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25 de abril de 2022

25 de Abril

 


Do meu livro "Palavras Floridas":


A revolução saíu à rua,

Num grito sufocado,

Mas libertado

Pelo querer.

A seiva da liberdade,

Na aurora da Primavera,

Jorrou fecunda

E as armas floriram cravos,

De vermelho e verde,

Natureza desfraldada

Como bandeira,

De novo erguida,

A anunciar

Portugal.

14 de abril de 2022

Bora lá, borra cá

Por tudo e por nada,

Por esta palha dá cá,

Já é frase cansada,

O "malta, bora lá!"


Apetece dizer; -Basta!

De tão foleiro que soa.

Já cansa de tão gasta

Porque se diz tão à toa.


Não que não se possa,

Dizer a interjeição,

Mas, assim, faz mossa

Na fala da perfeição.


Pois, bora lá, isto!

Pois, bora lá aquilo!

O borá lá, está visto,

Vende-se, e bem, ao quilo.


De tanto falar, bora lá,

Calão usado e abusado,

Por borá lá, por borra cá,

Ainda se acaba borrado.


Vá lá, só mais um bora, lá!:

Pronto! bora lá! Acabou!

Já, pois, não está cá

Quem tal coisa assim falou.

Paradoxo existencial

E quem não sonha, acordado,

De olhos fixos, luzentes,

Ou quem não viaja, parado,

De pés cansados, dormentes?


Somos o que não somos, até,

Que sejamos o que quisermos:

Deitados, morrendo em pé,

Alevantados, no chão enfermos.

Ao Senhor do Bonfim


Ali, na capelinha sobranceira

Ao regato que embaixo passa,

Está Jesus, o Senhor do Bonfim;

Porque numa prece derradeira,

Em alcançando tamanha graça

Alguém lá a fez, simples assim.


Quando a fé ao divino se abraça

O Homem toma-se de tal coragem,

Mas poucos  sabem porque  o foi;

Dizem que por atendida a graça

De um bom fim em penosa viagem,

Ou por resgatado à morte um boi.


A. Almeida

13 de abril de 2022

Peregrinar



No bucolismo verde de antigos caminhos

Percorro com sede  memórias passadas;

Eu e minha alma, avançando sozinhos

Sem que nos acossem as almas penadas.


O caminho, diz-se, faz-se caminhando,

Com o passado atrás e futuro adiante;

Mas, que estranho, se recuo avançando,

Com o tão perto, lá atrás, bem distante.


Importará ao homem, a cada momento,

Por os pés ao caminho, enfim, caminhar,

Indo ao encontro como santo peregrino;


Nesse caminhar solitário, benfazejo,

Há rosto e lábios à espera de um beijo

Há uma vida e depois morte por destino.


A. Almeida

10 de abril de 2022

Luz e escuridão

 


Entre ramos de oliveira,

De verdes palmas juncado,

Envolto pela multidão,

Entra em Jerusalém, Jesus.


E dessa euforia primeira,

Em louvores aclamado,

Foi dado na condenação

À dor e morte na Cruz.


Que dia este, meu Senhor,

Fundo e denso turbilhão,

Em que da luz do esplendor

Te condenaram à escuridão.



Américo Almeida - Domingo de Ramos - 10 de Abril de 2022

1 de abril de 2022

Livros



Não sei quantos livros tenho,

De romance, aventuras, poesia,

Realidade ou simples quimera,

Nem os quero contar, confesso.

Sei quanto deles tanto obtenho,

Como aconchego em noite fria,

Dois braços abertos na espera

Por alguém perdido em regresso


Mas tenho muitos, centenas,

Um oceano de páginas revoltas

Em ondas de prosas e versos

Que fustigam o barco do meu ser.

Mas dez que fossem, apenas,

Seriam aves livres, bem soltas,

Pensamentos densos, dispersos,

Convergentes no impulso de ler.


Não sei, nem saber isso me empenho,

Nem vontade ou  querer me assaltam,

Porque mais que saber os que tenho,

Choro e lamento os que me faltam.


A. Almeida

31 de março de 2022

Rebentou o balão


Há quem case por amor.

Dinheiro, ou interesse;

Por mais seja o que for

Promessa ou até prece.


Mas isto de por tal casar,

Foi já chão que deu uvas

Agora é mais o ajuntar

Qual mãos justas nas luvas


Se no Inverno sabem bem,

Já no Verão, nem por isso;

Postas de lado por vintém

Lá termina o compromisso.


Casa, descasa, casa, descasa,

Como norma já tida em conta

É o fazer da coisa tábua rasa

Ambos, cada um, barata tonta


Pobre, ou  triste casamento,

Teste, prova, experimentação;

Logo ao simples contratempo

O castelo de cartas vai ao chão.


E lá partem e repartem,

A pior parte a cada um;

Com má sorte ou sem arte

Rebentaram o balão! Pum!


Américo Almeida

28 de março de 2022

Cerejeira florida

Tenho no meu quintal uma cerejeira,

Que por Abril se veste de florido

Numa alvura celeste, quase divinal.

As abelhas à sua volta em canseira

Sorvem o pólem por ela oferecido

Num banquete de partilha fraternal.


Mas a cerejeira, a tal do meu quintal

Tem esse defeito ou efeito, eu sei lá:

Mil flores e pouco mais que se veja.

Mas entendo-a e nem tal tomo a mal,

Por essa vaidade florida mas quase vã

Se ao menos me der, uma só, cereja.


Américo Almeida

Ciclo


Numa manhã plena, Primavera,

A árvore desperta e floresce,

E dessa fria e longa espera

A magia do fruto acontece.


Mas se o tempo é contratempo,

Não passa a flor de vã promessa.

Virá seco o Verão e sedento,

O adormecimento, e tudo recomeça.


Como seres feitos, imperfeitos,

Parece-nos este acto tão injusto:

Ver na natureza os seus defeitos

Por uma flor ser só ela, sem fruto.


A natureza, porém, tem este preço,

Uma roda de morte e vida, assim,

Em que há tempo para o recomeço,

Até que se cumpra o derradeiro fim.


Américo Almeida

26 de março de 2022

Hino de glória


Em meio século muito mudou

Numa vivência livre, sem cela,

Ali, na sombra solene da capela,

Ponto de partida do quanto sou.


Quanta realidade já desaparecida:

As crianças, o recreio, a escola,

O monte livre, rude campo da bola,

Os grilos na toca na relva escondida.


Mas há a sombra do velho sobreiro,

Figura austera, dono desse monte,

Confidente, amigo, ou só companheiro.


Todo o tempo já passado a memória,

Embalada no canto da fresca fonte,

Ressoa no presente em hino de glória.


A. Almeida

25 de março de 2022

Amizade


Que coisa bela, sublime, a amizade

Que tantos procuram no campo deserto,

Na amplitude do tão longe ou bem perto

Como resposta sábia à suma verdade.


Mas quem espera colher fruto ou trigo

De costas voltadas ao campo lavrado?

Não basta esperar na sombra estirado

Importará lançar a semente de amigo.


Quem nada dá não espere, pois, receber,

Porque a amizade quer-se cultivada,

Semente lançada para depois então colher


Amizade, linda, sentida, não se explica,

Porque é lição bem cedo ensinada,

É conta que não subtrai, antes,multiplica.


A. Almeida

24 de março de 2022

Perfume


No perfume intenso 

De rosa cheirada,

O desejo é imenso

Em ter-te desfolhada


Mas ainda há pouco,

Antes desta paixão,

Perdi-me de louco

Por te sentir botão.


És mulher ou és rosa,

Ou inteiro um jardim?

Doce, suave, cheirosa,

Inteira, quero-te assim.


Poema e ilustração: A. Almeida

A ribeira se fez rio


Nasce a ribeira, fresca cristalina;

Deslizando alegre, ali a correr,

Ainda modesta, assim pequenina,

Mas grande na vontade de crescer.


Logo à frente, já sem embaraço,

Vão com ela outros doces regatos

E juntinhos nesse natural abraço

É já rio galgando campos e matos.


Do canto primeiro, doce, quase sem voz

Rumoreja agora como amplo que é

Seguindo de manso ou revolto, até.


O destino chegado, alcançada a foz,

Ali mais à frente, esperando-o com fé

O mar acolhe-o num abraço de maré. 


A. Almeida

20 de março de 2022

Ao Dia do Pai

Que linda data esta, o dia de quem é pai

E Jesus, de Deus Filho, foi-o de S. José.

No parto a mãe deitada, o pai, ali em pé,

Na fé de um  filho que nu de ambos sai.


Tão grande e lindo, profundo mistério,

Ser mãe, ser pai, afinal o nascimento,

Onde o amor criador tem merecimento

Ao contraponto da morte ou cemitério.


Ser pai, é ser tronco de uma profunda raiz,

Flor delicada transformada em doce fruto

Num merecimento, tão grande ou diminuto.


Ser pai, é uma graça bendita, tão feliz,

Pureza de um homem, no amor impoluto

Na descoberta plena de um ser absoluto.


Américo Almeida

19 de março de 2022

Soneto da dúvida


Ando no mundo, tanto tempo passado,

Num viver de apressado, galopante,

Como anão com passos de gigante,

Como quem se procura desencontrado.


Corro em frente a um destino mais além

Sem alcançar o tempo que avança lá à frente

Numa ânsia desejada, louca, premente,

Desilusão de quem  tudo tendo  nada tem.


Serei eu, afinal, nesta corrida sem meta,

Não mais que o rasto brilhante de cometa,

Uma pedra atraída como ao planeta a lua?


Ou talvez, ave sem ninho, besta sem covil,

Um banal cidadão, homem igual a outros mil

Ou somente um caminhante que avança sem rua?

14 de março de 2022

A singeleza da Primavera


No verde pousio dos campo

Emergem estrelas cintilantes,

Florzinhas brancas na verdura;

Nesse carrocel de encanto

As aves tornam-se amantes

Numa Primavera de frescura.


Mil flores enlaçadas, singelas

Numa paleta de cores sadias

Que o artista semeou no acaso;

Manhãs frescas, doces e belas,

Na serenidade de todos os dias,

Da liberdade fora do vaso.


A Primavera chama-se liberdade,

A das coisas, da natureza

e outras mais que nos consomem.

Afinal, é uma só a verdade,

Que se cumpre plena de certeza,

Quando se une a terra ao homem.


A.Almeida

13 de março de 2022

Pleno de nada


Eu queria ser o que não sou,

Ter o que não tenho,

Amar o que não amei.

Mas sou o que disso sobrou

Sem esforço ou empenho,

Tão somente pelo que sei.


Há vazios que não se preenchem,

Oceanos de solidão salgada,

Rios que desaguam nos montes;

Tais medos, plenos, me enchem,

Num imenso lago de nada

Onde a sede nasce nas fontes.


A. Almeida

11 de março de 2022

À passagem do 11 de Março



 Lugar à dor

 

De novo a onze,

Ontem de Setembro,

Ao alvorecer do Outono,

Hoje de Março,

Ás portas da Primavera.


Não, não há nada a dizer,

Chorar, talvez…

Quero dar lugar à dor

Certo de que outros onzes

Continuarão a matar, a matar,

Só a matar…


A. Almeida


(À passagem do 11 de Março de 2004 - Atentados terroristas em Espanha)

6 de março de 2022

Destino



Chegado aqui, olho p´ra trás

E nada vejo para lá da curva do caminho. 

Nada mais que uma densa neblina

De memórias percorridas.

Para a frente, o sol já declina

Numa luz mais ténue

Que quase não aquece.

Mas há caminho a percorrer,

Versos por fazer, 

Livros por abrir,

Emoções por sentir,

Flores por cheirar,

E gente por abraçar.

Seja o que o que Deus quiser,

E o que o tempo permitir,

Para além do que já vivi;

Porque enquanto destino houver,

Haverá metas a atingir

E o destino é já ali !