradecem e destacam a lista dos "patrocinadores" das flores, dos sapatos, dos fatos, dos vestidos, das cuecas, dos bolos, dos convites, do vídeo, das fotos, o operador do drone, o banda, o grupo polifónico, a menina do violino, o rapaz do piano, o hotel, a quinta, o chefe, o condutor da charrete, a agência de viagens, etc, etc. É uma produção e peras.

Uma orgia de felicidade e de coisas boas que enchem os corações e as almas, dizem! Os convidados pagam para comer numa tarde o que daria para comer num mês. Mas pagam, porque sacrifícios destes valem a pena. É um investimento duradouro e conteúdo para as redes sociais de fazer inveja.

Claro está, os convidados na maior parte dos casos pagam tudo isso e até mesmo a lua-de-mel num qualquer resort paradisíaco.

E isto é mau? Claro que não! É sinal que até o mais humilde casal, mesmo que com ordenados mínimos ou mesmo desempregado,  tem direito ao seu grande dia, à sua celebração.

Finalmente, uma outra grande mudança, significativa nestas coisas: A data do casamento já não é definida pelo casal ou pelo padre ou pela altura em que ambos têm férias. Quem a define é a agenda da quinta ou da quintarola. Nalgumas há listas de espera de anos, dizem! Espere-se, pois, que é o mais importante!

Tanta coisa e tanta mudança em tão poucos anos, digo eu, que quase me envergonho da minha boda de casamento, humilde, simples, caseirinha, mesmo em casa, sob uma tenda de pano florido, e da trabalheira em matar porcos, vitelas e uma capoeira inteira, para que nada faltasse aos amigos e familiares.

O dinheiro deve ter sido à certa para o que se comprou na mercearia e se pagou a quem serviu, porque não sobrou para ir à Torreira ou ao Furadouro, quanto mais à Madeira ou Puta Cana.

Uma voltinha nocturna ao bilhar grande de um parque de uma cidade nas redondezas, umas farturas ou um novelo de algodão doce para adoçar as bocas sedentes de beijos, e no resto, xixi e cama. Naquelas alturas a maioria das mulheres casavam virgens, mas isso poderia ficar para depois do cansaço do dia e da boda. Nem era o mais importante, e de resto paciência pelo dia D era o que se aprendia a ter  durante o namoro. Hoje, no geral, as coisas já vão adiantadas.

Abençoados tempos modernos e de fartura, onde "todos somos tão felizes" e os casais chegam "quase todos" a "bodas de oiro" e em que os divórcios contam-se pelos dedos das mãos. 

Ainda bem que há Facebook para nos testemunharem estas coisas, porque se não fossem vistas, contadas ninguém acreditaria.

Se alguém vai dizendo que "vivemos acima das nossas possibilidades", isso é pura má língua. Na realidade vivemos muito modestamente.

Mas ainda em tempos mais recuados, os nossos pais e avôs casavam-se, comiam uma refeição melhorada, com arroz de galinha, e no dia seguinte iam em lua de mel para a puta da vida, no campo ou no mato. Hoje, vão quase todos para a Puta da Cana, ou outros paraísos tropicais. Diferenças, para além da semântica e dos trocadilhos.

Abençoados tempos de fartura!

18 de agosto de 2022

A inflacção é uma treta

Contou-me, hoje, o Manel do Mindo, que ontem por volta das 21:00, porque atrasado por um biscate de última hora, a modos de grávida deu-lhe, a ele e à patroa, apetites por uma "francesinha". 

 Para não irem ao engano, ligou para quatro restaurantes onde o pitéu tem fama, e ainda para mais outros três, onde à falta da francesinha marcharia qualquer coisa que lhe pusessem no prato, mas qual quê? O Wimpy, em Sanguedo, àquela hora tinha  gente à espera e a cozinha fecharia pelas 10. Os restantes, que nem pensar, porque estavam cheios e a abarrotar.

Ora o Manel, porque ainda ligou para mais dois mas ninguém atendeu, a modos de férias sem precisar de facturar,  depois de uma valente rodada de impropérios, lá decidiu, com a patroa, recolher aos aposentos domésticos e preparar uma saladinha de tomates com atum. Bem bô!

Moral da história (verdadeira), esta cena da inflacção, preços altos e dificuldades e coisa e tal, é apenas um ar que lhe deu. No geral, o povo está todo bom de saúde (graças a Deus!), incluindo a financeira. Tudo a assapar!

Cozinhar em casa numa quarta-feira? Esquece!

15 de agosto de 2022

Aperta, aperta com ela


Da recente polémica com a gravação de um videoclipe do cantor José Malhoa defronte da igreja matriz de Cortegaça, basta ler alguns comentários nas redes sociais para perceber que hoje em dia não há meios termos nem razoabilidade nas discussões e apresentação de pontos de vista. Há literalmente dois lados da barricada e os argumentos de uns e outros são igualmente extremados e todos se indignam. Apanha por tabela o artista, os padres, a igreja e até o autarca.

Uns defendem que houve abuso e banalização da imagem de um templo religioso como cenário de um cantor de matriz brejeira, e que não raras vezes banaliza nas suas cantigas as figuras a ela ligadas. Nos entretenimentos de José Malhoa, os padres e os sacristãos andam pelos bailaricos a incentivar namoricos, a "apertar com elas” e a obrigar a "rezar porque se ajoelhou".

Outros, mais receptivos a pimbalhadas do que a missas, coisas religiosas e espirituais, defendem o cantor e atacam a Igreja e os padres, "todos uma cambada de pedófilos", sem moral para criticar o inocente Malhoa. Depois, quanto a autorizações ou licenças, parece que toda a gente autorizou e até incentivou a coisa. Há-de haver sempre alguém que julga decidir por todos.

Mas por mim, sobretudo quanto aos mais extremistas, que fiquem a discutir uns com os outros, porque a burros não se deve dar conversa mas palha. Mas sempre digo, porque também tenho opinião, e porque venho do tempo em que me ensinaram que o respeitinho é sempre bonito, cada um deve ocupar o seu lugar. Misturar alhos com bugalhos é que não é de bom senso. Um fio de esparguete é tão inconveniente numa cabeleira como um fio de cabelo no meio de uma "bolonhesa".

Por conseguinte, José Malhoa fazer-se filmar com as suas "acólitas" frente a um templo religioso tem o mesmo cabimento que um coro gregoriano fazer-se filmar no Moulin Rouge.

Mas há quem ache tudo normal e que daí não vem o mal ao mundo e que só por isso tudo se justifica. Certamente que não vem, mas, repito, quando as coisas são feitas com bom senso e respeito por todas as partes e de forma contextual aos propósitos, as coisas funcionam melhor.

De resto, este mal da brejeirice se misturar com a religiosidade é velha e não é apenas de agora e o mal é geral. Tomemos como exemplo a recente actuação dos  "4Mens" na festa do Viso: Sem dúvida que proporcionaram um bom momento de entretenimento, mas o seu grau de brejeirice e mesmo de ordinarice rasca nos seus sketchs ditos “comédia “, não se coaduna de todo com o contexto de uma festa religiosa. Mas porque o povo gosta, ri e bate palmas, tudo parece estar bem e o êxito mede-se sempre por aí. 

Creio que é possível numa festa de base religiosa ter um programa de entretenimento e qualidade artística sem cair no facilitismo da excessiva brejeirice e ordinarice. Por conseguinte, qualquer comissão de festas deve ter sempre algum cuidado na escolha do cartaz, porque numa festa religiosa e de identidade de uma freguesia, há muitas sensibilidades em jogo. Não é propriamente um festival de verão ou um parque temático onde vai quem quer, gosta e paga para isso. De resto, o que não faltam é bons grupos e bons artistas onde a sua qualidade intrínseca não depende de bailarinas esbeltas em movimentos insinuantes, de anedotas ou sketchs ordinários.

Mas este é e será sempre um tema polémico e contraditório, porque a banalização ou mesmo subversão de certos valores, incluindo os da religiosidade de uma festa de aldeia, está em curso já há muito.

Assim, em remate, importará sempre, parece-me, que haja bom senso e equilíbrio nas escolhas e nas decisões. A opção por situações de ruptura e confronto não é de todo positivo. Hoje em dia as sensibilidades estão todas em ponto de caramelo e basta uma gota para fazer transbordar o copo da indignação.

10 de agosto de 2022

Coisas de regedores e foucinhas

Na minha pesquisa relacionada aos apontamentos sobre os regedores em Guisande, que como já confidenciei por aqui, tenciono incluir no livro que pretendo publicar lá para o princípio do próximo ano, tenho falado com os mais velhos e escutado histórias curiosas e mesmo divertidas. Algumas serão naturalmente como os contos, em que, conforme vão sendo contadas, alguém sempre lhes acrescenta um ponto.

É claro que por razões óbvias não interessa nem importa referir nomes e os aqui usados são fictícios. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência, como é costume avisar. É certo que os intervenientes já partiram, mas há familiares que poderiam ficar melindrados. Mas, o mais importante, o essencial, é que fiquem registadas as particularidade deste nosso género humano, tão rico em diversidade de personalidade, do ser e do viver.

Assim, conta-se que um certo guisandense, com fama e proveito de ser amigo do alheio, apesar de ser uma alma mansa e pacífica, terá "mudado" de lugar uma certa alfaia agrícola, no caso uma foucinha, artefacto imprescindível ao corte de ervas, centeios e aveias nos campos ou mesmo corte das canas do milho  após a colheita das espigas. 

O dono, o lesado, desconfiado do larápio do costume, queixou-se ao regedor, homem austero e experimentado com as coisas da vida e conhecedor do dia-a-dia das suas "ovelhas" e suas manhas. Ora o regedor,  após o final da missa, dirigiu-se calma e pacatamente a casa do suposto subtractor. Bateu na porta fronha e logo depois, da negrura do quinteiro assomava a figura de quem procurava, no seu aspecto franzino mas vivaço.

- Ora viva, Sr. regedor! A que devo o prazer da sua visita?

- Ouve lá, ó Justo! Devolve-me a foucinha do Ti Correia, que ele amanhã vai cortar centeio e precisa dela - Ordenou em voz grave e austera.

- Tá, bém, tá bem, tá bem! - respondeu o Justo num tom apaziguador procurando amansar o ar autoritário do regedor. - Mas, Sr. regedor, venha ali comigo!

Dirigiu-se a uma barraquita ao lado da capoeira e ali estavam penduradas na velha parede uma dúzia de foucinhas e outras alfaias, que mais parecia uma tenda de ferreiro na Feira dos Dezoito.

- Qual será destas, Sr. Regedor? Qual será destas? - perguntou nervosamente o Ti Justo. 

- Mas então tu não sabes a que roubaste? Achas que eu sou entendido em foucinhas e que conheço todas as foucinhas da freguesia? - ripostou o regedor, já a perder as estribeiras com aquela humilde descaradeza  do Justo.

- Tá, bém, tá bem, tá bem! Deve ser esta! Deve ser esta! É mesmo esta! Até tem a marca com o nome do Correia! - respondeu com ar de entendido, enquanto pegava na foucinha, quase nova, e a devolveu ao regedor.

O regedor, habituado a estas tropelias do Justo, pegou na foucinha, virou costas, mas antes de transpor as portas fronhas, voltou-se e sentenciou! - Olha lá, não me obrigues a voltar cá por causa de foucinhas, que eu tenho mais que fazer!  Além disso, para que raio queres tu tantas foucinhas?

Respondeu-lhe o mãos levezinhas, encolhendo os ombros estreitos: - Sabe, Sr. Regedor, nestas cousas é melhor ter a mais que a menos! É! É melhor a mais que a menos! - repetiu, encolhendo novamente os ombros, justificando-se.

25 de julho de 2022

O meu comandante é cor, cor, cor, ...coronel da infantaria


Há dias um amigo confessava-me que em termos de relações as coisas andam esquisitas nas redes sociais. Que vira um velho conhecido seu com uma raparigota nova ao lado e que, comentando, lhe dera os parabéns por certamente ser um pai babado. Mas desse velho conhecido, que não via há uns anos, recebeu a informação de que, afinal, divorciara-se e aquela que parecia sua filha, era a sua nova companheira e com quem cavalgava novas aventuras.

Ficou perdoada a gaffe do meu amigo, mas este jurou não comentar mais este tipo de coisas. É que hoje veem-se pessoas a exporem-se desbragadamente, entrelaçadas, a declararem mutuamente um amor tão profundo e intenso que parece que vai ser eterno e chegar, no mínimo às bodas de ouro. Mas, pasme-se, dali a nada, a reviravolta, o mesmo enredo, e com a mesma lata as mesmas juras e declarações, mas a outros ou a outras. 

Portanto, em resumo e como lição, é melhor não comentar relações nem quadros de gente que se mostra apaixonada, porque a coisa por regra dura tanto como manteiga em nariz de cão.

É melhor fazermos de conta que, apesar da coisa ser com pessoas reais, as suas vidas e os seus amores, são como as encenadas e exibidas numa qualquer novela. Mas não falta quem goste de novelas e jure que são reais.

E a coisa calha a todos porque, vá lá saber-se porquê, não nos livramos dos telhados de vidro. Mas quem mais sobe e se expõe, mais se sujeita a cair com estrondo no chão do ridículo. Bom senso e discrição nunca fizeram mal.

Quem também percebe disto, é o meu amigo Luís B. que ainda há pouco viu um velho coronel, seu comandante na tropa, fardado e de pose militar, a lamentar-se por ter sido enxotado pela companheira de um casamento de décadas, trocando-o por um antigo namorico. Não havia necessidade de esperar pelos setenta e muitos para encornar o garboso militar. Ademais, para além da espada de prata, como todos os militares tinha uma boa e choruda reforma, coisa que agrada às mulheres. De pouco lhe valeu.

Mas as coisas são mesmo assim. As redes sociais são a antítese das velhas casamenteiras da aldeia e estão aí para abrir portas e janelas de forma vergonhosamente descancarada a novas relações e aventuras.

Quanto ao velho e brioso coronel, mesmo lamentando a situação, que não se afunde em lágrimas, que vá para o Tinder ou mesmo para o Facebook, cúmplice da traição, e um dia destes o Luís B. ainda lhe vai dizer que é um pai babado.

Love is in the air.

22 de julho de 2022

Gente jovem, bonita e feliz


Não sei se já repararam, mas eu que até fujo da publicidade televisiva como fugia o José Pratas dos jogadores do F.C. do Porto, já reparei: Os spots publicitários, nas diferentes situações já nos mostram casais homossexuais, inter-raciais e outras modernas combinações que até há pouco eram desconsideradas.

Está na moda e como na cantiga dos adeptos do futebol "...e quem não salta não é da malta", temos todos que saltar e estar contentes e maravilhados por esta onda de inclusão sem preconceitos de género, orientação sexual, de raça, credo, etc. Por mim, não me aquece nem arrefece. Limito-me a respeitar, porque no fundo tudo se deve resumir a isso. 

O mercado publicitário nunca se compadeceu com valores para além dos puramente comerciais, do marketing, do vender o produto, mesmo que gato por lebre. Por conseguinte, sempre foi eficiente a ajustar-se às modas e às tendências e como tal não surpreende a nova onda.

Apesar disso, não sei se também já repararam, e porque quase nunca é tema criticado e não está na ordem do dia, quase todos os anúncios metem gente jovem bonita e sorridente e raramente idosos, a não ser nos intervalos e espaços que antecedem programas como o "O Preço Certo", em que se se vendem carrinhos Egiros, plataformas elevatórias, aparelhos auditivos, cola para dentaduras, pensos para incontinentes, calcitrins, etc, etc. Muito raramente ou quase nunca vemos velhinhos em anúncios de pastas de dentes, de iogurtes, de telemóveis, shampôos, automóveis, etc, etc. 

Bem sei que a coisa designa-se por "target", por "público alvo". Ou seja, nós, consumidores, somos meros alvos a quem a publicidade tenta acertar na mouche. Mas, que raio, os idosos também comem iogurtes, bebem refrigerantes, usam telemóveis, usam perfumes, etc, etc. 

Em resumo: A coisa já mete casais homossexuais mas os velhinhos esses continuam discriminados. Importa, aos anunciantes e agências de publicidade meter gente jovem, bonita e feliz. Esse é o padrão. Gente velha, com rugas, gordos, sem cabelo, não vão lá. Nem mesmo face à realidade de que temos um país de gente envelhecida. Ele há coisas!

Assim, importa não perder o foco e tratar a publicidade com o valor que tem: Pouco ou nenhum e apenas como instrumentos de venda e promoção em que se tenta influenciar a decisão de compra. Os seus valores são muitas vezes baixos e questionáveis. Mas quem liga aos valores? Mandam as modas!


[foto: marcas.meioemensagem.com.br]

21 de julho de 2022

Malhar em ferro frio


A malta irrita-se mas não há volta a dar. No geral falamos mal e escrevemos pior. Tenho-o dito e escrito, até de forma persistente, mas é tarefa ingrata, senão inglória, bem justificada pela máxima popular de que "lavar a cabeça a burros dá trabalho e gasta sabão". Mas prometo que vou continuar a gastar sabão, já que o sabonete é bem mais caro e só deve usar-se em cabeças de burros finórios.

Podemos todos ter mil e uma desculpas para esta nossa quase ileteracia, ou, bondosamente, azelhice, mas creio que todos, pelo menos de há meio século a esta parte, andamos na escola, tivemos as mesmas oportunidades de aprender. E os velhos professores, pouco ou muito ao contrário dos novos, até nem davam moleza nessa trilogia do saber ler, escrever e falar. Ah, pois, e as contas... Mas essas, as contas, são outras contas.

Por conseguinte, se não lemos, escrevemos e falamos bem, ou pelo menos benzinho, é porque disso nunca fizemos questão. Que importa trocar os "vês" pelos "bês", mesmo não se sendo tripeiro? Que importa saber se aquele pequeno fruto doce e sumarento é cereja ou cereija ou mesmo sereija? A quem interessa que não se deva dizer "houveram pessoas" em vez de "houve pessoas", porque o verbo "haver" é impessoal e só se conjuga na terceira pessoa do singular, nas frases em que o seu significado equivale a existir? Ainda, serão poucos os que se preocupam se forem pedir um"concelho" ao presidente do "conselho".  O autarca até poderá nem dar pela troca desde que o munícipe lhe garanta o "boto". Ademais, se a coisa estiver amarga, adoça-se com açúcar ou "assucar", com ou sem "acento" porque o "assento" dá jeito ou "geito" quando estamos cansados desta conversa, ou será "converça" ou mesmo "comberssa" ? Estamos conversados ou pelo menos "comberssados".

Mas como somos bons nas desculpas, desculpamo-nos sempre. Como diz o bom português, principalmente o que escreve mal, "não é por isso que não nos entendemos!" Pois não! E se assim nos entendemos, "bora lá, a continuar a escrever mal!" e se nos servir de consolo ou "conçolo", não estaremos sós nesta demanda. Esta do "bora" usada por tudo e por nada, quase parolamente, também dá que falar e dará pano para mangas.

Em resumo, alguns de nós leem jornais, outros livros, outros ambos, mas, no geral, e sempre não generalizando, a maioria não lê uns nem outros e muito menos com a preocupação de aprender ou reaprender. Ora quem não lê nem escreve de forma rotineira e interessada, não exercitando, dificilmente fala, lê ou escreve bem. Vemos muita malta a correr e a saltar com frequência, "para manter a forma física", o que é positivo, mas já quanto ao "manter a forma" a ler e a escrever, esquece ou mesmo "esquesse". Somos muito esquecidos ou "esquessidos", talvez devido ao "eixesso" de "keijo".

Para além de tudo, mesmo, lendo e escrevendo mal, somos também uns mestres no uso e aplicação de estrangeirimos, sobretudos os anglicismos, empregando-os por tudo e por nada. Como exemplo, é ver o que por aí vai no mundo dos eventos e provas desportivas: Eles é run, trails, trophy, challenge, etc. Se não tiver um nome ou uma designação em inglês, a coisa não será fixe porque "démodé". Voilá!

Last man standing! I'm out!

30 de junho de 2022

Furiosamente fixe


Portugal parece estar na moda como local e cenário para filmagens de cenas de exterior para diversos filmes. O caso recente de "Velocidade Furiosa 10", com cenas a gravar em Portugal, tem sido público e já deu azo a polémicas, nomeadamente em Lisboa, com o corte previsto de ruas.

O país, pelo Estado ou pelas autarquias, investe milhões em incentivos à vinda destas produções e dizem que o retorno é superior. 

A verdade, porém, porque há números e aspectos contratuais que serão sempre segredo, em rigor qualquer proveito é sempre residual e apenas para alguns. O comum dos portugueses, como eu e quem eventualmente lê estas palavras, nunca verá no seu bolso um cêntimo que seja resultado da coisa.

Depois há sempre uma certa (muita) parolice só porque alguns locais do país são palco de filmagens. Na realidade, as cenas destes filmes, como o caso de "Velocidade Furiosa", são sempre muito rápidas e curtas e muitas delas alteradas digitalmente pelo que em rigor quando alguém assiste ao filme não vai estar a apreciar a paisagem e muito menos saber que é de Portugal, Itália ou de outro sítio qualquer. Um dia de filmagens pode resultar numa cena de 5 segundos. Vai é ver tiros, muitos, explosões, a potes, choques à fartazana, etc, etc. De resto o "Velocidade Furiosa" é tudo menos cinema para apreciar a natureza. Para isso, temos o BBC, Vida Selvagem ou o National Geographic.

Mas, ok, vamos fazendo de conta que é uma coisa fixe ter cá o Vin Diesel e Companhia, e que Portugal e todos os portugueses ganham balúrdios de massa com isto. Pessoalmente estou a contar que me dê para pagar umas férias de sonho numa qualquer ilha paradisíaca.Não quero por menos. Obrigado Toretto!

Mas, ok, agora a sério: Apesar de não ser o que parece, não deixa de ser positiva esta exposição mediática do nosso país, com uma indústria que rende milhões e milhões a vir cá aproveitar incentivos, serviços e mão-de-obra baratucha. Com este mediatismo, de algum modo, há sempre excursões a quererem vir ver as novidades, e por onde passam vão deixando algum, no Porto e em Lisboa, sobretudo. 

Pena que Guisande não seja palco de filmagens, nem sequer do Domingão da SIC.

Tretas! Bullsith!

1 de junho de 2022

Janela de oportunidade

Por vezes pensamos que os livros são coisas sérias, diferentes dos média, jornais, revistas, rádios e televisões, nas abordagens aos acontecimentos do escorrer dos dias. 

Um jornal compra-se e no dia seguinte está desactualizado e acabará no papelão, modernamente, porque noutros tempos teria um outro aproveitamento, a forrar gavetas e prateleiras ou mesmo a substituir o então desconhecido papel-higiénico na limpeza do "sim senhor". Na televisão vamos fazendo zaping para evitar ou encontrar o Nuno Rogeiro ou outros especialistas do achismo e das táticas e estratégias de guerra.

Mas não! Eventualmente em menor escala, é certo, mas os livros, e sobretudo as editoras e os autores, têm igual tendência ou tentação de ir ao sabor do vento da actualidade. Não, espanta, pois, que nas prateleiras das livrarias, nos escaparates das grandes superfícies ou nas lojas online, o tema da guerra, da invasão da Rússia à Ucrânia e os seus protagonistas, estejam na ordem do dia. De Zelensky a Putin, tudo está ali. Até o "caralho" do José Milhazes, conhecedor da coisa, também escreveu um livro "A mais breve história da Rússia - Dos eslavos a Putin", que dizem estar a vender como pãezinhos quentes com manteiga.

Por conseguinte, quem tem a capacidade de escrever um livro em dois ou três dias pode aproveitar e bem esta "janela de oportunidade" relacionada ao tema. Os livros são assim, iguais a tudo o resto porque, afinal, são feitos por pessoas e em regra com o propósito primeiro de ganhar dinheiro. Ainda como na televisão, o que é feito de forma séria, calma e cultural, isso pouco rende porque não capta audiencias.

Estas coisas só resultam no imediatismo. Quem escrever amanhã sobre a guerra, já vem tarde!

13 de maio de 2022

Vamos ajudar o Fernandinho e a malta da bola


"De acordo com a edição desta semana do Expresso, a Autoridade Tributária declarou que Fernando Santos tem uma dívida de €4,5 milhões ao fisco. Em causa está a forma como o Selecionador Nacional recebe o salário da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

Durante os anos de 2016 e 2017, o treinador terá recebido, através de uma empresa, €10 milhões da FPF, mas declarou e pagou IRS sobre um salário anual de 70 mil euros, que equivale a cinco mil euros mensais, encontrando-se em falta a tributação relativa ao restante montante. A referida empresa, chamada Femacosa, foi criada em janeiro de 2014 e serviria para encapotar o valor remanescente do salário de Fernando Santos. Também os treinadores-adjuntos terão utilizado o mesmo esquema para receberem os respetivos salários sem os declararem ao fisco na totalidade.[Fonte:A Bola]"

A coisa pode vir a dar em nada (até porque não importa mexer com a nossa querida selecção e com o nosso inestimável treinador que venceu o Euro e a Liga das Nações) e o Fernandinho até acabará por ter razão e receber o que acha que, indevidamente, pagou o reclamado pelo guloso do Fisco. 

Em todo o caso, o que espanta nesta gente do futebol profissional, mesmo em Portugal, é a facilidade com que recebe milhões. É mesmo gente de trabalho. Devem trabalhar as 24 horas do dia, domingos, feriados e dias santos e mesmo assim...

De algum modo dá pena, ou talvez não, perceber que os que fazem o povo, os que ganham salários mínimos ou pouco mais, lá vão todos contentinhos ver os jogos, comprar lugares cativos, acompanhar as equipas e a selecção, pagar a Elevens Sports e Sports TV, e entusiasmar-se com a coisa e com esses artistas que ganham balúrdios de milhões.

É assim mesmo. Ajudar quem precisa! Um bom adepto e sócio gosta de pagar, e quer lá saber se é para ajudar a pagar principescamente a alguém. Pelo contrário, se alguém lhe bate à porta a pedir uma esmola, é escorraçado ou, para não chatear, despede-se com uma moeda preta.

Quanto ao Fernandinho, se necessário for, faça-se um peditório nacional para o compensar. Afinal, porra, são 4,5 milhões e o homem precisa de comer, e depois do Qatar deve querer ir para a reforma e, como se sabe, a reforma neste país só é boa para malta da política e das armas.


[foto: Record]

6 de maio de 2022

Nos antigamentes

Nos antigamentes a criançada corria para a escola, corria para os campos, corria para os matos, mas corria  porque fazia parte do dia-a-dia de quem fazia pela vida a ajudar os pais e os manos mais novos. 

Corriam as crianças, e muito, nos recreios e em brincadeiras nos largos dos lugares, atrás de uma bola, de um cão, de um pau ou delas próprias. Jogos como o futebol, as escondidas, a cabra-cega, o caçador, o pica-pau, a macaca, etc, ajudavam a isso.

Mas vieram os tempos modernos e hoje ver uma criança correr, com sapatilhas da Nike e outras que tais, com roupinhas de marca, numas quaisquer provas, é obra e merece reportagem e fotos para o álbum de família e estampar nas redes sociais.

Nada a obstar, pois que o exercício físico é elementar ao corpo e à alma, mas a modernidade e a semântica das palavras tem destas coisas e todos os dias há anúncios de que a pólvora acabou de ser inventada. 

Uma criança a correr? Ufa! Olha que coisa mais fixe, mesmo incrível!

26 de abril de 2022

O 26 de Abril deveria ser feriado

O 26 de Abril deveria ser feriado. É que o 25 de Abril é um feriado cansativo, com muito protocolo, cerimónias solenes, discursos, cravos na lapela, marchas, grândolas, etc, etc. 

Ainda ter que apanhar com o extremista e  idiota do Ventura e o canto do cisne dum PCP em agonia, é dose a mais. 

Os políticos foram quem mais ganharam com o 25 de Abril e todos os anos temos que apanhar com eles, bem dispostinhos na suas vida fartas, como se fossem os baluartes e garantes da liberdade, direitos e garantias. O tanas. 

O povo anda a cantar desde então que unido nunca mais será vencido mas vencido é todos os dias porque já com mais tempo de liberdade do que ditadura, ainda tanto continua por cumprir e daqui a outros 50 anos ainda vamos andar nisto sempre cerimoniosos, sem liberdade e independência plenas porque endividados publicamente até às orelhas.

Não fosse outro 25, o de Novembro, e a liberdade talvez fosse uma quimera, porque em rigor quem fez o de Abril teve sempre como propósito primeiro um sentido militar corporativista e, logo depois, inverter a ditadura, resgatando-a da direita para encaminhar para a esquerda. Felizmente a liberdade e a democracia escaparam dessa garra em 25 de Novembro e daí talvez se justificasse mais que fosse esse o feriado e Dia da Liberdade e Democracia. Mas dizem, certos fosquinhas, que a coisa é fracturante e que não interessa nela mexer porque levanta a casca de certas feridas. 

Finalmente, como uma boa parte dos portugueses festeja o 25 de Abril, dia da Liberdade, como o Dia do Turismo, sobretudo quando o calendário permite uma ponte ou extensão do fim-de-semana, a coisa torna-se mesmo cansativa. 

Proponha-se, pois, o 26 de Abril a feriado nacional.

19 de abril de 2022

Contrato de telecomunicações e azeitonas


Pois é, com o meu contrato a terminar no próximo mês, têm sido mais que muitos os contactos e propostas, tanto das próprias operadoras concorrentes como de agentes comerciais em nome delas. 

O curioso é que por parte da minha actual fornecedora e de há anos, a proposta seja a menos vantajosa quanto a condições e mesmo a mais cara, ultrapassando o valor do actual contrato, para além de que, dizem, só podem fazer melhor proposta para novos clientes.

Ou seja, para os bons e velhos clientes, que cumprem os contratos e pagam sem atrasos, a política é de desrespeito e desconsideração. É o que parece.

Seja como for, isto de optar pela melhor operadora e pela melhor relação de condições /preço é um cabo dos trabalhos para além de aturar os agentes com uma comunicação agressiva que procuram que as decisões sejam tomadas na hora. 

É como num restaurante pedir orçamento para uma refeição e os preços diferem conforme o número e o tipo de azeitonas da salada ou se o ovo é ou não passado dos dois lados. 

Uma das bases para comparar preços é obviamente que as condições sejam rigorosamente iguais. Ora isso, por mais que deixemos vincado o que pretendemos a quem nos contacta, é uma missão quase impossível pois um apresenta como opção azeitonas pretas, outro azeitonas verdes e outro nem uma coisa nem outra, sendo que descaroçadas e com recheio de pimentos . 

... contar azeitonas dá muito  trabalho.

10 de março de 2022

Ad perpetuam rei memoriam


A sério que não gosto de partilhar e replicar "memes" que já andam por aí há cagalhiões de tempos pela internet, sobretudo pelo Facebook. Mas, mesmo assim, há coisas tão bem escavacadas e quase certeiras que apetece partilhar mais uma vez, ou mesmo guardar para "ad perpetuam rei memoriam".

Neste caso, o autor, que em rigor se desconhece, entre alguns naturais exageros e alguns números já desactualizados, acerta mesmo em muitas das situações elencadas em que supostamente pretende criticar os paradoxos e contradições do nosso Estado, do português, pois claro.

Agora é moda, não faltam sites de verificação de factos (Fact Checks), que se especializam em descobrir as caraceas de muitas notícias e mensagens, mas, sob pena de andar distraído, certo é que ainda não vi o conjunto de afirmações partilhadas abaixo serem devidamente analisadas e comprovadas ou desmontadas. Pessoalmente analisei algumas que batem certo e outras são tão evidentes que dispensam qualquer fact-check.

Segue-se, pois, uma boa lista de paradoxos e contradições tão próprias deste nosso querido Portugal.


 -Uma adolescente de 16 anos pode fazer livremente um aborto mas não pode pôr um piercing. 

- Um jovem de 18 anos recebe 200 € do Estado para não trabalhar; um idoso recebe de reforma 236 € depois de toda uma vida do trabalho.

-O marido oferece um anel à sua mulher e tem de declarar a doação ao fisco; O mesmo fisco penhora indevidamente o salário de um trabalhador e demora 3 anos a corrigir o erro.

-Nas zonas mais problemáticas das áreas urbanas existe 1 polícia para cada 2000 habitantes; o Governo diz que não precisa de mais polícias.

-Um professor é sovado por um aluno e o Governo desculpa-se que é das causas sociais (O professor defende-se e é´considerada  agressão ao aluno e é suspenso ou demitido)

- O café da esquina fechou porque não tinha WC para homens, mulheres e empregados. No Fórum Montijo o WC da Pizza Hut fica a 100 mts e não tem local para lavar mãos. (onde está a ASAE?)

- O governo incentiva as pessoas a procurarem energias alternativas ao petróleo e depois multa quem coloca óleo vegetal nos carros porque não paga ISP (Imposto sobre produtos petrolíferos).

- Nas prisões são distribuídas seringas gratuitamente por causa do HIV, mas é proibido consumir droga nas prisões!

- Um jovem de 14 anos mata um adulto, não tem idade para ir a tribunal. Um jovem de 15 anos leva um chapada do pai, por ter roubado dinheiro para droga, é violência doméstica!

- Militares que combateram em África a mando do governo da época na defesa de território nacional não lhes é reconhecido nenhuma causa nem direito de guerra, mas o primeiro-ministro elogia as tropas que estão em defesa da pátria no Kosovo, Afeganistão e Iraque, entre outros locais.

- Começas a descontar em Janeiro o IRS e só vais receber o excesso em Agosto do ano que vem, não pagas às finanças a tempo e horas e passado um dia já estás a pagar juros.

- Fechas a tua varanda e estás a fazer uma obra ilegal, constrói-se um bairro de lata e ninguém vê.

- Se o teu filho não tem cabeça para a escola e com 14 anos o pões atrabalhar contigo num ofício respeitável, é exploração do trabalho infantil,

- Se és artista e o teu filho com 7 anos participa em gravações de telenovelas 8 horas por dia ou mais, a criança tem muito talento, sai ao pai ou à mãe!

-Numa farmácia pagas 0.50€ por uma seringa que se usa para dar um medicamento a uma criança. Se fosse drogado, não pagava nada!

Divulgada a lista, posso facilmente eu próprio arranjar mais uma série de boas contradições, mas fico-me por por apenas mais algumas sob pena de se tornar fastidioso:

- No PDM de Santa Maria da Feira, a zona do Monte de Mó era uma ampla extensão de zona verde abrangendo território de Guisande, Romariz, Vale e Louredo, onde não se podia edificar um curral ou um galinheiro; Actualmente passa lá uma auto-estrada e existe uma subestação eléctrica e uma plantação de postes e torres metálicas. Um parque electromagnético um bocadito maior que um curral de ovelhas, diga-se.

- No licenciamento de uma habitaçáo reprova-se o projecto por uma soleira ter 3 cm quando devia ter 2 e nas instalações do Tribunal da Feira, as soleiras têm 15 cm, e na larga maioria dos edifícios de serviços públicos pelo país fora  não são cumpridas as regras impostas aos privados.

- Em Santa Maria da Feira, há pessoas que dispensavam as ligações e fornecimento de água e esgotos e são obrigadas a tê-las e a pagá-las, mesmo não as usando; Em contrapartida há pessoas que gostariam  de ter e ser servidas pelas mesmas redes mas a concessionária não as realiza. Em Guisande há situações dessas.

- Em Santa Maria da Feira há utilizadores que pagaram forte e feio pela instalação das ligações às redes de águas e esgotos e a partir de determinada altura deixou de ser obrigatório para os demais, não sendo ressarcidos os primeiros. Uma exemplar democraticidade e direito constitucional de igualdade.

- Atrasei-me num dia no pagamento do IUC (imposto de circulação) e na volta do correio já paguei a coima; Fiz um serviço de perito avaliador para um Tribunal e só recebi os honorários ao fim de quase dois anos, sem qualquer juro de mora e sujeito a IVA e IRS.

- Fui alvo de roubo de uma conta em serviço de vendas, cujo ladrão procurou vender em meu nome, de forma enganosa, um bem móvel. Fiz queixa às autoridades e mesmo disponibilizando dados e contactos (telemóvel e conta bancária) do larápio, as autoridades nunca o procuraram nem incomodaram e a mim convocou-me várias vezes de forma intempestiva e autoritária para ir prestar declarações à sede da Judiciária ao Porto. De vítima a criminoso, acabei por desistir da queixa.

E fico-me por aqui. A lista de contradições seria longa.

28 de janeiro de 2022

Da Série: "Olhai para o que o Boris diz e não para o que o Johnson faz"


Quando na campanha eleitoral vemos arruadas com todos ao molho, incluindo políticos em ombros, e depois recebemos indicações oficiais para no processo eleitoral, nas secções de voto, respeitarmos o distanciamento e coisa e tal. 

Isto é brincadeira, gozo ou andamos todos na pré-escola?

21 de janeiro de 2022

O Abel não tem apps

O Abelzinho da Nanda anda desactualizado. E isto porque, ignorante ou analfabeto digital, não usa as redes sociais nem apps.

Já quase na reforma, corre desde há longos anos, e para ele fazer 10 Km em 50 minutos ou 20 em 100, é canja. Por vezes, conforme a gana, tanto vai mais lento como mais rápido. Apenas porque sim, literalmente a cagar-se para as médias, ritmos ou recordes pessoais. Não vai para o cú de Judas participar em provas ou em trails porque tem boas estradas e melhores caminho perto de casa. A gasolina está cara!

Mas, cá está, poucos sabem disso, porque não usando apps para registar a coisa, nem redes sociais para a divulgar, não tem a preocupação de apregoar ao mundo e arredores as suas corridas e os seus resultados. 

Soubesse ele que isso é moda e a cereja no topo do bolo de alguns egos, e poderia tentra-se a abrir contas no Facebook, Instagram ou Twitter. Mas não e ninguém o convence disso e como ele corre como quem respira, não vê daí, de todo, qualquer façanha ou acto extraordinário a ponto de andar a fazer inveja aos amigos com coisa tão vulgar. Não o fez quando subiu de calções e galochas a um eucalipto para atacar um exército de vespas asiaticas e ía lá agora dizer à malta que Roma a Pavia não se fizeram num dia, como se tivesse agora inventado a roda ou descoberto a pólvora.

Mas o Abel da Nanda é assim. Tão humilde quanto magricela, corredor à moda antiga, sem roupa ou calçado de marca, e por isso não espanta que seja visto por aí a papar quilómetros como um galgo atrás da raposa. Mas destesta que o vejam e foge das ruas principais como o diabo da cruz, para que não lhe apitem e porque prefere respirar eucaliptol e louro a fumaça de escapes.

O Abel não tem apps, telélé no braço nem lanterna na cabeça, mas tem pés e noção de que não faz nada de extraordinário a ponto de envaidecer-se com a coisa. 

Espécie rara, este Abel, desenquadrado do que está a bombar!

16 de janeiro de 2022

O balancé da Sóbrinca e os matraquilhos


Dos debates televisivos para as próximas Eleições Legislativas, assisti a espaços e apenas alguns. De resto é tão apelativo ver estas coisas como ouvir um antigo balancé da Sóbrinca a cortar tubos.

Como já disse alguém, em vez dos debates propriamente ditos, poderiam ser jogos de matraquilhos e ali via-se a real habilidade de cada um e de cada uma.

Assim não sendo, coube a alguns jornalistas da nossa imprensa fazerem a análise e determinarem vencidos e vencedores. Mas nestas coisas, e sabendo-se como se inclina no geral a nossa imprensa, a isenção desta gente é quase como ver um Francisco J. Marques a analisar um jogo do Benfica ou o Paulo Guerra a esmiuçar um jogo do Porto.

Posto isto, considero que no geral estes debates pouco ou nada servem e menos esclarecem porque em rigor todos sabemos ao que vêm e por que linhas se cosem. 

De resto, nestas coisas de eleições, decidimos as coisas de forma muito clubista e quase nunca admitimos que do nosso lado a coisa está fraca.

No meu caso, se algum efeito produziram os debates, é o de uma tentação de fazer parte dos 60% de abstencionistas, mais coisa menos coisa.

Mas com jeitinho, e porque dizem que é um dever e um direito, até maior que as questões da saúde pública, em que os isolados pela Covid têm direito a umas horas de folga, pode ser que sim.

18 de dezembro de 2021

It´s raining likes, hallelujah

Parecendo que não, o Alcininho entrou nos sessenta. Parecendo que sim, está já na reforma. Assim, com todo o vagar do mundo, num destes dias, bem cedo, encheu o alforge de bananas, besuntou a próstata de Halibut, montou a bike a toca a subir até Arouca. Partindo das Caldas, aos 40 minutos já passava ao Júlio. Num ritmo vivo, numa hora e um quarto e picos estava à sombra do Convento. 

No regresso, já embananado, mais ou menos outro tanto. Verdade, verdadinha, e uns trocados, acabou por fazer uma média de 25. Orgulhoso  e vaidoso, lá deu a noticia ao mundo na sua página do Facebook e Twitter. Mas, com pena e desilusão, os likes contaram-se pelos dedos de uma mão. 

Lamentou-se à cara-metade pelo desinteresse dos amigos, ele que noutros tempos dava um peido digital e choviam likes e que agora, que se esforçava, era ignorado. A Alzira, desbragada como de costume, disse-lhe: - Ó home, tens de subir ao Camouco, caralho! E um dia deste vais comigo ao P.I.T.O. Vais ver o que é chover likes!