18 de outubro de 2024

Festa do Viso - Resumo de contas de 1979 a 1992


Infelizmente nem sempre se guardaram os documentos de apresentação de contas da nossa Festa do Viso. Insensibilidade, descuido, pouco sentido de arquivista, certo é que da maior parte das festas não há documentos guardados que informem o quanto se obteve como receita e quanto se gastou. 

Apesar disso, a partir de velhos papéis, ainda consegui apontamentos de alguns anos, no caso de 1979 a 1992. Acredito que alguns elementos das várias comissões de festas até ficaram com cópias, mas também acredito que a maioria já não tem qualquer ideia ou documento. De resto como acomteceu com os diferentes cartazes em que, regra geral, ninguém ficou com um ou outro exemplar para arquivo e memória futura. Tal deveria ser uma prática de ano para ano, mas não. Somos uns pobres!

Ano de 1979

Receitas:130.247$00

Despesas: 125.921$00

Saldo positivo: 12.826$00


Ano de 1980

Receitas:192.568$00

Despesas: 161.482$00

Saldo positivo: 31.086$00


Ano de 1981

Receitas:217.347$00

Despesas: 217.340$00

Sem saldo


Ano de 1982

Receitas:303.427$00

Despesas: 302.043$00

Saldo positivo: 1.384$00


Ano de 1983

Receitas:268.951$00

Despesas: 267.281$00

Saldo positivo: 1.670$00


Ano de 1984

Receitas:344.759$00

Despesas: 330.848$00

Saldo positivo: 13.910$00


Ano de 1985

Receitas:452.910$00

Despesas: 409.000$00

Saldo positivo: 43.910$00


Ano de 1986

Receitas:553.630$00

Despesas: 553.895$00

Saldo negativo: 265$00


Ano de 1987

Receitas:655.186$00

Despesas: 572.319$00

Saldo positivo: 83.367$00


Ano de 1988

Receitas: 869.682$00

Despesas: 872.532$00

Saldo negativo: 2.850$00


Ano de 1989

Receitas: 904.549$00

Despesas: 930.297$00

Saldo negativo: 25.748$00


Ano de 1990

Receitas: 1.240.000$00

Despesas: 1.300.00$00

Saldo negativo: 60.000$00


Ano de 1991

Receitas: 1.310.884$00

Despesas: 1.246.819$00

Saldo positivo: 64.065$00


Ano de 1992

Receitas: 1.374.379$00

Despesas: 1.211.449$00

Saldo positivo: 162.930$00

17 de outubro de 2024

O raio da dicotomia

Confesso que nos últimos tempos a relação ou estado de alma com a minha freguesia tem sido pautada por uma dicotomia que ainda não consegui deslindar. Por vezes ainda consigo ver nela a pujança, vontades e originalidades das décadas de 70 e 80, num desabrochar do jardim de Abril, onde havia intervenção entre adultos e jovens. Havia lugar à política, ao clube e ao futebol, que uniam e o campo de jogos aos Domingos era uma praça de gente de todas as idades.

Os jovens eram criativos, juntavam-se e do pouco faziam muito. Havia escola de música, teatro, biblioteca, jornal e rádio. Havia associações culturais e recreativas.

A paróquia ainda era um rebanho com poucas ovelhas tresmalhadas e o pastor respeitado e todos congregava à ordem de reunir.

A freguesia tinha vida, pulsava, mostrava-se capaz de transpor a sua pequenez e avançar mais além, com uma identidade muito própria, dela e nossa.

Depois veio um período sensaborão, nem sim nem sopas, nem carne nem peixe, e aos poucos a existência comum tem vindo a erodir, a esvair-se. Na roda da vida, os mais novos cansaram-se e ficaram velhos, os mais idosos alquebrados pela idade e doença partiram cada um na sua vez. A emigração aumentou, a natalidade baixou e para cada dezena de gente que parte definitivamente nascem uma, duas ou três crianças.

Os cafés, locais de convívio e tertúlia, fecharam portas ou encerram cedo. As escolas, outrora cheias de criançada e do seu pulsar de vida, há anos que fecharam ao ensino e abriram-se ao abandono. Do aproveitamento delas, incluindo o Centro Cívico, nem todos têm remado para o mesmo lado e não falta quem espalhe pedras e cascas de banana pelo caminho. A igreja deixou de estar cheia e os lugares vazios são quase sempre mais que os ocupados.

A política deixou de despertar interesses e já não há militantes, delegados, simpatizantes, nem nada. O clube de futebol quer ressurgir, vai resistindo, mas nunca mais será como dantes e o eco da multidão a celebrar o golo já não se faz ouvir fora dos muros do recinto.

Nuns impulsos, há jovens que se congregam a querer fazer coisas, mas como flores colhidas a cada Primavera, em breve murcham e perdem a cor e o aroma.

Cada vez mais as pessoas não vivem nem convivem fora de portas e o sentido de comunidade perde-se a olhos vistos. Ainda se veem em dias de festa grande ou de celebrações, mas ninguém passa daí, nem quer assumir cargos ou funções a favor dos outros, de todos. É um egoísmo latente este que vai ficando por entre portas numa mera obrigação de contribuintes, de serviços mínimos, e quanto ao resto alguém que faça ou organize porque nada é com eles mas sempre com os outros.

É certo que esta coisa da união de freguesias em nada ajudou e só veio abafar a realidade que já mal respirava, promovendo o distanciamento, a indiferença, o deixa andar num crescendo de desinteresse.

E vai sendo assim. E contudo, temos tudo. Temos internetes e redes sociais capazes de chamar, de convidar e mostrar. Temos grupos e grupinhos no Facebook e Whatsapp onde combinamos e partilhamos coisas, mais ou menos pessoais, mais ou menos generalistas mas quase sempre pouco a favor do todo.

Temos todos bons carros e boas estradas, computadores e câmaras de fotografar e filmar nos bolsos dos casacos e calças. Comunicamos à velocidade da luz e vemos em directo os rostos de com quem falamos nos antípodas, no Brasil ou na China. Já não há cartas nem esperas pela volta do correio.

Mas tendo tudo, temos nada, porque fora desses casulos virtuais, online, já quase não nos reconhecemos na rua e quando passamos uns pelos outros, sendo incapazes de traduzir num olá, num sorriso, em dois dedos de conversa, o que expressamos online, por emojis ou likes. Somos uns ricos pobres, com tudo e com nada, com mãos cheias de vazio.

Mas esta dicotomia, faz das suas e num repente, ignorando este estado das coisas e das gentes, parece que dá vontade de voltar a acreditar e pensar que as coisas vão melhorar, que cairemos na realidade e aos poucos iremos fazer caminho juntos e estreitar laços e criar comunidade. Jovens e adultos serão capazes de fazer novas coisas porque diferentes são os tempos. Que a freguesia e a paróquia serão capazes de valorizar o legado que os antepassados deixaram com sacrifício e vontade. Entraremos num novo ciclo de fazer e saber fazer, de reforçar a nossa identidade e dela nos orgulharmos.

Mas, tantas vezes, nesta crença, nesta vontade de que seja assim, lá vem algo ou alguém como água fria a descarregar-se nesta ilusão, como pedra de mó a fazer-nos ficar presos à terra quando a vontade é voar.

E recomeça o ciclo da crença e descrença. O raio da dicotomia volta a enredar-nos, a mostrar e a demonstrar que não será fácil qualquer inversão de marcha porque o caminho é sinuoso e estreito.

Em resumo, talvez o que nos faz ainda ter alguma crença em mudanças será mesmo este vai-e-vem, como também a querer significar que a seguir a cada Inverno haverá uma Primavera, mesmo que cada vez mais os tempos andem trocados e às tantas já nem sabemos se as flores exultam na Primavera ou se despontam no Outono.

Assim vamos indo e andando na espera e crença contínuas e cíclicas de que as coisas possam melhorar, numa permanente luta com a dicotomia. Afinal, a cola que ainda mantém esta esperança é o amor que ainda (alguns) temos pela nossa terra, o torrão onde fomos plantados e criamos raízes. Só por isso.

3 de outubro de 2024

Festa do Viso - Comissão de Festas 2025

Comissão de Festas em Honra de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António - 2025, que terá lugar nos dias 1, 2, 3 e 4 de Agosto.

1. Domingos Manuel Lopes Ferreira (Juiz) Rua de Fornos

2. Raquel da Silva Alves (Tesoureira) Rua da Zona Industrial

3. Rui Manuel Lopes Silva (Secretário) Rua da Gândara

4. Eduardo Filipe Correia Silva (Vogal) Rua do Outeiro

5. Daniele dos Santos Oliveira (Vogal) Rua da Gândara

6. João Pedro Correia Silva (Vogal) Rua do Outeiro

7. Pedro Manuel Lopes Ferreira (Vogal) Rua das Quintães

8. Alexandre Filipe Freitas Santos (Vogal) Rua de São Mamede

9. João Artur Lopes Conceição (Vogal) Rua dos Marinhos

10. Rita Branco Martins (Vogal) Rua das Quintães

11. Sílvia Lopes Pinto (Juíza) Rua do Canedinho

12. Bruna Pinho Ferreira (Procuradora) Rua de Fornos

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- Parabéns a todos quanto se puseram ao serviço. Fazemos votos de um bom trabalho e que em Agosto do próximo ano, mais uma vez a nossa festa seja feita com a dignidade e espírito de tradição e que continue a ser um momento de partilha e confraternização da nossa comunidade, presente e ausente.

Bem hajam!

3 de setembro de 2024

Sobrinca - Uma época, mil memórias

 


Terá sido fundada em 1963 por Fernando Ferreira e Américo Magalhães Ferreira, na freguesia de Caldas de S. Jorge, Santa Maria da Feira.

Implementada depressa cresceu e a Sobrinca - Brinquedos e Utilidades para Bebés, L.da, chegou a ser considerada uma das principais fábricas nacionais especializadas em artigos de puericultura e brinquedos.

Nas suas instalações industriais localizadas no lugar de Azevedo eram produzidos parques infantis, cadeiras de refeição, berços, carrinhos de bebé, andarilhos, bicicletas, triciclos e carrinhos a pedais, etc, etc.

Em 1976, os seus produtos conheceram a implementação dos plásticos nos seus diferentes artigos, autonomizando-se com a criação da IBOPAL na qual se fabircavam as peças e componentes de consumo própio.

Já na década de 1980 foi constituída IBEROBRINCA com objectivos comerciais de exportação e importação.

Na continuidade do seu crescimento, por meados da década de 1990 surgiu a SOBRINCA S.G.P.S, que passou a gerir todas as empresas criadas no âmbito da marca.

Para além do fabrico e comercialização de brinquedos e artigos para crianças, chegou a entrar no mercado de produção de mobiliário em madeira e também com participações no sector imobiliário.

Todavia, pelo início da década de 2000, com modelos de gestão duvidosos, passos maiores que as pernas e dificuldades em acompanhar as mudanças no sector e nos mercados, a empresa entrou em crise, surgindo como tábua de salvação a sua venda mas esta não resultou e pouco tempo depois deu-se a insolvência e falência da empresa e o fim de uma marca que já tinha uma história de quase meio século.

A Sobrinca foi um factor de desenvolvimento, mesmo que inicialmente com práticas deploráveis, que de resto eram comuns a outras empresas, como lançar para a rua e linhas de água os esgotos químicos das suas instalações, certo é que deu emprego a muita gente, mesmo a famílias, nomeadamente da freguesia de Guisande, que sobretudo pela década de 1970 e 1980 terão sido várias dezenas.

O certo é que passou à história e quem lá trabalhava teve que encontrar alternativas de emprego. As instalações estiveram muito tempo devolutas e de há alguns anos para cá foram requalificadas em parte e convertidas em espaços comerciais, nomeadamente de venda de material eléctrico, de pichelaria, materiais de construção civil e peças auto.

A Sobrinca, permance, todavia, como memória de um importante marco social da freguesia das Caldas de S. Jorge mas também de Guisande e outras freguesias vizinhas, pelo elevado número de empregos que facultou num tempo de transição da actividade agrícola de subsistência para o emprego industrial.

Complementando:  Nesses tempos, e sobretudo pela década de 1970, era ver os vários guisandenses a pé, ida e volta, a caminho da Sobrinca. Também era comum o pessoal da casa, esposa ou filhos, irem levar o almoço aos trabalhadores, pelo que procuravam encontrar-se a meio caminho, ali entre os lugares da Leira e Azevedo. De toda essa gente a caminho de e para a Sobrinca, talvez os mais emblemáticos tenham sido os cunhados Zé Carrêlo e Zeferino Gomes, que tantas vezes, em passo ligeiro, víamos a passar. Nesses tempos não se caminhava por desporto ou lazer mas mesmo por obrigação. Tinha que ser. E no caso da Sobrinca, a viagem até era curta, mas tantos e tantos que diariamente íam e vinham, de e para S. João da Madeira. Eu próprio, enquanto não comprei a minha própria bicicleta, durante vários anos ía e vinha a pé de junto da Capela do Viso para o fundo das Caldas de S. Jorge, por isso um pouco mais longe do que para a Sobrinca. Para almoçar subia até próximo do lugar de Azevedo ao encontro de minha mãe que diariamente nos levava o almo (a mim e a meu irmão). Resta acrescentar que tudo isso em idade de criança, sozinho, de noite, fizesse chuva ou sol. Disto não acreditarão os mais novos. Pois não!

15 de agosto de 2024

Padre José de Almeida Campos, Linhares, Almeidas e Coelhos, entre outros


Muitos de nós, sobretudo os mais velhos, já terão ouvido falar de que o Pe. José de Almeida Campos, pároco que foi da grande freguesia de Fiães, tem raízes familiares em Guisande, concretamente no lugar da Barrosa.  De facto assim é.

José de Almeida Campos é ainda vivo, tendo nascido em 8 de Junho de 1941, por isso com 83 anos de idade.

Foi ordenado sacerdote em 2 de Agosto de 1964 e foi pároco de Fiães desde 1980 até há poucos anos, tendo sido substituído pelo actual pároco, Pe. António Manuel dos Santos Martins, nascido em 13 de Junho de 1965 e com ordenação em 28 de Fevereiro de 1993 e que acumula a paroquialidade da freguesia e paróquia de S. Martinho de Argoncilhe.

Apesar da sua relação familiar com Guisande, o Pe. José de Almeida Campos, não nasceu cá nem em Fiães, como se poderia supor, mas sim em Pindelo, concelho de Oliveira de Azeméis.

Em rigor, o Pe. José de Almeida Campos, pela parte da mãe, é descendente da família Linhares. Então vejamos.

Era filho de Maria Madalena Ferreira de Almeida, que nasceu em 9 de Abril de 1915 e que casou em 14 de Setembro de 1940 com José de Oliveira Campos.

Esta Maria Madalena, entre outros, era irmã da Teresa da Conceição Ferreira de Almeida, nascida em 1 de Março de 1913, que casando com José Ferreira Cardoso foram pais de gente nossa conhecida, com a alcunha de “os Botas”, como o Sr. Mário Cardoso, o Narciso (falecido), a Margarida e a Maria Lúcia.

Era ainda irmã da Maria Madalena a Baptistina, que casou com Óscar Ferreira de Sousa e tiveram dois filhos, o José Fernando e o Domingos, este que vive na casa que era dos pais e dos avôs.

Era ainda irmão da Maria Madalena um Raimundo. Era ainda irmão da Maria Madalena, o Justino Ferreira de Almeida que casou com a Adelina “do Grilo” e tiveram vários filhos, gente nossa conhecida, como a Maria Zélia, viúva que ficou do Albero Gomes de Almeida, a Maria Eugénia, a Maria Alice, o António Albino, o José Fernando e o Raimundo Ferreira de Almeida, viúvo, serralheiro, que mora no lugar da Barrosa.

A Maria Madalena, mãe do Pe. José de Almeida Campos, e todos os seus irmãos atrás referidos, era filha de Joaquina Ferreira Linhares, nascida em 7 de Junho de 1880 e que casou em 22 de Fevereiro de 1906 com Domingos Ferreira de Almeida.

Por sua vez, a Joaquina Ferreira Linhares era filha de Margarida Ferreira Linhares, nascida em 26 de Julho de 1846 e que casou com José Gomes de Almeida, este de ascendência da família que deu origem à casa do Loureiro.

A Joaquina Ferreira Linhares teve outros irmãos, como a Ana Ferreira Linhares, a partir da qual e do seu casamento com Rufino da Silva Santos teve vários filhos como o Delfim que casando com a Dorinda Rocha, que ficou com a alcunha de “a Buraca” foram pais de vários filhos como o Albino, a Maria Eugénia, o António, o Delfim, a Silvina, o Domingos, o Fernando, o Rufino, pai do Carlos Almeida e o Marindo, pai do Johnny Almeida.

- Dos irmãos de Joaquina Ferreira Linhares, ainda a Teresa Ferreira de Almeida que casou com Joaquim Ferreira Coelho, tendo estes sido os pais do Joaquim Ferreira Coelho que casou com a Cristina Amélia dos Santos, ainda o José Coelho Gomes de Almeida (Zé do Coelho) e o Abel Lafaiete.

Por sua vez a Margarida Ferreira Linhares, mãe da Joaquina Ferreira Linhares, era filha de José Custódio Linhares que casou com Maria Joaquina da Costa. Esta Margarida Ferreira Linhares teve vários irmãos, entre os quais o Joaquim Custódio Linhares, nascido em 27 de Setembro de 1834, que casou com Margarida Gomes e que entre outros filhos foram pais de Manuel Ferreira Linhares, falecido em 26 de Julho de 1956 e que casou com Olívia Margarida dos Santos, falecida em 4 de Junho de 1958 e que tiveram filhos entre os quais o António Ferreira Linhares que casou com Rosa Ferreira de Castro e que tiveram vários filhos, alguns ainda vivos, como a Sr. Rosa do Linhares que vive em Casaldaça, esposa do Fernando de Oliveira Pinho e mãe do Fernando e do Valdemar. Ainda o Manuel, conhecido como “o Capitão”, que era casado com a Angelina do “Neto”, da Barrosa, ainda a Margarida Maria, a Maria Margarida, a Maria Adelaide, esta que casou com o Manuel de Almeida Azevedo e que tiveram filhos como o Manuel (do Talho Frescar, na Pereirada), o António e o José Carlos. Ainda a Maria Laura, ainda viva e moradora no lugar da Pereirada, mãe do Nuno, da Cecília e da Susete.

Como se vê, o Pe. José de Almeida Campos tem raízes familiares em Guisande e cujos ramos são vários e numerosos e produziram muita gente, muitos, mesmos dos mais velhos, ainda vivos e moradores em Guisande.

Como atrás referi, toda esta família ascende à origem da família Linhares na nossa freguesia que até onde consegui pesquisar, foi até ao atrás referido José Custódio Linhares, do lugar de Casaldaça, que casou com a Maria Joaquina da Costa. Por sua vez, subindo na árvore genealógica, este José Custódio era filho de José Custódio, do lugar da Lama, e de Maria Joana de Jesus. Por sua vez este José Custódio (pai), era filho de Joaquim Pinto Ferreira e de Maria Pinta. Por sua vez este Joaquim Pinto Ferreira era filho de Pedro Ferreira e Maria Pinta.

Pesquisar mais nomes, andar para trás no tempo, é missão quase impossível pois como se percebe os próprios apelidos não têm continuidade e perdem-se. Mesmo o apelido Linhares só aparece com o José Custódio (filho) e mesmo assim apenas num documento, já que nos demais apenas aparece escrito como José Custódio.

Claro está que toda esta família dos Linhares é mais vasta e com vários ramos já que o referido José Custódio (filho) teve vários irmãos e vários filhos para além dos aqui mencionados.

Fica, pois, este resumo que já diz muito do passado e presente das respectivas famílias que se entroncam ou entrecruzam.

2 de agosto de 2024

A vida do Chico deu uma volta

O Chico do Vieira enviuvou cedo. Tão medonho mal apanhou a Alzira que em pouco se apagou. Depois de desanuviada a negra nuvem da dor e do luto, ainda o rondaram com oferecidos galanteios, daqueles que só não vê quem é cego, algumas jeitosas pretendentes, solteironas, divorciadas e até mal casadas, sabedoras da sua gentileza, da boa estampa apesar de maduro, com casa montada, bom carro e emprego estável numa repartição pública, mas a todas esvaziou com a subtileza dos comportamentos de lobo solitário. Considerou que o que precisava depois da partida da sua alma gémea, era cumprir na solidão uma caminhada de serenidade, física e espiritual, quase como uma travessia de deserto daquelas que buscam os santos eremitas.

Logo depois, chegada a hora, nem mais um segundo, reformou-se e desde esse primeiro dia que se impôs a uma rotina disciplinadora para que não se perdesse numa modorra que conduz ao limiar da loucura. Assim, levantava-se sempre às sete e meia da manhã, espreitasse o sol pela janela do quarto ou nos vidros da janela batessem as gordas bátegas de chuva. A seguir, na casa de banho, eram sempre quinze minutos para o essencial, o escanhoar da barba e do ordenamento da basta cabeleira, já grisalha. Banhos gostava de os tomar antes de deitar. De seguida o pequeno almoço na pastelaria da esquina, a leitura das gordas nos jornais, e minutos depois caminhava já em passo acelerado pelos caminhos da redondezas, tanto quanto possível por onde não andasse alguém. Ao meio dia-e-meio era cliente diário no restaurante do Quintela. E era assim o resto do dia com coisas certas, a horas marcadas, como que comandado por um treinador de apito na boca e cronómetro na mão. Conversas poucas e só com amigos raros e mesmo assim apenas para não dar ares de bicho de buraco. Mas, não fora essa obrigação social e consideração de outros tempos, dispensaria de bom grado as conversas de lana caprina sobre o estado do país, da política e dos políticos, do futebol, etc..

Deitava-se sempre às onze, depois de ler algumas páginas de um dos muitos livros e em regra dormia bem até que o ciclo recomeçava no dia seguinte. Corriam os dias, as semanas e os meses e com eles os anos pareciam cavalgar num trote certinho, sem sobressaltos.

Um dia, porém o Francisco, não se sabe por que carga de razões, quebrou a rotina e foi tomar o pequeno almoço na freguesia vizinha e servido por tão graciosa rapariga, de olhos negros profundos, num corpo esbelto de viço, e tão simpática e afável no trato como se o conhecesse desde sempre. Não consegue justificar-se sobre que aranha lhe mordeu quando percebeu que começou a ir ali, não apenas uma, mas duas ou três vezes por semana e não somente pelos pastéis de nata ou torradas. Pouco mais à frente, já era presença diária e fazia por prolongar aqueles momentos que ali passava simulando que se entretinha a ler o jornal de fio a pavio e a terminar com uma bagaceira, mas na verdade sempre com os olhos a fugirem para os da empregada que, mais doces que os pastéis que servia, os encontrava e retribuía. Começou a baralhar as tarefas que tinha na rotina inabalável dos seus dias, saltando umas e adiando outras. Começou a dormir mal e aquela rapariga, tenra e deslumbrante, era presença nos seus sonhos à noite e pensamentos à luz do dia.

Certo é que passados alguns meses toda a freguesia ficou pasmada quando se espalhou a novidade de que o Francisco se juntara à Teresinha da pastelaria Estrela da Manhã, e de malas aviadas mudara lá para os lados de Castro Daire, de onde era natural a moça.

Há assim nas nossas vidas um não sei quê de que destino, fatalidade ou apenas acaso, que quando damos por ela, dá cabo das mais fundamentadas rotinas, descompondo ideias, desorganizando sonhos, distorcendo as linhas rectas e paralelas que nos guiam, fazendo descarrilar o comboio com as dezenas de carruagens onde arrumamos as nossas coisas certinhas.

Feitas as contas, terá sido melhor assim. Seria demasiado penoso que o Francisco não fosse capaz de se desamarrar daquela disciplina monocórdica que lhe fazia os dias todos tão iguais, tão minuciosamente agendados e preenchidos em todos os minutos e horas dos dia e noites, que às tantas aquilo já não era vida, mas somente um existir, um relógio dominador, uma engrenagem de movimento perpétuo.

Já passaram uns largos meses e a freguesia não voltou a ter notícia do Chico. A filha, a quem entregou as chaves da casa sem grandes justificações, também abalada com a decisão assim de supetão, mal se vê pela aldeia, evita os contactos e se interpelada nem chus nem mus.

Não sabemos, por isso, como corre a vida do Francisco com a fresca Teresinha, lá pelas bandas de Castro Daire, mas por mais revolta e imprevista que seja, será certamente vivida, em que cada dia é diferente do anterior como inesperado será o seguinte. Sem regras, apenas de improviso. Porventura, descascada a sumarenta da companheira, já a achará chocha, desenxabida, ou ela, de tanto o já ter espremido, seguiu para outro pomar, mais fresco. Talvez, uma ou outra coisa ou nenhuma delas, mas na certeza de que a vida do Chico deu uma volta de pernas-para-o-ar. Se caiu de patas como os gatos, se de cu-catrapuz, por ora ainda não se sabe.

Talvez regresse um dia destes, cabisbaixo, rendido, a retomar a antiga rotina, a voltar a almoçar no Quintela, feijoada às sextas, rojões ao Sábado, cabrito ao Domingo.... Talvez!

1 de agosto de 2024

Viagem Medieval? Não, obrigado!

 Há 20 anos que não ponho os meus pés na Viagem Medieval.

Apenas por umas poucas razões: 

1 - A primeira desde que, enquanto membro da Comissão de Festas cá da terra, solicitei um apoio da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira à componente cultural,  pela participação de duas bandas filarmónicas, e nem sequer merecemos resposta nem a atribuição de 1 euro que fosse.

2 - Não concordo que enquanto cidadão livre, defendido pela Constituição, que me permite a livre circulação no espaço público não o possa fazer durante quase duas semanas, numa zona nobre e ampla de uma cidade, convertida por esses dias num parque temático.

3 - Se gostei da genuinidade das primeiras edições, e ainda no castelo, depressa percebi que a coisa se massificou. Não sou adepto de entretenimento massificado. Defeito meu, admito! 

Mesmo assim, da duração, creio que 4 dias seriam suficientes. 12 é um exagero e todo o constrangimento que daí decorre. Quem por ali vive ou trabalha, melhor é meter férias e dar de frosques.

Reconheço obviamente a importância económica para o concelho, seja quem disso beneficie, e serão muitos, mesmo que digam que quase sempre os mesmos, mas como dela não colho 1 euro, é daquelas coisas relativas, a desconsiderar porque de que vale sermos ricos por ter o ovo no cu da galinha do vizinho? Além do mais, nem tudo pode ser justificado pelo dinheiro e receitas.

Apesar de tudo, é engraçado ver tanta gente feliz a fazer de conta que é cavaleiro, a comer e a beber sem olhar a preços, sempre exorbitantes . Assim fossem tão empenhados estes nobres e valentes cavaleiros de fingimento a apanhar batatas. Não são, mas que se divirtam!

Passarei pelo burgo logo que que o espaço público atravancado seja devolvido aos cidadãos, assente a poeira das batalhas fingidas e dissipado o cheiro a porco no espeto.