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19 de março de 2024

O meu pai não foi o melhor do mundo



Ao contrário do que toda a gente parece dizer por aí, neste dia que é do pai, eu não tive o melhor pai do mundo. Também não o serei. Somos uns exagerados, e como animais sociais vamos uns atrás dos outros, tantas vezes a repetir os mesmos clichês, os mesmos lugares comuns e o convencional ou politicamente correcto. Pastamos da mesma erva.

Mas não, eu não tive o melhor pai do mundo e pela simples razão de que não conheço os outros pais do mundo, a ponto de comparar o meu a cada um deles. De resto, poderia ser uma tremenda injustiça para com pais que foram realmente exemplos extremos de amor que em tantos casos ao longo da História deram literalmente a vida pelos filhos e levaram uma vida de penas e dores para lhes dar pelo menos o direito ao pão.

Agora o que eu tive, foi um pai, e basta-me isso. Nem melhor nem pior que os demais. Diferente como devem ser todos os pais. Porventura até teve mais defeitos que virtudes e não terá sido o melhor exemplo do pai modelo e várias vezes se terá demitido dos seus deveres de pai e marido. Mas sei também que não sei quais os motivos que o limitaram na sua paternidade, as lutas íntimas que travou, os obstáculos que lhe surgiram, as injustiças que lhe fizeram, nem quais os pecados que cometeu, se os confessou e se Deus o perdoou. 

Tenho do meu pai a imagem nítida de uma boa pessoa, honesta, inteligente e simples, até a ponto de ser enganado, roubado mesmo por outros mais "espertos", e basta-me que tenha sido apenas isso para ter a certeza que foi um bom pai e não o trocava por outro.

Um bom pai não é o que dá ao filho uma moto quando faz 18 anos, um carro novo, um relógio de marca, um computador da Apple, umas férias à grande e à francesa, casamento pago em quinta de luxo, lua-de-mel oferecida num qualquer paraíso terreno, chave na mão de um bom apartamento ou de uma moradia luminosa. Essse tipo de pai existe mas não vale nada, porque limita-se a dar o que pode dar, mesmo que a negar ao filho o valor da responsabilidade e a omitir a mensagem de que as coisas boas da vida devem ser conseguidas com mérito e suor próprios.

Se o meu pai nada me deu de material, porque não o podia fazer, e por isso tive eu que ganhar para comprar a minha primeira bicicleta, a minha motorizada, o meu carro velho, pagar o casamento, comprar terreno e nele construir casa, todavia, deu-me e transmitiu-me outros valores que tenho-os em maior conta que tudo o resto. Esses valores são imensuráveis e difíceis de descrever porque tantas vezes surgiram do nada, de pequenas centelhas que só mais tarde, já adulto, maduro e também na condição de pai, consegui decifrar.

Tive pois, um pai, simples como tantos outros, com defeitos e virtudes postas nos pratos da balança, ora a pender para um lado, ora para outro, porque o equilíbrio na vida é sempre uma labuta diária, constante. Basta-me isso!

Já partiu o meu pai, é certo, mas tenho-o presente quase diariamente nas minhas orações. Fico contente que toda a gente tenha o melhor pai do mundo. Eu também poderia alinhar e cantar em coro e afinado a mesma cantiga, mas, sem inveja de quem tem o melhor pai do mundo, fico-me pela simplicidade do meu.

Centenário da D. Celeste Guedes.

A propósito da partilha que ontem fiz no Facebook sobre o 100.º aniversário da D. Celeste Guedes, da Leira, confesso que esperava uma  maior expressão em  quantidade, tal é a importância da data, naturalmente que sobretudo para ela e para os familiares, mas tenho para mim que estas coisas também nos dizem respeito enquanto comunidade. Afinal é pessoa mais velha de todos nós.

Infelizmente, e concretamente pelas redes sociais, temos tendência a valorizar e a expressar contentamento com banalidades, boçalidades, coisas sem interesse algum ou de relativa importância, mas quando certas coisas têm algum sumo a que valeria a pena transmitir uma expressão de simpatia, passamos ao lado com indiferença.

É o que é, e não importa dramatizar mais do que isto, mas isto diz-nos que de facto há coisas que sobre as quais não importa ter grandes expectativas. Afinal as redes sociais são um reflexo, uma amostra da sociedade e da vida real. 

Apesar disso, a publicação aqui neste espaço com a simples referência à data e ao acontecimento, o que procuro fazer sempre que entendo que se justifica, teve quase meio milhar de visitas, o que é relevante. Mas que no Facebook esperava mais, esperava. Não por mim, obviamente, mas pela pessoa em questão e pelo tão bonito marco de vida.

Mas, é a vida!

1 de março de 2024

Flores e pedras


Como alguns saberão, mantenho há quase 24 anos este meu espaço online "Eu e a minha aldeia de Guisande" onde, como consta da introdução, é "um espaço de olhares sobre a minha freguesia e partilha de coisas pessoais e impessoais".

Como tudo tem um fim, há alturas em que me dá uma vontade de pausar o projecto ou mesmo desligar as máquinas. Mas logo de seguida, principalmente quando verifico as estatísticas e vejo que na maior parte dos dias são pelo menos 500 visitas diárias, sinto um quase dever de lhe alimentar a continuidade, porque num contexto local é um número interessante de gente interessada.

Não é só pelas minhas coisas mais pessoais, como histórias, fotografias e poemas, abafos e desabafos, mas também e sobretudo pelas coisas que contam para a comunidade local, bem como  para os emigrantes dos quais vou tendo eco de que seguem sempre com atenção e interesse o que vou publicando. Muitas dessas visitas são deles.

Mas isto tem custos, não de tempo nem de dinheiro, que pouco contam, mas de exposição e escrutínio, porque entre leitores interessados e que vão transmitindo incentivos, há quem sub-repticiamente, escrutine, anote e faça disso pedras que não hesitará em atirar na primeira oportunidade. Não que isso me preocupe, porque esses vêm de carrinho, mas também é certo que não contribuiem para o alento que toda a empreitada pró bono precisa.

Posto isto, agrada-me verificar que o espaço continua com um muito interessante número de diário de visitas, com oscilações, pois claro, mas não raras vezes entre os 500 e um milhar que por aqui passam.

Neste contexto, entre flores e pedras, vai continuando, pelo menos a caminho dos 25 anos. Quem sabe se então a não a merecer uma festinha discreta das bodas de prata. Quem sabe...

28 de fevereiro de 2024

Cenouras gratuitas

Uma certa Junta de Freguesia, no Facebook, anunciou como "novidade" aulas de fitness para a população, "totalmente gratuito". Numa das partilhas da "novidade", alguém considera que "isto é que é uma freguesia preocupada com os habitantes".

Respeitando ambas as coisas e o benefício fantástico de tão espectacular medida, questiono o que é que as pessoas acham do "totalmente gratuito". Se os orientadores, o espaço, a electricidade, a limpeza e custos associados forem mesmo oferecidos, pró bono, à borlix, acho que sim, é de aproveitar a quem gosta. Dê-se já um voto de louvor a essa boa gente.

Já se a coisa, aos orientadores, os espaços, água, electricidade, e logística, forem do orçamento da Junta, aí o "gratuito" tem que se lhe diga. É o que o orçamento da Junta vem de algum lado, da Câmara, do Estado, e em última análise dos impostos e taxas dos contribuintes. Por conseguinte, e é aqui onde pretendo chegar, o conceito de "gratuito" é sempre muito relativo. Fazer brilharetes com o dinheiro dos outros, mesmo que dos contribuintes, é uma alegria. Mas partilhado nas redes sociais tem impacto e cheira a coisa bonita e há quem goste. 

Num tempo em que ninguém dá nada a ninguém, espanta que alinhemos com facilidade nestas cenouras à frente do burro sem qualquer sentido crítico quanto a qualquer forma de "engana-me que eu gosto".

24 de fevereiro de 2024

Centro Social - Assembleia Geral - Sessão extraordinária

Conforme previamente divulgado, teve lugar no dia de ontem, Sexta-Feira, pelas 20:00 horas, no Centro Cívico, no Monte do Viso, a sessão extraordinária da Mesa da Assembleia Geral da Associação do Centro Social S. Mamede de Guisande, com o ponto único de eleição e tomada de posse dos novos corpos gerentes.

Poucos elementos dos corpos gerentes cessantes e poucos sócios presentes e nenhuma lista candidata. Face a esta situação foi decidido manter de forma provisória a Comissão Administrativa composta pelos membros da Direcção cessante e realizar nova convocatória com o mesmo objectivo para meados de Maio, na esperança de que com a tomada de posse do novo Governo, que sairá das eleições do próximo dia 10 de Março, possa haver alguma novidade e esperança quanto ao desatar da decisão de efectivação do financiamento da actividade do Centro Social pela Segurança Social.


Notas à margem:

Em resumo, e pela parte que me toca, infelizmente aconteceu o esperado. Tanto o que por aqui fui escrevendo, como a convocatória divulgada com a devida antecedência, bem como a divulgação e incentivo por parte do pároco no final das missas, caiu completamente em saco roto. Pode-se concluir que a freguesia não precisa, não quer nem gosta do Centro Social nem dá importância aos objectivos sociais e comunitários inter-geracionais a que se propõe? 

Não sei a resposta, mas a avaliar do desinteresse reiterado para esta questão da eleição e quanto à continuidade da associação e seus objectivos,  parece-me que sim. Não há outra forma de o dizer.

23 de fevereiro de 2024

Difícil mas não impossível

Em sequência da divulgação que fiz aqui da reunião interparoquial ocorrida na Terça-Feira passada com os grupos das paróquias de Caldas de S. Jorge, Guisande e Pigeiros, sob a responsabilidade do pároco Pe. António Jorge de Oliveira, e para quem de algum modo acha importante ter em conta os valores associados à comunidade (e infelizmente cada vez são menos), considerará que as três ideias base propostas como marcas da Visita Pastoral prevista para o final do próximo mês de Junho, são importantes mas não fáceis.

Quanto à renovação/revitalização dos grupos paroquiais, não é fácil porque por um lado há um envelhecimento geral da população, os jovens são cada vez menos e apesar de com mais formação escolar e académica, no geral são poucos os que se interessam por estas coisas relacionadas à Igreja, mesmo que com aspectos positivos sob um ponto de vista de relacionamento inter-geracional, partilha e crescimento social, etc.

Por outro lado, mesmo desde há muitos anos havendo na paróquia um grupo de jovens, a verdade é que não tem sido dada continuidade geracional de modo a que os mais novos colmatem os mais velhos  que por afazeres profissionais ou familiares vão deixando. Resulta disso que esgotada a fornada, volta a haver um interregno e com isso um desligamento.

Na Catequese, também tem sido difícil a renovação e por conseguinte a actual equipa tem já muitos anos e só com esforço e sentido de responsabilidade e dedicação é que vão continuando. De resto, creio que se o número de crianças fosse maior, o que infelizmente não acontece, haveria dificuldades em angariar novos catequistas. Por outro lado, num problema que é geral e transversal à nossa sociedade, assiste-se ao desligamento e desinteresse dos pais, uma quebra no rigor da educação parental a que a escola não consegue complementar, resultando na indisciplina generalizada das crianças e daí uma dificuldade no processo de catequese mesmo que à luz de métodos mais cativantes e já não tanto ou de todo de processos tão maçudos quanto ineficientes, quanto à mensagem e valores a transmitir.

Quanto ao nosso Grupo Coral, tem muita qualidade e competência e é elemento importante e fundamental do enriquecimento das nossas celebrações litúrgicas, mas obviamente que também carece de mais gente, mesmo para não sobrecarregar os mesmo nos diferentes serviços. Mas também aqui o processo é difícil porque exige responsabilidade, dispensa de tempo para ensaios e serviços e de um modo geral ninguém tais encargos. Também aqui o comodismo ganha pontos. E sei disso porque del já fiz parte durante muitos anos e em diferentes tempos.

Em resumo, todos os grupos, catequese, coral, leitores, LIAM,  acólitos, solidário, etc, etc, têm os mesmos problemas de renovação porque à falta de pessoas de diferentes gerações, junta-se o comodismo e o esquivar a tudo o que soe a responsabilidades por amor à causa e à comunidade.

Quanto à formalização do Conselho Pastoral, parece-me que não é difícil pois em rigor bastará integrar representantes dos diferentes grupos. Depois importará, isso sim, funcionar de forma dinâmica e interessada e sem tentações de protagonismo ou rivalidades que o podem enfraquecer. Há pois que haver sentido comunitário e humildade de cada uma das peças.

Quanto ao trabalho em projectos concretos que promovam a sinodalidade, há certamente caminho a percorrer e ideias que podem ser concretizadas, envolvendo tanto quanto possível a comunidade, não apenas sob um ponto de vista de paróquia mas de freguesia, pelo que também interessa envolver os grupos e pessoas mesmo que não tanto da esfera da Igreja. Aqui, para além de todos, parece-me que o pároco, como elemento chave e orientador, tem o papel principal na promoção e agregação de todos os quadrantes.

Pode esta minha opinião e análise parecer um pouco pessimista, ou, ao contrário, pouco optimista, mas na verdade todos sabemos que as coisas são difíceis e é um problema global e não apenas da nossa comunidade. Há um alheamento geral da larga maioria das pessoas, que é cultural mas também social, a perda do sentimento de acções de cidadania. Estamos cada vez mais fechados em nós mesmos, nas nossas coisas, no nosso egocentrismo, e não somos de alinhar em tarefas que signifiquem canseiras, responsabilidades e participações que nos retirem do nosso comodismo, do nosso sofá, televisão e internet.

Pessoalmente, não querendo ser moralista nem exemplo para ninguém, tenho consciência que já fiz bem a minha parte em muitos contextos de comunidade e cidadania, tanto na parte mais civil como da Igreja. E se por um lado com esse dever de consciência limpo, foi com esse sentido de que há sempre mais um pouco a fazer, que aceitei o pedido do nosso pároco para ser delegado representante da nossa paróquia no Conselho Pastoral Vicarial e do qual existe um elemento eleito (da paróquia de Fiães) que representa a nossa Vigararia no Conselho Pastoral Diocesano. Não é nada de extraordinário este papel, nem muito trabalhoso, mas naturalmente tem responsabilidades e canseiras e algumas reuniões em que é preciso estar presente.

Em suma, seria para mim e para todos quantos integram os grupos, bem melhor e mais fácil de dizer não ao pedido e nada fazer, ficarmos somente pelo conforto das coisas a que damos mais valor, mas se ainda temos interesse e gosto pela nossa terra, pela nossa comunidade e sobretudo pelas suas pessoas, e destas as mais velhas e frágeis, então cada um de nós a chamado a fazer a sua parte mesmo que apenas na medida das suas possibilidades e talentos.

Felizmente, apesar de sermos uma comunidade pequena, e a reduzir-se de ano para ano, ainda há bons exemplos e gente dedicada e interessada e é por isso que mesmo com todas estas dificuldades ainda há gente a participar e a fazer parte de grupos e movimentos. Neste contexto, qualquer passo dado, mesmo que curto, é positivo. O esforço é de todos. O recente caso de aparecimento de gente a propor-se como comissão da Festa do Viso é um bom exemplo e que deve ser seguido, mas naturalmente com o apoio da comunidade que, neste caso concreto, parece-me que tem existido. Ainda o aparecimento de um Juiz da Cruz e com a vontade de retomar o tradicional Almoço, é também de louvar e valorizar. Também a aparente facilidade de composição de um novo Conselho Económico Paroquial, com gente nova, é de ter em conta. Ainda, há algum tempo, mesmo que noutra esfera, a regularização administrativa do nosso Guisande F.C, com corpos gerentes instalados, etc.  

Por outro lado, o  Centro Social S. Mamede de Guisande está em eleições, remarcadas já para hoje à noite, e importará que apareça gente nova para retomar a barca e conduzi-la aos objectivos. O meu lado pessimista diz-me que vai ser difícil, porque também aqui há a exigência de dedicação, canseiras e responsabilidades, mas é ver o que irá acontecer. De minha parte, quanto a isto, já o disse e escrevi, não tomarei parte porque já o fiz nos dois últimos mandatos. Venham outros.

Com estes sinais maioritariamente positivos mesmo no meio de dificuldades intrínsecas, somos chamados a reflectir no que podemos fazer em prol da comunidade como valorização da mesma. Se somos sociedade e vivemos em conjunto, em comunidade, e não isolados e afastados de tudo e todos, então temos que ser capazes. O difícil é dar o passo primeiro. 

12 de fevereiro de 2024

Porque as árvores morrem de pé

 

Esta imagem já não é possível captar, pela simples razão de que a imponente árvore que competia em altura com a esguia e bonita torre da igreja matriz de S. Tiago de Lobão, já foi abaixo, há algum tempo, não porque morresse de pé, como todas as árvores, mas porque certamente foi decidido pelo seu abate.

Estas decisões não são fáceis para quem as toma, porque há e haverá sempre quem veja o copo meio cheio ou meio vazio. Em todas as decisões há prós e contras e encontrar equilíbrios ou decidir pelas vantagens é a parte difícil.

Neste caso, obviamente não tenho opinião, desde logo porque não sou lobonense, e por conseguinte escuso-me a opinar se foi uma boa ou má decisão, ou se inevitável. Certamente que tomaram a decisão que entenderam como justificada. Certo é que se por um lado se ganhou em desafogo no edifício e maior projecção, por outro lado também se perdeu o exemplar imponente de uma bela árvore.

Nem sei como decorreu o processo e se foi ou não pacífico entre a população. A questão aqui, de publicar esta imagem e este texto,  é mesmo só documental e ponto de partida ou chegada para uma eventual reflexão quanto ao peso e importância de certas decisões, na certeza de que, sejam quais forem, nunca serão do agrado de todos.

Neste caso, como noutros, importa saber sempre se os ganhos equilibram ou justificam as perdas, como quem diz se os meios justificam os fins. Como numa boa discussão, as respostas podem ter várias direcções e porventura todas com legítimas razões.

Ainda quanto às árvores, têm este problema e tantas vezes quando as plantamos, sobretudo perto de construções, esquecemos que crescem e dependendo das espécies podem vir a tornar-se belas e imponentes mas simultaneamente inconvenientes. Terá sido este o caso.

7 de fevereiro de 2024

Sem contar para nada

Parece que foi ontem, mas em 1992 deu entrada na Câmara Municipal o projecto da minha habitação e pouco depois começou a construção.

Já nessa altura éramos um país de sonhadores e se ainda não havia leis que obrigassem a fazer garagens para nelas caberem três Mercedes (e lá chegaremos), já era obrigatório apresentar projecto de rede de abastecimento de gás natural e a sua ligação à rede pública. Gastei pois, como muitos milhares, mais umas boas massas com o projecto e com o picheleiro a instalar a rede e a caixa-de-contador no muro da rua.

Mas se neste país não faltam politicos sonhadores, sobretudo a fazerem coisas com o dinheiro ganho por terceiros, como uns que defendem agora que os ricos devem repartir com os jovens um pézinho de meia para começarem as extravagâncias da vida, a que chamam como Herança Social, há igualmente outros que, desculpem a boa expressão popular,  "não fodem nem saem de cima" e por isso tantas coisas não passam de projectos. Tem sido assim com os nossos aeroportos, com a ferrovia, com  a habitação, etc, etc.

E também foi assim com a rede de gás natural que apenas foi realizada em certos lugares. Tal como as redes de água e saneamento que foram feitas e obrigados os contribuintes a ligar e pagar, mesmo que as dispensassem, mas outros ainda hoje necessitados delas foram deixados de lado. Tudo isto em nome da vantagem económica das concessões porque o serviço público puro e duro é e será sempre coisa secundária.

Por conseguinte, na minha casa e de muitos portugueses, passados trinta e tal anos a coisa ainda não foi instalada e nem porventura daqui a mais trinta. Assim, a caixa do contador do gás está ali como um monumento e uma lembrança permanente à megalomania dos nossos políticos e autarcas autênticos fazedores de chuva e exímios a andarem com o carro à frente dos bois. 

Tenho uma grande estima por aquela caixa de contador do gás porque tal como uma grande parte dos nossos governantes nacionais e locais, nunca contaram para nada mas contam a qualidade da lata de quem nos obriga a estes paradoxos. 

1 de fevereiro de 2024

Coragem ou falta dela

Em comentário a alguém que pela blogosfera considerou como falta de coragem o facto de Luís Montenegro não defrontar directamente Pedro Nuno Santos pelo ciclo de Aveiro, preferindo encabeçar Lisboa, também acho que deveria concorrer por esse ciclo de residência, e apenas por esse princípio, legítimo. De resto não me agradam paraquedistas a encabeçar listas em distritos onde porventura nunca, ou raramente, lá puseram os pés.

Em todo o caso, em termos meramente estratégicos, parece-me que a escolha de Emídio de Sousa como cabeça-de-lista é acertada. Afinal, é só o presidente da Câmara do município (Santa Maria da Feira) de longe o mais populoso do distrito e que  tem gozado de popularidade bastante para ter vencido com vitórias amplas.

Mas vale o que vale. No resto, no toca a coragem, porque era dela que se falava, gostaria de ver estes candidatos a chefes de governo, Pedro Nuno Santos e Luis Montenegro, mas mesmo líderes de outros partidos, a intregrarem as listas em círculos de menor implantação e em posições de eleição não garantida. Aí sim, era de homens e, claro, de mulheres. 

29 de janeiro de 2024

O talento já foi chão que deu uvas


O talento pode ser definido como uma habilidade natural ou aptidão excepcional para realizar alguma atividade com destaque, muitas vezes demonstrando facilidade e excelência em comparação com os outros.

Além disso, o talento pode ser inato ou desenvolvido ao longo do tempo por meio de aprendizagem, prática intensiva e experiência. Ele pode manifestar-se em diversas áreas, como artes, desportos, ciências, e muitas outras, contribuindo para o sucesso e realizações individuais. O reconhecimento e cultivo do talento são fundamentais para o crescimento pessoal e profissional de uma pessoa.

Durante muito tempo a expressão do talento era ela própria, inconfundível, intrínseca. Quem o tinha, tinha e quem não, não. Mas desde há alguns anos e sobretudo agora com as ferramentas tecnológicas e a Inteligência Artificial a dar cartas, tanto ao nível do conhecimento em geral como na capacidade de produzir conteúdos gráficos, num instante somos todos artistas e criativos e um qualquer Zé da Esquina que nunca foi capaz da mais singela criação artística, ao nível de uma criança no Jardim de Infância, é agora poeta, desenhador, pintor, fotógrafo requintado, etc.

São, pois, tempos perigosos estes em que os vendedores da banha da cobra misturam-se a fazem-se passar por talentosos criativos. Os Photoshops vieram retocar e transformar o velho em novo e feio em bonito, mas até aí era necessária capacidade e mesmo talento para o processo. Apesar da perversão, são talentosos os pintores que falsificam quadros. Já com a AI (Artificial Intelligence) e com os inúmeros serviços que dela se aproveitam, basta pedir à lista o que se quer, desde um quadro com uma criancinha a dormir com um gatinho, uma paisagem deslumbrante ou exôtica até uma Taylor Swift em poses pornográficas, como tem sido noticiado, com milhões de visualizações, levando a indignações e reacções como a do CEO da Microsoft, Satya Nadella, que afirmou numa entrevista que considera “alarmante e terrível” a perspectiva de começarem a circular imagens geradas por Inteligência Artificial de nudez não consensual. 

Certo é que mesmo apesar das entidades governamentais e reguladores mostrarem que estão preocupadas com as perversidades da IA, a verdade é que a bomba já foi lançada e os estragos são e serão irreparáveis porque a experiência diz-nos que isto não vai parar. Poderia parar numa China, Rússia ou Coreia do Norte, mas não nos países onde a democracia não consegue cortar certos males pela raíz ou desfazer conceitos politicamente correctos. No fundo, para o bem e para o mal, temos que colher o que semeamos.

Neste contexto, neste mundo inundado de "merda talentosa", como diz uma certa cantiga (creio que de José Augusto), "Agora aguenta coração".

28 de janeiro de 2024

Conselho Económico Paroquial - Nova equipa

Nas missas deste fim-de-semana, o nosso pároco Pe. António Jorge divulgou a composição do novo Conselho Económico Paroquial com mandato para o próximo quinqénio.


Presidente: Pe. António Jorge Correia de Oliveira

Secretária: Sara Patrícia Santos Conceição

Tesoureiro: Carlos dos Santos Almeida

Vogais:

Johnny Deivis Baptista de Almeida

Manuel Arménio Santos Moreira

Pedro Baptista Alves


Para além das responsabilidades correntes, face à necessidade de realização de obras, tanto na capela do Viso como na Igreja, e mesmo no salão paroquial, a euipa terá responsabilidades pela frente  pelo que desejamos votos de bom trabalho e colaboração mútua.

Quanto à qualidade e competência dos novos membros quanto às funções agora assumidas, será a sua acção a prová-las, mas, por princípio, creio que as têm.

Quanto à composição em abstracto, se me é permitida uma simples opinião, parece-me que seria importante e enriquecedor que dela, ou de qualquer outra similar, fizesse parte alguém mais velho, ou usando um moderno eufemismo, alguém senior, sobretudo experiente e conhecedor da matriz e de alguns dos valores identitários da nossa paróquia que foram cimentados ao longo de décadas. 

Em todo o caso, são sempre critérios e decisões que cabem apenas a quem tem essas responsabilidades. Importa é, no interesse geral, uma boa e transparente contabilidade e gestão dos dinheiros da paróquia de acordo com as necessidades correntes ou estruturais como obras de conservação e requalificação do nosso património paroquial.

Votos de bom trabalho!

26 de janeiro de 2024

Festival RTP da Canção - Mais do mesmo


O "Festival RTP da Canção" parece que vai fazer agora 60 anos, sendo considerado o programa de entretenimento mais antigo da televisão portuguesa. Começou em 1964, então como "Grande Prémio TV da Canção Portuguesa".

Costuma-se dizer que em equipa que ganha não se mexe ou como numa boa receita de culinária não se toca, mas como neste aspecto a nossa RTP nunca acertou com os ingredientes certos nem com o tempo de cozedura, desde que a nossa televisão começou a ser colorida, o seu festival de canções inverteu-se e desde então tem sido de um cinzentismo escuro e nem os cada vez maiores palcos, quantidade de luzes e efeitos, tamanho dos cenários estapafúrdios e virtuais e ainda o desfile de apresentadores e apresentadores em trajes de gala e com generosos decotes, têm trazido luz e cor à coisa.  E sobretudo qualidade.

Além do mais, quando se põem os tele-espectadores a decidirem a coisa com telefonemas que dão boa receita, tudo se conjuga para que não passe anualmente de um entretenimento sem grande interesse no que a qualidade musical e artística diz respeito. Depois, invariavelmente, o teste no palco europeu do Eurofestival, também repetidamente, com raras excepções, confirma que não fomos talhados para estas coisas e assim temos andado lá pelos fundos da tabela e a ouvir dos júris: Portugal, one point!

A vitória do Salvador Sobral em 2017 foi de facto uma muito boa excepção, a confirmar a regra, por um conjunto de motivos, mas mesmo ela sem qualquer deslumbramento e também a fazer prova que pelo teste europeu a coisa tem andado nivelada por baixo. De resto, tanto na Europa como em Portugal, que lhe segue as tendências, este concurso na sua essência há muito que deixou de ser musical em detrimento de uma miscelânia mediática de efeitos visuais que se permitem arregalar os olhos também entopem os ouvidos.

Mas é o que é e não passará disto por mais que todos os anos, como aprendizes de alquimistas, se inventem novas fórmulas e se arregimentem velhas e novas caras. 

Neste ano de 2024 parece que vão ser 20 autores que simultaneamente são apresentados como compositores e intérpretes, como se isso seja garantia do que quer que seja. 14 terão sido escolhidos pela RTP e os restantes por submissão directa. Há muito que até essa componente democrática dos primeiros anos, em que em teoria qualquer um poderia concorrer, acabou e os critérios de escolha têm sido manhosos ou discutíveis. Até tivemos (em 1976) um único cantor (Carlos do Carmo) a interpretar todas as músicas. O próprio nome do festival foi alterado várias vezes e somente a partir de 1979 é que se fixou no actual mas mesmo assim agora tratado apenas como "Festival da Canção" seguido do ano correspondente. Não se pode, pois, dizer que não tenhamos tentado de todas as formas e feitios. Seja como for, basta atentar no nome de alguns dos artistas para o concurso deste ano de 2024 para se adivinhar o que aí vem: Assim vamos ter um Bispo, um Buba, um Huca, um Borch, uma Mila, uma Mela, um No Maka e um Silk, entre outros. Bem sei, são só nomes, mas agora parece que quase ninguém tem nomes próprios.

Não tenho nenhum preconceito com este festival e muito menos com a música portuguesa. De resto musicalmente não sou preconceituoso e tenho apenas dois tipos, a que gosto e a que não gosto. É certo que a que gosto é rara como o atum em mar de sardinha, mas há ainda boa música e músicos e daquela e daqueles que não precisam dos empurrões dos média que como Midas, num toque de mágica, transformam merda em ouro. O que não falta por aí no panorama musical português é merda, mas, se servir de consolo ou atenuante, da boa. Mas, como qualquer coisa que se vende, é porque há quem compre ou consuma.

Posto isto, dê as voltas que der, este velhinho Festival RTP da Canção não passará de um pingarelho anual, uma laranja seca da qual se procurará extrair sumo que não tem, sendo que nestas coisas haverá sempre Fanta e outros refrigerantes que parecerão saborosos mesmo que sintéticos e a fazerem mal aos triglicerídos e colesterol e ainda a aziar a vesícula.

19 de janeiro de 2024

Jornalismo isento e independente? Onde?

A propósito da crise do grupo Global Média, que ameaça terminar com importantes títulos da nossa comunicação social, como os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias e ainda a rádio TSF, tem havido várias discussões, reflexões, análises e diferentes pontos de vista e ainda ontem o histriónico inquilino do Palácio de Belém discursou sobre isso na abertura do 5.º Congresso dos Jornalistas. 

Do que se tem falado, e porque uma grande parte de quem opina sobre o assunto é jornalista ou com ligações aos média, considera que o Estado deve apoiar a comunicação social porque uma imprensa livre e independente é necessária ou mesmo indispensável à democracia.

Pessoalmente, mesmo defendendo uma imprensa livre e independente, sou contra qualquer apoio do Estado e suas instituições a empresas privadas ditas dos média, seja rádios jornais ou televisão. E desde logo precisamente para garantir a tal independência. Pareceu-me claro, e a muitos, creio, que no período de pandemia em que o Estado decidiu distribuir umas boas massas pela comunicação social, tivemos a partir daí um jornalismo notoriamente favorável ao Governo. É que estas coisas, favores, mordomias ou prendas, pagam-se, porque a este nível ninguém quer arriscar a ser cão que morde a mão do dono ou de quem lhe dá pão.

Considero, por isso, que a comunicação social, como qualquer outro ramo, deve fazer pela vida adaptando-se às regras do mercado em cada momento, com inovação e qualidade que despertem o interesse pelo consumo e no respeito dos valores democrátios e deontológicos inerentes à profissão. Quem não for capaz disso então deve procurar outra área e os jornalistas sem trabalho têm outras opções e não falta trabalho na área da construção civil ou noutros sectores. Também a este nível profissional, as coisas têm que se adaptar às leis do mercado. Porque terá que ser diferente?

Ainda há algum tempo eu fui assinante de jornais online, nomeadamente do DN e do Correio da Feira e acabei por desistir porque o que me era oferecido não tinha qualidade e ainda por cima uma navegação e leitura infestada de publicidade, como se fora um mero leitor da versão comum. Isto demonstra que mesmo ao nível da oferta da versão digital, ainda há muito a fazer para incentivar e fidelizar leitores. Há caminho a percorrer.

Além do mais, bem vistas as coisas e analisada a nossa imprensa, e desde que há democracia, em rigor nunca tivemos um jornalismo verdadeiramente isento e independente, porque quase todos alinhados politicamente à esquerda ou à direita. Por conseguinte, cada título com a sua própria agenda política, ideológica, clubista, empresarial, etc.  Veja-se como exemplo no caso do futebol, em que o jornal "O Jogo", também do universo da Global Média, e por isso em risco de sobrevivência, desde sempre foi um jornal fraccionário, uma autêntica voz do F.C. do Porto, portando-se como um mero jornal clubista. Em sentido contrário, os leitores portistas acusam o jornal "A Bola" de ser pró-benfiquista, e por aí fora até com o jornal "Record" a ser conotado com o Sporting.

Em resumo, não sou nada a favor de fazer fretes ou favores de apoio financeiro ou de outra natureza à imprensa jornalística e de comunicação social, para além do apoio justificado e nas mesmas condições que recebem quaisquer outras empresas noutros sectores de actividade. Também não acho que, nos tempos que correm, seja assim tão fundamental à sobrevivência da democracia. Tão errado como apoiar a imprensa de forma directa seria fazer depender esta da Democracia. Ora nem uma nem outra devem depender delas próprias mas antes ser livres, independentes e isentas. 

A sobrevivência da democracia não depende nem dependerá nunca da imprensa livre mas antes das pessoas e do povo.

16 de janeiro de 2024

Emídio Sousa na Assembleia da República


Soube pela comunicação social de que o actual presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, o Dr. Emídio Sousa, foi escolhido como cabeça-de-lista pela AD - Aliança Democrática, pelo círculo eleitoral de Aveiro. O ainda presidente da Câmara de Vagos, Silvério Regalado, é o número dois na lista a qual integra, entre outros, Ângela Almeida e Salvador Malheiro, presidente do município de Ovar.

Impedido pela lei de se recandidatar a um novo mandato como presidente do município, o Dr. Emídio Sousa continuará assim ligado à alta política e tendo em conta o posicionamento na lista é segura a sua eleição.

Do que conheço do seu currículo, postura pessoal e política, acredito que tem competência de sobra para o cargo e saberá defender os interesses da Feira e seu território, embora saibamos que estes estão sempre dependentes de outros interesses e vontades partidárias ou governamentais. Será difícil e nada certo que a AD venha a formar governo mas, em todo o caso, pelo psicionamento na lista a sua eleição é certa.

O lado menos positivo desta candidatura será, naturalmente, o ter que deixar a presidência da Câmara Municipal pouco mais que a meio do mandato. Por princípio, os mandatos devem ser cumpridos até ao final sob pena de defraudar as expectativas dos eleitores. 

A senhora culpa continua solteira e virgem

Os nossos políticos, em geral, sabem que estão mal considerados perante os eleitores e que daí, em muito, decorrem as altas taxas de abstenção nos actos eleitorais, mas mesmo assim continuam a falar para os mesmos como se estes sejam todos uma cambada de tontos, palermas, sem capacidade de escrutínio e de julgamento e incapazes de ver gatos escondidos com os rabos de fora. Assim, é de facto motivo de arrelia constante  ir assistindo às suas campanhas, intervenções e discursos.

Uma ds capacidades destes políticos rasteiros é de fazerem de conta que certas coisas não são nada com eles, que não lhes diz respeito e que certas más políticas são sempre da responsabilidade dos outros e sobretudo de quem em diferentes cargos os precederam. Por exemplo, o senhor Pedro Nuno Santos, agora líder do Partido Socialista, candidato a primeiro-ministro, e que presumivelmente será, tem falado como se o seu partido não nos tenha governado nos últimos 10 anos e que em 25 anos tenha estado 18 no poder, e que dele não tenha feito parte com cargos de responsabilidade. 

Por conseguinte, as trapalhadas da TAP, com indemnizações milionárias autorizadas e esquecidas,  as da localização do aeroporto, o estado da Educação, o caos e a degradação do Serviço Nacional de Saúde, com serviços encerrados e urgências entupidas, instabilidade social constante com professores, médicos, forças da segurança, confronto verbal com o Ministério Público, etc, etc, não têm nada a ver com o PS e o Pedro Nuno. Não, a culpa é do inquilino histriónico do Palácio de Belém e de quem deixou de governar há 10 anos. Ganhem e governem por mais 10 e nessa altura os culpados e responsáveis do que não estiver bem serão ainda os do passado.

Perante esta situação, não supreende que um partido mais extremado como o CHEGA continue a ganhar adeptos, porventura não pelos lindos olhos e do discurso populista e demagógico do artista do seu líder, André Ventura, mas simplesmente em reacção a este sistema muito politicamente correcto e de políticos frouxos,  carreiristas, a quem se exigia mais frontalidade, honestidade e sobretudo assunção de responsabilidades quando as têm. Não tem sido esse o caso por parte do PS nem do neto do sapateiro, o qual até tem raízes familiares aqui em Guisande. 

É pena! Pois é! Mas, pelos vistos, basta que se prometa um ordenado mínimo de mil euros daqui a quatro anos para que tudo volte a ser cor-de-rosa. Falta de ambição! Porque não 2 ou 3 mil? Isso é que era!

14 de janeiro de 2024

Imposto estúpido e injusto

Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega, considerou hoje no último dia da convenção em Viana do Castelo, que seu o partido é “a direita credível”, prometendo, caso seja Governo, acabar com o IMI e com o IUC. 

É proposta do Chega mas poderia ser de qualquer outro partido para concordar em pleno com ela. É que sobretudo o IMI  (Imposto Municipal sobre Imóveis) é um imposto estúpido, injusto, bafiento e imoral. Repare-se: Eu, que como centenas de milhares de portugueses, construí a minha habitação com o resultado do meu trabalho e do meu esforço, paguei projectos, taxas e licenças, tudo com os devidos impostos, continuo a gastar dinheiro em melhoramentos e conservação, continuo a pagar a prestação do crédito à habitação com elevados juros, a que propósito tenho que pagar por toda a vida uma renda ao Estado ou município? Porventura foi qualquer uma dessas entidades que ma construiu? Serão eles os proprietários?Que lógica e moralidade neste imposto? Ainda que fosse cobrado com um valor residual, simbólico, vá que não vá, mas com o elevado valor que representa para qualquer média habitação, é de facto uma aberração num Estado de direito.

Posto isto, não posso estar mais de acordo com quem propuser a sua extinção. Foi o Chega, mas poderiam ser os antípodas do BE ou o PCP que para mim mereceriam apoio. 

Significa, porém, que isso pode representar que vote nesse partido? Nem por sombras, porque há outros valores e princípios na equação, mas era importante que outros partidos menos radicais e estapafúrdios, fossem capazes de ter essa coragem e matar este imposto estúpido em nome da moralidade.

12 de janeiro de 2024

O preço da independência e da honestidade

Tempos houve em que um pouco por todo o país e sobretudo em tempo de eleições autárquicas, entre um vasto caderno de encargos de promessas, como a clássica do instalar na terrinha um Posto Médico com doutores e enfermeiros, alguns candidatos também prometiam que nada ganhariam e que as suas remunerações pelos cargos seriam juntas e depois aplicadas em algo de importante para a freguesia, fosse para uma rua, para um parque infantil, para o clube de futebol ou mesmo para uma sede de uma qualquer associação de bem público. É certo que em rigor era e é pouco dinheiro, sobretudo para os titulares de cargos em pequenas aldeias, e por isso é que tal exemplo nunca foi seguido, parece-me, quanto a presidentes de Câmara e vereadores, porque aí a esmola era demasiado grande para dela se abrir mão, mas nas Juntas, como "grão a grão enche a galinha o papo", diz o povo na sua sabedoria milenar, certo é que alguns lá somaram uns milhares, de contos ou euros, pouco importa ao caso.

Para além da parte demagógica deste tipo de promessas, nunca percebi o verdadeiro alcance desta "generosidade", como se ela fosse necessária e de substância para provar a seriedade e dedicação desinteressada pela causa pública. A meu ver nunca foi precisa, porque a um trabalhador cumpridor e honesto é justo e até um direito universal que se pague o salário ou a remuneração que a lei lhe confere. Por conseguinte um autarca de Junta, seja presidente, tesoureiro ou secretário que por motivos eleitoralistas abre mão das sua remuneração legal a favor de qualquer outro propósito, não será mais honesto e dedicado que os semelhantes que dela não prescindem. 

Ademais, quem não for sério e honesto até pode abrir uma mão dessas verbas e pôr a outra noutras, sem que ninguém descubra ou desconfie das habilidades. Bastará que queira ir por aí. Quem é sério, é serio, e não basta mostrar que se pretende sê-lo ou parecê-lo. Em contraponto, quem usa essa promessa em campanha eleitoral pode até suscitar precisamente o contrário, o de passar por um artista, um habilidoso, um chico-esperto, ao usar esse isco para chamar ao seu anzol votos de gente com pouco sentido de escrutínio. Quem é honesto e competente não precisará dessas habilidades ou expedientes nem de dispensar aquilo a que tem direito.

Seja como for, certo é que com este tipo de posturas e promessas muitos autarcas lá arrecadaram uns votos extra, quiçá decisivos a definir vitórias em eleições.  

Em resumo, e é a esta ideia onde pretendo chegar, ninguém é mais ou menos dedicado pela causa pública, sério e honesto só porque recebe o que tem direito ou decide doá-lo a favor seja de quem ou do que for.

Um pouco neste contexto e pressuposto, estou de acordo com o escritor José Rentes de Carvalho, que aqui há já uns anos, a propósito do poeta Herberto Hélder (falecido em 2015) ter recusado o valor monetário do prémio Fernando Pessoa, porque embora pobre, "não pretendia perder a sua independência", disse que pensando no caso não chegava a conclusão satisfatória, pois era curiosa a noção da fragilidade da própria independência para o premiado acreditar que um prémio literário a podia pôr em perigo. Por isso, digo eu, e porque quem não deve não teme, a independência e honestidade não têm preço mas também não têm que ser à borla nem cimentadas no total despreendimento por vezes trapaceiro. O seu a seu dono dentro da legalidade, justeza e justiça.

11 de janeiro de 2024

Jornada Mundial da Juventude - O pós

A Jornada Mundial da Juventude 2023 teve lugar no nosso país e em Lisboa, entre o final de Julho e  princípio de Agosto passados. Parece que foi ontem mas já decorrido quase meio ano. Ainda ecoam na memória dos portugueses, e sobretudo dos jovens que participaram e se envolveram, o entusiasmo, alegria da partilha e vivência desses momentos em contacto geracional e mesmo inter-geracional com o papa Francisco.

Do mesmo modo e desse contexto, também para as largas dezenas de milhares de famílias que nas pré-jornadas acolheram por todo o país jovens peregrinos provenientes de toda a parte do mundo mas sobretudo da Europa. Foi assim na Diocese do Porto e na nossa comunidade inter-paroquial e em Guisande. Eu próprio e a minha família, acolhemos nessa semana última de Julho, duas peregrinas alemãs de origem vietnamita.

Passado já este quase meio ano e com a poeira do entusiamo assente, é possível analisar algumas coisas que, apenas a meu ver, ficaram aquém de algumas expectativas, pelo menos no contexto da experiência da família com os peregrinos e vice-versa. No global a experiência foi positiva mas, apesar disso, a partilha comum e convivência ao nível da família foi reduzida face ao programa delineado pelas equipas responsáveis (comités diocesano, vicarial e paroquial) o que fez com os espaços e momentos apenas destinados às famílias e jovens acolhidos fossem escassos. 

Em rigor e no geral as famílias foram principalmente agentes de alojamento, proporcionando a custo zero, dormida, comida, serviço de limpeza e transporte. Este ponto do transporte inicialmente foi publicitado apenas como mínimo, pontual e só mesmo para quem pudesse e quisesse mas na prática e na realidade não foi assim e as famílias tiveram que assegurar a maior parte das deslocações de entrega e recolha dos jovens, sempre de acordo com os seus horários.

Falando também pela minha experiência, desde que os jovens seguiram para Lisboa, nunca mais houve contacto de sua parte. Foi de minha iniciativa procurar saber se a viagem correu bem e se estavam a gostar. Depois disso, nenhum contacto de iniciativa dos jovens apesar de disporem dos canais adequados, como o número telefónico, o email e whatsapp. Chegados ao seu ponto de partida, ficaria bem fazerem um resumo da jornada e partilharem por sua iniciatiava com quem os recebeu. Mesmo agora pelas festas natalícias, ainda alimentei a esperança de receber uma mensagem ou um postal das duas raparigas, mas não. Poderia ser eu a fazê-lo? Podia, mas convenhamos que há alguns princípios que devem ser cumpridos e na nossa terra não fica bem andar com o carro à frente dos bóis.

Não há, todavia, qualquer arrependimento, até porque se havia expectativas num sentido de mais tempo para a convivência, pessoalmente nunca as tive a este nível do posterior contacto, agradecimento e reconhecimento. Eventualmente aconteceu com outros e de resto certamente que a percepção das experiências foi diferente de família para família.

Em resumo, as coisas são como são e no geral, admitamos, os valores da boa educação e do reconhecimento não são propriamente coisas que façam parte da bagagem desta moderna juventude. No geral nunca lhes faltou nada e no seu dia-a-dia dão tudo por adquirido e feitas as contas, nós, os que recebemos e estivemos durante uma semana ou mais ao seu inteiro dispôr, com cama, mesa, roupa lavada e transporte, é que temos que lhes agradecer e de os contactar. É cultural e quanto a isto não há volta a dar. Desvalorizando estas particularidades, fica para a história o que aconteceu e que, mesmo com esses ónus e encargos das famílias, os jovens levaram, pois levaram, uma boa e inesquecível experiência, de Guisande e certamente de todos os locais onde estiveram alojados. Afinal, nada lhes faltou!

10 de janeiro de 2024

Unir aos trambolhões

Há algumas semanas recebemos nas nossas caixas de correio um infomail todo bonito a dar-nos o recado de que "Há uma nova rede de autocarros no concelho de Santa Maria da Feira". Mais informava que "A partir de 1 de Dezembro (2023) entraria uma nova rede de transporte público rodoviário de passageiros para todos os municípios da Área Metropolitana do Porto que, finalmente, transformará a mobilidade do nosso território. Autocarros movidos a energia limpa, sustentáveis, uma rede mais eficiente, intregrada e uniformizada, e com um sistema de bilhética único". Apresentava-se como a UNIR.

Para além deste infomail fomos sendo informados no final das missas e ainda nas rádios e jornais locais. Quem, como eu, foi espreitar a plataforma digital da entidade e do serviço, ficou com uma boa ideia de que ía ser uma coisa muito bem feita e organizada. 

Infelizmente, a ter em conta as reacções dos utentes e de diversas figuras, incluindo alguns presidentes de Câmara que se mostraram com as expectativas defraudadas, parece que a coisa não poderia ter começado da pior maneira, com confusões, falta de meios e recursos, supressão de linhas, atrasos e irregularidades nos horários, etc, etc.

Depois disso ouviram-se responsáveis a sossegar o povo dizendo que era natural que a coisa começasse com problemas mas que aos poucos a máquina iria ser afinada e resolvidos os defeitos, mas pelas reacções que se vão ouvindo, parece que ainda há muita coisa a melhorar e a afinar. Aos optimistas que dizem que com tempo o sistema será perfeito, contrapõe-se o velho e experimentado ditado popular que "o que nasce torto tarde ou nunca endireita".

Pela minha parte, que não tenho necessidade de transporte público, estou de fora a ver a banda a passar, mas de facto é importante que o sistema funcione e que corresponda às necessidades de quem dele precisa. Apesar de tudo, é muito nossa esta mania de lançar foguetes antes da hora e de anunciar maravilhas maravilhosas e que depois à nascença, aos primeiros passos, seja tombos e trambolhões. 

Mas por agora é aguardar que a coisa, lá virá um dia, ficará (mais ou menos) afinada, até ao "patamar de excelência" prometido pelo presidente da Câmara de Gaia e da AMP, Eduardo Vitor Rodrigues. 

Para já as palavras de ordem são ajustar, reformatar, reformular, adequar, reparar, acertar, etc. Tudo palavras consoladoras para quem querendo unir começou a desunir. Os utentes, esses têm que aguentar e esperar.

Cinzento, mas um bom retrato

(...) Uma regra de ouro é a de não votar em alguém simplesmente pelo que é ou parece. Ou porque é um hábito. Aliás, em Portugal, hoje, nenhum partido merece que se vote nele pelo que é. Nem a direita, nem a esquerda, com currículos pouco recomendáveis após as últimas décadas.

O PS tem muito pesadas responsabilidades na degradação da vida nacional. Contribuiu, mais do que os outros, para os êxitos dos últimos 50 anos. Mas esse facto não desculpa a deterioração sistemática dos serviços públicos, a perda de capacidade para criar riqueza de modo consistente, nem a partilha de autoria e de culpas em todos os processos de corrupção e nepotismo.

O PSD tem enormes responsabilidades no declínio da vida nacional, tanto da economia como da cultura, da sociedade e da política. Depois de, com mérito indiscutível, ter contribuído para a consolidação da pertença europeia e para a afirmação democrática da direita portuguesa, este partido desinteressou-se da independência nacional e da afirmação da empresa portuguesa pública ou privada.

Em conjunto, PS e PSD, deixaram afundar o Serviço Nacional de Saúde e a educação pública. Um a vegetar na mais inacreditável desordem que se possa imaginar. Outra entregue à futilidade lúdica e a exibir os piores resultados de sempre.

O PCP, sempre o mesmo, tão irredutível e seguro de si! É-lhe indiferente ter 20%, 10% ou 3% dos votos, ou 40, 20 ou 5 deputados. Garante que tem sempre razão contra a população que não vota nele, que é quase toda. Persiste em afirmar que representa todos os trabalhadores, que a história sempre lhe deu razão. Até à derrota final. Até ao desaparecimento eleitoral.

O Bloco, moralmente superior e arrogante, convencido, presunçoso como poucos, firme na sua beatitude política e seguro da sua virtude ideológica, nunca fez nada de jeito que lhe dê qualquer espécie de currículo, qualquer folha de serviços prestados à sociedade.

O Chega não merece o voto só porque protesta, denuncia e ataca. Não é convincente, não tem políticas, não dá sinais de qualquer género de competência ou de saber. Utiliza as mais baratas receitas disponíveis, do nacionalismo ao grito dos descamisados.

A IL parece saída de uma produção laboratorial. É só mais um partido, sem currículo nem experiência, a vender camisolas de lã no deserto.

Nas próximas eleições, o momento é calhado, mais propício do que nunca, para votar de acordo com compromissos, em vez de repetirmos os gestos do sonâmbulo. Votar em compromissos é melhor do que votar em rebanho.

[António Barreto - in Sorumbático]