18 de setembro de 2025

Os partidos políticos não gostam de partir nem repartir


Muito se fala em participação cívica e em aproximar os eleitores da política. Porém, quando olhamos para as regras do sistema eleitoral português, percebemos rapidamente que a balança está longe de ser equilibrada: os partidos políticos gozam de um claro favorecimento em relação aos movimentos de cidadãos.

Nas eleições legislativas e europeias, o monopólio é absoluto — apenas partidos ou coligações de partidos podem apresentar listas. Os cidadãos organizados em movimentos independentes estão pura e simplesmente excluídos. Nas presidenciais, embora as candidaturas sejam individuais, exige-se um número elevado de assinaturas, o que limita na prática a entrada de quem não tenha já notoriedade pública.

É nas autárquicas que se abre a única porta para a participação directa dos grupos de cidadãos eleitores. Mas mesmo aí as exigências são desiguais: enquanto os partidos apenas precisam de entregar listas, os movimentos de cidadãos têm de recolher assinaturas validadas. E mais: os partidos podem apresentar candidatos recenseados fora da freguesia ou concelho em que concorrem, ao passo que os movimentos de cidadãos são obrigados a que todos os seus candidatos estejam recenseados no território a que a candidatura se destina.

No financiamento e no acesso à comunicação social a desigualdade repete-se. Os partidos com representação parlamentar beneficiam de subvenções regulares e de maior tempo de antena. Já os movimentos de cidadãos só recebem apoio limitado e pontual, proporcional ao resultado eleitoral.

A Constituição define que os partidos são essenciais para a organização da vontade popular. Mas, na prática, essa centralidade transforma-se num privilégio que fecha portas a iniciativas cívicas independentes. O resultado é um sistema que dificulta a renovação democrática e que mantém a política demasiado dependente das lógicas partidárias tradicionais.

Volta e meia faz-se esta discussão mas, em bom rigor, os partidos, e sobretudos os do designado arco do poder, não estão interessados em facilitar o acesso ao poder a grupos de cidadãos. Não gostam, não querem partir nem repartir as benesses. Em muito, também brota daqui o cada vez mais crescente descrédito e desconfiança para com a classe política, o que favorece os movimentos populistas.

Em resumo, a nossa classe política, pelos maus exemplos, há muito que anda a pôr-se a jeito, gerando um cada vez maior número de cidadãos descontentes, sem confiança, sem esperança e por isso revoltados e susceptíveis de aderirem a candidatos extremistas e populistas.

17 de setembro de 2025

Campanha & Companhia - Louredo - Debate na rádio


Assisti ao debate entre os candidatos à Assembleia de Freguesia de Louredo, no caso apenas entre os candidatos pelo PS, Roberta Reis, e pelo PSD, Fernando Moreira. A IL esteve ausente.

No geral gostei. Naturalmente que candidatos diferentes, de geração e experiências. Não obstante, em muito concordantes quanto às necessidades e com ideias similares em vários temas, o que de resto tem sido tónica nos debates a que tenho assistido. 

A diferença poderá estar na capacidade e formas de aplicar as ideias e projectos e de dar respostas às necessidades e aí entre a confiança que o eleitorado coloca, ou não, nas diferentes listas. No resto é como nos melões, a qualidade só se verifica depois de se abrirem e provarem.

Todavia, neste aspecto, parece-me que Fernando Moreira e a sua lista partem com clara vantagem, pois o cabeça-de-lista do PSD já foi autarca de Louredo e reconhecidamente tendo feito um bom trabalho, até notável em vários aspectos, considerando a dimensão populacional da freguesia. Joga ainda a seu favor o historial de tendência ganhadora do PSD em Louredo.

Apesar disso, houve um interregno de 12 anos e agora é um novo ciclo e naturalmente que ambos os candidatos pretendem marcar posições e reorganizar a freguesia, que volta a estar por sua conta.

Quanto à forma como decorreu o debate, foi respeitoso e, de algum modo,  proveitoso para os que têm dúvidas na intenção de voto, que, não obstante, acredito que em Louredo sejam poucos. 

Nos comentários nas redes sociais, alguns visitantes queixavam-se de que Fernando Moreira monopolizava o debate mas, a meu ver, sem fundamento. Falou mais, muito mais, mas não porque a candidata pelo PS não o pudesse fazer. De resto admitiu isso quando chamada à atenção pelo moderador. Ou seja, Roberta Reis, falou tudo o que tinha a dizer no tempo e ritmo que quis. Falou quanto quis falar. Simplesmente as suas ideias e propostas foram apresentadas de forma mais genérica e sem grandes considerações ou acrescentos. Podia, naturalmente, demorar mais tempo nas diferentes intervenções, como sugerido pelo moderador. É, pois, injusto, parece-me, que no contexto descrito, se pretenda acusar o candidato pelo PSD de monopolizar o debate. Mesmo que assim fosse, a responsabilidade seria do moderador.

De resto, não deixa de ser paradoxal, que algumas das pessoas que deixaram comentários nesse sentido de vincar a suposta monopolização do debate, tenham, elas própria e à sua conta, dezenas de comentários. Parece-me que não é por uma mesma pessoa estar sempre a comentar e a dar razão a um candidato, que terá mais razão. De resto nem o ritmo nem o número dos comentários têm qualquer influência no debate e na decisão. Mas, nestas coisas como na bancada a ver futebol, há sempre adeptos mais ruidosos, mesmo que isso pouco conte para o que se passa no campo de jogo. Adiante.

Quanto à questão inicial, sobre a desagregação, tal como já aconteceu com a candidata do PS por Gião, que aprecio e tenho como uma excelente opção para os eleitores locais, a Roberta Reis não foi capaz de dizer de forma clara se esteve ou não contra a desagregação. E seria importante fazê-lo, pois o PS na actual Junta e Assembleia de Freguesia, esteve convictamente contra.  E creio que, para o bem ou para o mal, era importante que essa posição ficasse clara para os eleitores. Ao invés, limitaram-se a dizer que isso era passado e que agora é uma nova realidade e é com ela que têm de contar. 

Também neste aspecto, Fernando Moreira não me pareceu muito claro, se era objectivamente a favor ou contra a desagregação, no que pode ter sido interpretado como um "nim". Mas considerou de forma categórica que a União não funcionou, pelo que se pode daí deduzir que considera a desagregação como positiva e de resto foi o PSD quem votou a favor, mesmo com o fundamental contributo e papel do Celestino Sacramento, elemento do PS na Assembleia de Freguesia, como fez referência, e justa, o Fernando Moreira. Sem o Celestino mas também sem a posição favorável e activa do PSD, a desagregação não teria sido possível. Fosse pelo PS e continuaria a vigorar uma União que mostrou não funcionar como tal.

E mais disse, no que pessoalmente também concordo, a União não funcionou porque nos três mandatos da sua vigência, os presidentes eleitos não adoptaram o modelo correcto, que seria manter os esquemas já existentes nas fregueias, que funcionavam bem e que bastaria melhorar e potenciar. Ou seja, eu também defendia isso, que de algum modo, apesar de orçamento geral, cada freguesia deveria, tanto quanto possível, manter a sua dinâmica própria e com os representantes de cada freguesia a terem um papel mais activo e decisivo e com competências, que, no meu caso, nunca foram atribuídas. Mas foi uma vontade inglória porque não aceite pelo presidente.

Ao contrário, não se foi por aí, antes por uma gestão centralista, focada sobretudo em Lobão, porque a maior parcela, e deu no que deu. O facto de em três mandatos o presidente da Junta ter sido sempre da área de Lobão, e voltaria a ser num quarto, quinto ou sexto mandatos, diz muito sobre o falhanço, porque centralista, e, repito, focada na importância e peso de Lobão. Nunca se deveria ter adoptado uma União com freguesias tão desequilibradas em termos de peso eleitoral, potenciando esse centralismo negativo. Acredito que mesmo num cenário de Uniões, poderia funcionar melhor uma com Guisande e Louredo, Louredo e Vale, ou Guisande e Giãoo, ou até mesmo com Gião, Louredo e Guisande, mas nunca com Lobão, porque com um peso superior às demais, por isso já a adininhar-se algum "canibalismo" de preponderância de poder.

Um dos aspectos positivos que se apregoava para a vantagem da União, seria o desfazer das assimetrias, de modo a que todo o território se aproximasse no seu desenvolvimento. Provou ser uma completa falácia já que isso não aconteceu, como até se acentuaram as assimetrias bem como a perda de serviços e proximidade entre eleitores e eleitos, até porque estes foram reduzidos no seu número. 

Em resumo, um debate positivo, este de Louredo, com a identificação das necessidades mais ou menos iguais. No global, pela experiência, Fernando Moreira foi mais incisivo, pormenorizado e realista, com uma visão mais ampla, porque conhecedor das realidades autárquicas, mas também apreciei a postura da Roberta Reis, mesmo que num registo mais minimalista e sem entrar em detalhes quanto à forma como pretende realizar o que propõe. De resto a pecha em quase todos os debates. 

Ideias, projectos, intenções, quase tudo necessário e positivo, mas as dificuldades virão na prática porque entre o querer e o ser capaz de fazer, e como fazer, vai uma enorme diferença. Mas isto tanto para Louredo como para Guisande e demais freguesias, sobretudo as de menor dimensão, porque tendencialmente menos consideradas pelo poder central concelhio.

Para concluir, independentemente dos juízos ou análises, e no caso de alguém que apenas vê de fora, mas que de forma interessada, caberá aos louredenses a decisão no dia 12 de Outubro.

Encantadores de serpentes


No geral, os políticos de profissão, nacionais ou locais, falam bem, muito bem mesmo. Dominam a oratória, mostram dominar os temas, o fluxo do discurso e seu ritmo. Sabem onde tocar aos ouvintes, no orgulho de pertença, na exaltação das virtudes, ainda que escassas ou por provar, e mesmo, se preciso for, conseguem fazer brotar uma lágrima manhosa, ou desencadear um arrepio de pele aos mais sensíveis.

Todos esses atributos ganham ainda maior destaque quando periodicamente sabem que precisam daquelas coisas com que se compram os melões do poder: os eleitores e os seus votos. Então tudo parece ganhar mais sentido, mais afeição, mais proximidade, falando para o Zé da Esquina como se um amigo de longa data e para o Manel da Maria como se a mais importante pessoa do lugar ou da aldeia.

Em resumo, dominam o verbo, o tempo e as circunstâncias. Sabem-na toda, porque com muitos anos a virar frangos. E não surpreende, porque de facto fazem disso carreira, o seu ganha pão, a notoriedade, mesmo que debaixo da capa ou do eufemismo de serviço público, de cidadania. Até pode ser, mas convém que em casa nada falte e à hora de almoço ou jantar haja peixe ou carne no prato. Isto para dizer que a cidadania e o serviço público são bonitos, precisam-se e recomendam-se, devem ser valroizados, mas ninguém vive apenas do voluntarismo, de ar nem de água da chuva.

Não obstante tudo isso, uma vez alcançados os objetivos e confirmados os cargos ou as posições, o Zé da Esquina e o Manel da Maria voltam a ser descartáveis e apenas uns entre muitos anónimos. E se antes tudo eram simpatias, abraços, atenções, cortesias, promessas de estar ao serviço e ao dispor, num repente as portas fecham-se, as reuniões têm que ser marcadas com tempo, ou mesmo adiadas, ou, se feitas, curtas, rápidas e impessoais. Os contactos e canais de comunicação, antes abertos, directos, disponíveis, escancarados, ficam fechados, restritos, estreitam-se e desviam-se. Os telefones não atendem, não devolvem as chamadas ou, quando muito, dados recados por terceiros, assessores, a prometerem atenções que quase sempre não serão dispensadas. Os e-mails não funcionam e recebem-se respostas automáticas ou o link para formulários impessoais para o contacto.

Mas estas coisas, estas mudanças, só surpreendem ou decepcionam quem , de boa fé ou ingenuamente, acredita no que ouve, no que lhe dizem, certos de que ainda há gente séria, honesta e que leva a sério o valor da palavra e do compromisso. Quem tem uma melhor noção das coisas e da classe, até pode dar ares de confiança mas estará sempre de pé atrás, a ver para crer. No mínimo.

Ao contrário, os que são colhidos de frente pela locomotiva da realidade, esses sim, arriscam-se a ser trucidados, a perceberem no que se meteram só depois de já estarem num beco de sentido único.

É a vida! Importa pois, acreditar que ainda há gente boa e sem segundas caras, e há com certeza, até mesmo na classe política, por si tão desacreditada, mas com cautela, sem deslumbramentos em tudo o que seja relação com a mesma. 

Por conseguinte, ainda continuam a ser válidos certos ensinamentos antigos, do nosso povo, e não se perde nada em sermos como S. Tomé, a quer ver para crer. É certo que Jesus disse que “felizes os que acreditam sem terem visto”, mas isso é Jesus, que é de outro campeonato e de patamar inalcançável. Por cá, em tudo na vida mas sobretudo no contexto político e eleitoral, melhor é ver para crer, sem deslumbramentos fáceis, sem pôr todas as fichas num qualquer encantador de serpentes ou mágico a tirar coelhos da cartola, moedas das orelhas ou pombinhas brancas das algibeiras.

Tudo na justa medida! Quanto baste! Pão, pão, queijo, queijo! Depois é ver e comprovar se foi ou não merecida a confiança dada.

16 de setembro de 2025

Com boa plateia

 


Continua com uma boa plateia este meu espaço, com números regulares de visitantes diários, próximos ou mesmo acima do milhar, não contando com os que acompanham por via de RSS (1). É relevante e permite-me presumir que o interesse pelo que vou escrevendo e partilhando é notório junto dos guisandenses, por cá e na comunidade emigrante.

Procurarei manter o ritmo de publicações, com partilhas de assuntos que considere de interesse geral e não abdicando, de todo, das minhas próprias opiniões, pensamentos e reflexões. Estas não agradarão a todos, mas também não é esse o objectivo. Para isso existem chapelarias com chapéus para todas as cabeças e sapatarias com calçado para todos os pés.

Obrigado aos muitos que reconhecem este espaço como importante e até como serviço público no contexto da nossa comunidade.



(1) RSS é um acrónimo para Really Simple Syndication (ou Rich Site Summary), um formato de texto baseado em XML que permite a distribuição automática de conteúdos actualizados de um site, como notícias ou artigos de blog, para um programa agregador de feeds (leitor RSS).

15 de setembro de 2025

Recomendações do Dr. Claude

O Claude, um serviço de IA - Inteligência Artificial, disse ao Aparício, rapaz com mais ou menos a minha idade e mais ou menos o meu peso, que para essa relação de motor, digamos assim, pode continuar a correr com ritmos entre o 5:30/6.00 minutos/km, e por vezes mesmo na ordem dos 5 minutos/km, em planos, mas que já são valores que exigem boa capacidade cardiorespiratória e boa base de treino. 

Não obstante, o Claude alerta o Aparício para os problemas de impacto nas articulações, bem como para o risco cardiovascular, sobretudo se houver situações de hipetensão, diabetes e ou problemas cardíacos, que, felizmente o Aparício diz não ter. Eu também, até ver, também não.

Também alerta o Dr. Calude que, no geral e para essa relação de idade/peso, ritmos com 10 Km abaixo de uma hora exigem mais do coração mesmo que saudável.

Em resumo, para além das recomendações que poderiam ser de qualquer médico a cobrar 50 ou 100 euros por consulta, não é difícil admitir que o Dr. Claude tem razão.

De resto, o problema nestas coisas, não disse o Claude mas presumo eu, e falo em modo abstracto e para todos, é acharmos, eu, o Aparício e muita malta, que independentemente da idade e peso, somos todos campeões, como se atletas profissionais, com vinte e poucos anos, com 65 ou 70 kg de peso, boas capacidades físicas e treinos xpto. E no geral não somos. Fui, sim, na tropa, há 40 anos, em que pesava 70 kg e fazia 10 km com ritmos na ordem dos 3 minutos e picos. Em qualquer idade, mas sobretudo acima dos 50 ou 60, somos apenas uns coxos iguais a milhões de outros coxos. Mas com o impacto da moda das corridas e sua exposição mediática, desde logo nas redes sociais, tendemos a exagerar no tempo e distância, tantas vezes em níveis desconfortáveis e mesmo perigosos. Mas queremos dar ares de campeões, de supermans, e no final dos treinos ou das provas, glorificar o esforço e o sofrimento como troféus. Pura idiotice! O cemitério está cheio de campeões. O sensato, o correcto, o aconselhável, quer seja pelo Claude, quer seja por um especialista, é perceber os sinais do corpo, ter noção da idade e do peso, deixar o relógio em casa, cagar nas médias e correr ou caminhar de forma confortável, misturando corrida com caminhada e mesmo pausas se necessário, e em percursos com características adequadas e não andar por aí a fazer de cabras montesas a trepar freitas e caramulos.

Em resumo, assim como quem faz tatuagens e coloca piercings e outros artefactos no corpo, mesmo nos mais recônditos buracos, cada um pode fazer o que quiser, mas caldos de galinha e bom senso nunca fizeram mal a ninguém.

Com  igual idade e peso do Aparício, consigo correr 20 km? Sim, até já corri mais. Mas é recomendado? Não! Seguramente nem metade disso, antes. 4, 5 ou 6, por exagero, mas mesmo que 10,  sempre de forma confortável. Porventura, até de maneira mais saudável, apenas caminhadas entre os 40 e 60 minutos.

Posto isto, o Aparíco faça como quiser, mas por mim, tendencialmente, vou abandonar a corrida, ficando-me pelos trilhos semanais e caminhadas e retomar mais a bicicleta, porque pemite-me uma melhor gestão do esforço e, verdade se diga, a descer é a descer e todos os santos ajudam.

O resto, como diz alguém que gosta de poesia, que se foda!

O primeiro sinal

 


O primeiro sinal nas redes sociais da campanha da lista do PS  à eleição para a Assembleia de Freguesia de Guisande, encabeçada pelo Celestino Sacramento. No caso, um curto vídeo com o convite aos guisandenses para a apresentação pública de todas as listas concelhias pelo Partido Socialista, a decorrer na Câmara Minicipal da Feira, no Domingo, 21 de Setembro, pelas 17:00 horas.

Ficaremos à espera da apresentação oficial aqui em Guisande. Mas já estamos a menos de um mês das eleições.

A mensagem era tão curta e tão simples de transmitir que o Celestino bem que poderia dispensar de estar a ler o tele-ponto. Não foi o único a fazê-lo. Ficou assim, por isso, com um ar estranho, mas compreende-se o nervosismo. Afinal, o dom da palavra não é para todos. Eu talvez não fizesse melhor. 🙂

Estranho também é o slogan adoptado "No bom caminho". Se estivesse Guisande no bom caminho, dispensar-se-ía a desagregação, digo eu. Talvez fosse mais acertado escolher o slogan "Saír do mau caminho".

14 de setembro de 2025

Falta de cultura democrática

Sem ser advogado de Deus ou do diabo, porque ambos me dispensam, deixo aqui a minha opinião sobre um certo mau estar de alguns, gerado à volta da celebração da missa vespertina, de ontem, na capela do Viso, no mesmo dia em que também no recinto do monte estava programada a sessão pública de apresentação do Johnny Almeida e da sua lista concorrente às eleições para a nossa Assembleia de Freguesia para o próximo dia 12 de Outubro.

Em primeiro lugar não tenho informações  claras, se houve, ou não, pedido ao pároco nesse sentido e se daí houve alguma concertação. A explicação do pároco já foi dada e ouviu e compreendeu quem ontem participou na missa.

Por outro lado, mesmo que tenha havido essa conciliação, não vejo mal nenhum, como não veria se em causa estivesse qualquer outra lista partidária. É certo que são eventos de cariz político, mas temos que admitir que, independentemente do partido, são do interesse da freguesia, porque visam decisões importantes para o futuro da sua gestão. Não considero, por isso, que um evento político no contexto de eleições democráticas, tenha mais ou menos importância para a nossa freguesia do que um qualquer evento ligado à Festa do Viso, ao Centro Social, ao Trail do Viso, ou de qualquer outro grupo ou associação. Somos todos, ou não, da mesmo comunidade? Somos democratas e compreendemos e praticamos o espírito democrático ou somos apenas fundamentalistas?

Não vejo, assim que tenha havido qualquer mistura de religião com política. Na missa não vi bandeiras nem ouvi slogans ou discursos e no recinto não vi orações nem escutei a liturgia. Ambos tiveram os seus momentos, horários e espaços. A mistura, se a houve, foi na cabeça dos incapazes de perceber as diferenças.

Em todo o caso, e falo apenas por mim, fosse eu o cabeça-de-lista de um qualquer partido, nunca me poria a jeito para essa situação, porque sei do que a casa gasta e do quanto o partidarismo, na nossa e noutras freguesias, é ainda factor de divisão. Nestas coisas pagamos por ter cão e por não ter. A velha fábula "O velho, o rapaz e o burro" continua a fazer sentido. Mas dou de barato de quem assim não pensou, porque, como diz o nosso povo, quem mal não pensa, mal não faz".

Também,  quero dizer que não estou a ver, de todo, que o facto do final da missa ter coincidido com a hora prevista para o início do evento político (e este na realidade até começou mais de meia hora depois do final da missa) tenha influenciado a participação. Quem tinha a intenção de não ir, não foi e muitos foram os que estiveram na missa e seguiram para casa; E quem tinha a intenção de participar, participou e participaria mesmo que a missa fosse na igreja, no Santo Ovídeo, em Vila Seca ou em qualquer outro sítio. E tenho esse entendimento também em relação aos eventos de carácter geral. Quem tem a intenção de ir vai, haja ou não missa no mesmo local.

Para concluir este meu pensamento, que é só é meu, entendo que o que nos falta mesmo, é cultura democrática. E com estas e com outras, vejo que tive razão em recusar o convite de uma e outra lista (a quem agradeço a confiança e consideração) mas porque já adivinhava esta falta de cultura democrática numa luta de carácter partidário. Não de todos, claro, mas ainda de muita gente, sobretudo dos mais velhos, os que já deviam ter aprendido mais. 

Quanto à cultura democrática:

O que é cultura democrática?

A cultura democrática é o conjunto de valores, atitudes e práticas sociais que sustentam a democracia no dia a dia. Não se trata apenas de votar em eleições, mas de viver de acordo com princípios como:

- Respeito à diversidade de opiniões, crenças e modos de vida.

- Igualdade de direitos para todas as pessoas.

- Participação activa nas decisões colectivas.

- Respeito às regras construídas em comum (leis, constituição, acordos sociais).

- Diálogo e tolerância diante de conflitos.

- Responsabilidade colectiva em relação ao bem comum.

Como se pratica?

Praticar a cultura democrática significa agir no dia a dia de acordo com esses valores. Alguns exemplos:

- Participação política: votar, acompanhar debates, fiscalizar representantes, envolver-se em associações, conselhos ou movimentos sociais.

- Diálogo: escutar e argumentar sem recorrer à violência ou intolerância.

- Respeito: aceitar opiniões diferentes sem desqualificar ou excluir pessoas.

- Cooperação: trabalhar em grupo para resolver problemas comunitários.

- Educação crítica: procurar informação de qualidade, combater notícias e considerações falsas e incentivar o pensamento crítico e autónomo.

- Práticas quotidianas: em casa, na escola ou no trabalho, compartilhar decisões, respeitar regras colectivas e promover a justiça.

Em resumo: a cultura democrática é construída quando cada pessoa se compromete com respeito pelas diferenças, diálogo e participação. É também compreender o carácter de importância de um evento politico, independentemente de que força partidária representar, seja no final ou antes de uma missa, antes ou depois de um jogo de futebol.