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27 de junho de 2023

A normal anormalidade

É no mínimo curioso observar como a perspectiva da sociedade evolui ao longo do tempo, redefinindo o que é considerado adequado, normal e politicamente correto. Essa mudança reflecte o progresso e a transformação dos valores sociais, no que poderá ser entendido como uma abertura para abraçar a diversidade e a inclusão, mas tantas vezes de forma desajustada ou distorcida.

Uma reflexão importante sobre esse fenômeno é que as noções de "normalidade" e "adequação" não são fixas nem imutáveis. Elas são construídas a partir das crenças, tradições e contextos sociais e culturais de uma determinada época. O que pode ter sido amplamente aceite e considerado como a norma num determinado período passado, pode ser agora questionado e desafiado à medida que a sociedade avança (ou recua).

A mudança de atitude em relação a certos aspectos da sociedade ocorre muitas vezes devido a um aumento da consciencialização e do conhecimento. À medida que as pessoas são expostas a diferentes perspectivas, experiências e narrativas, elas começam a questionar as suposições anteriormente estabelecidas. Os avanços na comunicação e na tecnologia têm desempenhado um papel fundamental nesse processo, permitindo que as vozes antes marginalizadas, discriminadas e sem tempo de antena, sejam agora ouvidas e consideradas.

No entanto, é importante reconhecer que nem todas as mudanças são universalmente aceites ou apoiadas por toda a sociedade. Sempre houve e haverá debates e divergências de opinião e isso faz parte do processo de crescimento e evolução social. É importante manter um diálogo aberto e respeitoso, no qual diferentes perspectivas possam ser ouvidas e consideradas, mas as mudanças da "anormalidade" para a "normalidade" têm ocorrido, quase sempre, com rupturas e antagonismos porque, essencialmente, processam-se numa transição, diria, desajustada. Na gíria, a normalidade corrente é passar do 8 para o 80. Gerações como a minha, têm, de facto, assistido a mudanças tão radicais em tão curto período que em muitas delas não há tempo para uma assimilação natural e evolutiva.

À medida que novas ideias e conceitos emergem e ganham aceitação, é essencial que a sociedade esteja disposta a adaptar-se e a aprender. Isso não significa abandonar completamente os valores e tradições passadas, mas sim repensar e reavaliar se eles são inclusivos e respeitosos para com todos os membros da sociedade, o que, diga-se, nem sempre acontece.

A História tem sido fonte de ensinamento de que a mudança é constante e inevitável. À medida que os tempos mudam, a nossa compreensão e percepção do que é considerado normal e politicamente correto também se transformam. Essa evolução contínua desafia-nos a reflectir sobre os nossos próprios preconceitos, a questionar suposições arraigadas e a procurar uma sociedade mais justa e igualitária para todos.

Apesar de todo este palavreado politicamente certinho, a verdade é que vamos correndo num tempo de normais anormalidades, ou o contrário.

Assim, como simples exemplos, é normal o político, o desportista, o doutor e o engenheiro declararem-se homossexuais; é normal o casamento entre eles e normal que queiram ter filhos, mesmo sendo uma impossibilidade biológica sem recurso de terceiros; é normal dois namorados passarem a viver juntos como casados, mesmo não sendo; é normal uma mãe ter filhos aos 12 anos e um pai aos 70; é normal uma mulher somar abortos voluntários com a mesma indiferença com que vai ao cabeleireiro; é normal que a Europa queira fazer do aborto um direito fundamental; é normal um jovem casal divorciar-se ao fim de um mês de casamento, como normal é que em meia dúzia de anos some meia dúzia de divórcios; é normal o casal comprar terreno, edificar a sua habitação e ainda antes de acender a lareira já estarem em divórcio e a casa à venda pelo banco; é normal um executivo andar de saia e saltos altos, um rapaz de cor-de-rosa e uma rapariga de azul; é normal o bandido agredir o polícia; é normal o polícia não poder usar da força com o bandido e este ser indemnizado se lhe fizerem uns arranhões.

É normal o aluno bater no professor como normal é que nada nem ninguém o criminalize por isso; é normal que a televisão nos dê programas de encher chouriços horas a fio e os seus funcionários se prestem a esses fretes; é normal as televisões terem programas para adultos como se estes sejam criancinhas e para criancinhas como se estes sejam adultos; é normal um casal não ter rendimentos para tal mas não dispensar viagens de férias, carros eléctricos,  jantar e almoçar fora com regularidade.

É normal que as igrejas cada vez estejam mais vazias e os espaços de entretenimento mais cheios; é normal os filhos viverem à custa dos pais e fazerem da casa deles um hotel até aos 30 ou 40 anos; é normal que apesar desse sacrifício parental os filhos depositem os pais, já velhos, num qualquer canto; é normal um aluno que não estude a ponta de um corno e tenha tanto aproveitamento escolar como uma galinha, e mesmo assim andar a arrastar-se nas escolas até aos 20 anos.

É normal que muita gente capaz recuse empregos e responsabilidades e prefira viver à custa do estado social, ou seja, à custa dos outros; é normal que as cuecas já não sejam feitas para tapar o cu mas para serem tapadas por ele; é normal que a promiscuidade e drogas sejam normalizadas; é normal derrubar estátuas, conspurcar obras de arte e alterar conteúdos de livros só porque se pensa que com isso se pode mudar a História.

Enfim, tudo, mas tudo, é normal. Mesmo o que possa ainda ser catalogado como anormal, há políticos e políticas que encontram razão de ser em fazer com que isso passe a normalidade e quem não alinhar na mudança é catalogado como racista, xenófabo, discriminador, sexista, etc, etc.

A coisa já não vai lá com paninhos quentes. Só mesmo um dilúvio atómico o que também, diga-se, com o rumo que as coisas levam, será mais que normal!

Viva a normal anormalidade!

20 de junho de 2023

Quando a genialidade é interrompida demasiado cedo

Wolfgang Amadeus Mozart [Salzburgo - Áustria, 27 de Janeiro de 1756 – Viena, 5 de Dezembro de 1791], foi um dos maiores compositores clássicos da história, que faleceu aos 35 anos. Sua morte prematura privou o mundo de um gênio musical em pleno desenvolvimento. Mozart, mesmo com idade tão jovem, deixou um legado extraordinário de obras-primas em uma variedade de gêneros musicais, mas sua morte interrompeu um potencial ilimitado de criação. Sua música, caracterizada pela beleza, complexidade e inovação, influenciou gerações de compositores e continua a encantar e inspirar até os dias de hoje. Imaginar o que Mozart poderia ter composto se tivesse vivido mais tempo é uma fonte de constante fascínio e lamentação para os amantes da música clássica, de que me incluo.

Carlos Paião [Coimbra, 1 de Novembro de 1957 — Rio Maior, 26 de Agosto de 1988], um talentoso cantor e compositor português, faleceu aos 30 anos. Tal como Mozart, embora em diferentes tempos,  estilos e diemnsões na arte musical, deixou uma marca indelével na música popular portuguesa com suas letras inteligentes, melodias cativantes e performances carismáticas. Carlos Paião foi uma figura única e irreverente na cena musical portuguesa, e sua morte prematura foi sentida profundamente por seus fãs e pela indústria musical como um todo. Suas canções alegres, como "Playback", "Pó de Arroz", "Cinderela" e tantas outras, são clássicos intemporais que capturam a essência do seu talento artístico. A perda de Carlos Paião representou a interrupção de uma carreira em ascensão, privando-nos de sua criatividade contínua e do potencial de influenciar novas gerações de músicos em Portugal.

Quando músicos talentosos como Mozart e Carlos Paião morrem jovens, perdemos não apenas suas obras-primas imediatas, mas também a oportunidade de testemunhar seu crescimento artístico e suas contribuições futuras. A música é um processo contínuo de exploração, evolução e experimentação, e é profundamente triste quando essa jornada é abruptamente interrompida. O legado deixado por esses músicos talentosos é inegável, mas é impossível não imaginar o que mais eles poderiam ter realizado e como suas obras poderiam ter evoluído ao longo do tempo.

A partida precoce de artistas geniais como Mozart e Carlos Paião serve como uma recordação permanente da fragilidade da vida e da perda imensurável do legado artístico e musical que poderia representar caso vivessem muitos mais anaos. Para além da genialidade do que ficou escrito, quantas mais obras primas ficaram por escrever e deliciar todos quantos apreciam a arte musical?

Sem dúvida que nas devidas distâncias e particularidades, a memória e a influência desses músicos talentosos permanecem vivas, mas também carregam a dor daquilo que poderia ter sido, deixando-nos com um senso de perda profunda e uma lembrança da efemeridade da vida.

3 de maio de 2023

Eu vi um sapo


Anteontem, quando fazia uma corrida em bicicleta, eu vi um sapo. Não um sapo feio com a boca torta a comer um bom jantar, como o sapo da cantiga que a pequenita Maria Armanda  interpretou no 23° Sequim D'Ouro (Zecchino d'Oro) que teve lugar em Bolonha - Itália a 22 de Novembro de 1980, cujo concurso venceu, mas apenas um pobre sapo morto. Grande e esmagado ali na valeta de uma rua na freguesia do Vale.

Fiquei mesmo com pena do bicho, ali no lugar da Pena, mas face a essa fatalidade, de resto muito vulgar nas nossas estradas, passei o resto do percurso até casa a reflectir nessa situação. O progresso, a abertura de estradas e o trânsito que nelas circula, sempre apressado, não se compadece com outras questões, nomeadamente a segurança de animais, grandes ou pequenos. 

Há países e regiões que até adoptam algumas soluções para permitirem a passagem de animais entre os lados opostos das estradas, mas em rigor são meras excepções e por isso a morte de animais nas nossas estradas, mesmo em zonas urbanas, são mais que muitas e já não impressiona ver um cão, um gato, um coelho, um ouriço-cacheiro ou até, como agora, um sapo morto, esmagado. Ou mesmo, aves queimadas nas redes eléctricas que enfeitam os céus.

O progresso tem sido madrasto e padrasto para os animais. Há duzentos anos um sapo nunca morreria esmagado na estrada porque nem havia estradas e muito menos veículos como motas, carros ou camiões. Eventualmente por uma roda de carroça mas mesmo aí era preciso grande azar. Por conseguinte era mais provável que morresse à pedrada, porque, infelizmente, os sapos iveram sempre má fama, e sub-valorizados na sua real utilidade, como bom hortelão e defensor na horta e jardim contra muitos insectos prejudiciais ás culturas, do que esmagado por uma qualquer roda.

Esta analogia, serve para muitas coisas. De facto o desenvolvimento e progresso humanos quase sempre ao longo da história, e de modo especial nos últimos dois séculos, foram sempre concretizados em desfavor da natureza, do ambiente, da fauna e flora. Voluntária ou involuntariamente, temos sido mestres na aniquilação de habitats e espécies. É certo que já começamos a dar conta do impacto e do mal que isso está a causar aos equilíbrios ambientais e aos poucos vamos introduzindo políticas e práticas na sua defesa e valorização, mas em rigor muita coisa já está irreparavelmente perdida. Espécies e ambientes extintos são mais que muitos. E a lista de espécies em real perigo de extinção é extensa.

Não sabemos no que isto vai dar, ou quando se atingirá mesmo um ponto de não retorno, mas a par das alterações climáticas e de todo o progresso e conforto a que nos habituamos e não abdicamos, a coisa virá mesmo a ficar preta para o planeta azul. E isto se a coisa não for antecipada pelos senhores da guerra e donos da destruição nuclear. Mas mesmo sem ela, parece mais que certo que o futuro dos nossos futuros será tudo menos risonho. Pelo menos e seguramente que nada será igual ao que até aqui tem sido.

Eu vi um sapo, morto, esmagado, mas daqui a mais alguns anos, nem mortos, quanto mais vivos. Talvez em fotografias e ilustrações como as que nos mostram os extintos mamutes, os tigres-dente-de-sabre, o rinoceronte lanudo e até mesmos os dodós.

1 de maio de 2023

Primeiro de Maio, dia do trabalhador e do malandro

 



Primeiro de Maio. Dizem que dia do trabalhador, mas num país em que ainda há muita aversão ao trabalho, até porque há quem perfira viver com menos mas apenas à custa do Estado, sem cumprimento de horários, responsabilidades laborais, fiscais e outras obrigações, este dia é democraticamente de todos. Assim é tanto do trabalhador como é do malandro. 

Ora a começar tal dia, pequeno e saboroso pequeno-almoço por terras arouquesas. Mas para que uns desfrutem do dia e do feriado, outros há que têm que manter estabelecimentos e postos de trabalho a funcionar e a servir quem a eles ocorre, seja nos serviços públicos, seja na casa do pão de ló, no talho ou restaurante. Porventura serão esses que melhor merecem a dignidade do dia do trabalhador, porque, em grande medida, são os que mantêm este país a funcionar.

18 de abril de 2023

Reflexão - O estado da nação

Eu não sei se alguma da massa crítica da nossa freguesia de Guisande tem pensado e reflectido no assunto, mas creio que pelo menos algumas personalidades certamente que já se deram a contas com algumas questões e constatações quanto ao estado actual da nossa "nação", como quem diz, da nossa freguesia de Guisande. Mas se sim, não se sabe em que termos, pois em rigor muito se pensa e teoriza mas pouco se admite e testemunha de forma pública.

A verdade é que a reforma administrativa e a agregação de Guisande numa União de Freguesias incaracterística e desproporcional, em nada veio melhorar a situação. Bem pelo contrário, e será mais ou menos concensual a opinião de que quase ao fim de um década dessa nova experiência e realidade, nada mudou no sentido de uma valorização, proximidade, defesa e respeito das diferenças identitárias. Na componente de obras e melhoramentos, nada correspondente aos anteriores orçamentos. Antes, gerou-se um maior distanciamento entre eleitos e eleitores e em face disso o aumento de uma notória erosão do tal valor da proximidade. De resto o slogan de fazer mais com menos só resulta nos filmes. Depois, eleitos que não cohecem de todo os eleitores e a própria freguesia, também não ajuda à coisa.

Dizem que está em curso um processo de pedido de desagregação e que Guisande, como as freguesias de Gião e Louredo, mostrou interesse formal em saír da actual união de freguesias e voltar ao anterior estado. Esta intenção foi já formalizada e sufragada pelas assembleias de freguesia e municipal e por isso estará na Assembleia da República a aguardar o desfecho. Há quem acredite que a coisa será para ser deferida e há quem não acredite e que eventualmente, para além da inconstância dos políticos e das políticas, sempre a mudar, os tais critérios para a eventual desagregação podem não ser totalmente considerados.

Seja como for, e supondo que a desagregação será aprovada e que Guisande retomará as rédeas do seu próprio destino, o que, todavia, não acontecerá antes do final do actual mandato, por isso apenas e na melhor das hipóteses só lá para o final de 2025, importa reflectir sobre o tal estado da nossa "nação" e de que forma a freguesia estará preparada para fazer a retoma ou o recomeço, como o engrenar de um veículo que foi obrigado a desligar-se e enferrujado tem estado parado. Assim, talvez seja de ter em conta as seguintes constatações:

1 - A freguesia tem vindo a perder população, ano após ano, e bastará fazer umas contas por alto, calcular o diferencial entre falecimentos e nascimentos para constatar que Guisande em cada 10 anos estará a perder perto de 100 habitantes. Se a actual tendência continuar, e considerando que pelos Censos de 2011 a freguesia tinha uma população de 1237 habitantes, actualmente seremos 1137 pelo que é de supor que daqui a 5 décadas (50 anos) seremos metade deste número, ou menos. É certo que este problema demográfico não é só nosso, mas transversal a todo o país, sobretudo do interior, mas obviamente que se nota mais em núcleos populacionais reduzidos. A nível nacional a coisa só não é mais grave porque vamos contando com os nascimentos de filhos de imigrantes. Em breve, para o bem e para o mal, não seremos mais que uma França descaracterizada e afogada numa mistura de raças e culturas.

2 - A freguesia tem vindo a desagregar-se e não se sente nas novas gerações um interesse especial pelas coisas da terra. Pela catequese vão andando poucas crianças e, admitamos, sem grande interesse delas próprias e sobretudo dos pais e logo que terminadas as etapas tradicionais, feita a comunhão solene, a boda e a festinha, termina essa ligação com a igreja e os que mantêm a caminhada por mais alguns anos na adolescência serão sempre poucos. 

Depois o Grupo de Jovens como factor de agregação não tem tido uma continuidade geracional desde há décadas e vai alternando entre pausas e recomeços e com o curso normal das suas vidas pessoais e profissionais são poucos os que por cá ficam a dar frutos à comunidade. Há, por outro lado, jovens que pura e simplesmente não têm qualquer actividade ou vivência paroquial e comunitária. Estão totalmente alheios à realidade sócio-cultural da sua terra e alguns, para lá do universo doméstico e familiar, nem conhecerão a vizinhança. Por conseguinte, mesmo ao nível da paróquia onde apesar das dificuldades se tem procurado transmitir valores cristãos mas também comunitários e inter-geracionais, as coisas já tiveram melhores tempos. Mas, todavia, ainda se mantém alguma esperança em quem por lá vai andando nos diferentes grupos.

3 - Ainda ao nível da paróquia, desde há 25 anos, após a partida de Pe. Francisco Gomes de Oliveira (em Maio de 1998) que a mesma, por opções da Diocese e falta de sacerdotes, não tem havido uma liderança de continuidade e por isso as diferentes fases de paroquilidade não tiveram tempo para se sedimentar e a verdade é que, para além de tudo, algumas mudanças nem sempre contribuiram para o reforço da agregação, antes pelo contrário. Estamos desde há quase dois anos numa fase de novo recomeço, mas os sinais ainda que positivos não têm sido capazes de melhorar o reencontro da comunidade e  pelo caminho algumas coisas já se perderam. O caso da eleição do Juíz da Cruz e da tradição do  almoço a ele ralacionado é um dos mais recentes exemplos.

4 - O associativismo na freguesia praticamente não existe. Para além do Centro Social com as suas especificidades próprias, vai andando o renascido Guisande F.C., em grande parte retomado pelo interesse e dinamismo de alguns elementos e em muito decorrente de um interesse comum de um grupo de pessoas que já se juntavam para disputar uma competição de futebol veterano, mas que está longe de ser transversal ao envolvimento da freguesia. A já falada obra de colocação de relvado artificial no campo de jogos "Oliveira e Santos", para além da questão de se saber se isso é de extrema necessidade e se se justifica à actividade e abrangência do clube, poderá ser um motivo de alavancamento para o crescimento da colectividade e envolvimento de um sector da população, nomeadamente os mais jovens (cada vez menos), mas também poderá ser coisa passageira e daqui a algum tempo a coisa poderá voltar à estaca zero e não passará de um equipamento para terceiros usar.

5 - Em sequência do anterior ponto, veja-se a actual realidade do Centro Social: Com empenho de alguns e de uma boa parte da população associada, e mesmo apesar de algumas vozes e posições dissonantes, conseguiu a freguesia a proeza de edificar um bom equipamento, o Centro Cívico, polivalente para várias actividades comunitárias, mas apesar disso e de já terem decorrido alguns anos sobre a sua construção, ainda continua sem a aprovação do contrato programa com a Segurança Social que permita uma actividade plena e financeiramente sustentável. Na actual situação, de indecisão e sem um fundamental empenho das entidades com responsabilidades, a começar pelo Governo sempre ao sabor das políticas e dos políticos, a coisa vai andando mas nem a meio gás e muito à custa do empenho e dedicação do actual presidente da Direcção, Joaquim Santos. Mas terminado o seu actual mandato, em Dezembro deste ano de 2023, e não podendo recandidatar-se à luz dos estatutos, para além do desejado e merecido descanso, pergunta-se: Quem é que irá assumir a liderança do Centro Social? Quem?  De minha parte já respondo que não contem comigo e é meu desejo também deixar o actual cargo de secretário da Mesa da Assembleia. O meu contributo nos dois últimos mandatos, mesmo que pouco significativo, em Dezembro de 2023 também terminará. Neste estado de coisas, não contem, pois, comigo.

Mas mais se pergunta: Que papel terão a Junta de Freguesia e Câmara Municipal a esse plano quando se colocarem na ordem do dia as eleições e se a elas não surgirem listas e candidatos? Quem assumirá então? Será encerrado o equipamento e abandonados os pressupostos que levaram à sua construção, o de servir e apoiar no dia-a-dia uma população cada vez mais envelhecida?

6 - Com a agregação na União de Freguesias, a componente política na freguesia também se desmoronou e os partidos já não têm qualquer estrutura ou pontos de referência. Por isso, nas vésperas de eleições lá vêm os senhores importantes das concelhias, sorridentes, tentar pescar candidatos mas uma vez feitas as listas com o que aparece na rede, voltam a remeter as freguesias e as pessoas à sua indiferença. Não surpreende, por isso, que cada vez mais  seja difícil convencer alguns incautos a tomarem parte de listas e a candidatarem-se a lugares e a eventuais cargos que, excepto a figura de presidente,  não passarão de moços de recados e a terem que suportar da sua carteira, tempo, combustível e telemóvel.  Enfim, tempo e dinheiro perdidos  para o exercício de uma cidadania que no final de contas, ao contrário de ser considerada e apreciada, ainda é alvo de criticas e tantas vezes considerações injustas e imerecidas.

7 - As pessoas com competência e capacidade, dinamismo e interesse por exercer cidadania e pré-disposição para estarem ao serviço da sua terra e dos seus concidadãos, fazendo parte de uma Junta e Assembleia de Freguesia ou mesmo de grupos e associações, são cada vez mais raras e não espanta que as listas acabem por ser preenchidas apenas como pró-forma e tantas vezes sem qualquer motivação. Por isso, se Guisande vier a recuperar a sua independência, pergunta-se, quem, com capacidade e vontade de liderar e fazer parte da Junta de Freguesia, fará parte das listas eleitorais? Os mais velhos? Quem? Os mais novos? Quem?

Resumindo: - Esta é, obviamente, uma mera reflexão pessoal, de quem considera que já fez bem a sua parte de cidadania ao longo de mais de 40 anos. Até admito que possa ser pessimista e desfazada e que outros guisandenses possam ter uma visão diferente e mais optimista e que em caso de necessidade para liderar grupos, associaçõese e mesmo uma Junta de Freguesia, sejam os primeiros a dar a cara e a avançar, acompanhados de boas tropas. Pode ser! Por agora ninguém tem avançado convicatamente seja para o que for. De resto, alguns elementos escolhidos para as comissões da Festa do Viso têm desistido, elementos escolhidos para juízes da Cruz têm desistido, etc, etc. A tendência será esta.

Mas oxalá que sim! Oxalá que sim!

7 de abril de 2023

Santa Sexta

 


A Sexta-feira Santa é um dia de profunda reflexão e significado para muitas pessoas em todo o mundo. É um dia em que se celebra a morte de Jesus Cristo,  figura central da fé cristã.

Para muitos cristãos, a Sexta-feira Santa é um dia de luto e tristeza, pois é quando lembramos a morte de Jesus na cruz. É um momento para refletir sobre o sacrifício que ele fez por nós e sobre o significado da sua morte.

No entanto, a Sexta-feira Santa também é um dia de esperança. A morte de Jesus na cruz não foi o fim da sua história, mas sim o começo de uma nova era. A sua morte e ressurreição são vistos como um símbolo de renovação e vida nova, oferecendo a possibilidade de redenção e salvação para todos.

A Sexta-feira Santa é, portanto, um dia de reflexão profunda sobre a vida e a morte, a fé e a esperança. É um dia para pensar sobre nossas próprias vidas e nossas próprias escolhas, e sobre como podemos viver com mais amor, compaixão e generosidade em relação aos outros.

Independentemente das nossas crenças pessoais, a Sexta-feira Santa é um dia que pode lembrar-nos da importância da empatia, do perdão e da reconciliação em nossas vidas, e pode inspirar-nos a procurar esses valores nos nossos relacionamentos e na nossa comunidade.

27 de março de 2023

A ressureição de Lázaro - Uma reflexão com três caminhos


Na liturgia do 5.º Domingo da Quaresma, que antecede o Domingo de Ramos, no Envangelho de S. João foi narrada a resssurreição de Lázaro, amigo de Jesus e irmão de Maria e Marta, na cidade de Betânia, próxima a Jerusalém, a cerca de 3 Km do lado nascente. (Na foto acima, o suposto local da entrada do túmulo de Lázaro).

Numa reflexão  poética, filosófica e teológica sobre o evangelho da ressureição de Lázaro, podemos considerar que o Evangelho da ressurreição de Lázaro, presente no livro de João, é um relato poderoso e cheio de simbolismo que nos convida a refletir sobre diversos aspectos da vida e da morte. De forma poética, filosófica e teológica, podemos explorar alguns desses temas.

Do ponto de vista poético, o relato da ressurreição de Lázaro nos apresenta imagens vívidas e cheias de emoção. Desde a dor e o sofrimento de Maria e Marta, que choram a morte do irmão, até a cena em que Jesus, após ter chorado junto com as irmãs, pede que removam a pedra do túmulo, a narrativa é permeada por uma forte carga emocional. A ressurreição de Lázaro, por sua vez, é descrita de maneira impressionante, com Jesus ordenando que o morto saia do túmulo, e Lázaro obedecendo.

Do ponto de vista filosófico, o relato da ressurreição de Lázaro pode ser interpretado como uma reflexão sobre a natureza da vida e da morte. A morte é uma parte inevitável da vida, e a ressurreição de Lázaro nos mostra que mesmo quando parece que a morte é definitiva, existe uma possibilidade de vida além dela. Essa reflexão pode nos levar a pensar sobre a importância de viver plenamente o presente, já que não sabemos quando a morte virá, e sobre a necessidade de aceitar a morte como uma parte natural do ciclo da vida.

Do ponto de vista teológico, o relato da ressurreição de Lázaro é uma demonstração do poder de Deus e da capacidade de Jesus de realizar milagres. A ressurreição de Lázaro é um sinal da presença divina na vida das pessoas e da possibilidade de salvação mesmo em situações extremas. Essa reflexão pode nos levar a pensar sobre a importância da fé e da crença em Deus, e sobre a esperança de uma vida eterna após a morte.

Em suma, o Evangelho da ressurreição de Lázaro nos convida a refletir sobre temas profundos e fundamentais, como a vida, a morte, a fé e a esperança. De forma poética, filosófica e teológica, podemos encontrar inspiração e significado nesse relato, que tem ressonância em todas as épocas e culturas.

13 de março de 2023

O meu pessegueiro já floriu


Uma constatação básica e decorrente do ciclo das estações e que coordenam o ciclo vegetativo de plantas, mas que para além do óbvio pode nos levar a reflexões profundas sobre a vida e a natureza. Afinal, o florescimento do meu pessegueiro não é apenas um evento isolado, mas um símbolo da passagem do tempo e da renovação cíclica da vida.

Observando o pessegueiro em flor, podemos nos maravilhar com a beleza efêmera da natureza. As flores rosadas surgem por um curto período de tempo, antes de serem substituídas pelas verdes folhas e, em seguida, pelos saborosos frutos. Esse ciclo de renovação é uma constante na natureza e nos recorda da impermanência de todas as coisas.

Assim como o pessegueiro floresce e se renova a cada ano, também nós estamos em constante transformação. A cada dia, aprendemos algo novo, enfrentamos desafios e superamos obstáculos. Essas experiências nos moldam e nos tornam quem somos, assim como cada estação molda e transforma a paisagem ao nosso redor. Somos, de algum modo pessegueiros, mais ou menos floridos, mais ou menos produtivos.

Mas, assim como as flores do pessegueiro são efêmeras, também a nossa vida é finita. A cada ano que passa, o pessegueiro floresce mais uma vez, mas nunca da mesma forma. Cada temporada traz novas surpresas e desafios, assim como cada etapa da vida nos apresenta novas oportunidades e obstáculos a serem enfrentados.

Em última análise, a frase "o meu pessegueiro já floriu" é uma lembrança de que a vida é uma jornada constante de transformação e renovação. Podemos encontrar beleza e significado em cada momento, mesmo quando enfrentamos dificuldades ou incertezas. Assim como o pessegueiro em flor, somos parte de um ciclo maior de vida e renovação, e devemos aproveitar cada momento da nossa existência enquanto podemos.

12 de março de 2023

Uma velha porta


Uma velha porta, escancarada, numa velha casa de pedra desabitada, pode evocar uma grande variedade de sentimentos, como de abandono e solidão. É como se a casa estivesse esquecida pelo tempo e pelos moradores, deixando apenas essa porta antiga para lembrar de um tempo em que a casa era habitada e próspera.

No entanto, essa porta também pode ser vista como uma fonte de beleza e mistério. Ela pode ter histórias para contar, segredos guardados em suas dobradiças enferrujadas e madeira desgastada pelo tempo. Talvez tenha sido a entrada para uma vida feliz e cheia de alegria, ou talvez tenha testemunhado momentos de tristeza e solidão.

Essa porta antiga pode nos fazer refletir sobre como tudo na vida é passageiro e como as coisas mudam com o tempo. Ela nos lembra que, assim como a casa que a abriga, nós também envelhecemos e passamos por transformações ao longo do tempo, deixamos de ser funcionais e úteis ao ponto do abandono e da decrepitação. É importante aprender a apreciar cada momento da vida, pois ele não durará para sempre.

Uma velha porta pode nos lembrar que tudo tem um começo e um fim. Ela pode ter sido a entrada para uma vida cheia de histórias e memórias. É como se a porta fosse um portal para outro mundo, que agora está fechado e só pode ser acessado pelas nossas imaginações.

Além disso, essa porta pode nos inspirar a imaginar o que há por trás dela. Talvez haja tesouros escondidos, ou um jardim secreto que ninguém nunca viu. É como se essa porta velha fosse um convite para explorar o desconhecido e descobrir novas maravilhas.

Em resumo, uma porta velha em uma casa de pedra desabitada pode ter muitos significados e nos inspirar de diferentes maneiras. Ela pode evocar sentimentos de tristeza e solidão, mas também pode ser uma fonte de beleza, mistério e inspiração para explorar o desconhecido.

22 de janeiro de 2023

Adeus comunidade solidária

Confesso que não me apetece reflectir de forma profunda sobre isso, nem colher ou muito menos dar lições de moral, mas parece-me uma pura constatação de que os nossos jovens quase nunca participam em cerimónias fúnebres, excepto aqueles por questões circunstanciais especiais, desde logo os que pertencem à família dos que partem.

Mas se esta é uma realidade quanto aos jovens, também se nota que dos nossos adultos dos cinquentas para baixo, poucos ou nenhuns se veem num funeral ou mesmo numa missa de sétimo dia, mesmo que a um Sábado ou a um Domingo.

Não são, por isso, sob um ponto de vista moral, nem mais nem menos que os demais, mas que se nota, nota. 

Tenho, naturalmente, algumas razões que me parecem justificar esta realidade, mas para o caso pouco importam. Mais que um mero desrespeito, que não é, ou desinteresse por quem parte ou por quem da família fica e sofre as dores do luto, há sobretudo um comodismo, uma indiferença quase generalizada. E isso porque em grande parte as pessoas já não se conhecem numa perspectiva de comunidade. Cada um leva a sua vidinha sem grandes rasgos de vivência fora de portas ou do círculo restrito da família chegada. Cada um está por si, pelo que quando morre o Ti Manel ou a Ti Maria, mesmo que da vizinhança, ninguém sabe, ninguém conhece ou não quer saber. 

É certo que tantas vezes os funerais são marcados para horas impróprias e inadequadas para quem trabalha e tem responsabilidades. Eu próprio, por isso, acabo por não participar em alguns funerais, com pena, mas procuro sempre que posso e logo depois, transmitir pessoalmente os sentimentos aos familiares mais próximos.

Em todo o caso, há sim, porque é notório e evidente, um desinteresse generalizado, e não espanta, pois, que ninguém deixe de fazer o que tem a fazer, mesmo que no domínio do recreio e lazer, para ir participar comunitariamente nas cerimónias de despedida de algum dos dos nossos que partiu e para, de algum modo, ajudar a mitigar a dor dos familiares nesses momentos de tristeza e pesar. Quem passou por elas, sabe que é reconfortante um apoio da comunidade.

Mas é o que é e não há volta a dar. Estas coisas vão neste sentido e não tardará, daqui a mais duas ou três gerações, desaparecidos os actuais mais velhos, que um qualquer funeral seja um mero frete reservado apenas à participação e responsabilidade dos familiares, e nem todos. Cada um por si. A indiferença ganha campo.

Adeus, comunidade solidária! Descansa em paz!

9 de janeiro de 2023

Cristina, a popularidade é fundamental

Pobre que sou, não viajo, pelo que não sei se noutros países isto também acontece, mas em Portugal é certinho e direitinho, por exemplo: Se uma figura pública entrar num restaurante com a sua comitiva, o mais certo é que seja principescamente tratado, com recomendações à cozinha e pessoal de mesa, e no final o dono nada lhe cobre a troco de uma sorridente selfie conjunta que depois exibirá orugulhosamente num local visível do seu estabelecimento, para que todos comprovem que o sítio é bem frequentado. Em resumo, alguém que por princípio poderia comer e beber bem e pagar melhor, provavelmente comerá à borla. Por oposto, uma qualquer Zé Ninguém, de mau aspecto e mal vestido, mesmo que não impedido de entrar terá que ir para um canto, comer rápido e pagar por inteiro.

Este tipo de situações, paradoxais, são comuns e leva a um ciclo em que os mais ricos, mais importantes e famosos, levam sempre a melhor e são beneficiados. Ou seja, quem tem reconhecimento público é mais reconhecido. E isto acontece em muitas áreas de extractos da sociedade no nosso Portugal. O recurso à cunha, à influência de um amigo, está-nos no sangue. 

Outro exemplo, um qualquer desconhecido com pretensões a escritor, mesmo que com grande qualidade, tem um longo, penoso e custoso percurso até se tornar notado nas editoras e circuitos comerciais e depois almejar a viver da escrita. Já um outro, conhecido, com títulos que se vendem como pãezinhos quentes, tem todas as portas escancaradas e é disputado por editoras e orgãos da comunicação social. Está e aparece em todas!

Ainda agora, por estes dias, dei comigo a constatar que a artista musical Midus Guerreiro, compositora, baixista e vocalista, que actualmente trabalha em Londres, mas que se tornou conhecida a partir da década de 1980 quando fazia parte da banda Roquivárius, com temas que se tornaram populares como "Ela controla" ou "Cristina, beleza é fundamental" tem estado em tudo quanto é rádio, televisão, jornais e revistas, promovendo o seu último trabalho, o álbum "Minhas Canções, Meus Amigos". Só na rádio já a ouvi a dar entrevistas em pelo menos 3 estações, e ainda agora num jornal de âmbito nacional mas igualmente em plataformas digitais. Não vejo muita televisão mas presumo que tenha passado pelos Gouchas ou similares. Mas isto acontece não apenas com a Midus, de resto uma excelente artista e que aprecio, mas com muitos e muitas outras Midus, tanto na música, como no desporto, entretenimento, politica, etc, etc.. 

Em suma, nada é fácil para quem é desconhecido. Para os outros, para quem já tem estatuto, tudo é caminho aberto. E surpreendem-se alguns quando os indicadores dizem que cada vez mais os ricos são mais ricos e os pobres mais pobres. Tudo anda anda ligado a esta cultura diferenciadora em que o sermos iguais, com os mesmos direitos e  oportunidades é apenas uma treta escarrapachada numa qualquer constituição ou livro de regras politicamente correctas. A prática diz-nos que a coisa é bem mais dura e selectora.

É o que é! Por isso, para a Cristina e muitos outros, a beleza, mas sobretudo a popularidade, é mesmo fundamental.

Uma terra de todos e de ninguém

Contando por alto, mesmo com gente natural da freguesia mas que estava fora, mais coisa menos coisa foram mais de uma dúzia os falecimentos de guisandenses neste ano que terminou. E o mês de Janeiro do novo ano ainda está na primeira semana e já foram duas pessoas a partir. A última delas vai hoje a sepultar.

Costumamos dizer que isto é uma roda e que uns morrem e outros nascem. É certo! Mas também tomamos como adquirido que é normal que os nascimentos sejam mais que os falecimentos para assim haver crescimento da população e cumprir-se a velha regra divina do "crescei e multiplicai-vos". 

Todavia, há anos que esta regra está virada do avesso e não só na velha Europa, como em Portugal e Guisande, os nascimentos estão em redução e por isso as populações estão a reduzir e a envelhecer. E se em Portugal a coisa não tem sido mais dramática tal só acontece porque uma parte substancial dos nascimentos, sobretudo na área da Grande Lisboa, são filhos de pais estrangeiros. De resto, parece que os três primeiros nascimentos em 2023 cá em Portigal, foram precisamente de pais não portugueses.

Em Guisande o mesmo problema que já vem de há anos. Face a a essa dúzia de falecimentos no ano de 2022 quantos nascimentos ocorreram? Três, dois, um? Nenhum? 

Por mim já tenho falado e escrito sobre o assunto e pouco importa perder tempo com explicações e justificações. Elas são por demais evidentes, desde logo pelo nosso estilo e padrões de vida bem como pela falta de políticas sérias e consistentes de apoio às famílias, nomeadamente à natalidade. Hoje o conceito de família anda virado do avesso e até mesmo vandalizado ao abrigo de modernos paradigmas pelo que pouco ou nada há a fazer. Fica o dilema de continuar a assistir à redução da população e ao esvaziamento do já euxaurido interior ou então, como muitos defendem, abrir as comportas para o país ser inundado de gente proveniente do terceiro mundo para de novo povoar esta terra de velhos e passarmos a ser não uma pátria mas um ninho de vespas, uma  arca de noé com uma miscelânia de gentes de diferentes raças, culturas e credos com todos os riscos inerentes e decorrente dos extremismos e fundamentalismos. Parece-me, que se formos por aí, sem regras nem rei nem roque, deixaremos de ser uma pátria mas antes um acoradouro, uma terra de todos mas de ninguém. 

1 de janeiro de 2023

Saúde, paz e bem.

São estas as primeiras três palavras que escrevo neste início de novo ano.

Sabemos o que ficou para trás; Desconhecemos o que nos espera. Provavelmente daqui a 365 dias estamos a concluir que foi mais do mesmo. No fundo tudo é mais do mesmo porque a vida é assim mesmo, a rodar num movimento perpétuo. 

Vamos conhecer alegrias, tristeza, coisas boas, momentos trágicos e dolorosos. Gente que nasce e morre, gente boa que parte, gente má que fica.

Aspiramos, é certo, a uma vida baseada na trilogia da saúde, paz e amor, mas a mesma vida ao longo dos tempos e da nossa história enquanto humanidade, sempre nos mostrou os seus altos e baixos, momentos de paz, progresso e prosperidade mas igualmente períodos de guerras e mortandades. Nestes tempos é de guerra que se fala e desconfiamos que a coisa é para continuar e agravar.

Seja como for, o comboio está em marcha e só percorrendo o caminho daremos conta do que nos espera no virar de cada curva.

24 de dezembro de 2022

Ainda é Natal?


Tal como o disse num deste dias o meu amigo Mário Augusto, continuo a gostar muito do Natal, pelo que representa de valores cristãos, confraternização familiar e tradição, mas de facto já não é a mesma coisa como nós, os mais velhos, sentimos noutros passados tempos. E não porque antes fosse melhor, no que diz respeito a fartura de coisas boas, das que se põem na mesa e extasiam os olhares; bem pelo contrário, pois por esses tempos tudo o que ía à mesa na abençoada noite, era escasso e custoso. Mas era singular, genuíno e diferente de tudo  quanto se oferecia no resto do ano. Além disso, algumas das coisas associadas, só mesmo nessa altura do ano. Claro que ainda o bacalhau, as batatas e couve penca, as rabanadas, a aletria e pouco mais. Bolo-rei era um luxo para burgueses e a criançada animava-se com um rato de chocolate. Gente simples sempre teve gostos simples.

Hoje em dia a fartura e diversidade chega a enjoar e a tirar o apetite e quase que nos leva a desejar que esta quadra passe depressa, que não deixa saudades. Há de tudo e mais alguma coisa com a mesa inundada das coisas do costume e outras exôticas. As prendas são sofisticadas e qualquer pirralho de cinco anos é prendado com um smartphone ou um tablet de boa marca. Para as madames é coisa fina e perfumes só de 100 euros para cima. Já os homens, um vinho onde a qualidade seja o preço. Uma fartazana.

Para além de tudo, no que às tradições religiosas e espiritualidade do Natal diz respeito, a coisa ainda é mais sombria e passar a quadra com uma ida à igreja ou mesmo sequer abrir a alma para um pensamento mais elevado, é coisa que já não vai à mesa de muita gente, o que ajuda a reforçar a ideia de uma mera ocasião para comer, beber e divertir como se ao mesmo nível dum Carnaval. Não é por essa ligeireza que vem o mal ao mundo, concerteza que não, porque é sempre positiva a alegria e o são divertimento, mas nestas como noutras coisas é sempre importante colocar cada uma no seu próprio lugar.

Por tudo isso e mais alguma coisa, o Natal tornou-se escravo do mercantilismo, do comércio e do markentig associado, e os meios de comunicação social fazem o favor de nos lavar o cérebro já  a partir de Setembro.  Chega a ser um massacre de publicidade, com spots repetidos vezes sem fim como para terem a certeza de que os vimos e ouvimos. Durante semanas andamos a ser encharcados com perfumes a preços do ouro, algemados com relógios da mais sofisticada ourivesaria suiça e mais bucolicamente besuntados com azeites e tentados com postas de bacalhau dispostas na mesa por um tal de David, que também faz carreira nestas coisas de encher e vender chouriços.

Mas pronto, são sinais dos tempos e já não há volta a dar; Ou alinhamos pela velha máxima de que não os podendo vencer, juntemo-nos a eles, ou então já nada sobra do Natal porque atolado nesta torrente de vendilhões.

Posto isto, votos de um feliz e santo Natal para todos os familiares e bons amigos. Para os inimigos, para os invejosos e maldizentes, também um feliz Natal!

Nota à margem: A simples ilustração deste artigo é baseada na que em Dezembro de 1982 rabisquei para a capa do jornal "O Mês de Guisande" (na imagem abaixo), por isso uma memória com 40 anos.

8 de dezembro de 2022

Que hei-de-fazer?


Que hei-de fazer se me moldaram assim, a vida, os pais, a sociedade? Gostos não se discutem e, além do mais, mudar os nossos gostos para alinhar com os demais, já é pedir muito. Era só o que faltava andar a dançar ao ritmo do politicamente correcto!

Já não tenho paciência nem idade para mudar assim tão em contratempo. E depois uma coisa leva à outra: Não tenho paciência porque a idade já não a permite nem a idade tem espaço para a acomodar.

Assim, em rigor estou-me borrifando para pasmos ou narizes torcidos quando elenco algumas das minhas antipatias. Gosto da maior parte das coisas e das pessoas boas, honestas, generosas, simples, humildes, inteligentes, práticas e assertivas. 

Gosto e aprecio uma mulher elegante, bem vestida, sem piercings, tatuagens ou pinturas, mas apenas o veludo puro da sua pele; aprecio as rugas de quem as tem pela força da idade e das canseiras; simpatizo com gente harmoniosa, equilibrada, de concensos; aprecio uma obra prima ou despretenciosa, nas artes plásticas, na música, na literatura ou nas ciências. 

Mas, claro está, também não gosto de muitas coisas e de algum tipo de pessoas: gente egocênctrica e vaidosa como se os seus umbigos sejam os centros do universo; gente presunçosa, mesquinha e invejosa; gente tatuada, não para si mas para os outros; gente com argolas no nariz, nas orelhas, na língua e sabe-se lá mais em que reentrâncias; gente que compra calças rotas; pessoas que andam com as calças como se o traseiro seja nos joelhos; pessoas a mostrarem as cuecas ou o rego do cú; homens idosos que se vestem como se tivessem 16 anos; gente que paga caro por roupa de marca e ainda orgulhosamente lhe faz publicidade de borla;  gente que paga balúrdios em futebol para ajudar a manter ordenados principescos a uma classe de elite e comissões escandalosas a corjas de dirigentes oportunistas; políticos que se governam com ares  de honestos; pessoas que se expõem nas redes sociais como se as suas vidas, andanças ou carinhas felizes, tenham um interesse superior para os outros ou expõem de forma excessiva os seus estados de alma, a sua mais recôndita intimidade ao voyeurismo alheio. 

E mais não escrevo porque ficaria longo o texto. 

E, contudo, todos têm esse direito e liberdade de serem quem são, como são, como vivem, se vestem, despem, ou como se comportam. Não sou de todo contra essa liberdade e direitos, mas tenho igual direito e liberdade de não gostar, de não apreciar. De resto, essas minhas antipatias ou arrelias, são apenas íntimas e a terceiros não causam mal ou prejuízo algum. É apenas uma coisa interior. Mesmo este texto, é generalista e não aponta o dedo a alguém nem fornece chapéus para serem enfiados.  Além do mais, desse grupo de coisas ou predicados com que não morro de amores, até tenho amigos e pessoas que bem considero. A coisa não é, por isso, pessoal nem de preconceitos radicais. Apenas porque não vão de todo à minha mesa.

Em resumo, até mesmo nestas coisas de exprimirmos, ou não, as nossas antipatias, os nosos gostos, andamos muito castrados, porque os cânones do politicamente correcto são já uma pandemia das nossas sociedades ditas desenvolvidas e por eles há gente que apenas sendo o que são e dizendo o que pensam, perde os cargos, empregos, negócios, amigos, etc, etc. 

Mesmo que não oficialmente, temos por todo o lado uma invisível polícia de nova moralidade, só que esta, já subvertida ou invertida. Parecem opostas, a da moralidade e a do politicamente correcto,  mas na realidade são a mesma coisa, porque ambas castram, mesmo o direito de se não gostar.

7 de dezembro de 2022

Pedintes modernos


A campaínha tocou. Pela hora adivinhava-se que seria o "cliente" do costume. Assomou à porta e confirmando-se, protestou:

- Você outra vez? Não sai daqui para fora!

- Já não passava há quase um mês! - desculpou-se do lado de fora o pedinte.

- Mas você está com bom aspecto! Não tem quem lhe arranje um emprego? - Perguntou o dono da casa para lhe medir a reacção.

- Não posso! Eu sou um homem doente! - replicou num tom lamurioso.

- Pois, olhe que não me parece, vejo-o sempre por aqui, com bom ar, a caminhar ligeiro a dar a volta à freguesia! Olhe que não é para gente doente!

- Mas dê-me lá uma moeda! - pediu, desinteressado do sermão.

- Vou dar, mas não apareça aqui antes da Páscoa! - deu-lhe uma moeda de dois euros, como se fora a juntar à moeda habitual o subsídio de Natal.

O receptor olhou para a moeda, acariciou-a, fez uma pausa e disse: - Olhe que já passo aqui há muito tempo e é a primeira vez que você me dá uma moeda de dois euros!

- Ai é? Pois para além de ter boa memória, está com sorte! Mas está a queixar-se ou falar de contente? - questionou o dador. Ele, porém, encolheu os ombros e não lhe respondeu deixando-o sem saber, levando-o a replicar:

- Bem, olhe que não é mau! Se lhe derem dois euros em cada uma de cinquenta casas por aí acima, são 100 euros. Ganhará bem o dia! Mas vá lá à sua vida! - despediu-o para não alongar a conversa.

E lá foi o pedinte à sua vida, que não terá outra. O dono da casa ficou a pensar naquela justificação do ser doente Considerou que fosse mesmo doente, o que de todo não lhe pareceu, certamente  que o nosso amado estado social o socorreria. Ou será que não? Afinal estamos em 2022 e ainda há disto, pedintes, tal qual como no tempo da velha senhora. E já lá vão 50 anos sobre a mudança de direcção. Só que os do antigamente, parecia-lhe, esses pelo menos rezavam, recebiam o que calhasse e agradeciam encarecidamente. Os pedintes modernos, esses não pedem, exigem e resmungam se a moeda é pequena.

Nesta dúvida, ficou o dono da casa, e ficamos nós, sempre com muitas reservas sobre quem ainda anda de porta em porta, a pedir com verdadeiras necessidades ou sem elas. E são muitos, desde bombeiros, a supostas associações de não sei das quantas, para além dos peditórios para as diferentes situações no âmbito da freguesia e paróquia, seja para esta ou aquela festa, para a igreja, para os presuntos, para os pobres, para os ucranianos, para os africanos, para isto, para aquilo. É certo que é bem melhor poder dar do que precisar de pedir, mas para quem tem que trabalhar para poder pagar as suas contas e responsabilidades, sem chorudas pensões ou rendimentos que não sejam os do trabalho, mesmo o pouco que se dá tem peso perante tantas solicitações. 

Mesmo nestas dificuldades, porventura dar dois euros a um cliente recorrente, mesmo considerando que será apenas por vício, terá algum significado e mesmo valor, para quem dá e para quem recebe. Afinal, serão poucas as casas que darão dois euros a quem com insistência toca à campainha. Porventura, quase sempre, quando alguém bate à porta de quem realmente poderia dar, não 2 mas 5 ou mesmo 10 euros, sai despedido sem nada nas mãos e a única coisa que pode almejar levar é o sermão. Esse dá-se ao desbarato.

Não está fácil, pois não, tanto para quem pede como para quem dá!


[foto: sabado.pt]

29 de novembro de 2022

Vão-se foder, que também é de graça!



Vou contar-vos uma história verdadeira:

Há algumas poucas semanas encerrei um fórum que fundei e abri há já quase 20 anos. Não interessa para o caso especificar qual o tema, mas contava com uma comunidade já perto dos 20 mil utilizadores.

Encerrei por vários motivos: Para além do trabalho dispendido quase diariamente na administração, moderação e lançamento dos temas, tinha os custos com o registo de 3 domínios associados, ainda o custo do servidor do alojamento e ainda o preço de software, que periodicamente tinha que ser renovado caso contrário ficava desactualizado, sem suporte e com incompatibilidades nomeadamente ao nível do PHP.

A juntar a isso, frequentes ataques informáticos vindo de gente de áreas concorrentes. Neste mundo digital, como no real, anda sempre gente atenta para copiar e replicar ideias pioneiras e originais. Depois é uma guerra do mata ou morres.

Durante algum tempo, alguma receita publicitária angariada ajudava a mitigar os custos mas nunca deu para tal e esse mercado já foi chão que deu uvas.

Numa determinada altura abri aos utilizadores a possibilidade de poderem, com donativos de qualquer valor, mesmo que simbólicos, poderem contribuir voluntariamente com qualquer verba para ajudaram nas despesas. Mas em rigor, dessa comunidade de mais de 15 mil utilizadores, na altura, e durante um ano em que este aberta essa janlea, apenas um único se dispôs a colaborar com 5 euros. Ilucidativo!

Ainda coloquei a possibilidade de passar o fórum para alguém da área mas quando falava nos custos associados, desistiram porque pensavam que estas coisas funcionam do nada e que também eram de borla.

Em resumo: As coisas são mesmo assim e nada dura eternamente, nascem, crescem, eventualmente estagnam e desaparecem. Mas este meu fórum foi também assim mas não estagnou porque crescia diariamente em número de utilizadores registados.

Mas há alturas em que temos que equacionar se, a pretexto da nossa paixão e entusiasmo por um qualquer hobbie, faz sentido continuar a acumular canseiras e gastos efectivos quando tudo é pro bono.

Depois de encerrado, porque, para de algum modo manter algum relacionamenbte entre os utilizadores mais frequentes, criei um grupo no Facebook, vieram mil lamentos e carpir de penas, mas já nada havia a fazer. Posso, por enquanto, em qualquer altura retomar o projecto, mas não. Vou mesmo cortar o cordão e terminando a validade dos domínios e servidor a coisa extingue-se mesmo.

No fundo, esta situação retrata em muito a filosofias das pessoas e mormente os portugueses. São amigos de receber, de usufruir de tudo e mais alguma coisa mas sempre na filosofia da borla, e mesmo assim sentem-se detentores de direitos e de reclamações sobre algo para o qual nunca com nada contribuiram. É por isso que, não generalizando mas dentro desta espertalhna filosofia, temos largos milhares de pessoas a viverem de rendimentos mínimos dados pelo Estado e outros muitos milhares com serviços de televisão, filmes e músicas pirateados.

Somos, no geral, assim: Oportunistas e chicos-espertos a dar cobertura ao ditado de que somos meio mundo a foder outro meio. A cultura do pagar e compensar quem trabalha ou quem cria, é, em rigor, nula! Zero! Nada! Népias!

Para todos esses oportunistas, vão-se foder, que também é de graça!

21 de novembro de 2022

The show must go on

Sempre se soube que todo o processo que culminou com a nomeação do Catar como país organizador do Mundial de Futebol de 2022, ontem começado, foi uma farsa. Uma valente e muito bem paga farsa. 

Um dos Judas intervenientes, um tal de Blatter, já se mostrou arrependido, mas não foi ao ponto do final do Iscariotes, e tanto que saiba, há-de morrer de velhice e nunca por falta de dinheiro, incluindo as 30 moedas, e dos confortos que ele proporciona.

Para além dessa trafulhice imensa que só os ricos e os poderosos conseguem afinar como mestres relojoeiros, seguiram-se as questões relacionados com a segurança dos trabalhadores, ou falta dela, nas construções faraónicas ou das mil-e-uma-noites, o respeito pelos direitos humanos, sobretudo sobre as mulheres, o tratamento para com os homossexuais, etc, etc.

As nações e as selecções delas apuradas para tão majestoso evento, foram dandos uns palpites, uns bitaites, tudo dentro do politicamente correcto, mas em rigor, tanto quanto se saiba, nenhuma boicotou a prova primando pela ausência. 

Mesmos os jogadores, ali verdadeiros príncipes nas arábias, foram também dizendos umas porreirices avulsas, mas na verdade estão lá todos muito contentinhos.

Os adeptos, esses também aparte alguns arrufos, estão lá, senão todos, os que têm carteira para isso.

Finalmente, o chefão da FIFA veio menorizar a questão e esgrimir o velho engodo do copo meio cheio ou meio vazio. Louvou os esforços feitos pelo país anfitrião e o muito que mudou, mesmo sabendo que quando as tendas se levantarem e cada um seguir à sua vida, o mais certo é que tudo vai voltar ao mesmo. 

Em rigor, as declarações do senhor Infantino andaram mais ou menos como quem desculpa o violador pela atitude e aparência provocadoras da violada e pelos esforços em violar o menos possível. 

Posto isto, as tendas estão montadas e por uns largos dias vamos ter circo com palhaços pagos a peso de ouro. 

The show must go on!

19 de novembro de 2022

Broas da mesma fornada

Creio que o meu primeiro livro "Palavras Floridas", não foi mais que, até a propósito do nome, um despretensioso ramalhete de alguns poemas, mesmo simples quadras, que se envergonhariam na sombra das de um popular Aleixo, acrescentado com alguns textos e destes um ou outro a que me atrevi a equiparar a contos.

Seja como for, mesmo destinado exclusivamente a oferta, e por isso com todo o prejuízo inerente, em dinheiro e em tempo despendido, deu-me uma enorme satisfação publicá-lo e oferecê-lo, de resto num processo que ainda não concluí, já que amigos tenho que ainda não se proporcionou a oferta. E vou ter que reimprimir mais porque continuam a pedi-lo.

Apesar desse efectivo prejuízo, se olhado pela estreita janela que se abre para um horizonte onde o brilho do vil metal é mais esplendoroso do que o do astro rei, a verdade é que tenho recebido avantajada compensa no positivismo das boas reacções e delas algumas questões interessantes e reveladoras desse interesse. 

De facto têm sido vários os que alvoroçados com o formigueiro da curiosidade querem que lhes levante a ponta do véu que cobrem as personagens, como o Hipólito, o Júlio, Julião, o Ti Jacinto, o Anjos, os Loureiros, o Abel, e outros mais nomes que polvilham esses textos.

Creio que, no fundo da questão, os que me têm desafiado a isso até já saberão a resposta, não porque realmente a saibam e nem a poderiam saber, porque a base é mesmo ficcional, mas porque as linhas que tecem as suas diferentes personalidades são as mesmas que tecem as de toda a gente. 

No fundo todos nós estamos ali representados. Com maior ou menor dose satírica ou grau de ironia, a massa que nos molda tem a mesma composição, porventura com mais ou menos sal. Mas quem já viu, como eu vi dezenas de vezes a minha mãe, a amassar o pão para a fornada semanal, as broas que  se  moldam na masseira são da mesma massa, da mesma mistura e levedadas com o mesmo “crescente”, embora umas destinadas a grandes e outras a pequenas. Eram depois submetidas ao mesmo suplício do calor curador. Mas logo mais, quando resgatadas daquela antro infernal, e já dispostas a fumegar na larga mesa, cada broa era diferente, não no sabor nem na textura do miolo, mas seguramente na sua crosta, na sua côdea, como impressões digitais iniguais. 

Em resumo, somos todos iguais broas da mesma massa humana de cada fornada, mas todos diferentes porque sujeitos a variantes de natureza tão subjectiva quanto imensurável. 

Continuando com a analogia do pão, diferenciam-nos as mãos da amassadora, a natureza e qualidade do sal, da água, do fermento,  a temperatura do forno, o tipo de lenha usada, o tempo de cozedura e, até, o amor com que todo esse processo, mesmo ciclo, foi realizado, desde a primordial preparação da terra para o lançamento das sementes de milho, trigo ou centeio, até ao momento de levar à boca um naco desse pão.

É dessas pessoas, feitas com essa massa comum e simultaneamente diferenciada, a massa humana, que procurei dar alguma vida e sentido dela nas personagens que povoam esse meu simples livro. Por isso, não se apoquentem a saber respostas porque elas são, afinal, bem simples, ou nem por isso.

15 de novembro de 2022

Em inglês dá outra pinta - Parolismos


Eu não sei por que carga de água, talvez por provincianismo, para não dizer parolismo, insistimos em dar nomes ou designações em inglês às coisas só nossas. Até compreendo esta falta de amor próprio numa perspectiva de eventos ou negócios em muito virados para o turismo estrangeiro, em que há uma intenção de internacionalizar, de informar, mas já extender isso a coisas objectivamente portuguesas, comuns e para consumo próprio, é mesmo algo intrigante para não o adjectivar de outra forma.

Veja-se, no caso de eventos desportivos, nomeadamentes corridas agora ditas de runnings e trails e que são mais que as mães, no que parece, pelas muitas que são pagas, evidenciar ser um negócio interessante.

"Bio Run", "Xmas Trail", "Urban Run", "Last Man Standing", "Pisão Extreme", "Atlantic Clifs Adventure", "Trail Running Vila de Nisa", "Urban Trail Night Eurocidade" - Valença, "Mâmoa River Trail", "Noctis Trail", "Leiria X-Mas", "Vulcan Trail", "Lousa Mountain Trail", "Linhas de Torres Challenge","Peninha Sky Race", "Trail of Road", "Wine Trail", "Extrem Trail", "Night Trail", "Trail Summer Chalenge", "OCR Fireman Sernancelhe", "Louza Sky Race", "Dark Side Night Trail", "Cork Trail Running", "Viana Race" e muitas, muitas outras.

Mas como nem tudo está perdido, ainda há provas que têm a designação tão portuguesa, tão nossa, de "corrida", "corta-mato", "trilhos", "maratona" e "caminhada".

Posto isto, inglês é que é e dá outra pinta à coisa. Correr uma corrida ou simplesmente fazer uma caminhada é coisa de atrasados.

Mas, claro está, a coisa, o excessivo e mesmo despropositado uso de inglesismos é extensível e muitas outras actividades e sectores. Mas fiquemos por aqui como amostra.