16 de outubro de 2020

Espontaneidade

 “As medidas só são autoritárias se as pessoas não as fizerem já, espontaneamente.” 

Parece que a frase foi proferida pelo nosso Primeiro Ministro, António Costa. Custa a acreditar, mas foi mesmo, esta quinta-feira, à margem de um encontro em Bruxelas e a propósito da intenção do Governo em tornar obrigatória a instalação nos telemóveis da aplicação portuguesa com um nome estrangeiro "Stayawai Covid" bem como penalizar quem o não fizer.

Aparte a questão da constitucionalidade, que constitucionalistas já disserem que não respeita, bem como da Comissão Nacional de Protecção de Dados, arrepia esta simplicidade da declaração porque desde logo abre lugar a outras considerações que podem parecer exageradas mas vai dar ao mesmo porque têm o mesmo significado. Uma delas, explorada nas redes sociais é precisamente esta: Com a argumentação do Costa, pode-se concluir que as mulheres violadas só o são porque não aceitaram espontaneamente o acto.

Decididamente, começa a faltar paciência para certas coisas. Mas importa não as aceitar "espontaneamente, sob pena de alinharmos na carneirada.

15 de outubro de 2020

Ó Costa, o crime ainda compensa


Já todos percebemos que o Governo se prepara para obter receitas extraordinárias, algumas delas com a aplicação de multas de trânsito e coimas decorrentes da pandemia. Só nas multas de trânsito, Costa e os seus acólitos preveem para 2021 um aumento de 5500% em relação a 2020.

Já percebemos que o Governo se prepara igualmente para lançar para o cano de esgoto o direito da privacidade, defesa e protecção de dados, ao pretender obrigar os cidadãos a instalar uma aplicação que lhes vigia os passos bem como a obrigar as autoridades a consultarem os dados e a terem acesso ao telemóvel e daí aplicar coimas pesadas caso não se mostrem "cumpridores". Apesar do entendimento negativo da Comissão Nacional de Protecção de Dados, a coisa pode vir  mesmo a avançar. Para já vão dizendo que "é uma tentativa". Veremos ate onde vai a tentação.

Tudo isto parece surreal, digno de um grande Big Brother, não da TVI mas de George Orwell já previsto em 1949. De resto, é apenas uma especulação, mas COVID rima com PIDE.

Pela sua natureza e violação dos direitos salvaguardados na Constituição, a coisa ainda vai fazer correr alguma tinta, mas o mais certo é que a maioria dos cidadãos aceitem estas medidas como gado manso e inocente a caminho do matadouro.

Paradoxalmente, o Governo e as autoridades desleixam-se no combate à corrupção e fuga aos impostos. Basta dizer que, no nosso concelho, e certamente nos demais, há, diria, milhares de habitações habitadas e sem licença de utilização e prédios que nas Finanças ainda pagam IMI de apenas terreno para construção quando na realidade já têm habitações em utilização plena há dezenas de anos. 

Mais tarde, quando por algum arrepio de consciência, tais proprietários decidirem declarar a construção, vão ser "castigados" com o pagamento do IMI dos últimos quatro anos. Ora para quem durante 10, 15 ou 20 anos ou mais esteve nesse incumprimento, o crime e o incumprimento compensam. Porque pagar 100, 130 ou 150 euros anualmente durante vinte anos,  convenhamos, que é diferente de pagar 300, 400, 500 ou mais. Como diria o Guterres "...é só fazer as contas".

Mas é assim que as coisas vão indo. O crime fiscal ainda vai compensando. É sempre mais fácil ir à carteira de quem é manso e cumpridor.

14 de outubro de 2020

Ditadura democrática

 Se há coisa que a pandemia veio trazer, foi o gosto por proibir. Quem manda ou tem algum tipo de poder, político, social ou administrativo, encontra na proibição um acto de demonstração desse mesmo poder. O problema nem será proibir, porque também é preciso, mas quando se generaliza e a coisa vai a eito, tantas vezes sem fundamentos fundamentados, passe o pleonasmo, mas só porque faz parte da onda.

Ora por estes tempos as coisas parecem ir nesse sentido, e depois de tudo quanto proibiram ou limitaram preparam-se para mexer com coisas que ainda dizem muito às pessoas, enquanto ser material mas espiritual. Será o caso de alguns municípios que já avançaram ditatorialmente para o encerramento dos cemitérios, impedindo, no início de Novembro a celebração dos ente-queridos nos locais onde estão sepultados. Sem meios termos, sem regras, sem condicionantes que possam parecer equilibradas e proporcionais. A eito. Cadeado à porta.

Parece que já há ditadores a preparar a proibição ou restrição da celebração do Natal. O que virá a seguir?

Apetece assim  perceber a génese das ditaduras. No fundo, em cada um de nós, que manda ou exerce poder, coabita um pequeno ditador. Pode ser insignificante mas se lhe derem corda a coisa descamba e com tempo e espaço não faltarão por aí rivais dos velhos generais.

Mas soa a estranha esta ditadura, e isto porque ao contrário da ditadura pura e dura, que se impõem por si, esta,  a actual, parece legitimada pela democracia. 


12 de outubro de 2020

Estranhos tempos


Sabemos que as coisas não têm andado bem no que toca ao nosso SNS - Sistema Nacional de Saúde. Nunca andaram e temos essa percepção na justa medida da importância que lhe damos.

Sabemos que esta situação de pandemia associada à Covid-19 veio complicar e trocar as voltas ao sistema. De um inicial "estamos preparados", com o aumento dos casos de infecção, cedo se percebeu que a suposta "preparação" assentou em canalizar os meios para essa nova narrativa, descurando-se quase por completo todas as restantes ocorrências de saúde. Os números têm sido divulgados com o adiamento, cancelamento de milhares de actos médicos, desde consultas e exames a tratamentos e cirurgias. Ninguém sabe ao certo, ou não quer saber ou que se saiba, quantos mortos decorreram deste desleixo ou mudança de paradigma do SNS. Sabe-se, isso sim, que para além dos "importantes" casos de mortes associados à Covid-19, há milhares de mortes acima da média de idênticos períodos de anos transactos. Mas quanto a isso assobia-se, como se o cancelamento de todos os actos médicos não possam corresponder a aumento efectivo de falecimentos. 

Esta percepção geral é de quem está por fora e vai analisando as coisas com base nas notícias e números e mesmo de testemunhos de terceiros. Mas na primeira pessoa a coisa tem um impacto ainda mais avassalador. Ainda ontem, decorrente de um caso de urgência médica num hospital da nossa zona, percebi que no geral as pessoas são tratadas quase abaixo de cão (e estes são cada vez mais bem tratados), não por desrespeito dos funcionários, mas pelas limitações e protocolos impostos pela tal narrativa do medo e do SNS a funcionar quase exclusivamente para a pandemia.

Mesmo num dia de aparente baixa afluência, um Domingo, percebia-se que as pessoas, familiares e acompanhantes são cartas fora do baralho, enxotadas para o exterior, para o sol, frio vento ou chuva, sem cadeiras, sem condições. Fico na certeza de que são melhor tratados e atendidos aqueles estrangeiros que de forma ilegal e clandestina arribam às praias do Algarve. 

Quanto a informações, só de duas em duas horas a quem tem que esperar numa fila no exterior e sujeitos às agruras do tempo. Lá dentro, para os doentes, a atenção é reduzida quanto baste. São diagnosticados sem grandes atenções, exames, quando muito uma rápida análise ao sangue e despachados se possível pelo próprio pé.

Mas os serviços, tal como tudo quanto é repartição pública ou ligada à administração do estado e autarquias, estão-se a dar bem com este atendimento quanto baste, por marcação, sem alaridos, sem pressões, sem multidões. Os utentes, os contribuintes, como carneiros, têm estado açaimados neste sistema a conta gotas e não surpreenderá que daqui a algum tempo se percam as estribeiras e as coisas possam ficar feias com pequenas revoluções e desordem popular. 

Mas por ora é assim, mesmo que o "papagaio-mor" da nação vá agoirando que porventura "será preciso repensar o Natal". Se calhar temos é que repensar em mudar quem por ora nos vai dando ordens. Vamos, pois, estando todos a marcar passo e expostos a serviços mínimos mesmo no que de mais essencial temos, o direito à assistência médica e hospitalar. Podemos morrer à vontade. Conveniente será que não por Covid porque isso gera alarme.

Já agora, pensei que quem dá entrada nas urgências com sintomas que podem estar associados à Covid-19 tivesse que efectuar o teste, mas, afinal, não. A pressa, essa velha inimiga da perfeição, é demasiada. Siga! Próximo!

Estranhos estes tempos em que revoluções precisam-se.


[foto: fonte]

6 de outubro de 2020

Pavimentações de ruas


 A Câmara Municipal tem a decorrer em todo o concelho a repavimentação de várias ruas. 

Inseridas nesse pacote de obras, num esforço louvável do município, na freguesia de Guisande depois de há alguns poucos meses ter sido repavimentada a Rua do Outeiro e partes da Rua de Santo António (que incompreensivelmente ficou por concluir) e ainda partes da Rua da Leira e Rua do Vale Grande, têm sido por estes dias realizadas novas intervenções, todas elas em ruas que desde há anos estavam em reles estado. Novamente parte da Rua de Santo António, no Viso, ainda sem conclusão, parte da Rua de Nossa Senhora da Boa Fortuna (Cimo de Vila), Rua do Jardim de Infância (Fornos), Rua das Barreiradas (Cimo de Vila e Quintães) e Rua da Fonte (Quintães e Casaldaça). 

Fala-se que também terão intervenção a Rua da Zona Industrial. A ver vamos, pois de facto é uma necessidade. Obviamente que há mais, incluindo a Rua de Estôse e Rua da Igreja, troço nascente. 

Há ainda ruas cuja repavimentação ou regularização deveria ser da responsabilidade da Indáqua, tal é estado de abatimentos decorrentes da realização das redes ou de intervenções pontuais. Existem vários locais onde há cortes ainda à espera de adequado remate. Mas estas situações que deveriam ser provisórias tornam-se definitivas. Quando não há responsabilidade e mentalidade de bem fazer e nem fiscalização e penalização, é normal que tal aconteça.

Por parte da Junta da União das Freguesias ainda não se conhece qualquer intervenção digna desse nome, sendo que já estão passados 3 dos 4 anos de mandato. Com o aproximar de eleições (Outubro de 2021) antevê-se um ano do tudo ou nada. Esperemos que seja mais que nada, mesmo que não seja tudo.

[fotos: Guisande - Notícias ao Minuto]

29 de setembro de 2020

Pastores e ovelhas

As mudanças de párocos têm sempre um lado algo intrigante. Da Sé, pretende-se que não se dê a perceber que é mudança a pedido, vinda dos sacerdotes, vinda dos paroquianos ou facções destes. E todas as paróquias devem ter os seus "queixinhas", os guardiões da moralidade e boas práticas. Por outro lado, obviamente, é fácil congeminar que algumas vezes o Bispo procura juntar o útil ao agradável, buscando resolver e equilibrar a distribuição dos serviços, aliviando quem já tem muitos anos pela frente, mas, também, certamente para pôr as "peças" no sítio certo do tabuleiro e sanar ou mitigar conflitos latentes entre "pastor" e "ovelhas". E quer se queira quer não, isso adivinhava-se ou pressentia-se nalgumas das paróquias agora incluídas nas recentes mudanças de paroquialidade na nossa Vigararia da Feira.

Certamente que o Bispo e a Sé, conhecem ou têm quem os informem das reais capacidades dos diferentes sacerdotes diocesanos. Como homens que são, naturalmente todos com diferentes atributos e  "talentos". Uns mais pela palavra, outros mais pela acção; uns mais pelo diálogo e inclusão permanente com as "forças vivas", outros por alguns apontamentos de prepotência e de tiques já em desuso, ou pelo menos já não tolerados, do "quero, posso e mando", ou então muito assoberbados com o seu "rei na barriga".

Nos tempos que correm, para além da recorrente falta de vocações e delas de sacerdotes, mesmo que contrabalançados pelo diaconato, certo é que os párocos, não generalizando, obviamente, há muito que o deixaram de ser por pura vocação, humildade e despreendimento, mesmo que sem os extremos dos "votos de pobreza". São, por conseguinte, bem assalariados, não dispensando nem se privando de todo os luxos e confortos modernos. Nem sempre são exemplo a seguir e vão mais pela recomendação do "olha para o que eu digo e não para o que faço". Só que os fiéis actuais, no que perderam de dedicação e prática religiosas, ganharam no sentido crítico e de escrutínio e já "não vão à missa toda" de um qualquer pároco com o "rei na barriga". Pelo contrário, sabem reconhecer e respeitar  os sacerdotes com vocação religiosa e espiritual, pois claro, mas também como um dos seus, humilde, franco, receptivo e serviçal, capaz de ouvir e fazer-se ouvir, acolher e não enxotar. Em resumo, em plena comunhão com a comunidade que serve e dirige.

Neste contexto, importa que os sacerdotes e párocos sejam isso mesmo, representantes da Igreja e pastores, e que para além das funções ordinárias do calendário religioso e serviços decorrentes e inerentes, saibam compreender a cultura e identidade específicas de cada paróquia e sua comunidade, suas práticas e tradições e dentro do possível respeitá-las e até aprofundá-las. Fazer o contrário, pondo e dispondo, confrontando, alterando e inventando, não vão lá, e para além de dividirem e tresmalhar as ovelhas, correm o risco de despoletar conflitos, desrespeitos e desconsiderações, até que o Bispo, cansado dos reparos e queixas,  volte a dar-lhes guia de marcha, mesmo que levando a mesma forma de estar e actuar a outras terras, porque podem ser fracos pastores mas a necessidade obriga a fechar os olhos ou a encolher os ombros por algum tempo. De resto, há gente que nunca aprende  e nem se emenda. Ora quem nasce torto, diz o povo, tarde ou nunca endireita.

Parte do que atrás ficou dito é num sentido geral. Quanto às recentes alterações, mesmo não sendo um expert e até arredado das missas desde o confinamento, parece-me que foram equilibradas e necessárias quanto baste.  Mas o tempo o dirá.

A cultura do "mete-me nojo"


Há dias, o inefável e bom português André Vilas Boas, que foi treinador de sucesso no F.C. do Porto, disse para quem quis ouvir, que "lidava mal com o sucesso do Benfica", o que até é normal para um adepto rival, mas pior e mais sórdido do que isso, disse que "se assistir a um jogo do Benfica na final de uma prova europeia, quero que perca". Ou seja, demonstrou o seu bom patriotismo e portugalidade. Siga.

Por estes dias, diz quem viu, que o antigo jogador e capitão do mesmo F.C. do Porto, Rodolfo Reis, disse num programa televisivo onde é paineleiro, que "tudo no Benfica lhe metia nojo". Isto é, não só o seu presidente Luis Filipe Vieira, suspeito de envolvimento em alguns crimes fiscais, como também, directores, técnicos, sócios e adeptos, mesmos aqueles de tenra idade. Até mesmo eu, simples adepto, daqueles que até quase nunca vê os jogos, meto nojo ao Rodolfo, como lhe metem nojo todos aqueles demais adeptos que nem o conhecem, dos de mais tenra idade aos mais velhos. Metemos-lhe nojo só por sermos adeptos de um outro clube que não o seu.

É triste, é lamentável, é mesmo doentio. E seria igualmente se fosse alguém do Benfica a ter esta postura pública para com qualquer outro clube. 

Mas, mesmo que não generalizando, há muitos que se orgulham desta "cultura à Porto", não aquela que faz do clube um grande clube e vencedor, que é, mas da cultura do desrespeito, da ofensa e do anti-desportivismo. Ora se isso é sinal de grandeza, estamos conversados. Por aí, será bom que todos os demais clubes, a começar pelo Benfica, sejam pequeninos.

Há coisas que se dizem, pedras que se atiram, que depois já não são esquecidas só porque a conselho de um  advogado manhoso se pretenda "virar o bico ao prego", ou depois de uma entrada de leão, uma saída de sendeiro.

Há pessoas assim, vulgares, ordinárias mesmo que tenham a realeza no nome. Não pode valer tudo, tanto mais quando se tem memória tão curta.