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29 de julho de 2019

Grafismo do cabeçalho do jornal "O Mês de Guisande"

Em qualquer jornal, do mais simples e local ao mais sofisticado e global, o grafismo do título ou o seu cabeçalho, a fonte ou tipo de letra, é um elemento de imagem e identidade importante. Há jornais que o mantêm inalterado ou quase, desde os seus primeiros tempos, como é o caso do centenário "O Correio da Feira", mas é igualmente comum que de tempos a tempos e normalmente coincidindo com a data de aniversário de fundação, se altere esse mesmo grafismo, com maior ou menor amplitude. Mais do que apenas o próprio título e cabeçalho, hoje em dia os jornais renovam periodicamente todo o seu esquema gráfico e aspectos de composição, incluindo as próprias fontes (estilo de caracteres) para os cabeçalhos, títulos e artigos. Diz-se por agora que se renova a "imagem".

Neste contexto, apesar da sua simplicidade original, o jornal "O Mês de Guisande" durante os anos em que foi publicado também foi sofrendo alterações tanto no seu aspecto gráfico como no formato. Essas alterações, como já foi dito em anteriores apontamentos, decorreram em grande medida dos diferentes equipamentos de composição, maquetagem e impressão. Não surpreende, pois, que nas primeiras edições todos esses aspectos fossem muito simples, básicos até. Basta relembrar que os cabeçalhos, títulos e ilustrações eram todos produzidos à mão, um processo muito complicado sobretudo nos primeiros tempos em que a matriz era um simples stencial em papel delicado. Daí nem sempre com o rigor gráfico adequado.

Assim, ao longo dos anos em que foi publicado, o jornal teve vários designs ou estilos no cabeçalho e que mudavam a cada ano a partir do mês de Agosto, altura em que o jornal fazia aniversário.
Com as actuais ferramentas gráficas que instaladas nos nossos computadores tudo facilitam, procuramos agora reproduzir digitalmente os diferentes cabeçalhos utilizados, desde as primeiras às últimas edições. Seguem abaixo, com a ordem temporal. Qualquer imprecisão nas indicações temporais que se venha a detectar será corrigida.

Todos os grafismos, excepto o último que usa apenas a fonte "Times New Roman", foram desenhados por mim, Américo Almeida.



De Agosto de 1981 a  Julho de 1982


De Agosto de 1982 a Julho de 1983


De Agosto de 1983 a Julho de 1984



De Agosto de 1984 a Julho de 1985


De Agosto de 1985 a Julho de 1992 - Este foi o grafismo que mais tempo durou e que de algum modo se traduziu no grafismo padrão.


De Agosto de 1992 a até 1994 e depois em 2006 e 2007


3 de novembro de 2018

Figuras guisandenses - José de Pinho



Como qualquer terra, Guisande sempre teve e tem, ainda, figuras que por uma ou outra característica pessoal, profissional ou de outra natureza, acabam por ser justamente consideradas como carismáticas ou "castiças", isto é, de boa casta, peculiares, com carisma e características únicas. Assim, não é condição para tal adjectivo que seja alguém formado como doutor, professor ou engenheiro. De resto, neste lote, há por aí doutores e engenheiros que pouca ou nada fizeram ou fazem a favor do bem comum e da comunidade onde se inserem e o seu contributo é o mesmo de que um qualquer iletrado ou até bem menos. Mas isso são outras histórias.

Neste contexto, e assente que uma boa e importante figura não tem que ser doutor ou engenheiro, podíamos aqui evocar figuras guisandenses, bem castiças, carismáticas, que porventura, fruto dos tempos, até não passaram de ilustres analfabetos, iletrados, daqueles incapazes de ler uma palavra do tamanho da torre da nossa igreja, mas em contrapartida, isso sim, doutorados na universidade da vida, alguns verdadeiros mestres nas cadeiras do saber, da manha, da cultura geral, da história, da natureza e das suas coisas, tão especialistas na arte de estrumar um campo lavradio como na poda da vinha ou como parteiros de uma vaca prenha.

Destas muitas figuras, é claro que gostaria de, amiúde, evocar algumas, mesmo que de forma breve e sem preocupações biográficas, mas também, reconheça-se, não é tarefa fácil e nem sempre o tempo disponível é simpático.

Aqui nesta minha casa digital, já falamos de algumas importantes figuras, desde logo o Pe. Francisco Gomes de Oliveira, como também o Cónego António Ferreira Pinto, Pe. Agostinho da Silva e o Pe. José Pereira de Oliveira. Todavia, muitas outras figuras guisandenses, do passado e do presente, mereciam ser aqui lembradas, mesmo que os seus feitos não fossem os ligados às letras, artes e ciências, como atrás se disse. Mas, quem sabe, aos poucos vá preenchendo a caderneta.

Neste pensamento e vontade, recordo que pelo início dos anos 90 o jornal "O Mês de Guisande" procurou saber um pouco mais de outras figuras e a algumas fez entrevistas onde se ficou a saber um pouco mais das suas histórias e estórias, nomeadamente dos já falecidos Joaquim Dias,  o "Pisco", Belmiro da Conceição Henriques, a Ti Clara e Ti Ana Alves. Deles já só resta a saudade mas através dessas páginas ficaram gravadas memórias que têm o mesmo valor que livros e diplomas.

Neste enredo todo, e tendo vós já visto as imagens acima, muitos, os mais velhos, terão já reconhecido a figura do Sr. José Pinho, morador que foi no lugar da Gândara, vizinho da Casa Neves, no gaveto do velho caminho para o Santo Ovídeo.
Para os mais novos, menos dados a estas coisas de outros tempos, o que é normal, podemos referenciar que era o avô da Marisa Pinho e por conseguinte pai do Sr. Ramiro Pinho, que desde há anos habita no lugar do Casal, na freguesia de Gião, onde tem um escritório de contabilidade.

José de Pinho nasceu em 28 de Agosto de 1912 e faleceu com quase 82 anos em 26 de Março de 1994. Do que conheço e me lembro, era irmão do também conhecido e carismático Miguel de Pinho (cabo cantoneiro) que viveu longos anos próximo da ponte da Lavandeira e da também conhecida  Miquelina Pinho que viveu em Casaldaça. Como filhos, do meu conhecimento, deixou o Ramiro (a viver em Gião) e a Fernanda (creio que a viver por Vila Maior).

Já quanto ao recorte de uma primeira página do jornal semanário "O Correio da Feira", datado de 11 de Agosto de 1978, digamos que é ele o acender do rastilho para esta simples evocação ou memória que pretendo fazer sobre o Sr. José de Pinho. Como poderão observar, o tal recorte ainda tem colada a vinheta da assinatura do jornal. De facto José de Pinho foi durante vários anos assinante deste centenário e histórico jornal feirense, o qual ainda se publica. Não eram muitos os assinantes em Guisande, mas ele era um deles.

Do uso deste jornal, vem precisamente a minha primeira memória sobre o Sr. José Pinho. Era eu ainda criança e sempre que ia à Missa ou ao Terço, lá estava ele, na sua figura imponente, pois era homem de porte avantajado, com uma altura muito próxima dos 1,90 m, e nos momentos em que as regras pediam aos fieis para se ajoelharem, ele sacava do bolso do casaco um exemplar do jornal "O Correio da Feira", dobrado em quatro partes e o pousava no soalho da igreja para nele assentar os joelhos. Não que fosse grande almofada o jornal, mas porque impedia de sujar as calças. Era assim naqueles tempos e esse gesto era muito frequente. Alguns homens tinham um lenço só para esse propósito, mas de todos apenas me lembro de ser feito com um jornal por esse morador da Gândara. Ora como era assinante, todas as semanas lá recebia um novo exemplar que certamente guardava no bolso para ler e reler e  usar como tapete nas suas devotas genuflexões, fosse na missa à consagração fosse no terço ou adoração ao laudate.

José de Pinho, que se conste não era doutorado, mas era notoriamente um homem culto e de letras. De resto, sempre ouvi apregoar que "quem lê jornais, sabe mais". Para além do referido jornal "O Correio da Feira", era simultaneamente assinante de outros títulos da imprensa escrita, como o "O Comércio do Porto", o "Tempo" e ainda o nosso jornal mensal "O  Mês de Guisande", do qual sempre foi um carinhoso assinante. Por inúmeras vezes, quando eu ali ia distribuir o jornal, antes do correio o fazer, ficava largos minutos á conversa com este "doutor" da Gândara. Creio que quem o bem conheceu e com ele conversou não lhe recusará este estatuto.

Por conseguinte, pela amostra dos jornais que assinava e por conseguinte lia com regularidade, notoriamente era um homem bem formado e informado das actualidades, não só do concelho como do país, nomeadamente nesses tempos tão conturbados dos anos 70, politicamente muito marcantes no período pós 25 de Abril de 1974.

De José de Pinho sabe-se que era uma pessoa muito conservadora, homem de ideologia de direita, de resto a justificar a sua relação com o CDS de Freitas do Amaral e Adriano Moreira, que sempre foi apoiante convicto. Não surpreende, pois, que tenha sido assinante do jornal semanário "Tempo", um órgão informativo conotado com a direita. Não se sabe até que ano José de Pinho foi assinante deste jornal marcadamente político, mas eventualmente apenas até finais da década de 1980. De resto os anos 80 foram bem mais calmos e a jovem democracia portuguesa  aos poucos ia ficando estabilizada. Talvez por isso e por algumas convulsões internas entre redacção e administração, o "Tempo" terminou o seu tempo e  sua missão findou no final do ano de 1990. Todavia, foi marcante e vários jornais retomaram muito das suas orientações, tanto gráficas como de abordagem jornalística.



Ainda quanto ao semanário "Tempo" designado de "liberal e independente", para o contextualizar na figura e personalidade do seu assinante Nº 1881, José de Pinho, este jornal foi fundado em 29 de Maio de 1975 por Nuno Rocha (Porto, 13 de Fevereiro de 1933- Cascais, 5 de Julho de 2016). Este jornalista, que alguém caracterizava como cosmopolita, passou antes por títulos como o "Primeiro de Janeiro", "Diário Ilustrado", "Diário de Lisboa" e "Diário Popular". Considerado controverso e conservador, implementou um estilo no jornal que depois Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso levariam para "O Independente".

Por tentar fundar o "Tempo" Nuno Rocha foi preso a 13 de Abril de 1975, em casa, por membros do COPCON (Comando Operacional do Continente), ficando detido durante 17 horas em Caxias. Este facto não deixa de ser significativo pois mesmo depois da revolução, continuou a haver actos persecutórios criticados ao antigo regime recém derrubado, nomeadamente privação do exercício da liberdade, incluindo a de imprensa e prisão por motivos políticos. No fundo, era fruta da época e para além dos fascistas de direita havia os de esquerda. Coisas e singularidades.

Em 1976, em pleno "Verão Quente", o semanário chegou a vender mais de 100 mil exemplares. Paulo Portas, conhecido político, estreou-se nele como cronista e mais tarde veio a fundar o jornal "O Independente".

Como já referi, o"Tempo" era assumidamente de centro-direita e surgiu então para contrariar a tendência de esquerda dos jornais da época que dominava a imprensa portuguesa. Os articulistas do semanário "Tempo" escreviam e davam conta das preocupações perante o rumo que Portugal levava, durante o PREC e na sua aventura que indiciava resultados catastróficos para o país. Pressentia-se que o país saíra de uma ditadura de direita e que se encaminhava para uma de esquerda, traindo o que diziam ser a gênese da revolução de Abril de 74.
O "Tempo" era assim uma contra-corrente e talvez por cá José de Pinho encontrasse nele e nas suas posições editoriais uma linha de pensamento ideológico que entendia ser a melhor para o rumo do país e daí o tronar-se assinante.

Naturalmente que para além desta faceta de homem de leituras, há muitos outros episódios ligados à figura e personalidade de José de Pinho, mas creio que para além deles, e outros terão melhores testemunhos, por mim quero simplesmente realçar um aspecto que ressaltava, o seu lado de homem culto, que lia muito e procurava estar fundamentado e informado das suas ideias e ideais. Por mim, é essa a memória que guardarei desse homem e dessa figura guisandense.

10 de setembro de 2018

Saudades


Parece que foi ontem, mas já quase há 30 anos (15 de Agosto de 1989), aquando das Bodas de Ouro Sacerdotais do Padre Francisco Gomes de Oliveira. Em todo o caso, nesta correria que é o tempo, das pessoas aqui fotografadas três já partiram deste mundo (Padre Francisco, Germano Gonçalves e Elísio Mota). 
Os vivos, esses naturalmente entre nós, mas já mudados e moldados com a carga própria de três décadas, porque o tempo esse é democrático e envelhece tanto crianças como adultos, tanto presidentes de junta como de câmara. 

3 de setembro de 2018

O meu catecismo da primeira classe

catecismo da primeira calsse v1 01
De todos os livros que marcaram a minha infância, e creio que a de muitos rapazes e raparigas da minha geração, os catecismos, a par dos livros da escola primária, ocupam um lugar especial na prateleira das nossas recordações, memórias e nostalgias.

Hoje trago à luz da memória o meu catecismo da primeira classe. Trata-se do primeiro volume de uma série chamada “Doutrina Cristã – Catecismo Nacional”, uma edição do Secretariado Nacional de Catequese, publicado durante os anos 50 e 60 e que serviu de base para o ensino da catequese ao nível de todo o país. Estes catecismos foram impressos na Litografia União Limitada, de Vila Nova de Gaia.

Este primeiro volume está profusa e excelentemente ilustrado pela mão da artista portuense Laura Costa, com o seu traço inconfundível, repleto de cor e pormenor. Cada ilustração, por si só, era uma lição e estou certo de que muitos recordarão o seu Catecismo apenas pela beleza das respectivas gravuras, muito bucólicas. De resto, Laura Costa notabilizou-se a ilustrar os populares contos de fadas nos anos 40 a 60, que encantaram muita rapaziada que os liam a partir da biblioteca itinerante da Gulbenkian que todos os meses aportava ao largo de Casaldaça trazendo estantes de conhecimento e fantasia.

O Catecismo tem uma dimensão de 12 x 17 cm e 32 páginas a cores.

É importante referir que estes catecismos, tinham uma publicação de apoio, chamada de Caderno de Trabalhos Práticos (que possuo), com gravuras das lições, a preto e branco, destinadas a serem pintadas pelos alunos, bem como textos picotados, também destinados a serem preenchidos. Todavia, talvez pelo seu custo, acrescido ao do catecismo propriamente dito, e dadas as dificuldades económicas da maioria dos pais das crianças nesse tempo, tenho a ideia de que muito raramente este caderno era adquirido. Pelo menos não me recordo de o possuir na altura nem de o mesmo ter sido aplicado na minha Catequese.

Por outro lado, existia ainda um volume auxiliar, destinado às Catequistas, chamado Guia de Ensino (que também possuo), bastante extensivo, com a explicação da mensagem da aula e respectivas actividades, constituindo-se num excelente auxiliar das sessões de Catequese, principalmente em meios pobres onde nem sempre as Catequistas tinham formação adequada.

De referir que quando transitei para a segunda classe da Catequese, foram adoptados outros catecismos, pelo que tudo indica de que esta série de que falei deixou de ser publicada e utilizada, desconhecendo-se se tal mudança ocorreu a nível nacional, ou apenas no âmbito Diocesano, mas tudo parece indicar que a alteração editorial foi geral. De qualquer forma esta fantástica série “Doutrina Cristã – Catecismo Nacional”, vigorou pelo menos durante duas décadas, um caso invulgar de longevidade, tendo em conta que actualmente os manuais de escola e catequese mudam quase de ano para ano e com edições diversas.

Os objectivos deste primeiro volume, vocacionados para a preparação da Primeira Comunhão, estavam assim expressos no prefácio do mesmo:

“ Eu sou a Verdade” – disse Jesus. O presente Catecismo vem dar cumprimento a um voto do Concílio Plenário. É destinado a todas as crianças de Portugal, que devem fazer a sua primeira Comunhão à roda dos 7 anos (como desejava São Pio X) a fim de despertar já nos seus corações infantis uma autêntica vida cristã.

Foi para facilitar o trabalho educativo nas Famílias, nas Catequeses e nas Escolas, - a quantos são responsáveis pela alta missão de fazer desabrochar na alma infantil a virtude e a santidade, - que este Catecismo se elaborou por iniciativa do Venerando Episcopado.

Espera-se que o zelo de todos os educadores cristãos faça valorizar o presente texto oficial, cujas lições se acham ligadas ao Tempo Litúrgico (de fins de Outubro a Maio: as lições marcadas –A, servem para melhor permitir essa ligação, na hipótese duma aula semanal).

Ensinando-se, cuide-se da formação cristã da criança: atenda-se às condições várias da sua preparação cristã e desenvolvimento; faça-se com que ela compreenda toda a doutrina, a ame e aplique à sua vida; procure-se que retenha de memória o que deve reter e consequentemente se prepare de modo a poder já confessar-se e comungar pelo Tempo Pascal.

Na festa de Nª Sª do Rosário, aos 7 de Outubro de 1953. M. Cardeal Patriarca.

Como verificamos por este texto, este primeiro volume tinha objectivos específicos mas concretos no ensino da doutrina das crianças que pela primeira vez entravam no ciclo da Catequese.

Escusado será dizer que possuo na minha biblioteca os quatro exemplares desta série, referentes às respectivas classes de catequese (1º. 2ª 3ª e 4ª).

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- As duas últimas imagens referem-se ao tal caderno de trabalhos práticos, que servia de apoio às lições de catequese.

1 de julho de 2018

Cromos da May - Quem se lembra?


Como está na moda e dá um ar de modernidade, ainda tentei dar um título em inglês, "Who remember?",  mas de certeza absoluta que, para o caso, quem não se lembra de certeza é a malta mais nova, precisamente a mais suscpetível a inglesismos. Assim sendo, eventualmente apenas os mais velhos lembrar-se-ão  destes cromos de futebol que tenho cá pelo baú.
São cromos raros, de colecções do final dos anos 60, início dos anos 70, produzidos pela May Portuguesa SARL, então localizada na Coina - Barreiro. Vendiam-se com uma saborosa chiclete, então conhecidas por goma de mascar ou em inglês, "chewing-gum".
Estes cromos juntos dos coleccionadores valem de  1 a 20 euros a unidade ou mais. Uma das poucas cadernetas editadas, com 120 cromos, pode custar mais de 500 euros.

11 de maio de 2018

Pe. Francisco - 20 anos de saudade


Passam na próxima terça-feira, 15 de Maio de 2018, vinte anos, duas décadas, sobre a morte do Pe. Francisco Gomes de Oliveira. São vinte anos de saudade de um homem e pastor que dedicou a maior parte da sua vida à paróquia de S. Mamede de Guisande, um percurso iniciado em Setembro de 1939. Paz à sua alma!

Desconheço se a paróquia de Guisande tem ou não prevista alguma celebração ou evento em memória e evocação da data, mas creio que seria justo.
Pela parte que me toca, disse-o por aqui há algum tempo, estou a elaborar alguns apontamentos biográficos e contextuais à freguesia e paróquia de Guisande, que entretanto serão passados a livro, mesmo que de edição de autor. Tinha como intenção que o livro já estivesse impresso e fosse apresentado neste mês de Maio à passagem da data, mas tal tornou-se impossível. Por um lado devido ao facto de estar a incluir mais apontamentos do que aqueles que inicialmente tinha previsto e por outro lado porque não tenho tido a colaboração de quem inicialmente esperava obtê-la. Vejo que nestas coisas temos que contar apenas connosco próprios. 
Seja como for, tenho a esperança de mais ano menos ano vir a concretizar essa intenção, nem que revista e enquadrada noutro contexto.

A. Almeida

13 de abril de 2018

Nota de 20 escudos - A verdinha


Desde 1 de Janeiro de 2002 que Portugal, como membro da da Comunidade Europeia (actualmente União Europeia) desde 1986, está integrado no chamado sistema de moeda única europeia, ou Zona Euro. Por conseguinte, a nossa moeada é o Euro, o que na actualidade vigora em 19 dos 28 países membros. 
Todos sabemos do conjunto de dificuldades de adaptação ao novo dinheiro bem como a curiosidade que na altura despertou. A curiosidade passou, é certo, mas as dificuldades, principalmente de conversão, ainda fazem parte do dia-a-dia de muitas pessoas, de modo especial dos idosos. Actualmente, de um modo geral, já estamos mais ou menos familiarizados com o sistema, mas de facto foi uma etapa marcante para todos os portugueses e obviamente para a população dos Estados que aderiram ao sistema. Muitos dizem que com nítido prejuízo para Portugal.

Do tempo dos escudos, uma das mais emblemáticas notas foi sem dúvida a de 20 escudos, com a efígie de Santo António, popularmente conhecida como "verdinha". Esta nota entrou em circulação em 27 de Janeiro de 1965 e foi retirada de circulação mais de duas décadas depois, concretamente em 30 de Maio de 1986, sendo substituída anteriormente em 31 de Outubro de 1977 por uma nota também em tom verde, mas com um design mais moderno e com a efígie do almirante Gago Coutinho. Em 30 de Maio de 2006 terminou o prazo para a troca das notas de 20 escudos por euros, existindo então 27 milhões de notas ainda por trocar. Até essa data muitas foram de facto trocadas mas um grande número ficou nas gavetas dos portugueses, esquecidas, perdidas, roubadas ou simplesmente para amostra de saudosos tempos. Deste modo, no mercado do coleccionismo são relativamente vulgares mas os seus preços podem ir de 1 a 10 euros ou bem mais, dependendo do estado de conservação e de alguma particularidade que as tornes raras.

A nota de que falamos foi impressa na Inglaterra, tendo sido produzidas  mais de 229 milhões de unidades, todas com a data de 26 de Maio de 1964. A data e as assinaturas do vice-governador e do administrador do Banco de Portugal foram posteriormente  impressas em Portugal e com tinta preta. Uma das séries ficou com essa impressão um pouco desenquadrada ficando com o O da frase "O Administrador" a coincidir com o olho do peixe da gravura. Obviamente que tais notas são raridades e muito valorizadas por coleccionadores.

A "verdinha" era uma nota muito vulgar, porque a de valor mais baixo de todas as notas nesses tempos em circulação e por isso mesmo era das mais populares. Apesar de baixo valor, dizem os entendidos que comparativamente nos dias de hoje teria um valor aquisitivo similar à nota de 10 euros, mas certamente que ainda mais importante pois compravam-se com ela coisas com muita mais importância do que actualmente uma nota de 10 euros.

5 de março de 2018

A alegre casinha

Creio que todos reconhecem a casa abaixo retratada. Trata-se da casa do Ti Pereira, no lugar do Viso, ao lado da capela, actualmente propriedade de herdeiros. Entre uma e outra fotografia, passam quase cinquenta anos. A primeira foi retratada num dia 4 de Agosto de 1958, um sábado de Festa do Viso e a segunda tem dias.
Na foto de 1958, a casa tinha acabado de ser construída, mas ainda faltava parte do muro de vedação á face do então caminho bem como portões e grade no muro. Esse muro em falta foi feito de seguida e anos mais tarde demolido para possibilitar o alargamento da rua e construção de passeio. Curiosamente, também na parte nascente do prédio, nessa altura existia um espigueiro implantado à face do caminho e que também acabou por ser demolido para permitir o alargamento. Apesar disso, manteve-se o muro em alvenaria de granito defronte da casa, em harmonia com a arquitectura desta.
As fotografias de um mesmo local em diferentes épocas podem dar-nos este ar de surpresa decorrente da transformação das coisas e dos sítios, quase como um passe de mágica.
A casa na actualidade está com bom aspecto até porque foi recentemente alvo de obras de conservação por parte do actual proprietário.



28 de fevereiro de 2018

Bate leve, levemente




As notícias de hoje, 28 de Fevereiro, dão conta de fortes nevões que estão a assolar muitos países europeus, incluindo Portugal, sobretudo nas regiões montanhosas do norte e centro, afectando cidades como Bragança, Vila Real, Guarda, entre outras.
Por cá, a neve ainda não caiu e não é expectável que caia, mas, sendo rara, não é novidade em Guisande, como aconteceu nomeadamente em 3 de Fevereiro de 1963, num sábado, como demonstram as fotos antigas que aqui trazemos à memória. Vê-se a zona da igreja matriz  e adro cobertos desse sempre belo manto branco tecido pela mãe-natureza.  Recém nascido, obviamente que não assisti e foi preciso esperar mais vinte e um anos, no Carnaval de 1984 para ver a neve a cair em Guisande e redondezas com alguma significância.


Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

(...)
A Balada da Neve - Augusto Gil

26 de fevereiro de 2018

Perceber da poda


Fotografia de final dos anos 60. O nosso saudoso pároco, Pe. Francisco Oliveira, a podar os belos arbustos que o mesmo plantou uns anos antes.
Pessoalmente, embora anos mais tarde, ainda me recordo desta cena pois era frequente ver o Pe. Francisco a tratar carinhosamente dos seus arbustos, dando-lhes pacientemente a forma desejada. Neste mesmo arbusto, uns anos mais tarde esculpiu umas letras, como mostrarei um dia destes.
Infelizmente, esta saudosa cena jamais se repetirá, porque tanto o Pe. Francisco como os arbustos já não existem, mas apenas na nossa memória. Ora esta não se apaga, tanto mais que reforçada com estes raros apontamentos fotográficos.

24 de outubro de 2017

24 de Outubro de 1954–Inundação na ribeira da Mota

foto_antiga_queda_ponte_lavandeira[4]

Hoje, dia 24 de Outubro de 2017 tivemos um dia quase de Verão, com céu azul e temperatura bem alta. Mas se recuarmos no tempo, mais precisamente 63 anos, por isso a 24 de Outubro de 1954, abateu-se sobre a nossa freguesia de Guisande e freguesias vizinhas, sobretudo do lado sul e poente, como Pigeiros, Caldas de S. Jorge, Fiães e Lobão, uma chuva forte e persistente, designada de tromba-de-água, que em poucas horas, naquele Domingo de manhã, galgou as margens da ribeira da Mota, arrastando dos campos, com a sua impetuosidade, toda a vegetação e medas de palha ou de canas de milho. 

Em resultado, com a pressão da água e dos detritos dos campos e margens arrastados, a ponte da Lavandeira, entre os lugares do Reguengo e Viso, acabou por ceder, desmoronando-se, sendo, pouco depois, edificada a ainda actual ponte. Provisoriamente, como se vê na foto acima, foi realizado um estrado em vigas e tábuas de madeira para assegurar a passagem de carros e pessoas. 

Ainda hoje, as pessoas mais idosas recordam-se desse Domingo chuvoso e daquela que foi certamente a maior cheia da ribeira da Mota de que há memória, o que de resto também sucedeu no rio Uíma

. Mesmo a cheia de 2001 terá sido apenas uma humilde amostra quando comparada com a de há 63 anos.

Neste foto acima vê-se o paredão norte totalmente demolido. Curiosamente percebe-se que o caudal da ribeira era quase diminuto, pelo que se deduz que estivesse a ser desviado pelos regos das levadas a montante, de modo a permitir a intervenção provisória na ponte. Também pode sugerir que essa cheia teve de facto características muito concentradas pelo que logo que passou a tromba-de-água, o caudal voltou ao seu normal.

24 de setembro de 2017

A sineta da capela de Nossa Senhora da Boa Fortuna no monte do Viso


A construção da capela dedicada a Nossa Senhora da Boa Fortuna e a Santo António, erigida no alto do monte do Viso, remonta a 1869. À passagem do seu centenário, em 1969, teve profundas obras de restauro e conservação, realizadas antes do Verão desse ano, ainda antes da festa (primeiro Domingo de Agosto). 

Não conheço documentos sobre os objectivos e pormenores que levaram à edificação da capela, mas creio pessoalmente que existirão algures, faltando fazer essa pesquisa. Isto porque apesar de já com mais de 150 anos, é de uma época em que já havia a preocupação de documentar. Ademais, tendo em conta a sua função e mesmo as dimensões significativas para uma capela, é de acreditar que também tivesse que ter o prévio parecer, autorização e despacho da Diocese e do Bispo relativamente ao culto. Por outro lado, ainda, quando em 1969 se realizaram obras que incluiram o revestimento da fachada com azulejos foi incluída a inscrição ou referência à passagem do centenário. Ora essa data teria que, obviamente, ser conhecida de alguém e com base em elementos escritos porque à data poucas seriam as testemunhas vivas.

É, pois, um trabalho de pesquisa que está por fazer e seria de facto interessante saber os vários pormenores, sobre o motivo, quem mandou construir, quem pagou, quem construíu e até mesmo quem decidiu da escolha da invocação a Nossa Senhora da Boa Fortuna, que não é nem era muito vulgar.

Um dos elementos identificadores e característicos da nossa capela, para além da fachada revestida  a azulejo em tom creme com contornos e imagens de Nossa Senhora e Santo António em verde, é o seu arco encimado por um cruzeiro em granito e dentro do qual está instalada uma sineta.  Este elemento, designado na arquitectura religiosa como arco sineiro, está edificado sobre o vértice superior central da fachada principal.

Já muitos não se lembrarão, sobretudo os mais novos, mas originalmente e até às referidas obras em 1969, tal arco sineiro não existia, mas apenas o cruzeiro em granito. Também não existia o revestimento da fachada em azulejo, o qual foi colocado nesse ano por oferta do benemérito António Alves Santiago, da Casa do Santiago, das Quintães.

Se não me falha a memória de criança, que ainda se recorda das obras, tenho a ideia (a confirmar) de que até essa data a sineta estava instalada numa estrutura de ferro sensivelmente na parte central da cobertura, na zona da transição da nave principal para a nave da capela-mor, sendo accionada por uma corda ligada directamente ao compartimento poente da sacristia (divisão que em dias de festa do Viso é ocupada pela Comissão de Festeiros), junto à reentrância onde há uns anos a comissão assentava o pipo de vinho com que, servido a copo, brindava quem ia pagar a promessa.

Remonta, pois, a 1969 a construção do arco sineiro e a mudança da sineta a qual todavia continuou a ser accionada manualmente por um cabo acedido a partir da sacristia no local atrás referido. Não era tarefa fácil fazer tocar a sineta pois o sistema manual não era muito prático e exigia algum esforço.

Já pelos anos 70, ao arco sineiro foram afixadas umas três cornetas (altifalantes) para propagar o toque do relógio então instalado na sacristia, o qual ainda hoje funciona. Actualmente já não fará sentido o funcionamento e a função de tal relógio, que bate a cada quarto de hora, bem como as cornetas que são apêndices que desfeiam o arco sineiro, mas por lá vão estando.

Foi pena que nas obras posteriores, nomeadamente em 2003 quando se procedeu à reformulação da estrutura da cobertura e reconstrução do coro, não se tivesse desmontado este sistema ou pelo menos mudado as cornetas para um local com menos impacto visual, eventualmente na zona mais central da cobertura. Em todo o caso, como se disse, este relógio sonoro toca a cada quarto de hora e é ouvido em quase toda a freguesia, dependendo da direcção do vento e já há muitos anos que é companhia de quem vive a contar as horas.

Também em 2016, o arco sineiro sofreu uma intervenção, sendo ligeiramente alteado de modo a ajustar o sistema mecânico de accionamento da sineta anteriormente instalado.
Sineta, no nosso dicionário, significa pequeno sino e porque é feminino, tem um simbolismo de coisa delicada, maneirinha.

Sobre a sineta da capela do Viso, existe uma espécie de rivalidade ou disputa antigas com a freguesia de Lobão, já que os guisandenses reclamam que a capela de Santo Ovídio em tempos pertenceu a Guisande (e de facto pelo menos uma parte, a nascente, do actual arraial está em território de Guisande)(*) e por sua vez os de Lobão defendem-se argumentando que não, e que a sineta existente na capela do Viso seria a que pertencia à capela do santo mártir e bispo lendário de Braga, advogado das dores de ouvidos e dos maridos infiéis, e que terá sido roubada pelos de Guisande pela calada de uma noite de breu.

Obviamente que a parte que ao roubo ou desvio da sineta diz respeito é pura mentira ou mera brincadeira, já que na sineta da capela do Viso, para quem quiser tirar dúvidas, existe uma gravação em baixo relevo, feita no próprio momento da fundição, com uma legenda que se refere à Senhora da Boa Fortuna. De facto, como se pode ver na foto abaixo, a sineta, do lado nascente, tem fundida a data, 1874, e as iniciais NSBF - G, referentes a Nossa Senhora da Boa Fortuna - Guisande. Mas estes antigos dizeres tornaram-se lendários e fazem assim parte do nosso folclore.

Por esta data, 1874, fica-se a saber que a sineta só foi instalada na capela cinco anos após a sua construção (1869).


Nesta foto abaixo, datada de 5 de Junho de 1969, por alturas da Comunhão Solene, vê-se a procissão a descer o Monte do Viso a caminho da Igreja. Apesar de pouco nítida, observa-se o monte do Viso na sua forma antiga, ainda com a rua central, em terra batida, bem como a capela ao fundo, ainda sem o tal arco sineiro mas apenas o cruzeiro em granito e a fachada ainda sem o azulejo.

Tudo indica, pois, que as tais obras acima referidas se realizaram durante o resto do mês de Junho e Julho. Creio que por esta altura da Comunhão Solene já estariam terminadas as obras na parte interior, nomeadamente o restauro/pintura dos altares e colocação do revestimento do tecto.


(*)Ainda a propósito da capela de Santo Ovídio, apesar desta ser considerada como implantada em território de Lobão, no lugar do Ribeiro, no limite com o lugar da Gândara da freguesia de Guisande,  certo é que os mais antigos guisandenses reiteradamente foram defendendo que a mesma sempre esteve totalmente em território de Guisande.

Prova disso, ou equivocado, certo é que Pinho Leal, no seu "Portugal Antigo e Moderno" de 1873, a páginas 370 do vol. III, referindo-se a Guisande  diz  que "...tem uma capela dedicada a Santo Ovídio onde se fazem três festas no ano, muito concorridas. A quem tiver padecimento nos ouvidos, tem (segundo a crença da gente d´aqui) um óptimo remédio. É furtar uma telha e levá-la de presente a este santo; fica logo bom e a ouvir perfeitamente. É medicamento muito experimentado e aprovado pela gente da terra da Feira. A telha há-de ser furtada senão não o vale".

Mas admite-se que Pinho Leal (que casou com Maria Rosa de Almeida, do lugar do Carvalhal, freguesia de Romariz, onde construiu casa e nela ali morou) tivesse feito confusão porque na sua descrição referente à freguesia de S. Tiago de Lobão também lhe atribui a pertença da capela do Santo Ovídio. Não nos parece, pois, que a capela fosse meeira das duas freguesias vizinhas nem que existissem duas distintas capelas sob a mesma invocação. Seja como for, essas referências de Pinho Leal, mais do que dissipar dúvidas, porventura aumentou-as.

Certo é, todavia, que parte do actual arraial envolvente à capela, a sua zona a nascente onde se engloba o cruzeiro, está em território de Guisande, mesmo com a mudança indevida e ao arrepio da legalidade de um dos marcos de fronteira localizado no entroncamento do caminho antigo com a actual Rua Nossa Senhora de Fátima. Basta traçar uma linha recta entre os marcos mais próximos para se tal comprovar.

De resto, tal como acontece no lugar de Azevedo, em que a freguesia de Caldas de S. Jorge se apropriou de uma ampla parcela do lugar de Estôze, reclamando-a como sua a pretexto de não perder uma parte das habitações ali edificadas entre os anos 80 e 90, os anteriores e sucessivos presidentes de Junta dessas freguesias nossas vizinhas nunca quiseram admitir a apropriação indevida de território mesmo que desmentidos perante factos. Daí que este tipo de disputas sejam antigas e comuns a muitas outras freguesias por esse nosso Portugal fora, e que invariavelmente não têm solução a não ser por imposição administrativa dos tribunais, o que raramente acontece. Em todo o caso, é tudo Portugal.

É verdade que hoje as freguesias de Lobão e Guisande fazem parte da mesma União de Freguesias, juntando-se a Gião e a Louredo, mas estas raízes de identidade  e território geram rivalidades e estas hão-de perdurar por muitos e muitos anos. Por isso, a par da sineta, a localização da capela de Santo Ovídio será sempre um tema de discussão sem fim e que de algum modo enriquece o portefólio das nossas histórias e lendas.

31 de agosto de 2017

Historiando - A lápide da sepultura do Padre Manuel Carvalho

Já nos referimos aqui ao Padre Manuel Carvalho, ilustre figura da nossa paróquia de S. Mamede de Guisande, desde logo por ter sido o fundador, no ano de 1933, da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, irmandade que ainda se encontra activa nos dias actuais, embora já sem a pujança de tempos idos.

Quanto às notas biográficas sobre esse ilustre clérigo, para além da referência que na lista de párocos lhe é feita pelo Cónego Dr. António Ferreira Pinto, na sua monografia sobre Guisande "Defendei Vossas Terras", publicada em 1936, que abaixo se transcreve, pouco mais se sabe para além de que foi pároco de S. Mamede de Guisande em grande parte da primeira metade do séc. XVIII (de 1710 a 1754), 

-Manuel de Carvalho, foi nomeado em 1710. Alma verdadeiramente apostólica, fundou uma obra, que ainda hoje está florescente e é o orgulho de Guisande. Refiro-me à Confraria de N. S. do Rosário, fundada em 1733, com todas as licenças dos Dominicanos e autorizações necessárias, cujos Estatutos foram aprovados em 2 de Setembro de 1734 e modificados em Janeiro de 1794. O segundo livro do registo paroquial foi rubricado por este zeloso pároco, em virtude da comissão que lhe deu o Provisor, em 24 de Novembro de 1733. Por motivo de grave doença, resignou, em 1752, em favor do seu sucessor e faleceu, a 4 de Fevereiro de 1758, deixando muitas esmolas e legados. Esteve sepultado na capela-mor da igreja de Guisande e as ossadas foram removidas para o cemitério, por ocasião do bicentenário da erecção da confraria, acompanhada de 8 dias de sermões, que pregou um sacerdote dominicano, em Dezembro de 1933.

Para além destas escassas mas importantes referências, fica-se a saber que em 1933 (...esteve sepultado na capela-mor da igreja de Guisande e as ossadas foram removidas para o cemitério, por ocasião do bicentenário da erecção da confraria). Os seus restos mortais foram assim enterrados no cemitério, em local à esquerda de quem entra pelo portão principal, o que se pode comprovar pela fotografia abaixo, datada de Julho de 1966. 
O local foi assinalado pela colocação de uma lápide em granito, com uma altura entre um metro e meio a dois metros, encimada por uma cruz e com uma inscrição que fazia referência ao nome, ao motivo e à data da trasladação. Infelizmente não são conhecidas fotografias com mais pormenor da referida lápide que sirvam de fiel testemunho.




Conforme se pode verificar pela fotografia acima, ainda existiam as sebes de bucho a delimitar os quatro canteiros e para além dos jazigos da Casa do Sr. Almeida do Viso, da capela da Casa do Sr. Moreira da Igreja e mais um ou outro jazigo realizados em granito, a maioria das campas eram rasas, em terra, assinaladas com as características lápides negras em xisto. Nesse tempo as dificuldades eram outras e, porque não dizê-lo, as vaidades eram menores. 

Esta configuração do cemitério composto maioritariamente por campas rasas e sem concessão perpétua, durou até ao ano de 1973 altura em que a Junta de Freguesia e Comissão Fabriqueira ali realizaram obras, sendo removidas as sebes de bucho e pavimentados os passeios com calçada em pedrinha de calcário e basalto. A data, lá inscrita, conforme fotografia abaixo, refere-se a 1973, por isso ainda no tempo do Estado Novo. Era nessa altura presidente da Junta Joaquim Ferreira Coelho, o secretário Higino Gomes de Almeida e o tesoureiro Alcides da Silva Gomes Giro.


Com as referidas obras realizadas em 1973, a maior parte do terreno ocupado era ainda pertença da Junta, sendo então este dividido em sepulturas que foram sendo vendidas ao longo dos anos 70 e mesmo ainda em parte da década de 80 até que, já por falta de terreno vendável face à procura, se tornou imperativa a construção do cemitério novo. Infelizmente, esta requalificação decorrente das obras de 1973 resultou em sepulturas com pouca métrica e nenhumas preocupações de alinhamentos, pelo que se nota uma desorganização nos jazigos e nos exíguos espaços de circulação envolventes, mais notória no cantão norte/nascente, precisamente onde estavam os restos mortais do Padre Manuel Carvalho.

Mas mais grave que esta desorganização geométrica das actuais sepulturas, em parte motivada por cada um construir à sua maneira e à necessidade de manter uma ou outra sepultura já vendida com carácter de concessão perpétua, foi o facto de ter sido vendido o espaço ocupado pela sepultura dos restos mortais do padre fundador da Confraria, bem como a remoção da referida lápide cujo paradeiro se desconhece, temendo-se que mais do que o seu desaparecimento ou apropriação indevida por alguém, tenha mesmo sido destruída, despedaçada e enterrada algures no solo do cemitério ou de qualquer outro aterro. Mandava o bom senso e o sentido de preservação, e até o respeito pela memória de figura ilustre, que pelo menos a lápide e os restos mortais, se ainda visíveis, fossem colocados com dignidade num dos canteiros do adro, senão no próprio cemitério.

Apesar de o assunto já ter sido pegado por alguém num passado recente, nomeadamente pelo Sr. Mário Baptista, honra lhe seja feita, certo é que nunca se chegou ao apuramento da verdade quanto ao destino ou paradeiro da lápide. Foi, obviamente uma irresponsabilidade de várias pessoas, mesmo que por negligência involuntária, mas seguramente uma enorme falta de sensibilidade pelas coisas da nossa história e memória colectiva mesmo que na forma de uma pedra. Infelizmente para muitos as pedras são isso mesmo, pedras ou calhaus, mesmo que nos contem histórias, recordem factos, nos lembrem ou evoquem pessoas. 

É triste e revelador de insensibilidade e de ignorância, pelo menos cultural, mas foi o que aconteceu e em muitos aspectos ainda continua a acontecer e tem-se descurado o arquivamento de documentos e anotações que pelo menos no futuro seriam importantes para a história comum da nossa freguesia e paróquia. Não nos serve o mal dos outros como consolo, mas infelizmente este não é apenas um pecado nosso mas de muitas outras paróquias e instituições. Alegra-nos a esperança de pensar que nunca é tarde para se começar a preservar, mesmo que nos entristeça o muito que já foi perdido.


Acima, um desenho rudimentar com a representação aproximada da configuração da lápide de granito que assinalava a localização dos restos mortais do Padre Manuel Carvalho. Obviamente ali falta  a inscrição, que em rigor se desconhece mas que certamente para além do nome faria referência à data e ao motivo.

Américo Almeida

26 de julho de 2017

Construção da Escola da Igreja






O edifício da Escola Primária da Igreja foi construído e terminado no ano de 1969. Tal data está assinalada numa pequena placa de mármore disposta sensivelmente a meio da fachada principal, conforme fotografia acima. 
Pessoalmente, fiz a primeira classe na Escola Primária do Viso e já a segunda classe  e seguintes frequentei-as na nova escola da Igreja apesar de morar a dois passos da escola do Viso. Fui para lá no ano escolar de 1970/1971, por isso quase a estrear.

Infelizmente não são conhecidos documentos relacionados com a construção, sendo que o projecto obedeceu a um modelo tipo e que por essa época era generalizado e seguido um pouco por todo o país, de resto como aconteceu com a Escola Primária do Viso (edificada entre o final dos anos 40 e princípios dos anos 50), também ela com projecto de modelo tipo aplicado em todo o país, embora com as adaptações de dimensionamento de acordo com a população escolar, havendo edifícios com uma sala, com duas (como a do Viso), com três, quatro e até seis.

Nos dias que correm, seria normal que a construção de um edifício escolar, mesmo que da responsabilidade do Ministério da Educação ou da Câmara Municipal, merecesse o interesse, acompanhamento e referências documentais por parte da respectiva Junta de Freguesia. Todavia, pesquisando no livro de actas da Junta de Freguesia de Guisande em exercício nesse referido ano de 1969, em que era presidente António Alves Santiago, apenas encontrei umas ligeiras referências à construção da Escola Primária da Igreja. Trata-se da acta datada de 12 de Janeiro de 1969, a qual é toda ocupada com o assunto da escola. O documento, que abaixo se reproduz, é legível, mas em resumo diz que "...pelo presidente foi dito que no dia nove do corrente mês principiou a terraplanagem para o edifício escolar no sítio indicado pelo Sr. Engenheiro da Câmara, no lugar da Igreja, sítio muito arejado e bom; é empreiteiro desta obra o Sr. Joaquim Marques Lopes do lugar do Picôto da freguesia de Argoncilhe, empreiteiro com muita competência, ficando todo o serviço bem feito e seguro. O edifício já terminou de pedreiro no dia oito de Março, seguindo-se os trolhas e carpinteiros, que dentro de pouco tempo estará concluído todo. Fica um  belo edifício e num sítio muito aprasado."

Como se vê, as referências mesmo que ocupando toda a acta, são muito vagas mas pelo menos fica-se a saber o nome do empreiteiro para além da consideração do sítio como "arejado" e "aprasado". Há ali, no entanto, uma contradição de tempo já que é referido que a obra de pedreiro ficou terminada no dia 8 de Março quando a acta é de 12 de Janeiro, por isso uma data anterior. É uma contradição que só se justifica como tendo a acta sido lavrada já depois de Março embora reportada a Janeiro. É uma possibilidade já que a periodicidade e regularidade das reuniões de Junta  nesses tempos não eram rigorosamente cumpridas. Eram realizadas quando desse jeito.

A escola na altura era obviamente nova e com linhas modernas para o padrão da época. Tinha um jardim frontal e uma zona de recreio bastante ampla, em terra batida, a qual foi cimentada muitos anos depois. Claro está que no início, eram os próprios alunos quem tratavam da manutenção e limpeza semanais, varrendo-se as salas e o terreiro do recreio, limpando-se as instalações sanitárias e cuidando do jardim. Existia também uma cabine com a bomba do poço que alguns alunos tinham que girar a grande roda para encher o depósito de água para serviço dos sanitários. Claro que era uma brincadeira pois aproveitava-se o balanço da roda para fazer uma espécie de baloiço. Outros tempos, em que as empregadas de limpeza (hoje pomposamente técnicas auxiliares ou técnicas operacionais) eram uma raridade.

Nos anos seguintes foram sendo feitas algumas obras bem como a construção da parte do Jardim de Infância (nos anos 90). A cabine do poço e respectiva bomba foram posteriormente removidas.

Infelizmente, por más políticas caseiras e decréscimo da população escolar, como quem diz das crianças, tanto a escola do Viso como da Igreja ficaram sem alunos, deslocados para Louredo e Lobão. Apenas subsiste uma amostra de alunos no Jardim de Infância no lugar de Fornos.

Do mal o menos, o emblemático edifício da escola do Viso está aproveitado e integrado no Centro Cívico, bem como parte da escola da Igreja está entregue por protocolo a uma associação local, sendo que aqui o desejável é que seja ocupado e dinamizado plenamente por outras colectividades da freguesia, nomeadamente a Associação "O Despertar". Veremos o que reserva o futuro para estes equipamentos que marcaram gerações, onde lá aprendemos e brincamos e de certa forma moldamos muito do que somos hoje como pessoas e cidadãos.

Actualização a 11 de Novembro de 2018:
A sala até aqui vaga, do lado nascente, será ocupada pelo Banco Solidário, dinamizado pelo Grupo Solidário de Guisande e inserido no Fórum Social da União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, com inauguração prevista para o próximo Domingo, 18 de Novembro.



16 de junho de 2017

Cartaz da Comunhão Solene - Memórias de tempos idos


Quero deixar aqui um agradecimento às muitas pessoas que elogiaram o cartaz da Comunhão Solene, nomeadamente pela inclusão de fotografias antigas alusivas à procissão, e que trouxeram um sentimento de memória, nostalgia e saudade de outros tempos. Afinal recordar é viver ou mesmo reviver. Quantos de nós, os mais velhos, não guardamos doces recordações desse dia da nossa Comunhão Solene?  Certamente que quase todos. Pela parte que me toca, as memórias desse já longínquo dia 21 de Junho de 1973.

31 de maio de 2017

Vamos aos livros a Casaldaça

Pois claro, muitos já não se lembrarão, nem os mais novos nem os mais velhos, mas tempos houve em que a  rapaziada de Guisande recebia a visita da  Biblioteca Itinerante, da Fundação Calouste Gulbenkian. Era uma vez por mês, em hora e dia certos (que já não recordo quais, mas creio que numa quarta-feira por volta das 15:00 horas) que aquela carrinha de modelo esquisito, estacionava no largo de Casaldaça, ainda em terra, e abria as portas para que a rapaziada pudesse escolher uma nova remessa de livros que daria leitura para todo o mês. Os leitores tinham, obviamente, que estar registados, o que se podia fazer sem qualquer custo junto do funcionário e mês a mês tinham que devolver os livros para poderem levantar outros tantos.




 A Biblioteca Itinerante, da Fundação Calouste Gulbenkian durante muitos anos percorreu o país de lés-a-lés, especialmente em aldeias onde o acesso aos livros e à leitura era inexistente, como era o caso da nossa freguesia de Guisande.
Não pretendo aqui fazer a história deste fantástico serviço, até porque há locais onde isso já é feito e pela Internet não faltam referências ao mesmo, mas apenas referir que o serviço foi criado pelo administrador da Fundação, Branquinho da Fonseca, em 1958.  Na nossa freguesia de Guisande a Biblioteca começou a aparecer no início dos anos 70 e creio que terá deixado de aparecer por meados dos anos 80. Sei também que oficialmente o serviço durou de 1958 (com 15 carrinhas) a 2002. Durante esse período adquiriu cerca de cinco milhões de livros (de todos os géneros) e fez 97 milhões de empréstimos. Os serviços foram então entregues às autarquias que serviam.


Quanto à carrinha de modelo esquisito, sei agora  que correspondia ao modelo Citroen HY (fabricado entre os anos de 1947 a 1981), que só por si irradiava uma magia fascinante. A que vinha ao largo de Casaldaça era de cor verde-velho. Tinha duas portas na parte traseira que se abriam de par-em-par e uma parte superior que abria para cima, para dar acesso ao fantástico mundo dos livros, da leitura e do fascínio das histórias e das imagens. Essa aura de reino maravilhoso era reforçado pelo tipo de leitura dos primeiros anos, onde preferencialmente eu escolhia livros de contos de fadas, repletos de reinos, reis, rainhas, princesas, gigantes, anões, fadas, feiticeiras e todo o resto da família de seres que povoam o imaginário infantil.
Aos poucos fui deixando as histórias infantis e mergulhei em livros sobre a fauna e flora, repletos de ilustrações maravilhosas e muitos outros livros sobre a terra, a história, as artes e as ciências. Recordo ainda que aguardava-mos pelo dia da visita da Biblioteca Itinerante com justificada impaciência. Todos queriam ser os primeiros a ser atendidos para melhor escolher.
Lembro-me que eram dois os senhores que acompanhavam a Biblioteca, sendo um o motorista e o outro o encarregado ou revisor, o que anotava as devoluções e as requisições. Já não tenho a certeza quanto ao número de livros que se podia requisitar, mas creio que eram cinco ou seis.

Também recordo os momentos angustiantes quando tinha que devolver os livros danificados pela ira maternal, arreliada por, perdido na leitura, eu não cumprir os deveres da escola e da casa. Nessas alturas não havia outro remédio senão tratar dos ferimentos às páginas rasgadas colando-as com cola e com fita adesiva, daquela clássica, e dissimular o melhor possível os livros feridos entre os resistentes. Claro que o revisor dava por ela mas fazia vista grossa pois a devolução de livros danificados devia ser norma nas aldeias, resultado da luta dos pais, alguns analfabetos e pouco dados à leitura, preocupados apenas com a mão-de-obra da pequenada e o cumprimento das suas responsabilidades. A leitura e o tempo com ela despendido  era considerada  pura malandrice pelo que os culpados, os livros, eram mal vistos e pior tratados. Castigava-se assim, de uma assentada, o leitor e os livros.

Hoje, felizmente, há livros por todo o lado e qualquer concelho ou freguesia já dispõem de boas bibliotecas, como o caso da Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira onde é possível requisitar livros para leitura domiciliária.
O livro, apesar de relativamente caro, está bastante disseminado e tornou-se vulgar na casa dos portugueses e a pequenada desde cedo habitua-se a receber bons livros como prendas de aniversário, Natal, Páscoa e noutras ocasiões ordinárias.
 
Por tudo isto, toda a malta da minha geração tem uma profunda memória e admiração pelo serviço da Biblioteca Itinerante, já que graças a ele viajámos no tempo  por reinos maravilhosos, com histórias fascinantes e aprendemos coisas do mundo que nos rodeia. Enfim, crescemos ajudados por tudo quanto aprendemos através dos livros que num momento mágico chegavam ao largo da aldeia naquelas carrinhas maravilhosas.