Ao contrário do que toda a gente parece dizer por aí, neste dia que é do pai, eu não tive o melhor pai do mundo. Também não o serei. Somos uns exagerados, e como animais sociais vamos uns atrás dos outros, tantas vezes a repetir os mesmos clichês, os mesmos lugares comuns e o convencional ou politicamente correcto. Pastamos da mesma erva.
Mas não, eu não tive o melhor pai do mundo e pela simples razão de que não conheço os outros pais do mundo, a ponto de comparar o meu a cada um deles. De resto, poderia ser uma tremenda injustiça para com pais que foram realmente exemplos extremos de amor que em tantos casos ao longo da História deram literalmente a vida pelos filhos e levaram uma vida de penas e dores para lhes dar pelo menos o direito ao pão.
Agora o que eu tive, foi um pai, e basta-me isso. Nem melhor nem pior que os demais. Diferente como devem ser todos os pais. Porventura até teve mais defeitos que virtudes e não terá sido o melhor exemplo do pai modelo e várias vezes se terá demitido dos seus deveres de pai e marido. Mas sei também que não sei quais os motivos que o limitaram na sua paternidade, as lutas íntimas que travou, os obstáculos que lhe surgiram, as injustiças que lhe fizeram, nem quais os pecados que cometeu, se os confessou e se Deus o perdoou.
Tenho do meu pai a imagem nítida de uma boa pessoa, honesta, inteligente e simples, até a ponto de ser enganado, roubado mesmo por outros mais "espertos", e basta-me que tenha sido apenas isso para ter a certeza que foi um bom pai e não o trocava por outro.
Um bom pai não é o que dá ao filho uma moto quando faz 18 anos, um carro novo, um relógio de marca, um computador da Apple, umas férias à grande e à francesa, casamento pago em quinta de luxo, lua-de-mel oferecida num qualquer paraíso terreno, chave na mão de um bom apartamento ou de uma moradia luminosa. Essse tipo de pai existe mas não vale nada, porque limita-se a dar o que pode dar, mesmo que a negar ao filho o valor da responsabilidade e a omitir a mensagem de que as coisas boas da vida devem ser conseguidas com mérito e suor próprios.
Se o meu pai nada me deu de material, porque não o podia fazer, e por isso tive eu que ganhar para comprar a minha primeira bicicleta, a minha motorizada, o meu carro velho, pagar o casamento, comprar terreno e nele construir casa, todavia, deu-me e transmitiu-me outros valores que tenho-os em maior conta que tudo o resto. Esses valores são imensuráveis e difíceis de descrever porque tantas vezes surgiram do nada, de pequenas centelhas que só mais tarde, já adulto, maduro e também na condição de pai, consegui decifrar.
Tive pois, um pai, simples como tantos outros, com defeitos e virtudes postas nos pratos da balança, ora a pender para um lado, ora para outro, porque o equilíbrio na vida é sempre uma labuta diária, constante. Basta-me isso!
Já partiu o meu pai, é certo, mas tenho-o presente quase diariamente nas minhas orações. Fico contente que toda a gente tenha o melhor pai do mundo. Eu também poderia alinhar e cantar em coro e afinado a mesma cantiga, mas, sem inveja de quem tem o melhor pai do mundo, fico-me pela simplicidade do meu.