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4 de fevereiro de 2024

Alminhas em Estôze

 





No lugar de Estôze, um dos mais antigos da nossa freguesia, existem dois interessantes exemplares de alminhas. Uma delas encastrada na fachada da casa da D. Laurinda Angélica (2 fotos de cima), com imagem em azulejo policromático de um Cristo Crucificado e a ainda as designadas como alminhas do Vitorino (2 fotos em baixo), também com azulejo colorido e com a temática habitual das Senhora do Carmo.

A grafia do lugar de Estôze ao longo dos tempos tem tido algumas variantes e mesmo no dias de hoje presta-se a alguma confusão, nomeadamente quanto ao uso do "z" ou "s" ou ainda quanto ao acento sobre o "o", por vezes com o acento circunflexo ("^") e outras com o til ("~"). Aparece ainda nas duas formas, com "z" ou com "s" mas sem qualquer acento.
Eu próprio poderei nem sempre escrever da mesma forma mas pessoalmente considero como mais correcta a variante"Estôze".
Ainda em documentos antigos já vi a variante Estôs ou Estôz, sem o "e".
De todo o modo é um topónimo de origem desconhecida e mesmo após várias pesquisas não encontrei qualquer outro semelhante no nosso país.

15 de outubro de 2023

A ilustre Casa da Quintão


Não sabemos e creio que em rigor ninguém saberá ao certo a origem da Casa da Quintão, no lugar do Outeiro aqui na freguesia de Guisande, porque mais que as casas que em determinada altura são edificadas, há por detrás delas a origem das famílias e esta muitas vezes tem raízes bem mais remotas no tempo.

À falta desse ponto de origem, no que seria a nascente mais profunda, comecemos pelo menos pela figura de Custódio António de Pinho, que sabemos que ali pelo final do séc. XIX foi o seu principal proprietário e que desse ramo se originou muita gente até aos dias de hoje e ainda por Guisande com vários descendentes. Desde logo, no portão principal de acesso ao que era então toda a vasta quinta, ainda lá está a inscrição do nome e data: "CUSTÓDIO A. DE PINHO - 1881".

Tenho para mim, todavia, que antes das obras que terão dado lugar à colocação do portão a assinalar o proprietário e data, existiriam já construções muito mais antigas e que depois terão sido ampliadas e melhoradas à altura da importância do proprietário e da sua abastada casa e quinta. 


Custódio António de Pinho nasceu em 21 de Fevereiro de 1846 no lugar do Outeiro, freguesia de Guisande. Era filho de Manuel António de Pinho e Maria Rosa de Jesus. Era neto paterno de Manuel António de Pinho e Josefa Francisca de Sá (do lugar de Vila seca - Louredo) e neto materno de António Fernandes e Maria Luíza (de Azevedo - S. Jorge). Faleceu em 7 de Fevereiro de 1926.

Foi baptizado em Guisande no dia 28 do mesmo mês e ano. Teve como padrinhos de baptismo o Pe. Rodrigo António Pereira de Vabo Sá Coutinho (de Barcelos) com procuração a José Martins de Sá (de Duas Igrejas) e Ana Maria (do lugar de Carvalhas - Vale). Foi testemunha um Januário, criado do pai do baptizado, o qual também teve um filho de nome Custódio, nascido no dia 1 de Maio de 1859 e cujo padrinho foi o próprio Custódio António de Pinho, apesar de na altura só ter 10 anos.

Este criado da Casa da Quintão, Januário José de Oliveira era casado com Maria Fernandes, sendo filho de Manuel de Oliveira e de Mariana Gomes (de Tozeiro - Louredo). A sua esposa era filha de  António José Fernandes e Fabiana Alves (de Azevedo - S. Jorge). 

O padrinho de baptismo de Custódio António de Pinho, o reverendo Pe. Rodrigo António Pereira do Vabo de Sá Coutinho, da vila de Barcelos, faleceu com 83 anos em 22 de Janeiro de 1880, na rua da Madalena, em Barcelos. Creio que a ligação ao baptizado se prende à família Sá da avó materna, de Vila Seca - Louredo. Em todo caso, tendo em conta a sua qualidade de sacerdote atesta de algum modo da importância social das famílias envolvidas neste nascimento do Custódio António de Pinho.

Custódio António de Pinho casou em 4 de Setembro de 1869, por isso com 23 anos de idade, com Joaquina Maria Baptista de Jesus (do lugar da Quintã da freguesia de Lobão), filha de Manuel Caetano Cardoso e Maria Rosa da Mota. Foram testemunhas o Pe. José Ferreira Coelho e o irmão da noiva, Manuel Caetano Cardoso Baptista. A cerimónia decorreu na Sé Catedral do Porto. A esposa de Custódio António de Pinho faleceu em 3 de Novembro de 1923 com 80 anos de idade. Por sua vez, Custódio António de Pinho faleceu viúvo em 7 de Fevereiro de 1926, também com 80 anos de idade.

Do assento de casamento de Custódio e Joaquina Maria, escrito pelo pároco de então, o abade Manuel Ferreira Pinto, supreende que o mesmo se resuma literamente a nove linhas sendo que os anteriores e posteriores assentos têm o triplo disso. Presumo que por ser apenas uma curta referência já que o assento completo poderia ficar agregado à Sé Catedral, onde se realizou a cerimónia.

Do que consegui apurar, este Custódio António de Pinho teve uma irmã, a Custódia, nascida a 13 de Janeiro de 1839, por isso mais velha. Até ao momento não consegui pesquisar descendência desta ou se a teve.

Custódio António de Pinho teve vários filhos e filhas, dos quais consegui apurar:

Maria, nascida a 17 de Novembro de 1869 (pela idade de nascimento desta que terá sido a primeira filha, constata-se que a esposa de Custódio António Baptista de Pinho casou grávida de quase 7 meses). Faleceu esta Maria em 21 de Novembro de 1871, por isso com apenas 2 anos de idade. No assento de óbito indica 3 anos de idade, pelo que está errado.

Manuel Baptista de Pinho, nascido em 4 de Abril de 1871. Faleceu menor, com cinco meses, em 29 de Setembro de 1871.

Custódia de Pinho Baptista, nascida em 19 de Setembro de 1873. Faleceu com 21 anos em 13 de Outubro de 1894.

Ermelinda, nascida em 4 de Março de 1876.

Esta Ermelinda casou  com Manuel Inácio da Costa Silva Júnior, de Pigeiros, em 19 de Julho de 1898 Este Manuel Inácio era neto paterno de Manuel Inácio da Costa e Silva e de Margarida Henriques de Jesus (esta de Romariz), tendo falecido em 13 de Dezembro de 1962.

Ermelinda e Manuel Inácio foram pais de Joaquim Inácio da Costa e Silva, o qual  em 18 de Fevereiro de 1943 veio a casar com Laurinda Resende Moreira, da Casa do Moreira do lugar da Igreja - Guisande, conhecida como D. Laurindinha e de cuja família já aqui publicamos apontamentos. 

António Baptista de Pinho, nascido em 18 de Março de 1877. 

Este António casou com Madalena Fontes de Oliveira, natural do Vale, em 6 de Agosto de 1937, por isso tardiamente, já com 60 anos. Faleceu em 7 de Fevereiro de 1950. A Madalena, a esposa deste António Baptista de Pinho, nasceu em 25 de Janeiro de 1901, por isso mais nova 24 anos que o marido. Era filha de António Francisco de Oliveira e de Ana Ferreira de Fontes, esta natural de Romariz. Era neta paterna de Domingos Francisco de Oliveira e de Rosa Maria de Oliveira e neta materna de Manuel Ferreira de Fontes e de Ana dos Santos. Faleceu em 29 de Maio de 1984, com 83 anos de idade, sobrevivendo ao marido por cerca de 34 anos.

António e Madalena tiveram 3 filhos: O Custódio, já falecido, a  Isabel, professora primária, que ainda vive na freguesia do Vale e o Pe. Eugénio, que ainda vive e é pároco da freguesia de Louredo, onde habita.

Bernardo Baptista de Pinho, primeiro de nome, nascido a 25 de Março de 1878.

Maria, nascida em 24 de Abril de 1879, segunda de nome pelo que à data do seu nascimento havia falecido a primeira de nome.

Bernardo Baptista de Pinho, segundo de nome, nascido em 13 de Julho de 1880.

Maria, nascida em 23 de Fevereiro de 1882, terceira de nome pelo que antes do seu nascimento faleceram as anteriores irmãs com o mesmo nome.

Joaquim Baptista de Pinho, nascido em 24 de Fevereiro de 1883.

Joaquim Baptista de Pinho, segundo de nome, nascido a 10 de Junho de 1884.

Custódio Baptista de Pinho, primeiro de nome.

Custódio Baptista de Pinho, segundo de nome, nascido em 24 de Setembro de 1885. 

Este Custódio dos bens dos pais terá sido o herdeiro da própria Casa da Quintão. Casou com Maria Gomes da Costa (da freguesia do Vale), filha de António Pereira da Costa e de Ermelinda Gomes de Jesus. Desta ficou viúvo em 15 de Agosto de 1928, quando a esposa tinha 44 anos, pelo que casou em segundas núpcias em 25 de Novembro de 1933 com Margarida Gomes de Oliveira, de 41 anos, filha de Tomázia Gomes de Oliveira 

Este Custódio Baptista de Pinho teve vários filhos e filhas dos quais consegui apurar:

Abel, do primeiro casamento de seu pai, nascido em 5 de Setembro de 1909. Casou com Eugénia de Castro Cochofel Montenegro (de Souselo - Cinfães) e passou a viver em Burgo - Arouca. Ficou viúvo da sua esposa em 4 de Dezembro de 1960. casou em segundas núpcias com Ernestina da Conceição Rocha, de 51 anos, em 30 de Janeiro de 1961. Faleceu em 9 de Fevereiro de 1990 em Burgo - Arouca.

Maria da Anunciação da Costa e Pinho, nasceu a 6 de Agosto de 1911. Veio a casar comAntónio Alves Santiago da Casa Santiago do lugar das Quintães, outra ilustre casa  e família da nossa freguesia. Teve o casal vários filhos de entre os quais o Custódio, nascido a 8 de Setembro de 1930 e falecido em Fevereiro de 2017, a Margarida Elsa, nascida a 8 de Novembro de 1931 e falecida em Setembro de 2019, a Maria Idília, nascida a 13 de Outubro de 1932, a Eugénia, nascida em 13 de Setembro de 1933, o Joaquim, primeiro de nome, nascido a 8 de Outubro de 1934, a Miquelina da Conceição, nascida a 30 de Outubro de 1936, o Joaquim, segundo de nome, nascido a 15 de Janeiro de 1939  e falecido a 13 de Janeiro de 2022, o José, nascido a 18 de Março de 1942 e que casou em Palmaz com Jerónima Gomes de Sousa Pinho,  a Maria, o  Pe. António,  a Isaura, nascida em 18 de Dezembro de 1949 e o Alberto. 

Idília Augusta, nascida a 26 de Fevereiro de 1913. Casou em Louredo com Américo Moutinho.

Laura Cristina, nasceu a 21 de Maio de 1914. 

Custódio Baptista da Costa Pinho, nasceu a 3 de Julho de 1916. Casou com Maria Amélia Gomes da Silva. De filhos pesquisei o António Gomes da Silva Pinho, nascido a 13 de Dezembro de 1950 e a Maria Isabel nascida em 18 de Dezembro de 1952 e que casou em Lourosa com Alberto Pereira da Silva.

Maria Idília Gomes de Pinho, filha da segunda esposa (Margarida Gomes de Oliveira), que nasceu a 21 de Setembro de 1934.  Teve como madrinha de baptismo a sua meia irmã Idília Augusta. Veio a casar com o António Ribeiro da Silva (Ti António do Canto) em 19 de Janeiro de 1957. Tiveram vários filhos como a Maria do Carmo, esposa do José de Almeida Peixoto, a Maria de Fátima, esposa do Fernando Rodrigues, o Custódio, a Alda e o Américo Eugénio. O António Ribeiro da Silva nasceu emm 28 de Agosto de 1931 e faleceu viúvo em 14 de Julho de 2022. A Maria Idília faleceu em 01 de Maio de 2015.

Bernardo Baptista de Pinho, terceiro de nome, nascido a 25 de Março de 1888.

Não consegui apurar se houve ou não mais filhos de Custódio António de Pinho, sendo que pelo número e hiato de tempo entre o primeiro e último filho que consegui pesquisar (19 anos), será de presumir que não houve mais, e não foram poucos, incluindo os que pelo meio faleceram.

A Casa da Quintão:

Quanto à casa propriamente dita, é na actualidade uma triste e desolada figura do que foi no passado. Como resultado das partilhas entre os muitos filhos e depois netos, foi dividida a quinta e mesmo a casa passou a ter vários donos e encontra-se desde há muito em estado de pouco mais que uma ruína.. Por motivo do seu fraccionamento por vários herdeiros, fizeram-se ali intervenções que só a descaracterizaram. No terreno entre a estrada e a casa, antigamente com um alto muro à face do velho caminho, construíram-se duas casas e ficou assim ali relegada para uma posição modesta, quase escondida.

Conforme se vê pela imagem abaixo, a casa é sensivelmente de formato quadrangular com um pátio central aberto e existe do lado sudoeste um conjunto de edificações que teriam funções complementares, de habitação de criados e de arrumos e onde se encontrava lagar e prensa de uvas. Do antigo caminho que ladeava a quinta pelo lado nascente, do lado mais a sul abre-se um portão que conduz por uma curta alameda outrora coberta por ramada de videiras até à casa.

Do lado noroeste existe espigueiro com ampla eira e aprópria casa-da-eira e dispõe de acesso para um caminho do lado norte e que há anos foi transformado em rua a que agora se chama de Rua da Quintão, embora, erradamente, apereça na foto abaixo como Quintães.

Dispunha ainda a quinta de moinho, tranques vários, etc. De facto uma ampla e rica quinta que por todo um conjunto de situações, contextos e vicissitudes é hoje apenas um triste vislumbre do que já foi nos seus melhores tempos.



Vista aéra da Casa da Quintão

Foi pena que entre os diferentes herdeiros não resultasse um sentido comum de preservação, como tem acontecido noutras importantes casas. Veja-se que a casa do Dr. Inácio, no lugar da Igreja, continua ainda como uma unidade entre os diferentes herdeiros. 

A antiga e ilustre Casa da Quintão hoje poderia ser um belo espaço tipo hotel de turismo rural ou espaço de realização de eventos. Não lhe faltavam argumentos e peso da história.

Infelizmente as coisas são como são e não é caso único. O que não falta por aí são tristes amostras de passados ilustres de casas de lavradores abastados, solares e palacetes em ruínas. Até mesmo em Guisande pois, infelizmente, a casa de meus avôs paternos e agora parte do que herdou o meu pai, é um outro triste exemplo de que o fraccionamento por vários herdeiros de casas antigas só concorre para as dificuldades de obras de requalificação, ou simplesmente de conservação, porque dependentes de vontades e disponibilidades das partes o que nem sempre resulta e tantas vezes motivos de diferendos.

Por parte das entidades locais e nacionais também nunca houve políticas sérias que promovessem a salvaguarda, preservação e valorização deste tipo património arquitectónico rural. Muitas vezes classificam imóveis ou património de interesse nacional ou local, é certo, mas quanto a apoio concreto, traduz-se em nada, em zero ao quadrado. Tal classificação, porque é restritiva e sem soluções, é tantas vezes o motivo primeiro da degradação e da ruína deste tipo de edifícios. Por conseguinte há uma culpa e responsabilização colectiva.

Há algum tempo a casa e a quinta, ou o que restam delas, estavam a ser promovidas em sítios de vendas. Esperemos que o conjunto do que resta venha a ser vendido e adquirido por alguém com capacidade e bons propósitos quanto ao aproveitamento  das suas capcidades e respeito pelo seu passado.






Vista actual do portão de acesso à Casa da Quintão


Canastro (espigueiro) e casa da eira com vista do lado norte
 
Nota: As imagens abaixo foram copiadas de sítios de promoção de venda de imóveis, publicadas de forma pública.
 















Nota final: Os apontamentos aqui escritos, por dificuldades várias e escassez de documentos podem padecer de alguns erros ou imprecisões ou omissos quanto a alguns dados como nomes de familiares e datas. Por conseguinte baseiam-se apenas no que foi pssível pesquisar. Quaisquer informações que possam servir para completar ou corrigir são bem-vindas.

23 de setembro de 2023