Mostrar mensagens com a etiqueta Historiando. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Historiando. Mostrar todas as mensagens

27 de novembro de 2022

Raimundo José da Fonseca, meu bisavô materno



Raimundo José da Fonseca, era meu bisavô materno. Nasceu em 17 de Outubro de 1884 e faleceu em 17 de Novembro de 1929, muito jovem, apenas com 45 anos.

Era filho de António José da Fonseca e de Maria de Oliveira, meus trisavôs maternos, ambos do lugar do Carvalhal, freguesia de Romariz.

Por sua vez, era neto paterno de Manuel José da Fonseca e de Margarida Rosa de Jesus e neto materno de Manuel Ferreira da Silva e Ana Maria d´Oliveira (todos estes meus tetra-avôs maternos)

Tinha 22 anos quando casou em 9 de Maio de 1907, com Margarida da Conceição  (minha bisavó), esta filha de António Caetano de Azevedo e de Maria da Conceição, do lugar das Quintães - Guisande. Tinha 21 anos quando casou.

Este meu bisavô, tal como o seu pai,  era um afamado mestre canteiro (oficial de pedreiro) e pela nossa região são várias e autênticas pérolas de granito rendilhadas por si e por alguns familiares que com ele trabalhavam. 

Em Guisande é conhecida a capela mortuária da família da Casa do Moreira, do lugar da Igreja e ainda o mausoléu  da família do meu avô paterno. Mesmo na sacristia da nossa igreja a bonita fonte ali existente é de sua autoria.

Nas imagens abaixo, o mausoléu no cemitério em Guisande, com a imagem em mármore de Nossa Senhora e ainda um de características similares, existente no cemitério de Fermedo - Arouca, embora este com a imagem alegórica  da Saudade. 

Ainda na nossa região, são várias as alminhas por eles lavradas.

19 de outubro de 2022

Fonsecas de Cimo de Vila

 


A minha mãe, Eugénia, é filha de Américo José da Fonseca, de Cimo de Vila, e de Lúcia Alves, do Outeiro. 

Quanto à sua mãe, minha avó, faleceu quando ela era ainda tenra criança. Já o seu pai, meu avô,  nasceu em Março de 1919 e faleceu em Julho de 2001, sendo um dos vários filhos de Raimundo José da Fonseca (meu bisavô), do lugar do Carvalhal, freguesia de Romariz, e de Margarida da Conceição (minha bisavó), do lugar das Quintães da freguesia de Guisande. 

Este meu bisavô materno, Raimundo José da Fonseca, nasceu em 17 de Outubro de 1884 e faleceu em 17 de Novembro de 1929, muito jovem, apenas com 45 anos.

Por sua vez, era neto paterno de Manuel José da Fonseca e de Margarida Rosa de Jesus e neto materno de Manuel Ferreira da Silva e Ana Maria d´Oliveira (todos estes meus tetra-avôs maternos)

A minha bisavó materna era filha de António Caetano de Azevedo e de Maria da Conceição, do lugar das Quintães - Guisande. Quando casaram em 9 de Maio de 1907 ele tinha 22 e ela 21 anos de idade.

O meu bisavô Fonseca trabalhava com o pai e com alguns irmãos, sendo  afamadas mestres e oficiais de pedreiro e cantaria, tendo realizado em vários locais diversas obras de cantaria e escultura da mais fina traça. Terá sido ele a realizar a fonte existente na sacristia da nossa igreja matriz bem como a capela mortuária da Casa do Moreira, existente no nosso cemitério e ainda o jazigo de meus avôs paternos, com uma imagem de Nossa Senhora esculpida em mármore sob uma espécie de capela em granito assente em quatro colunas. Similar a este modelo tem de sua autoria um trabalho no Cemitério Paroquial de Fermedo - Arouca.

Naturalmente que tenho muitas memórias dos tempos de criança ligadas a este ramo familiar materno e por conseguinte ao lugar de Cimo de Vila onde tinham casa a minha bisavó - que depois passou para a filha Laurinda - o meu avô e o irmão deste, o Joaquim, cuja casa acima está na fotografia.

Esta casa, ali à face da Rua de Cimo de Vila, está naturalmente velhinha, mas dela tenho várias e boas memórias porque por lá passei muito tempo da minha infância, já que a minha mãe, presa aos trabalhos da casa e do campo, e por essa altura já com três filhos pequenos (eu, o meu irmão mais velho, o Joaquim, e o Manuel, que me segue na idade), deixava-nos ela entregues à minha bisavô Margarida e muitas vezes às suas primas, que ali naquela sua casa trabalhavam como costureiras. Recordo-me, pois, de muitas vezes ali subir à parte de cima daquela espécie de torre e passar as horas entretido a brincar com paninhos e botões e a desfolhar revistas da Crónica Feminina ao som de um pequeno rádio.

Não raras vezes, acompanhava a Ti Ilda Fonseca, prima de minha mãe, bem como a minha bisavó, a que chamávamos mãe Guida, ao Souto D´Além, já a caminho de Cimo de Aldeia - Louredo, onde enquanto apanhavam tojo e carqueja eu brincava  a construir casinhas de pedras e musgo. Outro sítio recorrente de brincadeiras infantis, era o campo da porta e na eira ali bem junto àquele canastro do lado sul da casa. A marginar esse campo, existia um rego que pelo Verão trazia a água da abundante fonte de Cimo de Vila, onde eu montava rodízios de bugalhos e largava barquitos de papel que acompanhava como timoneiro atento já quase até à descida para as Barreiradas, quando o dito "rio" dobrava o muro da Cancela que acompanhava.

Claro está que o largo fronteiro, era palco de habituais brincadeiras e chutos na bola com vários rapazes do lugar, e toda aquela zona envolvente, com a tal casa das primas de minha mãe, a do meu avô e a da minha bisavó, e ainda o amplo campo da Cancela, onde os meus pais também tinha uma parte por herança, eram no conjunto uma espécie de presépio bucólico e do qual tenho fortes lembranças, mesmo que já gastas pelo tempo, tal como a casa.

Muitas coisas mudaram de lá para cá por parte desta cepa de Fonsecas. Faleceu a minha bisavó (já era eu adolescente), o meu avô, os meus segundos tios, a Laurinda Fonseca e o marido Alexandre, e antes deles o Joaquim Fonseca e a esposa Albertina e já alguns filhos destes como o Hilário e o Alexandrino e mais recentemente a Conceição e a Alzira (esta há poucas semanas). Desse ramo dos Fonsecas de Cimo de Vila ainda andam por cá a Ilda, a Celeste, a Idília, a Madalena e o Abel - julgo não ter esquecido mais alguém - , todos irmãos, primos de minha mãe, por isso meus segundos primos. De todos os Fonsecas de Guisande, têm ali em Cimo de Vila a sua origem.

Somos oito irmãos e nem todos ficaram com o apelido de Fonseca. Pela minha parte herdei-o logo a seguir ao nome. De resto, Américo Fonseca, como o meu avô materno e também meu padrinho.

Somos, pois, Fonsecas, com raízes conhecidas em Romariz, porventura mais além, mas os apelidos são como os pássaros, andam por aí de lado para lado, sem poiso certo mesmo para fazer o berço dos filhotes. Uma vezes, como as andorinhas, até regressam ao mesmo ninho, outras vezes, na maior parte delas, vão e não voltam.

As memórias, essas também parecem ter asas e permitem-nos voar e ver as coisas de cima, como uma velha casa, um largo, um lugar. Cerrando os olhos, avivando a chama das memórias, ainda será possível ouvir crepitar na fogueira do tempo, por ali, naquele lugar, os gracejos e algazarras da criançada, que por esse tempo em Cimo de Vila era em mais quantidade do que agora em toda a freguesia. Outros tempos, naturalmente.

Se recordar é viver, também é voar sobre as velhas memórias.

17 de agosto de 2022

Dia de S. Mamede, nosso padroeiro

 


É já hoje, 17 de Agosto, o dia de S. Mamede, padroeiro da nossa paróquia. Sem pompa nem circunstância, mas com celebração condigna, logo teremos missa pelas 19:30 horas na igreja matriz. Seguir-se-á uma singela procissão à volta pelo percurso habitual (pelo adro e alameda).

Dizem os mais antigos que noutros tempos já houve por cá festa de arraial dedicada ao padroeiro, mas pessoalmente, não tenho memória dela. De resto, no que é uma singularidade, as festas populares com invocação de santos ou de Maria nas suas diferentes facetas, muitas vezes deixam os padroeiros de fora. Mesmo cá pelas redondezas, algumas têm tido períodos de paragem e outras são festas menores quando comparadas com demais festas nas próprias freguesias. 

Até mesmo na nossa freguesia, já tem havido procissões na Festa do Viso sem a sua presença, no que, naturalmente, é sempre de lamentar. No mesmo sentido de nem sempre se dar importância à importância, mesmo neste ano, incompreensivelmente, um santo com devoção e tradição na freguesia, o mártir S. Sebastião, não tomou parte na procissão da nossa maior festa. Soubesse disso, com tempo, e seria eu próprio, ou com mais alguém, a garantir a sua participação. Mas, adiante.

A ilustrar este artigo, deixo a reprodução do painel de azulejos existente no lado norte da torre da nossa igreja. Foi pintado a partir da imagem original existente à esquerda (de quem olha) do altar-mor. 

Este painel, com as dimensões de 1,26  x 0,84 m, composto por 54 azulejos (9 x 6) foi mandado fazer pelo então pároco Pe. Francisco Gomes de Oliveira à Fábrica de Cerâmica do Carvalhinho, no ano de 1949, tendo então custado 650 escudos.

8 de agosto de 2022

Presidentes de Câmara, ou equiparáveis, de Vila da Feira - Santa Maria da Feira

1800 - Sebastião Pitta de Castro

1811 - José Bernardo Henrique de Faria (Juiz de Fora)

1829 - José Apolinário da Costa Neves

1883 - Bernardino Maciel Rebelo de Lima (Juíz de Fora interino)

1833 - Francisco Monteiro Mourão Guedes de Carvalho (Juiz de Fora)

1834 - João José Teixeira Guimarães (Comissão Municipal)

1836 - Pedro José Correa Ribeiro

1837 - Manuel de Lima Ferraz da Silva

1838 - Manuel de Lima Ferraz da Silva

1841-1842 - Bernardo José Correa de Sá

1845-1846 - Francisco Correa de Pinho de Almeida Lima

1846 - António Fernandes Alves Fortuna (Juíz da Comarca)

1846 - António Soares Barbosa da Cunha

1847-1848 - Joaquim Vaz de Oliveira Júnior

1847 - Bernardo José Correa de Sá

1848-1851 - Bernardo José Correa de Sá

1852 - 1854 - Bernardo José Correa de Sá

1854-1855 - José António Varela Falcão Souto Maior

1856-1857 - João Nunes Cardoso

1858-1859 - Miguel Augusto Pinto de Menezes

1860-1861 - Fausto da Veiga Campos

1862-1863 - José Bonifácio do Carmo Soares

1866-1867 - Domigos José Godinho

1868-1869 - José António Varela Falcão Souto Maior

1870-1871 - Domigos José Godinho

1876-1877 - Manuel Augusto Correa Bandeira

1880-1881 - Manuel Pinto de Almeida

1882-1883 - António de Castro Pereira Corte Real

1884-1885 - António de Castro Pereira Corte Real

1888 - Roberto Alves (Presidente da Câmara)

1890 - Manuel Baptista Camossa Nunes Saldanha (Visconde de Alberrgaria de Souto Redondo)

1893-1897 - Manuel Baptista Camossa Nunes Saldanha (Visconde de Alberrgaria de Souto Redondo)

1897 - Pe. Manuel de Oliveira Costa

1899 - Pe. Manuel de Oliveira Costa (Comissão Administrativa)

1899-1901 - Pe. Manuel de Oliveira Costa

1905 - João Pereira de Magalhães

1907 - João Pereira de Magalhães

1908 - Eduardo Vaz de Oliveira (Comissão Administrativa)

1911 - António Ferreira Pinto da Mota (Comissão Administrativa)

1912 - Elísio Pinto de Almeida e Castro (Comissão Administrativa)

1914 - Vitorino Joaquim Correia de Sá (Comissão Executiva Municipal)

1915 - Vitorino Joaquim Correia de Sá (Comissão Executiva Municipal)

1915 - Crispim Teixeira Borges de Castro (Comissão Administrativa)

1917 - Crispim Teixeira Borges de Castro

1918-1919 - Crispim Teixeira Borges de Castro (Comissão Administrativa)

1919 - Vitorino Joaquim Correia de Sá (Comissão Administrativa)

1923-1925 -Saúl Eduardo Ribeiro Valente

1926 - José António Teixeira Saavedra

1926-1933 - Crispim Teixeira Borges de Castro

1933-1937 - Gaspar Alves Moreira

1934-1937 - Presidente da Comissão Administrativa: Gaspar Alves Moreira.

1937-1939 - António Soares de Albergaria (Conselho Municipal)

1937-1945 - Roberto Vaz de Oliveira

1945-1959 - Domingos Caetano de Sousa

1959-1971 - Domingos da Silva Coelho

1971-1974 - Alcides Branco de Carvalho

1974-1976 - Arnaldo dos Santos Coelho (Comissão Administrativa)

1976-1982 - Aurélio Gonçalves Pinheiro

1982-1985 - Joaquim Dias Carvalho

1985-2013 - Alfredo de Oliveira Henriques

2013-2017 - Emídio Joaquim Ferreira dos Santos Sousa 

3 de agosto de 2022

Regedores e outras histórias

No desenvolvimento do livro que estou a preparar sobre aspectos da freguesia de Guisande, que, como já tenho divulgado, pretendo ter publicado lá para a Páscoa do próximo ano, um dos apontamentos que quero incluir é a lista dos regedores. 

Para além da lista dos nomes que for possível encontrar, procurarei fazer uma contextualização histórica sobre este importante cargo que durou basicamente desde as primeiras reformas administrativas do liberalismo, essencialmente depois de 1835 com a criação dos cargos de comissários de paróquia e depois em 1836 com a substituição destes pelos regedores, até à introdução da Constituição da República Portuguesa, depois da revolução do 25 de Abril de 1974, e pela Lei 79/77, de 25 de Outubro, com a atribuição das competências das autarquias locais, altura em que o cargo de regedor foi extinto.

De um modo resumido, os regedores eram os representantes do poder central junto das paróquias e depois freguesias, enquanto unidades de base da teia da administração territorial, e por isso junto das comunidades de paroquianos e fregueses.

Essencialmente competia aos regedores garantir o cumprimento e respeito pelas ordens, deliberações e posturas emanadas dos município, os regulamentos de polícia, levantar autos de transgressão, auxiliar as autoridades policiais e judiciais sempre que necessário fosse, agir de modo a garantir a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas, auxiliar as autoridades sanitárias, garantir o respeito pelos regulamentos funerários, mobilizar a população em caso de incêndio e cumprir outras ordens ou instruções emanadas do presidente da câmara municipal.

Apesar de todas essas responsabilidades, e que nos primórdios do cargo, antes de uma separação formal das paróquias e freguesias, se juntavam obrigações relacionadas à igreja, um pouco do que modernamente compete às Comissões Fabriqueiras, os regedores eram cargos não profissionais, acumulados às funções diárias ou profissionais, e por isso mal pagos, apenas usufruindo de algumas regalias e emolumentos ocasionais. No entanto, compreende-se que pela sua natureza e representação das autoridades administrativas, judiciais e de segurança, os regedores eram regra geral figuras de prestígio e respeitadas nas paróquias e depois nas freguesias. Tal importância e tal poder, em muitos casos e sobretudo nos primórdios, fizeram com que muitos regedores ultrapassassem as suas competências usando-as de forma discricionária e abusiva, sem qualquer controlo das entidades superiores. Por dá cá aquela palha, detiam e prendiam qualquer pessoa com que não simpatizassem. Em contrapartida, muitas vezes eram alvo de partidas e de outras artimanhas.

Neste estado de coisas são mais que muitos os episódios, mais ou menos caricatos, mais ou menos particulares que se contam à volta dos regedores. Mesmo em Guisande, os mais velhos, os que ainda se lembram dos regedores, recordam-se de algumas peripécias e episódios curiosos. Mas isso ficará para outra altura e para o livro

Por ora, a este propósito de situações engraçadas,  transcrevo uma crónica do escritor Alexandre Perafita:

Quem se lembra dos velhos “regedores”?

Muitos deles andaram na 1ª Grande Guerra, onde chegaram a cabos e a sargentos, e, regressados às suas aldeias, vinham com o prestígio reforçado. Logo, ninguém lhes negava a autoridade. Usavam, e sabiam usar, armas. Queixas de desacatos era com eles, resolviam-nas muitas vezes à lambada. Tinham poderes para prender e castigar os faltosos quando estes revelavam comportamentos cívicos impróprios. Era roubos de lenha, estupro de raparigas, grandes bebedeiras, cabras que comiam videiras alheias, disputas de regos de água, passagens em caminhos particulares. Podiam entrar na casa de qualquer pessoa. Em desacatos conjugais faziam de conselheiros matrimoniais. Zelavam pelos bens e tranquilidade das freguesias, atestavam bons comportamentos e sanidades mentais, não tinham ordenado, quando era preciso prender alguém eram responsáveis pelo preso, levavam-no a pé até à vila mais próxima, ou, sendo à noite, guardavam-no em suas casas, vigiando-o com a ajuda da mulher e filhos até o apresentarem à guarda republicana. Por vezes eram assessorados por “cabos de polícia” ou “cabos de regedor”. No tempo da 2ª guerra, o tempo da fome, em que a comida era racionada, a cada família era distribuído certo número de senhas, cabendo ao regedor essa distribuição.

Alguns havia que tinham um gosto especial pelo mando. Como um de que outrora se falava em Sabrosa. Contavam os antigos que havia numa aldeia um padre que tinha fama de mulherengo. Antes das moças casarem, costumava ter grandes conversas com elas, e às vezes excedia-se um bocado. Algumas não gostavam nada, está bem de ver, mas outras nem se importavam. Até porque o padre – costumava dizer-se – é uma amostra de Deus. O pior é que nessa mesma aldeia havia ainda um daqueles regedores que gostavam de mandar em tudo. Nos cabos de polícia, nos bêbados, mas sobretudo nos padres. E como ele conhecia bem este, mais as suas artimanhas, roía-se de inveja pelos sucessos que o padre tinha junto das mulheres. Dizia-se então que, quando era para atestar o documento de casamento das moças, o regedor escrevia assim: “Atesto por trás o que o senhor padre já atestou pela frente”

21 de abril de 2022

Janela Aberta - Folha Dominical


Muitos já estarão esquecidos porque passam já quase seis anos (Junho de 2016) sobre a publicação do último número da "Janela Aberta", a folha dominical da nossa paróquia de S. Mamede de Guisande.

Por conseguinte, tem a importância que tem, mas tem já, seguramente, um lugarzinho na história ou nas estórias da nossa freguesia.

Como com todas as coisas, a "Janela Aberta" teve uma origem; Antes, pois, que fiquemos mais esquecidos vamos aqui relembrar a desta simples publicação.

Na última semana de Novembro de 2012 o nosso ex-pároco Pe. Arnaldo Farinha começou a compor e a publicar uma folha dominical para distribuição na igreja, dando-lhe precisamente esse nome "Folha Dominical". Era uma folha do tamanho A4 dobrada a meio, por isso apresentada no formato A5. Era composta pelos textos da liturgia do respectivo Domingo, algumas informações de agenda e horários e algumas imagens a ilustrar.

Este formato inicial durou seis números, referindo-se o último a 30 de Dezembro de 2012.

Nessa altura, por achar que o aspecto gráfico estava pobrezinho e que poderia ser feito de forma mais apelativa, falei com o pároco e propus-me a ajudar, ficando responsável pela composição e grafismo. Propus ainda que a publicação tivesse um outro título, que de algum modo emprestasse uma melhor identidade à publicação. O Pe. Farinha aceitou imediatamente, gostou da ideia e assim dali em diante, semanalmente, a partir do Nº 7, a folha dominical passou a publicar-se nessa nova etapa com o título "Janela Aberta", impressa em sistema laser, com muita qualidade, ao contrário dos primeiros números produzidos na impressora da paróquia em sistema de jacto de tinta.

Mas o título "Janela Aberta" não surgiu do acaso porque considerei interessante que fosse retomado do boletim informativo do Grupo da LIAM, com esse mesmo nome, uns anos antes, quando por minha iniciativa, o grupo então orientado pela saudosa D. Laurinda da Conceição, publicou mensalmente durante quase três anos esse boletim, com o primeiro número a sair em Janeiro de 2001 e que terminou no Nº 14, correspondente ao período de Janeiro/Junho de 2003.

Por conseguinte, a "Janela Aberta" enquanto folha paroquial e dominical teve o seu início quase 10 anos depois do boletim informativo do Grupo da LIAM.

Durante o período de publicação, a "Janela Aberta" teve dois formatos: Começou no formato original, no tamanho A5 (folha A4 dobrada a meio), com 4 páginas a cores e depois passou para o mesmo formato mas com 8 páginas e numa fase final, desde o Nº 117  de 24 de Janeiro de 2016 ao Nº 139 de 26 de Junho de 2016, passou para o formato A4 (folha A3 dobrada a meio) mas apenas a preto e branco de modo a compensar os gastos com o tamanho.

Depois da habitual paragem para férias, com a publicação do atrás referido Nº 139, a publicação não voltou a ser impressa. 

Importa referir que a paragem apenas se deveu à contenção de gastos pela paróquia pois a publicação, entre 80 a 100 exemplares, era distribuída gratuitamente e por conseguinte era sempre uma despesa regular a ter em conta semanalmente, apesar do baixo custo conseguido na impressão em sistema a laser. Por isso, pela minha parte, apesar do trabalho semanal de composição e impressão,  que me ocupava umas horas e naturalmente sem qualquer paga, a publicação teria continuado a ser composta e impressa.

Seja como for, é uma inevitabilidade que estas coisas tenham os seus momentos e períodos e nada dura eternamente, tanto mais quando representam custos que de algum modo não são compensados.

Na sua fase final, para além da habitual publicação da liturgia dominical, o conteúdo englobava ainda reflexões sobre a mesma liturgia, apontamentos relacionados às intervenções semanais do Papa Francisco, ainda a agenda dos serviços religiosos e alguns outros apontamentos ou informações de interessa da paróquia, particulares ou de âmbito geral. Creio que era uma interessante publicação e que por muitos era valorizada. Não sei se alguém guardou a totalidade dos números, mas quem o fez certamente que tem um documento interessante e que mais valor terá no futuro. 

Foi bonito enquanto durou e, como se disse no início deste apontamento, a "Janela Aberta" tem um lugarzinho na história da nossa comunidade paroquial. 

Abaixo deixo a reprodução de alguns números relacionados à transição das diferentes versões da "Janela Aberta", começando pelo tal primeiro número do boletim do Grupo da LIAM datado de Janeiro de 2001 em cujo texto de abertura se explicam e justificam as razões para a sua publicação.









Abaixo alguns outros números














3 de abril de 2022

Natalidade ou falta dela



A propósito do assunto da baixa de natalidade que flagela o nosso país e por conseguinte também da nossa freguesia, que de resto já tem sido por aqui motivo da minha reflexão, a título de comparação com tempos passados, vejamos a diferença:

Em 24 de Abril de 1962, estava eu já em andamento para nascer dali a pouco mais de seis meses, quando o então nosso pároco, Pe. Francisco Gomes de Oliveira respondeu a um Questionário emanado da Diocese em que se pretendia saber o número de crianças em idade  escolar e delas quantas frequentavam a catequese, entre outras questões.

Pois bem, a resposta, conforme fotocópia acima do documento,  foi de que havia 80 meninos e 69 meninas, por isso 149 crianças. Todas elas frequentavam a Catequese, distribuída esta em quatro classes, a qual por esse tempo estava ao encargo de 12 catequistas. Dava, pois, arredondando, uma média de 37 crianças por cada uma das quatro classes e 12 crianças por catequista.

Confesso que na actualidade não sei o número exacto de crianças na catequese, entre os 6 e 10 ou 11 anos) (alguém saberá e responderá) ou em idade do ensino primário (1ª, 2ª, 3ª e 4ª classes), mas obviamente e seguramente que muito longe das 149 crianças referenciadas no referido inquérito. Eventualmente a diferença até fará coçar a cabeça de tão abismal.

As coisas são como são e para aqui não são chamadas as razões positivas ou negativas das quais decorre um decréscimo da natalidade no nosso país ou mesmo na Europa. Apenas uma pura constatação numérica.

2 de janeiro de 2022

S. Mamede - Painel de azulejos

 


O revestimento da torre da nossa igreja matriz com azulejos terá ocorrido no ano de 1949. De resto, no painel de azulejos com a figura de Santo António, aplicado do lado nascente da torre, tem precisamente essa data inscrita. 

Ainda como prova de que terá sido nesse ano de 1949, há nas papeladas da paróquia uma factura com a compra de outro painel, no caso aquele que representa a figura do nosso padroeiro, S. Mamede (na imagem acima), aplicado no lado norte da torre da igreja. De resto há ainda mais facturas da compra de outros quadros em azulejos, também colocados no revestimento da torre de que falaremos noutra ocasião.

Quanto a este painel, foi pintado a partir da imagem do nosso padroeiro conforme existente no altar-mor, como se pode comparar pela foto abaixo.



Como se verifica pela cópia da factura acima, a data da compra foi em 15 de Junho de 1949. Informa-nos ainda o documento que o quadro custou 650$00, o que era bastante dinheiro para a época. 

Os azulejos e respectivos painéis foram fabricados e vendidos pela Fábrica Cerâmica do Carvalhinho, de Vila Nova de Gaia, na qual ao longo da sua existência saíram interessantes obras de arte de azulejaria portuguesa e de modo especial com motivos religiosos. De resto, todos os azulejos aplicados na nossa igreja, incluindo o interior e a fachada principal, foram fabricados pela respectiva fábrica. 

No nosso concelho da Feira são inúmeros os locais que têm azulejos produzidas por esta emblemática fábrica, nomeadamente junto à arcada no Museu da Cortiça em Santa Maria de Lamas, mas também no seu interior.


Sobre a Fábrica de Cerâmica do Carvalhinho, a primeira instalação ficava situada no Porto, junto à Capela do Senhor do Carvalhinho, local que inspirou o nome da fábrica, pertencente à Quinta da Fraga, junto à Calçada da Corticeira.

A sua fundação ocorreu em 1840, por Thomaz Nunes da Cunha e António Monteiro Catarino, seus fundadores, ambos então com experiência no campo da cerâmica. Em 1853 a fábrica sofreu ampliações que lhe permitiram lançar-se, definitivamente, no campo comercial.

Em 1870 Castro Júnior, que é genro de Thomaz Nunes da Cunha sucede-lhe e toma os destinos da fase seguinte de fábrica. Na viragem do século e em conjunto com a fábrica das Devesas, a fabrica resistiu à transição atingindo mesmo um elevado grau de desenvolvimento industrial.

Os azulejos de parede foram produzidos, pela primeira vez, nesta fábrica que recebeu ao longo dos quase 140 anos de existência diplomas de mérito nesta área, constituindo o maior exemplo disso a própria fachada de azulejos da Fábrica Carvalhinho, no Largo S. Domingos.

No início do século XX, as fábricas de cerâmica portuguesas debateram-se com dois problemas: o surgir de produtos cerâmicos estrangeiros (Inglaterra e França); e o atraso tecnológico das máquinas utilizadas, comparativamente com as concorrentes.

Em 1906 a fábrica é ampliada. Renovou-se a parte técnica conseguindo-se alcançar melhor e maior produção, exportando para o Brasil e África os seus produtos em grande escala.

Seguindo modelos de fábricas de cerâmica da Alemanha e Inglaterra nascem as novas e modelares instalações da fábrica do Carvalhinho, dotadas do mais moderno equipamento tecnológico da época.

Em 1930 o sócio A. Pinto Dias de Freitas vê-se obrigado a, devido a grandes dificuldades financeiras, associar-se à Real Fábrica de Louça de Sacavém de grande prestígio na época e para onde se transfere a sede da Carvalhinho sob a direcção do Sr. Herbert Gilbert. Nesta fase a fábrica atingiu o que se considerou "a idade de ouro".

Depois da morte de António Dias de Freitas, em 1958, é nomeado Frederick W. Sellers para gerente da fábrica de Gaia em colaboração com Eng.º António de Almeida Pinto de Freitas, um dos filhos do anterior sócio, que acaba por retirar-se mais tarde devido a desentendimento com aquele gerente.

Em 1965 juntamente com um irmão, compra à fábrica de Sacavém a sua parte no capital da empresa.

Não são, no entanto bem sucedidos, estes dois irmãos, uma vez que contraindo enormes prejuízos, vêem-se obrigados a entregar a fábrica em haste pública ao Sr. Serafim Andrade.

Esta encontrava-se já numa fase de total decadência, acabando por encerrar definitivamente em 1977 perdendo-se, assim, uma das mais notáveis unidades de cerâmica do nosso país.

1 de janeiro de 2022

Torneio de Futebol Juvenil "O Mês de Guisande" - 1982

 


Em 1982 o jornal "O Mês de Guisande" promoveu e organizou o seu 1º Torneio de Futebol Juvenil. Nos anos seguintes o torneio teve continuidade já sob a designação de "Guisandito".

Nesta edição de 1982, ainda no campo da Barrosa, participaram quatro equipas: Guisande-Jornal "O Mês de Guisande, organizada e dirigida pelo Américo Santos, e que ficou em 3º lugar, o  Caldas de S. Jorge,, que venceu o torneio, a do CIC - Lobão, em 2º lugar e uma equipa do lugar de Azevedo_Caldas de S. Jorge, que ficou com o 4º e último lugar.

Equipa de Azevedo - 4º lugar

Equipa do CIC-Lobão - 2º lugar

Equipa do Caldas de S. Jorge - 1º lugar

30 de dezembro de 2021

Juventude Agrária Católica Feminina

 


Na paróquia de S. Mamede de Guisande existiu noutros tempos um núcleo da JAC/F - Juventude Agrária Católica Feminina, do qual acima reproduzimos a sua bandeira. Não temos, por ora, dados que indiquem quanto tempo durou na freguesia e de quantas mulheres nela participaram, mas, por testemunhos vários, é sabido que teve alguma importância no contexto da paróquia.

Para entender a origem, o fundamento e os objectivos de tal grupo, e outros derivados do movimento mãe da ACP -  Acção Católica Portuguesa, importará ler o texto abaixo:


A 10 de novembro de 1933, o Papa Pio XI endereça uma carta ao Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, intitulada «Ex Officiosis Litteris». Menciona que a Acção Católica é a forma mais eficaz de apostolado laical, conforme as necessidades dos tempos. Naquela época, a Igreja portuguesa estava inserida numa sociedade descristianizada, devido ao laicismo e à indiferença religiosa. A Igreja atravessava um momento em que os católicos estavam divididos, que se traduzia numa ausência de intervenção da Igreja na sociedade. A proposta da Acção Católica visava criar um agrupamento de leigos católicos, o qual tornaria a Igreja mais visível. Era este o objetivo assumido pela Acção Católica Portuguesa, a que o Papa Pio XI se referia. Esta organização do apostolado laical formaria os seus militantes, levando-os à ação na família, na sociedade e na vida pública.

A autonomia do pensamento religioso, isto é, a garantia da «presença autónoma da Igreja no mundo moderno», marca o século XX português. Como garantia da autonomia de pensamento, bem como da ação da Igreja, são conjugados diversos meios: a atividade pastoral, a catequese e o ensino da religião nas escolas, bem como o desenvolvimento do associativismo católico. É aqui que a Acção Católica Portuguesa tem lugar, sendo também auxílio na relação da Igreja com o Estado Novo, conferindo ao catolicismo um novo peso na sociedade.

A criação da Acção Católica Portuguesa teve um papel decisivo, que levou os leigos a assumir a ação da Igreja na sociedade. Assim, combateu a tentativa totalitarista do Estado moderno, e iniciou a mobilização e organização dos católicos, tendo em vista a restauração cristã na sociedade. Para aquela restauração, e para que a Acção Católica chegasse a todos, esta organizou-se segundo o sexo, a idade e a profissão, criando assim uma diversidade de especializações.

A Acção Católica agrupou-se em quatro grandes organizações: Liga dos Homens da Acção Católica (LHAC); Liga das Mulheres da Acção Católica (LMAC); Juventude Católica (JC) e Juventude Católica Feminina (JCF). Cada uma delas tinha uma Direção Nacional, sendo todas elas dependentes da Junta Central da Acção Católica, que era o órgão de direção superior. Dentro das quatro organizações mencionadas, surgiram organismos especializados, conforme os cinco setores sociais: agrário, escolar, independente, operário e universitário. Assim surgiram as siglas:

JAC/F (Juventude Agrária Católica/Feminina)

JEC/F (Juventude de Estudantes Católica/Feminina)

JIC/F (Juventude Independente Católica/Feminina)

JOC/F (Juventude Operária Católica/Feminina)

JUC/F (Juventude Universitária Católica/Feminina)

LAC/F (Liga Agrária Católica/Feminina)

LEC/F (Liga de Educadores Católicos/Feminina)

LIC/F (Liga Independente Católica/Feminina)

LOC/F (Liga Operária Católica/Feminina)

LUC/F (Liga Universitária Católica/Feminina)

Cada um dos vinte organismos, contando com a divisão entre masculino e feminino, tinha uma Direção Nacional, por sua vez submetida à respetiva organização federativa. A Acção Católica congregava então vinte estruturas autónomas, tendo cada uma a sua organização nacional, diocesana e paroquial, havendo também outros serviços associados. À semelhança da estrutura nacional, a nível diocesano e paroquial existia uma Junta Central diocesana e paroquial, sendo que os organismos se articulavam entre si. Este tipo de organização visava abarcar a totalidade das iniciativas e organizações de leigos, garantindo uma ação eficaz na diversidade de grupos e meios da sociedade. Esta unidade transmitia a preocupação da vivência em conjunto da Acção Católica, como testemunhava o lema da Acção Católica Portuguesa: «Cor unum et anima una».


[fonte: Joana Veigas - A receção do Concílio Vaticano II em Portugal]

28 de dezembro de 2021

Festa Diocesana da Infância

 


Noutros tempos a Diocese do Porto realizava a nível diocesano a Festa da Infância, organizada pelo Secretariado Diocesano da Educação Cristã. Assim, de cada paróquia participavam crianças que frequentavam as diferentes quatro classes de Catequese. O impresso acima refere-se à participação das crianças da paróquia de S. Mamede de Guisande no ano de 1961, que teve lugar no Palácio de Cristal, na cidade do Porto, a 30 de Abril desse ano.

O então pároco Pe. Francisco inscreveu 36 crianças das diferentes classes,logo a abrir com o Jorge Silva Ferreira, presumindo-se que tenham participado todas. 

Uma das premissas da participação era de que as crianças tivessem registo de bom comportamento e sem faltas às aulas de Catequese. Para as crianças que se distinguiam na Catequese eram atribuidos prémios, que mais não fosse, uma espécie de Diploma, conforme o abaixo reproduzido, nesse ano atribuído ao menino Manuel Bastos Monteiro, da 2ª Classe.



 A festa, para além da parte religiosa, certamente com uma celebração, englobava uma parte recreativa com a exibição de vários números ensaiados pelas crianças, como representação teatral, danças e cantares regionais, etc. A ter em conta uma das reportagens do evento, a coisa era bastante participada e apreciada tanto pelos adultos como pelas próprias crinaças.





Pessoalmente, um pouco mais novo, não tenho memória de ter participado numa dessas festas, não porque fosse mal comportado ou com faltas, mas ou porque não se voltaram a realizar ou porque a paróquia não participou, uma vez que tal englobava custos com o transporte.

Não sei se com os mesmos objectivos, certamente que não, até porque os tempos são outros, mas a participação de crianças da Catequese num evento algo parecido acontece agora anualmente no Santuário em Fátima, na forma de peregrinação,  habitualmente no dia 10 de Junho.

Apesar da simplicidade do assunto, não deixa de ter alguma importância o documento acima até porque identifica algumas das crianças que por essa data frequentavam a Catequese.

23 de dezembro de 2021

O Salão Paroquial de Guisande



Salão Paroquial na actualidade.

Para quem nasceu depois da primeira metade dos anos de 1960, sempre conheceu o Salão Paroquial de Guisande tal como ainda está nos dias de hoje, sendo um edifício destinado à catequese,  à realização de eventos comunitários ligados à paróquia, como encontros, reuniões, convívios, espectáculos, saraus recreativos, teatro, etc.

O Salão Paroquial tal como o conhecemos, foi edificado na primeira metade dos anos 1960, tendo a maior parte das suas obras sido realizadas no ano de 1964 e terá sido concluído por volta de 1965 ou mesmo início de 1966. 

Desenvolve-se em dois pisos, Rés-do-Chão e Andar, com a comunicação vertical entre os pisos a ser assegurada por uma escada exterior praticada na fachada lateral a norte. O acesso do espaço público ao edifício processa-se pelo caminho público localizado entre o salão e a igreja.

A planta é rectangular, de orientação poente/nascente e com dimensões aproximadas de 15,00 x 8,00 m, por isso com uma área de implantação de 120,00 m2.

Plantas dos dois pisos do Salão paroquial.
Em baixo o piso do Rés-do-Chão e em cima o pavimento do Andar.

No piso térreo desenvolve-se o salão propriamente dito, com um espaço amplo e na parte posterior um palco elevado a cerca de 1,00 m. Não tem espaços de apoio ao palco pelo que os acessos processam-se por detrás do cenário, tanto dos lados como na parte posterior. A zona do palco tem uma saída directa para o exterior do lado norte.

O Andar é composto por 5 pequenas salas, numa organização aproximadamente simétrica, a que se acedem a partir de um vestíbulo central o qual desemboca no pátio da escada exterior.

Este edifício emblemático da nossa freguesia e paróquia, foi implantado no mesmo local onde até então e desde de 1909 existiu um outro edifício, com uma implantação de área aproximada ao actual edifício mas apenas com um piso térreo, chamado de Casa dos Mordomos ou Casa das Sessões. Para além de um espaço de arrumos e apoio às actividades da paróquia, o mesmo dispunha de uma ampla sala onde a Junta de Freguesia e antes dela a Junta Paroquial, bem como os mordomos das diferentes festas, confrarias e irmandades, tinham as suas reuniões.

Pelo que é possível perceber de algumas poucas fotografias dessa antiga construção, a mesma estava implantada à face do caminho, mais larga que o actual salão e dotada com duas  portas na fachada principal, dispostas simetricamente, voltadas a poente e encimadas na parte superior central por um elemento talhado em pedra, tipo florão, com um anagrama formado pelas letras C A P. 

Não tenho a certeza do significado do anagrama, mas sendo plausível que possa corresponder a Casa de Administração Paroquial, considero, todavia, que a mais provável e para a qual me inclino, se refere a Custódio Alves de Pinho, rico proprietário do lugar do Outeiro, que terá contribuído para a construção desse edifício e que assim desse modo quis ou quiseram perpetuar esse benemérito. De resto o seu nome também está gravado na parte exterior da caixilharia do guarda-vento no entrada principal de igreja matriz a propósito das obras de melhoramentos ocorridas entre os anos de 1923 e 1929.

Florão em granito, com o anagrama C.A.P.

De referir que este elemento, na imagem acima, foi aproveitado mas afixado no actual edifício do salão, mas na fachada norte, na zona debaixo do vão da escada exterior. Creio que se o mesmo tivesse um significado relacionado ao nome ou função do salão, o Pe. Francisco teria colocado o mesmo sobre a fachada principal e não de forma discreta e quase escondida na fachada lateral norte, debaixo da escada, como já referi. Ainda lá está para ser testemunhado como o único vislumbre da antiga Casa dos Mordomos. 

Ainda quanto à configuração da antiga Casa dos Mordomos, esta teria uma cobertura com desenvolvimento em "quatro-águas", solução que acabaria por ser adoptada igualmente no edifício que lhe sucedeu.



Fotografia (colorizada) do princípio dos anos 1940, em que se vislumbra parcialmente a antiga Casa dos Mordomos.

A foto acima, datada do início dos anos 1940, apesar de captar parcialmente o edifício, será uma das poucas que permite deixar perceber o aspecto da fachada da antiga Casa dos Mordomos, com as tais duas portas, com umbreiras em cantaria e o tal florão em granito incrustado na parte central da fachada. Veja-se que, pela projecção do alinhamento do muro norte do cemitério, o antigo edifício estaria implantado um pouco mais para sul do que o actual salão.

Também pelo que é dado testemunhar por algumas fotografias da época, as paredes exteriores do nível do rés-do-chão do actual salão foram erigidas com granito, dito perpianho, e certamente aproveitando a pedra da antiga construção. Já o piso superior, o Andar, foi realizado com paredes exteriores em tijolo de barro vazado. As lajes de pavimento e tecto do Andar foram realizadas com laje em cimbre. A cobertura tem estrutura de madeira e revestimento de telha de barro do tipo "francesa".

Quando o Pe. Francisco celebrou as suas bodas de prata sacerdotais, em 15 de Agosto de 1964, o salão ainda estava em obras, praticamente na fase de pedreiro, mas foram adiantadas e mesmo com acabamentos improvisados para que no Rés-do-Chão ali fosse possível acolher com a dignidade possível a boda da celebração. Há fotografias desse evento e nota-se que o interior estava revestido com panos e elementos de verdura para disfarçar as paredes que certamente ainda não tinham o acabamento final. Mesmo o pavimento estaria apenas em cimento.


Nas fotos acima, datadas de 8 de Julho de 1964 (data de aniversário do Pe. Francisco, que então completava 49 anos de idade, pois nasceu em 1915), vê-se partes das fachada do salão paroquial e como se percebe, as paredes estavam ainda em pedra e tijolo à vista, sem reboco ou acabamento, bem como se nota no interior alguns materiais. Mesmo o beiral da cobertura ainda estava com escoras.

Já agora, na foto, reconhecem-se várias pessoas, para além do Pe. Francisco e suas irmãs, o Pe. António Santiago e seu pai,  Dr. António da Casa do Loureiro, O Sr. Domingos Azevedo “Patela”, o Sr. Belmiro Henriques, da Igreja e o Sr. José Gomes, do Reguengo. Os demais, não os identifiquei.

Como as bodas de prata seriam dali a pouco mais de um mês, a 15 de Agosto de 1964, certamente que as obras ao nível do piso térreo foram aceleradas. Nas fotos publicadas abaixo, referentes a momentos do almoço do evento celebrativo, já se percebe que pelo menos havia porta exterior e janelas, embora, como atrás se disse, com as paredes ainda em pedra e revestidas com panos brancos.


Na foto acima, também do ano de 1964 mas já depois da data das Bodas de Prata do Pe. Francisco, em 15 de Agosto desse mesmo ano, vê-se parcialmente o salão, percebendo-se as paredes do Rés-do-Chão realizadas em granito e as paredes do Andar realizadas em tijolo de barro mas já com as janelas colocadas. Também se nota que no Andar já estavam colocadas as janelas e o edifício já tinha cobertura e telhado. 




Pela leitura das fotos acima, que captam momentos do banquete das Bodas de Prata Sacerdotais e Paroquiais do Pe. Francisco, percebe-se que devido à necessidade de acolher o almoço, as obras foram aceleradas. Distingue-se o embelezamento das paredes com panos brancos bem como como existência da porta principal e certamente as janelas.

Certamente que depois de passada a data e cerimónias das Bodas de Prata foi dada continuidade aos trabalhos, tendo começado o revestimento com reboco, tanto na parte interior como na exterior e seguindo-se naturalmente os demais acabamentos, de modo a que as obras se concretizariam nos meses seguintes.

Só por 1965 é que as obras terão sido concluídas oficialmente como terminadas em fevereiro de 1966. Há fotografias (acima uma sequência de algumas delas) de um sarau recreativo, coma  data de 16 de Maio de 1965 (um Domingo), pelo que corresponderão à data da inauguração e entrada ao serviço. Esse evento recreativo constou de danças, pequenas peças de teatro e mesmo a actuação de um grupo musical, que, a ter em conta informações de alguém mais velho, terá sido o Conjunto Típico “Os Peles Vermelhas”, vindos de Lourosa.

A paróquia esmerou-se com os ensaios e apresentação do sarau que para além da parte musical contou com peças de teatro e danças. Terá sido, assim um dia importante e memorável na vida e História da paróquia.




Apesar dessa data referida como da inauguração, certo é que o prédio foi dado como concluído em 15 de Fevereiro de 1966, e dado como ocupado no dia 20 do mesmo mês.  Foi inscrito nas Finanças em 25 de Fevereiro de 1966, conforme o documento reproduzido abaixo


A importância do salão Paroquial:

O Salão Paroquial tem sido ao longo dos tempos de uma extrema importância no contexto não só da paróquia como da freguesia, mesmo que em muitos aspectos tenha sido sempre bastante básico, com uma escada exterior, sem instalações sanitárias e com o salão sem espaços de arrumos e de camarins que possam servir de apoio às actividades teatrais. Também devido às técnicas e materiais de construção, foi sempre bastante frio, sobretudo a parte do auditório, por isso desconfortável sobretudo no Inverno.

Vista da fachada norte do actual salão.

Por conseguinte, ao longo dos anos, para além do desconforto em tempos de catequese e reuniões, foi sempre um cabo dos trabalhos ali realizar teatro, como nos tradicionais saraus de Natal e de Reis, sobretudo em tempo de chuva e de frio. Quem de algum modo já ali participou em eventos recreativos e culturais compreende sobremaneira estas dificuldades, tendo que se trajar no Andar e transportar móveis e outros adereços, escada acima, escada abaixo, muitas vezes expostos ao frio e chuva. 

Neste contexto, se por um lado se compreende que o edifício não tenha de início, por dificuldades financeiras, sido dotado com os referidos elementos que em muito tornariam o espaço mais funcional, prático e confortável, espanta, por outro lado, que nos tempos posteriores nunca se tenha tido a iniciativa e coragem de fazer esses melhoramentos. Cheguei a propô-los ao Pe. Francisco, mas certo é que nunca se entusiasmou com a ideia. 

Por parte das consecutivas juntas de freguesia, o facto do terreno e do prédio ser pertença do Paço (Diocese) também foi sempre uma barreira e obstáculo a qualquer obra que ali se pudesse acrescentar. Por conseguinte, com mais ou menos obras de conservação, como pinturas e substituição de caixilharias exteriores, certo é que o velhinho Salão Paroquial se mantém tal qual foi edificado há mais de meio século. 

Por outro lado, nunca na freguesia, nem mesmo com a construção do edifício sede da Junta de Freguesia de Guisande, inaugurado em 1981, se projectou qualquer coisa em grande e que contemplasse um auditório polivalente e espaço para as diferentes associações ou grupos. Mesmo bem mais recente, a construção do Centro Social, aproveitando o edifício da velhinha escola primária do Viso, também não previa resposta a esse requisito sendo que com a junção das duas salas numa única (por minha sugestão ao presidente do Centro, a que a arquitecta autora do projecto, acedeu), pelo menos criou-se uma sala ampla e com alguma versatilidade e polivalência. Mesmo que com algumas adaptações, como a colocação de um palco ou estrado amovível, será possível ali realizar pequenos espectáculos culturais e recreativos bem como espaço de jantar. 

Do mal o menos, mas certo é que Guisande continua sem um grande auditório projectado e edificado de raiz, tal como têm, por exemplo, Louredo e Lobão. Por outro lado e em contraponto, o movimento associativo nunca andou tão mal e desinteressado pelo que pode-se colocar a questão sobre a necessidade de construção de um auditório ou casa de cultura se não há dinâmica associativa que o justifique? Veja-se, por exemplo, o caso do rinque polidesportivo em Casaldaça, há muito abandonado e sem qualquer uso e utilidade e com as instalações já degradadas. Esta é a realidade actual. Poderá ser que no futuro por um qualquer “milagre” as coisas venham a melhorar, mas por ora é o que a casa vai gastando.

Apesar de tudo isso, e por tudo isso, o Salão Paroquial de Guisande tem um lugar marcado na história da nossa paróquia, freguesia e comunidade e de várias gerações de guisandenses, seja por ali frequentarem a catequese, seja por terem realizado ou assistido a momentos recreativos de teatro e variedades ou mesmo participado em reuniões da paróquia ou tão simplesmente participarem nas dádivas de sangue, que ali também se realizaram.

Alguns elementos sobre a construção do Salão Paroquial:

Como atrás ficou dito, as obras de construção do Salão Paroquial ocorreram na sua maior parte em 1964 e parte de 1965.

Consultando no meio de papeladas da paróquia, demos com alguns elementos curiosos sobre as obras. Fica-se a saber que a empreitada de pedreiro foi realizada por Manuel da Conceição, a parte de trolharia a cargo de Joaquim Gomes da Silva, de Cimo de Vila e a carpintaria também da responsabilidade de um outro Joaquim Gomes da Silva. As grades da escada e portão, foram realizadas por Bernardo Pereira Baptista.

Nos documentos abaixo estão representados alguns dos comprovativos de pagamentos aos empreiteiros. Pela sua leitura constata-se que as obras de pedreiro terão custado 31.662,50 escudos.