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21 de setembro de 2023

...estás tolinho!

Já não sei o que faça. Ontem, ao passar por ele em passo de corrida, e não querendo parar, não por desconsideração mas para não perder o ritmo, o meu amigo Carlos Cruz ali no ecoponto de Fornos cumprimentou-me com um "...estás tolinho!". 

E porventura, concordando, devo estar mesmo tolinho por já com esta bonita idade andar por estas nossas estradas e caminhos a correr, não a treinar para corridas a sério, que isso é coisa para campeões, com provas marcadas a cada semana e que pagam para nelas participar, mas apenas para ter algum controle de peso, pois este descontrola-se mesmo que ande só a pão e água. Caprichos dos metabolismos, dizem-me.

Mas o problema destas coisas, destas tolices, é que dá a impressão a alguns, incluindo ao Carlos, que isto de me verem a correr é coisa de agora e de modas. E não é, de todo,  já que corria em solteiro, e mesmo já depois de casado, e só não com a frequência de agora porque com problemas estruturais que me faziam desistir, a ficar-me pelo futebol, e volta e meia voltar a retomar.

Também joguei futebol de salão semanalmente durante mais de 20 anos e pelo menos há 15 anos a pedalar com regularidade por montes e vales arouquenses e arredores, a subir freitas, bonecas e camoucos, enfrentando subidas de 15% ou mais. Para além da fininha de estrada, mesmo de BTT, com o Luis B (outro tolinho com que me cruzei ontem) andei alguns anos a correr tudo quanto é caminho e mato pelas redondezas. Ou seja, esforcei-me para não desmazelar a actividade física mas sempre sem preocupações de grandes feitos e sem qualquer espírito competitivo que me faça sequer sonhar em participar em qualquer uma das milhentas provas, porque, desde logo, quem andou não tem para andar.

Mas sim, alternando com bicicleta e caminhada tenho corrido com regularidade há quase ano e meio, sem qualquer preocupação de ritmos e tempos, que nem sempre registo, mas percebendo que com a minha idade e ainda o com o meu peso, acima do que devia saudavelmente pesar,  não faria má figura ao lado de alguns campeões bem mais novos e mais leves.

Mas feito o desabafo e a explicação, o Carlos teve a consideração certa e que a maioria pensa, porque na realidade eu e muitos vamos andando por aí a correr, a queimar calorias, umas vezes ao sol outras à chuva, parecendo "tolinhos", quando é bem mais fácil ficar parado, quando muito a aventurar a as umas curtas caminhadas nos passadiços a ver a beleza que passa como em Ipanema, e a evitar desníveis que façam soltar a língua de fora. 

Sendo assim, lá vamos andando, correndo e saltando, mesmo que com ares de "tolinhos", pelo menos até que os ossos, digam: -parou, parou, parou!

Festa, hoje há festa...

Pode ser apenas uma percepção minha, mas verifico, e não é naturalmente só no nosso município e nas nossas freguesias, que as autarquias gastam cada vez mais dinheiro em eventos notoriamente recreativos, em que se aliam a dita gastronomia, na forma popular de comes-e-bebes, com programas musicais, supostamente para todos os gostos mas tantas vezes sem gosto nenhum, mas de modo geral com grandes gastos. Para além disso, muito dinheiro dos escassos orçamentos são também canalizados como apoios para eventos desportivos, nomeadamente corridas, que agora são mais que as mães, msmo aquelas, quase todas, promovidas com fins lucrativos.

Admito e compreendo que o recreio, o lazer e a actividade desportiva são importantes e fundamentais, mas dá para perceber que começa a haver algum desequilíbrio entre as necessidades de pão e circo e outras que realmente melhoram o quotidiano e as condições de vida das pessoas, nomeadamente ao nível das nossas estradas, equipamentos, apoios sociais, etc.

Veja-se, ainda agora a Câmara Municipal de Arouca vai gastar, creio que li ou ouvi, 400 mil euros, para as Feira das Colheitas que terão lugar neste próximo fim-de-semana. Todavia, e como paradoxo, eu que percorro de carro e bicicleta muito desse belo concelho, há ainda estradas que são óptimos caminhos de cabras, por isso em muito mau estado e ainda com redes públicas de águas e saneamento a não chegar a grande parte das fregusias. Por conseguinte, poupa-se na requalificação de estradas mas traz-se à praça uns tais de Calema, Pedro Mafama e outros. O povo até é chamado a escolher os artistas, por isso tudo muito democrático.

Claro que Arouca aparece aqui como mero exemplo, porque cá pelo nosso concelho a coisa não fica por menos, nem nos demais. Todos tendem a copiar e aplicar a receita porque hoje em dia estas coisas têm repercussões nos mídia e redes sociais. Justificam-se com um certo senhor "retorno económico"  mas na realidade é daquelas coisas que se atiram para o ar porque regra geral esse senhor fica-se por um grupo priveligiado de grupos e empresas que acedem a esses espaços. No geral, no bolso das populações, não cai um cêntimo que seja desse "senhor retono".

Mas é isto e é assim porque, percebem os diferentes autarcas, são medidas populares, popularuchas e com elas ganha-se simpatia e depois os votos quando chegar a hora. Por conseguinte, a velha fórmula do tempo dos romanos de manter a populaça satisfeita ainda reside no pão e no circo. Ontem como hoje as coisas pouco mudaram a este nível.

Em resumo, tudo é importante, incluindo o pão e o circo, e também gosto, mas importa que as autarquias não padeçam da tentação do desequilíbrio e gerando paradoxos, ficando-se apenas pelo que é popular. Esse equilíbrio não é fácil, pois não, mas na dúvida ganha o que em cada momento parecer mais popular.

12 de setembro de 2023

Gatões e ratinhos

Na vida real ninguém, presumo, gosta de ver um adulto a bater numa criança ou num inadaptado, mas no futebol de selecções ao mais alto nível isso acontece sem esmorecimento. 

Não se percebe, pois, o que selecções de futebol como Luxemburgo, S. Marino, Andorra, Ilhas Faroé, Liechtenstein, Gibraltar, Malta e outras que tais, andam por ali a fazer, a não ser de figuras de meigos passarinhos para os gatões os depenarem e se lambuzarem.

Mas dizem os entendidos nesta matéria difícil do chuto na bola, que as senhoras FIFA e UEFA, duas gatonas gorduchas e ávidas por whiskas com cifrões, não se incomodam com isso porque quanto mais selecções, mais jogos e mais direitos. Com jeitinho ainda lá metem os Açores, a Madeira e as Canárias.

Poderia e deveria haver um sistema de divisões,  ou então, mal por mal, um sorteio puro e duro, pelo menos para se garantir um princípio de aleatorieadde; Mas não, a FIFA e a UEFA não querem saber disso e para além desse desequilíbrio notório, ainda o potencia e confina com o sistema de potes, à moda dos antigos fojos que os pastores usavam para caçar os malvados dos lobos que lhes apanhavam os mansos cordeirinhos. Assim, com este sistema de pirâmide, garante-se o direito de que a dois gatos mais fortes, cabem sempre um ou dois ratinhos tenros. 

Mas a quem incomoda isto? À maioria era vê-los, ontem, todos rejubilosos, no Algarve, a festejarem a cabazada ao Luxemburgo, como se fosse um jogo de hóquei em patins. Só lá faltava o Ronaldo para somar mais uns quantos.

Se o futebol competitivo é isto...

11 de setembro de 2023

Coretos pequeninos - A propósito


A propósito do poema que há pouco aqui publiquei com o tema do coreto pequenino, importará, creio, alguma explicação. De facto a inspiração surgiu da foto que acompanha o poema, com o pequeno e bonito coreto junto à capela de Nossa Senhora da Ribeira, na freguesia de Fajões, concelho de Oliveira de Azeméis, onde decorria a festa. Ali vazio, inútil, porventura a estorvar, e ao lado dois grandes e modernos palcos onde se exibiam alternadamente duas boas bandas de música, vizinhas, a de Fajões e a de Carregosa ( e que pena que raramente venham à nossa festa). 

Ao som da bem executada abertura da ópera Tannhäuser, de Richard Wagner. (1845) pela centenária Banda de Carregosa, não deixei de reflectir sobre essa situação que é sinal dos tempos. De facto há pelo país e mesmo pela nossa região centenas de bonitos coretos, outros nem por isso, abandonados à sua função e que agora não passam de inutilidades. 

No seu tempo foram feitos à medida das filarmónicas, então com pouco mais que uma dúzia de músicos ou um pouco mais se bem apertadinhos. Mas as bandas cresceram, duplicaram e até mesmo triplicaram em executantes e hoje em dia qualquer modesta banda tem meia centena de músicos. Ainda bem, digo eu, porque é sinal que apesar de ainda muito desconsideradas no seu papel, e facilmente preteridas numa qualquer festa por um vulgar cantor pimba e suas bailarinas, são um expoente da nossa melhor cultura e congregadores de comunidades. 

Recordo, da minha infância, e muitos se lembrarão, mesmo na nossa festa do Viso onde quase todos os anos se montavam dois pequenos coretos, em madeira, vindos da Casa da Quintão e da Casa do Sr. Gomes, onde se alojavam duas bandas de música que só por si compunham o programa musical da festa. O palco, para os ranchos e mais tarde para os conjuntos típicos, era um simples estrado em tábuas de madeira que se montava no próprio local. Só mais tarde é que começaram a surgir os palcos com estrutura metálica e cobertura em lona e de lá para cá, como os eucaliptos, vão crescendo em tamanho, em altura. Não sei onde irá parar tal crescimento e um dias destes no Viso será montado um palco mais alto que o velho sobreiro. Haja limites, até porque um palco enorme para acomodar um comediante ou um artista a solo ou alguém a pôr discos, acaba por ser despropositado.

Mesmo o actual coreto, construído pelo final dos anos 90, depressa se tornou atarracado e dispensado à sua função e já pouco serve. Qualquer cantorzeco pimba recusa ali actuar. Para um rancho é pequeno e obriga a montar o estrado que é complicado e trabalhoso e já nem sei se em condições. Para uma banda é igualmente pequeno, mas ainda capaz.  Está, pois,  ali como um mero ornamento, a precisar de pinturas e manutenção que se não fazem. 

Mas, nesse crescimento das bandas filarmónicas, naturalmente que os velhos e pequenos coretos deixaram de ser prestáveis e assim são dispensados da tarefa. Alguns, apesar do seu valor histórico e patrimonial, foram mesmo abaixo ou mudados para não estragarem os planos às comissões de festas para ali montarem enormes palcos, alguns que até chegam em camiões. Veja-se que mesmo em Guisande, na nossa festa do Viso, ainda o ano passado, para além do coreto sem qualquer função prática como atrás justificado, havia um palco enorme e, como se não bastasse, chegou ainda um enorme camião palco, dos Tekos, que se colocou à frente da capela pondo esta num plano secundário. Opções!

Nestas coisas não há contemplações: O tempo é feito de mudanças e com ele e com elas é deixado para trás tudo o que não serve nem se adequa. É inevitável e não há aqui qualquer surpresa mas apenas uma constatação e igualmente uma impotência para suster ou mudar seja o que for, porque a força do tempo é cósmica e não há como nos opormos a ela.

Em todo o caso, quanto aos coretos, mesmo que inúteis porque pequenos e inadapatados às modernas grandezas, importa que sejam conservados e valorizados, até porque os há como autênticas obras de arte. A destruição ou o abandono à ruína é que será mais lamentável que ficarem vazios sem o só-li-dó.

8 de setembro de 2023

Figuras típicas e castiças e pouco ou nada

Há pelas nossas terras, sobretudo pelas pequenas aldeias, pessoas que pelas suas particularidades se tornaram de algum modo emblemáticas, castiças ou ditas típicas. Seja pelas características físicas e de idade, de linguagem, de profissão ou outras, certo é que adquiriram esse estatuto perante a comunidade, mesmo que em rigor nada fizessem por isso.

Ora nos tempos que correm, tão ligados à importância da imagem e do antes parecer que ser, temos a tendência de colocar essas pessoas num certo pedestal, que mais não seja a modos de exibição, e neste aspecto as redes sociais dão uma grande ajuda, senão toda.

Apesar disso, e dessas pessoas só por si representarem esse estatuto perante os seus concidadãos, nem sempre correspondem a uma valorização decorrente de um ponto de vista de qualidade de cidadania e intervenção cívica no próprio meio onde habitam e têm o seu espaço.

Não faltam, pois, por aí, figuras bem típicas e castiças mas que em rigor nunca nada fizeram de concreto como acto de cidadania ou de participação em todos os momentos comunitários. Nunca fizeram parte dos movimentos políticos, de uma junta ou assembleia de freguesia; nunca integraram uma comissão de festas de arraial ou de igreja; jamais participaram num passeio ou num evento comunitário; nunca articiparam em grupos ligados à igreja ou ao apoio social; também passaram ao lado das responsabilidades numa associação cultural ou clube desportivo; mesmo quando solicitados em peditórios e campanhas de angariação de verbas para os diversos fins da comunidade, não aparecem à porta ou se sim com as mãos vazias e ainda a soltar cães ou pregar sermões.

Apesar de tudo, mesmo com todo este estatuto de nada fazerem nem mexerem uma palha a favor da comunidade onde se inserem, continuam a ser tidos como figuras importantes, singulares. Pelo contrário,  aqueles que em todos os momentos foram participando activamente, contribuindo e colaborando na vida comunitária, só porque não tão típicos ou castiços, porventura mais discretos nas suas acções, acabam tantas vezes esquecidos e pouco ou nada valorizados e até mesmo desconsiderados. Esta é uma situação que ocorre em muitas comunidades e mesmo aqui em Guisande temos exemplos concretos de ambas as situações, os típicos que nada fizeram e os que muito contribuiram mas desconsiderados.

Em resumo, devemos valorizar todos os nossos concidadãos, é certo, mas sempre na justa medida e dar mais apreço a quem de facto se destingue pelo que faz e não apenas pelo que parece ser, por mais típico que seja. Acima de tudo devemos, tanto quanto possível, ser justos já que nem sempre o somos e custa-nos a reconhecer os méritos de tantos só porque não são das nossas relações, do nosso clube, do nosso partido ou não vão connosco à bola.

Nesta como noutras situações, fica sempre bem "o seu a seu dono" ou mesmo "separar as águas".


[imagem: D´Évora com Amor]

7 de setembro de 2023

1.º Direito e 2.º Esquerdo

A propósito, ou não, de um certo programa de apoio e acesso à habitação, em sequência ou consequência de uma certa  estratégia local de habitação, que grosso modo aproveita financiamento da teta europeia do dito Plano de Recuperação e Resiliência (PRR):

O tal programa visa apoiar a promoção de soluções habitacionais para pessoas que vivem em condições habitacionais indignas e que não dispõem de capacidade financeira para suportar o custo do acesso a uma habitação adequada. Coisas bonitas.

Mesmo tendo lido na diagonal os documentos e apesar dos bons pressupostos, há à partida, parece-me, um princípio de igualdade que não é lá muito bem equacionado.

Um exemplo: Um agregado familiar que reúna os requisitos de baixos rendimentos para ser apoiado, mas que tem uma habitação de razoável qualidade e com todas as condições de habitabilidadde, e têm-na porque para a construir ou comprar contraiu um empréstimo ao Banco, à qual está hipotecada, e que paga mensalmente até à sua idade da reforma, fica de fora desta equação apesar de continuar com as dificuldades económicas inerentes ao peso da prestação do crédito habitação. 

Assim vamos tendo gente em habitação social acomodada, com bons carros, bom viver e a escapar aos inconvenientes de comprar terreno, fazer projecto, construir casa e pagar o crédito habitação e ainda os injustos IMIs como uma renda. Em rigor, o Estado e muitas autarquias limitam-se a apoiar a habitação a quem pouco ou nada faz por tê-la, mesmo que com as mesmas condições e rendimentos de milhares que o fizeram. Os exemplos estão à vista de todos. O pior cego é aquele que não quer ver.

Em resumo, estas políticas apresentam-se como boas intenções, e aproveitará sempre a uns quantos, mas que depois na realidade não servem nem se adaptam à generalidade dos casos.

Além do mais, muitos dos pressupostos do programa cheiram a esturro porque casos há em que os cidadãos se metem a requalificar uma velha habitação e só porque abrem uma janela ou uma porta extra, são esbarrados, coimados e confrontados com a  necessidade de licenciamentos que regra geral são demorados e caros, desde os projectos às taxas de urbanização e licenças. Poderia passar por aí alguma ajuda até porque os ditos planos de reabilitação dos nossos núcleos urbanos não passam dos PDFs e das intenções.

Por conseguinte, é tão bonito passar as ideias para PDFs e lançar uns programas jeitosos que depois, na realidade, servirão a poucos. Um pouco como certas câmaras municipais e juntas de freguesias a darem cheques a mamás e e papás, pobres ou ricos, como se isso sirva para alterar os problemas de fundo da natalidade e demografia. Quem não gosta de prendas? Todos gostamos e tiramos fotografias sorridentes a recebê-las. Mas isso, para além de poder render mais uns votos futuros aos promotores, resolve o quê em concreto? 

Seja como for, tudo o que se possa fazer por quem realmente tem necessidades e dificuldades nesse direito básico que é a habitação condigna, é sempre positivo, mas dispensa-se o folclore e acima de tudo que haja um critério rigoroso para ajudar a quem realmente precisa. 

4 de setembro de 2023

Santa farturinha ou vender cabritos sem ter cabras

Creio que já abordei por aqui esta particularidade, mas tenho para mim que um dos bons indicadores da saúde financeira dos cidadãos, tanto ou mais que o INE - Instituto Nacional de Esatatística, é o ligar para alguns dos restaurantes cá da zona e mesmo que com duas horas de antecedências, e outros de dias ou semanas, e de lá informarem recorrentemente que estão cheios em reservas. 

Ainda um dia destes, num dos locais envolventes à ria de Aveiro, à porta de um certo restaurante onde se diz comer bom "peixinho", antes duas horas de abrir ao meio-dia informou estar todo reservado e com lista de espera para depois das 14 horas. Arranjei um alternativo, próximo, mas mesmo esse a partir das 12 horas começou a encher e ainda antes das 13 estava a abarrotar.

Mesmo por cá, ainda no Sábado, para jantar, dos três que contactei uma hora antes, já estavam reservados na totalidade. Na insistência e com o compromisso de estar à mesa às 19, e a despachar, lá se conseguiu mesa para dois num deles. Escusado será dizer que saí e ainda havia mesas vazias, porque isto de reservas tem que se lhe diga, sobretudo quando os restaurantes aceitam que uma mesa reservada fique ali vazia até que os senhores doutores lá cheguem às horas que entenderem. Coisas, mas é lá com eles. Por mim, as reservas teriam que ser preenchidas logo à primeira hora. 

É certo que este meu indicador de boa saúde nos bolsos e carteiras da nossa malta, por vezes são tiros ao lado, pois o que não falta por aí é rapaziada boa que goza férias à grande e à francesa, em locais mais ou menos paradisíacos, e fazem por o mostrar nas redes sociais, com empréstimos contraídos para o efeito. Mesmo que nunca o tenha feito (credo em cruz), é legítimo e nada contra com quem o faz, mas é uma situação que nos faz ter em conta que nem sempre o que parece, é. De resto a este propósito, gosta de dizer o meu amigo  José H. que o seu carro é modesto mas que não está em nome de um qualquer Banco ou empresa de leasing. - Estás fora de moda, caro JH!

Mas como é tão típico dos portugueses, primeiro gozar, segundo gozar e depois logo se vê, quem sabe se com uma ajuda do Governo...

Seja como for, a malta no geral ainda anda folgada, pelo menos o suficiente para encher depósitos de combustível dos seus bons carros, ocupar alojamentos e reservar restaurantes. Perante estas evidências, que dizer? É positivo, digo eu, que, com desconsolo, ainda não descobri como vender cabritos sem ter cabras.

Viva la vida! Olé, olé!

27 de agosto de 2023

Zé brasileiro português de lado nenhum


Não é apenas uma percepção de quem anda por zonas urbanas e frequenta serviços, sobretudos ligados ao turismo, como alojamentos e restauração, de que estamos "infestados" de estrangeiros e principalmente de brasileiros nessas actividades, mas, também me parece, é mesmo uma constatação notória.

Confesso que nada tenho contra estrangeiros, incluindo os brasileiros, até porque uso a máxima de que todos são bem-vindos se vierem por bem e acrescentarem valor, a eles próprios, naturalmente, mas também ao país, cidades, vilas e aldeias que escolheram para, de algum modo, encontrarem melhores condições de vida para si e para os seus. Quem não vier nem estiver cá com esses pressupostos básicos, para além do respeito por cultura, religião e história locais, querendo impor as suas, não é bem-vindo e estará cá a mais. Nós, portugueses, sempre fomos exímios nesse respeito e por isso sempre fomos bem sucedidos e admirados nas várias partes do mundo para onde emigramos.

Apesar de termos em Portugal um historial de crimes recheado de brasileiros, e quem percebe da poda vai dizendo que a bandidagem brasileira encontra por cá bom paradeiro, políticas displicentes, uma autoridade sem autoridade, um regime penal suave, etc, creio, todavia, que no global são pessoas de bem e que facilmente se integram e também são bem acolhidos pela sua natural proximidade linguística, de simpatia e mesmo de competência. Vejo isso, por exemplo, na minha dentista, que é brasileira ou junto de outros profissionais com quem tenho cruzado. De resto tenho familiares e amigos do e no Brasil.

Por conseguinte, com uma politica de décadas que tem levado a uma baixa de natalidade consistente e por isso com a população a regredir a olhos vistos, mesmo com um território pequeno, resulta claro que o nosso país está a ficar despovoado, concretamente no interior. Assim, o fluxo imigratório é importante se bem orientado para que, de algum modo, se possa pelo menos estagnar algumas hemorragias no nosso tecido populacional. Mas mesmo isso será sempre difícil porque no geral quem cá chega como imigrante, tal como os portugueses, opta pelo litoral, pelas zonas urbanas e assim as zonas interiores continuam a padecer do mesmo problema. Os que por lá passam são no geral em contextos de trabalho sazonal e mesmo precário e por isso o problema continua e até, porventura, agravado pela natureza dessa precariedade e descontrolo.

Em todo o caso, este é um assunto para os especialistas da demografia e das políticas de migração e trabalho. A minha opinião e percepção é apenas a de um simples cidadão.

Mas todo este prefácio para chegar a uma questão que, pelo menos a mim, importa: Por exemplo: Ainda por estes dias, num hotel de uma zona interior deste nosso Portugal, fui servido por um funcionário, português, a quem me interessou saber o nome e se era dali da zona ou de outro local do país. O Rui disse-me que sim, que era mesmo dali e por conseguinte, durante as várias refeições, com ele fui travando uma certa relação com alguma simpatia e cordialidade. Não sei como os outros fazem e gostam de fazer, mas seja num hotel ou num restaurante, gosto de saber o nome das pessoas que me servem e de onde são. Talvez um dia sejamos servidos por máquinas - o que já é verdade em muitas situações - e nessa altura saber se é a Maria ou o Manel, a Alexa ou a Siri, servirá de tanto como limpar o cu a um ouriço de castanhas. Mas por enquanto é algo a que ainda valorizo e faço por cultivar.

Assim, nesse contexto de alguma proximidade que se foi gerando, naturalmente que a um nível meramente profissional, fui questionando o Rui sobre alguns aspectos locais, sobre um ou outro lugar, monumento ou até de tradição e cultura. E o Rui mostrou que sabia da poda e mais do que isso, sentia o que dizia porque, afinal, falava de coisas que conhecia mas que fizeram parte da sua condição de homem daquela terra e região. 

Ora eu pergunto-me se a experiência seria a mesma se fosse servido por um qualquer Édson brasileiro de Florianópolis ou um ucraniano de olhos azuis? O homem até poderia aprender e dominar a língua, estudar a geografia e a história e informar-me, se eu fosse inculto ou ignorante a esse ponto, sobre as coisas daquele local ou região. E até poderia fazê-lo com eficiência mas não seria a mesma coisa pela simples e natural razão de que falaria como um autómato, porque a verdadeira vivência e conhecimento intrínseco, esses nunca os poderia ter. O Rui explicou-me, com um brilho no olhar, o "gancho de Loivos", o atalho para o Senhor do Monte, as particularidades do Arcossó, a tradição do S. Frutuoso, a recta do Sabroso e suas histórias, e muitas outras coisas que não vêm nos mapas ou nos roteiros nem nunca seriam do conhecimento de um Zé brasileiro. 

Nestas, como noutras coisas, cada um que coma o que gosta, e há até quem vá aqui, ali e acolá, só para marcar o ponto como na baliza de uma prova de orientação, para dizer à malta e ao mundo que já esteve em todos os sítios XPTO, incluindo na galeria de vinhaça do Oxalá, mas nada se compara a ir a uma aldeia remota e deixar-se embalar pelas memórias e vivências de um velhinho alquebrado, a descansar à sombra de um pé de videira ou de um Rui, profissional da restauração, a servir Arcossó branco e a falar não só do que percebe mas do que sente.

Boas férias!

26 de agosto de 2023

Paradoxos do tempo





Há neste nosso Portugal, em todo o lado mas sobretudo no profundo, no interior, resquícios de outros tempos, de outras formas de ser e viver, que expostos ao diafragma dos olhares destes dias, apresentam-se como nostálgicos, mas em muitos casos como simbólicos e verdadeiros paradoxos, como que dedos indicadores em riste, a acusar quem durante décadas deixou que isto acontecesse. 

Poderia o passar dos tempos ser de renovação constante e serena, sem revoluções ou, como agora é tão na moda dizer-se, de adequação, valorizando-se em nome do respeito pelos esforços de passados e antepassados, mas não. Nada, ou muito pouco se fez, porque a voragem de visões políticas com equações que nunca tiveram em conta as pessoas e muito menos as suas terras e aldeias, não se compadeceram com lirismos e assim elas padeceram e pereceram. Atenuaram-se aqui e ali uma ou outra ferida, mas no geral elas são profundas e já cicatrizes e por isso irreversíveis à delicadeza da pele dos tempos. Não é um jogo de palavras ou um fácil trocadilho de circunstância, mas a realidade.

Esta placa, na fotografia acima, ainda caiada e vigorosa na sua função de aviso, foi deixada ali na berma de um ramal de caminho de ferro, hoje em dia uma ruína, um simples passadouro de cabras ou lagartixas. Os poucos humanos que por ela passam, a correr ou de bicicleta, é para aproveitar o traçado para uma corrida de exercício físico e a maior parte deles nem se dará à canseira de ver para além do sítio onde põem os pés ou a roda dianteira. E parar para tirar umas fotografias é estragar a merda da média ou então estar a quebrar o ritmo. É pouco, é muito pouco!

A correr, por estes dias, percorri por essa, dita agora ecovia, uns quase 20 quilómetros (a ir e voltar), e se o olhar se foi enchendo de paisagens  e da aspereza delas, como são em grande parte as desse reino maravilhoso de Miguel Torga, a alma condoía-se por essa pobreza do abandono e da incúria.

Esta placa é assim uma pura inutilidade quanto ao alerta que faz, porque ali nem passam pessoas, mesmo animais, poucos e desassossegados pela dureza das fragas, alguns pássaros livres, mas seguramente por ali já não palma a terra e os carris o comboio que outrora ligava Vila Real a Chaves, ali pelos vales e encostas do Corgo e do Tâmega. De resto, dos carris, já nem sinais deles. 

Já não há comboio, nem locomotiva num lufa-lufa, nem gente a caminho das aldeias, vilas e cidades transmontanas e os apeadeiros e estações são apenas lúgubres ruínas e se neles se ouvem ecos, são seguramente de fantasmas. E serão muitos esses espíritos que por ali ainda vagueiam, mortificados por perceberem ao que isto chegou. Em grande parte, é simbólico que uma grande fatia do nosso pequeno território não seja mais que terra de fantasmas. Mas para os ver e sentir os seus ecos, é preciso sair das autoestradas e dos IP,s e entrar em ruas estreitas e vielas cagadas por algum gado que ainda é a razão de ser de alguns idosos resistentes ao apelo do litoral, e pouco mais.

Vamos ver no que a coisa dará, mas já não haverá plano de resiliência, ou seja lá o que isso for, que nos valha. O mal já foi feito há muito. 

20 de agosto de 2023

Panis et circenses, sufficiunt

Quando percorro uma certa freguesia vizinha, seja de carro, de bicicleta ou como ainda hoje a correr, pergunto-me se esta terra tem alguma coisa parecida com uma junta de freguesia que cuide e trate das suas coisas mais elementares, para além de registar uns cães ou mandar abrir as covas para quem falece, mesmo que a cobrar por isso? A resposta a mim próprio é de dúvida e não de certeza, porque pelo menos por aquilo que é dado a observar, pelo aspecto de abandono e desmazelo dos espaços públicos, ruas, valetas e passeios, parece que não, que não tem.

Mas tem, concerteza, porque de tempos a tempos lá vai havendo eleições e alguém, por vezes repetidamente, acaba por vencer. Mas volto a perguntar a mim mesmo quais são os critérios dos eleitores que escolhem aqueles que serão eleitos? Pela sua capacidade de fazerem bem, em prol de todos, com qualidade e competência, ou no caso e como no caso, em contexto de uniões de freguesias, por alguém que trata melhor da sua do que a  dos outros? Talvez sim, talvez não. Em rigor, por mais que nos digam que a fantástica democracia é isto mesmo, que somos todos nós a escolher e a legitimar quem nos representará, a verdade é que isso é mais ou menos uma treta, poque na realidade 51 decidirão sempre por 49. Dirão, concerteza, que é na aceitação dos 49 pela escolha dos 51 que reside a virtude da democracia. Será, pois será, até porque em rigor não há sistemas alternativos perfeitos, mas para qualquer um dos 49, será indiferente que sejam 51 a decidir por si ou se apenas 1. 

Em todo o caso, não há volta a dar nestas equações e continuará a ser assim até que o povo queira. Por isso, e tomando como exemplo de que nem vale a pena citar nomes, até porque é chapéu que facilmente encaixa em várias outras cabeças, os eleitores das freguesias maiores, mesmo que sem essa objectividade e propósito, decidirão sempre o que fazer com as menores, incluindo o seu esquecimento, já para não dizer desprezo. 

Mas, verdade se diga, esta minha interrogação e dúvidas, que poderão ou não ser partilhadas por outros, no geral não preocupam, porque, mais arroba menos quintal, somos pouco exigentes e havemos sempre de marcar o nosso voto em gente de boa vontade mas incapaz, honrada mas ineficaz, no que toca a esta coisa de gerir os interesses comuns de forma justa, equilibrada e proporcional e até no princípio de reduzir a velocidade de quem vai à frente para que os mais atrasados se aproximem e todos possam caminhar à mesma velocidade. 

Ao fim e ao cabo,  para manter esta pouca exigência do povo,  bastará à maioria que na devida medida não lhes falte o pão e o circo, tal como já há  mais de dois milénios os romanos tinham como orientação para governar Roma e o resto do império. Por isso, no geral, lá vamos nós todos contentinhos com pulseiras nos pulsos abastecer-nos das nossas doses de pão e circo e assim vamos andando acomodados, pelo menos pouco exigentes com quem nos deve servir num sentido de cidadania de todos para todos e não de alguns apenas para alguns. A quem interessa que uma rua esteja esburacada há longos meses, se não é a nossa rua ou por ela não temos necessidade de transitar? A quem interessa que alguém deixe uma obra pública inacabada durante longos meses, num laxismo e desresponsabilização, quase mesmo num desprezo absoluto pelos contribuintes e cidadãos? A quem interessa que os orçamentos se esvaiam significativamente em pão e circo?

As nuvens são macias e dizem que doces, pelo que a muitos pouco importará descer à terra,  à dureza da realidade. Assim sendo "panis et circenses, sufficiunt".

6 de agosto de 2023

Quem se importa?

Quando um evento de entretenimento se transforma num parque de diversões a cobrar bilhete e  impede o cidadão comum de usufruir do direito constitucional à liberdade de circulação de um amplo espaço público, que é de todos, e tanto mais em zona nobre de uma vila ou cidade, não por duas ou três noites mas por duas semanas, algo está mal ou pelo menos e seguramente desproporcional. Mas há quem se entusiasme e regozije por isso e até ajude à festa. 

Não surpreende, pois, que, sendo assim numa suposta democracia, seja demasiado fácil implementar as ditaduras. A História está repleta desses guias ou manuais de como o bem fazer.

Falta-nos sentido crítico, porque em nome do políticamente correcto e porque parece bem às hordas, vamos andando, já amestrados, a toque de caixa, e tudo nos parece normal mesmo se privados de valores essenciais em nome do não sei de quê e das quantas. 

Tum, tum, ta, ta, tum, tum, tum, ta, ta, tum! - Acerta o passo, ó 21!

3 de agosto de 2023

Coerência ou falta dela

Em regra sofremos todos do mesmo mal no que à coerência ou falta dela (incoerência) diz respeito. Portanto o problema é transversal e não adianta estar aqui a considerar qualquer reflexão como moralista, mas apenas como acto de penitência e num humilde auto-reconhecimento de que somos falíveis quando toca a tomar atitudes consentâneas com o que deveria ser a ordem natural das coisas.

Feita a introdução, como caso concreto falo dos largos milhares de euros que algumas comissões de festas gastam anualmente em foguetes, em bandas e artistas, tudo para puro entretenimento, quase sempre de qualidade duvidosa mas de agrado fácil, e, no entanto, e lá está, sem uma coerência de base, as capelas e igrejas de que cujos patronos motivam a festividade, estão tantas vezes com mau aspecto, a precisar de investimento em obras de conservação. 

Veja-se, como mero exemplo, o caso da bonita e honrada freguesia de Romariz que por estes dias e coincidindo com a nossa festa terá gasto, assim com umas contas feitas por alto, mais de 50 mil euros, com um naipe de artistas de renome no campeonato da música pimbó-popular, e, contudo, com a sua linda igreja matriz a oferecer uma má imagem com as fachadas a precisarem de pintura. Bem sei que a Senhora dos Remédios habita numa tão pequena quanto bonita capela, ali pela proximidade a cerca de 1 Km, mas é certo que o centro da festa ocorreu nas imediações da igreja.

Mas como dizia, este mal é geral e nós, em Guisande, não somos melhor exemplo do que Romariz ou de qualquer outra freguesia, pois mesmo que com um orçamento muito mais humilde e contido quanto aos gastos com a festa, temos igualmente a nossa capela, no exterior, mas sobretudo no interior, com muito mau aspecto, com as paredes salitradas a descascarem e a cobertura a meter água, por isso a precisar de obras de conservação urgentes, de resto já previstas realizar. E ali o probema não é de agora mas de há anos. Vale-nos, pelo menos como atenuante, que já há algum dinheiro angariado para tais obras e que resultou do saldo da festa das edições anteriores e parece-me que se sobrar dinheiro da festa deste ano (o que se espera), também terá o mesmo objectivo. E de um modo geral com a festa do Viso sempre foi assim, com os saldos positivos (felizmente na maior parte dos anos) a reverterem sempre para obras e melhoramentos na capela.

Em todo o caso, como disse, esta reflexão não pretende ser moralista porque o mal é mais ou menos geral, mas talvez devêssemos ter em consideração que tão ou mais importante que ter um artista ou banda de renome numa qualquer festa, importará haver brio, bairrismo e amor próprio com as nossas coisas comuns, como são as nossas igrejas e capelas, pela importância que representam para as comunidades em termos históricos, identitários e sócio-culturais.

Nestes casos em concreto, têm que ser as comunidades a avançar, porque mesmo e com a desculpa que são edifícios que pertencem à Diocese ou à Sé, certo é que se estivermos à espera que tais donos ou entidades do estado as conservem, como seria normal, bem que depressa cairão de ruína, sem apelo nem agravo.

Dentro de nós há uma coisa que não tem nome...

José Saramago, 1922-2010,  escreveu que “dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos"

Na realidade todos nós tempos um nome, mais ou menos vulgar, mais ou menos raro e estapafúrdio, mas temos, por imperativos culturais, sociais mas sobretudo administrativos, mesmo que Teixeira de Pascoaes, 1877–1952, tenha escrito que "o nome desfigura as coisas".

Por outro lado, Miguel de Unamuno, 1864–1936, dizia que "o nome é em certo sentido a própria coisa; dar nome às coisas é conhecê-las e apropriar-se delas; a denominação é o acto da posse espiritual".

Hà nestas três fases e pensamentos subjacentes uma estranha contradição e complementaridade. Mas em ambos os casos é um tema interessante e com essência filosófica.

Da frase de Saramago, escrita no seu "Ensaio sobre a cegueira", leva-nos a navegar num mar de várias considerações e uma profunda reflexão filosófica sobre a essência do ser humano e sua identidade intrínseca. 

- A natureza do ser: A frase sugere que existe uma essência, uma característica fundamental dentro de cada indivíduo que é única e que define quem somos verdadeiramente. Essa essência pode ser entendida como a parte mais profunda e autêntica de nossa existência, algo que transcende nossas experiências superficiais e a própria linguagem que usamos para nos descrever.

- O inominável: Ao dizer que essa coisa dentro de nós não tem nome, pode-se inferir que essa essência é tão profunda e singular que não pode ser adequadamente expressa por palavras ou conceitos comuns. É algo que escapa à linguagem e que vai além das categorias usuais em que classificamos as nossas identidades.

- Auto-conhecimento: A frase também nos convida a questionar e a explorar quem realmente somos. O auto-conhecimento é um processo profundo de introspecção e reflexão sobre as nossas motivações, desejos, medos e valores. Procurar compreender essa "coisa" sem nome dentro de nós é uma jornada em busca de entender a nossa verdadeira essência e autenticidade.

- Identidade em constante mudança: Ao afirmar que "somos" essa coisa, a frase sugere que a identidade é fluida e está em constante evolução. Somos seres em processo, e a nossa essência pode ser moldada pelas nossas experiências, relacionamentos e escolhas ao longo da vida.

- Ligação com o universo: Essa "coisa" sem nome dentro de nós pode ser vista também como uma conexão com algo maior, com a totalidade do universo ou com uma dimensão espiritual, com Deus. É uma maneira de reflectir sobre nossa relação com o mundo ao nosso redor e sobre o nosso papel no cosmos.

Em última análise, essa reflexão filosófica convida.nos a mergulhar em questões existenciais profundas e a procurar um maior entendimento de nossa própria natureza e do significado da vida. É um convite para explorar os mistérios do ser humano e de sua conexão com o universo que o cerca. Cada indivíduo pode encontrar significados e interpretações pessoais nessa afirmação, o que torna a reflexão ainda mais rica e diversa.


A.Almeida - 23062022

18 de julho de 2023

Dor, angústia


Será mais dolorosa a angústia

Ou angustiante a dor?

Que poder tem uma sobre a outra?

Complementam-se, antagonizam-se?

A dor e a angústia são experiências humanas profundas e complexas, e é difícil determinar qual delas é mais intensa ou dolorosa. Cada pessoa pode vivenciá-las de maneira única, de acordo com sua história, personalidade e circunstâncias individuais.

A dor pode ser física, causada por lesões, doenças ou traumas, e também emocional, proveniente de perdas, desilusões ou sofrimentos psicológicos. Ela se manifesta como um alerta, um sinal de que algo está errado, e pode ser avassaladora, exigindo cuidados, tratamentos e tempo para a cura.

Por outro lado, a angústia é um estado emocional caracterizado pela ansiedade, pelo desconforto e pela sensação de apreensão. Ela pode surgir diante de incertezas, dilemas morais, conflitos internos ou diante do vazio existencial. A angústia não possui uma causa direta e tangível como a dor física, mas é igualmente impactante e debilitante.

Dessa forma, a dor e a angústia podem entrelaçar-se e influenciar uma à outra. A dor física intensa pode gerar angústia, levando-nos a questionar a própria existência e a lidar com a limitação imposta pelo corpo. Da mesma forma, a angústia prolongada pode desencadear dores físicas, como tensões musculares, dores de cabeça e distúrbios do sono.

Embora possam parecer opostas, a dor e a angústia muitas vezes se complementam e se entrelaçam. Ambas são experiências humanas que nos desafiam, nos colocam em contato com nossa vulnerabilidade e nos convidam a refletir sobre nossa condição. Através delas, podemos desenvolver resiliência, empatia e um maior entendimento de nós mesmos e dos outros.

Porventura, em vez de buscar respostas e determinar qual é mais dolorosa ou angustiante, é importante reconhecer e acolher ambas as experiências como partes integrantes da jornada humana. Ao enfrentar a dor e a angústia com coragem e compaixão, podemos encontrar caminhos de superação, crescimento e transformação. Mas, claro, não é fácil.

27 de junho de 2023

A normal anormalidade

É no mínimo curisoso observar como a perspectiva da sociedade evolui ao longo do tempo, redefinindo o que é considerado adequado, normal e politicamente correto. Essa mudança reflecte o progresso e a transformação dos valores sociais, no que poderá ser entendido como uma abertura para abraçar a diversidade e a inclusão, mas tantas vezes de forma desajustada ou distorcida.

Uma reflexão importante sobre esse fenômeno é que as noções de "normalidade" e "adequação" não são fixas nem imutáveis. Elas são construídas a partir das crenças, tradições e contextos sociais e culturais de uma determinada época. O que pode ter sido amplamente aceite e considerado como a norma num determinado período passado, pode ser agora questionado e desafiado à medida que a sociedade avança.

A mudança de atitude em relação a certos aspectos da sociedade ocorre muitas vezes devido a um aumento da consciencialização e do conhecimento. À medida que as pessoas são expostas a diferentes perspectivas, experiências e narrativas, elas começam a questionar as suposições anteriormente estabelecidas. Os avanços na comunicação e na tecnologia têm desempenhado um papel fundamental nesse processo, permitindo que as vozes antes marginalizadas, discriminadas e sem tempo de antena sejam agora ouvidas e consideradas.

No entanto, é importante reconhecer que nem todas as mudanças são universalmente aceites ou apoiadas por toda a sociedade. Sempre houve e haverá debates e divergências de opinião e isso faz parte do processo de crescimento e evolução social. É importante manter um diálogo aberto e respeitoso, no qual diferentes perspectivas possam ser ouvidas e consideradas mas quase sempre as mudanças da "anormalidade" para a "normalidade" tem ocorrido quase sempre com rupturas e antagonismos porque, essencialmente, processam-se numa transição, diria, desajustada. Na gíria, a normalidade corrente é passar do 8 para o 80. Gerações como a minha, têm, de facto, assistido a mudanças tão radicais que em muitas delas não há tempo para uma assimilação natural e evolutiva. 

À medida que novas ideias e conceitos emergem e ganham aceitação, é essencial que a sociedade esteja disposta a adaptar-se e a aprender. Isso não significa abandonar completamente os valores e tradições passadas, mas sim repensar e reavaliar se eles são inclusivos e respeitosos para com todos os membros da sociedade, o que, diga-se, nem sempre acontece..

A História tem sido fonte de ensinamento de que a mudança é constante e inevitável. À medida que os tempos mudam, nossa compreensão e percepção do que é considerado normal e politicamente correto também se transformam. Essa evolução contínua desafia-nos a reflectir sobre os nossos próprios preconceitos, a questionar suposições arraigadas e a procurar uma sociedade mais justa e igualitária para todos.

Apesar de todo este palavreado politicamete certinho, a verdade é que vamos correndo num tempo de normais anormalidades ou o contrário. 

Assim, como simples exemplos, é normal o político, o desportista, o doutor e o engenheiro declararem-se homossexuais; é normal o casamento entre eles e normal que queiram ter filhos mesmo sendo uma impossibilidade biológica sem recurso de terceiros; é normal dois namorados passarem a viver juntos como casados, mesmo não sendo; é normal uma mãe ter filhos com 12 anos e um pai com 70; é normal um jovem casal divorciar-se ao fim de um mês de casamento como normal é que emmeia dúzia de anos some meia dúzia de divóricos; é normal o casal comprar terreno, edificar a sua habitação e ainda antes de acender a lareira já estarem em divórcio e a casa à venda pelo banco; é normal um executivo andar de saia e saltos altos, um rapaz de rosa e uma rapariga de azul; é normal o bandido agredir o polícia; é normal o polícia não poder usar da força com o bandido e este ser indemnizado se lhe fizerem uns arranhões.

É normal o aluno bater no professor como normal é que nada nem ninguém o criminalize por isso; é normal que a televisão nos dê programas de encher chouriços horas a fio; é normal as televisões terem programas para adultos como se estes sejam criancinhas e para criancinhas como se estes sejam adultos; é normal um casal não ter rendimentos para tal mas não dispensar viagens de férias, carros eléctricos, teslas, jantar e almoçar fora com regularidade. 

É normal que as igrejas cada vez estejam mais vazias e os espaços de entretenimento mais cheios; é normal os filhos viverem à custa dos pais e fazerem da casa deles um hotel até aos 30 ou 40 anos; é nromal que apesar desse sacrifício parental os filhos depositem os pais, já velhos, num qualquer canto; é normal um aluno que não estude a ponta de um corno e tenha tanto aproveitamento escolar como uma galinha, e mesmo assim andar a arrastar-se nas escolas até aos 20 anos.

É normal que muita gente capaz recuse empregos e responsabilidades e prefira viver à custa do estado social, ou seja, à custa dos outros; é normal que as cuecas já não sejam feitas para tapar o cu mas para serem tapadas por ele; é normal que a promiscuidade e drogas sejam normalizadas; é normal derrubar estátuas, conspurcar obras de arte e alterar conteúdos de livros só porque se pensa que com isso se pode mudar a História.

Enfim, tudo, mas tudo, é normal. Mesmo o que possa ainda ser catalogado como anormal, há políticos e políticas que encontram razão de ser em fazer com que isso passe a normalidade e quem não alinhar na mudança é catalogado como racista, xenófabo, discriminador, sexista, etc, etc. 

Viva a normalidade! 

A coisa já não vai lá com paninhos quentes. Só mesmo um dilúvio atómico o que também, diga-se, com o rumo que as coisas levam, será mais que normal!

20 de junho de 2023

Quando a genialidade é interrompida demasiado cedo

Wolfgang Amadeus Mozart [Salzburgo - Áustria, 27 de Janeiro de 1756 – Viena, 5 de Dezembro de 1791], foi um dos maiores compositores clássicos da história, que faleceu aos 35 anos. Sua morte prematura privou o mundo de um gênio musical em pleno desenvolvimento. Mozart, mesmo com idade tão jovem, deixou um legado extraordinário de obras-primas em uma variedade de gêneros musicais, mas sua morte interrompeu um potencial ilimitado de criação. Sua música, caracterizada pela beleza, complexidade e inovação, influenciou gerações de compositores e continua a encantar e inspirar até os dias de hoje. Imaginar o que Mozart poderia ter composto se tivesse vivido mais tempo é uma fonte de constante fascínio e lamentação para os amantes da música clássica, de que me incluo.

Carlos Paião [Coimbra, 1 de Novembro de 1957 — Rio Maior, 26 de Agosto de 1988], um talentoso cantor e compositor português, faleceu aos 30 anos. Tal como Mozart, embora em diferentes tempos,  estilos e diemnsões na arte musical, deixou uma marca indelével na música popular portuguesa com suas letras inteligentes, melodias cativantes e performances carismáticas. Carlos Paião foi uma figura única e irreverente na cena musical portuguesa, e sua morte prematura foi sentida profundamente por seus fãs e pela indústria musical como um todo. Suas canções alegres, como "Playback", "Pó de Arroz", "Cinderela" e tantas outras, são clássicos intemporais que capturam a essência do seu talento artístico. A perda de Carlos Paião representou a interrupção de uma carreira em ascensão, privando-nos de sua criatividade contínua e do potencial de influenciar novas gerações de músicos em Portugal.

Quando músicos talentosos como Mozart e Carlos Paião morrem jovens, perdemos não apenas suas obras-primas imediatas, mas também a oportunidade de testemunhar seu crescimento artístico e suas contribuições futuras. A música é um processo contínuo de exploração, evolução e experimentação, e é profundamente triste quando essa jornada é abruptamente interrompida. O legado deixado por esses músicos talentosos é inegável, mas é impossível não imaginar o que mais eles poderiam ter realizado e como suas obras poderiam ter evoluído ao longo do tempo.

A partida precoce de artistas geniais como Mozart e Carlos Paião serve como uma recordação permanente da fragilidade da vida e da perda imensurável do legado artístico e musical que poderia representar caso vivessem muitos mais anaos. Para além da genialidade do que ficou escrito, quantas mais obras primas ficaram por escrever e deliciar todos quantos apreciam a arte musical?

Sem dúvida que nas devidas distâncias e particularidades, a memória e a influência desses músicos talentosos permanecem vivas, mas também carregam a dor daquilo que poderia ter sido, deixando-nos com um senso de perda profunda e uma lembrança da efemeridade da vida.

3 de maio de 2023

Eu vi um sapo


Anteontem, quando fazia uma corrida em bicicleta, eu vi um sapo. Não um sapo feio com a boca torta a comer um bom jantar, como o sapo da cantiga que a pequenita Maria Armanda  interpretou no 23° Sequim D'Ouro (Zecchino d'Oro) que teve lugar em Bolonha - Itália a 22 de Novembro de 1980, cujo concurso venceu, mas apenas um pobre sapo morto. Grande e esmagado ali na valeta de uma rua na freguesia do Vale.

Fiquei mesmo com pena do bicho, ali no lugar da Pena, mas face a essa fatalidade, de resto muito vulgar nas nossas estradas, passei o resto do percurso até casa a reflectir nessa situação. O progresso, a abertura de estradas e o trânsito que nelas circula, sempre apressado, não se compadece com outras questões, nomeadamente a segurança de animais, grandes ou pequenos. 

Há países e regiões que até adoptam algumas soluções para permitirem a passagem de animais entre os lados opostos das estradas, mas em rigor são meras excepções e por isso a morte de animais nas nossas estradas, mesmo em zonas urbanas, são mais que muitas e já não impressiona ver um cão, um gato, um coelho, um ouriço-cacheiro ou até, como agora, um sapo morto, esmagado. Ou mesmo, aves queimadas nas redes eléctricas que enfeitam os céus.

O progresso tem sido madrasto e padrasto para os animais. Há duzentos anos um sapo nunca morreria esmagado na estrada porque nem havia estradas e muito menos veículos como motas, carros ou camiões. Eventualmente por uma roda de carroça mas mesmo aí era preciso grande azar. Por conseguinte era mais provável que morresse à pedrada, porque, infelizmente, os sapos iveram sempre má fama, e sub-valorizados na sua real utilidade, como bom hortelão e defensor na horta e jardim contra muitos insectos prejudiciais ás culturas, do que esmagado por uma qualquer roda.

Esta analogia, serve para muitas coisas. De facto o desenvolvimento e progresso humanos quase sempre ao longo da história, e de modo especial nos últimos dois séculos, foram sempre concretizados em desfavor da natureza, do ambiente, da fauna e flora. Voluntária ou involuntariamente, temos sido mestres na aniquilação de habitats e espécies. É certo que já começamos a dar conta do impacto e do mal que isso está a causar aos equilíbrios ambientais e aos poucos vamos introduzindo políticas e práticas na sua defesa e valorização, mas em rigor muita coisa já está irreparavelmente perdida. Espécies e ambientes extintos são mais que muitos. E a lista de espécies em real perigo de extinção é extensa.

Não sabemos no que isto vai dar, ou quando se atingirá mesmo um ponto de não retorno, mas a par das alterações climáticas e de todo o progresso e conforto a que nos habituamos e não abdicamos, a coisa virá mesmo a ficar preta para o planeta azul. E isto se a coisa não for antecipada pelos senhores da guerra e donos da destruição nuclear. Mas mesmo sem ela, parece mais que certo que o futuro dos nossos futuros será tudo menos risonho. Pelo menos e seguramente que nada será igual ao que até aqui tem sido.

Eu vi um sapo, morto, esmagado, mas daqui a mais alguns anos, nem mortos, quanto mais vivos. Talvez em fotografias e ilustrações como as que nos mostram os extintos mamutes, os tigres-dente-de-sabre, o rinoceronte lanudo e até mesmos os dodós.

1 de maio de 2023

Primeiro de Maio, dia do trabalhador e do malandro

 



Primeiro de Maio. Dizem que dia do trabalhador, mas num país em que ainda há muita aversão ao trabalho, até porque há quem perfira viver com menos mas apenas à custa do Estado, sem cumprimento de horários, responsabilidades laborais, fiscais e outras obrigações, este dia é democraticamente de todos. Assim é tanto do trabalhador como é do malandro. 

Ora a começar tal dia, pequeno e saboroso pequeno-almoço por terras arouquesas. Mas para que uns desfrutem do dia e do feriado, outros há que têm que manter estabelecimentos e postos de trabalho a funcionar e a servir quem a eles ocorre, seja nos serviços públicos, seja na casa do pão de ló, no talho ou restaurante. Porventura serão esses que melhor merecem a dignidade do dia do trabalhador, porque, em grande medida, são os que mantêm este país a funcionar.

18 de abril de 2023

Reflexão - O estado da nação

Eu não sei se alguma da massa crítica da nossa freguesia de Guisande tem pensado e reflectido no assunto, mas creio que pelo menos algumas personalidades certamente que já se deram a contas com algumas questões e constatações quanto ao estado actual da nossa "nação", como quem diz, da nossa freguesia de Guisande. Mas se sim, não se sabe em que termos, pois em rigor muito se pensa e teoriza mas pouco se admite e testemunha de forma pública.

A verdade é que a reforma administrativa e a agregação de Guisande numa União de Freguesias incaracterística e desproporcional, em nada veio melhorar a situação. Bem pelo contrário, e será mais ou menos concensual a opinião de que quase ao fim de um década dessa nova experiência e realidade, nada mudou no sentido de uma valorização, proximidade, defesa e respeito das diferenças identitárias. Na componente de obras e melhoramentos, nada correspondente aos anteriores orçamentos. Antes, gerou-se um maior distanciamento entre eleitos e eleitores e em face disso o aumento de uma notória erosão do tal valor da proximidade. De resto o slogan de fazer mais com menos só resulta nos filmes. Depois, eleitos que não cohecem de todo os eleitores e a própria freguesia, também não ajuda à coisa.

Dizem que está em curso um processo de pedido de desagregação e que Guisande, como as freguesias de Gião e Louredo, mostrou interesse formal em saír da actual união de freguesias e voltar ao anterior estado. Esta intenção foi já formalizada e sufragada pelas assembleias de freguesia e municipal e por isso estará na Assembleia da República a aguardar o desfecho. Há quem acredite que a coisa será para ser deferida e há quem não acredite e que eventualmente, para além da inconstância dos políticos e das políticas, sempre a mudar, os tais critérios para a eventual desagregação podem não ser totalmente considerados.

Seja como for, e supondo que a desagregação será aprovada e que Guisande retomará as rédeas do seu próprio destino, o que, todavia, não acontecerá antes do final do actual mandato, por isso apenas e na melhor das hipóteses só lá para o final de 2025, importa reflectir sobre o tal estado da nossa "nação" e de que forma a freguesia estará preparada para fazer a retoma ou o recomeço, como o engrenar de um veículo que foi obrigado a desligar-se e enferrujado tem estado parado. Assim, talvez seja de ter em conta as seguintes constatações:

1 - A freguesia tem vindo a perder população, ano após ano, e bastará fazer umas contas por alto, calcular o diferencial entre falecimentos e nascimentos para constatar que Guisande em cada 10 anos estará a perder perto de 100 habitantes. Se a actual tendência continuar, e considerando que pelos Censos de 2011 a freguesia tinha uma população de 1237 habitantes, actualmente seremos 1137 pelo que é de supor que daqui a 5 décadas (50 anos) seremos metade deste número, ou menos. É certo que este problema demográfico não é só nosso, mas transversal a todo o país, sobretudo do interior, mas obviamente que se nota mais em núcleos populacionais reduzidos. A nível nacional a coisa só não é mais grave porque vamos contando com os nascimentos de filhos de imigrantes. Em breve, para o bem e para o mal, não seremos mais que uma França descaracterizada e afogada numa mistura de raças e culturas.

2 - A freguesia tem vindo a desagregar-se e não se sente nas novas gerações um interesse especial pelas coisas da terra. Pela catequese vão andando poucas crianças e, admitamos, sem grande interesse delas próprias e sobretudo dos pais e logo que terminadas as etapas tradicionais, feita a comunhão solene, a boda e a festinha, termina essa ligação com a igreja e os que mantêm a caminhada por mais alguns anos na adolescência serão sempre poucos. 

Depois o Grupo de Jovens como factor de agregação não tem tido uma continuidade geracional desde há décadas e vai alternando entre pausas e recomeços e com o curso normal das suas vidas pessoais e profissionais são poucos os que por cá ficam a dar frutos à comunidade. Há, por outro lado, jovens que pura e simplesmente não têm qualquer actividade ou vivência paroquial e comunitária. Estão totalmente alheios à realidade sócio-cultural da sua terra e alguns, para lá do universo doméstico e familiar, nem conhecerão a vizinhança. Por conseguinte, mesmo ao nível da paróquia onde apesar das dificuldades se tem procurado transmitir valores cristãos mas também comunitários e inter-geracionais, as coisas já tiveram melhores tempos. Mas, todavia, ainda se mantém alguma esperança em quem por lá vai andando nos diferentes grupos.

3 - Ainda ao nível da paróquia, desde há 25 anos, após a partida de Pe. Francisco Gomes de Oliveira (em Maio de 1998) que a mesma, por opções da Diocese e falta de sacerdotes, não tem havido uma liderança de continuidade e por isso as diferentes fases de paroquilidade não tiveram tempo para se sedimentar e a verdade é que, para além de tudo, algumas mudanças nem sempre contribuiram para o reforço da agregação, antes pelo contrário. Estamos desde há quase dois anos numa fase de novo recomeço, mas os sinais ainda que positivos não têm sido capazes de melhorar o reencontro da comunidade e  pelo caminho algumas coisas já se perderam. O caso da eleição do Juíz da Cruz e da tradição do  almoço a ele ralacionado é um dos mais recentes exemplos.

4 - O associativismo na freguesia praticamente não existe. Para além do Centro Social com as suas especificidades próprias, vai andando o renascido Guisande F.C., em grande parte retomado pelo interesse e dinamismo de alguns elementos e em muito decorrente de um interesse comum de um grupo de pessoas que já se juntavam para disputar uma competição de futebol veterano, mas que está longe de ser transversal ao envolvimento da freguesia. A já falada obra de colocação de relvado artificial no campo de jogos "Oliveira e Santos", para além da questão de se saber se isso é de extrema necessidade e se se justifica à actividade e abrangência do clube, poderá ser um motivo de alavancamento para o crescimento da colectividade e envolvimento de um sector da população, nomeadamente os mais jovens (cada vez menos), mas também poderá ser coisa passageira e daqui a algum tempo a coisa poderá voltar à estaca zero e não passará de um equipamento para terceiros usar.

5 - Em sequência do anterior ponto, veja-se a actual realidade do Centro Social: Com empenho de alguns e de uma boa parte da população associada, e mesmo apesar de algumas vozes e posições dissonantes, conseguiu a freguesia a proeza de edificar um bom equipamento, o Centro Cívico, polivalente para várias actividades comunitárias, mas apesar disso e de já terem decorrido alguns anos sobre a sua construção, ainda continua sem a aprovação do contrato programa com a Segurança Social que permita uma actividade plena e financeiramente sustentável. Na actual situação, de indecisão e sem um fundamental empenho das entidades com responsabilidades, a começar pelo Governo sempre ao sabor das políticas e dos políticos, a coisa vai andando mas nem a meio gás e muito à custa do empenho e dedicação do actual presidente da Direcção, Joaquim Santos. Mas terminado o seu actual mandato, em Dezembro deste ano de 2023, e não podendo recandidatar-se à luz dos estatutos, para além do desejado e merecido descanso, pergunta-se: Quem é que irá assumir a liderança do Centro Social? Quem?  De minha parte já respondo que não contem comigo e é meu desejo também deixar o actual cargo de secretário da Mesa da Assembleia. O meu contributo nos dois últimos mandatos, mesmo que pouco significativo, em Dezembro de 2023 também terminará. Neste estado de coisas, não contem, pois, comigo.

Mas mais se pergunta: Que papel terão a Junta de Freguesia e Câmara Municipal a esse plano quando se colocarem na ordem do dia as eleições e se a elas não surgirem listas e candidatos? Quem assumirá então? Será encerrado o equipamento e abandonados os pressupostos que levaram à sua construção, o de servir e apoiar no dia-a-dia uma população cada vez mais envelhecida?

6 - Com a agregação na União de Freguesias, a componente política na freguesia também se desmoronou e os partidos já não têm qualquer estrutura ou pontos de referência. Por isso, nas vésperas de eleições lá vêm os senhores importantes das concelhias, sorridentes, tentar pescar candidatos mas uma vez feitas as listas com o que aparece na rede, voltam a remeter as freguesias e as pessoas à sua indiferença. Não surpreende, por isso, que cada vez mais  seja difícil convencer alguns incautos a tomarem parte de listas e a candidatarem-se a lugares e a eventuais cargos que, excepto a figura de presidente,  não passarão de moços de recados e a terem que suportar da sua carteira, tempo, combustível e telemóvel.  Enfim, tempo e dinheiro perdidos  para o exercício de uma cidadania que no final de contas, ao contrário de ser considerada e apreciada, ainda é alvo de criticas e tantas vezes considerações injustas e imerecidas.

7 - As pessoas com competência e capacidade, dinamismo e interesse por exercer cidadania e pré-disposição para estarem ao serviço da sua terra e dos seus concidadãos, fazendo parte de uma Junta e Assembleia de Freguesia ou mesmo de grupos e associações, são cada vez mais raras e não espanta que as listas acabem por ser preenchidas apenas como pró-forma e tantas vezes sem qualquer motivação. Por isso, se Guisande vier a recuperar a sua independência, pergunta-se, quem, com capacidade e vontade de liderar e fazer parte da Junta de Freguesia, fará parte das listas eleitorais? Os mais velhos? Quem? Os mais novos? Quem?

Resumindo: - Esta é, obviamente, uma mera reflexão pessoal, de quem considera que já fez bem a sua parte de cidadania ao longo de mais de 40 anos. Até admito que possa ser pessimista e desfazada e que outros guisandenses possam ter uma visão diferente e mais optimista e que em caso de necessidade para liderar grupos, associaçõese e mesmo uma Junta de Freguesia, sejam os primeiros a dar a cara e a avançar, acompanhados de boas tropas. Pode ser! Por agora ninguém tem avançado convicatamente seja para o que for. De resto, alguns elementos escolhidos para as comissões da Festa do Viso têm desistido, elementos escolhidos para juízes da Cruz têm desistido, etc, etc. A tendência será esta.

Mas oxalá que sim! Oxalá que sim!

7 de abril de 2023

Santa Sexta

 


A Sexta-feira Santa é um dia de profunda reflexão e significado para muitas pessoas em todo o mundo. É um dia em que se celebra a morte de Jesus Cristo,  figura central da fé cristã.

Para muitos cristãos, a Sexta-feira Santa é um dia de luto e tristeza, pois é quando lembramos a morte de Jesus na cruz. É um momento para refletir sobre o sacrifício que ele fez por nós e sobre o significado da sua morte.

No entanto, a Sexta-feira Santa também é um dia de esperança. A morte de Jesus na cruz não foi o fim da sua história, mas sim o começo de uma nova era. A sua morte e ressurreição são vistos como um símbolo de renovação e vida nova, oferecendo a possibilidade de redenção e salvação para todos.

A Sexta-feira Santa é, portanto, um dia de reflexão profunda sobre a vida e a morte, a fé e a esperança. É um dia para pensar sobre nossas próprias vidas e nossas próprias escolhas, e sobre como podemos viver com mais amor, compaixão e generosidade em relação aos outros.

Independentemente das nossas crenças pessoais, a Sexta-feira Santa é um dia que pode lembrar-nos da importância da empatia, do perdão e da reconciliação em nossas vidas, e pode inspirar-nos a procurar esses valores nos nossos relacionamentos e na nossa comunidade.