Iluminação de Natal 2023 - Igreja matriz de S. Mamede de Guisande
Entrados em Dezembro e com o início do Tempo do Advento, como caminho de preparação para o dia grande e renovado do Natal, em que Jesus renasce como modelo de um caminho novo, já estamos em contagem decrescente. Ao Natal mercantilista e mesmo desprezado nos seus valores constituintes, como se fora apenas um banal entretenimento e comércio, há que responder com a preservação dos bons velhos e sempre actuais valores do Evangelho.
A imagem acima é da coroa do Advento feita cá por casa. Simples e com os elementos vegetais tão tradicionais, incluindo o azevinho e outras bagas cá do próprio jardim.
A Catequese da paróquia de S. Mamede de Guisande leva hoje a efeito o seu tradicional Magusto, coincidindo neste ano de 2023 com o próprio dia de S. Martinho, 11 de Novembro.
Pelas 14:30 horas será celebrada a missa na capela do Viso seguindo-se o convívio.
Como as coisas na realidade já pouco têm de tradicional, as castanhas já serão servidas assadas e limpas, desenfarruscadas, sem cinza, pelo que as velhinhas fogueiras de moliço de pinheiro são coisa do passado. De resto o tempo também tem andado molhado e o Verão de S. Martinho não se vislumbra, pelo que o Centro Cívico estará de portas abertas para o convívio.
Como memória de tempos passados, na fotografia acima, o grupo da Catequese num magusto também no monte do Viso, no dia 27 de Novembro de 1960, por isso há quase 63 anos. Ao fundo percebe-se a escola primária, hoje em dia integrada no Centro Cívico..
Conforme é público, dos elementos nomeados pela Comissão de Festas cessante, Henrique Cunha - Juíz - Fornos, Márcio Silva - Tesoureiro - Casaldaça, Raúl Almeida - Secretário - Casaldaça, Carlos Oliveira - Vogal - Gândara, Vera Henriques - Igreja e Ana Catarina Bastos - Casaldaça, apenas as duas raparigas, mordomas, se dispuseram a assumir. Os elementos masculinos não assumiram, por diferentes motivos pessoais, mais ou menos fundamentados, mas todos legítimos, porque em rigor ninguém é obrigado a assumir, tanto mais quando por contextos pessoais ou profissionais inconciliáveis.
Felizmente, com um ligeiro atraso mas ainda a tempo, surgiu uma lista de elementos voluntários e voluntariosos, alguns deles que já haviam exercido a função em anteriores edições, como é o caso do Nelson Valente (que organizou em 2007), o Carlos Almeida e o Johnny Almeida (que organizaram em 2020/2022).
Merecem, pois, particularmente os que são repetentes na organização, um voto de louvor e todo o apoio e colaboração da comunidade.
Com a natural perda de população na freguesia, alguma erosão e desinteresse pelos nossos valores tradicionais, e com uma franja da população que nela vive mas não se integra nem socializa, pouco disponível para actos de cidadania, começa de facto a ser muito difícil, de acordo com as antigas regras, nomear comissões de festas e sobretudo que estas aceitem a função com sentido de dever e de preservação desta nossa tradição.
Por conseguinte, com um grupo mais alargado de elementos, como agora no caso, as diferentes tarefas e acções de angariação de verbas e até mesmo nos próprios dias da festa, serão menos difíceis e não haverá uma sobrecarga de trabalhos e responsabilidades pelos seus elementos.
Em resumo, parabéns ao voluntarismo do grupo que se dispôs a esta responsabilidade, e agora é colaborar e ajudar. De minha parte, para além da oferta fico ao dispôr da equipa no que me for possível, como desde sempre, quando solicitado.
Segue-se a lista.
Nelson António Alves Valente - Juíz - Rua da Fonte
Manuel Victor Santos Bastos - Tesoureiro - Rua da Fonte
Jacinto da Conceição Fonseca - Secretário - Rua de S. Lázaro
João Pedro Valente Lopes - Vogal - Rua de Cimo de Vila
André Dinis de Almeida e Sá - Vogal - Rua 25 de Abril
Carlos dos Santos Almeida - Vogal - Travessa de Fornos
Johnny Davis Baptista de Almeida - Vogal - Rua das Quintães
Sandro Nuno Costa Mota - Vogal - Rua da Ponte
Rufino Alves Valente - Vogal - Rua de Cimo de Vila
Ana Catarina Silva Bastos - Juíza - Rua da Fonte
Vera Lúcia Ferreira Henriques - Procuradora - Rua da Igreja
Visita Pascal na nossa paróquia de S. Mamede de Guisande. Num bonito dia de Primavera, foram três equipas que percorreram da forma habitual as ruas e lugares da nossa freguesia levanda a cada casa (às poucas que abrem) a mensagem de Cristo Ressuscitado.
A visita pascal ou Compasso, é uma tradição importante na nossa comunidade como em muitas outras, mas bem longe da importância e vivência que se lhe dava noutros tempos. Nas zonas urbanas já pouco significado tem porque as pessoas são desconhecidas sentre elas, mesmo que vizinhas da mesma rua, do edifício ou andar. Vai ainda resistindo nas zonas mais rurais e menos povoadas, como Guisande, mas mesmo aqui já sem o fulgor e autenticidade de outros tempos. Aos poucos algumas das marcas que definiam esta tradição foram-se perdendo e agora só mesmo em serviços mínimos.
Apesar disso, para quantos participam dedicadamente nas equipas e para quantos abrem com alegria as suas portas, ainda é possível sentir o essencial da mensagem de que Cristo ressuscitou! Ainda os momentos de partilha e convívio familiar no que é sempre positivo. Esses são sempre valores que importa manter e dignificar.
Parecendo que não, passam dez Páscoas sobre o ano em que tive o privilégio e orgulho de ser o Juíz da Cruz na nossa paróquia de S. Mamede de Guisande.
Acima, duas imagens da pagela que então mandei imprimir e que se distribui pelas diversas casas que receberam o Compasso. Foi um dia bonito, apesar de alguma chuva.
Na Segunda-Feira, lá organizei o tradicional Almoço do Juíz da Cruz, que depois do encerramento do restaurante "O Algarvio", ocorreu no lugar do Pomar em Gião. Consegui reunir à volta de 120 pessoas.
Infelizmente, esta tradição parece que terminou de forma inglória e neste ano já não se realiza. Não acredito que venha a ser retomada e mesmo que sim, nunca mais será a mesma coisa. Uma árvore depois de abatida jamais poderá ser posta de pé e trazida à vida. E esta árvore da nossa tradição, tinha já muitos anos.
Cristo Ressuscitou! Aleluia!
Pequeno almoço na Casa do Pão de Ló de Arouca e compra do próprio, na versão tradicional e húmido e ainda a companhia dos melindres e amêndoas caseiras. Há tradições que ainda valem.
De partida tristinha mas não totalmente inesperada, porque após maleita prolongada, "bateu a bota" na nossa comunidade o Sr. Almoço do Juíz da Cruz, dono de uma mui antiga e respeitável tradição da nossa não menos velhinha paróquia.
Tinha já uma vetusta idade, pelo que o ancião já há algum tempo, principalmente devido à pandemia, vinha dando sinais de debilidade, em certa medida por alguns maus tratos de alguns paroquianos mais ariscos e menos dados a estes sentimentalismos de comunidade, que se recusaram a dar-lhe os devidos tratamentos, negando-lhe mesmo, alguns, o dever cristão de o amparar, deixando-o abandonado à sua sorte.
Merecia bem mais respeito este nosso velho ansião, até porque ainda eram muitas as pessoas de sua relação, que o estimavam, mas as coisas complicaram-se e acabou mesmo por ser deixado à sua sorte.
As exéquias não têm dia nem hora marcada porque provavelmente será congelado e exposto numa vitrine do melhor cristal de Alcobaça, para que os paroquianos mais sensíveis lhe possam prestar as devidas homenagens e expressar as saudades e ainda na ténue e cristã esperança de que um dia possa milagrosamente ressucistar do reino das tradições desaparecidas e voltar ao convívio dos vivos.
Tenhamos fé! Amém!
Pessoalmente, num tom mais sério, fico algo triste, porque completam-se neste ano de 2023 precisamente 10 anos após o ano de 2013 em que com ele convivi proximamente e nessa altura ainda estava forte e pujante e em seu nome conseguiu reunir 120 almas masculinas à volta de uma mesa farta no que foi um bom convívio e reviver dessa velha tradição que nos honrava.
Horários dos serviços religiosos marcados para esta Semana Santa na nossa paróquia de S. Mamede de Guisande. Todos os serviços na igreja matriz:
- Quinta-Feira, 6 de Abril - 20:00 horas - Celebração da Ceia de Cristo e cerimónia do lava-pés- Segue-se vigília.
- Sexta-Feira, 7 de Abril: 20:00 horas - Cerimónias de Sexta-Feira Santa, seguida de Via Sacra.
- Sábado, 8 de Abril: 20:30 horas - Missa de Vigília Pascal
- Domingo, 9 de Abril: 08:00 horas - Misse solene de Páscoa - Segue-se a saída do Compasso Pascal, aproximadamente pelas 09:30 horas, com 3 Compassos e da forma e percursos habituais.
Num tempo em que algumas das nossas tradições se estão a desfazer, outras ainda subsistem, como comer um cozido-à-portuguesa no dia de Carnaval, marcando simbolicamente o tempo de Quaresma que começa precisamente no dia seguinte, Quarta-Feira de Cinzas.
É certo que um cozido-à-portuguesa com carnes caseiras é um prato já raro eonde ainda é possível, é paga a peso de ouro, mas com algum cuidado e pre-preparação, incluindo salga e aplicação de algumas horas de fumo, ainda é possível um vislumbre dos sabores e saberes dos antigos cozidos, quando era comum acriação de porcos que comiam das sobras e do que a terra dava.
Mas não tenhamos ilusões: daqui a mais uma ou duas décadas o prato tradicional neste dia de Carnaval será constituiído por pizas, atum em lata, salsichas, hamburgueres e outras fasts-foods tão do agrado das novas gerações. É o que é e não há volta a dar!
A tradição da Páscoa na nossa paróquia e o papel do Juiz da Cruz no contexto da mesma, está em agonia ou mesmo já sepultada. Abandonada que foi a velhinha tradição do processo de eleição ou escolha, foi solicitado de forma reiterada à comunidade que alguém se voluntariasse para tal cargo. Não sei se apareceu alguém e quem, mas tudo indica que ninguém, pelo menos reunindo os critérios que pautavam a escolha, desde logo pelo critério de nunca ter sido juiz.
Pode-se assim dizer que a paróquia e mesmo a freguesia aos poucos está-se a descaracterizar no que de tradições se orgulhava e parece não haver volta atrás. É certo que as coisas têm que ser adaptadas aos novos tempos e circunstâncias mas parece mais que evidente que essa adaptação é mais no sentido de atenuar os estragos e de ajustar as coisas às limitações do que propriamente uma renovação com enriquecimento e valorização.
Todos somos responsáveis desta letargia porque desde a morte do Pe. Francisco, já há 25 anos, que a paróquia nunca encontrou um rumo certo, congregador e agregador. Foi meio século de descaractrização, de erosão e perda dos valores tradicionais de que nos orgulhavam enquanto comunidade. Parece-me, repito, que responsáveis somos todos nós, mas em muito também pelos critérios da Diocese e suas autoridades que olham para estas coisas das paróquias apenas como fontes de receitas.
No que respeita a esta tradição da Páscoa e do Juiz da Cruz, a coisa foi-se e já nada será como dantes. Os caminhos que vinham a ser seguidos só podiam dar a este destino. Desvalorizamos as coisas, desleixamo-nos e até alguns de nós andamos a mandar cartas registadas dirigidas à Comissão Fabriqueira a demitir-nos dessas responsabilidades como se nada tivéssemos a ver com elas. E não por razões de fundo mas tão somente por não gostarmos de assumir compromissos, de canseiras, de responsabilidades. Quem assim pensa e age não tem qualquer sentido de vivência em comunidade. É um direito legítimo de cada um, certamente que sim, mas que em muitos aspectos empobrece uma comunidade. É uma filosofia de "cada um por si".
Assim vamos indo e andando e esta freguesia não tarda a não ter ponta por onde se lhe pegue no que diz respeito à sua antiga e forte identidade e personalidade. Certamente que por sinais dos tempos, num contexto e realidade de estagnação em que damos conta que por ano morrem uma dúzia de pessoas (e só nos últimos 2 meses foram metade disso) e quanto a nascimentos apenas ou ou outro como amostra. Já se adivinha onde vamos parar.
Numa altura em que se aguarda pelo desfecho do processo de pedido de desagregação da nossa freguesia da actual união, é de questionar que caso a coisa seja concretizada, quem é que dará a cara e o corpo ao manifesto e ao exercício de cidadania para liderar e defender os interesses da freguesia e da sua população? Porventura os mesmos que mandaramn cartas a demitir-se de outras responsabilidades? Quem apenas vive para si, como se a responsabilidade de cidadania e serviço público seja um dever e obrigação apenas dos outros? Mas quem são os outros? Os outros não serão também cada um de nós?
Pessoalmente, nesta matéria, não dou lições de moral a ninguém mas também as dispenso receber de outros porque creio que já fiz a minha parte no que diz respeito a participação na comunidade e na cidadania: Fiz parte de Grupo de Jovens, fiz parte do grupo de Leitores, só não fui Ministro da Comunhão porque a seu tempo alguém não quis, fiz parte do Grupo Coral, fiz parte da LIAM, fiz parte das comissões de festas de todas as festas religiosas, fiz parte da Comissão de Festas do Viso, fui Juiz da Cruz, fiz parte de duas associações culturais e da direcção do Guisande F.C. Colaborei com as diversas Juntas de freguesia em diversos momentos e acções e participei em eleições e fiz parte de uma Junta de Freguesia, mesmo que em condições difíceis. Apesar disso, sempre que posso e sou solicitado, procuro ajudar e contribuo para as despesas e eventos religiosos ou outros.
Como disse, não é nada de mais e muitos mais guisandenses também tiverem e têm este tipo de participação cívica e comunitária, mas tomara que todos, tanto os que ainda nada fizeram como os mais novos, tenham pelo menos alguma desta intervenção. Mas sabemos que tendencialmente não é este o caminho que as pessoas de um modo geral tomam nos dias de hoje. Isso dá trabalho, canseira, perda de de tempo pessoal e até mesmo despesas e, para mal dos pecados, quase sempre sem reconhecimento público e até com críticas, na maior parte das vezes injustas e injustificadas.
Por todo este conjunto de coisas e situações, é que estamos neste estado. Como diria alguém conformado com a situação, "é o que é!" . A ver vamos no que dá mas as perspectivas e expectativas são baixas. Estamos em crise!
Hoje, dia 15 de Janeiro, celebrou-se na nossa paróquia a solenidade do mártir S. Sebastião, que acontece pelo 105.º ano.
Pelas 08:00 horas fez-se a concentração na capela do Viso, seguindo-se a vinda para a igreja em procissão, com os andores do mártir e de Nossa Senhora das Dores, onde teve lugar a celebração da missa dominical.
Tal como o disse num deste dias o meu amigo Mário Augusto, continuo a gostar muito do Natal, pelo que representa de valores cristãos, confraternização familiar e tradição, mas de facto já não é a mesma coisa como nós, os mais velhos, sentimos noutros passados tempos. E não porque antes fosse melhor, no que diz respeito a fartura de coisas boas, das que se põem na mesa e extasiam os olhares; bem pelo contrário, pois por esses tempos tudo o que ía à mesa na abençoada noite, era escasso e custoso. Mas era singular, genuíno e diferente de tudo quanto se oferecia no resto do ano. Além disso, algumas das coisas associadas, só mesmo nessa altura do ano. Claro que ainda o bacalhau, as batatas e couve penca, as rabanadas, a aletria e pouco mais. Bolo-rei era um luxo para burgueses e a criançada animava-se com um rato de chocolate. Gente simples sempre teve gostos simples.
Hoje em dia a fartura e diversidade chega a enjoar e a tirar o apetite e quase que nos leva a desejar que esta quadra passe depressa, que não deixa saudades. Há de tudo e mais alguma coisa com a mesa inundada das coisas do costume e outras exôticas. As prendas são sofisticadas e qualquer pirralho de cinco anos é prendado com um smartphone ou um tablet de boa marca. Para as madames é coisa fina e perfumes só de 100 euros para cima. Já os homens, um vinho onde a qualidade seja o preço. Uma fartazana.
Para além de tudo, no que às tradições religiosas e espiritualidade do Natal diz respeito, a coisa ainda é mais sombria e passar a quadra com uma ida à igreja ou mesmo sequer abrir a alma para um pensamento mais elevado, é coisa que já não vai à mesa de muita gente, o que ajuda a reforçar a ideia de uma mera ocasião para comer, beber e divertir como se ao mesmo nível dum Carnaval. Não é por essa ligeireza que vem o mal ao mundo, concerteza que não, porque é sempre positiva a alegria e o são divertimento, mas nestas como noutras coisas é sempre importante colocar cada uma no seu próprio lugar.
Por tudo isso e mais alguma coisa, o Natal tornou-se escravo do mercantilismo, do comércio e do markentig associado, e os meios de comunicação social fazem o favor de nos lavar o cérebro já a partir de Setembro. Chega a ser um massacre de publicidade, com spots repetidos vezes sem fim como para terem a certeza de que os vimos e ouvimos. Durante semanas andamos a ser encharcados com perfumes a preços do ouro, algemados com relógios da mais sofisticada ourivesaria suiça e mais bucolicamente besuntados com azeites e tentados com postas de bacalhau dispostas na mesa por um tal de David, que também faz carreira nestas coisas de encher e vender chouriços.
Mas pronto, são sinais dos tempos e já não há volta a dar; Ou alinhamos pela velha máxima de que não os podendo vencer, juntemo-nos a eles, ou então já nada sobra do Natal porque atolado nesta torrente de vendilhões.
Posto isto, votos de um feliz e santo Natal para todos os familiares e bons amigos. Para os inimigos, para os invejosos e maldizentes, também um feliz Natal!
Nota à margem: A simples ilustração deste artigo é baseada na que em Dezembro de 1982 rabisquei para a capa do jornal "O Mês de Guisande" (na imagem abaixo), por isso uma memória com 40 anos.
Abaixem-se, submissos, os montes,
Aplanem-se os vales viçosos,
As aves cantem hinos de louvor,
E amansem o trovão e o vendaval.
Fiquem límpidos os horizontes,
Alegrem-se os regatos chorosos,
Porque é nascido Jesus Senhor
No mistério de renovado Natal.
Bom dia, este de tradição
Em celebrar o S. Martinho;
Logo com sol do seu Verão,
Fogueira, castanhas e vinho.
A história da introdução dos bancos nas nossas igrejas por si só daria para uma longa história. Bastará dizer que originalmente as igrejas não tinham bancos e era comum os fiéis participarem nos serviços todo o tempo de pé, o que ainda acontece nas igrejas ortodoxas orientais.
Por esses primeiros tempos uma liturgia comportava várias movimentações. Mais tarde após a reforma protestante e sobretudo por influência da igreja anglicana começaram a ser introduzidos bancos, mesmo fabricados e pagos pelos próprios fiéis que assim os tinham como seus. Nos Estados Unidos, para onde a prática passou, chegou a ser autorizado o aluguer contra um pagamento. Adiante, que esta coisa de bancos nas igrejas daria para uma homilia longa.
Quem frequenta as nossas igrejas e participa nas suas missas, pelo menos com a frequência dominical, sabe que é assim: Há pessoas que ocupam quase sempre os mesmos lugares e têm-nos como “seus”. Ali sentem-se melhor e mais preparados “espiritualmente”. Ou porque mais recatados, num sítio menos exposto, ou o contrário, mais perto ou mais longe dos olhares do padre, ou pela simpatia de quem tem por vizinhos e amigos, até para fugir das correntes de ar, etc. Outros, ainda, meios escondidos nos corredores ou até mesmo com um pé dentro e outra fora da igreja. Há ainda quem, desde que não chova, fique mesmo da parte de fora, e cumpre o preceito sem sequer ver a cara do padre ou a hóstia sagrada.
Seja que por motivo for, essa é uma realidade ainda muito nítida, mesmo que já não tanto como noutros tempos, em que havia uma nítida separação de género, com os homens na parte da frente e as mulheres na de trás.
Na nossa igreja de Guisande, esta realidade também acontece mesmo que de forma já não tão vincada pois com a crescente redução de participantes, os lugares vagos por vezes são mais que os ocupados e assim permite uma escolha mais alargada de lugar.
Mas, claro está, este hábito ou mesmo tradição – chamemos-lhe assim – só é percebida, compreendida e respeitada por quem frequenta com regularidade esses espaços de culto.
Não surpreende, pois, que sempre que vem à igreja alguém de fora e mesmo pessoas mais novas, esporadicamente, por vezes ocupem, sem saber, esses lugares “certos” fazendo com que os habituais tenham que procurar outro e sair da sua zona de conforto. Conheço casos que quando alguém chega à igreja e vê o “seu” lugar ocupado, dá o recado ao ocupante ou até mesmo abandona a igreja. Extremos.
Mas tomando esta situação como uma analogia, podemos extrapolá-la para outras realidades e assim em muitas situações da nossa vida e quotidiano, por vezes lá chegam os mais novos e não habituais e habituados ao “status quo” e tomam o lugar de alguém, sem qualquer incómodo ou esmorecimento.
E, todavia, mesmo que em rigor esses “lugares” não tenham lugar pago e cativo, como nas bancadas de futebol, ficaria sempre bem uma palavrinha, uma satisfação, um saber quem por ali costuma estar. Em resumo, adaptar-se e tomar à letra os ditados “em Roma sê romano” ou mais prosaicamente “à terra onde fores ter, faz como vires fazer”.
Mas nos tempos que correm, essas preocupações respeitosas e decorrentes de tradições pouco ou nada valem. Quem não as conhece nem procura conhecer, naturalmente que lhes passa por cima com a ignorância de um analfabeto a tentar ler sem o conseguir.
É o que é!
Nestas como em muitas outras coisas, cada vez mais menos.
15 de Setembro, o dia grande da festa em honra de Santa Eufémia, na freguesia de S. Pedro do Paraíso, concelho de Castelo de Paiva.
É sempre no próprio dia, seja à semana ou ao fim-de-semana, faça sol ou chova a potes.
Para quem não conhece, desengane-se se está à espera que a capela fique situada no corucho de um monte altaneiro, como o S. Domingos, Santo Adrião, Senhora da Mó ou S. Marcos. Na verdade fica ali numa quase cova, uns metros abaixo da estrada municipal que liga os lugares da Cruz Carreira ao Pejão.
Também perca as esperanças quem está levado em crer que o local é muito povoado e concorrido em qualquer dia do ano, como se fora Espinho, Miramar ou Ribeiras de Porto e Gaia. Na verdade, tirando estes dois ou três dias, conforme se aproxima do fim-de-semana, no resto do ano é ali um sossego quase sepulcral, e nem mesmo o parque, repleto de sombras de frondosas tílias e carvalhos, dado a convívio e piqueniques, recebe gente forasteira em número que quebre o sossego daquela gente.
Mas, verdade se diga, chegados o 14 e 15 de Setembro, a coisa enche a transbordar como uma presa de abundantes águas e nascentes de bifes tão tenros quanto enormes.
Não sou de tradições ferrenhas, mas a verdade é que ali vou com regularidade e devoção há pelo menos 30 anos. E tempos houve em que ia de véspera e no próprio dia.
É esta festa, uma das romarias mais populares da nossa região e que ainda mantém muitas das características antigas. Já não se esventra ali gado, como noutros tempos, é certo, e mesmo os merendeiros já não são tantos, mas há ali ainda muita devoção e popularidade com santidades diferentes mas genuínas.
Pelas características do lugar e dos acessos, não é propício a invasões e instalações de divertimentos infernais e roulotes modernaças com som e luzes, e talvez por isso a coisa ainda esteja um pouco salvaguardada dessa voracidade que caracteriza muitas das nossas festas.
Também, talvez por isso, não é propriamente uma festa de juventude e às tantas, avaliando as caras à nossa volta, já parece mais um encontro nacional de reformados. Mas ainda bem. Para isso os festivais de Verão são mais que as moscas em vacaria e a malta nova no geral prefere cocas colas a canecas de vinho verde e cachorros a bifes à Santa Eufémia. E ali não caberia um palco maior do que a capela.
Ademais, tudo tem o seu tempo, lugar e oportunidade.
Seja como for, cumprida está a tradição e a devoção. Mas até Domingo há tempo e lugar para outras visitas e outros visitantes. Por ora, depois da missa solene, vão animando a tarde a quase bi-secular Banda de Musical de Arouca e a Banda da Associação Cultural e Musical de Avintes.
Quanto a Santa Eufêmia, que se diz protectora sobretudo de quem tem males de pele, era descendente de uma família nobre da Calcedónia, cidade próxima de Bizâncio, actual Istambul na Turquia, por preservar na sua fé a Cristo, foi mártir aos 15 anos, em 304 DC, morta por enormes leões numa cena de martírio no tempo das grandes perseguições aos cristãos, pelo imperador romano Diocleciano.
O seu corpo foi recolhido pelos cristãos e depositado numa pequena igreja. Mais tarde, em 620 DC a cidade foi alvo das invasões pelos persas pelo que o corpo da jovem mártir foi deslocado para outro local e guardado numa nova igreja mandada edificar para o efeito pelo imperador Constantino. Posteriormente, já com o imperador Nicéforo, voltaram as ameaças aos cristãos ao seu culto e símbolos pelo que com medo, os devotos de Santa Eufémia voltaram a fazer nova mudança do corpo para lugar incerto.
Depois disso, reza a lenda que a seguir a uma noite de violenta tempestade o sarcófago com a mártir desapareceu e em Julho do ano 800 acabou por dar á costa do mar Adriático, junto a Rovinj, na Croácia. Os locais abriram o sarcófago e nele observaram o corpo de uma bonita rapariga, vestindo um luxuoso vestido e junto dela, um pergaminho com a inscrição HOC EST CORPUS EUFEMIAE SANCTAE... (este é o corpo de Santa Eufémia, virgem e mártir da Calcedónia, filha de um nobre senador, nascida para o céu em Setembro 16, ano 304 AD...).
Os habitantes locais tentaram retirar das águas o sarcófago mas apesar dos esforços, a tarefa estranhamente parecia impossível e acabou por ser um rapazinho guiando uma parelha de bezerros quem o retirou facilmente e então foi depositado na igreja local, onde na actualidade na sua bela catedral se venera o corpo intacto da santa e mártir a qual atrai anualmente milhares de peregrinos e turistas.
A velhinha Festa de Vila Seca - Louredo. Uma procissão como deve ser: Solene, majestosa, digna e espelho do bairrismo e devoção de uma terra e da sua gente. Por ser tão próxima, é um pouco como a irmã da nossa Festa do Viso, por isso também um bocadinho nossa, de resto numa relação de proximidade que vem de outros tempos..
Depois de um interregno de dois anos (2020 e 2021) devido às restrições decorrentes da pandemia, mesmo que ainda com cuidados e algumas limitações, foi possível realizar a tradicional Visita Pascal com o Campasso dividido em três cruzes a percorrer a nossa freguesia. O dia esteve bonito, com sol e calor, no que ajudou ao serviço.
O Juiz da Cruz, por desistência do correspondente eleito, foi Carlo Alberto de Oliveira Santos, de Linhares - Casaldaça, que se havia voluntariado para a função e que manteve o propósito apesar da pausa.
Ontem, Segunda-Feira de Páscoa, 18 de Abril, teve lugar o habitual Almoço do Juiz da Cruz. Considerando que o anterior local nos últimos anos (desde 2013) havia encerrado, o evento decorreu agora no restaurante "Pedra da Lage", conhecido como o restaurante da Júlia, no lugar do Outeiro, também na freguesia de Gião.
Foram cerca de 80 os presentes, incluindo os participantes no Compasso da Páscoa e ainda o nosso pároco Pe. António Oliveira e também do Pe. Benjamim Sousa que colaborou nos serviços religiosos do Tríduo Pascal. Inclusive ontem de manhã celebrou a missa, muito participada, pelas 10:00 horas.
A sala, numa Cave, não tinha as condições mais adequadas para o número de participantes, obrigando a uma disposição de mesas algo desordenada e com espaços de circulação exíguos. O serviço teve algumas falhas, com atraso entre os pratos, recolhimento de louça e celeridade no fornecimento de bebidas. Ainda um lapso inicial em que a canja como primeiro prato quente a ser servido acabou por não chegar para todos os comensais, como foi o meu caso e de quem me acompanhava numa mesa de 6 pessoas. Algo falhou.
Seja como for, sabemos que nem sempre estas coisas correm pelo melhor sob um ponto de vista de funcionalidade e organização, mas em todo o caso será sempre desejável que saiam tão bem quanto possível de modo a não desprestigiar o evento nem gerar descontentamentos dos participantes menos dados a tolerâncias.
De muito positivo, as presenças do nosso pároco Pe. António Oliveira e do Pe. Benjamim, bem como o facto da tradição ter sido cumprida, tanto mais que depois do tal interregno forçado e indesejado.
Também de enaltecer o voluntarismo e o esforço do Sr. Juiz da Cruz em ter tomado a responsabilidade da função e com ela o arcar das consequentes responsabilidades e canseiras. Parece fácil mas só por quem por elas já passou é que as compreende totalmente.
Quanto à tradição propriamente dita, a do Almoço do Juiz da Cruz, sabemos todos que já teve melhores dias no que respeita à importância e valor que lhe dávamos e que tem sofrido diversas adaptações ao longo dos anos, por um lado devido a algumas inevitabilidades, como a mudança do local do banquete (durante muitos anos na própria freguesia de Guisande e que assim deixou de ser desde 2013), mas também porque enquanto comunidade fomos descurando o interesse da coisa. Mesmo o processo antigo da eleição está praticamente perdido e por desistências e manifestações prévias de não desejarem entrar na escolha, por parte de potenciais candidatos, o certo é que neste momento não há juizes eleitos, quando, dentro da normalidade, deveriam existir pelo menos dois adiantados.
Confesso que não sei qual o modelo que virá a seguir e nem isso me preocupa face à situação de erosão aqui chegada, mas provavelmenete será idêntico ao já praticado em muitas paróquias em que não há propriamente um Juiz da Cruz.
Pessoalmente sinto alguma pena porque apesar de algumas vicissitudes do próprio sistema de eleição, que durante anos chamei à atenção para a necessidade de melhoramento, a tradição tinha alguns aspectos positivos e provinha de raízes que eram muito nossas, muito particulares e que ao fim de todo este tempo, por algum desmazelo e mesmo alguma desconsideração parece estar irremediavelmente perdido.
Teria sido fácil, parece-me, que no devido tempo tivessem sido feitas as alterações que valorizassem e dignificassem o precesso da escolha e eleição, mas nunca foram por aí aqueles que de algum modo tinham responsabilidades. Assim, bem ou mal, eis-nos chegados à situação actual.
Vamos ver no que dá para o futuro e oxalá que pelo menos o espírito pascal se mantenha inalterado e que continue a ser um importante elemento agregador da nossa freguesia e paróquia enquanto comunidade.
Oxalá que sim!