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2 de maio de 2019

Ad perputuam

As estatísticas dizem que por ano em Portugal morrem em média 12 pessoas diariamente de enfarte do miocárdio. Por conseguinte, os números de ataques serão substancialmente superiores já que, felizmente, a maioria dos casos, por rápida intervenção médica, consegue ser resolvida e menorizada nas suas consequências fatais. 

Apesar disso, a comunicação social vai abordando destas coisas de forma marginal e normalmente apenas em números, até porque estas situações não escolhem idades, nem profissões, nem estatutos sociais. 
Mas quando uma dessas pessoas, apenas mais uma vítima desse problema de saúde, se chama Iker Casillas e é um famoso guarda-redes de futebol, do F.C. do Porto mas que foi do Real Madrid e da selecção espanhola, então temos tudo quanto é comunicação social, do país, de Espanha e do resto do mundo, a trazer o Iker Casillas às primeiras páginas.

Isto não é mau, se de algum modo contribuir para uma maior consciencialização deste problema de saúde que afecta diariamente muitas pessoas, até porque se aproveita a ocasião para melhor se explicar os contornos do acidente cardíaco e dos seus sintomas que podem concorrer para uma rápida e eficiente ajuda médica, mas por outro lado demonstra que a nossa sociedade continua a orbitar em torno dos famosos, ricos e importantes. Os demais, a larguíssima maioria, são apenas números. E quanto a isto não há volta a dar, pelo menos enquanto não se mudarem mentalidades e enquanto essa mesma larguíssima maioria anónima não deixar de consumir o mediatismo dos famosos, mesmo alimentando-o.

Em todo o caso, deste caso, fica pelo menos o desejo de que qualquer um cidadão anónimo, mesmo que pobre e desvalido, possa ter o mesmo e rápido socorro, atendimento e tratamento hospitalar perante uma situação destas, como teve Casillas. Todavia, infelizmente, não há como negá-lo, esta não é a realidade generalizada. Os famosos e ricos, em suma os Casillas deste mundo, continuarão ad perpetuam a ter um melhor e mais rápido socorro e tratamento.

25 de março de 2019

Dois meses sem "fumar"

É isso mesmo. Passaram já dois meses sem "fumar" no Facebook. Sem ressaca, sem sacrifícios. Contudo, não significa que um dia destes não volte a "fumar". Afinal, para além da muita "fumarada" tóxica que por lá anda, há ainda algum campo aberto e algumas, poucas, zonas sem "fumadores" onde ainda é possível respirar.
Em todo o caso, a juntar às desconfianças que pessoalmente tinha com a maior rede social do nosso planeta, as mesmas têm-se agravado. Ainda na semana passada assisti a um documentário iniciado agora no canal Odisseia sobre "As mentiras do Facebook", produzido com material inédito e entrevistas exclusivas, em que são abordados os recentes escândalos sobre a proliferação das “fake news” e dos discursos de ódio. Procura-se apurar se o Facebook é mais prejudicial que útil numa altura em que a rede é utilizada mesmo por agências governamentais (sobretudo Estados Unidos, China e Rússia), mesmo que não assumidas, para interferir em eleições, instalar e derrubar governos, despoletar revoluções e movimentos geo-políticos e sociais. 

Será, pois, essencialmente um mar de rosas, onde partilhamos as nossas vaidades e os nossos egos, ou um mundo escuro e perigoso em que já não se pode confiar, onde somos vigiados e sugados dos nossos interesses e perfis de consumo?
As respostas não são fáceis nem claras, tanto mais que por parte da empresa, a inoperância ou mesmo o desinteresse em combater e limitar os danos têm sido demonstrativos. E isso porque, apesar do seu já cansado slogan (um planeta mais e aberto e ligado), a verdade é que a missão principal é apenas empresarial e como tal, dela, o lucro. O lucro é a principal missão do Facebook. O resto, os milhares de milhões de utilizadores são apenas números e dados que valem dinheiro.

Face a isto, importa ter cuidados acrescidos na forma como nos relacionamentos com estas redes sociais já que, se não cuidarmos de nós, não é o Facebook e suas congéneres que o farão. É certo que não há muito a fazer, porque cada vez mais vigiados e manietados face à nossa dependência por estas tecnologias, mas ainda podemos, pelo menos, limitar os estragos. Uma forma de o fazer é deixar, mesmo que periodicamente, de frequentar essas salas de "charros" ou de "chuto" e não alinhar nem dar como certo e verdadeiro, enfim, comestível, tudo o que nos põem no prato com aspecto de saboroso.

22 de março de 2019

Peão das nicas

Porque perto, e porque faz bem à saúde e à carteira, tenho ido para o trabalho a pé. Por conseguinte, mesmo sendo curto o percurso, atravesso pelo menos duas passadeiras de peões. 

Acontece que mesmo tomando todas as precauções e seguindo a velha recomendação do pare, escute e olhe, como nos ensinaram há muitos anos através de campanhas da Prevenção Rodoviária Portuguesa, ao atravessar as respectivas passadeiras tenho-me confrontado com situações de desrespeito por parte dos automobilistas. É verdade que uma das passadeiras, colocada em cima de uma curva fechada, não ajuda nada e é uma autêntica ratoeira, mas, em suma, a larga maioria dos automobilistas está-se literalmente a cagar para os peões e não surpreendem as recorrentes notícias de atropelamentos nas passadeiras, mesmo com consequências mortais.

É certo que importa aos peões cumprirem os procedimentos de segurança de aproximação e atravessamento, o que nem sempre se verifica, mas de facto constata-se esta falta de respeito quase generalizado por parte dos automobilistas. A educação rodoviária e sobretudo cívica nunca foram o nosso forte. Somos todos pilotos aceleras e com o pé pesado e uma vez ao volante, "...os peões que se fodam e tenham cuidado".

É o que temos.

26 de novembro de 2018

Trancas à porta




Longe vão os tempos em que na aldeia saía-se para o campo, para o pinhal ou a qualquer outro destino das voltas do quotidiano e bastava encostar a porta, sem fechos nem trancas. É certo que pouco por ali ficava com valor que despertasse a cobiça dos amigos do alheio ou da curiosidade da vizinhança, mas havia respeito pelos proprietários e pelos bens dos outros, mas também muito medo do castigo por alguma tentação de furto.

Esses tempos, porém, como disse, vão longe e hoje em dia nem com trancas à porta, alarmes ou daqueles cães que nem o próprio rabo respeitam à fúria dos seus dentes. Rouba-se com a maior das naturalidades porque quase sempre encobertos, os artistas do gamanço, pela impunidade e pouca autoridade das forças ditas de segurança e ordem pública. O castigo, quando o há, é invariavelmente macio, quando muito com uma repreensão e umas horitas de trabalho comunitário que não se cumprem. Assim está em alta a gatunagem e para se viver com relativa  qualidade deixou de ser imperativo o trabalho sério e honesto.

Estas duas fotos, são assim significativas e emblemáticas do passado e do presente, do respeito e da falta dele, da autoridade e da falta dela. Mas o politicamente correcto não gosta destas comparações e prefere termos e conceitos bonitinhos e supostamente inclusivos e tem medo de chamar os bois pelos nomes e, mais do que isso, pegá-los pelos cornos. 
Assim sendo, como já se apregoava na Idade Média quando se tomava pela força das armas um castelo ou uma cidade, é fartar vilanagem!

17 de outubro de 2018

A dar à costa


Estou deveras céptico com a anunciada medida do Governo em baixar o IRS para aqueles que estando emigrados no estrangeiro queiram regressar a Portugal. 
Obviamente que nada contra quem procurou levar melhor a vida noutras paragens e que agora queiram e possam regressar e até gosto de os ver por cá. Todavia, creio que esta medida, mesmo que de efeitos temporários, é apenas mais uma que nos leva a ter a certeza que há portugueses de primeira, de segunda e mesmo de terceira.

Para além de duvidar dos efeitos práticos, porque não estou a ver que portugueses a trabalhar no estrangeiro, certamente com melhores condições e já focados e inseridos nessa nova realidade, decidam regressar só porque vão poupar uns trocos no imposto sobre o chorudo rendimento em Portugal, cheira-me, contudo, que esta medida é pura demagogia e sobretudo um sinal ideológico ao marcar terreno contrapondo o suposto incentivo ao regresso, ao suposto encorajamento à saída, então pelo anterior Governo quando a crise era aguda.

Por outro lado, se alguns milhares de portugueses se sentiram então obrigados a procurar melhor vida fora do país e ali encontraram alternativa, e quem me dera a mim a muitos outros terem tido essa oportunidade de sair, pior do que isso foram os milhões que foram obrigados a ficar por cá no vendaval da crise e que tiveram que aguentar os cavalos, certamente sob piores condições do que aquelas que a larga maioria dos emigrados teve de enfrentar. É certo que haverá excepções, mas creio que no geral ninguém avançou para o estrangeiro sem o mínimo de garantias de ali encontrar emprego e melhores condições de vida, ou pelo menos de rendimento.

Seja como for, com esta "irrecusável vantagem fiscal", é ver para crer se vamos ter uma avalanche de emigrantes a retornar, a dar à costa, e o ganho que isso representará para o país. É que não estou a ver, de todo, sobretudo o pessoal qualificado, a deixar os seus bons e reconhecidos empregos por essa Europa e mundo fora, onde são valorizados, regressarem a um país que ciclicamente enfrenta crises à beira da insolvência, onde milhares de licenciados estão desempregados e não encontram trabalho à altura da qualificação e dos objectivos para que se prepararam, a ponto de, para levarem a vida, aproveitarem o que vem à rede, quase sempre petinga da miúda.

Mas o Costa e o Centeno lá saberão. Sempre é mais fácil acenar com a "cenoura" da redução do IRS do que baixar o preço escandaloso dos combustíveis e reduzir na generalidade o IVA da electricidade e de outros dos muitos impostos directos e indirectos que trazemos às costas. 

27 de setembro de 2018

The Best - Ora bolas


A avaliar pelas opiniões e comentários expressas nos média online e redes sociais, parece que muita gente ficou desiludida ou até mesmo revoltada com o facto de Cristiano Ronaldo ter perdido o troféu de melhor futebolista mundial pela FIFA, para o seu ex-colega de equipa no Real Madrid, Luka Modric.
Certo é que depois do croata ter vencido recentemente o troféu de melhor jogador para a UEFA, adivinhava-se que Ronaldo não teria hipóteses de somar o seu sexto troféu (tem 5 tal como Lionel Messi). 

Pode ser apenas uma teoria, mas o facto de Cristiano Ronaldo ter deixado o Real Madrid no contexto em que o deixou, pode ter feito toda a diferença. Há quem garanta que se o CR7 ainda estivesse no Real o troféu não lhe fugiria. Não custa nadinha a acreditar.

Certo é que, como Messi, que nem sequer estava nomeado, Cristiano Ronaldo certamente pré-avisado do resultado, nem se dignou a aparecer à cerimónia. Verdade se diga, para além de todas as grandes qualidades de Ronaldo, tanto quanto atleta como homem, o saber perder nunca foi uma das suas boas qualidades. Daí, mesmo que com as habituais e legítimas desculpas, acabou por não aparecer. Ora é bom saber ganhar mas mais importante saber perder, independentemente dos critérios e do sentido de justiça da atribuição do troféu a Modric.

Pessoalmente acho sempre uma piada que os defensores de Ronaldo esgrimam a seu favor o número de golos e de títulos. Ora por estes critérios, pode-se pôr de lado a possibilidade de atribuição do troféu a um jogador na posição de defesa e mesmo a um guarda-redes (coitados, poucos ou nenhuns golos marcam). Por conseguinte, dito isto, creio que a atribuição de tal troféu não pode de todo corresponder tão somente aos golos e aos títulos mas à classe e qualidade intrínseca de um futebolista, em suma, a genialidade (no que Messi tem de sobra). Ora a conquista do "The Best" por Luka Modric veio de alguma forma fazer jus ao nome do troféu, mostrando que os golos não podem nem devem ser factor decisivo. Caso assim não fosse seria preferível e menos hipócrita que a FIFA tivesse um prémio semelhante para cada um dos sectores do futebol conforme a sua organização, ou seja, o melhor avançado, o melhor médio, o melhor defesa e o melhor guarda-redes. Seria preferível porque mais consentâneo com as características próprias de cada atleta na respectiva posição. Eventualmente até um prémio para cada posição específica, no que resultaria em 11 troféus. 

Mas manda quem pode e afinal de contas este tipo de troféus e cerimónias a eles associadas não passam de show-off e entretenimento à volta de quem ganha milhões a dar chutos numa bola. Portanto merece a importância que merece ou aquela que cada um de nós lhe quiser dar. Por mim, dou pouca.

26 de setembro de 2018

É a democracia, certo?


Tenho ouvido e lido, sobretudo desde que sofreu um atentado durante uma acção de campanha, sobre o perfil do candidato às presidenciais do Brasil, Jair Bolsonaro
Independentemente do que possa achar do estilo, e de concordar ou não com as suas posições, que nitidamente parecem-me desajustadas e extremistas, fico, todavia, sempre algo intrigado por alguns ferozes ataques ao candidato já que se colocam estas questões: Goste-se ou não, é um candidato com os seus direitos em dia, certo? Concorre a umas eleições democráticas, certo? É o povo que vai escolher o que acha o melhor candidato para o Brasil, certo? Tratando-se de umas eleições democráticas deve-se respeitar a escolha do povo na sua maioria, certo?

Se as respostas forem certo, e não há como não ser, então que se deixe funcionar a democracia e que se respeite o resultado das eleições.  Que em campanha se esgrimam as personalidades, ideias e os projectos, que se denunciem e repudiem extremismos, mas depois dos resultados, que se respeite o povo.

Assim sendo, de que têm medo os seus críticos? Dele ou do medo da democracia funcionar? É que a democracia tem destas coisas, a de possibilitar a eleição de um tolo, um incompetente, um racista , um xenófobo, um populista, um extremista e tudo o mais que se queira referenciar como politicamente incorrecto ou mesmo como valores não humanistas. Mas a democracia é também o aceitar o direito de todos esses perfis poderem concorrer e mesmo ganhar. Goste-se ou não, é a democracia, certo?

Obviamente que esta conclusão serve igualmente para todos os intervenientes em todas as eleições realizadas em ambiente de democracia e sufrágio universal. Extremistas, fundamentalistas, populistas, nacionalistas e com outras vistas, sujeitam-se todos à democracia, nos deveres, direitos e garantias.

Como diria D. Trump, "let's work democracy!"

25 de setembro de 2018

Pagará Roma a traidores?

Confesso que tenho passado ao lado do assunto da criação de um novo partido ou movimento político por Pedro Santana Lopes, designado de ALIANÇA, sabendo que o processo de criação está feito faltando o parecer do Tribunal Constitucional.

O Aliança adoptou um logótipo azul claro como símbolo, tendo como lema "unir respeitando a diferença e as diferenças". Tem sido apresentado como "um partido personalista (inspirado em Francisco Sá Carneiro), liberalista e solidário. Interessado pelo contexto europeísta, mas sem dogmas, sem seguir orientações confinadas e que contesta a receita macroeconómica ditada pelos senhores de Bruxelas". Santana Lopes tem dito  que "...queremos garantir representação política que nos permita participar no processo de decisão, seja no Governo seja na oposição."  Não encabeçará, todavia, as listas que venham a concorrer pelo movimento. Será?

Olhando agora para o que os média têm noticiado e comentado sobre o assunto, chego obviamente a algumas conclusões pessoais. Em todo o caso, num sentido geral será mais um partido ou movimento que, como qualquer coisa nova, procura apregoar ideias arejadas por comparação ao status quo vigente. O que é novo é novidade e daí poderá sempre colher alguma aceitação de muito eleitorado que não é carne nem peixe, nomeadamente no PSD acolhendo os descontentes com a orientação de Rui Rio por o considerarem algo permeável à esquerda. Ora, ao contrário, como argumentou na sua carta aberta de despedida do PSD, publicada dia 4 no diário online Observador, Santana Lopes dizia querer “intervir politicamente num espaço em que não se dê liberdade de voto quando se é confrontado com a agenda moral da extrema-esquerda”. Por aqui se percebe ou se procura justificar o processo ALIANÇA.

Poderá ser apenas uma espécie de PRD mas duvida-se que nos próximos actos eleitorais que venha a concorrer possa obter tamanha fatia como então em 1985 sob a égide do general Ramalho Eanes. Então o PRD propunha-se a "moralizar a vida política nacional". 
Ainda hoje, volvidos mais de trinta anos continua a haver uma imperiosa necessidade de moralização da vida política ou, melhor dizendo, uma moralização dos políticos, mas não creio que seja este Aliança a fazê-lo pois os vícios estão demasiado entranhados. Ademais, o Aliança nasce com o ónus de uma fractura, uma desistência ou até mesmo, como já li, uma traição, a ponto de alguns militantes comentarem que "Roma não paga a traidores"(analogia à resposta dada pelos romanos ao pedido da recompensa pelos assassinos de Viriato - (139 a.C.).

Mas a ver vamos. Para o bem e para o mal, Santana Lopes, reconheça-se, sempre teve essa capacidade política de estar continuamente em intervenção no "teatro de operações". Creio que não lhe faltarão seguidores,  provenientes sobretudo deste actual PSD, onde é evidente um clima onde não faltam alguns lusitanos prontos a esfaquear o seu líder. Restará saber se em algum momento receberão a lendária resposta "Roma não paga a traidores". Ou, pelo contrário, estará com o seu Aliança de braços abertos a todos quantos não encontrem protagonismo no PSD de Rui Rio. Não duvido que à primeira investida venha a fazer mossa nas hostes laranja, pelo menos no actual contexto. Só o tempo dirá se, tal como ao PRD, depois não virá a erosão até à extinção.

Seja como for, só o tempo realmente dirá da importância e validade deste novo movimento. Devemos estar sempre abertos ao lado positivo das mudanças e ver se as ideias que vierem a ser cimentadas correspondem ao que cada um de nós tem como válidas na definição da politica. Não devemos ver os partidos como clubes de futebol onde quase sempre somos indefectíveis seguidores mesmo que mal treinados e pior dirigidos.
Devemos ter em conta as pessoas e os projectos e colher de todos o que de positivo apresentam. As ideologias por estes tempos são o que menos contam porque provenientes de tempos e contextos já passados, não raras vezes com resultados dramáticos. Ora se este Aliança conseguirá ou não aplicar esse conjunto de valores é o que o tempo dirá.

24 de setembro de 2018

Desconfiar é preciso


Como se suspeitava, Joana Marques Vidal, Procuradora Geral da República, não foi reconduzida no cargo. Poderia tê-lo sido, mas não foi. Em seu lugar o Governo nomeou Lucília Gago. Poderá ter sido para contrariar a pressão à direita, poderá ter sido apenas porque sim e lhe dava jeito.

Entre muitas leituras e questões, incluindo a de que o presidente da república e o 1º ministro ficaram chamuscados neste "fogo", achei curisosa a génese das justificações de António Costa e do seu Governo, a de que nunca tivera em mente reconduzir a Procuradora, porque se pretendia que a mesma não se sentisse pressionada nem de tal resultasse uma dependência da nomeada face ao nomeador, justificando-se basicamente nas virtudes da alternância e do mandato único, apesar de a Constituição não o prever. Afinando, obviamente, pelo mesmo diapasão, a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, também reforça que "a existência de um único mandato é a solução que melhor respeita a autonomia do Ministério Público".

Ora se a independência da Justiça e dos seus agentes face ao Poder Politico está sempre a ser apregoada e enaltecida, porque raio é que o primeiro ministro e seus governantes vêm sugerir possibilidades de limitações, influências e pressões? Houve sinais de tal? Sintomas de cedência a eventuais e obscuros interesses?

Com estas justificações, será também legítimo estender tais pressupostos a todos os cargos públicos deste país? Se sim, que se comece por limitar mandatos a presidentes de junta, presidentes de câmara, deputados, ministros, presidente da república. Ou seja, porque assim pensa o Governo, mandatos únicos serão mais eficientes e menos "susceptíveis" de pressões, influências, acomodamentos, aproveitamentos, etc, etc.

Ora, de António Costa que daqui a meses tem a legítima pretensão de vencer as eleições e renovar o cargo de ministro primeiro, se possível com maioria, não seria mais adequado ao país, que se ficasse apenas por aqui e que desse o lugar a outro?

Por mim, acho que esta decisão passa em muito pelo facto do poder político na generalidade não ter gostado da actuação de Joana Marques Vidal, impertinente quanto baste porque investigando e acusando mais do que a anterior tendência de arquivamento. Acusar políticos e figuras públicas com o calibre de Sócrates, Vara, Salgado, clubes como o Benfica e ainda o caso do angolano Manuel Vicente que despoletou um clima "irritante" entre Portugal e Angola, não cai bem a um Estado que se quer sem irritações. Grande parte do poder político, mesmo que o apregoe, de facto parece não se dar bem com as questões de independência da Justiça, porque por vezes dá jeito que os pratos da balança possam pender um bocadinho. Se a justiça é cega, como dizem e a retratam, certamente que não dará conta de um ligeiro desequilíbrio, mesmo que um subtil toque.

Neste contexto e com estas razões, já gora com estes políticos, fiquemos todos desconfiados.

11 de setembro de 2018

11 de Setembro


Há quem diga que mudou o mundo. Há quem diga que o acordou. Por mim acho que o acordou para a mudança. Porque a maldade reside no mundo desde sempre. Apenas os meios, os métodos e os intervenientes foram mudando. As sementes do mal que abalaram Nova Iorque há 17 anos já andavam por aí, pelo mundo, desde o princípio dele a ser semeadas e colhidos os frutos.  De novo e de alarmante talvez a forma, o alvo e o efeito dramático do colapso das torres arrastando aqueles milhares de inocentes. E claro, todo o horror transmitido em directo.
Para o bem e para o mal, a globalização trouxe-nos esta capacidade de alojarmos nas nossas próprias portas o inimigo. Como na informática, o inimigo explora as fragilidades dos sistemas democráticos, as liberdades e garantias, de culturas e religiões, mesmo para quem não as tem, nem as aceita nem as respeita nos países de origem.
Não espanta, pois, que os ditos movimentos populistas ou nacionalistas estejam a ganhar espaço na nossa velha e sempre nova Europa, tão exposta como uma menina da rua que, de mini saia e de mini cueca, ou mesmo sem ela, vai com todos, porque sem preconceitos. 
Não alinho pelos populistas e pelos fundamentalismos destes, porque algures entre o 8 e o 80 haverá talvez um 30 ou 40, mas não fará mal algum que a Europa use cuecas mais largas, desça a saia ao joelho e, sobretudo, feche um pouco as pernas.

3 de agosto de 2018

Alerta CM - Está calor no Verão!


Falar do tempo sempre foi uma forma circunstancial de se meter ou complementar conversa, na rua ou numa sala de espera de um consultório ou de um qualquer serviço público. - Será que amanhã vai chover? - Hoje está quente! - Parece que vem aí uma chuvada forte! - Este nevoeiro que me dá cabo dos ossos... - Se viesse uma chuvinha para o meu nabal... - Se viesse um solzinho para a minha eira...

Para além disto, estar quente, frio ou a chover, nunca foi notícia porque, pelo menos no nosso clima, sempre foi normal estar frio no Inverno e quente no Verão.

Mas hoje em dia é notícia e preenche largas horas nos telejornais. Estar quente no Verão, mesmo que muito quente, parece algo extraordinariamente jornalístico e vemos repórteres a questionar simples transeuntes sobre o calor. E vão questionar quem, em princípio, está em melhores condições para do calor se refugiar ou dele gozar, os turistas e pessoas já em férias, com as pernas na água ou à sombra do coqueiro. Aqueles que realmente podem sofrer os efeitos do excessivo calor, como trabalhadores da construção civil e obras nas estradas, agricultores, etc, esses não merecem as perguntas idiotas dos repórteres pagos por tarefa.

É certo que temos muitos canais na televisão e podemos sempre mudar, mas esta estupidificação parece generalizada.

Santa Paciência, mas é o que temos.

15 de maio de 2018

Um cachorro para a mesa cinco


Lei é lei, por mais disparatada que seja. Como membros de uma sociedade regida por princípios de legalidade, temos que os respeitar mesmo que discordando no todo ou em parte. 
Neste contexto de pensamento, relativamente à lei que concede aos restaurantes a permissão de entrada de animais de companhia, não tenho muito a dizer, apenas que independentemente de um animal de companhia ser um periquito, gato, cão ou porco, em restaurantes que abram essa possibilidade, eu não entrarei. Tão simples quanto isso e para que não fiquem dúvidas quanto a alguma intolerância, porque gosto muito dos meus, já expliquei esta posição à minha bicharada de estimação, três gatos e um cão, este em tamanho e peso a valer por 40 chiwawas. Este ficou desanimado pois já estava a contar que o levasse um dia destes ao "Pedra Bela" ou ao "Bairradino dos Leitões". Ainda tentei explicar este princípio às galinhas mas, aparentemente na sua mítica estupidez, não me deram ouvidos e continuaram, indiferentes, à cata da minhoca.
Em todo o caso, creio que esta Lei devia ser estendida à Assembleia da República, podendo os deputados levar os seus animais de estimação. Assim como assim, na chamada "casa da democracia" estamos de há muito, na generalidade, entregues à bicharada.

22 de janeiro de 2018

Criancices, censura e hipocrisia



Está instalada a polémica à volta do novo programa de entretenimento da estação televisiva SIC, SuperNanny. Creio que já todos saberão como funciona pelo que me escuso de estar a explicar. Grosso modo é alguém que se substitui aos pais na tarefa de educar e com métodos mais ou menos discutíveis procura "pôr na linha" algumas crianças problemáticas, daquelas que batem e insultam os paizinhos, entre outros mimos filiais. A própria SIC justifica-o como sendo "...um programa educativo que ajuda pais e mães a educar os seus filhos com a finalidade de corrigir os problemas de conduta". Apesar desta justificação, não é nem mais nem menos que um típico programa de lixo, um reality show, onde de algum modo se explora a vida alheia e com uns condimentos televisivos se serve fresco aos consumidores ávidos deste tipo de conteúdos.

A polémica à volta do primeiro episódio traduziu-se num rol de críticas e tomadas de posição de algumas entidades, nomeadamente a Comissão Nacional de Protecção de Direitos das Crianças e Jovens (CNPDCJ), a Unicef, o Instituto de Apoio à Criança, bem como vários especialistas, que alertaram ao longo da última semana que o programa viola os direitos das crianças. Estas críticas e recomendações de suspensão do segundo episódio, caíram em "saco roto" e a SIC transmitiu o programa, tornando-se, como fruto proibido, o programa mais visto no respectivo horário.

Pessoalmente, na minha humilde e leiga opinião, há de facto matéria que deve merecer crítica e por isso contenção, desde logo o facto de se estar a expor uma criança e o que isso poderá representar no seu futuro quanto à sua reserva de intimidade, sabendo-se que na actualidade com as ferramentas da internet e das redes sociais, o que for publicado acaba irremediavelmente por ser guardado e  partilhado, nem sempre por pessoas com boas intenções, ficando permanentemente esse rasto. Os efeitos ou consequências futuras podem de facto ser  nefastas e adversas. 

Há, por outro lado, outras questões paralelas, subjectivas ou objectivas, de direito ou de ética, que podem ser discutidas, como a questão da família da criança receber dinheiro como contrapartida à cedência da imagem dos filhos e a sua legitimidade para disporem destes como sua propriedade, sendo que responsáveis por elas, Mas parece-me que por parte das entidades referidas, para além de algumas razões de princípio e de fundo, diria até de bom senso, há também e sobretudo muita hipocrisia e muita censura, esta própria de outros tempos. Hipocrisia porque nunca se viu qualquer reacção deste tipo de entidades quanto à exploração permanente das criancinhas noutro tipo de exposição pública e mediática, nomeadamente a participação em filmes, novelas, espectáculos e reality shows televisivos nas áreas das suas habilidades e talentos, cantigas, culinárias, etc, etc. 

Parece-me que com mais este exemplo, mesmo que supostamente num regime de plena liberdade e garantias, estamos a atravessar um período de alguns excessos de zelo fascizantes, tratando criancinhas como adultos e adultos como criancinhas. A coisa já começou nas limitações aos fumadores, agora ao consumo de sal e açúcar, venda de snacks, etc, etc. Não tarda a termos uma Comissão de  Censura a determinar o que podemos comer, beber e vestir, o que nos leva a concluir que estamos já a ser educados por uma SuperNanny hipócrita, autoritária e censuradora, nem mais nem menos que o Estado e algumas das suas instituições. 

3 de janeiro de 2018

Sim, estúpido, já estamos em 2018


Sim, já estamos em 2018. Entramos no novo ano da mesma forma que fazemos desde que nos conhecemos, novos e velhos. É certo que, quase sem darmos por isso, vão-se alterando as modas relacionadas a esta data, a esta transição simbólica de um para outro ano, mas na realidade tudo vai bater no mesmo e no dia seguinte há gente a dormir até às tantas, ressacas de bebedeiras e comezainas excessivas, urgências hospitalares entupidas com os resultados dos excessos, condutores embriagados, em que apenas uma amostra acaba por cair na malha das autoridades, etc, etc.

E para quem, muitos, gastou acima das suas possibilidades, fosse numa viagem cá dentro ou lá fora, ou uma noite num hotel chique a comer cubinhos de salmão gourmet sobre caminha de alface amaciada com porto reserva reduzido, a ressaca passa a ser da carteira. Na realidade o povo já não se contenta a passar o ano num areal escuro ouvindo o maralhar das ondas ou numa discoteca rasca dos anos 80, ou num bailarico de garagem numa festa improvisada pela associação recreativa local. Não, agora é tudo à rica, tudo à grande.

Há ainda as redes sociais e aqui a congestão ainda é maior, com os mesmos lugares comuns e as mesmas merdas partilhadas. E todos nós, ansiosos por uns likes, não resistimos a mostrar onde estamos, com quem, o que fazemos, o que comemos e bebemos.

Já no dia 2, 3, ou 4, acordamos então para a realidade, em que vamos ouvindo nas notícias que parece que vai haver uns aumentos no ordenado mínimo, uns tostões nas reformas e outras reposições aos tão carenciados funcionários públicos, essa pobre malta que vai para a reforma com três ou quatro ordenados mínimos. Mas afinal não vão ser só aumentos e reposições na receita: Feitas as contas vai dar tudo ao mesmo para quem vive a contar trocos, pois a lista dos aumentos na despesa é infindável, desde o combustível, até ao pão, passando pelo azeite, bebidas, tabaco, transportes, energia, etc, etc. Não há como escapar a esta realidade e o poupar é uma mera e ridícula  ilusão. Veja-se o Novo Banco, que tem publicitado uma treta chamada Pouparia e afinal, o máximo que oferecem nas diferentes aplicações é um juro que vai de 0,1 a 0,2 %. Trocos, que não chegam para pagar as comissões e despesas de conta. Ainda não será completamente assim, mas já não falta muito para pagarmos efectivamente aos bancos para lá termos uns trocos para  mensalmente liquidar por débito directo as despesas correntes com serviços como a água, electricidade e telefone.

Bem vistas as coisas, toda a alegria e esperança que contagiosamente despejamos ao virar do ponteiro do relógio e do calendário, passados poucos dias soa-nos a ridículo. Mas a vida é tal e qual assim e por isso daqui a doze meses voltamos ao mesmo, a ser alegres, esfuziantes, esperançosos e... novamente ridículos.

31 de outubro de 2017

Rir e brincar com os outros


Por estes dias, a caminho do trabalho, vinha a ouvir o humorista Nilton numa das suas habituais tiradas, fazendo disfarçadamente um telefonema para uma determinada pensão em Lisboa, mostrando a esta o interesse em que ali ficasse alojada uma estrela musical, no caso Madona, e a sua equipa, supostamente para de forma discreta fugir aos jornalistas e "paparazzi" portugueses enquanto trataria de um assunto de compra de uma quinta.
É claro que com o habitual registo de Nilton somado à aparente surpresa e inocência do dono da Pensão, foram alguns minutos de pura risota.

Mas, apesar disso, questiono até que ponto há alguma legitimidade moral e até jurídica para em nome do humor se brincar com as pessoas para que milhares se riam da situação e à sua custa? Mesmo que à posterior se peça ou não desculpa e se justifique a brincadeira.

Infelizmente, porque nos rimos e achamos piada, afinal foi sempre fácil brincar e rir com os males ou insuficiências alheias, também somos culpados e responsáveis. Pode-se concluir que não será por aí que virá o mal ao mundo e que devemos todos ter sentido de humor e boa disposição porque fazem bem à saúde, mas há sempre o outro lado e é sempre desagradável sermos usados por alguns espertalhões que vão levando as suas vidinhas a brincar e mesmo a gozar com os outros. O Nilton é apenas um e até há quem por essa aldeia global vá vivendo exclusivamente de pregar partidas aos outros, muitas delas de mau gosto e até perigosas, como se pode ir vendo pelo Youtube, já que as receitas dessa gente (ditos youtubers) dependem precisamente do êxito e visualizações que alcançam nas redes sociais. 

De algum modo seria bom que as autoridades estivessem atentas a estas situações, sobretudo as mais abusivas e de mau gosto e que fossem penalizadas em conformidade.

7 de junho de 2017

Cães - Tantos e tão poucos


A acção de vacinação anti-rábica e identificação electrónica para canídeos, para Guisande está marcada para o dia 23 de Junho, a partir das 16:30 horas no Adro da Igreja.
 
Recorde-se que pela lei é obrigatória a identificação electrónica (chip) para todos os cães nascidos depois de Julho de 2008, sendo igualmente obrigatórias a vacinação, o registo (uma única vez) e a licença (uma vez por ano). 

Pelo que me tenho apercebido ao serviço da Junta da União das Freguesias, sendo esta a entidade com responsabilidade pelos registos e licenças, os cães na União das Freguesias, e por conseguinte em Guisande, na sua larga maioria não estão vacinados, nem registados, nem com a respectiva licença anual. É certo que muitos até estão vacinados e com chip de identificação mas não estão registados nem com licença. Outros até estão registados mas sem a actualização anual das licenças.

Ora estas são situações obviamente desmazeladas pelos proprietários dos animais, mas, todavia, as autoridades, como a GNR, têm competência para verificar do cumprimento da lei e no desrespeito da mesma aplicar contra-ordenações e depois as consequentes coimas, que começam nos 25 euros por animal podendo chegar ao máximo de 3.740 ou 44.890 euros, consoante se trate de uma pessoa singular ou colectiva. 
 
Ora esta situação não devia ser desleixada até porque na freguesia de Guisande já há donos que foram alvo de contra-ordenações e a coisa começará a doer na carteira daqui para a frente. Por conseguinte, chama-se a atenção para esta situação de incumprimento e da importância de se regularizar, até por uma questão de saúde pública no que se refere à falta da vacinação.

14 de maio de 2017

Há dias assim


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Há momentos e circunstâncias assim e pode-se viver mais sete vidas, como os gatos, que jamais os esqueceremos. No caso, a conquista do 36º campeonato de futebol pelo S.L. Benfica, a que corresponde o seu primeiro tetra, precisamente num emblemático dia 13 de Maio, em que em Fátima, pejada de peregrinos, se comemorou o centenário das aparições, com a presença do peregrino Papa Francisco, que a todos marcou e comoveu, crentes e não crentes. 
Como se não bastasse, à noite, Salvador Sobral venceu a Europa das canções, desfolhando uma canção tão simples e banal mas com a enorme diferença de ser isso mesmo: simples, mas, mais do que isso, genuina, e em tão grande contraste com o espalhatafoso leque das demais canções, o que fez com que a Europa, juri e povo, notasse a diferença e a elegesse de forma tão sintomática como a vencedora.
Mais do que a música, porém, apreciei a mensagem do Salvador Sobral já no final, a apelar para que a música deixe de ser “fogo de artifício” e seja tão somente sentimento. Não creio que a Europa, apesar deste lampejo, perceba e mude a essência deste espectáculo há muito transformado num show do antes parecer do que ser, mas valeu. Pode ser que seja uma semente que aos poucos vá crescendo. Pode ser…

Há dias assim.

5 de abril de 2017

Brincadeiras de ontem e de hoje



Bem sabemos, eu e vocês, que os tempos mudaram e não podemos decretar que agora é que é, ou que nesse tempo é que era. Há, pois, coisas na nossa sociedade que mudaram, porventura umas para melhor, ou mesmo para muito melhor e outras para pior. De resto tudo isto é mudança. Seja como for, parece-me que as mudanças, pelo menos ao nível de comportamento e valores, ocorreram numa lógica do 8 para o 80 e daí muitos exageros.
 
Veja-se o caso da ocupação dos tempos livres das crianças e adolescentes dos dias de hoje: Regra geral, em casa, sozinhos, debruçados ao computador, ao tablet ou ao smartphone, invariavelmente na Internet, em jogos ou nas redes sociais e sem grande aproveitamento nas muitas coisas de bom existentes na área da cultura e ensino e que poderiam contribuir para uma valorização pessoal e escolar. No meu tempo e no de muitos vocês, não havia tecnologias, pelo que esta mesma faixa etária passava os tempos livres na brincadeira, pois claro, e nos intervalos das tarefas domésticas, coisas que agora não há para a criançada. Jogava-se então à bola, aos jogos tradicionais no largo do lugar, aos "filmes", percorrendo as matas da vizinhança ou mesmo pelas margens da ribeira abaixo à "pesca" de bogas aos domingos de Verão à tarde. Tudo isto com uma coisa em comum: A brincadeira em grupo e ao ar livre.

Em resumo, nos tempos de hoje a regra é o passatempo de forma solitária, isolada e interior. Se com outros "amigos", apenas de forma virtual e quase sempre sem o controlo dos pais, por isso sujeitos a aliciamentos, a fraudes e a outras coisas bem negativas que conduzem a dramas que os media nos vão relatando diariamente. Não nos parece, nem aos especialistas, que seja a forma mais saudável e já há casos de dependências e preocupações futuras quanto a problemas de saúde, em postura, visão e outras decorrentes de horas a fio passadas frente aos monitores das novas tecnologias.
 
 No meu tempo é que era, mesmo que nem tudo fosse bom ou positivo, mas sendo agora as coisas diferentes em muitos aspectos para melhor, parece-me que há perdas irrecuperáveis como a partilha, o companheirismo, a interacção, a brincadeira física e o ar livre, aspectos sempre salutares ao desenvolvimento infanto-juvenil.

Estas coisas vão sendo diagnosticadas e reflectidas, mas parece que não há volta a dar na sua melhoria e não se pode esperar muito das famílias nem das escolas, infelizmente pilares que têm vindo a perder alguns dos valores que poderiam contribuir para um adequado equilíbrio (a palavra chave em tudo isto) entre as coisas boas do nosso tempo e as muitas coisas boas do tempo de agora.

 Assim sendo, siga a rusga que o que for há-de ser.

9 de fevereiro de 2017

Santa Casa da Discórdia

Ao Departamento de Jogos da Santa Casa da Misericórdia, por leis, regras e regulamentos tudo se permite. Até a suspensão das apostas no seu mais recente jogo o "Placard" referente ao evento de futebol da nossa I Liga, entre o Feirense e o Rio Ave (resultado: 2-1). Supostamente por ter detectado um valor atípico de apostas, falando-se em cerca de meio milhão de euros, 100 mil só de um cidadão chinês.
 
Acontece que esta suspensão, embora prevista nos tais regulamentos protectores da nossa santidade da jogatana, implica uma suspeição que penaliza ambas as equipas participantes, o Feirense e o Rio Ave, seus atletas e dirigentes. Tal ocorrência estará a ser investigada pela Judiciária. Mas cheira-me, no entanto, que se essa investigação não der em nada e assim as equipas e seus jogadores ficarem ilibados, a Santa Casa certamente lavará as mãos e nem um chavo pagará por suspeições graves infundadas. Deveria, obviamente ser responsabilizada pelos clubes por ter posto em causa o seu bom nome e imagem, mesmo que indirectamente e ao abrigo de regulamentos. Mas, pelo que se tem visto até aqui, também parece que os clubes não vão fazer grande alarido porque certamente também recebem a sua quota leiteira da mama da Santa Casa.
 
Veremos se será assim, mas o mais natural é que tudo isto não dê em nada e não dará em nada porque simplesmente a Santa Casa suspendeu as apostas não por fundadas suspeições de fraude e corrupção por parte das equipas e alguns dos seus jogadores mas tão somente para não ter prejuízo, De resto a promotora do "Placard" terá admitido que a decisão de suspensão das apostas referentes ao jogo referido residiu essencialmente no elevado risco financeiro face ao atípico volume de apostas. Ou seja, sempre que haja riscos de elevados prejuízos, suspende as apostas como se um jogo não fosse precisamente isso, risco de perder e possibilidade de ganhar.

Afinal o Departamento de Jogos da Santa Casa existe para ter enormes lucros e não para correr riscos nem prejuízos. Estes ficam sempre por conta dos apostadores.
Vamos aguardar e ver no que dá este caso, mas aposto que não vai dar em nada. Quase que seria capaz de apostar 100 mil como o tal chinês.


11 de novembro de 2016

O TRUMPete ganhou ao violino

A surpresa da vitória de Trump só o é porque as sondagens foram escondendo uma realidade. Os grandes derrotados não são Hillary Clinton nem os media nem o show business que claramente a apoiaram, mas sim as sondagens e quem as manipulou ou fabricou ao longo da campanha. Era mais que expectável que a maioria dos americanos alinhasse no discurso radical e de um regresso ao velho west. Depois desta noite, que crédito terão as sondagens e quem as produz? Nenhum.
De resto, era esperada esta vitória de uma América dividida e cansada de gente soft, carreiristas com formação militar e política, vinda de cargos de governadores de estado e senadores, mas manipulada pelos lobies, poderes e sistemas.
Obama pareceu ser uma lufada de ar fresco com o seu "Yes, We Can", mas que afinal, terminado o seu duplo mandato, se revelou pouco mais que um "after all, we can do nothing". Fica para a história apenas como o primeiro presidente negro, por ter uma família simpática e um cão-de-água português.
Confesso que não me agrada de todo a vitória de Trump, mas porventura estaria pouco optimista se tivesse ganho Hillary. Mas, queiramos ou não, temos que estar preocupados pois é incontornável a importância do que os Estados Unidos possam ou não fazer no contexto europeu e mundial.
Esperemos que apesar do radicalismo que demonstrou durante a campanha, Trump ganhe algum sentido de Estado e que não se revele apenas um maníaco à solta pela Casa Branca. Seria mau de mais, com tantos brinquedos de guerra ali à mão de semear e botões vermelhos por carregar.

- A. Almeida