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7 de fevereiro de 2024

Sem contar para nada

Parece que foi ontem, mas em 1992 deu entrada na Câmara Municipal o projecto da minha habitação e pouco depois começou a construção.

Já nessa altura éramos um país de sonhadores e se ainda não havia leis que obrigassem a fazer garagens para nelas caberem três Mercedes (e lá chegaremos), já era obrigatório apresentar projecto de rede de abastecimento de gás natural e a sua ligação à rede pública. Gastei pois, como muitos milhares, mais umas boas massas com o projecto e com o picheleiro a instalar a rede e a caixa-de-contador no muro da rua.

Mas se neste país não faltam politicos sonhadores, sobretudo a fazerem coisas com o dinheiro ganho por terceiros, como uns que defendem agora que os ricos devem repartir com os jovens um pézinho de meia para começarem as extravagâncias da vida, a que chamam como Herança Social, há igualmente outros que, desculpem a boa expressão popular,  "não fodem nem saem de cima" e por isso tantas coisas não passam de projectos. Tem sido assim com os nossos aeroportos, com a ferrovia, com  a habitação, etc, etc.

E também foi assim com a rede de gás natural que apenas foi realizada em certos lugares. Tal como as redes de água e saneamento que foram feitas e obrigados os contribuintes a ligar e pagar, mesmo que as dispensassem, mas outros ainda hoje necessitados delas foram deixados de lado. Tudo isto em nome da vantagem económica das concessões porque o serviço público puro e duro é e será sempre coisa secundária.

Por conseguinte, na minha casa e de muitos portugueses, passados trinta e tal anos a coisa ainda não foi instalada e nem porventura daqui a mais trinta. Assim, a caixa do contador do gás está ali como um monumento e uma lembrança permanente à megalomania dos nossos políticos e autarcas autênticos fazedores de chuva e exímios a andarem com o carro à frente dos bois. 

Tenho uma grande estima por aquela caixa de contador do gás porque tal como uma grande parte dos nossos governantes nacionais e locais, nunca contaram para nada mas contam a qualidade da lata de quem nos obriga a estes paradoxos. 

1 de fevereiro de 2024

Coragem ou falta dela

Em comentário a alguém que pela blogosfera considerou como falta de coragem o facto de Luís Montenegro não defrontar directamente Pedro Nuno Santos pelo ciclo de Aveiro, preferindo encabeçar Lisboa, também acho que deveria concorrer por esse ciclo de residência, e apenas por esse princípio, legítimo. De resto não me agradam paraquedistas a encabeçar listas em distritos onde porventura nunca, ou raramente, lá puseram os pés.

Em todo o caso, em termos meramente estratégicos, parece-me que a escolha de Emídio de Sousa como cabeça-de-lista é acertada. Afinal, é só o presidente da Câmara do município (Santa Maria da Feira) de longe o mais populoso do distrito e que  tem gozado de popularidade bastante para ter vencido com vitórias amplas.

Mas vale o que vale. No resto, no toca a coragem, porque era dela que se falava, gostaria de ver estes candidatos a chefes de governo, Pedro Nuno Santos e Luis Montenegro, mas mesmo líderes de outros partidos, a intregrarem as listas em círculos de menor implantação e em posições de eleição não garantida. Aí sim, era de homens e, claro, de mulheres. 

29 de janeiro de 2024

O talento já foi chão que deu uvas


O talento pode ser definido como uma habilidade natural ou aptidão excepcional para realizar alguma atividade com destaque, muitas vezes demonstrando facilidade e excelência em comparação com os outros.

Além disso, o talento pode ser inato ou desenvolvido ao longo do tempo por meio de aprendizagem, prática intensiva e experiência. Ele pode manifestar-se em diversas áreas, como artes, desportos, ciências, e muitas outras, contribuindo para o sucesso e realizações individuais. O reconhecimento e cultivo do talento são fundamentais para o crescimento pessoal e profissional de uma pessoa.

Durante muito tempo a expressão do talento era ela própria, inconfundível, intrínseca. Quem o tinha, tinha e quem não, não. Mas desde há alguns anos e sobretudo agora com as ferramentas tecnológicas e a Inteligência Artificial a dar cartas, tanto ao nível do conhecimento em geral como na capacidade de produzir conteúdos gráficos, num instante somos todos artistas e criativos e um qualquer Zé da Esquina que nunca foi capaz da mais singela criação artística, ao nível de uma criança no Jardim de Infância, é agora poeta, desenhador, pintor, fotógrafo requintado, etc.

São, pois, tempos perigosos estes em que os vendedores da banha da cobra misturam-se a fazem-se passar por talentosos criativos. Os Photoshops vieram retocar e transformar o velho em novo e feio em bonito, mas até aí era necessária capacidade e mesmo talento para o processo. Apesar da perversão, são talentosos os pintores que falsificam quadros. Já com a AI (Artificial Intelligence) e com os inúmeros serviços que dela se aproveitam, basta pedir à lista o que se quer, desde um quadro com uma criancinha a dormir com um gatinho, uma paisagem deslumbrante ou exôtica até uma Taylor Swift em poses pornográficas, como tem sido noticiado, com milhões de visualizações, levando a indignações e reacções como a do CEO da Microsoft, Satya Nadella, que afirmou numa entrevista que considera “alarmante e terrível” a perspectiva de começarem a circular imagens geradas por Inteligência Artificial de nudez não consensual. 

Certo é que mesmo apesar das entidades governamentais e reguladores mostrarem que estão preocupadas com as perversidades da IA, a verdade é que a bomba já foi lançada e os estragos são e serão irreparáveis porque a experiência diz-nos que isto não vai parar. Poderia parar numa China, Rússia ou Coreia do Norte, mas não nos países onde a democracia não consegue cortar certos males pela raíz ou desfazer conceitos politicamente correctos. No fundo, para o bem e para o mal, temos que colher o que semeamos.

Neste contexto, neste mundo inundado de "merda talentosa", como diz uma certa cantiga (creio que de José Augusto), "Agora aguenta coração".

28 de janeiro de 2024

Conselho Económico Paroquial - Nova equipa

Nas missas deste fim-de-semana, o nosso pároco Pe. António Jorge divulgou a composição do novo Conselho Económico Paroquial com mandato para o próximo quinqénio.


Presidente: Pe. António Jorge Correia de Oliveira

Secretária: Sara Patrícia Santos Conceição

Tesoureiro: Carlos dos Santos Almeida

Vogais:

Johnny Deivis Baptista de Almeida

Manuel Arménio Santos Moreira

Pedro Baptista Alves


Para além das responsabilidades correntes, face à necessidade de realização de obras, tanto na capela do Viso como na Igreja, e mesmo no salão paroquial, a euipa terá responsabilidades pela frente  pelo que desejamos votos de bom trabalho e colaboração mútua.

Quanto à qualidade e competência dos novos membros quanto às funções agora assumidas, será a sua acção a prová-las, mas, por princípio, creio que as têm.

Quanto à composição em abstracto, se me é permitida uma simples opinião, parece-me que seria importante e enriquecedor que dela, ou de qualquer outra similar, fizesse parte alguém mais velho, ou usando um moderno eufemismo, alguém senior, sobretudo experiente e conhecedor da matriz e de alguns dos valores identitários da nossa paróquia que foram cimentados ao longo de décadas. 

Em todo o caso, são sempre critérios e decisões que cabem apenas a quem tem essas responsabilidades. Importa é, no interesse geral, uma boa e transparente contabilidade e gestão dos dinheiros da paróquia de acordo com as necessidades correntes ou estruturais como obras de conservação e requalificação do nosso património paroquial.

Votos de bom trabalho!

26 de janeiro de 2024

Festival RTP da Canção - Mais do mesmo


O "Festival RTP da Canção" parece que vai fazer agora 60 anos, sendo considerado o programa de entretenimento mais antigo da televisão portuguesa. Começou em 1964, então como "Grande Prémio TV da Canção Portuguesa".

Costuma-se dizer que em equipa que ganha não se mexe ou como numa boa receita de culinária não se toca, mas como neste aspecto a nossa RTP nunca acertou com os ingredientes certos nem com o tempo de cozedura, desde que a nossa televisão começou a ser colorida, o seu festival de canções inverteu-se e desde então tem sido de um cinzentismo escuro e nem os cada vez maiores palcos, quantidade de luzes e efeitos, tamanho dos cenários estapafúrdios e virtuais e ainda o desfile de apresentadores e apresentadores em trajes de gala e com generosos decotes, têm trazido luz e cor à coisa.  E sobretudo qualidade.

Além do mais, quando se põem os tele-espectadores a decidirem a coisa com telefonemas que dão boa receita, tudo se conjuga para que não passe anualmente de um entretenimento sem grande interesse no que a qualidade musical e artística diz respeito. Depois, invariavelmente, o teste no palco europeu do Eurofestival, também repetidamente, com raras excepções, confirma que não fomos talhados para estas coisas e assim temos andado lá pelos fundos da tabela e a ouvir dos júris: Portugal, one point!

A vitória do Salvador Sobral em 2017 foi de facto uma muito boa excepção, a confirmar a regra, por um conjunto de motivos, mas mesmo ela sem qualquer deslumbramento e também a fazer prova que pelo teste europeu a coisa tem andado nivelada por baixo. De resto, tanto na Europa como em Portugal, que lhe segue as tendências, este concurso na sua essência há muito que deixou de ser musical em detrimento de uma miscelânia mediática de efeitos visuais que se permitem arregalar os olhos também entopem os ouvidos.

Mas é o que é e não passará disto por mais que todos os anos, como aprendizes de alquimistas, se inventem novas fórmulas e se arregimentem velhas e novas caras. 

Neste ano de 2024 parece que vão ser 20 autores que simultaneamente são apresentados como compositores e intérpretes, como se isso seja garantia do que quer que seja. 14 terão sido escolhidos pela RTP e os restantes por submissão directa. Há muito que até essa componente democrática dos primeiros anos, em que em teoria qualquer um poderia concorrer, acabou e os critérios de escolha têm sido manhosos ou discutíveis. Até tivemos (em 1976) um único cantor (Carlos do Carmo) a interpretar todas as músicas. O próprio nome do festival foi alterado várias vezes e somente a partir de 1979 é que se fixou no actual mas mesmo assim agora tratado apenas como "Festival da Canção" seguido do ano correspondente. Não se pode, pois, dizer que não tenhamos tentado de todas as formas e feitios. Seja como for, basta atentar no nome de alguns dos artistas para o concurso deste ano de 2024 para se adivinhar o que aí vem: Assim vamos ter um Bispo, um Buba, um Huca, um Borch, uma Mila, uma Mela, um No Maka e um Silk, entre outros. Bem sei, são só nomes, mas agora parece que quase ninguém tem nomes próprios.

Não tenho nenhum preconceito com este festival e muito menos com a música portuguesa. De resto musicalmente não sou preconceituoso e tenho apenas dois tipos, a que gosto e a que não gosto. É certo que a que gosto é rara como o atum em mar de sardinha, mas há ainda boa música e músicos e daquela e daqueles que não precisam dos empurrões dos média que como Midas, num toque de mágica, transformam merda em ouro. O que não falta por aí no panorama musical português é merda, mas, se servir de consolo ou atenuante, da boa. Mas, como qualquer coisa que se vende, é porque há quem compre ou consuma.

Posto isto, dê as voltas que der, este velhinho Festival RTP da Canção não passará de um pingarelho anual, uma laranja seca da qual se procurará extrair sumo que não tem, sendo que nestas coisas haverá sempre Fanta e outros refrigerantes que parecerão saborosos mesmo que sintéticos e a fazerem mal aos triglicerídos e colesterol e ainda a aziar a vesícula.

19 de janeiro de 2024

Jornalismo isento e independente? Onde?

A propósito da crise do grupo Global Média, que ameaça terminar com importantes títulos da nossa comunicação social, como os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias e ainda a rádio TSF, tem havido várias discussões, reflexões, análises e diferentes pontos de vista e ainda ontem o histriónico inquilino do Palácio de Belém discursou sobre isso na abertura do 5.º Congresso dos Jornalistas. 

Do que se tem falado, e porque uma grande parte de quem opina sobre o assunto é jornalista ou com ligações aos média, considera que o Estado deve apoiar a comunicação social porque uma imprensa livre e independente é necessária ou mesmo indispensável à democracia.

Pessoalmente, mesmo defendendo uma imprensa livre e independente, sou contra qualquer apoio do Estado e suas instituições a empresas privadas ditas dos média, seja rádios jornais ou televisão. E desde logo precisamente para garantir a tal independência. Pareceu-me claro, e a muitos, creio, que no período de pandemia em que o Estado decidiu distribuir umas boas massas pela comunicação social, tivemos a partir daí um jornalismo notoriamente favorável ao Governo. É que estas coisas, favores, mordomias ou prendas, pagam-se, porque a este nível ninguém quer arriscar a ser cão que morde a mão do dono ou de quem lhe dá pão.

Considero, por isso, que a comunicação social, como qualquer outro ramo, deve fazer pela vida adaptando-se às regras do mercado em cada momento, com inovação e qualidade que despertem o interesse pelo consumo e no respeito dos valores democrátios e deontológicos inerentes à profissão. Quem não for capaz disso então deve procurar outra área e os jornalistas sem trabalho têm outras opções e não falta trabalho na área da construção civil ou noutros sectores. Também a este nível profissional, as coisas têm que se adaptar às leis do mercado. Porque terá que ser diferente?

Ainda há algum tempo eu fui assinante de jornais online, nomeadamente do DN e do Correio da Feira e acabei por desistir porque o que me era oferecido não tinha qualidade e ainda por cima uma navegação e leitura infestada de publicidade, como se fora um mero leitor da versão comum. Isto demonstra que mesmo ao nível da oferta da versão digital, ainda há muito a fazer para incentivar e fidelizar leitores. Há caminho a percorrer.

Além do mais, bem vistas as coisas e analisada a nossa imprensa, e desde que há democracia, em rigor nunca tivemos um jornalismo verdadeiramente isento e independente, porque quase todos alinhados politicamente à esquerda ou à direita. Por conseguinte, cada título com a sua própria agenda política, ideológica, clubista, empresarial, etc.  Veja-se como exemplo no caso do futebol, em que o jornal "O Jogo", também do universo da Global Média, e por isso em risco de sobrevivência, desde sempre foi um jornal fraccionário, uma autêntica voz do F.C. do Porto, portando-se como um mero jornal clubista. Em sentido contrário, os leitores portistas acusam o jornal "A Bola" de ser pró-benfiquista, e por aí fora até com o jornal "Record" a ser conotado com o Sporting.

Em resumo, não sou nada a favor de fazer fretes ou favores de apoio financeiro ou de outra natureza à imprensa jornalística e de comunicação social, para além do apoio justificado e nas mesmas condições que recebem quaisquer outras empresas noutros sectores de actividade. Também não acho que, nos tempos que correm, seja assim tão fundamental à sobrevivência da democracia. Tão errado como apoiar a imprensa de forma directa seria fazer depender esta da Democracia. Ora nem uma nem outra devem depender delas próprias mas antes ser livres, independentes e isentas. 

A sobrevivência da democracia não depende nem dependerá nunca da imprensa livre mas antes das pessoas e do povo.

16 de janeiro de 2024

Emídio Sousa na Assembleia da República


Soube pela comunicação social de que o actual presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, o Dr. Emídio Sousa, foi escolhido como cabeça-de-lista pela AD - Aliança Democrática, pelo círculo eleitoral de Aveiro. O ainda presidente da Câmara de Vagos, Silvério Regalado, é o número dois na lista a qual integra, entre outros, Ângela Almeida e Salvador Malheiro, presidente do município de Ovar.

Impedido pela lei de se recandidatar a um novo mandato como presidente do município, o Dr. Emídio Sousa continuará assim ligado à alta política e tendo em conta o posicionamento na lista é segura a sua eleição.

Do que conheço do seu currículo, postura pessoal e política, acredito que tem competência de sobra para o cargo e saberá defender os interesses da Feira e seu território, embora saibamos que estes estão sempre dependentes de outros interesses e vontades partidárias ou governamentais. Será difícil e nada certo que a AD venha a formar governo mas, em todo o caso, pelo psicionamento na lista a sua eleição é certa.

O lado menos positivo desta candidatura será, naturalmente, o ter que deixar a presidência da Câmara Municipal pouco mais que a meio do mandato. Por princípio, os mandatos devem ser cumpridos até ao final sob pena de defraudar as expectativas dos eleitores. 

A senhora culpa continua solteira e virgem

Os nossos políticos, em geral, sabem que estão mal considerados perante os eleitores e que daí, em muito, decorrem as altas taxas de abstenção nos actos eleitorais, mas mesmo assim continuam a falar para os mesmos como se estes sejam todos uma cambada de tontos, palermas, sem capacidade de escrutínio e de julgamento e incapazes de ver gatos escondidos com os rabos de fora. Assim, é de facto motivo de arrelia constante  ir assistindo às suas campanhas, intervenções e discursos.

Uma ds capacidades destes políticos rasteiros é de fazerem de conta que certas coisas não são nada com eles, que não lhes diz respeito e que certas más políticas são sempre da responsabilidade dos outros e sobretudo de quem em diferentes cargos os precederam. Por exemplo, o senhor Pedro Nuno Santos, agora líder do Partido Socialista, candidato a primeiro-ministro, e que presumivelmente será, tem falado como se o seu partido não nos tenha governado nos últimos 10 anos e que em 25 anos tenha estado 18 no poder, e que dele não tenha feito parte com cargos de responsabilidade. 

Por conseguinte, as trapalhadas da TAP, com indemnizações milionárias autorizadas e esquecidas,  as da localização do aeroporto, o estado da Educação, o caos e a degradação do Serviço Nacional de Saúde, com serviços encerrados e urgências entupidas, instabilidade social constante com professores, médicos, forças da segurança, confronto verbal com o Ministério Público, etc, etc, não têm nada a ver com o PS e o Pedro Nuno. Não, a culpa é do inquilino histriónico do Palácio de Belém e de quem deixou de governar há 10 anos. Ganhem e governem por mais 10 e nessa altura os culpados e responsáveis do que não estiver bem serão ainda os do passado.

Perante esta situação, não supreende que um partido mais extremado como o CHEGA continue a ganhar adeptos, porventura não pelos lindos olhos e do discurso populista e demagógico do artista do seu líder, André Ventura, mas simplesmente em reacção a este sistema muito politicamente correcto e de políticos frouxos,  carreiristas, a quem se exigia mais frontalidade, honestidade e sobretudo assunção de responsabilidades quando as têm. Não tem sido esse o caso por parte do PS nem do neto do sapateiro, o qual até tem raízes familiares aqui em Guisande. 

É pena! Pois é! Mas, pelos vistos, basta que se prometa um ordenado mínimo de mil euros daqui a quatro anos para que tudo volte a ser cor-de-rosa. Falta de ambição! Porque não 2 ou 3 mil? Isso é que era!

14 de janeiro de 2024

Imposto estúpido e injusto

Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega, considerou hoje no último dia da convenção em Viana do Castelo, que seu o partido é “a direita credível”, prometendo, caso seja Governo, acabar com o IMI e com o IUC. 

É proposta do Chega mas poderia ser de qualquer outro partido para concordar em pleno com ela. É que sobretudo o IMI  (Imposto Municipal sobre Imóveis) é um imposto estúpido, injusto, bafiento e imoral. Repare-se: Eu, que como centenas de milhares de portugueses, construí a minha habitação com o resultado do meu trabalho e do meu esforço, paguei projectos, taxas e licenças, tudo com os devidos impostos, continuo a gastar dinheiro em melhoramentos e conservação, continuo a pagar a prestação do crédito à habitação com elevados juros, a que propósito tenho que pagar por toda a vida uma renda ao Estado ou município? Porventura foi qualquer uma dessas entidades que ma construiu? Serão eles os proprietários?Que lógica e moralidade neste imposto? Ainda que fosse cobrado com um valor residual, simbólico, vá que não vá, mas com o elevado valor que representa para qualquer média habitação, é de facto uma aberração num Estado de direito.

Posto isto, não posso estar mais de acordo com quem propuser a sua extinção. Foi o Chega, mas poderiam ser os antípodas do BE ou o PCP que para mim mereceriam apoio. 

Significa, porém, que isso pode representar que vote nesse partido? Nem por sombras, porque há outros valores e princípios na equação, mas era importante que outros partidos menos radicais e estapafúrdios, fossem capazes de ter essa coragem e matar este imposto estúpido em nome da moralidade.

12 de janeiro de 2024

O preço da independência e da honestidade

Tempos houve em que um pouco por todo o país e sobretudo em tempo de eleições autárquicas, entre um vasto caderno de encargos de promessas, como a clássica do instalar na terrinha um Posto Médico com doutores e enfermeiros, alguns candidatos também prometiam que nada ganhariam e que as suas remunerações pelos cargos seriam juntas e depois aplicadas em algo de importante para a freguesia, fosse para uma rua, para um parque infantil, para o clube de futebol ou mesmo para uma sede de uma qualquer associação de bem público. É certo que em rigor era e é pouco dinheiro, sobretudo para os titulares de cargos em pequenas aldeias, e por isso é que tal exemplo nunca foi seguido, parece-me, quanto a presidentes de Câmara e vereadores, porque aí a esmola era demasiado grande para dela se abrir mão, mas nas Juntas, como "grão a grão enche a galinha o papo", diz o povo na sua sabedoria milenar, certo é que alguns lá somaram uns milhares, de contos ou euros, pouco importa ao caso.

Para além da parte demagógica deste tipo de promessas, nunca percebi o verdadeiro alcance desta "generosidade", como se ela fosse necessária e de substância para provar a seriedade e dedicação desinteressada pela causa pública. A meu ver nunca foi precisa, porque a um trabalhador cumpridor e honesto é justo e até um direito universal que se pague o salário ou a remuneração que a lei lhe confere. Por conseguinte um autarca de Junta, seja presidente, tesoureiro ou secretário que por motivos eleitoralistas abre mão das sua remuneração legal a favor de qualquer outro propósito, não será mais honesto e dedicado que os semelhantes que dela não prescindem. 

Ademais, quem não for sério e honesto até pode abrir uma mão dessas verbas e pôr a outra noutras, sem que ninguém descubra ou desconfie das habilidades. Bastará que queira ir por aí. Quem é sério, é serio, e não basta mostrar que se pretende sê-lo ou parecê-lo. Em contraponto, quem usa essa promessa em campanha eleitoral pode até suscitar precisamente o contrário, o de passar por um artista, um habilidoso, um chico-esperto, ao usar esse isco para chamar ao seu anzol votos de gente com pouco sentido de escrutínio. Quem é honesto e competente não precisará dessas habilidades ou expedientes nem de dispensar aquilo a que tem direito.

Seja como for, certo é que com este tipo de posturas e promessas muitos autarcas lá arrecadaram uns votos extra, quiçá decisivos a definir vitórias em eleições.  

Em resumo, e é a esta ideia onde pretendo chegar, ninguém é mais ou menos dedicado pela causa pública, sério e honesto só porque recebe o que tem direito ou decide doá-lo a favor seja de quem ou do que for.

Um pouco neste contexto e pressuposto, estou de acordo com o escritor José Rentes de Carvalho, que aqui há já uns anos, a propósito do poeta Herberto Hélder (falecido em 2015) ter recusado o valor monetário do prémio Fernando Pessoa, porque embora pobre, "não pretendia perder a sua independência", disse que pensando no caso não chegava a conclusão satisfatória, pois era curiosa a noção da fragilidade da própria independência para o premiado acreditar que um prémio literário a podia pôr em perigo. Por isso, digo eu, e porque quem não deve não teme, a independência e honestidade não têm preço mas também não têm que ser à borla nem cimentadas no total despreendimento por vezes trapaceiro. O seu a seu dono dentro da legalidade, justeza e justiça.

11 de janeiro de 2024

Jornada Mundial da Juventude - O pós

A Jornada Mundial da Juventude 2023 teve lugar no nosso país e em Lisboa, entre o final de Julho e  princípio de Agosto passados. Parece que foi ontem mas já decorrido quase meio ano. Ainda ecoam na memória dos portugueses, e sobretudo dos jovens que participaram e se envolveram, o entusiasmo, alegria da partilha e vivência desses momentos em contacto geracional e mesmo inter-geracional com o papa Francisco.

Do mesmo modo e desse contexto, também para as largas dezenas de milhares de famílias que nas pré-jornadas acolheram por todo o país jovens peregrinos provenientes de toda a parte do mundo mas sobretudo da Europa. Foi assim na Diocese do Porto e na nossa comunidade inter-paroquial e em Guisande. Eu próprio e a minha família, acolhemos nessa semana última de Julho, duas peregrinas alemãs de origem vietnamita.

Passado já este quase meio ano e com a poeira do entusiamo assente, é possível analisar algumas coisas que, apenas a meu ver, ficaram aquém de algumas expectativas, pelo menos no contexto da experiência da família com os peregrinos e vice-versa. No global a experiência foi positiva mas, apesar disso, a partilha comum e convivência ao nível da família foi reduzida face ao programa delineado pelas equipas responsáveis (comités diocesano, vicarial e paroquial) o que fez com os espaços e momentos apenas destinados às famílias e jovens acolhidos fossem escassos. 

Em rigor e no geral as famílias foram principalmente agentes de alojamento, proporcionando a custo zero, dormida, comida, serviço de limpeza e transporte. Este ponto do transporte inicialmente foi publicitado apenas como mínimo, pontual e só mesmo para quem pudesse e quisesse mas na prática e na realidade não foi assim e as famílias tiveram que assegurar a maior parte das deslocações de entrega e recolha dos jovens, sempre de acordo com os seus horários.

Falando também pela minha experiência, desde que os jovens seguiram para Lisboa, nunca mais houve contacto de sua parte. Foi de minha iniciativa procurar saber se a viagem correu bem e se estavam a gostar. Depois disso, nenhum contacto de iniciativa dos jovens apesar de disporem dos canais adequados, como o número telefónico, o email e whatsapp. Chegados ao seu ponto de partida, ficaria bem fazerem um resumo da jornada e partilharem por sua iniciatiava com quem os recebeu. Mesmo agora pelas festas natalícias, ainda alimentei a esperança de receber uma mensagem ou um postal das duas raparigas, mas não. Poderia ser eu a fazê-lo? Podia, mas convenhamos que há alguns princípios que devem ser cumpridos e na nossa terra não fica bem andar com o carro à frente dos bóis.

Não há, todavia, qualquer arrependimento, até porque se havia expectativas num sentido de mais tempo para a convivência, pessoalmente nunca as tive a este nível do posterior contacto, agradecimento e reconhecimento. Eventualmente aconteceu com outros e de resto certamente que a percepção das experiências foi diferente de família para família.

Em resumo, as coisas são como são e no geral, admitamos, os valores da boa educação e do reconhecimento não são propriamente coisas que façam parte da bagagem desta moderna juventude. No geral nunca lhes faltou nada e no seu dia-a-dia dão tudo por adquirido e feitas as contas, nós, os que recebemos e estivemos durante uma semana ou mais ao seu inteiro dispôr, com cama, mesa, roupa lavada e transporte, é que temos que lhes agradecer e de os contactar. É cultural e quanto a isto não há volta a dar. Desvalorizando estas particularidades, fica para a história o que aconteceu e que, mesmo com esses ónus e encargos das famílias, os jovens levaram, pois levaram, uma boa e inesquecível experiência, de Guisande e certamente de todos os locais onde estiveram alojados. Afinal, nada lhes faltou!

10 de janeiro de 2024

Unir aos trambolhões

Há algumas semanas recebemos nas nossas caixas de correio um infomail todo bonito a dar-nos o recado de que "Há uma nova rede de autocarros no concelho de Santa Maria da Feira". Mais informava que "A partir de 1 de Dezembro (2023) entraria uma nova rede de transporte público rodoviário de passageiros para todos os municípios da Área Metropolitana do Porto que, finalmente, transformará a mobilidade do nosso território. Autocarros movidos a energia limpa, sustentáveis, uma rede mais eficiente, intregrada e uniformizada, e com um sistema de bilhética único". Apresentava-se como a UNIR.

Para além deste infomail fomos sendo informados no final das missas e ainda nas rádios e jornais locais. Quem, como eu, foi espreitar a plataforma digital da entidade e do serviço, ficou com uma boa ideia de que ía ser uma coisa muito bem feita e organizada. 

Infelizmente, a ter em conta as reacções dos utentes e de diversas figuras, incluindo alguns presidentes de Câmara que se mostraram com as expectativas defraudadas, parece que a coisa não poderia ter começado da pior maneira, com confusões, falta de meios e recursos, supressão de linhas, atrasos e irregularidades nos horários, etc, etc.

Depois disso ouviram-se responsáveis a sossegar o povo dizendo que era natural que a coisa começasse com problemas mas que aos poucos a máquina iria ser afinada e resolvidos os defeitos, mas pelas reacções que se vão ouvindo, parece que ainda há muita coisa a melhorar e a afinar. Aos optimistas que dizem que com tempo o sistema será perfeito, contrapõe-se o velho e experimentado ditado popular que "o que nasce torto tarde ou nunca endireita".

Pela minha parte, que não tenho necessidade de transporte público, estou de fora a ver a banda a passar, mas de facto é importante que o sistema funcione e que corresponda às necessidades de quem dele precisa. Apesar de tudo, é muito nossa esta mania de lançar foguetes antes da hora e de anunciar maravilhas maravilhosas e que depois à nascença, aos primeiros passos, seja tombos e trambolhões. 

Mas por agora é aguardar que a coisa, lá virá um dia, ficará (mais ou menos) afinada, até ao "patamar de excelência" prometido pelo presidente da Câmara de Gaia e da AMP, Eduardo Vitor Rodrigues. 

Para já as palavras de ordem são ajustar, reformatar, reformular, adequar, reparar, acertar, etc. Tudo palavras consoladoras para quem querendo unir começou a desunir. Os utentes, esses têm que aguentar e esperar.

Cinzento, mas um bom retrato

(...) Uma regra de ouro é a de não votar em alguém simplesmente pelo que é ou parece. Ou porque é um hábito. Aliás, em Portugal, hoje, nenhum partido merece que se vote nele pelo que é. Nem a direita, nem a esquerda, com currículos pouco recomendáveis após as últimas décadas.

O PS tem muito pesadas responsabilidades na degradação da vida nacional. Contribuiu, mais do que os outros, para os êxitos dos últimos 50 anos. Mas esse facto não desculpa a deterioração sistemática dos serviços públicos, a perda de capacidade para criar riqueza de modo consistente, nem a partilha de autoria e de culpas em todos os processos de corrupção e nepotismo.

O PSD tem enormes responsabilidades no declínio da vida nacional, tanto da economia como da cultura, da sociedade e da política. Depois de, com mérito indiscutível, ter contribuído para a consolidação da pertença europeia e para a afirmação democrática da direita portuguesa, este partido desinteressou-se da independência nacional e da afirmação da empresa portuguesa pública ou privada.

Em conjunto, PS e PSD, deixaram afundar o Serviço Nacional de Saúde e a educação pública. Um a vegetar na mais inacreditável desordem que se possa imaginar. Outra entregue à futilidade lúdica e a exibir os piores resultados de sempre.

O PCP, sempre o mesmo, tão irredutível e seguro de si! É-lhe indiferente ter 20%, 10% ou 3% dos votos, ou 40, 20 ou 5 deputados. Garante que tem sempre razão contra a população que não vota nele, que é quase toda. Persiste em afirmar que representa todos os trabalhadores, que a história sempre lhe deu razão. Até à derrota final. Até ao desaparecimento eleitoral.

O Bloco, moralmente superior e arrogante, convencido, presunçoso como poucos, firme na sua beatitude política e seguro da sua virtude ideológica, nunca fez nada de jeito que lhe dê qualquer espécie de currículo, qualquer folha de serviços prestados à sociedade.

O Chega não merece o voto só porque protesta, denuncia e ataca. Não é convincente, não tem políticas, não dá sinais de qualquer género de competência ou de saber. Utiliza as mais baratas receitas disponíveis, do nacionalismo ao grito dos descamisados.

A IL parece saída de uma produção laboratorial. É só mais um partido, sem currículo nem experiência, a vender camisolas de lã no deserto.

Nas próximas eleições, o momento é calhado, mais propício do que nunca, para votar de acordo com compromissos, em vez de repetirmos os gestos do sonâmbulo. Votar em compromissos é melhor do que votar em rebanho.

[António Barreto - in Sorumbático]

30 de dezembro de 2023

Centro Social com Comissão Administrativa


Conforme previamente convocada, realizou-se no dia de ontem, Sexta-Feira, pelas 20:00 horas no Centro Cívico, no Monte do Viso,  a Assembleia Geral da Associação do Centro Social S. Mamede de Guisande.

Para além da aprovação das contas do exercício de 2023 (aprovadas), constava da ordem de trabalhos a eleição dos novos corpos gerentes para o quadriénio de 2024/2027.

Infelizmente, conforme se previa, não apareceu nenhuma lista nem elementos disponíveis em trabalhar pela freguesia e sua comunidade, no que poderiam mostrar e demonstrar como fazer mais e melhor.

Face à impossibilidade estatutária do presidente da direcção Joaquim Santos em poder renovar o cargo, e à ausência de alternativas, de modo a evitar o encerramento da actividade e da instalação, ficou estabelecida provisoriamente uma Comissão Administrativa que será liderada pelo referido Joaquim Santos, ainda com Celestino Sacramento e Jorge Correia, por um período de 3 meses, a qual nesse tempo procurará desenvolver esforços no sentido de congregar associados que queiram assumir a constituição dos normais corpos gerentes.

Para o efeito, entretanto e novamente com o objectivo de realizar eleições, virá a ser convocada uma nova assembleia geral para o final do mês de Janeiro próximo.

Nota pessoal: Não sendo surpresa, é pena que ninguém tenha aparecido para ser alternativa. Por cá nesta terra há quem goste e saiba atirar pedras mas a esconderem a mão. É o que é! Habituemo-nos!

De lamentar ainda que vários dos próprios elementos dos corpos gerentes cessantes não tenham aparecido. Uns no quentinho, outros a ver a bola ou por motivos que se devem respeitar mas seria importante que tivessem comparecido já que era a última sessão do mandato. 

Em resumo, por motivos vários, nota-se um desinteresse geral, quiçá um desânimo, a que não é alheia a incapacidade política de certas entidades em resolver o essencial, o contrato programa com a Segurança Social que permita prosseguir os propósitos primeiros da Associação, num processo que se arrasta há já vários anos. Mas é também muito consequência da perda de identidade da nossa freguesia, do desagregamento inter-geracional e da perda de proximidade entre eleitos e eleitores. 

Pode ser esta minha análise muito pessimista, que até poderá vir a ser contrariada (oxalá), mas por ora não me ocorre outra justificação.

29 de dezembro de 2023

Paradoxos e incúrias

Há dias, numa situação de corrida, testemunhei na freguesia de Pigeiros uma senhora a tropeçar num buraco no passeio onde caminhava. Felizmente só uns ligeiros arranhões e umas pragas contra certos senhores, mas poderia ter sido bem pior. De resto, eu próprio já tropecei nuns buracos na Rua da Zona Industrial, pelo que a caminhar ou a correr, seja em Pigeiros, Guisande ou qualquer outra das nossas freguesias, tenho que andar com os sentidos alerta pois as irregularidades e buracos são mais que muitos e nalguns casos autênticas armadilhas e ratoeiras, sobretudo de noite e em tempo de chuva. De resto, não havendo trânsito evito o seu uso, quando deveria ser o contrário. Passe o exagero, correr nas nossas ruas e passeios é quase realizar um trail em plena serra, pelo menos quanto à atenção onde se põe cada pé.

Sempre que se registam estes acidentes seria de apresentar queixa na autoridade, mas para além do custo de formalizar a própria queixa, diz-nos quem sabe que é tempo perdido porque são mais que muitas e invariavelmente sem decisão. Ainda há alguns poucos meses um nosso ciclista espetou-se num buraco ali por Duas Igrejas, aberto por alguém que trata das redes de águas e esgotos, sem sinalização adequada, magoando-se e danificando a bicicleta. Poderia ser uma situação grave. A própria GNR chamada ao local recomendou que apresentasse queixa mas que para além do custo, creio que a rondar os 75 euros, que se preparasse para não dar em nada, embora o caso fosse grave e tivesse a seu favor o próprio testemunho quanto à ausência de sinalização da ratoeira. Certo é que no dia seguinte o buraco estava sinalizado. Bem à maneira portuguesa, remediar antes de precaver. De resto, pela Indáqua ou empresas por si contratadas, são mais que muitas as ratoeiras nas nossas ruas.

Com tudo isto, e não é de agora que abordo o assunto (por exemplo, aqui), considero que tanto as nossas juntas de freguesia como a Câmara Municipal têm tido uma postura, para não usar um termo mais contundente, de pelo menos irresponsabilidade, desleixo e incúria na manutenção e requalificação dos nossos passeios públicos, que na maioria dos casos até foram obrigados a ser realizados às custas dos proprietários das edificações frontais. Se não em toda a extensão, pelo menos em certos pontos onde são notórios os buracos e a degradação. 

Para além do mais, quando se indefere um projecto de edificação por uma soleira ter 3 cm e não 2, ou por outros pintelhos, soa a ridículo que os entraves à circulação a pessoas com mobilidade condicionada sejam mais que muitos e evidentes no espaço público, para além dos buracos, sinais e marcos de água implantados a meio dos passeios. O paradoxo desta incúria é ainda maior quando se sabe que não há dinheiro nem investimento na requalificação dos passeios mas sobra para festanças e entretenimentos, porque esses é que dão visibilidade.

Por conseguinte, sempre que há acidentes nas ratoeiras dos nossos passeios deveria ser formalizada a queixa e levada até às últimas consequência. Como diz alguém que conheço adepto dos aforismos, "...os burros também se ensinam".

28 de dezembro de 2023

A raposa vai continuar dentro do galinheiro

As notícias por estes dias abrem com o caos que se regista nas urgências dos principais hospitais do país, sobretudo da Grande Lisboa, em que doentes urgentes chegam a esperar entre 12 horas (Santa Maria) a 20 horas (Beatriz Ângelo) pelo atendimento. 

Concorrem para esta situação os habituais episódios nesta altura do ano, devido às variações de gripe que originam problemas respiratórios. Mas não só, até porque ainda hoje de manhã ouvi um médico de uma associção de profissionais de medicina geral a dizer que a afluência não é significativamente superior à de anos anteriores, mas que o agravamento das condições de atendimento e tempo de espera, esse sim, resulta, em muito, dos problemas crescentes que o SNS atravessa e que o Governo não tem sabido resolver.

Por sua vez, o ministro da Saúde, mesmo que já a prazo, não faz outra coisa que não relativizar, a recusar alarmismos, e dizer que lá para o fim de Janeiro talvez os portugueses já andem melhorzinhos da saúde e com isso reduzir o impacto no sistema. Assim com esta incapacidade e ineficácia também eu poderia ser ministro neste país.

Em resumo, uma situação que cada vez mais parece ser normal. A anormalidade está ser normalizada. O pior de tudo é que a avaliar por algumas sondagens os portugueses, ou pelo menos os que pretendem votar nas próximas legislativas em 10 de Março, preparam-se para continuar a legitimar a raposa dentro do galinheiro. Assim sendo, é mesmo aguentar porque dali não virão mudanças substanciais e será mais, muito mais, do mesmo.

António Costa despediu-se do país com uma mensagem natalícia em que fala de um país irreal, só com coisas boas e bonitas. Deste caos que tem abalado o SNS, dos muitos  tiros nos próprios pés bem como das grandes e pequenas trapalhadas que fizeram ruir por dentro um Governo que (des)governava em maioria, não falou, nem sequer ao de leve. 

Agora, democraticamente, é aguentar porque já se percebeu que os portugueses na sua maioria gostam deste estado de coisas. Eu não gosto, mas pelo menos não os legitimo.

18 de dezembro de 2023

Espírito de Natal ou de Carnaval?

Um bonito e soalheiro dia de Domingo a pouco mais de uma semana do Natal. Depois do almoço caseiro, decidi ir tomar café ao centro da vila de Arouca na expectativa de ali encontrar o espírito de Natal, mas prevenido de que anda fugidio. 

Em pouco mais de meia hora lá estava e não tive dificuldade em estacionar no parque. Mas logo aos primeiros momentos percebia-se que o espírito natalício já dali andava arredado. No que parece ser já uma tradição, talvez uma ou duas centenas de motards e motorizadeiros vestidos com trajes chineses de pais natais, andavam por ali para cima e para baixo a encher as ruas de roncaria e cheiro a gasolina queimada. Tomamos um bom café mesmo no centro, a 80 cêntimos com direito a uma pequena "castanha doce". 

Em frente ao convento e na Praça Brandão de Vasconcelos, os ditos pais natais emprestavam ao local e ao ambiente um ar de Carnaval e fiquei na dúvida se por ali andava o espírito dele. Pareceu-me que não! Na igreja imponente, ladeada de motos e motorizadas, dentro dela apenas duas ou três pessoas e nem um único daqueles que lá fora se exibiam. Apesar da imponência da igreja e do seu ar barroco, o presépio era do mais simples possível, digno de uma qualquer ermida isolada no alto de uma serrania e ali captei um bocadinho do espírito natalício. Mas o ambiente de silêncio tão característico desse local de culto era apenas uma falsa sensação pois lá fora o barulho de motorizadas a roncar e motas a estourar com os escapes era ensurdecedor e remetia-me para um poço da morte numa qualquer feira popular ou para um Carnaval de Ovar ou de Torres Vedras.

Bem ao lado do convento, na sede da Associação dos Amigos de Arouca, estava patente, com entrada gratuita, uma exposição de presépios, mas ninguém a visitar, apenas o responsável que nos acompanhou para servir de cicerone. Uma amostra muito interessante e diversificada mas ignorada pelas centenas que enchiam as ruas e praças.

No átrio exterior do lado poente do convento, uma enorme tenda aquecida com muitos e variados quiosques dispostos lateralmente com bons produtos desde artesanato aos hortículas, com frutas, legumes, nozes, castanhas, azeite, charcutaria, bebidas e licores, etc. Tudo coisas boas e dos produtores locais para ajudar a uma boa ceia de Natal. Um bom espaço e bem organizado. Ali vi um bocadinho do espírito de Natal e até gastei algum dinheiro em nozes e artesanato alusivo à quadra.

Na ilusão de que entretanto os carnavalescos pais natais já se tinham ido embora, afinal devem ter ido reabastecer os depósitos e regressaram com todo o barulho, confusão e mau cheiro pois limitavam-se a andar por ali para trás e para a frente a mostrarem-se como se fosse algo extraordinário. Não foi, apenas uma vulgaridade bacoca, porventura mais adequada a carnavais ou desfiles de paradas gays. Mas isto sou eu a falar, que fui ali áquela bonita vila à procura de outro Natal, mesmo que com as expectativas baixas, mas percebi que isto do Natal simples, genuíno e ligado às origens e de matriz religiosa e espiritual, é apenas um faz de conta e coisa já passada, do antigamente. Agora os tempos são outros, mais dados ao antes parecer que ser  e que a generalidade das pessoas gosta! 

Ao deixar o parque de estacionamento tive dificuldades em saír,  porque à boa maneira portuguesa os espaços destinados a acessos estavam ocupados. Mas polícias e guardas, porque também mascarados ou simplesmente ausentes, não os vi por ali a manter a ordem na desordem. Com dificuldade e várias manobras lá saí e regressei. 

Em resumo, uma bonita tarde de Carnaval!

13 de dezembro de 2023

No país das replicações - Estamos nesta

Anda por aí uma febre desmesurada, que não é de agora, mas tão nossa, genuinamente portuguesa, a de copiar e replicar coisas e eventos que vemos e invejamos no vizinho ao lado, na freguesia, vila, na cidade ou no estrangeiro. 

Nesta onda do "também nós podemos e somos capazes", são mais que muitas coisas que têm sido replicadas. Senão veja-se: São os baloiços, implantados em tudo quanto é portela, monte ou serra; Os passadiços, essas estruturas em madeira começaram a ganhar e a galgar terreno e como serpentes estão já em todo o lado, tanto em escarpas imponentes e desfiladeiros só acessíveis a águias e abutres como a bordejar insignificantes ribeiras e charcos.

Mesmo as pontes que para nada servem senão para entretar e pôr à prova medos ou coragem de turistas, também já são negócio de milhões e se Arouca tem miseráveis caminhos de cabras promovidos a estradas e aldeias sem redes de água e de esgotos tem uma dessas maravilhas da engenharia das coisas suspensas.

Também os eventos de entretenimento ditos de época estão na moda e assim temos viagens, festas e feiras romanas, medievais, napoleónicas, mercados recriados como os que se fazim nos tempos dos nossos bisavós e outras que tais em várias aldeias, vilas e cidades; Mesmo por cá na nossa Feira, de vaidades, não fazemos a coisa por menos e desde a interminável churrascada da Viagem Medieval no Verão à sombra do castelo que se desmorona no Inverno,  temos ainda o mundo do faz-de-conta chamado Perlim, a entreter crianças e adultos, também a condicionar trânsito e acessos a quem tão somente quer ali pacatamente à baixa tomar chã e comer fogaça.

A criançada também não está dispensada destas réplicas e já não faltam, por tudo quanto é sítio, parques temáticos, vilas natais, feiras e feirnhas, mercados e mercadinhos de Natal, dos mais sofisticados com arenas de gelo aos mais simples; Depois, mesmo que a perder espaço, porque o Natal já pouco tem de religioso, há ainda os presépios, simples à moda napolitana com figuras de barro sobre cascos de cortiça atapetados de musgo, aos mecanizados ou com figuras ao vivo.

As iluminações, essas coisinhas a piscar, coloridas e brilhantes, em que as autarquias gastam balúrdios do orçamento a enfeitar pinheiros naturais e artificiais, a arcar ruas, praças e largos, a delinear cruzeiros, capelas e igrejas, são já atracção em várias cidades e para elas organizam-se excursões com dezenas de autocarros cheios de curiosos. Em Vigo, Espanha, por tanta afluência de locais e sobretudo portugueses, a assistir a esse céu brilhante tem sido um inferno para os moradores, com ruas entupidas de multidões, mesmo a ponto de obstacularizar o normal fluxo do trânsito e até mesmo situações de emergência médica; Por cá e para cá há excursões e filas de trânsito para entrar em Águeda e em Óbidos, propagandeada como Vila Natal, no que tem sido um quebra-cabeças e dores de cornos e filas intermináveis nas bilheteiras e nas ruas apertadas para sentir essa coisa tão larga e comercial traduzida como espírito de Natal; 

Estamos nesta! 

Mas a coisa não se fica por aqui e mesmo no entretenimento desportivo as provas de corridas, com designações parolamente a abusar dos inglesismos, são um negócio da china e é ver os calendários nas empresas que as organizam, promovem ou controlam para ver que do Minho ao Algarve, dos Açores à Madeira, são mais que muitas e todas a reunir rebanhos de atletas, dos verdadeiros e vitaminados aos aspirantes, dos que acabam as provas em passo de lebre como se quenianos ou etípoes, aos que as terminam com horas de atraso e sofrimento nas pernas e no rosto mas com a mesma publicitada satisfação de um épico dever cumprido. Desde Lisboa ao Porto, do litoral ao mais humilde lugarejo no Portugal interior desertificado, todos querem ter a sua prova de corrida ou trail.

Estamos e continuamos nesta!

E tudo isto é positivo? Ou negativo? Nem sim nem não, antes pelo contrário, até porque tudo se resume a ganhar e gastar dinheiro, esse binómio que dizem que faz movimentar as rodas do mundo e a engrenagem da sociedade, mas é sobretudo um exagerado exagero e a prova provada que hoje em dia, muito à conta das modas, das tendências (trends) e redes sociais que as ampliam e dão espaço aos egos colectivos e individuais, damos um excessiva e desmesurada importância às coisas, mesmo às que a não tem, a ponto de nos surpreendermos com a mais insignificante, corriqueira ou normalíssima delas. 

Estamos nesta! 

Compreendo que assim seja e será, mas para quem tem já muito caminho trilhado e já viu de tudo e de muito, começa a faltar a paciência para estas novas réplicas de replicações. Andamos por aí a apregoar que a China não sabe mais que copiar o que os outros fazem, desde um isqueiro a um avião, passando por relógios e mercedes, e nós, pobres tugas, nesse campeonato de copiar e replicar damos cartas e deixamos os chineses, eles próprios, de olhos em bico.

Estamos nesta!

12 de dezembro de 2023

Mais do mesmo e 2+2 continua a ser 4

Não ouvi a entrevista que o cessante primeiro ministro, António Costa, concedeu ontem à CNN - TVI. Ouvi apenas, já hoje, as reacções dos partidos. Como se esperava o PS a enaltecer a acção e a figura  e os opositores a depreciarem, e nestes a tónica de que António Costa disse muito e não disse nada, jogando com números que não batem certo com a realidade, fazendo-o com arrogância e sobretudo sem reconhecer os erros.

Uns e outros, entrevistado e partidos, disseram o que se esperava que dissessem. Isto é, dali não vem qualquer novidade. Sempre foi assim e sempre assim será no jogo político. É um entretenimento. É como irmos ver um jogo de futebol sabendo previamente qual vai ser o resultado final, indo apenas quem gosta de rever o que já viu.

Mas de facto António Costa, que reconheço como uma boa pessoa mas melhor político na acepção da palavra, porque experiente, ardiloso e habilidoso, sabe jogar com vários naipes, mas quase nunca a reconhecer erros e neste mandato de maioria foram mais que muitos. Para além do mais, os números que aponta como um sentido positivo, crescimento e aumento de rendimentos na realidade não se traduzem em melhores condições de vida das pessoas e basta atentar nas realidades que todos os dias são notícia, desde logo o colapso do Serviço Nacional de Saúde, do INEM, da Educação, bem como de muitas outras maleitas que de tão óbvias se torna fastidioso a todas enumerar.

Mas isto é política, meus senhores! Venha o PS, PSD ou qualquer outra geringonça dita parlamentar, será mesmo para lamentar porque mais do mesmo! Habituem-se!

11 de dezembro de 2023

Rebanho de cordeiros

Hoje li mais uma das habituais e sempre certeiras impressões escritas pelo escritor José Rentes de Carvalho, no caso sobre esta forma de ser da pandilha que de há décadas, revezando-se entre si, faz de conta que nos governa, quando na realidade é apenas um desgoverno desmedido, ainda e muito sujeito aos arbítrios dos interesses próprios e corporativos. Como diz o velho transmontano, "...fingindo que governam, os sortidos donos daquilo tudo, os que se dobram ajoelhados como escravos de galé. E ainda os jeitos, as luvas, o fatalismo, as vénias, a cunha, a subserviência para com os que estão acima, o desprezo para com os que dependem. O medo generalizado, os brandos costumes, as manhas, o respeitinho. Aquela inveja, que de tão extraordinária e corrente parece ser genética. A promessa raro cumprida, idem a sornice, o deixa para amanhã, a fatuidade, o valor das aparências, o gosto da rasteira."

Não poderia, pois, o José Rentes de Carvalho ter traçado melhor retrato deste pobre país de espertalhões e com a bonita idade que conta, 93 anos, diz já não ter tempo nem ilusões em mudanças e ver chegar novos amanhãs que durante anos esperançosamente esperou. 

O que se vai lendo, vendo e ouvindo na comunicação social, a propósito do estado da nossa Educação, do Serviço Nacional de Saúde em colapso, o caso da TAP e aeroportos, agora o caso que levou à dissolução do parlamento e convocatória de eleições legislativas antecipadas, o mal-cheiroso caso das cunhas para o tratamento milionário das gémeas brasileiras, à pressa naturalizadas, são exemplos factuais e bastantes que atestam este estado de podridão política e estrutural a que nem a figura do seu mais alto cargo da nação escapa. Mas como povo não temos emenda e no geral vamos andando como cordeiros obedientes atrás dos pastores do costume nesse papel de chefes, arvorados desde a data supostamente revolucionária em que a partir dela seria só democracia, paz, pão, povo desenvolvido, saúde e liberdade. O tanas!

Para o próximo Abril comemorar-se-á com pompa e circunstância e molhadas de cravos vermelhos, os 50 anos, o meio século passado sobre esse evento, mas na realidade as coisas continuam  e continuarão como sempre, modeladas por uns poucos ao sabor dos seus interesses e agendas. O resto é paisagem, um constante faz de conta, um mero e permanente simulacro de sociedade democrática, desenvolvida e civilizada. Mas, paradoxo, não falta quem goste de fazer parte deste rebanho seguidor, sem carneiros a tresmalhar, só com cordeiros mansos e humildes. 

Temos o que merecemos. Venha daí outra rodada!