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25 de agosto de 2019

À sombra...



Sabemos que há quem goste de viver à sombra dos outros, ou mesmo quem vá vivendo bem à custa do suor alheio. Os exemplos são mais que muitos e não é preciso ir à China para os encontrar, por mais disfarçados que por aí andem, mesmo que sem qualquer aparente assomo de vergonha ou decoro.

Mas há igualmente quem precise da sombra apenas como uma bem natural, para sobreviver às agruras de um sol tórrido, como por estes dias em plena serra da Gralheira. Ali, na sombra norte de uma capelinha tão solitária quanto desolada, um grupo de cabras e ovelhas parece que reza encostado a uma qualquer parede sagrada, mas na realidade, apenas a proteger-se da inclemência do nosso astro-rei.

Por esses lados, a natureza maravilha-nos com a abrangência da paisagem e do horizonte, mas não é de meias medidas e ora fustiga com calor, ora castiga com vento, frio e neve. Sem a sorte de um cãozinho ou gato de estimação, é este o destino de alguns animais, por mais adaptados que estejam a esses lugares.

Porventura a vida será boa para alguns cabrões, mas não para estas e outras cabras. Valha-lhes S. Cristóvão e a sombrinha da sua capelinha!

23 de agosto de 2019

Sinais...do céu


Dizem que os céus nos transmitem sinais. Dizem, os antigos, que quando os céus começaram a ser riscados pelos vapores dos primeiros aviões a jacto, o povo, desinformado e supersticioso, atribuía àqueles traços brancos sobre as nuvens, sinais dos céus, quiçá dos deuses e enfiavam-se nas capelas e igrejas a rezar.

Seja como for, em plena época de informação e tecnologia, por vezes estes riscos aveludados sobre o céu azul, mesmo que vulgares, conjugam-se entre si ou com outros elementos da paisagem e dão que pensar a ponto de vermos nessas conjugações verdadeiros sinais. Certamente que meros acasos, mas que podem resultar em interessantes olhares, como este tendo como pano de fundo a capela de S. Pedro do Campo, em Tendais - Cinfães do Douro, em pleno Montemuro, erigida a 1136 m de altitude.

Cruzes, credo...


27 de julho de 2019

Outros tempos, outros olhares - 1




Outros tempos, outros olhares. Algumas coisas, inalteradas, outras nem por isso. É o caso destes olhares no início dos anos 80 em que a nossa igreja matriz não tinha na sua frente a actual alameda nem ao lado a capela mortuária, antes um sanitário incaracterístico.
Na foto de baixo, também algo mudou, neste caso o cruzeiro bem como os muros e acessos ao campo próximo.
Guardamos muitas coisas na nossa memória mas as fotografias, sejam a cores ou sem elas, ajudam a definir essas recordações, esses olhares.

30 de setembro de 2018

Janelas com gente dentro




Há já uns anos valentes, recordo-me de uma pequena mas interessante edição de postais com o tema "Janelas com Gente Dentro". Se a memória me não atraiçoa, creio que foi lançada pelo jornalista Orlando Macedo,  actualmente director do jornal centenário "O Correio da Feira". Grosso modo era o retrato de janelas, de diferentes feitos e feitios.
Tanto então como actualmente gosto do conceito pelo significado da coisa e dele nunca mais me esqueci.
De facto as janelas são os olhos das casas, e na sua diversidade de formas e feitios, nem sempre cumprindo os cânones da boa arquitectura, podem dizer muito de quem por elas olha o mundo, mesmo que este se resuma à vizinhança e ao limite pequenino da sua rua. À volta delas, das janelas, podemos partir numa viagem de suposições e tentar compreender o que de dentro para fora, as almas que habitaram ou habitam as casas viram ou continuam a ver. Banalidades, cenas do quotidiano, um carro que passa, uma pessoa solitária, um cão vadio, um desconhecido com ares suspeitos, um político sorridente em campanha? Apenas isso ou mais do que isso? 
Neste pensamento ligado às janelas, mas sobretudo à vivência observada através delas, de dentro para fora e de fora para o interior, questiono-me se na janela na foto acima, em rigor um vitral, porque fixo, existente na fachada sul da capela do Viso, pode também ser associada a gente dentro? Concerteza que sim, a gente que por ali passou e passa, em dias de  missa, em dias de festa, bem como a gente sagrada que por ali mora, mesmo que na forma de estátuas ou imagens moldadas pela arte humana. Assim, neste espírito, quem sabe se por esse vitral não espreitou já a Senhora da Boa Fortuna ou por ele passaram raios de sol coloridos pelas vidraças marteladas a beijar a fronte do menino em seus braços? Quem sabe?

5 de abril de 2018

Janela de oportunidade

Por vezes certas coisas só se conseguem num momento próprio, muito específico, no que modernamente caiu em voga dizer-se como "janela de oportunidade" ou "timing certo". Ora nesta fotografia, a tal janela de oportunidade surgiu em 2013, após um incêndio que varreu o terreno  sobranceiro ao lugar da Igreja, pondo o mesmo a descoberto e permitindo este olhar, esta perspectiva sobre a igreja matriz e envolvente. 
Hoje, passados cinco anos, já não será possível repetir (talvez com um drone), pois entretanto os eucaliptos cresceram em bom ritmo e já voltaram a povoar densamente o terreno, o que de algum modo nos diz que tudo quanto ardeu no país de forma dramática com os incêndios do ano passado, dentro de poucos anos voltará a estar renovado, essencialmente quanto a eucaliptos. Claro que há espécies que se perderam de forma irreparável e outras que só daqui a pelo menos duas décadas poderão ter portes com alguma imponência. A natureza tem este dom de renovar-se e transformar-se mesmo que nem sempre volte a ser como dantes.

24 de setembro de 2017

Olhares - Capela do Viso e sineta





Capela do Viso e sineta. São horas da andança e da mudança...

Noutros tempos, tocava todos os domingos, logo pela manhãzinha, bem cedo,  a chamar o povo, ainda dorminhoco, a subir ao monte do Viso para assistir à missa das sete. O padre Francisco, ainda fresco, já subira ligeiro pelas Quintães e Barreiradas fora e o Ti Franklim, antecipando-se-lhe, já entrara na sacristia a puxar pela corda do badalo, fazendo-o martelar num ritmo incerto, pelo seu cansaço, na preguiçosa sineta. Tlim, tlim, toca o franklim, Tão preguiçosa que mais tarde foi preciso mecanizá-la, quase castrá-la, sim porque agora já não é o pobre badalo a acariciar o cobre, resignado por isso a uma figura de corpo presente e impotente, enquanto pelo lado de fora, um martelo cilíndrico e impessoal chega-lhe a roupa ao pêlo quando é preciso anunciar a missa, poucas vezes, diga-se.

Pobre badalo, longe já dos tempos em que, conta-se, numa noite de S. João alguém o fez trabalhar umas horas a fio, quando lhe amarraram uma corda a uma cabra inquieta, surripiada de um qualquer curral. Houve quem, estremunhado, se levantasse para ir apressado à missa sem hora marcada ou mesmo a acudir a algum improvável incêndio, dada a inquietação e insistência com que o raio do badalo martelava na sineta. Outros tempos, mas o badalo ainda ali está, desde 1874, para confirmar esta e outras histórias. É só perguntar-lhe.

Nota: Mas sim, a sineta, conforme se vê pela fotografia acima, ainda tem um sistema que lhe permite balançar e assim ser tocada pelo badalo, mas parece que tal tarefa tem sido incumbida ao martelo exterior.