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17 de janeiro de 2025

Donos do nosso destino


Não há motivo para festa, mas tão somente de alegria. No meio de muitas adversidades e do desalento, que ainda há dias parecia definitivo, foi possível. 

Uma alegria transversal, sem contra nada nem ninguém, apenas pela vontade de devolver o destino de Guisande aos guisandenses. Apenas isso, e não é pouco.

Obrigado a todos quantos que com o seu empenho e orgulho no legado passado, tornaram possível: Os guisandenses que intimamente desejaram este momento, ao Celestino Sacramento, ao Rui Giro, aos membros que, leais à sua terra, votaram a favor na Assembleia de freguesia, e a tantos outros que se envolveram no processo.

Ainda há passos a dar, não menos importantes, como a promulgação pelo presidente da República, mas o principal foi alcançado hoje, uma data que no futuro merecerá celebração.

Pena que o grupo de freguesias apresentado pelo PCP, em cima da hora, não fosse colhido, por questões meramente burocráticas, porque se respeitaria a vontade expressa pelas populações. Apesar disso, para quem conseguiu, o dia será memorável.

Bem-haja aos verdadeiros guisandenses!

Parabéns às freguesias vizinhas de Louredo, Gião, Pigeiros, Vale e Vila Maior! Serão igualmente donas dos seus destinos!

16 de janeiro de 2025

Entre tesouradas

Fui ao barbeiro. Melhor dizendo, fui ao banco, mas à saída, dando conta que o barbeiro estava desocupado, aproveitei para o habitual corte de início de ano. Entre tesouradas, ora de lado, ora no cachaço, porque na frente já pouco há para respigar, alguém na sala que aguardava a vez, depois de passar os olhos às gordas do JN, lançou a questão, nem sei se ao mestre das tesouras se aos clientes: - Então, sempre vai haver separação de Pigeiros e Caldas de S. Jorge?

- Parece que sim! - respondeu o barbeiro enquanto me ajustava a posição da cabeça. 

A conversa carrilou, fui ouvindo, mudo e calado, com as tesouras a tinir nas orelhas, mas nos presentes considerou-se que era melhor assim, porque da gestação de já quase uma dúzia de anos nada foi parido de relevante e que numa relação sem motivos bastantes, sem sex appeal, fria, distante, melhor era a separação. 

Se a coisa correr como se espera que corra, tal como num divórcio a sério, há-de haver tempo e lugar à partilha dos tarecos e da distribuição da equipa da gente trabalhadora, concluiu-se.

Talvez aí haja nós a desatar e discussões em defesa de interesses e como numa luta pela carcaça, cabe ao leão a melhor parte, mas que de um modo ou outro se encontrarão soluções justas tanto quanto possível, pelo que com mais engenho ou menos arte, cada uma das partes lá arranjará soluções para que possam seguir o seu caminho e as sedes transformadas em polos voltem a ser sedes.

Alguém foi dizendo que, felizmente, ao contrário dos verdadeiros divórcios, não há filhos a ter em conta mesmo que algumas das freguesias, como Pigeiros ou o Vale, tenham sido tratadas como enteadas, desconsideradas, sempre vestidas com roupa da semana.

No barbeiro, no café ou na sala de espera do posto médico, vão assim as coisas sobre este assunto, ainda num certo amolecimento, como uma ferida fresca que ainda não dói por estar a carne quente. Ademais, os passos necessários para o caminho têm que ser dados por políticos e deles, do mais anónimo deputado ao espalhatafoso inquilino do Palácio de Belém, todos temos noção de que não são de confiança, uns vira-ventos. 

Por isso, cautela e caldos de galinha recomendam-se. O foguetório, para quem acha que se justifica, convém que fique em sítio seguro, a aguardar o momento, não suceda que estoure antes do tempo.

15 de janeiro de 2025

Mais do que poupança, o valor da proximidade

 

A propósito dos encargos do Estado  com as juntas de freguesia e assembleias de freguesias, em que se tem vindo a espalhar a ideia de que o sistema de união de freguesias permite poupanças significativas, e que de resto esteve na origem da Lei Relvas, porque apenas em pressupostos de poupança, é praticamente uma falsa questão ou mesmo falácia, porque senão uma mentira, os valores diferenciais em causa são pouco significativos ou mesmo ridículos.

Por exemplo, tomando como comparação a nossa União de Freguesias, basta pegar na Tabela dos Abonos dos Eleitos Locais, para este ano de 2024 e fazer as correspondentes contas: Sabemos que a nossa União estará ainda no patamar de 5 a 10 mil eleitores (creio que ainda não ultrapassou esse número), que temos um presidente em regime de tempo inteiro, por isso com um vencimento de 12 + 2 meses a 1556,86 euros e ainda acrescentado de despesas de representação de 467,06 euros por 12 meses.

Por sua vez, o secretário e tesoureiro vencem 262,24 euros por 12 meses e os 2 vogais apenas têm senhas de presença nas reuniões de junta, creio que ainda duas por mês e por 11 meses, considerando um mês de férias. O valor da senha de presença é de 22,95.

Por sua vez, os 13 elementos da Assembleia de Freguesia, considerando 4 reuniões ordinárias ao ano têm por cada presença uma senha de 16,39 euros.

Os 2 vogais da Junta têm igualmente senhas pela participação na Assembleia de Freguesia.

Grosso modo, não falhando as contas, as despesas anuais de abonos com os membros da nossa União, Junta e Assembleia de Freguesia andarão pelos 36 mil euros.

Fazendo as mesmas contas mas considerando a situação das quatro freguesias desagregadas, a poupança conseguida com a União é apenas de cerca de 8 mil euros. Ora parece-nos que 8 mil euros de diferença, 10 que fossem, parece irrisório e que por si só não é argumento para se ter feito a união de freguesias.

Não obstante, destas contas, se é certo que existe uma poupança mesmo que irrisória, verifica-se uma perda significativa, que é importante e que deve ser tomada em conta porque dela resulta precisamente a tal perda de proximidade entre eleitos e eleitores. Veja-se que no actual quadro de união de freguesias existem 18 eleitos, 5 na Junta e 13 na Assembleia de Freguesia. Pois bem, na situação das quatro freguesias desagregadas, os eleitos são 40, mais do dobro, e desses há 4 presidentes, 4 secretários e 4 tesoureiros, ou seja, eleitores locais em maior número em cada freguesia e que por isso contribuiem para uma maior proximidade e mais gente ao serviço, capaz de melhor se desdobrarem nas diferentes necessidades e contacto com as populações. Por exemplo, na actual União, Guisande tem apenas uma vogal, sem competências de importância. Com a desagregação a JUnta passa a ter presidente, secretário e tesoureiro próprios. Quem pode negar esta realidade e dos ganhos inerentes a um maior desdobramento de proximidade?

É difícil perceber? Daqui que tenho dito e escrito que a vantagem da desagregação não é tanto pela contabilidade e números, em que mesmo nestes não há perda,  mas essencialmente pelos factores de proximidade e representatividade directa, alocada a cada freguesia.

Quanto às contas, para além das que fui indicando, para os mais rigorosos, podem ser feitas a partir do referido quadro e do tal escalonamento da união entre 5 e 10  mil eleitores e com o presidente a tempo inteiro e em regime de exclusividade.

13 de janeiro de 2025

Guisande a ser Guisande - O que importa dizer


Se alguma coisa serve o facto de termos já uma idade de quem não vai para novo, é a experiência acumulada, pelo muito já visto e revisto, que nos permite ter uma forma de encarar as coisas com o distanciamento analítico, crítico mas cauteloso e saudável. Ou seja, entre outras coisas, saber que nem sempre as coisas são o que aparentam ser, o que é verdade hoje revela-se amanhã como uma mentira, a promessa feita hoje sob juramente desaparece na mesma hora com a rapidez de manteiga em nariz de cão. 

Também,  por isso, habituámo-nos a ser duvidosos como S. Tomé, a ver para crer, até porque, pela natureza humana, somos de fé frouxa, mesmo perante o puxão de orelhas evangélico na forma do "feliz do que acredita sem ver".

Chegado aqui, não sou de deitar foguetes antes da festa, não contar com o ovo no cu da galinha, não anunciar vitórias com a batalha a decorrer, nem dar por adquirido o que baseado em pressupostos e fundamentos ainda por solidificar.

Neste contexto, e no assunto da desagregação de freguesias, de que me tenho escusado de abordar de forma directa, há todas as razões para se acreditar que na próxima sexta-feira, dia 17 de Janeiro, a freguesia de Guisande será desagregada, como todas as outras  que foram incluídas na proposta do Projeto de Lei N.º 416/XVI que aprovará a reposição de freguesias agregadas pela Lei N.º 11-A/2013, de 28 de Janeiro, concluindo o procedimento especial, simplificado e transitório de criação de freguesias aprovado pela Lei N.º 39/2021, de 24 de Junho.

Em meados de Dezembro último, as notícias deram conta que a actual União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande não seria contemplada no processo de desagregação, ao contrário das nossas vizinhas de Canedo, Vale e Vila Maior e Caldas de S. Jorge e Pigeiros.

Apesar da vontade de desagregação manifestada de forma inequívoca pelas freguesias de Gião, Louredo e Guisande ter sido aprovada em sede própria de Assembleia de Freguesia e confirmada na Assembleia Municipal, o processo terá padecido de um "vício formal", simples de resolver se todas as partes estivessem a respeitar as decisões deliberadas, como até aconteceu noutras uniões, mas suficiente para, por parte de quem desejava manter o actual contexto, explorar fragilidades, protelar e atrasar.

Numa equação simples, quem de 4 tira 3 unidades, sobra 1 unidade. Tácito, objectivo e sem lugar a sofismas. Mas, pelos vistos, era necessária que a posição da unidade remanescente fosse devidamente justificada ou clarificada, numa certa redundância. Ao contrário, foi feita a apologia das virtudes da manutenção da união de freguesias. Legítimo, digo eu, sob um ponto de vista pessoal de quem assinou esse texto louvatório, mas em contra-mão com a decisão tomada em sede de Assembleias de Freguesia e Municipal.

Com tal  pouca vontade e colaboração de quem pretendia um desfecho diferente, por isso contra, o desenvolvimento do processo e do cumprimento de todos os requisitos regulamentares definidos ficou a padecer desse tal "vicio formal". Com isso e com uma mudança de sentido de voto de uma das partes, que em política é fértil, certo é que as notícias deram conta, com alarido, e acredito que com satisfação para alguns, que a nossa união de freguesias ficaria fora do conjunto das desagregações.

Felizmente, e nestas coisas por vezes parece haver um sentido, mesmo que metafórico, de justiça divina, reuniram-se, não sem novos obstáculos e votos contra, as condições para desfazer o tal "vício formal", para limpar o grão de areia da engrenagem. Assim, com toda a justiça e ainda a tempo, o processo foi  revisto, considerado e integrado no Projecto de Lei. De resto, outras freguesias também conseguiram ver sacudidos esses "pintelhos" já na recta final.

Assim, resumindo, na próxima sexta-feira, dia 17 de Janeiro, no Parlamento, a desagregação da nossa actual união de freguesias  será, como todas as outras, submetida a aprovação, esperando-se que, chegado aqui o processo e previamente filtrado pela Comissão, não surjam obstáculos inesperados e que a coisa seja aprovada com naturalidade, até porque os partidos, nomeadamente PSD e PS, estão favoráveis no sentido da aprovação.

Mesmo que assim seja e consumada a aprovação, o processo seguirá depois para a promulgação ou veto do presidente da república. Há alguns dias aventou-se a ideia de que o presidente, por vezes imprevisível, iria vetar, mas este veio posteriormente a dizer que não teria razões objectivas para o fazer. 

Assim, mas novamente esperar e ver para crer, há a expectativa de que o processo não seja adiado ou vetado por Marcelo Rebelo de Sousa, o que implicaria um adiamento para as eleições de 2029 ou até mesmo ficar definitivamente pelo caminho, digo eu. 

Para finalizar este ponto da situação, que decorre da minha análise, reitero o que já escrevi noutro lado: Não sou de opinião de que as pequenas freguesias a desagregar, como Guisande, venham, só pela desagregação, a ser beneficiadas em relação à situação em contexto de uniões. Todavia, tenho a certeza de que também nada perderão com isso, pela simples razão de que em quase 15 anos de experiência, os benefícios directos da união, que fossem impactantes e diferenciadores, foram zero, ou até mesmo negativos, se não em todas, na maior parte das uniões, nomeadamente no aspecto de perda de identidade e proximidade dos eleitos com os eleitores para além de uma posição de subalternidade das pequenas em relação à maior de cada união.

Além do mais, a questão do valor da eventual desagregação para qualquer freguesia, como a de Guisande, vai muito para além da contabilidade, conforme já o escrevi antes neste meu espaço. Abrange valores identitários e de amor à terra que só não são compreendidos e valorizados  por quem não é de cá ou, sendo, tenha pouco ou nenhuma ligação afectiva e prefira a união, seja legitimamente ou por interesses partidários,  pessoais ou calculistas.

Não obstante, esta vontade de desagregação, sobretudo de Guisande, nunca foi nem poderia ser pessoal ou mesmo partidária, porque terminado o processo não pode haver vencidos nem vencedores. Apenas, de um lado a posição de quem entendia ser mais vantajoso este actual contexto, e do outro, a vontade de desagregação de quem preferia retomar novamente os seus destinos. 

Queira-se ou não, no processo da união, Lobão, pela sua posição, peso eleitoral e populacional, manteve sempre a preponderância e era a maior entre as demais. Ora isso percebe-se pelo facto de ali ter mantido a sede e de já em três mandatos o presidente ter sido sempre da área geográfica de Lobão, e com certeza que continuaria a ser assim no futuro. Por conseguinte, percebe-se o porquê de Lobão, por si só, não ter esse desejo de desagregação, porque tão somente nunca sentiu perder identidade, preponderância, nem qualquer sentimento de prejuízo de proximidade, antes com um sentimento de superioridade face às demais freguesias parceiras. 

Se o processo for agora concretizado e avançar, concerteza que não será fácil. Os resultados de uma mudança positiva e diferenciadora poderão não ser imediatos e concerteza haverá dificuldades e obstáculos, porventura logo no processo de listas e candidaturas. Esta, todavia, é uma questão que se colocará a seu tempo, pelos interessados nestas coisas, desde logo os partidos, mas desde já, e por mim fora de qualquer pretensão,  parece-me que a melhor solução seria de uma lista independente e única, a agregar todos os interesses e elementos dos vários quadrantes políticos, de modo a facilitar o recomeço de um novo ciclo, em que importa unir a população, e que certamente vai ser exigente. 

Para finalizar, de um modo ou outro, importará que as pessoas que vierem a assumir as funções, sejam capazes de resolver as dificuldades, que existirão, e sempre de forma diferenciadora e valorativa em todos os aspectos da gestão.

Por agora, não há muito mais a dizer. Esperar e ver!

10 de janeiro de 2025

A questão não é só contabilística


Li, há pouco, na SIC Notícias, que Aveiro é um dos distritos que vai sofrer mais alterações com a separação de freguesias (se tal vier a concretizar-se, digo eu).

Diz a notícia: "Se o processo avançar, a região verá o fim de 17 uniões de freguesia e a criação de 40 freguesias. Em dois dos casos, em Ovar e em Santa Maria da Feira, as populações estão ansiosas pela autonomia. Já os autarcas têm dúvidas de que a separação seja totalmente benéfica para as localidades mais pequenas."

Quanto às supostas "dúvidas" dos autarcas, relativamente às "localidades mais pequenas", de que fala a notícia, mas das quais não consegui descortinar quais são nem quais os autarcas duvidosos, apenas lanço esta questão:

Antes da agregação, por isso há já mais de 10 anos, a freguesia de Guisande já tinha orçamentos anuais a rondar ou mesmo a passar a casa dos 100 mil euros. Ora, exceptuando o primeiro mandato da união de freguesias, porque mais curto e desvirtuado com o pagamento de dívidas transmitidas, sobretudo de Guisande, desafio quem quer que seja, nomeadamente os tais "autarcas que se mostram duvidosos", a demonstrarem, tintim por tintim, onde é que em Guisande, em 7 anos - já não contando com este ano, último do actual mandato, porque incompleto - onde é que foram gastos 700 mil euros, correspondendo, grosso modo, aos tais 100 mil euros/ano? Claro, mesmo contando com custos proporcionais de pessoal e contas correntes.

Mesmo que fossem 90 mil por ano, onde foram aplicados 630 mil euros?

Admito que possa estar equivocado e que tenha sido possível, porque o dinheiro é coisa que se some como a água e gasta-se sem se ver onde, mas seria importante ver confirmada essa contabilidade para assim se perceber se qualquer uma das pequenas freguesias que vierem a ser desagregadas, por oposição a "beneficiadas", serão prejudicadas.

Fica-se à espera da resposta.

Em resumo, não sou de opinião de que as pequenas freguesias a desagregar, venham, só por isso, a ser beneficiadas em relação à situação em contexto de uniões. Todavia, tenho a certeza de que também nada perderão com isso, pela simples razão de que em quase 15 anos de experiência, os benefícios directos da união, que fossem impactantes e diferenciadores, foram zero, ou até mesmo negativos, se não em todas, na maior parte das uniões, nomeadamente no aspecto de perda de identidade e proximidade dos eleitos com os eleitores.

Além do mais, a questão do valor da eventual desagregação para qualquer freguesia vai muito para além da contabilidade. É mais do que isso e só não o compreende nem valoriza quem tem estado contra o processo.

Juntas de Freguesia - Indispensáveis mas de missão difícil



- Os Desafios da Gestão Financeira nas Juntas de Freguesia

Estaremos todos de acordo quanto à importância do papel das juntas de freguesia na gestão dos seus territórios e apoio às populações, dentro e no âmbito das suas competências. 

Todavia, no papel de cidadãos, nem sempre valorizamos o seu papel e regra geral, pouco dados a cidadania, apenas as vemos como entidades com obrigações de servir e tudo fazer. 

Concerteza que importa haver um sentido crítico e construtivo, porque é possível fazer bem em vez de mal, optimizar em vez de esbanjar e definir critérios que procurem um equilíbrio entre o que importa, que é fundamental e estruturante e o que é efémero, passageiro, aqui uma tentação permanente dos autarcas, muito focados no retorno e impacto nas redes sociais.

A gestão de uma Junta de Freguesia enfrenta hoje, como de sempre, desafios significativos, principalmente no que diz respeito à administração dos recursos financeiros disponíveis face às múltiplas necessidades da população. 

Aqui procuro fazer uma reflexão sobre as principais dificuldades encontradas e a complexidade de gerir expectativas com recursos limitados, num contexto comum a todas as freguesias, mesmo que todas com dimensões, territórios, populações, recursos e necessidades diferentes.

- A realidade orçamental

O orçamento de uma Junta de Freguesia é tipicamente constituído por transferências do Estado e das Câmaras Municipais, mas com receitas próprias limitadas. Grande parte destes recursos é imediatamente absorvida por despesas fixas, chamadas despesas correntes, tais como:

- Custos com pessoal (salários, seguros, contribuições sociais);

- Despesas correntes (água, electricidade, telecomunicações, software de gestão, material de escritório);

- Manutenção básica de instalações, equipamentos e veículos;

- Compromissos contratuais estabelecidos.


-O equilíbrio entre as necessidades e os recursos:

Após assegurar as despesas fixas, o montante remanescente para investimento e desenvolvimento é frequentemente insuficiente para responder a todas as necessidades da freguesia, que incluem, entre outros:

- Obras de beneficiação e manutenção do espaço público;

- Limpeza e higiene urbana;

- Apoio ao movimento associativo local;

- Programas sociais e culturais;

- Resposta a situações de emergência;

- Melhoramento de infraestruturas.


-  gestão do equilíbrio

Assim, qualquer executivo da Junta, com maiores ou menores recursos, vê-se assim forçado a, entre outros aspectos:

- Estabelecer prioridades rigorosas;

- Adiar intervenções necessárias mas não urgentes;

- Procurar parcerias e apoios externos, nomeadamente em diálogo permanente com a Câmara Municipal;

- Gerir expectativas da população e ter uma acção pró-activa e esclarecedora;

- Optimizar os recursos existentes, humanos e de equipamento;

- Encontrar soluções criativas para problemas complexos.


- O desafio da comunicação com os cidadãos:

Um dos maiores desafios actuais das juntas de freguesia reside no método e na forma de comunicação com os cidadãos, que frequentemente:

- Desconhecem as limitações orçamentais da autarquia;

- Não compreendem a complexidade da gestão pública;

- Exigem respostas imediatas para todos os problemas;

- Têm dificuldade em aceitar a necessidade de estabelecer prioridades;

- Comparam a sua freguesia com outras, sem considerar diferentes realidades orçamentais, dos volumes de receitas própria, das remessas do Estado e por outro lado, das despesas.


- Soluções ou caminhos para uma boa gestão:

Para melhorar esta situação, é fundamental:

- Aumentar a transparência na comunicação com os cidadãos, explicando claramente as limitações orçamentais

- Promover a participação dos cidadãos na definição de prioridades, nomeadamente em acções como orçamento participativo;

- Desenvolver estratégias de captação de recursos adicionais;

- Implementar medidas de eficiência e optimização de recursos;

- Estabelecer parcerias com outras entidades para maximizar resultados, incluindo protocolos com freguesias vizinhas.

Em resumo, a gestão de uma Junta de Freguesia é um exercício permanente de equilíbrio entre necessidades ilimitadas e recursos limitados. O sucesso desta gestão depende não só da competência técnica e administrativa dos seus responsáveis, dos eleitos políticos e dos colaboradores, pertencentes ao quadro de pessoal ou tarefeiros, mas também da compreensão e colaboração de todos os cidadãos.

É uma missão impossível? Quase! De resto, pela sua nataureza de uma entidade marcada por opções e ideologias políticas, haverá sempre lutas e obstáculos à gestão que nem sempre são racionais e numa perspectiva de bem comum mas antes de interesses pessoais e partidários. É pois, de extrema importância, que uma Junta administre com maioria na Assembleia de Freguesia ou com entendimentos multi-partidários mas sérios e consistentes para se conseguir estabilidade. Sem isso, a tarefa já por si difícil será quase impossível sob um ponto de vista de eficácia.

-

Américo Almeida


9 de janeiro de 2025

Amor à nossa terra - As diferentes dimensões

Procurando a definição do que é o amor à terra em que nascemos, de onde irradiam as mais fundas raízes, onde os nossos ancestrais lutaram e deram corpo a fazer de terras incultas campos férteis e de colinas e montes de tojo e urze, bosques produtivos, confesso que sinto-me sozinho, até mesmo desamparado na jornada. Mas exagero. Há, ainda bem, bons exemplares, bons guisandenses, em quantidade e qualidade, não só dos que marcham comigo desde essas passadas gerações, mas mesmo nos mais novos. Estes, em particular, são poucos mas bons, mesmo que ainda não assumam plenamente esse amor à terra, às suas coisas e gente, do passado e do presente e nem sempre apareçam quando é preciso dizer presente porque, mal geral, mesmo meu, admito, frequentemente procuramos estar de bem com Deus e com o diabo, umas vezes por tolerância e compreensão outras por calculismo, cobardia e conveniências pessoais ou corporativas.

Mas o amor à terra, no caso a Guisande, é o quê em concreto? A resposta é muito simples e simultaneamente complexa e pode definir-se de vários modos e que, para melhor entendimento, de acordo com o meu entendimento, divido nas seguintes dimensões:

1 - Dimensão identitária e cultural:

- A terra natal, a nossa aldeia, molda nossa primeira compreensão do mundo;

- As tradições locais, os modos de falar, os usos e costumes formam nossa identidade básica;

- A memória colectiva da comunidade torna-se parte da nossa história pessoal;

- Os rituais e festividades da aldeia criam um sentido de pertença, de orgulho;


2. Dimensão sensorial e afectiva:

- As paisagens familiares criam um mapa emocional na nossa mentalidade e moldam as nossas percepções de lugar, de espaço, incluindo os cheiros, da terra, das plantas, da cozinha, os sons característicos, da natureza, dos animais, das coisas, como o toque do sino; O clima e as mudanças sazonais que conhecemos intimamente e que marcam os nossos ritmos pessoais e sociais.


3. Dimensão social:

- Os laços familiares profundos e multi-geracionais, recebidos como legado ou herança dos nossos ante-passados:

- Os relacionamentos de proximidade com vizinhos e toda a teia de relações, no lugar ou no conjunto da comunidade;

- Conhecimento mútuo, apoio recíproco, sentido de comunidade e história compartilhada entre famílias.


4. Dimensão espacial:

- O conhecimento íntimo da geografia local, a familiaridade com cada caminho, cada curva, cada ponte, cada muro, cada pedra;

- A conexão com lugares específicos que guardam e nos remetem para memórias pessoais ou comunitárias;

- Sentido de protecção e segurança no espaço conhecido, como o nosso reduto, o nosso refúgio.


5. Dimensão temporal:

- O ritmo mais lento e natural da vida, a ligação com o passado através de mitos, lendas e histórias locais. A presença constante das tradições, mesmo que renovadas pelos imperativos dos tempos.

- O ciclo das estações marcando o tempo, as sementeiras, as colheitas, as festividades locais e religiosas.


6. Dimensão ecológica:

- Relação próxima com a natureza local e o conhecimento dos ciclos naturais;

- O conhecimento profundo e compreensão do território e seus recursos, a fauna e a flora, as águas, as nascentes, os ribeiros, os moinhos, as represas, as levadas, etc.

- A ligação profunda e afectiva com a terra através da agricultura, no respeito pelo que representaram na subsistência de famílias.


7. Dimensão psicológica:

- Sentido de enraizamento e pertença;

- Estabilidade emocional através da familiaridade e suas relações;

- Construção da identidade pessoal e comunitária;

- Segurança ontológica - sentido de existência e lugar no mundo.


8. Dimensão narrativa:

- As histórias locais que são passadas de geração em geração;

- Os mitos e lendas próprios de cada lugar, até de família, da comunidade;

- As narrativas familiares entrelaçadas com o espaço;

- A biografia pessoal e familiar inscrita no território.


Em resumo, este amor à terra natal numa aldeia como Guisande é particularmente intenso porque:

- A escala humana permite um conhecimento profundo do lugar;

- A proximidade cria laços sociais e afectivos mais fortes;

- O isolamento relativo intensifica o sentido de comunidade;

- A permanência das famílias cria continuidade e perpetuação histórica;

- O ritmo mais lento, que em meios urbanos, permite uma conexão mais profunda;

- A relação directa com a natureza fortalece o vínculo com o território.

-

Resulta de todas estas considerações que é um amor que se manifesta como:

- Saudade profunda quando ausente;

- Orgulho das particularidades e tradições locais, muitas delas singulares, únicas;

- Desejo de preservar e proteger;

- Sentido de responsabilidade pela comunidade;

- Conexão emocional com o território, com o espaço;

- Vontade de transmitir todos estes valores às próximas gerações.


Amo a minha terra. E amo porque, mesmo não mais do que outros, e vale o que vale, prezo-me por conhecer Guisande, cada caminho e rua, cada curva, cada árvore, cada nascente, cada represa, cada regato, cada moinho em ruínas, cada pedra que em forma de marco definia o território.

Conheço o património comum, as capelas, a igreja, as suas singularidades, parte do seu passado e presente. Conheço em cada lugar cada casa, a quem pertencem e quem nelas mora ou morou. Conheço as famílias, chamo as pessoas pelos nomes, conheço os pais e os filhos, Claro que não de todos, especialmente os mais novos, até porque a memória já me prega partidas, mas a maior parte. 

Claro está que não pode ter amor à terra quem nada disto compreende nem nada conhece, e mesmo que nascido por cá, não conheça mais que a frente da rua onde vive e a casa onde habita. Saindo dela para fora tudo lhes parece igual, seja aqui, em Lobão, Fiães, Lourosa ou Ermensinde. Não podem, pois, amar a sua terra nem compreender o que isso implica e que atrás procurei detalhar.

Para terminar esta reflexão ou, que para muitos não passará de uma mera lengalenga, seria bonito que tudo isto fosse praticado e valorizado em todos os momentos e lugares, em defesa da nossa terra, da nossa aldeia, de Guisande. Todavia, infelizmente, para usar as palavras do companheiro Carlos Cruz, por ora vai “reinando a indiferença”. Mas importa preservar e perseverar!


-Américo Almeida

18 de dezembro de 2024

Dia negro

Sabem os mais velhos, com idade e traquejo suficientes, que a vida é mesmo assim: um carrossel que, em círculo ou em oito, vai e vem. Tanto se nos afasta da vista o belo alazão branco como, num instante, volta a passar defronte do nosso olhar, garboso na sua crina em caracóis e no seu rabo ondulado.

Este traquejo, este viver, dá-nos, de facto, um outro olhar sobre as coisas e as pessoas: aqui, com o distanciamento cauteloso; ali, como se com uma lente de aumento, trazendo à relevância o mais ínfimo pormenor ou o mais recôndito defeito.

Deste modo, ensinados e precavidos – tantas vezes à custa de quedas e pancadas –, já não é com surpresa que tomamos conta de certas coisas ou novidades trazidas nos jornais ou assobiadas pelo vento. As íntimas, que dizem respeito só a nós, e também as públicas, por serem do interesse de todos ou, como se costuma dizer, da comunidade.

Assim sendo, e mais não digo, porque quem não aprendeu que aprenda; se novo, há-de ter tempo para ser ensinado, pois a vida nisso é uma disciplinadora mestra.

Por agora, é tempo de desencanto, sobretudo de desapontamento – mas não de surpresa. Desapontamento, porque, apesar da experiência e do aviso, andamos sempre com uma réstia de esperança de que as coisas e as pessoas ainda não sejam assim tão previsíveis, e de que valores como a palavra e a honra ainda valham mais que dez-reis de mel coado.

A História dá-nos conta de datas e factos, exulta os heróis, mas também lembra os traidores, os oportunistas e os vendidos. Haverá sempre Pétains e Régims de Vichy a apoiar e a colaborar com os invasores ou Miguéis de Vasconcelos a porem-se a jeito para serem atirados abaixo da varanda. Noutros tempos, sim, mas, por ora, não haverá é ninguém com “tomates” para o fazer, para limpar a casa. 

Afinal, há também aqueles que trocam de camisa, recuam das trincheiras e, como mulheres da vida, abrem as pernas e, de cócoras, vendem-se facilmente a quem lhes pague ou adoce a boca.

Cada um que faça e julgue como bem entender, mas por mim reservo-me à indiferença aos que tudo fizeram para o desfecho contrário às regras do respeito por quem pretendia seguir por si o seu caminho. São vários os que ficaram muito mal neste retrato. Importa não esquecer quem foram.

Não pode valer tudo!

22 de novembro de 2024

Louredo - Freguesia irmã?


A freguesia de Louredo é antiga. Pertence ao concelho de Santa Maria da Feira mas já pertenceu ao de Arouca.

Actualmente, no mesmo processo castrador, faz parte da mesma união de freguesias. Dizem que entretanto ambas as freguesias vão voltar a ser elas próprias, mas ver para crer.

De todas as freguesias vizinhas de Guisande (Lobão, Gião, Louredo, Romariz, Pigeiros e Caldas de S. Jorge), tenho para mim que Louredo é a mais parecida com Guisande, tanto em muitas das características do seu território, exceptuando o enclave de Parada, pela sua dimensão quase uma freguesia à parte, mas também pelas suas gentes, forma de ser e estar.

De resto, mais que às demais vizinhas, Guisande sempre teve uma ligação muito próxima à freguesia de Louredo. Pode esta minha consideração sofrer da influência de eu ter nascido e vivido em Cimo de Vila e por isso mais próximo de Louredo, e porque em centenas de vezes em criança percorri aqueles caminhos que levavam a Cimo de Aldeia, ao Codeçal ou ao Convento, bem como na partilha comum dos matos e pinhais do monte de Mó e dos férteis campos junto à ribeira das Corujeiras.

Assim, ia-se à missa e à festa a Vila Seca, à festa do S. Vicente, que se dizia de Ferreira mas que afinal era o Mártir, ao Ti Florentino consertar as bicicletas, ao alfaiate do Concharinha mandar fazer calções ou calças ou nelas aplicar umas quadras, ao alambique a Tozeiro entregar bagaço e trazer aguardente, etc, etc.

Já em adolescente eram por lá alguns serões e as desfolhadas por Louredo eram mais generosas e de raparigotas sorridentes. Até quando as maleitas batiam à porta e entravam no corpor, passava-se por Louredo a ir ao Dr. Alexandrino no Carvalhal.

Mesmo na igreja paroquial de Louredo há ali obras realizadas por guisandenses e até a residência paroquial terá sido mandada fazer, por 1903, por Custódio António de Pinho, avô paterno do ainda pároco Pe. Eugénio Pinho, este filho de António Baptista de Pinho, que era da Casa da Quintão, aqui de Guisande. Esta casa abastada tinha noutros tempos muitas propriedades dispersas por Louredo.

Concerteza que um freguesia tem sempre ligações de várias naturezas às freguesias vizinhas, incluindo familiares, porque uns e umas casam-se com outros e outras, mas mesmo que sendo apenas a minha percepção, e sob um ponto de vista de tempos já passados e não tanto na actualidade, creio haver, de facto uma ligação mais homogénea a Louredo.

Já de Lobão, as relações nunca foram por aí além, porque estas sempre com um sentimento escusado de grandeza e bazófia, com muita gente boa mas no geral com características de pouca empatia pela vizinhança. De lá, em debandada de pinhoeiros e jericos e mulas, subiam ao nosso monte de Mó “colher” tudo quanto eram pinhas e com fama de levar outras coisas pelo caminho de regresso. Rivalidades e alguns pontos acrescentados aos contos, concerteza, mas nunca houve fumo sem fogo.

De S. Jorge, talvez pela humidade da “cova” e do cheiro a podre das suas águas, como se dizia, a coisa nunca foi melhor, no geral empertigados e pouco dados a reconhecer os valores dos demais e em muito daí a recusa da freguesia em tomar parte com ela aquando da formação das uniões de freguesia, preferindo-se Lobão numa de “mal menor”. A forma abusiva e de desconsideração como considera de seu a parte do que é o lugar de Azevedo, não reconhecendo as evidências de limites e registos, surripiando marcos que definiam os limites, também não ajudou em tempos mais recentes a uma melhor simpatia.

Gião, porque os acessos directos quase não existiam, e pelo meio, ali pelos Marinhos, falava-se de poiso de quadrilhas de assaltantes, apenas ali se ía por Maio à festa da Senhora da Hora ou forçadamente a caminho de Canedo ao médico local e pouco mais.

Romariz, boa e antiga terra, de castro e capelas, talvez porque os caminhos eram sempre a subir, também nunca vingou uma forte ligação e se alguma, com mais importância, talvez a Duas Igrejas.

Pigeiros, tem também muito das características de Guisande e Louredo, e durante muitos anos até partilhamos o mesmo pároco e padres, mas a ligação formal também nunca foi muito substancial, talvez mais do lado de Estôze por ser lugar próximo. Apesar disso dali resultaram fortes ligações familiares como da família Costa e Silva e Gomes Leite, que em Guisande se uniram a famílias abastadas na Casa da Quintão, à família leite Resende (Casa do Dr. Inácio) e a um ramo da Casa do Loureiro, acrescentando hectares de campos e pinhais.

Em todo o caso, os tempos mudaram, rasgaram-se estradas e caminhos a unir todas as freguesias e aos poucos os valores, identidades e características que eram específicas e intrínsecas das diferentes populações, foram-se dissipando e hoje já quase que somos todos farinha do mesmo saco, peças moldadas do mesmo barro, com todas as virtudes e defeitos comuns.

Todavia, é sempre importante alguma mistura social e cultural e da diferença resulta a riqueza da diversidade. Temos, pois, os vizinhos que temos e eles têm-nos a nós..

18 de novembro de 2024

Quase dois anos depois, oxalá que sim!


A Câmara Municipal de Santa Maria da Feira tem em andamento um programa de requalificação de parques infantis e polidesportivos no concelho. Nesse âmbito o rinque polidesportivo de Trás-os-Lagos, em Casaldaça - Guisande, junto à habitação social, tem estado em obras. De resto, já escrevi sobre o assunto há quase dois anos, aqui. Reitero agora tudo o que então opinei.

Estando agora a ser concretizada,  é uma medida interessante e importante, face ao abandono e degradação do espaço e de algum modo surpreendente porque por estas bandas as obras e apoios são coisas raras. De acordo com o anúncio público, o valor base do procedimento do concurso rondou os 182 mil euros o que é significativo.

Todavia, importa saber se o espaço vai ser devidamente usufruído e aproveitado e por quem. Há algum grupo ou associação que o vá dinamizar e dele usufruir com actividades diárias ou semanais? Ou, depois de estreada a renovada instalação voltará ao abandono ou a uma utilização meramente residual e novamente como estendal?

Oxalá que sim, que seja devidamente aproveitado, sendo que com a actual dinâmica dos grupos e associações da freguesia, quase inexistente, será um pequeno milagre se tal vier a acontecer. Além do mais, ninguém gosta de jogar debaixo de chuva ou a coberto da noite. Mas deseja-se quem sim, até para não ser dinheiro esbanjado! Que o impulso de coisa nova ou renovada seja gerador de um interesse na sua utilização, é o que se deseja! Quero acreditar que a utilização passará pelo Guizande F.C.. veremos em que moldes e se haverá rentabilidade e aproveitamento justificado do espaço.

Quanto às obras previstas pretende-se uma manutenção geral à respectiva instalação desportiva. Os trabalhos englobam a demolição de placas de piso, lavagem e limpeza de todo o piso do polidesportivo e murete de vedação, pintura dos muros de vedação, substituição das estruturas metálicas de suporte das redes de vedação e substituição das respetivas redes.

Será ainda assegurado o fornecimento de equipamentos desportivos, aplicação de novo piso e realização de marcações desportivas.

Será executado um passeio em pavê hexagonal para garantir as acessibilidades ao polidesportivo. O percurso irá seguir básicamente as cotas naturais do terreno. Execução de percurso suave garantindo a inclinação suave de ≤6%, para cumprir as acessibilidades ao polidesportivo.

11 de novembro de 2024

"Correio da Feira" - Fim anunciado


Ontem, no escaparate da loja da BP, aqui em Guisande”, peguei num exemplar do jornal “Correio da Feira” e li o que já poderia ter lido há 6, 10 ou 15 anos, que a coisa ia terminar por ali, deixando apenas a incógnita da “suspensão por tempo indeterminado”.

Como estas coisas não se anunciam assim de ânimo leve, sem mais nem menos, tinha escrito o habitual rosário de justificações, nomeadamente,  “...são várias as razões que levaram de novo o jornal à sua insustentabilidade. Convém referir a primeira, como também convém referir que é a mesmíssima que leva à insustentabilidade de muitos outros títulos, dezenas, centenas de muitos títulos neste país e por esse mundo fora. 

O número de assinantes é insuficiente para manter um jornal em actividade. Diariamente há desistências. Cada vez há menos e menos leitores interessados em assinarem, ou manterem a sua assinatura na imprensa profissional. Há um contínuo desrespeito pela profissão de jornalista. Poucos, e por isso insuficientes, estão interessados em pagar para se fazer informação profissional e isenta….concluindo, somos todos, enquanto sociedade, quem está a assinar o óbito da Imprensa. Portanto, como sociedade, assumamos as nossas responsabilidades!”.

Ora este “...assumamos as nossas responsabilidades!” também é chapéu que me cabe na cabeça e tanto mais que fui assinante do jornal, mesmo que na versão digital.

Com mais ou menos “rodriguinhos”, é há muito sabida a dificuldade da imprensa e sobretudo a escrita e por maioria de razões daquela que tem pouco expressão como a regional ou concelhia. Se é certo que com as plataformas digitais os problemas aumentaram, apesar de também criar novas oportunidades e diferentes alternativas, o certo é que as dificuldades do sector são até muito anteriores e à custa delas já haviam ficado pelo caminho grandes títulos da nossa imprensa, desde o “Século”, o “Diário de Lisboa”, “A Capital” e outros diários mais a norte como o “Primeiro de Janeiro” e o “Comércio do Porto”, etc.. Mesmo os que se mantêm, como o “Diário de Notícias”, de que também fui assinante” e o “Jornal de Notícias”, andam constantemente com o nó na garganta e como diz o povo “a cagar e a tossir” e lá vão indo e andando, mais a fazer de conta e com apoios por vezes duvidosos do que por resultado de bom trabalho e boas práticas empresariais e jornalísticas

Não vou, naturalmente, estar aqui a esmiuçar a questão porque não sou do sector nem nele tenho interesses para além da percepção de mero leitor.

Em todo o caso, mesmo que com todas as dificuldades do contexto, as responsabilidades residem em muito em, tantas vezes, não ter sido capaz de garantir o interesse dos leitores e assinantes.

Por exemplo, no caso do “Correio da Feira”, quando fui assinante online, a plataforma era lenta, pouco apelativa, continuava com excesso de publicidade e esta a atravancar o espaço de leitura e as notícias poucas, de pouco interesse, como “pão recesso e sem miolo”. Ora continuar a ser assinante para pouco ou nada receber em troca, convenhamos que era pedir muito. Assim descontinuei e do lado de lá da linha também não mostraram interesse em rebater ou a encaixar as queixas ou incentivar à renovação. É o que é.

Não me surpreende, pois, este desfecho como já não tinha surpreendido o do “Terras da Feira” que depois de um crescimento insuflado, mandado por "testas de ferro", andou a estrebuchar uns tempos até se extinguir.

No caso destes dois importantes jornais concelhios, sem prejuízo de acolher o contraditório, parece-me que em muito padeceram da acção, mesmo que involuntária, de maus políticos e de fracos empresários. Durante um bom período percebeu-se que representavam “a voz dos donos”, estes "testas de ferro de outros interesses", cada um a puxar a sardinha para a brasa da sua partidarite, como se de algum modo fossem uma espécie de “Avante”, sendo que este com a vantagem de não enganar ao que vinha.

Posto isto, pessoalmente entristece-me que um jornal centenário”, mesmo que durante uma grande parte da sua longa vida de 127 anos o seu conteúdo fosse pouco relevante sob um ponto de vista noticioso, sendo mais da Feira, vila ou cidade, do que do concelho, mas mesmo assim só por essa história e longevidade mereceria ser mais acarinhado e continuar a testemunhar esse legado centenário.

Assim sendo, acredito que mais mês menos mês alguém retomará o título e depois poderá ser o mais do mesmo, porque será preciso muito para que um jornal seja sustentável, sem apoios públicos e institucionais, que de algum modo ponham em causa a imparcialidade e isenção da sua função de formar e informar de todos para todos.

Neste concelho gastam-se milhões em patuscadas e entretenimento de massas e talvez haja algum para apoio a um jornal concelhio mas, sinceramente, não estou a ver como, tanto mais que sem colocar em risco a tal necessidade de imparcialidade e choque de interesses. Não sei! O que sei, é que foi dada a notícia de que o título está suspenso de forma indeterminada, seja lá o que isso signifique para além do óbvio.

Se regressar como um jornal de qualidade, com uma cobertura do concelho, independente e imparcial, não me custará a voltar a ser assinante, mesmo que numa perspectiva de ajudar. A ver vamos mas em rigor sabemos que não será nada fácil porque os tempos, os meios e os hábitos muderam de forma substantiva. 

Espero, memso, que como disse o director nas suas palavras finais do Editorial, que não seja um adeus.

7 de novembro de 2024

IMI, o imposto estúpido e injusto

Acabei de pagar a minha segunda das duas prestações anuais do IMI - Imposto Municipal sobre Imóveis. É como é tão prazeroso pagar este imposto ao Estado, ou, através dele, à Câmara Municipal. No fundo é pagar uma renda de um prédio que é nosso e que por isso não lhes pertence nem um cêntimo gastam para o conservar. Mais prosaicamente, numa rima com sentido, "é pagar para ser fo..do".

Dizem, com razão, que este será dos impostos mais estúpidos. Mas, acrescento, também dos mais injustos e desde logo porque ao edificar-se uma habitação, já se pagou projectos, taxas e licenças e no caso até cedi terreno para alargamento da rua e construí passeio público na frente do prédio. Na compra do terreno paguei sisa, imposto de selo, etc. Na construção paguei IVA, desde a areia aos tijolos. No empréstimo continuo a pagar juros e imposto de selo.

Mas, como diz o outro, mesmo sabendo que é um roubo travestido de legalidade, que lhes faça bom proveito, sempre lhes dará para patrocinar umas valentes patuscadas. Alguém tem que pagar os desmandos!

Em contrapartida, conheço por cá alguns doutores e engenheiros que estando a viver nas suas belas e boas casas há dezenas de anos, porque, ao arrepio da lei, ainda não solicitaram licenças de utilização, vão escapando a este imposto estúpido, pagando valores mínimos do prédio, tantas vezes ainda na condição de rústico, e no futuro sujeitos apenas à liquidação dos últimos quatro anos (creio que ainda vigora essa regra). Há, de facto, crimes e ilegalidades que ainda compensam.

Siga, que é Portugal, brando com os incumpridores e forte com os que cumprem!

4 de novembro de 2024

Por enquanto isto não é um emprego


Há dias questionou-me alguém de consideração, de que há algumas situações ou eventos na freguesia a que nem sempre dou notícia ou destaque aqui nesta página ou mesmo nas minhas redes sociais, nomeadamente no grupo privado "Guisande: Ontem e hoje". E gostaria essa pessoa que sim, pois é assíduo leitor e como se costuma dizer, não perde uma.

Ora eu fico satisfeito com esse interesse e sei que apesar de ter por cá leitores assíduos e interessados, e que assim justificam as centenas de visitas diárias, este espaço será porventura mais apreciado e seguido na nossa comunidade emigrante do que propriamente cá pela terra. Por lá eles leem com interessse e saudade; por cá, quase sempre por curiosidade e não raras vezes para saber qual a parte do lombo onde doi mais para melhor aplicar as alfinetadas, e não é para tratamento e bem estar como com as agulhas na acupuntura. Adiante, pois sei do que a casa gasta!

Não obstante, e tal como respondi a esse fiel leitor e seguidor, esclareço, por via de dúvidas, que este espaço é pessoal e não é nenhum jornal nem uma estação de rádio nem o seu autor tem responsabilidades de publicar tudo o que se passa e acontece, de positivo ou nem por isso. Por enquanto isto não é um emprego nem um arquivo. Não tenho, pois, nenhuma ou qualquer obrigação. Por isso publico o que quero, quando quero, como quero e quando posso e se muitas vezes não dou destaque a uma ou outra coisa, pode nem ser por algum motivo especial ou desinteresse  mas somente por esquecimento, desmazelo, até preguiça, ou porque entendo que não é relevante assim a ponto de merecer destaque. Além do mais, algumas dessas situações já são partilhadas nas redes sociais até à exaustão pelo que republicar ou repartilhar seria apenas chover no molhado.

Assim sendo, reitero que este é um espaço pessoal e por isso sem qualquer responsabilidade de outra natureza. Não tenho obrigações com quer quer seja, nem comigo próprio. Obrigações tenho-as no meu emprego porque é suposto que o patrão me pague, pelo que é do trabalho e do correspondente ordenado que procuro viver.

Em resumo, este espaço, bem como os espaços nas redes sociais, nomeadamente no Facebook, é pessoal e não rola por conta de alguém que não apenas pela minha vontade e disponibilidade. Quem quiser mais, que compre o jornal, ouça a rádio e veja a televisão.

Por aqui vai-se fazendo o que se pode! 

28 de outubro de 2024

Centro Cívico do Centro Social - À vontade mas não à vontadinha

O Centro Cívico de Guisande é um equipamento da freguesia, mas é sobretudo dos associados já que pertence a uma colectividade, à Associação do Centro Social S. Mamede de Guisande. Está, pois, por princípio, ao serviço da freguesia, da comunidade, mas sobretudo ao serviço dos seus utentes e que em primeira análise sejam seus associados, que pagam quotas, que ajudam à sustentabilidade do equipamento e das actividades nele previstas ou realizadas. É assim em qualquer colectividade.

Todos sabemos que ainda está por cumprir o objectivo principal que levou à sua edificação, que é ser Centro de Dia e de apoio domiciliário, essencialmente de ajuda à nossa comunidade sénior. Apesar de disso, porque a política e os políticos são no geral pessoas de má reputação, pouco ou nada confiáveis nem recomendáveis, em que a palavra e as decisões raramente são cumpridas, tal objectivo continua por concretizar mesmo tendo sido aprovado há pelo menos uma década. 

Vieram as famosas cativações do ministro Mário Centeno e de lá para cá, mesmo com a mudança de governos, a coisa continua por cumprir.

Assim, neste estado de morto-vivo, tem andado a Associação do Centro Social e do seu Centro Cívico, funcionando parcialmente, com muitas dificuldades e diga-se, em grande parte pela dedicação e dinamismo do que foi o seu presidente da Direcção, Joaquim Santos, e agora presidente da Comissão Administrativa, porque, recorde-se, a associação continua sem corpos-gerentes eleitos pela simples mas não dispicienda razão de que ninguém apareceu para tomar conta dos destinos. Ninguém quer nada. Ninguém quer trabalhar, sobretudo de graça e para os outros. Eu próprio me cansei e depois de ter tomado parte em vários mandatos, estou sem vontade e paciência em continuar.

Neste contexto, triste mas real, apesar disso o Centro Cívico tem-se mostrado como um equipamento fundamental às dinâmicas da freguesia e dos seus movimentos, como tem sido, entre outros, no apoio às comissões da Festa do Viso, agora do evento Trail do Viso, também do Grupo Solidário, etc, etc. Está, pois, a cumprir o seu papel mesmo que em situações em que formalmente não tinha essa obrigação, porque dele tem beneficiado muita gente que não é sócia, não quer ser, não paga quotas, nem contribui. 

Ora isso cria desigualdades e outros problemas. Afinal, tantos, como eu, que anualmente têm pago as suas quotas, quais os benefícios que colhem comparativamente a quem não paga e usufrui nas mesmas condições das dinâmicas ocorridas no Centro Cívico? Em rigor, nada, tirando um ocasional desconto num qualquer passeio, que nem todos aproveitam. Talvez por isso tem aumentado o número de sócios que desistem de pagar quaotas.

Com tudo isto, considero que o à vontade não tem que ser à vontadinha. O Centro Cívico mesmo que posto à disposição dos grupos, movimentos e eventos, tem responsabilidades, tem despesas, tem encargos, desde logo com a limpeza, a electricidade, a água, etc, etc. Ora não me parece bem, que depois desse aproveitamento não haja uma compensação por parte dos grupos ou movimentos utilizadores, tanto mais quando se registam saldos positivos dessas actividades. 

Ainda agora, foram apresentadas e fechadas as contas da Festa do Viso, com saldo positivo, e apesar das várias utilizações do espaço do Centro Cívico ao longo do ano, de acordo com o seu presidente, Joaquim Santos, ainda nada lhe foi entregue como compensação para os muitos gastos, ao contrário da sua expectativa, nomeadamente por ter havido saldo positivo.

Ora, a confirmar-se, não me parece correcta esta situação. Ajudar, colaborar, com certeza que sim, mas dentro do possível com alguma compensação para os gastos. É o mínimo e compreensível.

Sou, pois, de opinião que continue o Centro Cívico a estar ao serviço das dinâmicas da freguesia e da paróquia, mas com todas essas utilizações a serem previamente protocoladas e com caderno de encargos, para que não seja uma utilização abusiva ou oportunista e que não tenha em conta a justeza da compensação e da natureza da associação, uma entidade que precisa de meios para subsistir. Era só o que faltava que fosse a coisa sem qualquer controlo e os sócios a pagarem para alguns desmandos.

Mas isto sou eu a opinar, que ainda sou sócio, que tenho pago desde há vários anos as minhas quotas (duas) à associação. 

Haja, pois, bom senso e algum respeito porque à vontade não deve ser à vontadinha.


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Nota de esclarecimento: Já após a publicação da opinião acima, fui contactado pelo Nelson Valente, Juiz da Comissão de Festas desta edição de 2024, a esclarecer que o que foi escrito quanto à compensação ao Centro Social não corresponde inteiramente à verdade pois durante a realização dos diferentes eventos de angariação de fundos a Comissão de Festas foi pagando, e por diversas vezes, alguns valores ao Centro Social. E que mesmo do saldo apurado não está posta de lado alguma outra compensação final sendo que naturalmente a maior parte será para aplicar em obras e necessidades da capela.

Quanto à eventual contradição, obviamente que desconhecia se houve já compensações durante os eventos, e do que referi quanto à expectativa que o Sr. Joaquim Santos, presidente do Comissão Administrativa, tinha em receber uma compensação em resultado do saldo positivo, foi-me, obviamente, transmitida pelo próprio e este nunca fez referência a anteriores recebimentos.

Assim, resulta daqui, que pela minha parte peço desculpa por não ter ouvido primeiramente ou como contraditório, a versão da Comissão de Festas e por naturalmente confiar na informação que me foi dada pelo responsável do Centro. Não significa que este tenha mentido mas de facto não me contou a história toda e faria toda a diferença se o tivesse feito pois o sentido da minha opinião seria diferente no que toca à Comissão de Festas.

Posto isto, a ter sido assim, e feito o esclarecimento, acredito que a Comissão de Festas fez o que tinha a fazer, já que na justa medida foi compensando pela utilização do Centro Cívico nos diferentes eventos. 

Como eu disse, o Centro Cívico deve estar ao serviço da comunidade e das suas dinâmicas, grupos e movimentos, mas importa que na medida justa haja compensação, sobretudo quando há saldos positivos nas actividades, pois o Centro Social tem encargos e despesas fixas que alguém tem que pagar.

Finalmente, se algum equívoco houve, resultou também da legítima expectativa que me foi expressa pelo responsável do Centro Social em vir a receber alguma compensação e esta não ter sido feita antes do fecho das contas e da sua divulgação pública. Porventura essa compensação, a ser feita, poderia ter sido incluída nas despesas e não na parte da gestão e aplicação do saldo. São diferentes maneiras de ver a questão. Eu teria incluido nas despesas.

Fica, pois, aqui este devido esclarecimento. De minha parte reitero o pedido de desculpas por algum equívoco e renovo os parabéns à Comissão de Festas cessante pelo bom trabalho desenvolvido e reforço a ideia base de toda este opinião de que nestas coisas deve haver colaboração entre as partes e num sentido de justeza e equilíbrio e não apenas um mero aproveitamento do Centro Cívico, pois queira-se ou não, é uma colectividade com sócios, muitos deles a pagar quotas ( e só estes é que têm essa legitimidade) aos quais tem que se prestar contas no final de cada ano. Ora eu, como sócio pagante, não gostaria que, na aprovação do relatório e contas da colectividade para a qual contribuo, ficar a saber que as instalações foram cedidas a A, B ou C sem que daí resultasse, senão lucro, pelo menos uma compensação justa para as despesas decorrentes. Quem pode estar contra isto?

17 de outubro de 2024

O raio da dicotomia

Confesso que nos últimos tempos a relação ou estado de alma com a minha freguesia tem sido pautada por uma dicotomia que ainda não consegui deslindar. Por vezes ainda consigo ver nela a pujança, vontades e originalidades das décadas de 70 e 80, num desabrochar do jardim de Abril, onde havia intervenção entre adultos e jovens. Havia lugar à política, ao clube e ao futebol, que uniam e o campo de jogos aos Domingos era uma praça de gente de todas as idades.

Os jovens eram criativos, juntavam-se e do pouco faziam muito. Havia escola de música, teatro, biblioteca, jornal e rádio. Havia associações culturais e recreativas.

A paróquia ainda era um rebanho com poucas ovelhas tresmalhadas e o pastor respeitado e todos congregava à ordem de reunir.

A freguesia tinha vida, pulsava, mostrava-se capaz de transpor a sua pequenez e avançar mais além, com uma identidade muito própria, dela e nossa.

Depois veio um período sensaborão, nem sim nem sopas, nem carne nem peixe, e aos poucos a existência comum tem vindo a erodir, a esvair-se. Na roda da vida, os mais novos cansaram-se e ficaram velhos, os mais idosos alquebrados pela idade e doença partiram cada um na sua vez. A emigração aumentou, a natalidade baixou e para cada dezena de gente que parte definitivamente nascem uma, duas ou três crianças.

Os cafés, locais de convívio e tertúlia, fecharam portas ou encerram cedo. As escolas, outrora cheias de criançada e do seu pulsar de vida, há anos que fecharam ao ensino e abriram-se ao abandono. Do aproveitamento delas, incluindo o Centro Cívico, nem todos têm remado para o mesmo lado e não falta quem espalhe pedras e cascas de banana pelo caminho. A igreja deixou de estar cheia e os lugares vazios são quase sempre mais que os ocupados.

A política deixou de despertar interesses e já não há militantes, delegados, simpatizantes, nem nada. O clube de futebol quer ressurgir, vai resistindo, mas nunca mais será como dantes e o eco da multidão a celebrar o golo já não se faz ouvir fora dos muros do recinto.

Nuns impulsos, há jovens que se congregam a querer fazer coisas, mas como flores colhidas a cada Primavera, em breve murcham e perdem a cor e o aroma.

Cada vez mais as pessoas não vivem nem convivem fora de portas e o sentido de comunidade perde-se a olhos vistos. Ainda se veem em dias de festa grande ou de celebrações, mas ninguém passa daí, nem quer assumir cargos ou funções a favor dos outros, de todos. É um egoísmo latente este que vai ficando por entre portas numa mera obrigação de contribuintes, de serviços mínimos, e quanto ao resto alguém que faça ou organize porque nada é com eles mas sempre com os outros.

É certo que esta coisa da união de freguesias em nada ajudou e só veio abafar a realidade que já mal respirava, promovendo o distanciamento, a indiferença, o deixa andar num crescendo de desinteresse.

E vai sendo assim. E contudo, temos tudo. Temos internetes e redes sociais capazes de chamar, de convidar e mostrar. Temos grupos e grupinhos no Facebook e Whatsapp onde combinamos e partilhamos coisas, mais ou menos pessoais, mais ou menos generalistas mas quase sempre pouco a favor do todo.

Temos todos bons carros e boas estradas, computadores e câmaras de fotografar e filmar nos bolsos dos casacos e calças. Comunicamos à velocidade da luz e vemos em directo os rostos de com quem falamos nos antípodas, no Brasil ou na China. Já não há cartas nem esperas pela volta do correio.

Mas tendo tudo, temos nada, porque fora desses casulos virtuais, online, já quase não nos reconhecemos na rua e quando passamos uns pelos outros, sendo incapazes de traduzir num olá, num sorriso, em dois dedos de conversa, o que expressamos online, por emojis ou likes. Somos uns ricos pobres, com tudo e com nada, com mãos cheias de vazio.

Mas esta dicotomia, faz das suas e num repente, ignorando este estado das coisas e das gentes, parece que dá vontade de voltar a acreditar e pensar que as coisas vão melhorar, que cairemos na realidade e aos poucos iremos fazer caminho juntos e estreitar laços e criar comunidade. Jovens e adultos serão capazes de fazer novas coisas porque diferentes são os tempos. Que a freguesia e a paróquia serão capazes de valorizar o legado que os antepassados deixaram com sacrifício e vontade. Entraremos num novo ciclo de fazer e saber fazer, de reforçar a nossa identidade e dela nos orgulharmos.

Mas, tantas vezes, nesta crença, nesta vontade de que seja assim, lá vem algo ou alguém como água fria a descarregar-se nesta ilusão, como pedra de mó a fazer-nos ficar presos à terra quando a vontade é voar.

E recomeça o ciclo da crença e descrença. O raio da dicotomia volta a enredar-nos, a mostrar e a demonstrar que não será fácil qualquer inversão de marcha porque o caminho é sinuoso e estreito.

Em resumo, talvez o que nos faz ainda ter alguma crença em mudanças será mesmo este vai-e-vem, como também a querer significar que a seguir a cada Inverno haverá uma Primavera, mesmo que cada vez mais os tempos andem trocados e às tantas já nem sabemos se as flores exultam na Primavera ou se despontam no Outono.

Assim vamos indo e andando na espera e crença contínuas e cíclicas de que as coisas possam melhorar, numa permanente luta com a dicotomia. Afinal, a cola que ainda mantém esta esperança é o amor que ainda (alguns) temos pela nossa terra, o torrão onde fomos plantados e criamos raízes. Só por isso.

1 de agosto de 2024

Viagem Medieval? Não, obrigado!

 Há 20 anos que não ponho os meus pés na Viagem Medieval.

Apenas por umas poucas razões: 

1 - A primeira desde que, enquanto membro da Comissão de Festas cá da terra, solicitei um apoio da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira à componente cultural,  pela participação de duas bandas filarmónicas, e nem sequer merecemos resposta nem a atribuição de 1 euro que fosse.

2 - Não concordo que enquanto cidadão livre, defendido pela Constituição, que me permite a livre circulação no espaço público não o possa fazer durante quase duas semanas, numa zona nobre e ampla de uma cidade, convertida por esses dias num parque temático.

3 - Se gostei da genuinidade das primeiras edições, e ainda no castelo, depressa percebi que a coisa se massificou. Não sou adepto de entretenimento massificado. Defeito meu, admito! 

Mesmo assim, da duração, creio que 4 dias seriam suficientes. 12 é um exagero e todo o constrangimento que daí decorre. Quem por ali vive ou trabalha, melhor é meter férias e dar de frosques.

Reconheço obviamente a importância económica para o concelho, seja quem disso beneficie, e serão muitos, mesmo que digam que quase sempre os mesmos, mas como dela não colho 1 euro, é daquelas coisas relativas, a desconsiderar porque de que vale sermos ricos por ter o ovo no cu da galinha do vizinho? Além do mais, nem tudo pode ser justificado pelo dinheiro e receitas.

Apesar de tudo, é engraçado ver tanta gente feliz a fazer de conta que é cavaleiro, a comer e a beber sem olhar a preços, sempre exorbitantes . Assim fossem tão empenhados estes nobres e valentes cavaleiros de fingimento a apanhar batatas. Não são, mas que se divirtam!

Passarei pelo burgo logo que que o espaço público atravancado seja devolvido aos cidadãos, assente a poeira das batalhas fingidas e dissipado o cheiro a porco no espeto.

26 de julho de 2024

Postal do dia - Obrigado ao Johnny Almeida e à Comissão Fabriqueira


Tenho escrito e falado sobre o assunto, o da necessidade de obras de conservação na nossa capela dedicada a Nossa Senhora da Boa Fortuna e a Santo António, popularizada como Capela do Viso. Em Maio de 2023 escrevi sobre isso e de que então já havia o propósito de realizar obras.

Mas não se realizaram e em Agosto desse ano, decorreu a nossa maior festa comunitária, a Festa do Viso, com a capela, sobretudo o interior, em mau estado do reboco das paredes, como uma nódoa ali a envergonhar-nos, perante nós próprios e sobretudo para quem nos visitava.

No arraial gastava-se dinheiro em artistas e em foguetes e na capela, em que reside o motivo maior, via-se aquela situação. As imagens que ilustram este apontamento são elucidativas.

Pensei eu que, entretanto, seriam feitas as obras para que a situação não se repetisse na festa deste no de 2024. Todavia, porque entretanto foi dada prioridade às obras do Salão Paroquial, felizmente já feitas e bem feitas, parece-me, o tempo ficou apertado e de novo a capela a correr o risco de se apresentar vergonhosamente à comunidade local e forasteira, tanto mais quando vamos ter o privilégio de cá ter o bispo auxiliar do Porto, D. Roberto Mariz, a presidir à celebração da Missa Solene.

Pessoalmente é uma situação que me envergonha e desde logo porque acho paradoxal que se faça uma festa com qualidade no arraial e na capela se veja esta pobreza de estado de conservação. Quem não se envergonha ou incomoda com isto?

Neste contexto, mesmo que a título pessoal e informal, questionei sobre o assunto alguém do Conselho Económico – Comissão Fabriqueira, no caso o Johnny Almeida, o qual reconhecendo a situação, se prontificou a analisar a mesma no sentido de ver se ainda a tempo, mesmo que de forma provisória, fosse possível retocar os pontos mais deteriorados.

Contactou-me entretanto a confessar que a situação era mesmo grave e que a coisa já não se resolveria apenas com uma intervenção ligeira. Assim, num compromisso de esforço e dedicação, e deslocando pessoal da sua empresa de outros trabalhos, comprometeu-se a que nestes dias e até à festa, irá fazer uma intervenção que seja já de forma definitiva, mesmo que apenas parcialmente, porque de facto não haverá tempo para mais.

Assim, começará a revestir as paredes interiores desde a parte do coro até onde for possível até aos altares laterais. A solução é a mais adequada, com aplicação de revestimento em placas de gesso cartonado, já que a solução de reconstrução do reboco pelo método tradicional, para além de mais demorado não resolveria o problema de humidades e salitre e dentro de poucos anos o problema voltaria.

Neste contexto, comprometeu-se pessoalmente e pela Comissão Fabriqueira a fazer os possíveis para nestes próximos dias revestir a maior área de paredes possível. O tempo é curto mas com competência será possível atalhar.

Pessoalmente não tenho quaisquer responsabilidades nem peso decisório na matéria e a minha interpelação foi apenas a título pessoal, mas não posso deixar de agradecer aqui publicamente a sensibilização do Johnny Almeida, e estou certo que de acordo e conhecimento com os demais elementos, incluindo o pároco Pe. António, bem como à sua dedicação e empenho, mesmo que com inconvenientes para a organização dos trabalhos da sua própria empresa.

É de facto meritória a sua acção e mesmo sem ver o resultado do trabalho, e se não surgirem obstáculos, acredito que pela sua competência será capaz de, mesmo que de forma incompleta, dar a dignidade adequada à capela e à altura da festa que recebe em honra de Nossa Senhora da Boa Fortuna.

Há alturas em que é preciso pôr mesmo o carro à frente dos bois, pois parece-me que nestas coisas de atalhar problemas, tantas vezes é pior nada fazer do que fazer menos bem ou de forma mais apressada.

Pela parte que me toca, obrigado ao Johnny Almeida e à Comissão Fabriqueira pelo interesse que acolheu a minha interpelação e se prontificou a mitigar essa nódoa na nossa capela no dia da sua festa maior.

Sem fazer julgamentos antecipados, até porque a equipa é nova, parece-me que é neste caminho que se tem que trabalhar, de forma decidida, sem as crónicas hesitações que só adiam e agravam os problemas e as necessidades.

Conservar com dignidade o nosso património comum é respeitar o legado de quem ao longo dos tempos o edificaram e transmitiram.

Bem hajam pela vontade, dedicação e acção!



22 de julho de 2024

A importância do Centro Cívico

Vamos ter na nossa Festa do Viso, neste ano de 2024, serviço de refeições que funcionará no Centro Cívico. Foi anunciado pela Comissão de Festas e confirmado pelo presidente da Comissão Administrativa do Centro Social S. Mamede de Guisande, Joaquim Santos. O serviço ficará ao encargo do Armando Ferreira e da esposa Isabel Paiva, do Café Fornos, pelo que aguarda-se boa qualidade e diversidade.

Confesso que fico satisfeito, desde logo porque sabe sempre bem almoçar, jantar ou petiscar na nossa festa. Pode ser tudo muito simples mas ali, naquele local e momento, as coisas sabem melhor.

Sem ter a certeza, presumo que tal como no ano anterior, teremos também a tasca do Guisande F.C., também a servir algo para comer. Seria interessante para além de que será bom para todos.

Fico satisfeito por outro lado pois percebe-se que a instalação do Centro Cívico, mesmo que ainda sem cumprir com o motivo principal da sua edificação, o de ser um Centro de Dia, e que ainda só não acontece por questões políticas e de poupanças e retenções em diferentes governos, tem sido de uma enorme utilidade no apoio das actividades da nossa comunidade, como é o caso da organização da Festa do Viso.

Todavia, e como nem tudo é perfeito, em contraposição a esta concensual utilidade da instalação, fica o desconsolo de constatar que para além disso, ninguém se chega à frente para assumir responsabilidades directivas no Centro Social. Ora como não apareceram listas candidatas nas duas anteriores assembleias gerais, o Centro Social está a ser gerido com serviços mínimos por uma Comissão Administrativa e que entretanto também terminará o seu mandato.

Temos assim esta duplicidade, com realidades diferentes: Por um lado o inegável interesse do Centro de Dia, e por outro lado o desinteresse e desvio às responsabilidades, levando a que ninguém apareça para assumir e dinamizar a Associação do Centro Social.

Onde é que isto vai levar? Não sei responder. Preocupa-me? Claro que sim, mas como já dei para esse peditório, fazendo parte dos corpos gerentes em vários mandatos, é responsabilidade que por agora não quero repetir. De resto, há muitos  e bons, e bem mais novos, na possível lista de espera. Assim tenham essa vontade como nós, quando éramos bem mais novos, tínhamos! É o que se espera da renovação de uma comunidade.

7 de julho de 2024

Postal do dia - Que não apenas pão e circo

 


O artista musical e divulgador do cante alentejano, Buba Espinho, actuou ontem nas Caldas de S. Jorge, com concerto integrado no Caldas Sabor & Arte, um evento a que não encontrei classificação, se festival, se feira ou outra coisa qualquer, mas seguramente dentro da categoria de comes-bebes com música e outros tópicos.

Vi apenas parte e gostei. Obviamente que conhecia o estilo e a qualidade e fiquei com inveja de não termos um artista com essa qualidade no Corga da Moura ou mesmo na Festa do Viso.

Reconheço, contudo, que não é coisa para jovens e adolescentes porque por ali não há batidas, spunk, spunk, barulho a rodos com decibéis a rebentar a escala e os tímpanos (como aconteceu no Corga da Moura)e gente que para ter assistência a potes não basta saber vestir ou cantar. Mas isso é outra história e de diversidade também se faz a diferença, goste-se ou não.

Apesar disso, Buba Espinho e os seus excelentes acompanhantes ajustam-se melhor a um ambiente de intimidade, se possível em espaço fechado. Assim, foi o que foi. Gente bastante, sobretudo de meia idade para cima, mas longe da que arrasta um qualquer artistazeco do hip-hop ou coisa parecida. Além disso, frio, muito frio, pouco convidativo a estar, mesmo a beber, do que muito vivem as tasquinhas. Mas é velho e sabido que a zona envolvente ás Termas e ao Uíma sempre foi de temperaturas de frigorífico.

Hoje ao início da tarde regressei ao espaço e voltei a gostar, mesmo que ainda sem grande movimento.

Apesar de tudo, já numa apreciação meramente prática e analítica, espanto-me dos valores que as entidades, sejam Juntas de Freguesia ou Câmaras Municipais, gastam neste tipo de eventos, trazendo artistas que naturalmente não vêm pelo modesto preço de um rancho folclórico. E esta realidade não é, naturalmente, exclusiva do nosso território, mas também de tantos outros. Por princípio não é negativo, claro que não, e além disso já vem do tempo da velha Roma a máxima de que a populaça anda feliz e calma quando se lhe dá pão e circo. Mas que se gastam balúrdios de dinheiro nestas coisas, nestes programas musicais, gasta-se. 

O problema nestas coisas, paradoxo ou contradição, é verificar que na maior parte das freguesias onde há esses elevados gastos, há ruas com pavimentos em reles estado, valetas, bermas e espaços públicos por limpar e obras e melhoramentos por fazer ou eternamente adiados. Ainda hoje, precisamente antes de voltar ao Caldas Sabor & Arte, passei pelo Parque da Várzea em Pigeiros, nas margens do mesmo Uíma, e é deplorável a falta de limpeza com lixo espalhado por todos os cantos, a afastar quem queira pique-nicar ou apenas saborear as sombras e pacatez bucólica do local. Fugi dali!

Precisamos, pois, de tudo, incluindo destes momentos de confraternização, de lazer e entretenimento, mas importa não perder o rumo ao bom senso e equilíbrio e não privilegiar apenas o pão e circo porque se considera que isso em termos eleitorais poderá  render frutos É preciso mais, bem mais, que isso.

Haja, pois, comedimento e tudo no ponto adequado. Sem espinhas!






1 de julho de 2024

Postal do Dia - Virão dias melhores?


Terminou a Visita Pastoral à comunidade interparoquial que integra as paróquias sob a responsabilidade do Pe. António Jorge de Oliveira, S. Mamede de Guisande, Nossa Senhora da Assunção de Pigeiros e Caldas de S. Jorge.

Por uma casualidade que não havia previsto há pouco mais de meio ano, concretamente em Outubro passado, quando o pároco me pediu para representar a paróquia de Guisande num encontro a nível vicarial de representantes das diversas paróquias, que por sua ver iria eleger a representante vicarial ao Conselho Pastoral Diocesano, acabei agora por ficar envolvido na organização do programa da Visita Pastoral.

Não imaginei que viesse a ter estas responsabilidades, pois apesar de já ter feito em diferentes tempos parte de vários grupos na paróquia, como Grupo de Jovens, Grupo Coral, Grupo de Leitores,Grupo da LIAM, aquando do pedido do Pe. António, não estava agora com qualquer ligação.

Seja como for, não me neguei a prestar essa colaboração ao pároco e à paróquia e a coisa avançou, com algumas freimas, muito envolvimento, mas terminou ontem, e parece-me que com um saldo muito positivo.

Paróquia e freguesia são conceitos diferentes mas que acabam por se interligar em muitos aspectos de vivências e convivências, tanto mais num meio relativamente pequeno como o nosso. Apesar disso, neste contexto da Visita Pastoral pude perceber com mais profundidade que ainda há caminho a percorrer no sentido de uma mais abrangente participação da comunidade. Esta ainda é muito reticente e mesmo renitente no que se refere à participação como um todo. É, pois, muito sectorial e uma grande parte da população, mesmo que convidada abertamente a participar em momentos de partilha comunitária, regra geral prima pela ausência numa atitude de quem considera que estas coisas são para quem vai às missas ou mesmo apenas para os que fazem parte dos grupos e dinâmicas da paróquia.

 Mesmo alguns dos pais de crianças que andam na catequese, nos diferentes anos, encaram isto como "biscates", inconveniências e perda de tempo. Se numa reunião há um atraso, vociferam e reclamam. Podem até esquecer a coisa nos momentos em que são chegadas as festas e festinhas, porque então aparecem, tiram a fotografia e vão a restaurantes celebrar, mas fora disso a atitude não é a mais positiva ou de participação interessada. 

Viu-se este quase desinterese particularmente no acolhimento ao Sr. Bispo, a cuja sessão nem foram todos os convidados, embora alguns com legítimas justificativas. Também na celebração da eucaristia campal, no Monte do Viso, e depois no jantar convívio partilhado, ficou muito aquém a participação da restante comunidade, não só da nossa paróquia como das demais.

Nestes aspectos não somos melhores nem piores do que as demais freguesias e mesmo das demais paróquias que compõem esta comunidade interparoquial. Se quisermos fazer este exercício, até em termos proporcionais ao tamanho das populações, atrevo-me a considerar que Guisande até estará bem na fotografia, mas mesmo assim é pouco.

Em suma, a freguesia ou a paróquia, no aspecto de entre-ajuda e participação já teve melhores dias. A razão não está na paróquia ou em quem a dirige ou em quem com ela colabora, mas tão simplesmente na mentalidade das pessoas e actuais hábitos de ocupação de tempos livres e entretenimento em que regra geral valoriza-se a vulgaridade, as banalidades, ou as coisinhas que permitem encher egos. Ainda o conforto da casa ou da tasca em detrimento de coisas que exijam algum comprometimento, canseiras e disponibilidade.

Os bons velhos valores dos nossos antepassados estão há muito em erosão. Os mais velhos, os que faziam e sabiam como fazer, porque passado que está o seu tempo de vigor, já pouco ou nada podem fazer senão assistir, com pena, a esta triste amostra de freguesia, quando comparada com a de há algumas décadas. No geral não temos sabido respeitar e dar continuidade a esse legado que nos deixaram.

É certo que ainda há muita coisa positiva e alguma gente capaz e interessada (veja-se, por exemplo, o empenho da Comissão da nossa Festa do Viso), e em face disso, como disse, no caso da Visita Pastoral o saldo foi bem positivo, ainda tanto nas coisas da freguesia como da paróquia, mas não tenhamos ilusões ou expectativas altas, porque o futuro não se prevê melhor. 

Só desejo que este meu algum pessimismo, que entendo mais como realismo possa, a curto ou médio prazo, ser desmentido e que afinal as coisas irão melhorar e teremos uma freguesia mais unida e participativa em tudo quanto lhe diga respeito. A ver vamos!