Há alguns dias atrás, conversando com alguém conhecedor e com alguma influência social na nossa freguesia, falámos sobre o processo que está em curso (com recolha de assinaturas) no sentido de tentar resgatar Guisande ao actual modelo de união de freguesias, aproveitando o regime transitório legal que prevê a possibilidade de reverter o processo de agregação, o que poderá ser feito no prazo de um ano a partir da data da aprovação da respectiva lei-quadro. Por isso, aproximadamente até ao final do corrente ano.
Para além da tal vontade poder ser concretizada e do cumprimento ou não dos critérios estabelecidos para a possibilidade de desagregação, será necessária a aprovação em sede de Assembleias de Freguesia e Municipal e há alguns sinais que a coisa possa não reunir consenso geral.
Mesmo assim, considerando possível a concretização, a pessoa em causa mostrou sérias dúvidas sobre as vantagens para a freguesia no actual contexto. Considera que a freguesia nesta fase está sem lastro social e sem massa crítica da qual possam sair os futuros líderes e autarcas com interesse, conhecimento e capacidade.
Pessoalmente, mesmo admitindo o contrário, em determinado contexto, não me estou a ver novamente numa situação de serviço na actual União de Freguesias, seja em que grau for, na Junta ou na Assembleia, mas em caso da freguesia recuperar a sua independência, o meu humilde contributo, se requerido e no contexto adequado e com as pessoas certas, estará sempre disponível, se possível numa lista ou movimento supra-partidário.
É claro que, desejando eu que seja possível a nova desagregação, contrariei a opinião céptica do meu interlocutor e procurei justificar que se é certo que a freguesia pouco tem a ganhar em termos concretos, tem pelo menos a vantagem de não continuar a perder a sua identidade e desagregação, o que nitidamente começou com a reforma administrativa que a colocou na actual situação.
Por outro lado, mesmo analisando os supostos e prometidos ganhos com a união de freguesias, a verdade é que já com dois mandatos passados está por demais evidente que a freguesia foi em muito prejudicada, sem quaisquer obras que justificassem a anterior relação de receitas. Tem sido uma total estagnação e mesmo desrespeito.
Todos desejamos e temos esperança que a nova Junta da União tenha uma postura diferente da seguida até aqui, com demonstração efectiva de respeito e equilíbrio nas diferentes áreas, mas de tão má experiência as dúvidas são muitas.
Em todo o caso, voltando à pessoa da conversa, sou obrigado a dar-lhe razão no fundamental, já que neste momento não vejo rigorosamente ninguém com conhecimento, interesse e capacidade de conseguir motivar a freguesia e torná-la novamente dona de si própria. A velha guarda já deu o seu contributo e agora merece naturalmente dias de descanso. Por sua vez, os mais novos, de um modo geral, não demonstram qualquer interesse e empenho pelas coisas da comunidade e em rigor não a conhecem para lá dos muros do quintal de suas casas. O movimento associativo e sobretudo culturale recreativo é quase inexistente e sem uma abordagem geral à freguesia. De resto, mesmo com as anteriores experiências, como a Associação "O Despertar", a verdade é que a freguesia quase não respondeu, alheando-se dos diversos programas, acções e eventos.
Por sua vez, a Associação do Centro Social S. Mamede de Guisande conseguiu concretizar uma obra fantástica, que pode e deve ser um elemento catalisador de vontades e união inter-geracional, mas apesar disso tem sido ostracizada pelo poder público que tarda em concretizar os programas de apoio aprovados, e mesmo na freguesia são muitos os maldizentes e invejosos que rezam para o insucesso e seu encerramento. E não faltará muito para que as suas preces sejam concretizadas, pois se as coisas não mudarem de forma significativa, quando a presidência do Joaquim Santos terminar o seu actual mandato, o destino será provavelmente a entrega das chaves das instalações à Câmara Municipal ou à Junta de Freguesia, que certamente serão impotentes para reactivar e dinamizar o equipamento. De facto, realisticamente não estou a ver alguém ou algum grupo capaz de se candidatar aos corpos gerentes e dinamizar a respectiva associação e dar corpo ao seu objecto social. Ninguém quer nada, sobretudo de algo que só dá trabalho, canseiras e responsabilidades e sem qualquer retorno. Os indiferentes são muitos e os maldizentes são alguns e até sabemos quem são. Dali não se espera nada.
Assim sendo, não anda longe da razão a pessoa com quem conversei sobre este assunto do possível resgate da freguesia. Falta-nos muita coisa, sobretudo gente com qualidade, interesse e conhecimento pela cidadania e causa pública, nomeadamente a troco de nada. Alguns que até podiam estar na grelha de partida, preferem estar no choco, nos seus entretenimentos e sossegos, apenas a assistir da poltrona. Os primeiros a maldizer mas os últimos a mostrar trabalho ou a dar o exemplo. Foge Quim!
Ora quando assim é, mesmo que a freguesia venha a conquistar a sua independência, tenho sérias dúvidas que voltem os antigos dinamismos de uma freguesia que dava cartas nos diferentes aspectos, apesar de pequena. Já foi chão que deu uvas.
Oxalá que este cepticismo não tenha razão de ser e que nos enganemos profundamente. Seria bom e um positivo sinal, mas até lá, como o S. Tomé, ver para crer.