Mostrar mensagens com a etiqueta Olhares. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Olhares. Mostrar todas as mensagens

22 de novembro de 2024

Louredo - Freguesia irmã?


A freguesia de Louredo é antiga. Pertence ao concelho de Santa Maria da Feira mas já pertenceu ao de Arouca.

Actualmente, no mesmo processo castrador, faz parte da mesma união de freguesias. Dizem que entretanto ambas as freguesias vão voltar a ser elas próprias, mas ver para crer.

De todas as freguesias vizinhas de Guisande (Lobão, Gião, Louredo, Romariz, Pigeiros e Caldas de S. Jorge), tenho para mim que Louredo é a mais parecida com Guisande, tanto em muitas das características do seu território, exceptuando o enclave de Parada, pela sua dimensão quase uma freguesia à parte, mas também pelas suas gentes, forma de ser e estar.

De resto, mais que às demais vizinhas, Guisande sempre teve uma ligação muito próxima à freguesia de Louredo. Pode esta minha consideração sofrer da influência de eu ter nascido e vivido em Cimo de Vila e por isso mais próximo de Louredo, e porque em centenas de vezes em criança percorri aqueles caminhos que levavam a Cimo de Aldeia, ao Codeçal ou ao Convento, bem como na partilha comum dos matos e pinhais do monte de Mó e dos férteis campos junto à ribeira das Corujeiras.

Assim, ia-se à missa e à festa a Vila Seca, à festa do S. Vicente, que se dizia de Ferreira mas que afinal era o Mártir, ao Ti Florentino consertar as bicicletas, ao alfaiate do Concharinha mandar fazer calções ou calças ou nelas aplicar umas quadras, ao alambique a Tozeiro entregar bagaço e trazer aguardente, etc, etc.

Já em adolescente eram por lá alguns serões e as desfolhadas por Louredo eram mais generosas e de raparigotas sorridentes. Até quando as maleitas batiam à porta e entravam no corpor, passava-se por Louredo a ir ao Dr. Alexandrino no Carvalhal.

Mesmo na igreja paroquial de Louredo há ali obras realizadas por guisandenses e até a residência paroquial terá sido mandada fazer, por 1903, por Custódio António de Pinho, avô paterno do ainda pároco Pe. Eugénio Pinho, este filho de António Baptista de Pinho, que era da Casa da Quintão, aqui de Guisande. Esta casa abastada tinha noutros tempos muitas propriedades dispersas por Louredo.

Concerteza que um freguesia tem sempre ligações de várias naturezas às freguesias vizinhas, incluindo familiares, porque uns e umas casam-se com outros e outras, mas mesmo que sendo apenas a minha percepção, e sob um ponto de vista de tempos já passados e não tanto na actualidade, creio haver, de facto uma ligação mais homogénea a Louredo.

Já de Lobão, as relações nunca foram por aí além, porque estas sempre com um sentimento escusado de grandeza e bazófia, com muita gente boa mas no geral com características de pouca empatia pela vizinhança. De lá, em debandada de pinhoeiros e jericos e mulas, subiam ao nosso monte de Mó “colher” tudo quanto eram pinhas e com fama de levar outras coisas pelo caminho de regresso. Rivalidades e alguns pontos acrescentados aos contos, concerteza, mas nunca houve fumo sem fogo.

De S. Jorge, talvez pela humidade da “cova” e do cheiro a podre das suas águas, como se dizia, a coisa nunca foi melhor, no geral empertigados e pouco dados a reconhecer os valores dos demais e em muito daí a recusa da freguesia em tomar parte com ela aquando da formação das uniões de freguesia, preferindo-se Lobão numa de “mal menor”. A forma abusiva e de desconsideração como considera de seu a parte do que é o lugar de Azevedo, não reconhecendo as evidências de limites e registos, surripiando marcos que definiam os limites, também não ajudou em tempos mais recentes a uma melhor simpatia.

Gião, porque os acessos directos quase não existiam, e pelo meio, ali pelos Marinhos, falava-se de poiso de quadrilhas de assaltantes, apenas ali se ía por Maio à festa da Senhora da Hora ou forçadamente a caminho de Canedo ao médico local e pouco mais.

Romariz, boa e antiga terra, de castro e capelas, talvez porque os caminhos eram sempre a subir, também nunca vingou uma forte ligação e se alguma, com mais importância, talvez a Duas Igrejas.

Pigeiros, tem também muito das características de Guisande e Louredo, e durante muitos anos até partilhamos o mesmo pároco e padres, mas a ligação formal também nunca foi muito substancial, talvez mais do lado de Estôze por ser lugar próximo. Apesar disso dali resultaram fortes ligações familiares como da família Costa e Silva e Gomes Leite, que em Guisande se uniram a famílias abastadas na Casa da Quintão, à família leite Resende (Casa do Dr. Inácio) e a um ramo da Casa do Loureiro, acrescentando hectares de campos e pinhais.

Em todo o caso, os tempos mudaram, rasgaram-se estradas e caminhos a unir todas as freguesias e aos poucos os valores, identidades e características que eram específicas e intrínsecas das diferentes populações, foram-se dissipando e hoje já quase que somos todos farinha do mesmo saco, peças moldadas do mesmo barro, com todas as virtudes e defeitos comuns.

Todavia, é sempre importante alguma mistura social e cultural e da diferença resulta a riqueza da diversidade. Temos, pois, os vizinhos que temos e eles têm-nos a nós..

18 de novembro de 2024

Porta com vista para o rio

 


Uma porta, velha, arrombada, já sem alma para guardar. 

Lá dentro, uma cozinha despojada, vilipendiada. Já não há aromas de peixe frito nem vozes a chamar para a ceia.

Mesmo assim, neste escancaramento, nos restos de um estupro da memória de tempos já volvidos, há uma nesga de rio a espreitar. Este, tristonho, vai correndo mas já sem a calma dos dias serenos, antes perturbado pela correria dos barcos e das motos-de-água, de gente que sobre ele se diverte, como coisa de usar e deitar fora.

A tarde é de Outono mas nos canteiros das casas defronte há flores que moram na Primavera e na borda da margem o pato solitário mergulha sem frio porque o ar não é de agasalhos.

Lá no alto, aquele imponente pinheiro sobrevive, qual sentinela. E tanto e quanto nos poderia contar, de outros tempos, azáfamas, de fainas de pescadores num vai-e-vem a arrancar do rio o que comer à noite. Ainda se lembrará do Douro de outros tempos, impetuoso, cheio, ou sereno, estival, de águas minguadas a juntar nas margens frescas as lágrimas de regatos e ribeiras? Talvez sim, porque tem a idade e o tamanho de nele caberem as memórias de um tempo tão próximo e tão distante.

Quanta água já passou aquelas curvas apertadas, quanto à sua conta encheu o mar? Mas não só levou água ou areia o Douro, mas uma enxurrada de memórias, de saudades.

Um lugar, como Pé-de-Moura, na bonita Lomba, conta-nos mais que o que vemos e até uma porta arrombada pode convidar-nos a entrar. Haja alma e cortesia para com o anfitrião, haja olhos para respeitar a intimidade.


13 de maio de 2024

Pormenor do terço de Nossa Senhora do Rosário

 


Pormenor do rosário que faz parte da imagem de Nossa Senhora do Rosário, da nossa igreja matriz, invocação do uma secular confraria e irmandade que existe desde 1733, perto de completar 300 anos.

2 de maio de 2024

Arco-Íris




Tenho para mim que uma grande fotografia poucas vezes tem a ver com a qualidade do fotógrafo. Tem mais a ver com a qualidade do seu equipamento, dos lugares que visita e dos motivos que capta. Mas tantas vezes o que realmente é diferenciador é o momento, a oportunidade, porque um segundo a mais ou a menos faz toda a diferença, porque ou se perde o enquadramento, a pose ou as nuances de cor e luz.

Ontem, por exemplo, muitos terão observado, ali por volta das oito da tarde, projectou-se do lado nascente da freguesia um bonito e completo arco-íris, que até chegou a ser duplo, e com o seu interior mais claro que o exterior, num contraste deslumbrante com o céu enegrecido. 

Estava nessa altura em casa de minha mãe, por detrás da capela do Viso, e fui tirando umas fotos mas sem conseguir o enquadramento total do arco e só então me ocorreu que poderia tentar o enquadramento da capela com este fenómeno da luz solar ao ser filtrada pelas gotículas da chuva. 

Assim, rapidamente me desloquei para o monte e para defronte da capela mas já o sol estava um pouco encoberto e o arco-íris já a dissipar-se e menos notório. Foi pena este pequeno atraso, porque um pouco antes e teria conseguido uma deslumbrante fotografia, mesmo que sem grande equipamento. Assim, apenas uns fragamentos que agora partilho, uma pobre amostra do que poderia ter sido.

13 de abril de 2024

Aberta a época da caça aos olhares

 


Numa bonita manhã de primavera, aberta a época das caminhadas e da caça aos olhares. Fomos a convite da Freita. Recebeu-nos por entre um lençol de verde e amarelo o fresco Caima, sorriram-nos os irrequietos ribeiros da Foz e do Serlei. Acenou-nos o manso gado entre a carqueja, na indiferença das pedras. À sombra da singeleza, uma benção da Mãe. Logo abaixo abraçamos a Castanheira parideira e em Cabaços, ainda sem cansaços, o desvio dos lobos domesticados, ou nem por isso. No S. Pedro dos nabos matámos a fome.
































27 de janeiro de 2024

Olhares - Espigueiros numa manhã de sábado

 


A minha alma é celeiro 

Onde te recolhi madura

Como grão primeiro

De uma ceifa pura.

Na essência do repartir

Foste à terra amante,

A germinar, a florir,

A dar fruto abundante.


AA-24012024

31 de outubro de 2023

Olhares diferentes

 


Percorrer trilhos, caminhar, e não captar toda a beleza e singularidade de tudo o que nos rodeia, da paisagem natural, da transformada e humanizada, seria um exercício pouco mais que inútil, como ir a Roma e não ver o Papa, ou ter nozes e não ter dentes. 

Mas para além das paisagens que prendem o primeiro olhar, seja em que diferente tempo do ano, há pormenores que pela mensagem que podem expressar, são autênticas pérolas e cada um deles daria para diferentes histórias. 

Assim, sejam os animais domésticos, como cães, gatos, cabras, ovelhas ou mesmo os selvagens como as aves, os répteis ou insectos, as árvores, as plantas, as flores, as alminhas, os cruzeiros, etc, são sempre motivos deliciosos e quem não for capaz de ver e ler em cada um deles um pouco de poesia, que me desculpem, mas andam por aqui e por aí apenas por ver andar os demais.

Ficam aqui alguns desses muitos olhares particulares, mas poderiam ser centenas e milhares. E não me falta espólio.