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5 de julho de 2024

D. Laurinda da Conceição - A LIAM e outros apontamentos

 


Laurinda Gomes da Conceição, segunda filha de nome, que nasceu a 13 de Agosto de 1933 e faleceu em 5 de Setembro de 2016.

Era filha de Justino da Conceição Azevedo e Rosa Gomes de Almeida.

Este Justino nasceu a 15 de Fevereiro de 1898 e faleceu em 31 de Dezembro de 1945.Tinha, pois, a Laurinda 12 anos quando faleceu o pai.

A Laurinda teve vários irmãos, nomeadamente:

David Azevedo da Conceição, que nasceu em 27 de Março de 1921 e que casou em 12 de Outubro de 1941, com Maria da Conceição Francisca da Costa;

Maria Gomes da Conceição, que nasceu a 12 de Agosto de 1924. casou em 14 de Maio de 1955 com Joaquim Príamo Monteiro;

Laurinda Gomes da Conceição, primeira de nome, que nasceu a 17 de Janeiro de 1929. Faleceu menor em 25 de Maio de 1930.

António Azevedo da Conceição, nascido em 23 de Novembro de 1931 e falecido em 1 de Julho de 2017. casou em 1 de Setembro de 1963 com Idalina Rosa de Pinho;

Maria Rosa Gomes da Conceição, nascida a 25 de Setembro de 1939, ainda viva à data em que escrevo. Casou com 22 de Agosto de 1964 com António Ferreira da Costa.Está ainda viva.

Toda esta gente eram meus parentes por parte do ramo de minha mãe já que a sua avó, por isso minha bisavó, Margarida da Conceição, era filha de António Caetano de Azevedo, carpinteiro de profissão, e de Maria Gomes da Conceição, costureira, moradores no lugar das Quintães, que por sua vez também eram pais do Justino da Conceição Azevedo, que por sua vez era o pai da D. Laurinda. Logo o pai de D. Laurinda era irmão da minha bisavó materna.


Na imagem acima, vemos o simples monumento dedicado ao Imaculado Coração de Maria, localizado ao fundo do Monte do Viso, obra levada a cabo pelo núcleo da LIAM - Liga Intensificadora da Acção Missionária e sobretudo pela sua então presidente ou orientadora, a D. Laurinda Gomes da Conceição.

O monumento teve o seu início no ano de 2002 e terminou por 2003. A obra contou com ofertas de muitas pessoas, em dinheiro e materiais e com apuramento de várias iniciativas da LIAM.

A D. Laurinda, como ficou dito, faleceu em 5 de Setembro de 2016. Durante vários anos foi presidente/orientadora do grupo da LIAM, cargo que em Maio de 2004 transmitiu à Lurdes Lopes. Foi desde nova uma figura dedicada às causas dos missionários do Espírito Santo e por isso a sua ligação à LIAM foi sempre de muito empenho e com grande sentido de missão.

Pessoalmente, por volta de 2001, tive a oportunidade de pertencer ao grupo, e durante vários anos, e em muitas vezes e circunstâncias pediu-me colaboração a D. Laurinda, nomeadamente quando se propôs a construir este simples mas interessante monumento. Para o efeito realizei o levantamento topográfico do monte e do local onde se implantou, com a devida autorização da Junta de Freguesia, e esbocei o projecto.

Em rigor, por alguma simplificação e por poupança de custos, acabaram por ser modificadas algumas ideias da projecto original, nomeadamente a inclusão na parte de trás de um semi-círculo com função de banco de descanso e de oração. Previa também um pouco mais de elevação da plataforma de modo a que na frente fossem mais os degraus e se garantisse uma simetria na forma. 

A adaptação não foi do meu agrado, mas quando dela dei conta, porque já consumada, não fiz disso uma questão. É certo que teria sido mais interessante respeitar a forma pensada e projectada, mas foi o que foi e num sentido geral respeitaram-se algumas coisas. Todavia, é velho o hábito dos construtores fazerem tábua rasa dos projectos e fazerem as coisas à sua maneira.

Para além de outras actividades, e recordo-me dos seus passeios convívio, a passagem de ano do milénio, de 1999 para 2000, e ainda a publicação do boletim mensal "Janela Aberta", que mais tarde, no tempo do Pe. Arnaldo Farinha, seria retomado como boletim dominical da paróquia.

Há alguns anos, antes de falecer, a D. Laurinda entregou-me um molho de papéis vários, inlcuindo alguns resumos da sua actividade na LIAM bem como as contas tidas com a construção do monumento, escritas pela sua mão, com vários erros, como humildemente reconhecia, mas que mesmo sem um grande rigor nos dá uma ideia dos respectivos custos e origens das receitas. Considero-os elementos já com algum interesse documental, pelo que partilho aqui.



Num sentido geral fica-mos a perceber que houve contributos provenientes de peditórios feitos na maior parte dos lugares da freguesia, ainda ofertas da maior parte dos materiais, como pedra e cimento, ainda tijoleira e granito, bem como de carretos e mão-de-obra tanto de pedreiro como de trolha.

O elemento principal do monumento, a imagem do Sagrado Coração de Maria custou 1.752,00 euros. A imagem e o monumento tiveram a sua benção pelo Pe. Domingos Moreira, sendo que que não obtive a dat certa mas naturalmente terá sido em 2003. 

Entre vários nomes mencionados nesta campanha do monumento, é salientado o empenho do saudoso José Coelho que em muito ajudou a obra e a D. Laurinda nas suas acções.

A todos estes nomes, embora de forma anónima, a D. Laurinda quis deixar uma nota, com a inscrição alusiva à autoria da obra, com a designação de "LIAM e BENFEITORES - 2003".





Nesse molho de papéis que me deixou a D. Laurinda, partilho um recorte onde justifica a entrega dos mesmos, chamando-lhe "testamento", pedindo-me para aproveitar alguma coisa para "recordação" ou então, "para deitar fora". É claro que não deitei fora como, pelo contrário, guardei e guardo com todo o respeito e consideração. Para muitos é um simples papel com uma escrita com vários erros mas para mim, e para o historial da LIAM, tem muito valor e mais terá com o passar dos anos.
Parece que foi há meia dúzia deles mas na realidade passaram já mais de vinte anos..

Por tudo isto, por este legado, mas por toda a dedicação que a D. Laurinda Gomes da Conceição teve para com a LIAM e para com a nossa paróquia, é de justiça que se lhe faça esta referência e memória e se evoque a sua figura.
Dos fracos não reza a História mas dos que temos como bons, e não são muitos, importa tê-los vivos nas nossas melhores memórias. 

Por tudo, obrigado à D. Laurinda, uma senhora, e que Deus a tenha à sua sombra bem como Maria, a tenha também como filha querida que à sua devoção tanto dedicou.



A seguir, a partilha de alguns elementos do projecto e levantamento topográfico, que naturalmente fiz sem qualquer custo, apenas por vontade e gosto..




Abaixo, imagens do boletim "Janela Aberta" que a LIAM publicou a partir de Janeiro de 2001, ano jubilar, e que durou alguns anos. A distribuição era gratuita mas aberta à oferta do que os leitores quisessem dar.
Como atrás ficou dito, mais tarde, no tempo do Pe. Arnaldo Farinha, o título foi aproveitado para o boletim dominical que com a minha colaboração (redacção, grafismo e impressão) se manteve durante alguns anos.


6 de junho de 2024

Residência Paroquial - Plantas

 



Em 2018, por isso há 6 anos, a pedido do Pe. Farinha, então nosso pároco, procedi ao levantamento e desenho das plantas dos pisos da residência paroquial.

Para além deste trabalho, a título gratuito, fiz também o levantamento fotográfico dos elementos construtivos sendo naturalmente visíveis situações que mereciam na altura como agora, obras de requalificação.

É certo que a residência exteriormente tem bom aspecto, está relativamente bem conservada, até porque foram sendo realizadas obras, nomeadamente pinturas e colocação de caixilharias em alumínio, substituindo as antigas em madeira, mas interiormente padece de muitos problemas, até porque deve-se ter em conta que este tipo de construção antiga (e ela foi edificada originalmente por 1907), tem uma estrutura interior muito baseada em madeira, tanto nas paredes como nos soalhos, tecto e armação da cobertura.

Em todo o caso, costuma-se dizer que o dinheiro não chega para tudo e vai-se acorredendo às situações que em cada momento se consideram como mais necessárias e prementes, como agora com as obras no Salão Paroquial. Mas importa, a todos nós, comunidade, não desmazelar a conservação de um património que, mesmo sendo da esfera da Igreja, é de todos nós.

A residência paroquial de Guisande está recheada de apontamentos históricos interessantes, desde os relacionados à sua construção (por 1907), à sua alienação pela década de 1920 e posterior aquisição, com contornos ainda muito misteriores e que a seu tempo procurarei partilharei por aqui.

Para já, as plantas dos dois pisos da residência conforme existente e que não difere muito do que terá sido a planta original, salvo as obras que o Pe. Francisco foi fazendo, nomeadamente com a introdução de uma casa de banho e a sua ligação pela parte interior, com adaptação na zona da cozinha.

8 de maio de 2024

Mortalidade noutros tempos em Guisande


Hoje em dia a mortalidade infantil em Portugal, como nos países mais ou menos desenvolvidos, é baixa quando comparada com anos passados e naturalmente com um acréscimo das taxas quanto mais recuamos no tempo. 

Em 2023, de acordo com dados da Pordata, em Portugal por cada mil nascimentos a média de falecimentos foi de 2,5.

Recuando a 1974, quando se deu o fim da ditadura a taxa estava em 37,9. Continuando a recuar, em 1960 estava em 77,5. E recuando ainda mais, a taxa era ainda mais elevada.

As razões para os actuais valores são óbvias e sobretudo decorrem do desenvolvimentos da ciência média, medicamentos, vacinas, da rede de cuidados primários de higiene e saúde, respectivos tratamentos, e, naturalmente, o alargamento da rede de estabelecimentos de saúde dos primários aos centros hospitalares.

Por conseguinte, noutros tempos, era elevado o número de mortes de menores, alguns durante o parto e outros nos primeiros dias, meses ou anos de vida.

Consultando velhos assentos paroquiais dos óbitos, mesmo de Guisande,  impressiona de facto a proporção de mortes de crianças. Até mesmo de pessoas já adultas mas de baixas idades, na casa dos vinte ou trinta anos.

Como um exemplo da moralidade em Guisande:

Em 1844 faleceram 16 pessoas: Homens 5; Mulheres 4, Meninos 4; Meninas 3.

Em 1846: Total 12. Homens 3; Mulheres 7, Meninos 0; Meninas 2.

Em 1847: Total: 15. Homens 4; Mulheres 1, Meninos 7; Meninas 3.

Em 1848: Total: 13. Homens 3; Mulheres 5, Meninos 4; Meninas 1.

Em 1849: Toal: 10. Homens 2; Mulheres 4, Meninos 2; Meninas 2.

Em 1850: Total: 12. Homens 0; Mulheres 5, Meninos 5; Meninas 2.

Em 1851: Total:12. Homens 4; Mulheres 3, Meninos 3; Meninas 2.

Em 1852: Total: 3. Homens 0; Mulheres 1, Meninos 0; Meninas 2.

Em 1853: Total: 7. Homens 1; Mulheres 2, Meninos 2; Meninas 2.

Em 1854: Total: 8. Homens 3; Mulheres 1, Meninos 3; Meninas 1.

Em 1855: Total: 16. Homens 7; Mulheres 5, Meninos 3; Meninas 1.

Em 1856: Total: 22. Homens: 6; Mulheres: 8; Meninos: 3; Meninas: 5.

Em 1857: Total: 15. Homens 6; Mulheres 5, Meninos 4; Meninas 0.

Em 1858: Total: 6. Homens 3; Mulheres 3, Meninos 0; Meninas 0.

Em 1859: Total: 5. Homens 1; Mulheres 2, Meninos 0; Meninas 2.

Em 1861 faleceram um total de 9 pessoas.

Em 1862 faleceram um total de 11 pessoas.

Em 1865 faleceram um total de 9 pessoas.

Em 1866 faleceram um total de 7 pessoas.

Em 1867 faleceram um total de 7 pessoas:

Em 1868 faleceram um total de 16 pessoas.

Em 1869 faleceram um total de 12 pessoas.

Em 1870 faleceram um total de 11 pessoas.

Em 1871 faleceram um total de 18 pessoas.

Em 1872 faleceram um total de 5 pessoas.

Em 1873 faleceram um total de 9 pessoas.

Em 1874 faleceram um total de 18 pessoas.

Em 1875 faleceram um total de 7 pessoas.

Em 1876 faleceram um total de 10 pessoas.

Em 1877 faleceram um total de 12 pessoas.

Em 1878 faleceram um total de 10 pessoas.

Em 1879 faleceram um total de 10 pessoas.

Em 1880 faleceram um total de 12 pessoas.

Em 1890 faleceram um total de 12 pessoas.

Em 1894 faleceram um total de 9 pessoas.

Em 1895 faleceram um total de 16 pessoas.

Em 1900 faleceram um total de 7 pessoas.

Em 1910 faleceram um total de 7 pessoas.

É certo que, como se percebe pelos números acima, havia variação de ano para ano, mas na maior parte dos anos é significativo o número de menores falecidos quando comparado com os tempos actuais.

Morria-se basicamente por falta de cuidados médicos e por isso muitas doenças que agora são relativamente fáceis de debelar, noutros tempos eram fatais. Os assentos paroquiais raramente referem a causa da morte e algumas poucas vezes com a designação genérica de "moléstia" ou "maleita" mas sabe-se que havia doenças determinantes como a bronquite, pneumonias, diversos tipos de febre e outras epidemias. 

Pela falta de estabelecimentos hospitalares ou similares, e mesmo de médicos, a regra era as mulheres darem à luz em casa, tantas vezes sem o devido acompanhamento, e apenas, nem sempre, por parteira mais ou menos expedita e conhecida no meio. Escusado será dizer que a gestação também não tinha qualquer tipo de acompanhamento. 

Finalmente, o que ajudava ao problema, não existiam regras e métodos anti-concepcionais e por isso era comum as mulheres gerarem uma carrada de filhos, uns a seguir aos outros, tantos quantos a natureza permitisse.

5 de abril de 2024

Os Lopes de Guisande


Dizem os entendidos nestas coisas do estudo da origem dos patronímicos, como quem diz, dos nomes de pessoas e  apelidos de famílias, que Lopes foi apelido popular nos países latinos, como Grécia, Itália, Espanha e Portugal. Com origem do latim lupus, Lopo em Portugal, surge a derivação Lope, que significa lobo. Assim, a referência a este animal, do qual e pela domesticação surgiram os cães, procura conotar as pessoas que recebem esse nome com os seus atributos de coragem e destreza.

Lopes, em Portugal e Lopez em Espanha, foi apelido relativamente comum na península ibérica pela Idade Média. Lopes derivava de filho de Lopo, assim como à semelhança de Henriques como filho de Henrique, Gonçalves, filho de Gonçalo e Fernando, filho de Fernão.

Na actualidade, Lopes é considerado como o 14º apelido mais comum em Portugal. Na nossa História, sobretudo na Idade Média houve Lopes mais ou menos relevantes, como o cronista Fernão Lopes. Também, pela negativa, o Diogo Lopes de Pacheco, um dos assassinos da bela Inês de Castro e o único que escapou à vingança de D. Pedro, o Justiceiro, refugiando-se em Castela.

Descrição heráldica do brasão dos Lopes (representado acima):

Esquartelado: o primeiro e o quarto de azul com uma estrela de ouro, de seis raios; o segundo e o terceiro de vermelho, com uma flor-de-lis de prata; bordadura de vermelho, carregada de oito aspas de ouro. Timbre: um aspa da bordadura.

[fonte bibliográfica "Armorial Lusitano - Anuário da Nobreza de Portugal"]


Os Lopes na freguesia de Guisande:

Com estes apontamentos não tenho pretensões, obviamente, em fazer uma descrição genealógica exaustiva dos Lopes na nossa freguesia de Guisande, porque será tarefa quase impossível face à falta de documentos complementares e em sequência aos que é possível publicamente consultar. Ainda assim, com base em conhecimentos pessoais, na pesquisa e leitura de velhos assentos paroquiais, análises de nomes e datas e cruzamento dos mesmos, consegui apurar alguns nomes e datas e relações entre si que considero bastante substanciais. 

Neste contexto, e como ponto de partida, uso como referência o nome de Domingos José Lopes, casado que foi com Idalina da Conceição, que viveram no lugar da Igreja, na nossa freguesia de Guisande, e que juntos geraram uma família numerosa e que na nossa freguesia será a mais representativa deste apelido. Mas também a par do Joaquim José Lopes, irmão do Domingos, que ficou com a alcunha de "o Cabreiro", e que casado com Maria Alves, também constituiu uma família igualmente numerosa e representativa do apelido. 

O Domingos e o Joaquim tiveram ainda outros irmãos, nomeadamente o Manuel, que morreu solteiro e sem geração e que viveu com outro irmão, o João José Lopes, este casado com a Maria Isaura Ferreira dos Santos e que tiveram três filhos rapazes, o Fernando, o António, que já faleceu, solteiro, e o Joaquim, este casado com a Cristiana Valente, com filhos e moradores no lugar de Cimo de Vila, aqui em Guisande. Ainda como irmão do Domingos, do Joaquim, do Manuel e do João, o José Lopes, que casou e faleceu em Romariz.

Em resumo, pode-se concluir que a génese principal da família Lopes na nossa freguesia de Guisande está assente sobretudo nas gerações que deixaram o Domingos José Lopes e o seu irmão Joaquim José Lopes, como mais representativas em termos de geração deixada. Naturalmente que também os filhos do João, embora estes em menor número.


Vamos pois, começar por estes ramos dos Lopes:


Domingos José Lopes, nasceu a 12 de Abril de 1917.

Era filho de Bernardo José Lopes e de Albertina Rosa de Jesus, moradores no lugar de Cimo de Vila. Era neto paterno de António José Lopes e de Inês Rosa dos Santos. Era neto materno de Joana de Jesus e de avô incógnito (1). 

Foram seus padrinhos de baptismo Domingos José da Mota, do lugar de Casaldaça e Rosária da Conceição, do lugar das Quintães.

Casou em 22 de Julho de 1945 com Idalina da Conceição, esta do lugar de Casaldaça.

Idalina da Conceição, esposa do Domingos José Lopes, nasceu a 24 de Agosto de 1923. 

Era filha de Domingos Gomes da Conceição (alfaiate), que ficou conhecido com a alcunha de "o Pinguinha", do lugar de Casaldaça, nascido a 23 de Fevereiro de 1901 e falecido em 12 de Novembro de 1984,  e de Rosália de Jesus, esta falecida em 23 de Janeiro de 1967. Casaram o Domingos e a Rosália em 21 de Novembro de 1922.

Esta Rosália de Jesus nasceu em 6 de Outubro de 1901. Era filha de pai incógnito e de Margarida de Jesus. Todavia, esta Margarida quando deu à luz a Rosália estava casada com Justino dos Santos, sendo que este estava ausente no Brasil há pelo menos 10 anos e sem qualquer comunicação com a esposa. Era, pois, a Rosália neta paterna de pai incógnito (1) e neta materna de António Caetano dos Santos e de Maria de Jesus, de Casaldaça. Para além de Rosália, a Margarida de Jesus teve outra filha ilegítima, a Adelina, que faleceu menor, com dois anos de idade, em 20 de Março de 1910. 

A Margarida de Jesus, acima referida, mãe da Rosália, teve ainda uma irmã, a Rosa Maria de Jesus que por sua vez teve uma filha de nome Rosa, nascida em 2 de Março de 1891, filha de pai incógnito e neta materna do referido António Caetano dos Santos e de Maria de Jesus.

(1) Sobre o conceito de pai incógnito, convém referir que por esses tempos era muito vulgar. Incógnito não significa desconhecido mas tão somente alguém que de demitiu das suas responsabilidades de pai, muitas vezes porque a gravidez resultava de uma relação fortuita, consentida ou não, mas outras vezes por alguém que já era casado ou com estatuto social que impediam a assunção dessa paternidade. Por conseguinte as mães, solteiras, casadas ou viuvas, porque nesses tempos eram comuns as viuvas jovens, quase sempre sabiam a identidade dos pais. Ora se essa identidade não era vertida nos assentos de baptismo, na generalidade dos casos era conhecida da comunidade, da vizinhança.

Continuando, a Idalina da Conceição, era neta paterna de Joaquim Gomes da Conceição (serrador) e de Ana Rosa (costureira), do lugar de Estôze. Esta Ana tinha pelo menos uma irmã, a Maria Rosa, que foi sua madrinha de baptismo. Este Joaquim Gomes da Conceição teve três filhas, a  Arminda, nascida em 4 de Maio de 1906 , a Aurora, nascida em 3 de Novembro de 1909 e Maria da Conceição. Para além do Domingos, teve como filho o Delfim Gomes da Conceição, com a alcunha de "o Piranga", que foi alfaiate em Casaldaça, e que nasceu em 14 de Maio de 1912, e que casou com a Isaura. Ambos falecidos. Deixaram vários filhos, dos quais me lembro do Joaquim (do Serra), Alcino, Alzira, Alberto, Dolores, Brilhantina, Crisantina, Isaura, Fernanda e Georgina.

Como se disse, a Idalina era neta materna de pai incógnito e de Margarida de Jesus. Era bisneta paterna de João Francisco e de Arminda de Jesus, de Cimo de Vila. Era  bisneta materna de Manuel Francisco e Miquelina Rosa, de Estôze.

No seu baptismo teve como padrinhos o avô paterno e a avó materna.

Esta Idalina, teve vários irmãos, como o Albano Gomes da Conceição, que nasceu a 23 de Março de 1931; A Orlanda Gomes da Conceição, falecida em 12 de Fevereiro de 1937, apenas com um ano de idade. Teve ainda o Álvaro Gomes da Conceição, falecido em 6 de Dezembro de 1937, com 12 meses de idade. Teve ainda o Alberto Gomes da Conceição, casado com a Angelina, moradores no lugar de Fornos, com filhos e filhas. Teve irmãs, como a Dorinda, que casou com o Bernardino Gomes da Mota, ambos falecidos e ainda a Delfina (Sr. a Tina) casada como Manuel Alves (Nequita) moradores no lugar do Viso, de resto no sítio e na parte da casa onde morava o seu pai Domingos. Teve ainda uma outra  irmã, a Maria da Conceição Gomes, nascida a 22 de Dezembro de 1925 e que casou em 16 de Janeiro de 1954 com Joaquim José Gonçalves de Almeida. Ainda outra com nome semelhante, a Maria Gomes da Conceição, que nasceu em 23 de Março de 1931. Teve a Idalina ainda como irmão o Elísio Gomes da Conceição, que nasceu a 28 de Março de 1938. 

O Domingos José Lopes e a Idalina da Conceição tiveram vários filhos, a saber: O Domingos, que casou com a Maria, a Rosária, casada com o António Costa, o Belmiro, casado com a Isaura, a Délia, casada com o José Pereira Baptista, a Lurdes, casada com o Manuel Ferreira, o Leonel, a Celina, casada com o Agostinho Guedes, o Orlando, casado com a Georgina Santos, a Paula, casada com o José Pinto e o Arlindo, casado com a Maria José Fontes. Houve ainda um rapaz, o Francisco, que seria o mais novo da prole e que terá falecido com poucos meses. Escusado será dizer que de todos estes filhos resultaram filhos e netos.

O Domingos José Lopes, ficou conhecido como o Ti Lopes, e durante muitos anos foi carreteiro, com a sua junta de bois a fazer carretos e a lavrar terras, de resto como o seu irmão Joaquim, também carreteiro e laboreiro (aquele que labora na terra). Foi homem duro, de muito  trabalho no campo a na labuta de criação de um bando de filhos que pelo exemplo e educação deram homens e mulheres de boa cepa..

Viveram no lugar da Igreja, como caseiros do Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva.

Faleceu o Domingos em 14 de Agosto 1983 e a esposa Idalina, que lhe sobreviveu, a 9 de Setembro 1997.


Domingos José Lopes e Idalina da Conceição



Domingos José Lopes e Idalina da Conceição, quando jovens





Foto de 1962 - O Ti Lopes com os seus bois, pronto para iniciar a recolha da oblata, nessa altura baseada e oferta de milho e centeio. Ainda o Pe. Francisco, o David cantoneiro, de Estôze, e creio que o irmão do Domingos, o Manuel.




Casa onde viveram o Domingos José Lopes e a Idalina



O Ti Domingos Lopes e o pai do Pe. Francisco - 1957

Joaquim José Lopes, nasceu a 22 de Fevereiro de 1921.

Foram padrinhos de baptismo o Joaquim José Lopes, seu tio paterno, então morador em Pedroso, Vila Nova de Gaia e Maria Rosa da Conceição, do lugar de Casaldaça.

Casou com Maria Alves Cardoso em 11 de Novembro de 1944. Esta nasceu a 1 de Julho de 1924 e era filha de Manuel Gomes da Silva e de Custódia Alves, do lugar de Cimo de Vila. Era neta paterna de Martinho Gomes da Silva e de Olinda Rosa de Jesus (falecida a 3 de Fevereiro de 1937). Era neta materna de António Pereira e Joaquina Alves. Era bisneta paterna  de pais incógnitos e bisneta materna de Manuel Francisco Botelho e de Rosa de Jesus, do lugar da Costa Má, da freguesia do Vale.

Foram padrinhos do seu baptismo o Moisés Gomes da Silva, seu tio paterno e uma sua irmã, a Rosa Alves.

Por curiosidade, este Moisés Gomes da Silva, nasceu em 19 de Julho de 1901. Casou com Eulália Pereira dos Santos, em 15 de Novembro de 1937. Faleceu em 23 de Junho de 1964. Este Moisés e a Eulália viveram em Casaldaça e tiveram vários filhos de que me lembro do Tono da Eulália, que era figura popular no teatro de Natal em Guisande. Esta Eulália nasceu em 24 de Agosto de 1909. Era filha de António Alves da Costa e de Rosa Pereira dos Santos. Faleceu em 9 de Setembro de 1986.Era neta paterna de José Alves da Costa e de Carolina Emília do Espírito Santo e neta materna de António Alves da Mota e de Custódia Pereira dos Santos. Como irmã desta Eulália identifiquei ainda uma irmã, Maria, que nasceu a 17 de Dezembro de 1915.

Do casamento do Joaquim José Lopes e da Maria Alves Cardoso, nasceram vários filhos e filhas, nomeadamente de quem tenho memória: A Albertina, que casou com o Delfim Pinto (falecido), a  Conceição, que casou com o meu primo António de Oliveira Santos (o "Estopa") (falecido), o João, o Joaquim, que casou com a Lúcia, a Maria, que casou com o António Valente, a Madalena, que casou com o Serafim (falecido), o Domingos, que casou com a Natália, o António, que casou com a Fernanda Brandão (separados) e o Fernando, também casado.

O Joaquim José Lopes foi sempre uma figura muito típica e carismática na nossa freguesia e ficou com a alcunha de (o "Cabreiro"). Desconhece-se a origem desta alcunha apesar de haver quem a relacione à freguesia de Cabreiros, do concelho de Arouca. Nada encontrei que relacionasse a famílas daquela zona. Por sua vez a sua mulher, a maria Alves, era conhecida simplesmente por Ti Micas do Cabreiro. Viveram no lugar de Cimo de Vila, numa casa isolada do lugar e que popularmente ficou conhecido como a Coreia, no que terá sido baptizada pelo próprio. Pessoalmente, porque era do lugar e fazia vários trabalhos para os meus pais, tenho dele muitas memórias assim como da Ti Micas e naturalmente dos filhos, alguns, os mais novos, colegas de escola e das brincadeiras de infância. Foram gente de trabalho e de bem, deixando uma geração de filhos e filhas a fazer-lhes jus.


Joaquim José Lopes e a esposa Maria Alves Cardoso


José Lopes, nasceu a 11 de Abril de 1923.

Teve como padrinhos Manuel Caetano de Azevedo, do lugar das Quintães e Maria da Conceição, do lugar das Quintães.

Casou em Romariz com Ângela da Costa em 12 de Abril de 1947. Terá vivido no lugar da Portela - Desconheço a sua descendência.

Tentei um contacto com uma pessoa que acredito ser seu filho, mas às minhas questões ainda não respondeu. Quando e caso sim, actualizarei este artigo.


João Jose Lopes, nasceu a 11 de Julho de 1925.

Casou em 26 de Dezembro de 1968, em Fiães, com Maria Isaura Ferreira dos Santos. Do seu casamento nasceram o Fernando (creio, sem certeza, que casado em Milheirós de Poiares), o António, que faleceu solteiro e o Joaquim, casado com a Mariana, e que vive em Cimo de Vila. Durante muitos anos viveu com esta família a Isaura, que creio que era sobrinha da esposa do Ti João.

O Ti João "do Cabreiro", como ficou conhecido, era igualmente uma figura típica da nossa freguesia e durante muitos anos foi o sacristão, tocador do sino e coveiro da freguesia e que em muito ajudou a paróquia. Vivia no lugar de Cimo de Vila.


João José Lopes, aqui como sacristão ao lado do Pe. Francisco, aquando da celebração das Bodas de Ouro Sacerdotais, em Agosto de 1989


Manuel José Lopes, nasceu a 27 de Setembro de 1915. Dos irmãos incluindo os acima descritos, era o mais velho, mas ficou solteiro e viveu até à sua morte com o seu irmão João. Era jornaleiro e os mais velhos lembram-se dele quase sempre de enxada ao ombro. Homem simples mas trabalhador.

Foram padrinhos do seu baptismo o Manuel Gomes, de Cimo de Vila, e Maria da Conceição, do lugar de Fornos.


Resumo: Estes foram os cinco  irmãos, filhos de Bernardo José Lopes e de Albertina Rosa de Jesus, que até ao momento consegui identificar. Desconheço, pois, se outros houve. Destes, a particularidade de serem todos homens.

Ascendência:

Do que consegui apurar, e conforme já escrito, os cinco irmãos, Manuel, Domingos, Joaquim, José e João, eram filhos de Bernardo José Lopes e de Albertina Rosa de Jesus, que casaram em 29 de Outubro de 1914. Ele com 28 anos e ela com 26 anos de idade. Viveram em Cimo de Vila.

Este Bernardo José Lopes, nasceu em 13 de Setembro de 1886. Era filho de António José Lopes e de Inês Rosa dos Santos, casados a 5 de Novembro de 1885 quando ele tinha 20 anos e ela 26 anos de idade. António José Lopes era  filho de Manuel Lopes, serrador, natural da freguesia de  S. João Baptista de Videmonte - Guarda, e de Maria Rosa de Jesus. A Inês Rosa dos Santos era  filha de Manuel António da Mota e de Margarida Rosa dos Santos, de S. Tiago de Lobão. Por sua vez o Manuel Lopes era filho de José Lopes, casado com Ana Rosa. Em resumo, este José Lopes é o tetra-avô dos actuais filhos do Domingos José Lopes, do Joaquim José Lopes e dos demais irmãos.

O Bernardo José Lopes, tinha pelo menos um irmão, o Joaquim José Lopes que casou em Pedroso-Vila Nova de Gaia com Joaquina Dias da Silva, e moravam em Cimo de Vila - Guisande. Tiveram pelo menos um filho o Joaquim da Silva Lopes, nasceu a 28 de Novembro de 1919 e que casou em Paramos-Espinho, em 3 de Dezembro de 1947 com Idite Rodrigues Dias.

A esposa do Bernardo José Lopes, a Albertina Rosa de Jesus, nasceu na freguesia deo Bonfim, cidade do Porto, em 7 de Janeiro de 1888. Era filha de Joana de Jesus e de pai incógnito. Esta Joana de Jesus era filha de António Joaquim Gonçalves e de Florinda Rosa, de Mansores - Arouca. Casaram o Bernardo e a Albertina em 29 de Outubro de 1914, tendo ele 28 anos e ela 26 anos de idade. 

Os padrinhos de baptismo do Bernardo foram Bernardo José Leite de Paiva e Bernardina Rosa dos Santos, de Casaldaça.

Faleceu o Bernardo em 16 de Julho de 1944. Faleceu a esposa Albertina em 23 de Novembro de 1964.

O Manuel Lopes, de S. João Baptista de Videmonte - Guarda, casou com a Maria Rosa de Jesus, natural de Guisande mas que casaram em S. Tiago de Lobão. Esta Maria Rosa de Jesus era filha de Manuel Ferreira Valente e de Mariana Rosa de Jesus, esta de Cimo de Vila - Guisande.

Faleceu este Manuel Lopes em 19 de Setembro de 1864, com 39 anos de idade pelo que terá nascido por 1825. No seu assento de óbito é dito que deixou cinco filhos. Como se verá a seguir, consegui identificar um número superior pelo que esta referência a cinco filhos certamente que diz respeito aos que estava, vivos à data do seu falecimento.

Por conseguinte, este Manuel Lopes, o avô paterno do Bernardo José Lopes, para além do pai deste  (o António José Lopes),  teve outros filhos, de que consegui identificar:

Ana,  que nasceu a 4 de Maio de 1848.

Inês, que nasceu a 17 de Março de 1851.

Foi padrinho de baptismo o avô materno e madrinha a sua tia materna Inês.

Domingos, que nasceu a 15 de Dezembro de 1852.

Emília, que faleceu menor, com 18 meses de idade, a 24 de Julho de 1856.

Joaquim, que nasceu a 28 de Março de 1858.

Teve como padrinho Joaquim Leite de Resende, de Trás-da-Igreja, e como madrinha a sua tia paterna, Rita Gomes.

António, que nasceu a 4 de Março de 1860. Primeiro de nome

Rita, 17 de Fevereiro de 1862

António José Lopes, que  nasceu a 17 de Maio de 1865. Segundo de nome. Pai do Bernardo José Lopes. A ter em conta a data de feleciemnto do pai (19 de Setembro de 1864), nasceu já órfão de pai.

Teve como padrinho um Rodrigues Lopes, relojoeiro na cidade do Porto, este representado por João Francisco, seu sobrinho. Deduzo que este Rodrigues Lopes seria tio paterno ou eventualmente tio-avô do baptizado.


Em resumo, do que me foi possível pesquisar e apurar, até ao momento, e sem prejuízo de futuras rectificações à luz de novos documentos,  o apelido desta família Lopes tem origem em  S. João Baptista de Videmonte, do antigo concelho de Linhares e actualmente do concelho e distrito da Guarda. José Lopes, o ascendente mais antigo a que consegui chegar, teve como filho o Manuel Lopes e este  certamente terá vindo para o concelho de Vila da Feira, casado em Lobão com uma rapariga de Guisande e nesta freguesia foi morador no lugar de Cimo de Vila e onde gerou e criou os vários filhos (8) que conseguimos pesquisar.

Curiosidade: Por informação prestada pela Lurdes Lopes,  mesmo que nunca verificado, haveria na sua ascendência algum parentesco afastado com familiares da família dos pais do Américo Baptista da Silva (Américo do Reimão), de Casaldaça. Ora este Américo chegou-me a dizer que de facto teria um parente proveniente de Mansores Arouca. Ou seja, a existir qualquer relação de parentesco, será muito afastada e pelo ramo ascendente da avô paterna da Lurdes. Ora provar essa relação é uma tarefa muito difícil e obrigaria a saber pelo menos o nome completo do dito parente da família do Reimão, proveniente de Mansores. 

Também convém assinalar, e ligando ao dito no parágrafo anterior, que o pai do Américo "do Reimão", Raimundo Francisco da Silva (que foi ferreiro em Casaldaça), por sua vez era filho de Joaquim Francisco da Silva, de Mansores e de Maria Rosa da Conceição, de Guisande, neto paterno de João Francisco da Silva e de Maria Joaquina Santos, neto materno de pai incógnito e de Rosa Margarida dos Santos. Poderá este suposto e oral parentesco com gente de Mansores vir também daqui mas para já sem prova dessa ligação.

Por conseguinte, por agora, esta suposta relação tem apenas uma sustentação oral, do disse-que-disse, é apenas uma mera curiosidade e lateral ao propósito primeiro destes meus apontamentos, que procuram essencialmente estabelecer a proveniência do apelido Lopes na nossa freguesia, e sobretudo relacionada a esta família em particular.


Outros Lopes:

De tempos passados, encontrei ainda na nossa freguesia outras pessoas de apelido Lopes:

Um exemplo: Manuel Lopes, natural de Escapães, filho de António Lopes e de Maria Rosa de Jesus, que casou aqui em Guisande em 12 de Novembro de 1905 com Joaquina Maria de Jesus, do lugar da Pereirada, filha de António José Pinto (de Canedo) e de Custódia Maria de Jesus (de Guisande). Este Manuel Lopes de Escapães, nasceu a 13 de Junho de 1884, sendo filho de António Lopes e de Maria Rosa de Jesus. Era neto paterno de Manuel José Lopes e de Roa Maria de Jesus e neto materno de Manuel Ferreira da Silva e de Joana Maria de Oliveira. Por sua vez, este António Lopes, pai do Manuel Lopes, nasceu em 8 de Dezembro de 1855, em Escapães, era filho Manuel José Lopes e de Roa Maria de Jesus, neto paterno de António José Lopes e de Maria Rosa e neto materno de Teodósio José Caetano e de Maria Rosa.

Não consegui encontrar descendência deste casal Manuel Lopes e Joaquina Maria em Guisande pelo que será de supor que foram viver para fora, eventualmente em Escapães, terra do Manuel Lopes. 

Outro exemplo: Por 1896, nascia no lugar de Fornos um Raimundo, filho de António Lopes, pedreiro, natural de Fafião - Romariz, e de Maria Rosa de Jesus, rendilheira, natural de Guisande, sendo neto paterno de Bernardino José Lopes e de Ana Maria da Silva, e neto materno de Manuel José da Mota e de Maria Rosa. 

Não consegui estabelecer nestas famílias acima indicadas, qualquer relação com os Lopes de Guisande, objecto principal do aqui falo, mas é natural que, pela relação de apelidos e até mesmo na inclusão do José, no caso Manuel José Lopes e Bernardino José Lopes,  é perfeitamente admissível teorizar que exista mesmo uma relação a ramos ascendentes e também com origens a Videmonte - Guarda.

Outro exemplo: Por Setembro de 1754, no lugar do Outeiro morava o casal Manuel Alves Lopes e Isabel Francisca de Jesus. Ele era filho de Manuel Alves e de Maria Lopes, de Valega - Ovar e ela era filha de Domingos Pereira e de Maria Ferreira, do lugar da Pereirada, Guisande.

Deste casal Manuel e Isabel consegui identificar como filhas a Maria, nascida em 7 de Setembro de 1754 e a Tedoósia, nascida em 23 de Novembro de 1758.

Têm ainda como apelido Lopes, por parte da mãe, a Adelina, que era de Canedo, os filhos de Manuel Armando dos Santos (Manel da Joana), que foi do lugar da Lama, como a Maria do Céu, a Paula, a Alzira, a Isabel, a Deolinda e um outro irmão. Em Canedo existem várias famílias de apelido Lopes, pelo que não surpreenderia que com antepassados relacionados aos também antepassados Lopes de Guisande, nomeadamente derivados dos atrás referidos filhos do Manuel Lopes, que foram em número significativo.

Por enquanto fica por aqui a saga dos Lopes de Guisande. Pode carecer de uma ou outra actualização ou correcção, que farei conforme for encontrando novas informações, mas já é um bom ponto de partida, nomeadamente se a alguém da família interessar estabelecer a sua árvore genealógica. Pela minha parte estes apontamentos decorrem do interesse próprio de conhecer as origens e teias familiares de algumas das famílias da nossa freguesia. Já o fiz por aqui com outras famílias e, com tempo, continuarei com outras. 


Igreja matriz de S. João Baptista de Videmonte - Guarda, terra onde desemboca a proveniência do apelido Lopes em Guisande [fonte: wikipedia]

21 de março de 2024

A Maria foi à feira a Cesar e ficou prenha

Creio que já o escrevemos por aqui, desde que há casamentos que nunca deixou de haver mães solteiras e sobretudo com os progenitores a não assumirem a paternidade e responsabilidades inerentes, fosse por verdadeira incapacidade de os responsabilizar ou por silêncio comprado ou ameaçado, sobretudo quando os progenitores já eram homens casados e de estatuto social incompatível com a "vergonha" ou infidelidade a assumir. Acontecia, por exemplo, com patrões relativamente a criadas.

Por conseguinte, nos velhos assentos paroquiais dos baptismos, são frequentes as referências a filhos naturais, não reconhecidos como legítimos, de mulheres e raparigas solteiras. Mas também eram considerados filhos naturais e não legítimos todos os que nascidos fora do casamento, como o caso constante num assento de baptismo de uma Petronilha, nascida em 7 de Julho de 1752, filha de Pedro de Oliveira, homem casado, do lugar de Trás da Igreja e de Maria Guedes, viúva que ficou de Manuel Francisco, do lugar de Casaldaça. 

Ora num desses assentos, de uma rapariga a quem foi dado o nome de Getrudes, nascida em 29 de Março de 1739, filha de uma Maria, solteira, esta filha de Manuel da Mota e de sua mulher Domingas da Mota, do lugar da Pereirada, é curiosa a narrativa feita pelo pároco de S. Mamede de Guisande, o Abade Manuel Carvalho, nos seguintes termos: "..e perguntando à dita Maria, solteira, quem era o pai da dita criança, me respondeu que indo ela em fim do mês de Junho próximo (1), passando à freguesia de Cesar, em o caminho zombara dela um homem que ela não conhecera e dele ficara prenhe, em fé do que fiz este assento, que comigo assinarão o padrinho da baptizada e Manuel Francisco, de Cazaldaça, ambos desta freguesia".

(1) - creio que pretendia dizer "Junho passado"

Em resumo, não deixa de ser curioso. Fica-se sem saber se, todavia, se no caso a Maria ficou grávida por um acto de violação ou de uma brincadeira consentida com um estranho.

Seja como for, o caso, que não seria de todo vulgar, mostra a vulnerabilidade das mulheres e raparigas em certas situações e sem que houvesse justiça  capaz de obrigar à assunção da responsabilidade paternal. Certo é que, a ter em conta a descrição, a rapariga iria sozinha a caminho de Cesar (seria à feira e já existiria nesse tempo ?) e pelo caminho foi abordada por um estranho que "zombou" dela. Dessa "zombaria" passados nove meses nasceu a Getrudes, filhinha de pai incógnito que teve a desfaçatez de "zombar" de uma inocente rapariga a caminho não de Viseu mas de Cesar.

Noutros assentos paroquiais similares, volta a ser usado o termo "zombar", no que modernamente poderemos traduzir como "abusar" ou mesmo "violar".

20 de março de 2024

Francisco Guedes - Homem de quatro mulheres

 


Pelo assento de baptismo de uma rapariga de nome Escolástica, nascida em 5 de Fevereiro de 1738, o seu pai, um Francisco Guedes, do lugar do Reguengo, já ía na sua quarta mulher, a Isabel Francisca.  

O homem não teria um harém, mas tão simplesmente porque, certamente, por falecimento das anteriores esposas. Nessa altura a morte em idades jovens era frequente, nomeadamente durante a gestação ou o parto. Também não é de supor que o homem somasse divórcios pois por esses tempos era coisa rara ou mesmo inexistente.

Para além dessa particularidade, o assento feito pelo abade Manuel de Carvalho, então pároco de S. Mamede de Guisande, fundador da Irmandade e Confraria de Nossa Senhora do Rosário, revela-nos que o padrinho da Escolástica foi um Manuel Ferreira, que era "caseiro dos padres desta Igreja de Guisande". Ora, padres, no plural, significa que havia na igreja mais que um padre? Efectivamente sim, no caso o Pe. Manuel Rodrigues da Silva, que então era assistente do Pe. Manuel de Carvalho. Este Pe. Manuel Rodrigues da Silva acabou mesmo por suceder ao Pe. Manuel Carvalho como pároco da nossa freguesia a partir da data da sua resignação por motivo de doença, em 1750. Acabou por falecer o fundador da Irmandade em 4 de Fevereiro de 1758. 

Apesar de tudo não deixa de ser curioso e interessante que estivesse o Pe. Manuel Rodrigues da Silva tantos anos como assistente. Outros tempos, com fartura de sacerdotes.

Já agora, refira-se que deve-se a este Pe. Manuel Rodrigues da Silva a construção da torre da nossa igreja, em 1764.

Fica aqui este interessante apontamento, que apesar de parecer coisa pouca, revela vários pormenores e mesmo muito da realidade social da época.

Finalmente, o nome de Escolástica, parece-nos fora do comum, mas na época embora não muito corrente era usado. Isto certamente em devoção a uma santa que teve esse nome, concretamente Santa Escolástica de Núrsia que era irmã do conhecido S. Bento.

19 de março de 2024

Nascimentos em Guisande no séc. XIX

Nascimentos em Guisande (de 1844 a 1859). 

Os números a seguir, correspondentes a pouco mais que uma década, revelam que, ao contrário do que era habitual, os rapazes foram nascendo em maior número que as raparigas. Nota-se também que não houve uma tendência de crescimento pois em 1844 nasceram 19 crianças e dez anos depois apenas 14. Pelo meio, em 1855, apenas 10. 

Importa referir que estes números até são percentualmente  interessantes pois por esses anos a nossa freguesia tinha à volta de 500 habitantes residentes. Em 1864 tinha 529, em 1878, 456 e em 1900, ao virar para o século XX, tinha 550 moradores. Só em 1960 é que ultrapassou o milhar de habitantes residentes.

Convém referir que por estes tempos, apesar de algumas mudanças com o liberalismo, os cuidados médicos e de saúde eram escassos ou mesmo inexistentes e as doenças estavam sempre presentes. Muitos bebés, como as mães, morriam durante o parto.

Apesar disso a freguesia foi crescendo em população e passado um século, pelas décadas de 1950 e 1960, os nascimentos na freguesia já andavam anualmente pelas três dezenas ou mais. Claro que depois, a partir da década de 1990, começou uma redução da natalidade e na actualidade os nascimentos são em escasso número não chegando sequer a atingir meia dúzia por ano. Talvez nem metade disso. Por conseguinte a freguesia está a registar por década  uma efectiva perda de população, na ordem já próxima da centena.

1844

Rapazes: 10

Raparigas: 9

Total: 19

1845

Rapazes: 5

Raparigas: 8

Total: 13

1846

Rapazes: 9

Raparigas: 7

Total: 16

1847

Rapazes: 9

Raparigas: 8

Total: 17

1848

Rapazes: 9

Raparigas: 5

Total: 14

1849

Rapazes: 6

Raparigas: 5

Total: 11

1850

Rapazes: 9

Raparigas: 5

Total: 14

1851

Rapazes: 9

Raparigas: 9

Total: 18

1852

Rapazes: 9

Raparigas: 10

Total: 19

1853

Rapazes: 4

Raparigas: 7

Total: 11

1854

Rapazes: 8

Raparigas: 6

Total: 14

1855

Rapazes: 5

Raparigas: 5

Total: 10

1856

Rapazes: 4

Raparigas: 6

Total: 10

1857

Rapazes: 8

Raparigas: 6

Total: 14

1958

Rapazes: 4

Raparigas: 6

Total: 10

1959

Rapazes: 10

Raparigas: 7

Total: 17

1868:

Total: 12

13 de março de 2024

Padre José Francisco, do lugar das Quintães


Na lista de padres nascidos em Guisande, pesquisada e publicada pelo Cónego Dr. António Ferreira Pinto, na sua monografia sobre a nossa freguesia de Guisande, "Defendei Vossas Terras", de 1936, não há qualquer referência ao padre José Francisco.

De acordo com o recorte do assento de baptismo de José, filho de Manuel Francisco e de Maria Guedes, do lugar de Casaldaça, que nasceu em 29 de Abril de 1737, surge o sacerdote como padrinho e como morador no lugar das Quintães. Não encontrei ainda mais dados sobre este padre e se realmente era natural de Guisande, mas será de presumir que sim. 

A prática de em muitos assentos, sobretudo nos mais antigos, serem omitidos os apelidos das pessoas, e mesmo com os nomes próprios abreviados, não ajuda a deslindar as relações genealógicas. Junta-se à dificuldade a frequente omissão de outros pormenores, como a identificação dos avôs, pelo que é sempre uma tarefa completa a de vasculhar a história, identificar pessoas e seus dados biográficos.

Ainda do lugar das Quintães, existiu o padre José Pinto. Sabemos que em 1769, tinha 79 anos, pelo que terá nascido por 1690. Foi ordenado em 1724. Rebentou-lhe na mão uma espingarda, ficou muito doente dos olhos e nunca fez exame de confessor. Faleceu em 14 de Novembro de 1775, com 85 anos de idade, tendo sido sepultado dentro da igreja matriz de Guisande. Deixou testamento cerrado com bens por alma de seus pais e seu irmão Manuel e instituiu como sua herdeira uma Josefa  Maria, mulher de Bernardo Pereira da freguesia de Lamas, com a obrigação de lhe fazer os bens de alma e pagar suas dívidas. Durante a sua vida foi padrinho de baptismo de vários guisandenses pelo que consta como tal em muitos assentos paroquiais.

Com alguma incerteza mas com grande probabilidade, do que consegui pesquisar, seria filho de António Pinto e de sua mulher Isabel Dias, tendo nascido a 5 de Janeiro de 1684, sendo baptizado a 7 do mesmo mês. Foram padrinhos, José Francisco, do lugar das Quintães e Isabel filha de Gonçalo Pinto, do lugar da Lama. A ter em conta este assento e esta data de nascimento poderá estar errada a indicação acima de que em 1769 tinha 79 anos.

12 de março de 2024

Quando a morte se hospeda numa casa

Domingos José Gomes de Almeida, foi meu trisavô paterno, casado com Joaquina Rosa de Oliveira. 

Em 6 de Abril de 1894 morreu-lhe um seu filho solteiro, com 32 anos de idade, negociante de madeiras, de nome Domingos Gomes de Almeida. A sua mãe, a referida Joaquina Rosa de Oliveira morreu passados 4 dias, em 10 de Abril de 1894, com 77 anos de idade. E como não há duas sem três, passados outros 4 dias, em 14 de Abril de 1894 morreu o seu pai, o tal Domingos José Gomes de Almeida, com 81 anos de idade.

Não conheço os motivos desta sucessão de mortes, em menos de 15 dias, na mesma casa. Se por desgosto consecutivo da mãe após a morte do filho e depois do pai pela morte do filho e da esposa ou se por alguma circunstância de doença contagiosa ou de outra natureza. 

Provavelmente nunca o virei a saber até porque os assentos de óbito nada dizem a esse respeito. Apesar de morrer jovem o filho, por esses tempos era muito comum o falecimento de gente jovem.

Por outro lado, o pai com 81 anos e a mãe com 77 já tinham umas bonitas idades, tanto mais naqueles tempos quase sem grandes cuidados e tratamentos de saúde, em que a esperança média de vida era naturalmente baixa. 

Por conseguinte, fica apenas a surpresa e a curiosidade pela coincidência, mas é provável que tenha havido uma relação de doença ou emocional

20 de setembro de 2023

Alfaiate setecentista


Por este assento de baptismo de um José, nascido em 28 de Abril, do ano de 1742, ficamos a saber que existia em Guisande, no lugar de Fornos, um alfaiate, de nome Manuel Francisco, marido de Maria de Pinho, que era sua segunda mulher. Curioso o facto do seu filho José ter tido como padrinho de baptismo o padre José Pinto, do lugar das Quintães. À falta de mais elementos, incluindo os apelidos e os nomes dos avôs, que o assento não fornece, ficamos sem saber se esse sacerdote era ou não familiar do alfaiate, presumindo-se que sim pois era normal ser alguém da família. 

Ainda deste alfaiate encontrei o nascimento de outros filhos, o  Mateus, nascido em 21 de Setembro de 1743, a Jacinta nascida em 14 de Abril de 1745 e a Teresa nascida em 20 de Setembro de 1746.

Percebe-se pelas datas aproximadas do nascimento dos filhos, que o alfaiate não perdeu tempo a trabalhar com as linhas com que se cosem a família.

Nesse ano de 1742 era pároco em Guisande o abade Manuel de Carvalho, que fez o referido assento de baptismo, tendo sido o fundador da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário aqui em Guisande, secular entidade que ainda existe.

Quanto ao padre José Pinto, das Quintães, o seu nome consta na lista de sacerdotes nascidos em Guisande, a qual integra a monografia "Defendei Vossas Terras", do Cónego Dr. António Ferreira Pinto, edição de 1936. Sobre o referido sacerdote das Quintães é dito que "...em 1769, tinha 79 anos e fora ordenado cm 1724. Rebentou-lhe na mão uma espingarda, ficou muito doente dos olhos e nunca fez exame de confessor."

Dos alfaiates conhecidos que tiveram oficina em Guisande, desde logo lembramos o Joaquim Dias de Paiva, "O Pisco", que viveu no lugar da Igreja. Este Joaquim Dias de Paiva, nasceu em 24 de Setembro de 1906, sendo baptizado no dia 27 do mesmo mês e ano, tendo como padrinho Manuel de Pinho e Maria da Luz, do lugar do Viso. 

Era filho de Francisco Dias de Paiva (este natural de Caldas de S. Jorge) e de Margarida Augusta da Conceição (esta natural de Guisande). Era neto paterno de Jerónimo de Paiva e de Maria Teresa de Oliveira. Era neto materno de António de Pinho e de Maria de Jesus. No seu baptismo, em 27 de Dezembro de 1907. Teve vários irmãos, entre os quais o António, o Bernardo, a Miquelina, o José e o Guilherme. 

Casou em 26 de maio de 1926 com Luzia Rosa de Jesus, de Nogueira da Regedoura. Faleceu em 11 de Fevereiro de 2003. Foi como atrás se disse, um exímio alfaiate. Viveu no lugar da Igreja, junto à ribeira. Deixou filhos e filhas.

Desta família Dias de Paiva publiquei aqui já alguns apontamentos genealógicos.

Quanto a alfaiates em Guisande, para além do Joaquim Dias de Paiva, e o mais recente de que tenho memória, foi o senhor Delfim Gomes da Conceição, no lugar de Casaldaça, conhecido pelo "Delfim do Serra" ou pela alcunha "o Piranga" que trabalhava com as filhas.

Pelas minhas pesquisas pelos velhos assentos paroquiais recordo-me de passar ainda por um outro alfaiate guisandense, ali pelo século XIX, mas não anotei o nome, pelo que oportunamente tentarei procurar e actualizar aqui este apontamento.

3 de agosto de 2022

Regedores e outras histórias

No desenvolvimento do livro que estou a preparar sobre aspectos da freguesia de Guisande, que, como já tenho divulgado, pretendo ter publicado lá para a Páscoa do próximo ano, um dos apontamentos que quero incluir é a lista dos regedores. 

Para além da lista dos nomes que for possível encontrar, procurarei fazer uma contextualização histórica sobre este importante cargo que durou basicamente desde as primeiras reformas administrativas do liberalismo, essencialmente depois de 1835 com a criação dos cargos de comissários de paróquia e depois em 1836 com a substituição destes pelos regedores, até à introdução da Constituição da República Portuguesa, depois da revolução do 25 de Abril de 1974, e pela Lei 79/77, de 25 de Outubro, com a atribuição das competências das autarquias locais, altura em que o cargo de regedor foi extinto.

De um modo resumido, os regedores eram os representantes do poder central junto das paróquias e depois freguesias, enquanto unidades de base da teia da administração territorial, e por isso junto das comunidades de paroquianos e fregueses.

Essencialmente competia aos regedores garantir o cumprimento e respeito pelas ordens, deliberações e posturas emanadas dos município, os regulamentos de polícia, levantar autos de transgressão, auxiliar as autoridades policiais e judiciais sempre que necessário fosse, agir de modo a garantir a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas, auxiliar as autoridades sanitárias, garantir o respeito pelos regulamentos funerários, mobilizar a população em caso de incêndio e cumprir outras ordens ou instruções emanadas do presidente da câmara municipal.

Apesar de todas essas responsabilidades, e que nos primórdios do cargo, antes de uma separação formal das paróquias e freguesias, se juntavam obrigações relacionadas à igreja, um pouco do que modernamente compete às Comissões Fabriqueiras, os regedores eram cargos não profissionais, acumulados às funções diárias ou profissionais, e por isso mal pagos, apenas usufruindo de algumas regalias e emolumentos ocasionais. No entanto, compreende-se que pela sua natureza e representação das autoridades administrativas, judiciais e de segurança, os regedores eram regra geral figuras de prestígio e respeitadas nas paróquias e depois nas freguesias. Tal importância e tal poder, em muitos casos e sobretudo nos primórdios, fizeram com que muitos regedores ultrapassassem as suas competências usando-as de forma discricionária e abusiva, sem qualquer controlo das entidades superiores. Por dá cá aquela palha, detiam e prendiam qualquer pessoa com que não simpatizassem. Em contrapartida, muitas vezes eram alvo de partidas e de outras artimanhas.

Neste estado de coisas são mais que muitos os episódios, mais ou menos caricatos, mais ou menos particulares que se contam à volta dos regedores. Mesmo em Guisande, os mais velhos, os que ainda se lembram dos regedores, recordam-se de algumas peripécias e episódios curiosos. Mas isso ficará para outra altura e para o livro

Por ora, a este propósito de situações engraçadas,  transcrevo uma crónica do escritor Alexandre Perafita:

Quem se lembra dos velhos “regedores”?

Muitos deles andaram na 1ª Grande Guerra, onde chegaram a cabos e a sargentos, e, regressados às suas aldeias, vinham com o prestígio reforçado. Logo, ninguém lhes negava a autoridade. Usavam, e sabiam usar, armas. Queixas de desacatos era com eles, resolviam-nas muitas vezes à lambada. Tinham poderes para prender e castigar os faltosos quando estes revelavam comportamentos cívicos impróprios. Era roubos de lenha, estupro de raparigas, grandes bebedeiras, cabras que comiam videiras alheias, disputas de regos de água, passagens em caminhos particulares. Podiam entrar na casa de qualquer pessoa. Em desacatos conjugais faziam de conselheiros matrimoniais. Zelavam pelos bens e tranquilidade das freguesias, atestavam bons comportamentos e sanidades mentais, não tinham ordenado, quando era preciso prender alguém eram responsáveis pelo preso, levavam-no a pé até à vila mais próxima, ou, sendo à noite, guardavam-no em suas casas, vigiando-o com a ajuda da mulher e filhos até o apresentarem à guarda republicana. Por vezes eram assessorados por “cabos de polícia” ou “cabos de regedor”. No tempo da 2ª guerra, o tempo da fome, em que a comida era racionada, a cada família era distribuído certo número de senhas, cabendo ao regedor essa distribuição.

Alguns havia que tinham um gosto especial pelo mando. Como um de que outrora se falava em Sabrosa. Contavam os antigos que havia numa aldeia um padre que tinha fama de mulherengo. Antes das moças casarem, costumava ter grandes conversas com elas, e às vezes excedia-se um bocado. Algumas não gostavam nada, está bem de ver, mas outras nem se importavam. Até porque o padre – costumava dizer-se – é uma amostra de Deus. O pior é que nessa mesma aldeia havia ainda um daqueles regedores que gostavam de mandar em tudo. Nos cabos de polícia, nos bêbados, mas sobretudo nos padres. E como ele conhecia bem este, mais as suas artimanhas, roía-se de inveja pelos sucessos que o padre tinha junto das mulheres. Dizia-se então que, quando era para atestar o documento de casamento das moças, o regedor escrevia assim: “Atesto por trás o que o senhor padre já atestou pela frente”

20 de dezembro de 2021

Quando a sala privada era um auditório público


As emissões regulares da televisão em Portugal começaram em 7 Março de 1957, mas um pouco antes, em 1956, houve emissões de carácter experimental, em instalações na Feira Popular de Lisboa. Apesar de uma programação inicial minimalista e com horário muito reduzido, a televisão depressa se transformou num fenómeno nacional e numa curiosidade que só terminava quando a emissão encerrava diariamente ao som do Hino Nacional.

Os aparelhos naturalmente começaram por ser poucos e caros, e com captura de sinal apenas em certas zonas do litoral, e desse modo não surpreende que as pessoas começassem a frequentar os locais mais ou menos públicos que tinham capacidade de instalação. Como nas demais aldeias, na freguesia de Guisande foram alguns cafés e mercearias como as do Sr. Joaquim Ferreira Coelho, em Fornos, e do Sr. Elísio dos Santos, em Casaldaça, logo na primeira metade da década de 1960, os primeiros a abrir essa janela que, mesmo condicionada por um regime de censura, nos alargava os horizontes. Depois, aos poucos, algumas casas particulares mais abastadas também foram adquirindo a caixa mágica.

Pela minha parte e das minhas recordações, no lugar de Cimo de Vila foi o meu avô, Américo Fonseca, o primeiro a adquirir o aparelho, o que terá sido no ano de 1966 e poucos anos depois, na casa do meu tio Avelino, por onde acompanhei as notícias e os acontecimentos da revolução do 25 de Abril de 1974. Seguiu-se, no Viso, a chegada a casa do meu tio Joaquim e em Casaldaça à mercearia do Sr. Domingos Sá. Aos poucos, pelos diferentes lugares. Em casa de meus pais, creio que por 1979 ou mesmo já no início de 1980. 

As emissões regulares no sistema a cores aconteceram aquando da transmissão do Festival RTP da Canção, em 7 de Março de 1980, em que sairia vencedor o José Cid com a canção "Um grande, grande amor". Todavia, poucos foram os que tiveram capacidade de mudar de televisor capacitado para a recepção a cores e por isso não surpreende que uma vez mais tenham sido os cafés a tomar a dianteira. Só muito mais tarde, aos poucos, os velhos aparelhos, os blaupunkts, os telefunkens e os philcos foram postos de lado.

De lá para cá todos conhecemos mais ou menos a evolução da televisão em Portugal, da RTP, dos seus diferentes canais, como o canal único e depois no Natal de  1968 a RTP2, conhecida como 2º programa, na banda UHF, o pagamento de taxa,  o aparecimento de novos canais privados, com o aparecimento da SIC, em 6 de Outubro de1992 e da TVI em 20 de Fevereiro de 1993, até à internacionalização dos sinais, e mais recentemente a emissão pela internet, cabo e satélite. Haverá certamente muito caminho a percorrer, ainda que tecnologicamento pareça que já não há muito mais a fazer, mas seguramente já sem a dimensão e amplitude das mudanças e evoluções ocorridas nos primeiros 30 ou 40 anos.

Voltando às minhas memórias de televisão desses primeiros tempos, recordo que na casa do meu avô, em Cimo de Vila, aos domingos, e sobretudo no Verão, logo a seguir ao almoço, e porque a sala era pequena, o televisor era colocado à porta da sala e voltado para o pátio comprido e estreito onde aos poucos a gente do lugar se acomodava, formando uma plateia compacta para assitir às novidades. Normalmente a coisa começava com o "TV Rural" onde o Eng.º Sousa Veloso nos trazia as novidades das coisas das lavoura. Também, muito apreciado o programa apresentado pelo Pedro Homem de Melo que nos trazia o folclore nacional. Marcantes, a visita do papa Paulo VI a Fátima, em Maio de 1967, bem como a chegada do Homem à Lua, em Julho de 1969.

Pelo meio, no dia-a-dia, a constante escapadela de casa e das tarefas para ir a casa do avô e padrinho para assitir aos desenhos animados e às séries como "Bonanza", "Daniel Boone", "Skippy", "Daktary"e tantas outras que nos marcaram a infância. Um pouco mais tarde em casa do meu tio Avelino e do meu tio Joaquim, repetiam-se as plateias de vizinhos para assitir aos filmes, como o "Lancer", na sexta-feira à noite, e a outras aventuras de índios e cowboys.

Aos Domingos à tarde, a coisa era complicada para a criançada, pelo que com a obrigação da Catequese, marcada para as 14 horas, seguida da reza do Terço, ou perdia-se a televisão e as aventuras ou ganhava-se uns "galos" nas cabeças, esculpidos à mocada da mão pesada do Sr. Vigário Pe. Francisco. Desse modo, escapar pelo menos ao Terço para fugir até aos cafés de Casaldaça era um misto de aventura e de loucura, já que raramente se escapava ao castigo, e desculpas de dores de barriga ou de dentes, ou outras artimanhas, não serviam de atenuante. Só agravava o peso da coça. Nesses tempos as queixinhas aos papás valiam e duravam tanto como manteiga em nariz de cão.

Seja como for, foi assim que  a malta desses primeiros tempos de televisão lidou com essa novidade mágica e misteriosa da televisão. Mesmo naquele pequeno e arredondado ecrã a preto-e-branco, de reduzida definição, abriam-se as portas largas para a imaginação, para uma realidade fantástica e fantasiada que depois tinha extensão e continuidade nas brincadeiras em comum, tanto no recreio da escola como no terreiro do lugar, espaço polivalente que tanta servia aos jogos de futebol como aos jogos da macaca e do pião. Nesse tempo a televisão não era a cores, nem em alta definição em HD, nem tinha box para gravações, nem era exibida em formato gigante, mas tinha o dom e a magia de nos fazer felizes na simplicidade do pouco quante baste. 

Como dizia alguém, "éramos felizes sem o saber".

13 de agosto de 2019

Rádio Clube de Guisande - Chama intensa


Era uma vez um grupo de jovens, que algures pelo início dos anos 1980 criaram uma associação cultural e nela um jornal mensal entre outras múltiplas actividades. Bem, em rigor foi ao contrário; primeiro o jornal e depois a associação. Não foi em Lobão, Gião ou Louredo, mas em Guisande.

Poucos anos mais tarde, em meados dos anos 80, a febre das rádios locais, rádios livres ou piratas, como vulgarmente eram conhecidas, andava a atacar um pouco por todo o lado e os mesmos jovens, não de Lobão, Gião ou Louredo, mas de Guisande, decidiram criar uma rádio local. Estávamos em Agosto de 1985.

Vai daí, com o nome dado, Rádio Clube de Guisande, escolhido num dia de praia em Espinho, por Américo Almeida e Rui Giro, e com o indispensável apoio técnico do entusiasta da electrónica  António Pinheiro, e com a aderência de muitos outros jovens, em pouco tempo e após a melhoria gradual das condições técnicas, a jovem rádio chegava a muitas casas, não só na freguesia como nas freguesias vizinhas e até mais além, (depois de instalada uma antena - ela própria com uma estória) que ainda hoje resiste).

Certo é que, de acordo com o jornal "O Mês de Guisande", em Dezembro de 1986 a emissão já estava estruturada e com um vasto grupo de pessoas a dar corpo ao manifesto.
Assim: 

Domingo: Das 07:00 às 09:00 horas: "Bom Dia, Domingo", com Mário Costa e Marco Paulo Alves;
Das 09:00 às 12:30 horas: "Domini", com Américo Almeida;
Segunda-Feira a Sábado: Das 14:30 às 17:00 horas "Guisande à Tarde", com David Conceição (uma das figuras emblemáticas da RCG, na foto acima);
Segunda-Feira: Das 20:00 às 23:00 horas: Desporto e Música", com Américo Almeida, Rui Giro e Elísio Monteiro;
Terça-Feira: Das 20:00 às 23:00 horas: A Vez e a Voz", com David Conceição;
Quarta-Feira: Das 20:00 às 23:00 horas: "Rota Nocturna", com Alberto Jorge;
Quinta-Feira: Das 20:00 às 23:00 horas: A Vez e a Voz", com David Conceição;
Sexta-Feira: Das 20:00 às 24:00 horas: Espaço Jovem", com José Higino Almeida;
Sábado: Das 13:00 às 14:30 horas: Quiosque do Som", com Elísio Mota;
Das 17:00 às 18:00 horas: "Sábado Especial", com Mário Costa e Marco Paulo Alves;
Das 18:00 às 20:00 horas: "Tema Livre", com Mário Silva.

Um ano antes, em Novembro de 1985, a programação (com carácter experimental) da rádio publicada no jornal "O Mês de Guisande", com a curiosidade do primeiro logotipo:



Um pouco mais tarde, era imperioso meter ordem na casa e o Governo lá arranjou um processo de candidaturas e atribuição de frequências. Mesmo que candidatando-se com um grupo de outras boas rádios do concelho (Rádio Clbe de Guisande, Rádio de Lourosa, Rádio Santa Maria e Rádio Independente da Feira), num projecto comum designado de "RTF - Rádio Terras da Feira", as duas licenças previstas para o concelho da Feira foram atribuídas à Rádio Clube da Feira (frequência 104.90) e (com enorme surpresa) à Rádio Águia Azul (frequência 87.60 ), em 21 de Abril de 1989.

Poucos dias antes, à margem da apresentação do Programa  de Apoio às Associações Juvenis, que decorreu em Viseu, em 15 de Abril de 1989, o director do jornal "O Mês de Guisande" e da Rádio Clube de Guisande", Rui Giro, ainda teve a oportunidade de falar pessoalmente com o então Ministro da Juventude, Couto dos Santos, mas apesar das palavras de estímulo e esperança deste, tal acabou por ser inconsequente e de nada valeu o esforço.

Depois ainda subsistiu a esperança de atribuição de uma terceira frequência ao concelho numa segunda-fase, mas tal não veio a suceder.  De resto alguém no concelho, se esforçou para que não fosse atribuída uma terceira frequência.

Este foi um processo polémico em que logo se percebeu que quem melhor mexeu os cordelinhos das influências políticas recebeu a prenda.  Deu-se primazia à rádio de uma única pessoa em detrimento de uma rádio que englobava um grupo alargado de pessoas e freguesias.

É claro que depois alguém andou durante anos a fazer as devidas vénias a quem fez por isso. Coisas da política. Mas, já passaram 30 anos e alguns dos então intervenientes já por cá não andam. Coisas passadas que já não movem moinhos, nem de água nem de vento. Apenas as memórias baloiçam na brisa do tempo.

De lá para cá as referidas rádios deram muitas voltas, piruetas e cambalhotas, mas mesmo que longe dos pressupostos iniciais, lá continuam, umas vezes na onda de cima, outras na de baixo.

Pela nossa parte e de quem ficou de fora nessa época, foi pena, mas temos que admitir que era necessária ordem numa anarquia que se instalou, embora salutar. 

Certo é que enquanto durou, a "Rádio Clube de Guisande" tornou-se numa referência de cultura e convívio para muitos jovens na nossa freguesia. As memórias e saudades são, naturalmente, muitas.
De facto aqueles jovens na década de 80 não tinham internet, nem facebook, nem smartphones, e poucos tinham carro, ou, se sim, apenas chaços, mas tinham uma chama intensa e um forte espírito de grupo e partilha.

Hoje em dia, apesar dos meios tecnológicos e fácil acesso a plataformas de comunicação, incluindo de rádio e tv, não se vêem grandes projectos, sobretudo os ligados à cultura e identidade das aldeias, mas fundamentalmente boçalidades e egocentrismos. Mas há que respeitar. Afinal são novos os tempos e os sinais deles. Nem tudo mal, mas nem tudo bem.