21 de novembro de 2023

Guisande - Os lugares da freguesia

Por diversas vezes temos aqui abordado a questão dos nomes dos lugares da nossa freguesia de Guisande. Desde há muitos anos que é de consenso comum e adquirido que a nossa freguesia de Guisande é constituída pela Parte de Cima e pela Parte de Baixo e por 14 lugares, concretamente: Da parte de cima: Igreja, Quintães, Viso, Cimo de Vila, Outeiro, Estôse, Pereirada, Leira e Gândara; Da parte de baixo, Fornos, Barrosa, Reguengo, Lama e Casaldaça.

Esta distribuição dos lugares pelas partes de cima e de baixo não é apenas de referência geográfica mas ao longos dos tempos tem sido usada na prática para algumas situações nomeadamente e por exemplo, o Juíz da Cruz em que era nomeado ou eleito de forma alternada entre as partes de cima e de baixo. Também em diferentes eventos e leilões de angariação de fundos para as obras da igreja, estes eram promovidos e até com alguma rivalidade entre as partes de cima e de baixo, por brincadeira também designadas de Beira Alta e Beira Baixa. 

Em 1758, três anos após o terrível sismo de Lisboa de 1755, em certa medida para saber da situação das terras e consequências do terramoto no território nacional, o Marquês de Pombal mandou realizar um inquérito em todas as paróquias. O mesmo foi enviado a todos os Bispos das Dioceses do país, para que por sua vez fosse encaminhado às então 4073 freguesias existentes em Portugal  e respondido pelos seus párocos. As respostas às diferentes perguntas (ver abaixo) deveriam ser tão precisas quanto possível e de seguida remetidas à Secretaria de Estado dos Negócios do Reino.

A tarefa de proceder à organização das respostas de todos os documentos coube ao Padre Luís Cardoso, sendo concluída apenas em 1832, já depois do seu falecimento, altura em que se terá completado o índice de todas as respostas aos inquéritos. Os originais das respostas ao inquérito encontram-se na Torre do Tombo.

Na paróquia de S. Mamede de Guisande, sucedendo ao Pe. Manuel de Carvalho, fundador da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, no presente ainda activa, era pároco na altura o Dr. Manuel Rodrigues da Silva, que respondeu ao referido inquérito.

No entanto, na resposta ao ponto 6º do referido inquérito de 1758, o pároco referiu as partes ou metades de cima e de baixo, bem como os 14 lugares, mas estes com nomes que diferem um pouco da situação actual.

Respondeu o abade que a metade de baixo era formada por  sete lugares chamados de Reguengo, Barroza, Fornos, Lama, Lamozo e Cazaldaça; e que a outra metade, chamada de cima, tinha oito lugares, chamados de Leyra, Estôze, Pereirada, Quintam, Oiteiro, Simo de Villa, Quintana e Trás-da-Igreja.

Ora atentos à descrição, e relevando a questão da grafia própria da época, o abade começa por se enganar no total de lugares da parte de Baixo, dizendo sete quando elenca apenas seis. Além disso, acrescenta os lugares de Lamozo e Quintam (este último que corresponderá a Quintão), mas não refere os lugares do Viso e Gândara.

Claro que ficamos sem saber em rigor qual o uso da época, podendo até ser esse o alinhamento dos lugares da freguesia na época, pelo que posteriormente, certamente devido à expansão dos lugares, terão sido acrescidos o do Viso e o da Gândara enquanto que por sua vez os lugares de Lamozo e Quintam deixaram o estatuto de lugares, passando a sítios, que de resto ainda hoje são conhecidos.

O Abade Dr. Manuel Rodrigues da Silva à data do inquérito já paroquiava Guisande há vários anos pelo que não é crível que ainda desconhecesse a composição por lugares da sua paróquia a ponto de se justificar o que poderia ser um lapso.

Em todo o caso, e de algum modo a confirmar essa situação ao tempo do Abade Manuel Rodrigues da Silva, ao consultar os diversos livros antigos dos assentos paroquiais, tenho constatado algumas situações e uma delas é que o lugar da Gândara só começa ser indicado já pelo final do séc. XIX ou mesmo princípios do séc. XX,  porque até não aparece referenciado. O mesmo acontece com o lugar do Viso.

Além disso, e ainda nos assentos do referido Abade, aparece tanto a indicação de lugar da Lama como de Lamoso, o que de alguma forma entendia-se na época como diferenciados embora próximos. O topónimo Lamoso é ainda conhecido e usado, preecisamente para a zona entre os lugares de Casaldaça e Lama. Também pela mão do mesmo pároco aparece de forma diferenciada os lugares da Pereirada e de Pereiras. Este topónimo Pereiras não é conhecido pelo que caíu em desuso mas temos já referências que estará relacionado ao lugar das Quintães. Falaremos disso noutra altura.

Quanto às grafias dos nomes dos lugares, naturalmente que ao longo dos tempos foram sofrendo modificações. Como exemplo e tendo em conta o que fui encontrando nas pesquisas dos assentos paroquiais temos: Reguengo como Riengo; Casaldaça como Casal-de-Aça e Casaldaza; Outeiro como Oiteiro, Quitam e Quintão; Estôse como Estôze e Estôs; Igreja como Trás-da-Igreja e Detrás-da-Igreja; Cimo de Vila como Simo de Vila e Cima da Vila; Quintães, como Quitans; Leira como Leyra; Barrosa como Barroza ou Loureiro; Gândara como Gandra.

Para além dos nomes do que consideramos como lugares, ao longo dos tempos e na actualidade há designações para sub-lugares ou sítios, como por exemplo: Farrapa, Trás-os-Lagos, Pomar, Vale Grande, Lavandeira, Alvite. Albite ou Albitre, Marinhos, Corujeiras, Sentes ou Centes, Souto D´Álém, Barreiradas, Quintão, Linhares, Pinheiro, Santo Ovídeo, Gandarinha, Cruz de Ferro, Pinelas, Quatro Caminhos, Souto, etc.