30 de setembro de 2023

O Ti Albertino, a origem do apelido Pomar e outras histórias e nomes

 


Nesta foto, temos duas gerações representadas, o pai, o Albertino da Silva Santos e o Alberto Jorge, um dos seus filhos e meu bom colega de juventude.

O Ti Albertino foi casado com outra figura típica de Guisande, a Ti Dina, de nome Bernardina de Leite Resende e Silva, mulher abnegada de trabalho, amor pelos filhos e pela terra, à qual se dedicou quase até aos  derradeiros dias, mesmo que já sem forças. Quem é que não se lembra de, já pela noite alta, de a ver a vir carregada dos campos, com pasto ou outras coisas, algumas vezes acompanhando o carro puxado pelo gado ou mesmo à cabeça ou no atrelado de mão?

Sobre a família Leite de Resende, falaremos num futuro artigo.

Albertino da Silva Santos era filho de Benjamim da Silva Santos, conhecido como "Benjamim do Pomar" e de Joaquina da Conceição. Sobre este apelido "Pomar" falaremos adiante. Dos seus irmãos conheço ou conheci o Alberto, que viveu em Vila Seca, a Conceição, que casou com o Cèsar Rocha e viveu em Duas Igrejas, o António, que viveu na Lama e ainda a Isaura, que vive em Casaldaça.

Por sua vez, o Ti Albertino e a Ti Dina tiveram vários filhos, o Alcino, o Alberto Jorge, o Inácio, o Albertino, o Carmindo, a Cidália, a Florinda e a Madalena.

Como se vê pela foto acima, o Ti Albertino está ainda vivo da silva e com bom aspecto mas naturalmente já com o peso da idade, pois que vai fazer daqui a nada (1 de Novembro)  96 anos, por isso já a caminho dos 100. Encontra-se bem cuidado, num lar em Maceda - Ovar,  recebendo a visita frequente dos filhos. 

A figura do Sr. Albertino é por demais conhecida e dispensa apresentações para a maioria dos guisandenses, mas com características muito próprias e peculiares, podendo, sem sombra de dúvidas, ser o modelo de pessoa calma e pacata, a quem uma casa a arder ou uma vaca  a parir não causam a mínima aflição. 

Sobre este seu modo de ser, há muitas histórias divertidas, umas mais que as outras mas em todas elas o traço da sua personalidade calma. Desde logo, invariavelmente, chegava sempre à missa quando esta já tinha começado, ia a meio e ou tantas vezes já a acabar. 

Como muitos bem sabem, entre as suas ocupações que fazia calmamente, também fazia de barbeiro e os seus clientes, como o meu tio Neca, quando para lá iam sabiam ao que iam e por isso sem hora para chegar a casa. Contou-me, ele, o meu tio, que não raras vezes o corte da sua barba era interrompido a meio porque chegara alguém a casa do Albertino para este lhe lhe fazer chegar o touro à vaca. Como se sabe o Ti Albertino teve durante algum tempo um imponente touro de cobrição que se assegurava de emprenhar as vacas da freguesia e de outras vizinhanças. Ora um barbeiro a acumular outros trabalhos é coisa para trocar as voltas a quem precisava de cortar o cabelo ou escanhoar o rosto.

Ora lá ficava o meu tio Neca com metade da cara com a barba desfeita e outra metade ensaboada. Mas, dizia ainda o meu tio, que bastava chegar alguém e bater à porta, mesmo que por assunto de menor importância, que o Ti Albertino abandonava os clientes para dar uns dedos de conversa. Ora na realidade eram dois dedos, mais os três, a mão inteira e rapidamente um recado de dois minutos passava a  meia hora, esquecendo-se do tempo

Também se conta que uma vez o Ti Albertino e o Ti António, Simeão, do Viso, combinaram, cada qual na sua bicicleta, irem pela manhãzinha à Feira das Debulhas a Cabeçais, que se faz ali pelo 13 de Julho. Ora com tanta calma e tanta conversa com pausas, e as bicicletas a serem pouco ou nada usadas, ainda com uma paragem no Carvalhal para no  Barrigas molharem as gargantas secas de tanto paleio, certo é que quando chegaram à festa já os comerciantes estavam a desmontar as tendas. Só não chegaram de madrugada a casa pelo que o caminho de regresso era a descer até Santa Ovaia e depois de Cimo de Aldeia a Guisande e as bicicletas lá fizeram o seu papel. Mas era noite quando chegaram a Guisande.

O Benjamim do Pomar e a esposa Joaquina

Voltando ao pai do Ti Albertino, o Benjamim da Silva Santos, de que ainda tenho memória, nasceu em 28 de Julho de 1895 e faleceu em 12 de Maio de 1985. Era filho de Joaquim da Silva e de Margarida de Jesus Santos (nascida a 20 de Novembro de 1852). Era neto paterno de José Bernardo da Silva e de Micaela Maria Rosa e neto materno de Manuel José de Oliveira e de Ana Francisca dos Santos.

Para além de outros, que ainda não consegui pesquisar, era irmão de Maria dos Santos (nascida em 22 de Fevereiro de 1890 e falecida em 10 de Abril de 1979) esta que casou com Manuel Ferreira Coelho ( nascido em 5 de Abril de 1890 e falecido em 11 de Dezembro de 1951) (1). Este Manuel Ferreira Coelho e Maria dos Santos eram os pais da popular Ti Elvira da Conceição, esposa do Sr. Mamede, por sua vez pais do Américo, do Miguel e do David.

Era ainda irmã do Benjamim e da Maria, a Conceição, esposa do Domingos Caetano de Azevedo ( Patela), por sua vez pais da Professora Maria Célia Azevedo.

Ainda outros irmãos do Benjamim, o António Joaquim e a Olívia Rosa (nascida a 12 de Fevereiro de 1875).


Manuel Ferreira Coelho (Regedor) e Maria dos Santos (avôs maternos, entre outros, da professora Maria Célia Azevedo)


(1) Sobre este Manuel Ferreira Coelho, casado que foi com Maria dos Santos (avôs maternos, entre outros, da professora Maria Célia Azevedo), era filho de António Ferreira Coelho (do lugar de Fornos e professor da instrução primária) e de Maria Francisca da Silva ( de Canedinho - Gião). Era neto paterno de José Ferreira Coelho  e de Maria Joaquina de Jesus (do lugar de Fornos). Era neto materno de Manuel Ferreira Pinto (do lugar de Fornos) e de Francisca Joaquina da Silva (do lugar de Canedinho - Gião).

Este Manuel Ferreira Coelho exerceu em Guisande o cargo de regedor, pelo que era também conhecido pelo Ti Manel Regedor. Faleceu em 11 de Dezembro de 1951 com 61 anos de idade.

Quanto à origem do apelido Pomar:

Dos vivos, ninguém sabe ao certo a origem do apelido ou alcunha de "Pomar" dada a esta gente, deduzindo alguns que talvez pelo sítio do lugar de Casaldaça onde viviam, ser terra de muitas árvores de boa fruta, logo um pomar.

Todavia, das minhas pesquisas, tudo indica que este Pomar refere-se mesmo a um antepassado que tinha esse apelido no nome. Falo concretamente de António José do Pomar, casado com Maria Rosa de Jesus. Este António José do Pomar era avô  paterno de Margarida Jesus dos Santos, esta por sua vez a mãe do Benjamim. Ou seja, este António José do Pomar era avô materno do Benjamim e seus irmãos. Além do mais é de supor que este apelido Pomar seja ainda anterior, por isso já parte dos nomes do pai ou avós do António José do Pomar. A investigar.

Abel Fonseca - 92 anos


Está de parabéns neste dia último de Setembro o meu primo e tio, Abel Oliveira da Fonseca, do lugar da Gândara. São 92 anos bem feitos, ou 29 ao contrário, como gosta de dizer. Ainda há dias aqui falei dele.

É filho de Joaquim José da Fonseca (nascido em 10 de Dezembro de 1907 e falecido em 28 de Maio de 1980) e de Albertina Rosa Oliveira (nascida a 18 de Abril de 1907 e falecida em 14 de Março de 1978).´

É neto paterno de Raimundo José da Fonseca e de Margarida da Conceição, ali do lugar de Cimo de Vila. É primo direito de minha mãe, por isso meu primo em segundo grau.

É neto materno de José Barbosa da Silva (natural de Canedo( e de Ana Rosa de Oliveira (natural de S. Jorge). 

A sua mãe, Albertina Rosa de Oliveira, era do lugar do Reguengo. Era filha de José Barbosa da Silva (natural de Canedo) e de Ana Rosa de Oliveira (natural de S. Jorge). Era neta paterna de António Caetano Grilo e de Maria Barbosa da Silva e neta materna de João Correia e de Felismina Rosa de Oliveira (natural de Azevedo - S. Jorge).

Os pais do Sr. Abel casaram em  1 de Maio de 1931.

Pais do Sr. Abel. Joaquim e Albertina


É um de vários irmãos Fonsecas, alguns ainda vivos, como a Ilda, a Celeste, a Idília e a Madalena e outros já falecidos, como o Hilário, o Alexandrino, a Alzira e a Conceição.

Está casado com Maria da Conceição Gonçalves (tia de minha esposa) e tiveram uma catrefada de bons filhos, como a Adelaide, a Cecília, o Ilídio, o Paulo, o Alcino, o Eduardo e o Ventura. Creio que não me esqueci de mais algum.

Apesar de uma vida dura de trabalho e sacrifício, quase sem meninice, como todos os da sua geração, o Sr. Abel ainda mantém toda a lucidez, sendo bom conversador e guardião de muitas memórias, das boas e das nem por isso. Queixa-se dos ossos, pois não devia queixar-se quem teve como profissão trabalhar de joelhos e de costas vergadas, como calceteiro que foi? A expressão "ossos do ofício" aplica-se com todo o sentido à sua profissão.

Parabéns Sr. Abel! Que Deus o tenha por cá mais anos e se possível com essa lucidez que ainda conserva e também que não lhe falte a vontade de beber o seu copo de americano, como bem lhe recomendou o bom médico Dr. Vasconcelos. 

Bem haja!

28 de setembro de 2023

Marinho Ferreira Coelho - Gente nossa

Dizem-nos na rede social Facebook, que o Marinho Ferreira Coelho está de parabéns neste dia! Pois que se repita de forma feliz por muitos mais anos junto dos seus. Dizem que faz setenta e picos. Um jovem.

Pessoalmente, mesmo que um pouco mais novo, tenho por ele uma elevada estima e consideração porque reconheço e valorizo  o seu papel de cidadania na sua e nossa freguesia. Tem os seus defeitos, pois tem, e quem os não tem, começando por mim? mas tem mais virtudes e estas é que pesam na balança do deve e haver. 

Se não estou atraiçoado pela memória, ainda me lembro dele, novo, quando chegava com a sua mota a Casaldaça quando já namorava a sua esposa, a Felisbela, quando ela vivia com a sua família junto ao caminho que é hoje a Rua da Fonte. Quando ali passava em recado à mercearia da Senhora Amélia, ficava eu a admirar aquela moto que na altura me parecia imponente. De resto, já com o Marinho com toda aquela altura, que ainda hoje tem, não ficaria bem em qualquer motorizadeca. Logo só mesmo uma moto. De resto, do seu porte físico, recordo-me de em algumas situações comunitárias impor o seu respeito e era homenzinho para pegar nalgum desordeiro pelas golas e pô-lo no olho da rua.

Sei que fez pela vida e esteve emigrado por terras de França, onde lá terá nascido a sua filha a Carina, que assim é francesa. Voltou passados uns anos e tomou conta do pequeno negócio do Joaquim Ferreira Coelho, que vendia adubos, sementes, rações e pesticidas, mas que logo tratou de ampliar e dinamizar e hoje é um bom estabelecimento que explora com o seu filho Filipe, servindo toda a freguesia de Guisande e não só, num apoio imprescindível ao cultivo das terras, alimentação de animais, sementes e tratamento de plantas e muito mais, numa grande variedade de produtos e artigos.

O Marinho foi sempre uma pessoa envolvida com a freguesia fazendo parte do Guisande F.C. um seu  interessado sócio, adepto e patrocinador. Para ele pintei no campo de jogos do Guisande F.C. um painel publicitário à  sua loja. Já passaram pelo menos 35 anos. Também pintei a inscrição que tinha na fachada do seu estabelecimento, no tempo em que os números dos telefones tinham 6 algarismo.

Marinho Ferreira Coelho também se envolveu na política a nível da freguesia,  tendo sido tesoureiro da Junta de Freguesia de Guisande no mandato de 1993/1997, trabalhando com o Manuel Ferreira (presidente) e o Rodrigo Correia (secretário). No mandato anterior, de 1989 a 1993 foi presidente da Assembleia de Freguesia. Não era político mas apenas um interessado no desenvolvimento da freguesia e por isso, avesso a certas coisas da política, optou por não continuar.

Por tudo isto e não só, o Marinho Ferreira Coelho, mesmo com aquele ar de quem está zangado com ele próprio e com o mundo, é uma alma generosa, e creio, a avaliar pelos sinais dos seus, um bom marido, um bom pai e avô. Ainda, como eu, adepto do Benfica. Merece o nosso reconhecimento por em diferentes tempos ter dado o seu contributo à nossa freguesia e comunidade, continuando a ser um guisandense de corpo e alma apesar de ter feito casa e estabelecido o negócio ali no limite com Lobão, o que para ele e para nós é irrelevante. 

Parabéns, pois, Sr. Marinho e que venham mais anos e bons junto dos seus e de todos nós!

25 de setembro de 2023

Casamentos? Nem por isso...

 


Ao contrário do que se possa pensar, noutros tempos, mesmo quando era grande o número de filhos em qualquer família, e 6, 7, 8, 9 ou 10 eram números normais, não se realizavam muitos casamentos. Por exemplo, aqui em Guisande, os assentos paroquiais dos anos 1901 e 1902 não registam qualquer enlace e mesmo no ano seguinte, em 1903, apenas se realizaram 3.

Mesmo quanto a filhos, eram comuns os filhos de mães solteiras. Numa época em que não havia planeamento familiar nem prática de métodos contraceptivos, e a pílula só veio a ser criada já na década de 1960 e a generalizar-se entre nós sobretudo a partir da década de 1980, os constrangimentos morais e religiosos conduziam ao forçoso respeito pela vida que assim prevaleciam sobre a "vergonha" social. Os casos de abortos ou "desmanchos" voluntários eram reduzidos, pelo menos nos meios rurais.

Não supreende que em face do elevado número de filhos e da falta de condições de higiene, de assistência médica, nomeadamente durante a gravidez e parto, e meios de tratamento, e por conseguinte à mercê de doenças mais ou menos infecciosas, a mortalidade infantil por esses tempos era alta e mesmo nos adultos eram frequentes os falecimento em idade jovem ou meia idade.

Nas minhas pesquisas de genealogia, são vários os casos em que um qualquer Manuel ou uma Maria, nomes muito vulgares, serem baptizados como segundos ou terceiros de nome, isto é, que vinham substituir outros filhos a quem já havia sido dado esses nomes mas que faleceram com idades de criança ou mesmo de bébés.

Em resumo, pesquisar este tipo de documentos nos velhos assentos paroquiais de baptizados, casamentos e óbitos, é simultaneamente uma forma de observar outros apontamentos sociais e demográficos.

23 de setembro de 2023