Fotografia da década de 1980, anterior à construção da alemeda frontal à igreja matriz bem como da construção da capela mortuária.
Fotografia da década de 1980, anterior à construção da alemeda frontal à igreja matriz bem como da construção da capela mortuária.
Em Agosto de 2019, na festa de Canedo, captei um olhar da clássica roulote de farturas do Isaac de Lourosa, que desde 1969 percorre festas e romarias, e que na nossa região é sinónimo de qualidade.
Há rouletes de farturas bem mais espampanantes e coloridas, mas nenhuma com a qualidade das farturas e churros do Isaac.
Nessa altura publiquei a fotografia na minha página de internet.
Certo é que hoje, na festa do Santo Ovídeo, tive a agradável surpresa de verificar que na roulote do Isaac a respectiva fotografia foi aproveitada para a decorar. Comprei ali meia-dúzia de churros e poderia fazer referência ao assunto da fotografia, e talvez merecesse uma fartura de oferta, mas achei por bem nada falar.
Foi, pois, uma agradável surpresa, mas sobretudo por ver que os sucessores aproveitaram a foto para homenagear o Isaac e a esposa D. Albertina, esta já falecida por 2020.
Fica aqui o registo com as fotos que obtive em 2019 e agora a mesma a decorar a roulote.
Uma porta, velha, arrombada, já sem alma para guardar.
Lá dentro, uma cozinha despojada, vilipendiada. Já não há aromas de peixe frito nem vozes a chamar para a ceia.
Mesmo assim, neste escancaramento, nos restos de um estupro da memória de tempos já volvidos, há uma nesga de rio a espreitar. Este, tristonho, vai correndo mas já sem a calma dos dias serenos, antes perturbado pela correria dos barcos e das motos-de-água, de gente que sobre ele se diverte, como coisa de usar e deitar fora.
A tarde é de Outono mas nos canteiros das casas defronte há flores que moram na Primavera e na borda da margem o pato solitário mergulha sem frio porque o ar não é de agasalhos.
Lá no alto, aquele imponente pinheiro sobrevive, qual sentinela. E tanto e quanto nos poderia contar, de outros tempos, azáfamas, de fainas de pescadores num vai-e-vem a arrancar do rio o que comer à noite. Ainda se lembrará do Douro de outros tempos, impetuoso, cheio, ou sereno, estival, de águas minguadas a juntar nas margens frescas as lágrimas de regatos e ribeiras? Talvez sim, porque tem a idade e o tamanho de nele caberem as memórias de um tempo tão próximo e tão distante.
Quanta água já passou aquelas curvas apertadas, quanto à sua conta encheu o mar? Mas não só levou água ou areia o Douro, mas uma enxurrada de memórias, de saudades.
Um lugar, como Pé-de-Moura, na bonita Lomba, conta-nos mais que o que vemos e até uma porta arrombada pode convidar-nos a entrar. Haja alma e cortesia para com o anfitrião, haja olhos para respeitar a intimidade.
Tenho para mim que uma grande fotografia poucas vezes tem a ver com a qualidade do fotógrafo. Tem mais a ver com a qualidade do seu equipamento, dos lugares que visita e dos motivos que capta. Mas tantas vezes o que realmente é diferenciador é o momento, a oportunidade, porque um segundo a mais ou a menos faz toda a diferença, porque ou se perde o enquadramento, a pose ou as nuances de cor e luz.
Ontem, por exemplo, muitos terão observado, ali por volta das oito da tarde, projectou-se do lado nascente da freguesia um bonito e completo arco-íris, que até chegou a ser duplo, e com o seu interior mais claro que o exterior, num contraste deslumbrante com o céu enegrecido.
Estava nessa altura em casa de minha mãe, por detrás da capela do Viso, e fui tirando umas fotos mas sem conseguir o enquadramento total do arco e só então me ocorreu que poderia tentar o enquadramento da capela com este fenómeno da luz solar ao ser filtrada pelas gotículas da chuva.
Assim, rapidamente me desloquei para o monte e para defronte da capela mas já o sol estava um pouco encoberto e o arco-íris já a dissipar-se e menos notório. Foi pena este pequeno atraso, porque um pouco antes e teria conseguido uma deslumbrante fotografia, mesmo que sem grande equipamento. Assim, apenas uns fragamentos que agora partilho, uma pobre amostra do que poderia ter sido.
Manhã de caminhada pela serra. Desta feita pelas bordas das nascentes do Vigues e da Ribeira de Fuste. Panoramas deslumbrantes e coloridos de urze e carqueja até perder de vista. Diversidade de trilhos, macios, agrestes e duros, descidas e subidas verticais em fartura. Sabe bem parar, respirar fundo e captar os olhares. Afinal, a serra pede que a respeite, que a saboreie plena, sem correrias, sem relógios a ditar leis, sem pressas, como quem namora.