14 de dezembro de 2022

É aguentar!

Andamos todos numa espécia de guerra contra as alterações climáticas e fazemos questão de, invariavelmente, as responsabilizar pelos problemas e prejuízos ocorridos sempre que S. Pedro nos brinda com umas fortes chuvadas. Queixamo-nos se não chove, queixamo-nos se chove ou se nem uma coisa ou outra. Andamos, pois, a confundir o manda-chuva celeste. E, todavia, muitos dos problemas como os agora ocorridos na grande Lisboa, em Faro e noutros locais, resultam ou são agravados tão simplesmente pela mão e intervenção humanas. Mas desta realidade pouco se fala como se fosse uma questão menor.

Em todos os aglomerados urbanos, foi-se construindo ao arrepio das leis da natureza, sobre vales de cursos de água e seus leitos de cheia e mesmo estrangulando ou suprimindo ribeiras, maiores ou menores. Em muitas das nossas cidades, são mais que muitas as ribeiras que correm sobre edifícios e debaixo de ruas. Quantas ribeiras existem a céu aberto em Lisboa ou no Porto? Poucas ou apenas uns curtos troços porque no geral estão entubadas.

Mesmo no nosso concelho da Feira, os exemplos dessa prática são mais que muitos. Veja-se no centro da cidade sede o rio Cáster a correr estrangulado em ambas as margens por entre edifícios.

Durante décadas construiu-se ao desbarato, sobre linhas de água ou à face das suas margens. Ocupam os leitos de rios e ribeiras, habitações, fábricas e armazéns. 

Só não vê quem não quer. Mesmo aqui em Guisande permitiu-se num passado recente, e já sob a égide de um PDM, que uma unidade industrial nascida de forma clandestina, cobrisse largas dezenas de metros do curso de um regato que no inverno é um rio. E, pasme-se, dizem que foi legalizada.

Agora, numa reviravolta, para se edificar um simples muro de vedação tem que se respeitar pelo menos 5 metros de afastamento, mesmo que a linha de água, em rigor, por vezes não seja mais que um simples rego de rega.  Diz o povo, com razão, que não há fome que não traga fartura. Nisto, do ir dos 8 ao 80, somos todos uns ases. 

Entretanto, claro está, como dizia por estes dias o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. Carlos Moedas, não se pode mudar a geografia da cidade. Pois não! Nem de Lisboa, nem de Faro, nem de Águeda, nem do Porto nem da Feira e por aí fora. Por isso, não se queixem apenas das alterações climáticas mas das muitas asneiras e burrices que tantos autarcas permitiram sem qualquer veleidade. 

É caso para se dizer: - Fizeram merda, agora é aguentar!


[foto: O Observador]

12 de dezembro de 2022

Era bom que chovesse

Era tão bom que hoje chovesse,

Esta míngua de tudo inundasse

Até que o céu de novo rompesse

E lá de cima o sol espreitasse.

11 de dezembro de 2022

Grupo de Jovens de Guisande - 1.º aniversário

 


O Grupo de Jovens de Guisande celebrou ontem, 10 de Dezembro, o seu 1.º aniversário. Tal como o fez o nosso pároco, Pe. António Jorge, endereçamos os parabéns e que o grupo possa ser frutífero  em todas as frentes da sua acção na paróquia, na amizade, na partilha, nos relacionamentos humanos, no crescimento e amadurecimento da fé, mas também inclusivo e integrador de muitos mais jovens que andam deslocados destas coisas da igreja, da comunidade e da paróquia.

Em rigor, este primeiro aniversário refere-se em concreto a esta geração de jovens, já que na realidade a paróquia mesmo que com interregnos, em diferentes tempos foi tendo diversos grupos de jovens, num dos quais fiz parte pelo início da década de 1980. Um dos pontos fracos a todos eles foi a incapacidade de ser dada continuidade geracional. Por conseguinte, a experiência tem mostrado que estes grupos mais cedo ou mais tarde, acabam por ser interrompidos quando não há uma renovação que permita colmatar com entradas de novos elementos  aqueles que por motivos diversos, incluindo a idade, vão saindo. Em todo o caso, mesmo nesta realidade de algo que não tem perdurado, é sempre positivo enquanto dura e por isso é importante que haja uma entreajuda e colaboração entre o grupo e a comunidade para que no fim das contas o saldo seja sempre positivo.

Bem hajam e votos de boa continuação na caminhada, nomeadamente na etapa que será a vivência da Jornada Mundial da Juventude no próximo ano em Lisboa.

9 de dezembro de 2022

Assembleia de Freguesia - 22 de Dezembro de 2022

 


Dar ao radar


Acho piada quando pelas redes sociais há malta bondosa a informar onde há radares de detecção de velocidade. Na mesma onda, a todos quantos criticam a "caça à multa".

Bem vistas as coisas, não há dúvida que o Estado é um caçador nato e tanto é assim que parece que acabou de investir milhões em mais armas pesadas que tanto detectam a velocidade máxima como a média.

Mas, por outro lado, a ter em conta o que em cada dia vamos vendo nas nossas estradas, em que as velocidades definidas são totalmente desrespeitadas, o que até é criminoso dentro das localidades, como acontece, por exemplo, na Rua Nossa Senhora de Fátima, da Leira à Gândara, em boa verdade devia haver um radar para cada português ou então os próprios veículos terem incorporados sensores de velocidade que em tempo real forneceriam os dados ás autoridades. Talvez aí fosse possível que as nossas estradas locais deixassem de ser autoestradas.

Ainda no Domingo passado, circulava eu pela nova variante no sentido Escariz-Pigeiros e alguém atrás de mim "cagou" na velocidade máxima indicada e ultrapassou-me a alta velocidade transpondo não uma mas duas linhas contínuas, quando o poderia fazer de forma adequada 200 metros mais abaixo. Pergunta-se: O que é que um caramelo destes merecia? Deve ser avisado da proximidade de um radar, ou dar-lhe sinais de luzes a avisá-lo que à frente está a patrulha da GNR a mandar parar?

O espírito da coisa

No mínimo acho piada quando vêm falar e enaltecer o "espírito da nossa selecção de futebol", mostrando fotografias dos jogadores a abraçarem-se, o Pepe a enfiar subalternamente a braçedeira de capitão ao CR7, e por aí fora com os habituais lugares comuns.

Confesso, que mesmo não sendo muito espirituoso, tivesse eu o prestígio a fama e sobretudo o proveito dessa condição de jogadores, pagos todos a peso de ouro, e com bons prémios à espera dos resultados, também eu estaria todo imbuído desse espírito.

Vá lá, divirtam-se, mas poupem-nos!

8 de dezembro de 2022

Que hei-de-fazer?


Que hei-de fazer se me moldaram assim, a vida, os pais, a sociedade? Gostos não se discutem e, além do mais, mudar os nossos gostos para alinhar com os demais, já é pedir muito. Era só o que faltava andar a dançar ao ritmo do politicamente correcto!

Já não tenho paciência nem idade para mudar assim tão em contratempo. E depois uma coisa leva à outra: Não tenho paciência porque a idade já não a permite nem a idade tem espaço para a acomodar.

Assim, em rigor estou-me borrifando para pasmos ou narizes torcidos quando elenco algumas das minhas antipatias. Gosto da maior parte das coisas e das pessoas boas, honestas, generosas, simples, humildes, inteligentes, práticas e assertivas. 

Gosto e aprecio uma mulher elegante, bem vestida, sem piercings, tatuagens ou pinturas, mas apenas o veludo puro da sua pele; aprecio as rugas de quem as tem pela força da idade e das canseiras; simpatizo com gente harmoniosa, equilibrada, de concensos; aprecio uma obra prima ou despretenciosa, nas artes plásticas, na música, na literatura ou nas ciências. 

Mas, claro está, também não gosto de muitas coisas e de algum tipo de pessoas: gente egocênctrica e vaidosa como se os seus umbigos sejam os centros do universo; gente presunçosa, mesquinha e invejosa; gente tatuada, não para si mas para os outros; gente com argolas no nariz, nas orelhas, na língua e sabe-se lá mais em que reentrâncias; gente que compra calças rotas; pessoas que andam com as calças como se o traseiro seja nos joelhos; pessoas a mostrarem as cuecas ou o rego do cú; homens idosos que se vestem como se tivessem 16 anos; gente que paga caro por roupa de marca e ainda orgulhosamente lhe faz publicidade de borla;  gente que paga balúrdios em futebol para ajudar a manter ordenados principescos a uma classe de elite e comissões escandalosas a corjas de dirigentes oportunistas; políticos que se governam com ares  de honestos; pessoas que se expõem nas redes sociais como se as suas vidas, andanças ou carinhas felizes, tenham um interesse superior para os outros ou expõem de forma excessiva os seus estados de alma, a sua mais recôndita intimidade ao voyeurismo alheio. 

E mais não escrevo porque ficaria longo o texto. 

E, contudo, todos têm esse direito e liberdade de serem quem são, como são, como vivem, se vestem, despem, ou como se comportam. Não sou de todo contra essa liberdade e direitos, mas tenho igual direito e liberdade de não gostar, de não apreciar. De resto, essas minhas antipatias ou arrelias, são apenas íntimas e a terceiros não causam mal ou prejuízo algum. É apenas uma coisa interior. Mesmo este texto, é generalista e não aponta o dedo a alguém nem fornece chapéus para serem enfiados.  Além do mais, desse grupo de coisas ou predicados com que não morro de amores, até tenho amigos e pessoas que bem considero. A coisa não é, por isso, pessoal nem de preconceitos radicais. Apenas porque não vão de todo à minha mesa.

Em resumo, até mesmo nestas coisas de exprimirmos, ou não, as nossas antipatias, os nosos gostos, andamos muito castrados, porque os cânones do politicamente correcto são já uma pandemia das nossas sociedades ditas desenvolvidas e por eles há gente que apenas sendo o que são e dizendo o que pensam, perde os cargos, empregos, negócios, amigos, etc, etc. 

Mesmo que não oficialmente, temos por todo o lado uma invisível polícia de nova moralidade, só que esta, já subvertida ou invertida. Parecem opostas, a da moralidade e a do politicamente correcto,  mas na realidade são a mesma coisa, porque ambas castram, mesmo o direito de se não gostar.