Eu bem sei que a maioria da malta ontem preferiu assistir na TVI à segunda-mão da meia final da Liga dos Campeões em futebol, um jogo entre o Manchester City e o Real Madrid. Todavia, como nestas coisas tenho uma costela masoquista, passei a maior parte dessa hora e meia a assistir à CPI - Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da TAP, onde era inquirida a chefe de gabinete do ministro das Infra-Estruturas, Dr.ª Eugénia Cabaço. No jogo anterior tinha sido ouvido na mesma Comissão o Dr. Frederico Pinheiro, ex-adjunto do ministro, figura central na novela mexicana a que temos vindo a assistir, o tal que depois de exonerado terá tentado levar o computador das instalações do ministério contra as directrizes do pessoal presente incluindo a tal Dr.ª Eugénia, certamente boa pessoa e que até tem o nome da minha mãe.
Em resumo, do resumo do que vi e ouvi da parte destes dois intervenientes bem como do que já amplamente foi focado pela imprensa nas últimas semanas, é ponto assente que esta CPI é definitivamente uma telenovela mas igualmente uma espécie de Liga dos Campeões do descrédito da classe política e depois das meias-finais, hoje lá por volta das cinco da tarde terá início a grande final com a audição do ministro Galambuzinos das Infra-Estruturas. Ainda há-de ser chamado o ex-ministro Pedro Nuno Santos, mas esse, como já deu de fresques, já pouco terá a dizer que não se saiba.
É ainda uma certeza que no meio desta grande trapalhada alguém está a mentir ou, simpaticamente, a dizer meias-verdades. E mesmo sem qualquer apreciação clubista, parece-me que independentemente de quem tenha mais razão e capacidade de drible, ficam todos muito mal na fotografia. E são muitos, desde o pessoal da TAP até à malta das Infra-Estruturas e até mesmo do SIS, este serviço já com tiques de autoritarismo como se estivéssemos na Rússia ou China.
No meio desta açorda, o país cansa-se desta baixa qualidade de quem vai a jogo, exercendo cargos de governação ou da esfera do Estado. O presidente Marcelo, que por vezes fala mais que um papagio, teve razão na apreciação ao assunto do Galamba e companhia, mas o primeiro ministro não lhe fez a vontade e manteve no cargo um político medíocre e infectado com toda esta questão. Como bem disse um comentarista, João Galamba não passa de um cadáver político. Mesmo que na audição de logo não lhe façam definitivamente o enterro, nunca terá grandes condições para o exercício do cargo.
Toda aquela estrutura está a precisar de uma desinfestação e já agora, muita estruturação pois ficamos a saber que todos os documentos relevantes e importantes referentes à TAP estavam num único computador. Haverá por aí algumas tascas de comes-e-bebes bem mais organizadas informaticamente.
Também achei curiosa a alegação da Dr.ª Eugénia Cabaço a dar ênfase aos documentos importantes e classificados e com informação priveligiada sobre a TAP, essa empresa "estratégica para todos os portugueses". Poupe-me, Dr.ª Eugénia e tire-me da lista dos portugueses interessados em meter milhões na TAP. Além disso, "documentos com informação relevante para a TAP"? Ui, ui! Podiam cair nas mãos da concorrência e estes ficavam a saber (como se não soubessem) os contornos de tão deficiente gestão ao longo das últimas décadas. O que é que dali podiam retirar? Lições e exemplos de como não se deve gerir uma transportadora aérea? Pode ser! Informações dessas se vendidas pelo "terrorista" Frederico aos concorrentes da TAP podiam valer milhões!
Perante versões tão contraditórias a envolver um alegado furto, ameças de dois murros, agressões, agarranço de mochila, barramento de portas, 4 chamada para o 112 e para as polícias e ainda refúgio nas casas de banho, como se o Frederico, até ali uma pessoa de confiança, fosse um terrorista fanático do Estado Islámico armado até aos dentes e disposto a mandar meia Lisboa pelos ares, tudo parece realmente deplorável e mesmo irreal. Até houve idas ao hospital porque isto de apanhar alegados murros é coisa de partir costelas e fracturar o cránio. Terão recebido pulseira laranja ou vermelha no serviço de urgências?
Eu não sei como há-de terminar este jogo porque um empate numa final tem que ir a prolongamento ou mesmo a penalties. Vamos lá a ver quem falhará menos e possa cantar vitória mas perante este triste espectáculo o mais certo é que não haja taça para ninguém. O melhor mesmo é à primeira oportunidade substituir a equipa toda, desde o treinador ao roupeiro e ao homem que fecha o balneário.
Vamos lá aguardar para ver o desfecho desta telenovela e da tal Comissão de Inquérito, que está visto que o Governo quer terminar quanto antes, antes que surjam novos episódios.
...Já agora, o Real Madrid, tão habituado a ganhar o caneco da coisa, levou uma valente cabazada!