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4 de abril de 2022

Entretenimento


Por uma mera casualidade, numa busca online, percebi que há por este país fora vários estabelecimentos escolares de tipologia EB2.3, ou outras, designadas de Viso. Em locais como Vila Nova de Gaia, Porto, Figueira da Foz, Setúbal, Viseu. etc.

É claro que também tivemos a nossa saudosa Escola Primária do Viso, de Guisande. Teve um lindo passado mas um presente ausente e um futuro igualamente sem história. Não existe. Népias. Não fora o seu excelente aproveitamento e integração no Centro Social e provavelmente já o edifício não teria telhado, nem portas nem janelas.

Os motivos são conhecidos de todos e que emanam da baixa natalidade e políticas de centralismo que não se compadecem com lirismos de cada freguesia ter a sua escola. O centrão da educação a pretexto de poupança de recursos e de melhores condições transformou as nossas escolas nuns aglomerados certamente que com muita vida mas pouca ou nenhuma alma.

Nesta razia, vai sobrevivendo o estabelecimento de Fornos, como Jardim de Infância, mas mesmo esse com necessidade de crianças de outras freguesias. E mais coisa menos coisa, poderá seguir o destino dado às escolas da Igreja e Viso.

Por cá, apesar de toda esta fatalidade, do mal o menos porque fecharam a tasca em Guisande e mandaram os clientes para Louredo ou Lobão, relativamente perto, mas no interior do país, e mesmo num interior próximo, o encerramento de escolas foi um sangramento total e as aldeias tornaram-se ainda mais vazias e tristes e a caminho de se tornarem locais fantasmas.

No fundo, para este totobola conta o tal decréscimo da natalidade mas também, em muito, as décadas de más políticas ou pelo menos de desprezo total para com o interior. Por isso, quando por ora se fala em coesão territorial no mínimo, para não chorar, dá para rir.

Mas este é um assunto que diz pouco ou nada às pessoas. Nem na generalidade as preocupa sequer. Veja-se que tendo partilhado no Facebook um apontamento que escrevi aqui sobre a natalidade na nossa freguesia, como ponto de reflexão, não colheu sequer uma única opinião ou reacção. 

No fundo andamos todos por aqui entretidos com outras coisas e coisinhas e quem ousar reflectir e fundamentar sobre temas mais estruturantes ou mesmo mexer em certas feridas, feitas as contas só arranja lenha para se queimar. 

28 de março de 2022

Fracturas expostas


Parece que o Pedro Adão e Silva, inefável defensor e propagandista de António Costa, o que é legítimo, mas talvez por isso prendado com o cargo de Comissário para as comemorações do cinquentenário do 25 de Abril, com todas as mordomias, e agora de novo re-premiado com outro cargo, o de Ministro da Cultura, terá dito que "datas fracturantes como o 25 de Novembro de 1975 não se devem comemorar".

Custa a crer que alguém nomeado para defender a nosso Cultura e logo a nossa História, se permita a esta pérola. Mas então o 25 de Novembro é fracturante? Para quem? Para quem pretendia para o país uma ditadura de esquerda? Mas então o 25 de Abril de 1974, também não foi fracturante? Claro que foi e ainda bem! Fracturante é passados 50 anos sobre essa data ainda haver gente no Parlamento declaradamente contra a democracia liberal, alguns dos quais acérrimos apoiantes de regimes como o de Putin, China, Coreia do Norte, Cuba, etc.

Considerar certos assuntos ou temas que agradam à maioria de uma certa esquerda moralista, e catalogá-los como "fracturantes" como desculpa para os não reconhecer, é adoptar uma atitude escorregadia ou mesmo covarde. Fracturante foi perdoar a terroristas de sangue, como fizeram a Otelo, e que no entanto acham estruturante que se faça dele um herói como se a sua importância e papel na revolução de 25 de Abril, indesmentível, possa ser, todavia, esponja capaz de apagar crimes de sangue e morte que varreram o país. Haja limites! 

Diria, pois, que Pedro Adão e Silva começa mal ainda entes de tomar posse. Uma data como a do 25 de Novembro de 1975 mais do que fracturante é estruturante e o nosso actual regime, com todos os defeitos e virtudes, é o que dali emanou. Mereceria e bem um feriado nacional com todas as honras. Goste-se, ou não.

Descobrir a pólvora


No início dos anos 1990, a Associação Cultural da Juventude de Guisande - ACJG,  fundia-se com o Centro Cultural e Recreativo "O Despertar", dando lugar à Associação Cultural de Guisande "O Despertar", com a união oficializada no Verão de 1994. Terminava-se uma rivalidade, nem sempre positiva, e uniam-se esforços e vontades.

Numa  das primeiras acções dessa nova associação,  no lugar do Reguengo, junto ao Moinho Velho, na  ribeira da Mota (foto abaixo), foi marcada uma jornada de limpeza e só nesse sítio foi recolhida uma carroça de tractor completamente cheia de lixo, incluindo garrafas, plásticos e roupas abandonadas por quem ali usava o tanque.

Parece que nos tempos que correm essa acção tem um nome todo catita, até em inglês (adoramos os inglesismos para coisas só nossas) para parecer moderno, embora o conceito tenha surgido na Suécia. Trata-se do PLOGGING, que grosso modo é um conceito que pretende juntar o exercício físico a acções de limpeza do meio ambiente.

Resumindo e olhando para estas coisas e para o seu mediatismo,  por vezes ficamos com a ideia de que agora é um fartote a descobrir a pólvora.

Em todo o caso, é uma ideia importante e válida, esta a de juntar exercício físico com a limpeza do meio ambiente, mas só peca por... ser precisa.

25 de março de 2022

Com Eritreia e a Coreia, juntos na diarreia

Confesso que nem estava lembrado que a Eritreia fosse um país. Mas de uma história conturbada e ocupação colonial pela por italianos e ingleses, obteve o reconhecimento da sua independência pela ONU em 24 de Maio de 1993. 

Apesar da sua Constituição a definir como um Estado republicano presidencialista com uma democracia parlamentar, a verdade é que tem sido de partido único e sem eleições desde a sua independência. Ou seja, na prática uma ditadura.

Não surpreende, pois, que a par de mais três ditaduras, Coreia do Norte, Bielorrúsia e Síria, a Eritreia tenha sido um dos quatro países de todos quantos têm representação na ONU a não condenar a Rússia pela situação de invasão na Ucrânia. 

A resolução que condena a Rússia e pede o fim da agressão, foi aprovada por esmagadora maioria nesta Quarta-Feira, pela ONU,  com o apoio de 141 dos 193 estados-membros das Nações Unidas. A resolução teve apenas cinco votos contra (Rússia, Bielorrússia, Síria, Coreia do Norte e Eritreia) e 35 abstenções.

O texto “deplora” a agressão russa contra a Ucrânia e “exige” a Moscovo que ponha fim a esta intervenção militar e retire imediatamente e incondicionalmente as suas tropas do país vizinho.

Em resumo, a Rússia comporta-se como o soldado recruta que marchando em contra-passo na companhia, to faz com a certeza que é o único que vai com o passo certo, marchando todos os demais errados. Para enfeitar o ramalhete, tem a seu lado esses quatro países do mesmo naipe que mais do que serem um importante apoio são, afinal de contas, a prova provada da sua falta de razão face à invasão, agressão e desproporcionalidade. Desculpando os termos, são merda do mesmo saco e assim vão juntos nessa diarreia de prepotência e desprezo pelo Direito Internacional. Pena que a China se abstenha numa atitude que só dá força, mas de uma outra ditadura outra coisa não se esperava.

Mas para além de tudo, para lá de mais uma condenação do mundo, a ONU nestas questões de segurança mostra-se um pingarelho sem qualquer efeito prático e a vontade de um único país pervalece sobre todos os demais. 

21 de março de 2022

Ainda o Centro Social de Guisande

Na recente apresentação pública do bonito livro de autoria de Carlos Cruz, que decorreu nas instalações do Centro Social de Guisande, no Monte do Viso, entre outras importantes figuras, esteve presente o Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Sr. António Gil Alves Ferreira que entre palavras de circunstância e no contexto do evento, teceu elogios às instalações do Centro. 

Quem o conhece, sabe que o Sr. Vereador fala bem e muito, mas no caso, tendo sido simpático, não terá dito nada de mais, apenas uma constatação, já que de facto as instalações do Centro Social têm qualidade, estão inseridas num bonito e aprazível local e por conseguinte estão aptas à actividade principal para a qual foram construídas bem como de eventos comunitários, como a sessão dessa apresentação literária, para além de que o processo de construção teve a vantagem de fazer o aproveitamento capaz e digno de um edifício emblemático para a freguesia, como é o caso da Escola do Viso. Doutro modo, estaria por ali abandonado, vandalizado, a cair de ruina ou com ocupação descontextualizada e sem algo de substancial para a freguesia.

Temos assim  um Centro que integra o antigo e o moderno, preserva a história, memórias e identidade de um local e de um equipamento onde muitas gerações de guisandeses aprenderam e moldaram-se como homens e mulheres.

Por conseguinte, só por alguma  má vontade, desconsideração ou até mesmo por má fé intelectual, alguém pode ter uma opinião e uma posição negativas para com o Centro, os seus propósitos e as suas instalações. Podemos até não simpatizar ou mesmo detestar os elementos que integram os corpos gerentes, ou de um ou outro, mas até isso tem uma solução chamada eleições, o que de resto vai acontecer no final do próximo ano (Dezembro de 2023). 

Bastará, aos interessados em mostrar e demonstrar como se faz mais e melhor, serem sócios para poderem concorrer. É o mínimo. 

Neste contexto, e até porque o actual presidente da Direcção, Joaquim Santos, não poderá recandidatar-se ao cargo, por imposição dos estatutos, será uma oportunidade de ouro para quem se considera crítico para com o Centro Social, demonstrar qual o caminho certo, dar a cara e o esforço. 

Vamos ficar á espera desse passo, dessa reviravolta.

17 de março de 2022

A guerra e a saúde mental

Ontem, num qualquer canal de televisão, a propósito desta guerra que a Rússsia está a impor à Ucrânia de forma devastadora, atacando de forma indiscriminada alvos civis, numa tática de puro terror, uma técnica chamava a atenção para os problemas mentais e psicológicos que acabarão por afectar toda a população ucraniana, sobretudo crianças, mas também todos nós que assistimos por fora e que estamos a ser bombardeados com imagens desse terror e horror. De algum modo, pela injustiça e total injustificação da invsão, tendemos naturalmente a tomar os papéis e estados de alma dessa gente.

Coincidência, ou não, certo é que nesta noite acabei por ter sonhos relacionados a essa guerra e à sua destruição e morte. Naturalmente não serei caso único.

Neste contexto, enquanto pessoas interessadas no acompanhamento da guerra e das suas consequências, torna-se necessário tentar um equilíbrio entre o nosso interesse pela informação mas também não fazer disso uma dependência. 

Claro está que cabe às diferentes televisões que cobrem diariamente a guerra que o façam de forma igualmente equilibrada, sem excessos para além do razoável. Uma cobertura excessiva com enfoque em aspectos de morte e dramas, que sabemos que são reais face ao contexto, não ajuda muito. Num exemplo desse exagero, como de resto noutros, a CM TV dá cartas e estará a contribuir para a degradação da nossa saúde mental. 

Importará assim, a cada um, mediar na justa medida o interesse na informação mas procurando filtrar o adequado e o acessório. Acompanhar as notícias e reprotagens de forma intensa, a toda a hora, não ajuda.

16 de março de 2022

Com as calças na mão e sem cuecas


Passam hoje 87 anos sobre a data (16 de Março de 1935) em que Adolf Hitler ordenou o rearmamento da Alemanha, violando então o Tratado de Versalhes que havia sido imposto após a derrota germânica na I Grande Guerra. Também foi introduzida a obrigação do serviço militar para a formação da Wehrmacht.

O que menos importa às novas gerações é a História, os seus factos no tempo e no espaço, mas, todavia, ela continua implacável e fria, sempre a dar-nos lições e a relembrar-nos, se não os caminhos que devemos seguir, pelo menos os que devemos evitar, concretamnete os que conduzem à guerra.

Mas chegados aqui, em pleno séc. XXI, quando se pensava que as guerras e guerrilhas eram só para os pequenos e instáveis estados do médio oriente ou África, como pretextos para as grandes potências entreterem os seus generais e experimentarem novas armas, e que a Europa vivia num ambiente de paz duradoura e virada para  a prosperidade, com a sua união económica cada vez mais alargada, ou mesmo com a NATO a estender-se a países que ainda há pouco andavam sob o jugo da URSS, eis que afinal tudo se subverteu. A loucura de apenas um homem e toda uma nação continental que lhe obedece cegamente e com isso a invasão, a morte e a destruição gratuita de um povo e um país, sem que os seus novos vizinhos possam responder, por questões políticas mas também por incapacidade militar, é demonstrativa que a força ainda continua a dar cartas.

Em resumo, a Europa há muito que vinha a desinvestir nas suas forças militares, no que parecia ser o caminho correcto, porque ainda vale a ideia de que é bem melhor e mais sensato edificar um hospital do que construir um avião de guerra, mas certo é que foi descendo as calças e agora foi apanhada com elas a meio das pernas e até mesmo sem cuecas.

Assim, em contraponto à data que aqui lembramos, temos já sinais de que a Alemanha, uma potência económica quase desmilitarizada, vai aumentar significativamente  os seus gastos no sector militar, incluindo a aquisição de várias dezenas de aviões F-35 aos Estados Unidos.  De resto este despertar também vai chegar a outros países como a Inglaterra, França e Itália e até mesmo ao nosso Portugal onde certamente os paióis de Tancos vão ser reapetrechados e dados mais brinquedos de "brincar" às guerras à malta das chefias castrenses.

Como se vê, as coisas tendem ao voltar  ao "normal" e como já estávamos esquecidos dos horrores das guerras mundiais, considera-se agora que, apesar de tudo, o único meio de dissuasão é precisamente o rearmamento. A paz por si só não se impõem porque basta um simples anormal instituído de chefe, mesmo que à força, pela ditadura e repressão, a derrube como a um castelo de cartas.

O mundo ocidental e civilizado tem assim que procurar assegurar a paz pelas armas, mesmo que estas ali esteja só como aviso. Não é o ideal, pois, não, nem nunca foi, mas ou isso ou a subjugação de todos ao desvario de um, dois ou três.

7 de março de 2022

RTP - Serviço público?


A RTP, o canal público de televisão, celebra nesta data de 7 de Março de 2022, 65 anos de emissões regulares.

O conceito de serviço público associado à RTP não é consensual e cada pessoa que pensa dá a sua sentença. Pela minha parte, considero que, sobretudo o Canal 1, extravasa em muito o que deve ser um  serviço público. Deve restringir-se aos conteúdos institucionais, informação de qualidade, isenta e independente da voz do dono, que são os sucessivos governos, e ainda com uma forte componente cultural e científica, maior ênfase às realidades locais e regionais e sua divulgação. 

Tudo o que é entretenimento está a mais, sendo apenas mais do mesmo e concorrencial às televisões privadas. Há um excesso destes programas, incluindo os de "encher-chouriços" e pimbalhadas. Mesmo séries de ficção apenas se justificam aquelas com contextos históricos.

Publicidade, não se justifica de todo e deveria ser apenas institucional.

Mas, admito, este modelo de serviço público de televisão que advogo não é o que colherá um maior entusiasmo, porque à volta da RTP orbitam demasiadas estralas do mundo do entretenimento e enchimento de chouriços. Temos assim uma RTP 1 pejada de entretenimento, de manhã à noite, como se entreter o país e distrair as salas de espera, seja um imperativo de serviço público.

Vamos, pois, continuar a fazer de conta que temos um bom serviço público de televisão, mesmo que, enquanto contribuintes, sejamos cobrados pelos impostos e pela taxa de audiovisual, ou que isso queira significar. 

Já fostes! É um espectáculo!

Direito enviezado


Sejamos claros: Em rigor vivemos não num Estado de Direito mas, quando muito, num Estado de Alguns Direitos, onde quem tem dinheiro melhor aproveita os meandros da Justiça a seu favor. 

Podíamos estar aqui o dia todo a enunciar casos e exemplos, mas, por ora, apenas um: Uma pessoa é arrolada como testemunha num qualquer processo, muitas vezes sem nada saber sobre o mesmo e assim, sob pena de multas, coimas ou mesmo condenações, fica obrigada a comparecer a Tribunal, tantas vezes inutilmente porque tantas vezes as sessões são adiadas. Este é o "pão-nosso-de-cada-dia" da nossa lenta Justiça.

Por outro lado, todo o stress, incómodo e prejuízo não são compensados. A lei prevê que se possa pedir uma compensação pelas despesas de deslocação, é certo, mas o valor pago é simbólico e com valores determinados que obviamente não são ajustados em função de alguns factores, desde logo a constante variação dos preços de combustível.

Por outro lado, sendo certo que a lei prevê ainda que uma falta ao trabalho, devido a uma presença no tribunal como testemunha, seja considerada justificada, e como tal não perde o correspondente venciamento, em rigor é penalizada a empresa já que esta tendo que pagar ao trabalhador ausente, não recebe qualquer compensação do Estado. Para além de que, em muitas empresas fica em causa o prémio de assiduidade o qual não é pago. 

Por este simples exemplo, factual, assim se caracteriza este nosso Estado de Direito, por vezes tão enviezado. 

Impressivamente


Sou assinante de dois jornais online, um nacional e outro local, no caso o "Correio da Feira". Infelizmente, no caso deste estou arrependidinho já que a versão paga é pouco mais que a versão aberta, igualmente carregada de publicidade e com uma navegação lenta. Só para o login é quase um minuto. Quanto a notícias, o principal de um jornal, poucas e ressessas. Sinceramente esperava mais e diferenciado na versão paga. 

Pergunto, assim, a mim mesmo, como é que alguns jornais, mesmo na versão online, aspiram ao crescimento e à angariação de leitores e assinantes quando oferecem pouco, poucoxinho? Mesmo na versão paga não dispensam a invasão e persistência da publicidade. Uma versão paga, sem publicidade é o mínimo que se pode pedir.

Assim sendo, obviamente que não se pode esperar que os leitores assinem e quando assinem renovem a assinatura. 

Acredito que na imprensa regional os meios e os recursos não sejam muitos mas nesta "pescadinha de rabo na boa" acaba por ser difícil  sair do ciclo porque sem qualidade não se pesca. Mas é sempre possível fazer mais e melhor mas até mesmo as coisas simples são trabalho e há quem não esteja para aí virado.

É pena!

25 de fevereiro de 2022

PCP - No reino da foice, a clareza foi-se


A propósito da bárbara invasão da Rússia à vizinha e irmã Ucrânia, impressiona que em pleno séc. XXI o Partido Comunista Português ainda tenha posições dignas do tempo da guerra fria, não condenando directamente e sem mas, nem meios mas, a invasão da Ucrânia. Da China, outro país onde a Democracia não respira de todo, percebe-se que tenha uma posição alicerçada nos seus interesses económicos e estratégicos e por conseguinte não condene a Rússia. De resto tudo indica que esta invasão tinha à partida o "fechar-dos-olhos" da China, já que com a aplicação das sanções, será o gigante asiático a minorizar o impacto.  Daí que nada se espere e o discurso monocórdico é sempre o previsível. 

Já quanto ao PCP, ainda ontem em programa televisivo, um dos seus dirigentes, Bernardino Soares, numa posição que corresponde à do partido, por desfastio e para não desacertar o passo do mundo, condenou a invasão mas... sempre um mas, um todavia, um porém,  condena com mais veemência a Europa e sobretudo os Estados Unidos. É velho o preconceito dos comunistas contra os Estados Unidos, até mesmo um ódio de estimação, mas custa a perceber que um partido em regime democrático, critique suavemente e com muitas reservas um país gerido por uma oligarquia totalitária onde os conceitos de democracia são um faz-de-conta, totalmente subvertidos, onde se muda a constituição para se perpetuar o poder, onde a oposição é perseguida, aniquilida e condenada, e por outro lado se  tenha a lata de condenar um país democrático e que neste caso particular, que se saiba, neste caso não é invasor, de resto até numa posição de fraqueza.

Também concordo que a política externa dos americanos tem tido muitos erros e alguns graves, e não são inocentes em muitas merdas que têm feito, mas neste caso pretender  o PCP desagravar ou mesmo ilibar o invasor, de uma guerra sem a mínima justificação, e condenar quem está de fora parece algo surreal.

Assim, para o PCP  qualquer crítica aos antigos camaradas da guerra fria, é como comprar não um biquini com duas peças inseparáveis, mas apenas um monoquini: Utiliza a cuequinha para tapar o traseiro do camarada  mas não utiliza a outra peça, de modo a destapar as maminhas da democrática América.

Mas, como diz alguém, dali não se espera nada de novo, de resto é uma posição que não conta para o totobola de tão previsível que é. Como se costuma dizer, se uma árvore dá pêssegos, então é um pessegueiro. Ou, utilizando um provérbio tão caro ao camarada Jerónimo, a crítica à Rússia, a Cuba, Venezuela, China ou Coreia do Norte, para o PCP é como manteiga em nariz de cão. Numa lambidela lá se vai.

21 de fevereiro de 2022

Acudam, que é lobo...(ou talvez não)

No contexto do conflito ou tensão militar entre a Rússia e a Ucrânia, que vai marcando os dias, parece-me que a postura dos Estados Unidos e do seu presidente não me parece a mais adequada. Tem estado literalmente a replicar a fábula de "Pedro e o lobo" e com ela a marcar dias para a invasão, que era para ser na Quarta-Feira mas que agora pode acontecer na Quinta-Feira, ou, se calhar, no Sábado ou mesmo apenas para a semana.  Mas que a coisa está decidida, está, dizem!

Sinceramente não percebo esta tática de adivinhação, em vez de se partir para uma negociação diplomática credível e que sirva ambas as partes e sem atitudes de prognóstico de totobola. 

Porventura com ela, a táctica,  pretendem os americanos que Putin se sinta intimidado a invadir  sob pena de não querer dar razão aos adivinhos da Casa Branca. Parece-me evidente que a haver o propósito de invasão ela poderá ocorrer naturalmete em qualquer altura, independentemente da agenda anunciada pelos Estados Unidos. Ou seja, um dia o lobo vai mesmo atacar as ovelhas e aí já ninguém dará credibilidade ao Pedro Biden americano.

A ver vamos!

18 de fevereiro de 2022

Ousadia de ser

Pessoas como eu, que gostam de criticar e chamar à atenção do que acham que é incorrecto e está mal, levam-nos a ter mais inimigos do que amigos.

(..)

O problema para quem escreve, opina, intervém publicamente, tem que ver entre uma linha de se incomodar e uma linha de não se incomodar, não ligar, ser manso, dócil e tudo aceitar. A tentação de nada fazer, por vezes, é mais forte e cómoda do que actuar e intervir.

(...)

Seria mais cómodo, nada fazer e dizer, mas ser "livre" é uma opção política e de vida. Se falamos caímos no ridículo e julgam-nos por segundas intenções. Se nos calamos e nada fazemos , portámo-nos como cobardes e mansos à espera de algo.

(...)

Devemos e temos que ter a ousadia e a determinação de incomodar, chamando à atenção, fazer pensar quem nos lê, escuta e vê, ter uma visão diferente do poder instalado. É importante assinalar os abusos, imbecilidades, cinismo, desfaçatez, as suas razões grotescas, por fim, exigir que nos prestem contas e que expliquem as suas decisões.


Joaquim Jorge

Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores

[fonte e artigo completo: Diário de Notícias]

13 de fevereiro de 2022

Ver para crer

Há alguns dias atrás, conversando com alguém conhecedor e com alguma influência social na nossa freguesia, falámos sobre o processo que está em curso (com recolha de assinaturas) no sentido de tentar resgatar Guisande ao actual modelo de união de freguesias, aproveitando o regime transitório legal que prevê a possibilidade de reverter o processo de agregação, o que poderá ser feito no prazo de um ano a partir da data da aprovação da respectiva lei-quadro. Por isso, aproximadamente até ao final do corrente ano.

Para além da tal vontade poder ser concretizada e do cumprimento ou não dos critérios estabelecidos para a possibilidade de desagregação, será necessária a aprovação em sede de Assembleias de Freguesia e Municipal e há alguns sinais que a coisa possa não reunir consenso geral. 

Mesmo assim, considerando possível a concretização, a pessoa em causa mostrou sérias dúvidas sobre as vantagens para a freguesia no actual contexto. Considera que a freguesia nesta fase está sem lastro social e sem massa crítica da qual possam sair os futuros líderes e autarcas com interesse, conhecimento e capacidade. 

Pessoalmente, mesmo admitindo o contrário, em determinado contexto, não me estou a ver novamente numa situação de serviço na actual União de Freguesias, seja em que grau for, na Junta ou na Assembleia, mas em caso da freguesia recuperar a sua independência, o meu humilde contributo, se requerido e no contexto adequado e com as pessoas certas, estará sempre disponível, se possível numa lista ou movimento supra-partidário.

É claro que, desejando eu que seja possível a nova desagregação,  contrariei a opinião céptica do meu interlocutor e procurei justificar que se é certo que a freguesia pouco tem a ganhar em termos concretos, tem pelo menos a vantagem de não continuar a perder a sua identidade e desagregação, o que nitidamente começou com a reforma administrativa que a colocou na actual situação. 

Por outro lado, mesmo analisando os supostos e prometidos ganhos com a união de freguesias, a verdade é que já com dois mandatos passados está por demais evidente que a freguesia foi em muito prejudicada, sem quaisquer obras que justificassem a anterior relação de receitas. Tem sido uma total estagnação e mesmo desrespeito.

Todos desejamos e temos esperança que a nova Junta da União tenha uma postura diferente da seguida até aqui, com demonstração efectiva de respeito e equilíbrio nas diferentes áreas, mas de tão má experiência as dúvidas são muitas.

Em todo o caso, voltando à pessoa da conversa, sou obrigado a dar-lhe razão no fundamental, já que neste momento não vejo rigorosamente ninguém com conhecimento, interesse e capacidade de conseguir motivar a freguesia e torná-la novamente dona de si própria. A velha guarda já deu o seu contributo e agora  merece naturalmente dias de descanso. Por sua vez, os mais novos, de um modo geral, não demonstram qualquer interesse e empenho pelas coisas da comunidade e em rigor não a conhecem para lá dos muros do quintal de suas casas. O movimento associativo e sobretudo culturale  recreativo é quase inexistente e sem uma abordagem geral à freguesia. De resto, mesmo com as anteriores experiências, como a Associação "O Despertar", a verdade é que a freguesia quase não respondeu, alheando-se dos diversos programas, acções e eventos. 

Por sua vez, a  Associação do Centro Social S. Mamede de Guisande conseguiu concretizar uma obra fantástica, que pode e deve ser um elemento catalisador de vontades e união inter-geracional, mas apesar disso tem sido ostracizada pelo poder público que tarda em concretizar os programas de apoio aprovados, e mesmo na freguesia são muitos os maldizentes e invejosos que rezam para o insucesso e seu encerramento. E não faltará muito para que as suas preces sejam concretizadas, pois se as coisas não mudarem de forma significativa, quando a presidência do Joaquim Santos terminar o seu actual mandato, o destino será provavelmente a entrega das chaves das instalações à  Câmara Municipal ou à Junta de Freguesia, que certamente serão impotentes para reactivar e dinamizar o equipamento. De facto, realisticamente não estou a ver alguém ou algum grupo capaz de se candidatar aos corpos gerentes e dinamizar a respectiva associação e dar corpo ao seu objecto social. Ninguém quer nada, sobretudo de algo que só dá trabalho, canseiras e responsabilidades e sem qualquer retorno. Os indiferentes são muitos e os maldizentes são alguns e até sabemos quem são. Dali não se espera nada. 

Assim sendo, não anda longe da razão a pessoa com quem conversei sobre este assunto do possível resgate da freguesia. Falta-nos muita coisa, sobretudo gente com qualidade, interesse e conhecimento pela cidadania e causa pública, nomeadamente a troco de nada. Alguns que até podiam estar na grelha de partida, preferem estar no choco, nos seus entretenimentos e sossegos, apenas a assistir da poltrona. Os primeiros a maldizer mas os últimos a mostrar trabalho ou a dar o exemplo. Foge Quim!

Ora quando assim é, mesmo que a freguesia venha a conquistar a sua independência, tenho sérias dúvidas que voltem os antigos dinamismos de uma freguesia que dava cartas nos diferentes aspectos, apesar de pequena. Já foi chão que deu uvas.

Oxalá que este cepticismo não tenha razão de ser e que nos enganemos profundamente. Seria bom e um positivo sinal, mas até lá, como o S. Tomé, ver para crer.

11 de fevereiro de 2022

A violência como cultura

A detenção pelas autoridades de um jovem português de 18 anos de idade, universitário na Faculdade de Ciências de Lisboa, que supostamente estaria a preparar um atentado contra colegas e pessoal dessa instituição, foi assunto no final de ontem, de hoje e será seguramente nos próximos dias.

Para além de tudo o que se possa concluir e das especulações tão caras a certos canais, parece que o motivo base da intenção e preparação de tal acto criminoso, quiçá terrorista, terá na sua génese a ver com o facto do jovem ser alvo de bullying.

É claro que nada justifica o que o universitário supostamente se preparava para concretizar, mas importará que o Estado e as autoridades dele dependentes comecem a valorizar a questão do bullying que é transversal às nossas escolas e nos seus diferentes graus. Ainda por estes dias noticiava-se a agressão de uma criança por parte de colegas em ambiente escolar. Estas notícias são mais que muitas, incluindo a questão da aberração e humilhação pelas praxes académicas, que pelas quais, em última análise, levaram à morte de 6 alunos no conhecido caso de afogamento da Praia do Meco, que quanto a responsabilidades a culpa morreu solteira e o marmanjo do Dux passou incólume pelos pingos da chuva. Era o chefe e foi o único a salvar-se. Há milagres...

Por outro lado estamos em plena cultura da violência gratuita e como ementa do entretenimento e ela chega às nossas crianças e adolescentes de forma massiva, seja nos jogos electrónicos, seja na industria da televisão e cinema.

Não é preciso ter-se o canudo de psicólogo ou psicanalista para se perceber e entender o quanto o bullying pode transformar negativamente as personalidades e dar-lhes sentimentos de revolta e de vingança a ponto de, num contexto com os ingredientes certos, despoletar situações criminosas.

Felizmente este tipo de crimes e massacres entre nós é raro ou mesmo inexistente, mas todos sabemos o quanto é grave em países com alguma liberdade e facilidade ao acesso a armas, como nos Estados Unidos. Ali, os casos têm sido mais que muitos e graves.

Importará, pois, que por cá se dê importância e significado às situações de bullying e que haja castigo adequado para quem o pratica, consente ou desvaloriza. Sem um controlo eficiente e disciplinado, as coisas não vão lá e um dia destes acontecerá mesmo uma tragédia.

O Estado, no papel das escolas, faz de conta que a coisa tem pouca importância, apenas desentendimentos esporádicos e inconsequentes entre alunos. As escolas fecham-se em copas ao escrutínio, permitindo que centenas de crianças sofram e vejam a escola como algo negativo e um local perigoso.

Não devemos generalizar nem dramatizar, pois não,  mas convém que se atalhe o problema.

Quanto à questão judicial, não sei até que ponto este aparato mediático a pretexto de apenas uma suposta intenção de crime, é saudável. De resto nem é norma. Todos os dias as autoridades evitam crimes e não é por isso que lhes é dada importância. Tudo na justa medida. Com um bom advogado o jovem será solto apenas com uns beliscões. Afinal de contas o que é que cometeu? Posse de armas ilegais? E quem as não tem? 

Não quero menorizar o contexto e até considero que no essencial as autoridades trabalharam e agiram bem, mas o mediatismo por algo que não chegou a acontecer é que é inusitado e extemporâneo. De resto, neste raciocínio, Cândida Almeida, ex-directora do DCIAP criticou a PJ, referindo que "...Não é normal nem aconselhável” que se divulguem tentativas de ataque evitadas.

Mas é disto que a casa gasta e por vezes as autoridades parece que padecem de uma necessidade doentia de alimentar a agenda da comunicação social.

Não havia necessidade.

7 de fevereiro de 2022

Só nós dois é que sabemos...

Creio que já o disse ou escrevi por aqui: O nosso sistema eleitoral só benefecia os dois grandes partidos e daí os mesmos não terem interesse particular em mudar a coisa. Não surpreende, por isso, que o Partido Socialista com 41% do total de votos tenha conseguido a maioria de deputados. Parece anedótico e contrário às leis da matemática, mas é a realidade.

Ainda com este sistema, em Portugal e para as legislativas são cerca de meio milhão de votos que valem absolutamente nada em termos de representatividade, apenas para dar uns trocos aos respectivos partidos. Em distritos pouco populosos, como Bragança, Guarda ou Portalegre, por exemplo, qualquer cidadão que for às urnas votar em qualquer partido que não o PS ou PSD, é, na prática, uma pura perda de tempo. Valerá apenas o valor que os partidos recebem por cada voto, 13 euros, o que até nem é mau e vai dando argumentos para a existência de partidos residuais que assim, para além do tempo de antena, sacam umas massas ao Estado.

Outro exemplo dos paradoxos do nosso sistema, no caso o CDS que no global do país teve muitos mais votos que o Livre (cerca de mais 13 mil) e no entanto não elegeu nenhum deputado. Dá que pensar?

É claro que este deficiente sistema não é exclusivo de Portugal. Há outros sistemas igualmente esquisitos, incluindo os Estados Unidos. No Reino Unido, por exemplo, com um sistema de 650 distritos, em que cada um elege um único deputado (o vencedor). Com tal sistema, um partido até pode ter menos votos que o adversário, no global, e alcançar a maioria dos deputados, o que de resto já aconteceu.

Em ambos os casos ou em sistemas onde existem estas anormalidades e paradoxos, em regra beneficiam sempre os dois grandes partidos de cada país, daí não interessar aos mesmo alterar as respectivas leis eleitorais, no fundo, as leis do jogo. É, em resumo, uma espécie de batota em que os meninos grandes enxotam os meninos pequenos da roda do jogo. Como numa sala para assistir a um filme pornográfico, só entrem os de maior idade.

6 de fevereiro de 2022

Extremismos

O Bloco de Esquerda e a sua coordenadora Catarina Martins, levaram uma coça de todo o tamanho nas eleições legislativas no passado Domingo, com a redução do seu grupo parlamentar de 19 para 5 deputados. O eleitorado, ao Bloco e também ao Partido Comunista, castigou-os, culpando-os da situação que levou à dissolução da Assembleia da República e à consequente convocação de eleições antecipadas.

Apesar disso, da derrota, do rombo e da perda da importância, continuam a dizer que manterão o combate à extrema direita, sobretudo ao Chega de André Ventura que lhe arrebatou o lugar de terceira força política no Parlamento. Na noite do rescaldo, apelidou mesmo os deputados eleitos pelo Chega de racistas, sem tirar nem pôr.

Em resumo, o Bloco e a sua dirigente, parece que ainda não perceberam que muito do êxito do Chega resulta precisamente do extremismo com que o têm tratado. O Chega mereceria porventura apenas a indiferença e o seu esvaziamento, mas o Bloco teima em insuflá-lo e usar um posicionamento radical, adoptando valores como o extremismo e uma postura de quase ódio. O Bloco mostra-se assim também ele intolerante e faccioso. Pode desrespeitar a esmo os deputados eleitos do Chega mas deveria ter em consideração os milhares de portugueses que em liberdade e legitimidade os escolheram.

Assim, apesar da derrota e da sua quase vaporização, o BE continua arrogante e fala do alto da burra como se ainda tivesse 19 ou 50 deputados e mais do que isso, a exclusividade dos valores da democracia e cidadania. 

Podemos não gostar do Chega e de alguns dos seus princípios, e eu também não gosto, mas importará perceber onde é que a democracia e os seus intérpretes têm falhado a ponto de gerar um descontentamento de largos milhares de portugueses. As respostas parecem ser fáceis e óbvias mas o actual sistema de uma esquerda moralista  tem tido orelhas moucas e línguas mudas. Discursos de ódio como os dos Mamadous Bas, não ajudam de todo e só acirram e cimentam o extremismo de ambas as partes, 

Não espanta, pois, que a onda de revoltados comece a ganhar importância e peso eleitoral, goste-se, ou não. O Bloco diz não gostar, mas tem que os aguentar. Bem gostaria de os exterminar por decreto, mas não é por aí que a coisa se resolve. Talvez na China ou na Coreia do Norte, mas não por cá.

Qual o caminho?

Infelizmente, o resgate complexo da criança marroquina, o pequeno Rayan, ocorrido ontem em directo pelas televisões do mundo, não foi a tempo de a retirar com vida do estreito e profundo poço onde caíra quatro dias antes e que, contra todas as probabilidades, tinha milagrosamente resistido até ali. 

Todavia, apesar do desfecho tão esperado como inesperado, ficamos todos impressionados e sensibilizados pela forma como largas dezenas de operacionais tentaram tudo por tudo, em situação difícil, para chegar a tempo ao local onde a criança estava em angústia e sofrimento, bem como com a fé das largas centenas de populares que ali se deslocaram para assistir à operação, dirigindo as suas orações para que tudo terminasse bem.

Este episódio lembra-nos outros parecidos, como o resgate dos mineiros no Chile, os adolescentes na Tailândia, etc. Em todos eles o empenho de muitos em prol de poucos com uma dedicação sobre-humana, em situações de superação e de risco próprio. No fundo, o melhor da humanidade no serviço pelos outros em que cada vida conta e pouco mais importa.

Mas há sempre um outro lado na moeda e assim a mesma humanidade capaz do melhor e da elevação dos valores mais altruístas, é também ela capaz de criar situações de conflitos e despoletar guerras sangrentas e destruidoras, capazes de levar à morte milhares e milhões de pessoas inocentes e destruição de bens e património comuns. 

Este mau lado da moeda é o que tem estado latente no para já apenas tensão polític e militar e diplomática, o caso da Rússia e Ucrânia, mas que de facto de um momento para o outro pode levar a uma guerra de consequências incalculáveis, dado o potencial militar das forças envolvida e a envolver.

Perante esta dicotomia de humanidade e seus valores, ficamos sempre numa angústia e incerteza de qual das partes prevalecerá. O lado do bem, dos valores humanos, solidários e altruístas, ou o lado da loucura, da indiferença e desprezo pelas pessoas, pela natureza, pelo planeta? O que aprendemos ou não dos relativamente recentes grandes conflitos, como as guerras mundiais? Parece que nada. Absolutamente nada!

Por qual caminho nos dirigimos? Para o resgate do pequeno Rayan ou para a loucura?

4 de fevereiro de 2022

O BUPi é uma (quase) valente "merda"


O BUPi é uma daquelas formas que o Governo arranjou para fazer incidir as responsabilidades e custos da realização do cadastro predial directamente aos proprietários. 

Depois de anos com o Estado a suportar o processo mas ainda com a maior parte do território do país por cadastrar, o Sr. Costa e acólitos tiveram uma epifania e voilá: Aí temos o BUPi, uma plataforma electrónica que vai dar trabalho e ocupar muitos técnicos, uns profissionais, outros aprendizes e outros nem uma coisa nem outra.

Para além de tudo, uma plataforma que parece pouco prática e algo complexa e aparentemente não funcional já que são mais que muitas as vezes em que está fora de serviço.

Mas o que vem a ser esta quase "merda" do BUPi, uma terminologia para  Balcão Único do Prédio (BUPi)?

Segundo a Wikipedia, "Balcão Único do Prédio (BUPi) é uma plataforma de interoperabilidade que agrega a informação relevante sobre os prédios urbanos, rústicos e mistos em Portugal, e os seus titulares, incluindo informação disponível nas várias bases de dados públicas das entidades parceiras do projeto BUPi, através da articulação entre o registo predial, a matriz predial, o cadastro predial e a informação geográfica. A Lei n.º78/2017, de 17 de agosto, cria o Sistema de Informação Cadastral Simplificado e o BUPi como plataforma única nacional de registo e cadastro do território, com o intuito de conhecer o território português de forma simples e inovadora, aumentar a eficiência no planeamento e gestão do território, no combate aos incêndios rurais e na criação de valor económico a partir dos recursos naturais".

Claro que tudo isto é uma quase valente "merda" porque em rigor quem lida com estas coisas sabe perfeitamente que a articulação dos serviços da Conservatória do Registo Predial e Finanças é coisa que não existe e a regra é que a caracterização e descrição dos prédios sejam invariavelmente diferentes em ambos, seja na área, nas confrontações, na titularidade de propriedade, etc. De resto é desta falta de harmonização entre ambas as entidades que surgem as dificuldades, já que as diferenças entre ambas, mesmo que de pormenor e pouco relevantes, são motivo para a submissão ser considerada inválida. Depois a questão do título, como escrituras de partilhas, de compra e venda, etc.

Um exemplo típico desta desarmonia: Se num prédio na matriz está como titular a Maria dos Santos Silva mas na Conservatória está como Maria dos Santos Silva Azevedo, porque acrescentado com o apelido do marido, tal é suficiente para ser invalidada a inscrição no tal BUPi. Ou então, se na matriz o prédio está com 700,00 m2 mas na Conservatória está com 701,00 m2, novamente um motivo para invalidade. Em resumo, são mais que muitas as "merdices" que podem emperrar o registo e a validação  na plataforma

Em resumo, esta nova plataforma não vem resolver esse problema nem uniformizar o registo predial. Muito menos para simplificar ou descomplicar. Seja como for, está aí para complicar a vida aos contribuintes e naturalmente com isso mexer na sua carteira. 

É certo que muitos municípios aderiram criando balcões de atendimento, como o de Santa Maria da Feira,  onde os proprietários podem, em teoria, fazer a coisa de forma gratuita. Ora esta suposta gratuitidade é apenas uma questão de semântica porque na realidade os proprietários na sua maioria analfabetos ou iletrados nestas coisas das ferramentas digitais, não são capazes de identificar de forma correcta os limites dos seus prédios, nem os técnicos no tal balcão os podem ajudar, e por conseguinte têm que recorrer e pagar a quem o faça, nomeadamente a um topógrafo para lhe realizar um levantamento topográfico georreferenciado ao sistema de coordenadas ETRS89.

Depois toda a complexidade do sistema e dos requisitos; Eu próprio que tenho formação e experiência em topografia e desenho, tive problemas no respectivo registo e aprendi que importará fornecer o mínimo de informação. Num dos casos tive a ousadia de fornecer para o mesmo prédio a caderneta predial e a certidão da conservatória e porque há entre ambas uma ligeira e insignificante variação de área, o técnico responsável pela análise acabou por não validar o registo. 

Por estes pintelhos vê-se a complexidade da coisa e obstáculos criados, de modo a que as coisas tenham mesmo que ser feitas no tal balcão de atendimento, mesmo que por lá estejam eventualmente azelhas, estagiários e pessoas com poucos ou nenhuns conhecimentos de topografia e georreferenciação.

Para além de tudo, com o avançar do cadastro surgirão inevitavelmente sobreposições de prédios que levarão a conflitos jurídicos e a decisões demoradas nos já por si lentos e arrastados tribunais. 

Assim vamos indo, cantando e dançando ao ritmo de quem nos dá música. É o que temos e não há como escapar. 

31 de janeiro de 2022

Legislativas 2022 - Day after


Confirmada que está a maioria absoluta do PS- Partido Socialista nas Eleições Legislativas do dia de ontem, importará fazer algumas considerações:

1 - Foi uma vitória incontestável de António Costa que não sofre qualquer dúvida e como tal o mérito é todo seu. Parabéns!

2 - Muitas leituras podem ser feitas mas em grande parte parece-me que tal vitória e sobretudo a maioria absoluta resultará da sua habilidade de ter extremado o discurso numa constante deturpação das propostas do PSD e de o colar constantemente, sem qualquer fundamento, ao partido Chega. A coisa terá resultado, sobretudo junto dos partidos à sua esquerda que assim, pelo voto útil, foram quase vaporizados.

3 - Rui Rio apesar de ser um político frontal, pouco dado a paninhos quentes, promovendo o interesse do país acima do do partido, não alinhou pelo estilo de uma manha e habilidade políticas que rendem votos. Se lhe fica bem como personalidade e frontalidade, perde como político que pouco ou nenhum proveito tirou dessa postura. 

Rio foi pragmático e realista, dizendo que primeiro era preciso crescer para depois distribuir. Por sua vez, Costa fala o que o povo na generalidade quer ouvir. Entre receber 50 no imediato ou 100 no futuro, a população prefere de longe a primeira opção.

4 - As sondagens, e todas elas, mostraram que valem zero e describilizam-se constantemente a elas próprias e a quem as faz ou encomenda. Se algum proveito têm, apenas o de confundir algum eleitorado indeciso. Pena que se lhes dê tanta importância, mas a comunicação social precisa delas para vender.

5 - Duplamente penalizado, o extremismo do Bloco de Esquerda vê o extremismo do Chega tornar-se a terceira força política e com ganas de continuar a crescer. O castigo foi duro mas merecido.

6 - Apesar do extremismo do Chega e sobretudo do seu líder, fica mal a Catarina Martins apelidar desde logo todos os deputados do Chega como de racistas. Dará motivo aos visados para um processo crime mas isso é outra história. Apesar do seu ar de descontração e pelas palmas e ruído na sala fazer parecer que o Bloco  tinha ganho as eleições, na realidade a derrota foi dura e merecida. 

7 - Os resultados e os números desta eleição demonstram que o nosso sistema eleitoral tem muito a mudar para que a representatividade seja proporcional aos votos. Um partido que chega a maioria absoluta sem a ter em percentagem de votos dá que pensar. Isso beneficia claramente os dois grandes pertidos e a bipolarização e daí não haver interesse em mexer nas coisas. 7% em Bragança ou na Guarda não elegem 1 deputado mas 1% em Lisboa, elege. Isto não está de todo correcto sob um ponto de vista de proporcionalidade para além de beneficiar partidos com implantação mais urbana, como os de esquerda.

8 - PSD, CDS têm agora processos internos para resolver e não vai ser fácil porque em quatro anos em que os futuros líderes serão apenas figura de corpo presente. Pessoalmente lamento o que está a suceder ao CDS, um partido fundamental da democracia em Portugal, com valores de uma direita democrática e cristã. Vai ser difícil reerguer-se, tanto mais que tem agora outros partidos que lhe disputam algum eleitorado. O mesmo problema para os partidos da extrema esquerda, embora por ali as coisas resolvam-se de forma quase disnástica ou mesmo mais à chinesa, tudo fechadinho e sem grandes tosses.

9 - Vamos ter agora quatro anos de estabilidade governativa. Esperemos que também social. O PS tem tudo para fazer bem o trabalho, sem empecilhos e sem mãos atadas por partidos menores que na geringonça agiam e reivindicavam como se tivessem a legitimidade de 20 ou 30 deputados ou 20% dos votos.

A ver vamos e oxalá que o país a partir de agora estabilize e cresça em todos os sectores. No final dos quatro anos não haverá desculpas para insucessos.

Quanto à União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, venceu igualmente o Partido Socialista, tal como a nível do concelho e mesmo no distrito.