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29 de julho de 2025

Por entre a fumaça

 


Meio país está a arder, o que não espanta. Todos os anos, este caldo é preparado com os ingredientes do costume: Criminalidade relevada e sem penas adequadas, más políticas, falta de meios, recursos escassos e contextos climáticos cada vez mais adversos. 

O resto, as limpezas florestais e sua obrigatoriedade, é apenas um faz-de-conta, já que são poucos os que cumprem e muitos os que assobiam para o lado, face a um misto de impassividade e impotência das autoridades. Em Guisande, é só dar uma voltinha, apenas pelas ruas e deixando de lado os caminhos, para se ver com ambos os olhos os desrespeitos, com denso arvoredo até às valetas e mesmo sobre as estradas. Não obstante, com as limpezas a custarem mais que o valor de alguns dos prédios, convenhamos que a coisa não vá lá.

Assim, num céu enegrecido, quiçá com o incêndio que lavra por Arouca,o astro rei é por esta manhã um disco vermelho.

Ali, na berma da estrada, há cartazes políticos. À direita promete-se um concelho vibrante, seja lá o que isso queira significar. À esquerda diz-se que há outro caminho. Curiosamente, onde reina o PS vai-se dizendo que "no bom caminho", como se uma vez encontrado o caminho, seja esse o certo, sem alternativas, como a desmentir que "todos os caminhos levam a Roma". Além do mais há sempre o risco de quem se meter em atalhos meter-se em trabalhos, pelo que a analogia dos caminhos pode ser confusa. Quanto ao vibrante deve ter sido obra de algum iluminado publicitário, porque também não funciona, já que o quadro com que se vai pintando o território nem sempre é a cores e não faltam pontos ou manchas negras.

Por conseguinte, é apenas política e os slogans, na realidade, valem pouco ou nada, porque andamos nisto há 50 anos e sempre com os mesmos resultados. Já sabemos ao que vêm.

Mas importa haver sempre gente disposta, com pretensões a governar, tão bem quanto possível, e por isso há que fazer opções, se não todos, pelo menos a metade que costuma votar.

Felizmente que ao centro temos o anúncio da nossa festa, que sabemos que será já neste fim-de-semana. Assim, nesta exposição de cartazes, nem tudo são analogias!

25 de julho de 2025

É preciso agitar o pântano

Já vai por aí um entusiasmo desmesurado sobre a Viagem Medieval que, entretanto e por cerca de duas semanas, encherá a sede do nosso concelho com milhares de visitantes. Uns dizem que 500 mil, outros que 650 mil. Mas que vão fazer pela vida para chegar a um milhão, quiçá aspirando a 2 milhões. Isso é que era.

O interesse que vou vendo por aí, num entusiasmo infantil de gente armada em cavaleiros, senhores feudais, damas, bobos, jograis e outros quejandos, é proporcional ao meu desinteresse absoluto por este evento, sobretudo pelo modelo cimentado na componente gastronómica e da apropriação indevida do espaço público. O resto é entretenimento para encher chouriços, porque mais do mesmo, ainda que se mude a figura do rei. E anda-se há nisto há quase 30 anos. 

Muitos, que desde a quarta classe não leram uma linha da História de Portugal, ou do período da Idade Média, e que reprovariam num simples teste de escolha múltipla, dizem que é uma lição. De facto, nunca é tarde para aprender. 

Um sessão de recolha de sangue cativa o interesse de 20 pessoas, uma sessão de uma assembleia de uma associação cultural e desportiva local, menos de metade disso, uma peça de teatro, talvez 30 ou 40, uma sessão de leitura e poesia, provavelmente uma dezena, a apresentação de um livro, apenas os familiares, amigos e pouco mais, mas para estas farras de comer e beber entre a multidão, com concertos de música ou batalhas encenadas, é que resulta. "Panem et circenses". A fórmula pode parecer estafada mas já os romanos a aplicavam com êxito. Modernamente é replicada com igual êxito pelos autarcas e é vê-los entusiasmados com as ruas do burgo apinhadas com 100 mil pessoas diárias e a sonhar com o dobro disso. O céu é o limite. No rebanho há sempre lugar para mais um.

Apesar disso, desse entusiasmo de autarcas, sobretudo os que têm a jusante interesses eleitorais, a coisa funciona porque dá nas vistas e é manancial para as redes sociais, mas no resto, no que interessa ao dia a dia das pessoas, há ruas com erva de 2 metros a ocupar passeios, ruas interrompidas com abatimentos, estradas em reles condições, obras e melhoramentos por fazer, lixo por recolher, etc.  É o que é! Não há volta a dar e o mal vai sendo geral e só por isso se percebe que uma Câmara de um município com quatro mil e poucos habitantes, no interior do país (Penamacor), desbarate 150 mil euros num concerto de uma banda musical. Deveria haver limites para a pouca vergonha, ou pelo menos ao bom senso, mas não há. 

Para mim, depois de algumas das edições iniciais, mais genuínas, menos produzidas e dadas a especulações no que se vende, perdi o interesse por este evento. Sobretudo quando a coisa se tornou num negócio. É disto que estamos a falar. Um negócio, dos grandes e lucrativos e só por isso se percebe que certos dirigentes e certas figuras da organização andem por lá há decadas. Além do mais, na Idade Média não se passam facturas da caneca de vinho, do chouriço assado ou das sandes de porco. O Fisco por ali não meterá o bedelho. O controlo fiscal deve ser mesmo medieval.

Dizem que o evento representa centenas de milhares para a economia local. Sem dúvida, para os mesmos de sempre, dos que têm lugar cativo e sobretudo para a vizinhança. Por cá, o Café do Manel ou do Armando ficam a ver navios. A mim, nestes quase trinta anos, nunca me caíu um centavo no bolso. A economia é como a água da chuva, que se esvai por onde o terreno inclina.

Para além de tudo, é quase imoral, e de legalidade duvidosa, o que mais me faz espécie, que uma boa parte da zona nobre da cidade, de acesso livre e público, fique quase duas semanas condicionada e à qual se acede apenas pagando bilhete e usando a pulseira, uma espécie moderna marcação de gado. Quem pretender andar por ali livremente à sombra do Rossio ou do castelo, que tire o cavalinho da chuva, vá de férias e regresse depois de assentar o pó na relva seca. 

Pela sua dimensão e duração, há anos que  justificar-se-ía que este evento fosse realizado em recinto próprio, como numa Feira Popular, quiçá no Europarque, até porque dizem que é a cidade dos eventos.  Mas, está visto, não vão por aí, preferindo, sem oposição e numa de quero, posso e mando, ocupar e condicionar uma boa parte da cidade durante duas semanas, como um domínio privado.

Para os que adoram e não falham, bom proveito! Por mim, passo ao lado, mesmo que tenha que assistir a este massacre nas redes sociais, no antes, durante e depois. Já cansa!

Bem sei que estarei pouco acompanhado neste desinteresse, mas, porra, por vezes é preciso agitar o pântano e seguir em sentido contrário ao rebanho.

22 de julho de 2025

O PARP é parco de apoios e amplitude


Afinal, depois de tanto alarido, o PARP - Programa de Apoio À Recuperação do Património, promovido pelo nosso município, nomeadamente no que se refere a projectos apresentados por pessoas singulares, não passa de uma amostra. 

De facto, a ter em conta o regulamento, no universo do concelho serão apenas 10 os projectos a apoior e apenas com uma comparticipação de 25% do orçamento até ao limite de dois mil euros. 

Para além de tudo, o amplo leque de documentação e outras burocracias, estou certo, afastarão uma grande parte de quem pensaria aproveitar o apoio.

Tomando, como exemplo, os espigueiros tradicionais, só em Guisande são mais de 60. Significa isto que nem sequer dará uma média de um espigueiro por freguesia.

Concerteza que o que for apoiado e realizado ficará bem, mas convenhamos que foi muita a parra para tão pouca uva.

Desengane-se, pois, quem esperava ver este ou aquele bonito espigueiro recuperados. Nem sempre o que parece é e neste concelho gasta-se muito mas é em farras.

Quanto ao contexto de freguesia, considerando que os prazos para apresentar as candidaturas serão entre 21 de Julho e 15 de Outubro, por isso ainda na vigência da União de Freguesias, seria bom que pelo menos fosse apresentada pela actual JUnta a candidatura de apoio ao restauro das alminhas, nomeadamente no lugar da Igreja.


A recta final com muitas curvas



Estamos já em pré-campanha para as eleições autárquicas de Outubro próximo. Já são conhecidos vários dos cabeças-de-lista concorrentes às diversas freguesias, tanto pelo Partido Socialista como pelo PSD. É certo que pela parte de Guisande ainda nada foi anunciado de forma pública, mas acredito que entretanto.

O processo da desagregação da nossa União de Freguesias está em curso e a partir da tomada de posse da Assembleia de Freguesia e Junta, Guisande, como todas as freguesias saídas das uniões, passará a ter vida própria e a ser dirigida por gente da terra.

No caso da ainda nossa União de Freguesias, é sabido que o actual presidente ja foi anunciado como candidato pelo Partido Socialista à Junta de Freguesia de Lobão. Queira-se, ou não, daqui até às eleições estará a pensar no futuro e, por conseguinte, empenhado em criar condições para ser reeleito, o que, creio, não será difícil. 

Em todo este contexto, intencional ou não, e quero crer que não, começa a ser difícil perceber se temos o actual presidente da Junta apenas como tal ou se mais como candidato pelo PS à futura Junta de Lobão. 

Começo a perceber que a dinâmica da Junta na nossa freguesia já não é a mesma desde que a desagregação se tornou uma inevitabilidade. Começou com o recuar do compormisso na comparticipação financeira para o relvado sintético no campo de jogos no Guizande F.C., reduzindo drasticamente o apoio, pondo em causa a obra, apesar de ter sido assumido o apoio de forma pública e categórica. 

A limpeza nos espaços públicos, nomeadamente nas ruas, está a atingir um desmazelo nunca visto. Algumas fotos abaixo são elucidativas. É passar pelas ruas da freguesia, sobretudo Rua Nossa Senhora de Fátima, Rua 1.º de Maio, Rua de Trás-os-Lagos, Rua da Fonte, mas várias outras, para perceber do que falo. 

Há algumas situações ainda por resolver, como os remates no pavimento nas sarjetas feitas na Rua Nossa Senhora de Fátima, no lugar da Gândara. A Rua dos Sebastiões está cortada ao trânsito, vai para meses, devido a um abatimento no piso, tendo também, por isso, sido interrompido o respectivo asfaltamento. Também já percebi que a instalação das redes de água e saneamento na Rua da Zona Industrial, e respectiva pavimentação, vão ficar para a futura Junta. Está esta rua num estado lastimável e vergonhoso. Mesmo algumas simples situações que fui reportando oficialmente por email, não têm merecido nem resposta nem resolução, apesar de fáceis, como o colocar de um sinal de STOP em falta.

Por conseguinte, oxalá que esteja enganado e até dou o benefício da dúvida, mas, experimentado, começo a perceber que algumas dessas situações já não irão ser resolvidas até às eleições e vão ficar mesmo  para a futura Junta de Freguesia, na velha filosofia de "quem vier atrás que feche a porta". 

Não obstante, nada disto me surpreende, porque, no fim das contas, apesar de melhoramento de alguns aspectos, reconheça-se, como a proximidade às pessoas e aos grupos, todo o período de vigência da União de Freguesias não foi muito diferente nas coisas essenciais, nas obras e melhoramentos, e só não percebe que a freguesia de Guisande foi sempre o parente pobre quem andar desfazado da realidade ou  ofuscado por eventuais militâncias e simpatias pessoais. Eu próprio tenho simpatia e consideração, mas procuro manter alguma clarividência na análise geral. Além do mais, quando fiz parte da Junta no primeiro mandato da União, com graves problemas herdados e com menos recursos financeiros, o executivo foi alvo de constantes queixas por parte de quem agora governa, sem que, contudo, faça melhor e diferente, nomeadamente nas limpezas das ruas, como é fácil verificar. Só não vê quem não percorre a freguesia ou fecha os olhos. Além do mais, o que se vai limpando é já depois de meses de desmazelo e mau aspecto.

De resto, nunca houve milgares, porque seja numa União de Freguesias, seja numa freguesia, as dificuldades e carências são muitas face aos poucos recursos, tanto mais quando se tem uma política de gestão em dispersar uma parte substancial dos recursos em coisas bonitas, do agrado de foliões mas efêmeras, como o fogo de artifício, que deslumbra mas nada sobra, nem as canas. 

Com todas estas dúvidas e receios, vou, mesmo assim, esperar que o pouco tempo que resta até às eleições não seja mesmo de total abandono da freguesia. Esperar para ver.







14 de julho de 2025

Recuperação dos símbolos e heráldica da freguesia

Ainda faltam 3 meses e picos para que, depois de realizadas as eleições autárquicas, programadas para 12 de Setembro próximo, a futura Junta e Assembleia de Freguesia de Guisande tomem posse, dando-se por extinta a União de Freguesias onde, da qual, por enquanto, ainda faz parte. Neste momento nem sequer se sabe oficial e publicamente quem tomará parte nas listas concorrentes. Há, pois, muita água para correr debaixo das pontes.

Em todo o caso, parece-me a mim, mas decidirá quem assumir o poder,  que nessa altura deverão ser logo retomados os anteriores símbolos da freguesia, nomeadamente o brasão, a bandeira, o selo e mesmo o logotipo, usados aquando da extinção da freguesia e sua integração na famigerada União de Freguesias. Será também essa decisão uma forma simbólica da recuperação da independência.

Fica, pois, a sugestão para os futuros responsáveis.









11 de julho de 2025

Visto de fora - Eleições em Pigeiros

Visto de fora, mas com interesse, pelo carinho que tenho por Pigeiros e consideração pessoal por vários pigeirenses, entristece-me ver que algumas pessoas, em reacção ao que se vai publicando a propósito nas redes sociais, comecem a entrar num registo pouco adequado, nomeadamente quando se começa a fazer juízos de valor sobre a idade ou passado das pessoas.

Em Janeiro deste ano, logo após a primeira votação que deu esperança à desagregação, falei com o António Cardoso, dizendo-lhe textualmente o seguinte: "Agora o que acho, a concretizar-se (a desagregação), nas freguesias deveria haver listas únicas para gerar consenso e procurar uma união inicial. Pelo menos no primeiro mandato. Mas certamente os partidos não querem isso."

Ele concordou, dizendo que até seria o recomendável para todas as freguesias saídas das uniões.

Porque defendi essa mesma ideia também aqui para Guisande, fui convidado pelos dois principais partidos mas a ambos, agradecendo a confiança e consideração, declinei o convite. 

Porque os partidos defendem as suas agendas, apesar de a considerar como a melhor solução para unir a freguesia, com pena minha, aqui, até ao momento, não se proporcionaram as condições para uma lista independente e alargada a gente de ambos os lados. Neste cenário, fico de fora, esperançado, contudo, que os partidos apresentem gente interessada e capaz. Mas o tempo começa a apertar.

Não quero tecer comentários em concreto sobre os motivos que levaram à não formação de uma lista independente em Pigeiros, mas uma vez que o caminho agora é outro, e com candidatos já definidos, é importante que haja respeito mútuo entre eleitores e candidatos, porque ambos, eventualmente com visões diferentes, pretendem o melhor para a freguesia. E só gente com muito amor à terra se dispõe a estas lutas porque implicam responsabilidades e dedicação, tantas vezes com prejuízo próprio e da família. A qualquer um seria mais fácil e cómodo ficar de fora.

Já o escrevi por aqui, tenho amizade e consideração pessoal pelo Eng. António Cardoso e por conseguinte sei que ao aceitar o desafio fê-lo por motivos que considerou fortes e sobretudo por amor e dedicação à freguesia e aos pigeirenses, e não tenho dúvidas de que, se eleito, fará um bom trabalho. Mas também vou reconhecendo qualidades no jovem Tiago Afonso, mesmo que o conheça apenas de forma circunstancial, e creio que se eleito também fará um bom trabalho.

Resulta daqui que Pigeiros tem duas boas opções de escolha para gerir os seus destinos. Quem me dera que assim seja em Guisande, mas por agora pouco ou nada se sabe. 

Importa é que, em Pigeiros ou em qualquer outra freguesia, não se baixe o nível, nomeadamente por parte de quem vai comentando de forma pouco construtiva e com juízos de valor

Creio que todo esse grupo de pessoas que esteve envolvido na luta pela desagregação merece todo o respeito dos pigeirenses, independentemente do lado em que agora se colocam. A ingratidão é, em qualquer circunstância, muito feia.

Fico, assim, a torcer para que as coisas em Pigeiros decorram com elevação, civilidade e respeito entre todos e por todos.

3 de julho de 2025

Parecer ou não parecer, eis o sabão

Vivemos tempos em que a política local — outrora discreta e centrada na gestão do território e das pessoas — se transformou, nas mãos de muitos autarcas, numa permanente operação de marketing pessoal. E as redes sociais, com o seu efeito imediato, rápido e visual, tornaram-se o palco preferencial para esse novo protagonismo, tantas vezes excessivo, redundante e até, tantas vezes, com laivos de ridículo.

Basta percorrer as páginas de muitos presidentes de câmara, vereadores ou até simples membros de juntas de freguesia para perceber o padrão: são fotografias em tudo o que mexe, inaugurações de obras e de não-obras, visitas a escolas, lares, associações, feiras, feirinhas, mercados, casamentos, aniversários de idosos, provas desportivas, reuniões protocolares, festivais, almoços, jantares, missas, procissões, concertos, feiras medievais, entrega de diplomas, de lembranças, de tudo e mais alguma coisa. Qualquer evento, por mais pequeno e irrelevante para o que realmente interessa, o bem comum, é ocasião para aparecer na fotografia, preferencialmente ao centro, com o sorriso pronto e o discurso, se preciso, ensaiado.

É o triunfo do "estar lá" — mesmo que a presença pouco ou nada acrescente ao evento ou aos seus destinatários. Mais do que governar, importa aparecer. Mais do que decidir, importa sinalizar que se está atento. É o domínio do parecer antes do ser.

Esta ânsia constante de protagonismo mediático revela uma faceta, senão perigosa, pelo menos perniciosa, da política local: a substituição da substância pela imagem. O autarca não é já apenas o gestor da causa pública, mas o protagonista permanente de um reality show autárquico, onde o número de likes, partilhas e comentários substitui a análise crítica da obra realizada.

As redes sociais, sendo legítimas e importantes ferramentas de comunicação institucional, transformaram-se assim, para muitos, em autênticos diários de exibição pessoal. Poucos são aqueles que resistem à tentação do auto-elogio permanente, da apropriação, tantas vezes de sucessos alheios e do silenciamento conveniente dos fracassos e problemas que realmente exigiriam resposta.

Num mundo cada vez mais superficial, onde a imagem vale mais do que a consistência, a política local não escapou à epidemia do marketing de si próprio. O problema não está em comunicar o que se faz — o problema está em transformar a comunicação num fim em si mesmo, desvirtuando o verdadeiro sentido do serviço público e da valorização da cidadania desinteressada.

Governar não é tirar fotografias. Servir não é acumular presenças protocolares. Liderar não é coleccionar likes.

É tempo de regressar ao essencial: fazer primeiro, mostrar depois — e só quando houver, de facto, algo de relevante para mostrar. E se merecido for o nosso trabalho, ou deles, alguém o há-de valorizar e reconhecer, mesmo que sem aparatos ou lambe-botismo.

1 de julho de 2025

Comissão da Festa do Viso 2025 organiza torneio de futebol de salão


O Rinque Polidesportivo de Guisande, em Casaldaça, foi requalificado recentemente pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira. Em rigor, parcialmente, porque ficou de fora da intervenção as instalações dos balneários.

Ficou terminada a requalificação, irá já para 3 meses, e desde então tem estado, como se esperava, às moscas. Esporadicamente uma ou duas crianças ou adolescentes a chutar bolas contra as paredes.

Finalmente, por iniciativa da Comissão de Festas do Viso 2025, vai promover ali um torneio de futebol de salão para angariação de fundos. Provavelmente terão de ir tomar banho a casa.

Parece-me que não é com umas utilizações esporádicas que se justifica o grande investimento ali feito. E seria bem feito se de facto a utilização fosse regular e dinamizada por clubes ou associações locais. Mas quais, se o próprio Guisande F.C. teve e tem muitas reservas quanto às vantagens de usar o equipamento, e associação cultural de momento não existe. Crianças, poucas e em decréscimo. Sinceramente, desejo que sim, que se justifique o investimento feito, mas não me surpreende que não. 

Mas vamos indo e vendo e pode ser que com a futura Junta de Freguesia se encontrem formas e meios de dinamizar a sua utilização regular, pelo menos para não darmos todos o dinheiro como mal gasto, até porque seria mau de mais e um paradoxo face às necessidades mais palpáveis de obras e melhoramentos, nomeadamente na requalificação da zona envolvente à igreja matriz, centro cívico, etc.

Oxalá que sim, que daqui a algums meses venhamos a constatar que foi dinheiro bem empregue. Por agora, graças à Comissão da Festa do Viso, é o que se pode arranjar.

30 de junho de 2025

Um novo e diferente caminho


Quem costuma ler o que vou escrevendo, tanto neste meu site “Eu e a minha aldeia de Guisande", como na minha página pessoal no Facebook, já tive oportunidade de escrever que em contexto de lista partidária, não serei candidato à Junta de Freguesia de Guisande nas próximas eleições autárquicas.

É certo que fui convidado por um dos principais partidos a ser cabeça-de-lista, por isso ao cargo de presidente da Junta, mas, por opções meramente pessoais, não aceitei. 

Naturalmente que fiquei sensibilizado e agradeci a confiança dos que entenderam que eu seria uma opção, nomeadamente a quem me fez chegar o convite, bem como ainda a várias outras pessoas, incluindo amigos, que procuraram influenciar-me na aceitação, mas decidi convictamente que não. E não, porque entendi desde cedo e a partir do momento em que se concretizou a desagregação da União de Freguesias, que a melhor opção seria a apresentação de uma lista independente, a reunir gente dos principais partidos, no sentido de, tanto quanto possível, unir a freguesia numa transição importante em que as dificuldades de retomar os destinos da freguesia por conta dos próprios guisandenses serão grandes.

Transmiti esta mesma ideia ao Celestino Sacramento, o qual, até ao momento, mesmo que ainda não de forma oficial, se foi afirmando como disponível para se candidatar e no que considera estar a cumprir o compromisso com a população  aquando do início do processo de petição pela desagregação, e que numa primeira abordagem, mesmo que muito informal, também considerou a ideia de lista independente como positiva. Nesse contexto, disse-lhe que pensasse nessa solução e se a mesma avançasse poderia contar comigo. As coisas ficaram nesse pé e em rigor, à data, não sei em que ponto estão.

Quanto aos partidos ainda não são conhecidos publicamente quaisquer nomes para Guisande. 

Em resumo, volto a esclarecer os mais interessados ou curiosos, de que não serei candidato por qualquer força partidária. Apenas no cenário de lista independente, e com gente de ambos os partidos, que eu considerasse capazes e interessados nas coisas da freguesia, poderia aceitar.

Assim sendo, como costuma ser normal, avançarão os partidos e quero acreditar que com gente capaz porque, de uma forma ou outra, é necessário e importante que alguém assuma os destinos da freguesia, que bem precisa de “um novo e diferente caminho”.

Concluo, reafirmando que não me pus de fora das responsabilidades, apenas quanto ao contexto em que poderia ou não aceitar participar. Quem não compreende esta legitimidade?

27 de junho de 2025

Aos poucos....cada vez menos

 


Já o escrevi por aqui antes, mas é notória, de ano para ano, a perda de habitantes na freguesia de Guisande, pelo menos na relação entre os que nascem e os que morrem. É certo que entretanto por via da edificação de novas habitações têm-se mudado para cá algumas famílias, mas ainda não de forma a reverter o processo.

Tomando como exemplo os falecimentos entre Junho de 2024 e Junho de 2025, e considerando apenas pessoas que cá residiam, contabilizei 13 pessoas, sendo 8 homens e 5 mulheres. Agora pergunta-se: E quantas crianças nasceram no mesmo período? Confesso que não tenho números, mas quero crer que, por alto, não mais que três ou quatro.  A este ritmo é fácil perceber que nos próximos 15 anos podemos perder pelo menos 10% da actual população. 

Devido aos Censos de 2021 terem considerado apenas a população da União de Freguesias, como um todo, os números referentes a Guisande reportam-se aos Censos de 2011, que nos dava uma população residente de 1237 presumindo-se que com os emigrantes pudesse rondar os 1500 habitantes. Só em 2031 voltaremos a saber quantos residentes somos na nossa freguesia, mas é natural que então já com um número pouco mais que um milhar de almas. 

Em Guisande, em 50 anos, passamos de médias de 30 nascimentos para 3. Em 1949 houve 35 baptizados; Em 1959 houve 37 baptizados e na casa dos 30 em toda a década de 1970. No ano do meu nascimento houve 32 baptizados. Sintomático.

Nada nos serve o mal dos outros, mas esta situação é, infelizmente, transversal a todo o país, sobretudo nas zonas interiores e menos urbanas. A imigração descontrolada e quase selvagem que em poucos anos acrescentou cerca de 10% da nossa população, veio disfarçar os efeitos da baixa de natalidade mas mesmo assim com impacto nas grandes zonas urbanas como Lisboa e Porto e zonas do litoral.

Más políticas ou mesmo a falta delas, a par de mudanças na sociedade e com a maternidade a cada vez ser mais tardia, são factores que têm contribuído para este cenário. 

23 de junho de 2025

Visto de fora - David Neves candidato pelo PS à Junta de Freguesia de Lobão


Adivinhava-se e confirma-se: David Neves, actual presidente da Junta da União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, apresentou-se publicamente como candidato pelo Partido Socialista à futura Junta de Freguesia de Lobão. 

Visto de fora, e ainda sem conhecer os candidatos pelas demais listas concorrentes, nomeadamente pelo Partido Social Democrata, não tenho dúvidas que será o vencedor das próximas eleições autárquicas e o futuro presidente da Junta daquela freguesia, num novo ciclo, depois da desagregação da União de Freguesias.

Conheço o David Neves ainda antes destas coisas da política e nutro por ele uma simpatia e consideração pessoal, que creio que é recíproca. Mas nestas coisas da política procura-se não se misturar as questões e considerações pessoais e sob esse ponto de vista, e por conseguinte, quaisquer impressões aqui expressas são  apenas nesse sentido de opinião política.

Para contextualizar e em retrospectiva, eu fiz parte da Junta no primeiro mandato da União de Freguesias (2014/2017), num cenário de muitas dificuldades, tanto pela novidade e particularidades do que era uma nova realidade, um novo ciclo, bem como, ainda, da pesada carga de dívidas, obrigações e compromissos herdados de algumas freguesias, nomeadamente de Guisande e Gião, que em muito limitaram a acção da Junta, ainda com o facto de terem sido apenas três anos. Apesar disso, desse leque de dificuldades e entraves, a Junta no geral fez o trabalho possível e creio que razoável e ainda transmitiu um saldo positivo à futura Junta do segundo mandato.

Por opção  pessoal, essencialmente por não me rever em alguns dos aspectos seguidos no modelo de gestão da União de Freguesias, muita centralizada na figura do presidente, em que os representantes das freguesias eram meros moços de recados, sem competências atribuídas para chamar a si algumas das ideias e projectos que tinhm para cada uma das freguesias, contrariamente ao que tinha como expectativa quando decidi participar e dar a cara por Guisande, naturalmente que não aceitei fazer parte da lista concorrente a um segundo mandato. Do modelo seguido no primeiro mandato, nada concorria para sequer pensar em mudar de opinião. Estava mesmo fora de questão.

Ora esse segundo mandato que se seguiu, ainda pelo PSD, que voltou a vencer as eleições com maioria, foi, a meu ver, o mais pobre e ineficaz dos três mandatos de vigência da União de Freguesias, mesmo considerando que ainda faltam alguns poucos meses para a conclusão deste terceiro, já sob a governação do PS. 

Como "o algodão não engana", esse segundo mandato do PSD, sobretudo em Guisande, foi tão oco de obras e melhoramentos e com um agravamento na proximidade dos eleitos aos eleitores, que só podia ditar o afastamento de quem, pelo mesmo partido, se propunha a um terceiro mandato e como tal, David Neves, de novo candidato pelo PS, mesmo derrotado nos dois anteriores processos eleitorais, pode, finalmente, vencer e governar a Junta da União de Freguesias, com maioria. Como "prenda" ou "herança" da ineficácia da Junta anterior, que nem sequer soube gastar o seu dinheiro em obras e melhoramentos, recebeu um saldo superior a 300 mil euros, como um filho de papá que ao fazer 18 anos recebe de prenda um Ferrari.

Foi, pois, neste contexto, de casa orientada e cofre cheio, que o David Neves e a sua equipa socialista, entrou a governar a Junta da União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande. Tinha tudo para fazer um bom mandato, desafogado e com isso marcar a diferença. 

Procurando fazer um resumo, pessoalmente, no geral e do que me é possível percepcionar, acho que tem feito um bom trabalho e sobretudo valorizou muito a questão da proximidade e fez por ser um presidente presente, ao lados dos grupos e das pessoas, num estilo e registo político e de gestão  totalmente diferente do estilo da anterior Junta.  Consolidou a estrutura da Junta e da sua eficácia e mostrou que, a continuar a União de Freguesias, como era sua forte vontade, haveria margem para melhorar.

Apesar disso, e agora olhando apenas para a sua acção em Guisande, e do esforço exclusivo do orçamento da Junta, no aspecto de obras e melhoramentos, e já lho disse pessoalmente, parece-me que se fez pouco, sobretudo no contexto de um mandato com todas as condições financeiras, de organização e estrutura favoráveis. Há ainda situações por resolver mas no cenário confirmado da desagregação,  já duvido que sejam resolvidas até ao final do mandato, feitas obras de monta ou realizados melhoramentos ainda que ligeiros, até porque o tempo já é escasso e o presidente vai passar andar ocupado com questões de campanha e promoção de imagem. Mas oxalá que me engane e que ainda seja possível concretizar alguma coisa, em obras ou apoios.

E eu teria esta mesma apreciação se o que foi feito em Guisande tivesse sido apenas no âmbito de uma própria Junta de Freguesia de Guisande, com um orçamento anual inferior, mesmo que apenas na casa dos 150 mil euros. Continuaria a ser pouca a obra e escassos os melhoramentos.

Para além disso, no que seria algo de valor significativo no mandato quanto à nossa freguesia, acabou por recuar no seu compromisso público de apoio financeiro à obra do relvado sintético no campo de jogos do Guisande F.C., ficando-se agora e apenas com uma parte do que seria o valor total previsto. Todos, principalmente o Guisande F.C. lamentam esta inversão de compromisso assumido. Até posso tentar compreender a sua posição e justificação já dada, mas parece-me que será uma nota negativa na apreciação do seu mandato, sobretudo no que se refere a Guisande. 

No resto, no global, parece-me que o David Neves esteve quase sempre bem, próximo, atento, e respeitando as freguesias e as suas particularidades identitárias, sociais e culturais, num registo totalmente diferente do anterior mandato de gestão do PSD. Já o escrevi noutra altura, o David Neves mostrou ser um bom exemplo de um presidente com atitude e perfil mais adequados  à presidência da Junta de uma União de Freguesias. De resto, continuasse a União de Freguesias,  não teria eu problema em trabalhar com ele, caso fosse convidado a fazer parte da sua lista. Digo-o sem qualquer hipocrisia e na certeza de que seria feito um bom trabalho, incluindo em Guisande. Todavia, sabemos que o caminho não será esse e que as freguesias da União a partir de Outubro próximo iniciarão uma nova realidade, cada uma por si.

Não obstante, mesmo com esta apreciação positiva e global da acção da actual Junta da nossa União de Freguesias e particularmente do seu presidente, obviamente que nem sempre concordei com alguns aspectos da gestão, a meu ver muito focalizada em acções de eventos, medidas mediáticas e entretenimentos, que reconheço que são populares e dão votos, como o Corga da Moura (um êxito), mas que pela sua natureza e efemeridade, sem o justo equilíbrio levaram a comprometer outras necessidades conjunturais ou estruturais de obras e melhoramentos, como o caso do relvado sintético no campo de jogos do Guisande F.C. a que acima fiz referência. 

Mesmo quanto à sempre problemática questão das limpezas das ruas e espaços públicos, apesar de uma óbvia melhoria na primeira metade do mandato, parece-me que nesta parte final as coisas não têm sido muito diferentes dos anteriores mandatos. Neste momento, e olhando apenas para Guisande, são várias as ruas com necessidades de limpeza, algumas de forma notória, como na Rua Nossa Senhora de Fátima (Leira, Pereirada e Estôze),  Rua de Trás-os-Lagos, Rua da Fonte, Rua 1.º de Maio, e outras. Do mal o menos, tem correspondido e actuado nos espaços e ruas em momentos de actividades ou eventos o que não é mau. De resto, sempre foi assim e sempre assim será, porque há dificuldades que se repetem e quem na oposição as criticou ou critica, uma vez no poder não conseguem fazer muito diferente. É, afinal, o resultado quando não há recursos nem meios suficientes para o tamanho das necessidades.

Agora a realidade é outra, e recuando ao primeiro parágrafo, não tenho dúvidas que o David Neves sairá vencedor das próximas eleições e que irá ser o presidente da Junta de Freguesia de Lobão. Tem experiência, competência e perfil de próximidade da população e das suas forças vivas e bom conhecedor do território e suas potencialidades.

Até lá, faço votos de uma boa campanha e mesmo votos de vitória, mas que não se esqueça que tem ainda um mandato por completar ao serviço de uma União de Freguesias e que há trabalho por fazer em todo o território, incluindo aqui em Guisande. Que não se distraia no papel de candidato, agora assumido.

22 de junho de 2025

Quem parte e reparte...

Bem sei que não há outra forma de o fazer, todos o fazem, não é ilegal, eticamente vale o que vale, mas torço sempre o nariz a quem na política, é simultaneamente candidato por um partido a um cargo de poder, seja a uma Junta de Freguesia, Câmara Municipal, Primeiro Ministro ou chefe de Estado, quando já exerce esse mesmo cargo e ainda tem pela frente uns meses de gestão que tantas vezes se confunde com campanhas eleitorais.

Pede-se sempre ética, imparcialidade, bom senso e respeito pelo que falta fazer em nome de todos, mas a experiência diz-nos que "quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não não sabe da arte". Ora, quem está nessas situações, procura não ser tolo nem burro e, mesmo que disfarçadamente ou de forma óbvia, aproveitar a arte.

Resulta daqui, que, obviamente, os concorrentes, têm uma missão dificil, tantas vezes impossível, e notoriamente partem em desvatagem em certas corridas.

Mas é o que é, e por isso pouco importam os sermões e quanto à moral o seu valor anda mal cotado. Porventura a lei deveria, nestes casos, impor a cessação de funções, mas como regra geral os beneficiários são sempre os mesmos dos dois principais partidos, PSD e PS, ora tu, ora eu, ninguém tem interesse em mexer na lei e alterar as regras.

18 de junho de 2025

Visto de fora - O regresso da velha guarda

Consumados que estão os processos de desagregação da maior parte das uniões de freguesias do concelho de Santa Maria da Feira — mesmo que, em rigor, apenas a partir da tomada de posse dos futuros órgãos deliberativos e executivos de cada uma das novas (velhas) freguesias — os partidos políticos já estão no terreno para formalizar listas concorrentes às próximas eleições autárquicas, que deverão ter lugar no início do próximo mês de Outubro.

Sobretudo o PSD, mas também, aos poucos, o PS, têm divulgado publicamente alguns cabeças-de-lista às diferentes freguesias, sendo que outros, ainda não assumidos, têm sido apontados como sérios concorrentes.

Olhando apenas para a nossa vizinhança, em que de três uniões de freguesias desfeitas resultam nove freguesias (Lobão, Gião, Louredo, Guisande, Caldas de S. Jorge, Pigeiros, Canedo, Vale e Vila Maior), não deixa de ser curioso — e até merecedor de alguma reflexão — o facto de alguns dos candidatos, assumidos ou prestes a sê-lo, serem pessoas que já assumiram, no passado, responsabilidades autárquicas nessas mesmas freguesias, vários deles já em situação de reforma profissional, mas que, por motivos diversos ou mais ou menos comuns, regressam às lides eleitorais, propondo-se à escolha dos eleitores e a assumir responsabilidades, caso mereçam a sua confiança.

Assim, por Pigeiros, já está assumido que será o Eng.º António Cardoso a encabeçar a lista do Partido Socialista, gorada que foi a possibilidade de uma lista independente. Foi uma figura importante e activa no processo de reposição da freguesia de Pigeiros. Pelo PSD já foi divulgado o jovem Tiago Afonso.

Em Louredo, ainda não tive conhecimento de que a decisão seja já pública, mas fala-se que, pelo PSD, será Fernando Moreira, que já havia sido presidente da Junta dessa freguesia. Desconheço quem avançará pelo PS, numa freguesia marcadamente social democrata.

Pelo Vale, e pelo PSD, será o Fausto Sá, o qual esteve ligado ao movimento pela reposição da freguesia do Vale.

Por Lobão, é desconhecido o candidato pelo PSD. Pelo PS é mais que certo que será o actual presidente da União de Freguesias, David Neves que quererá aproveitar a experiência e a popularidade.

Por Gião, pelo PSD, outra velha guarda, com Manuel Oliveira Leite, já divulgado como cabeça de lista. Sem surpresa, porque tinha feito parte de um mandato sem história, perdeu as anteriores eleições como cabeça-de-lista pelo PSD à União de Freguesias, mas agora concorre numa freguesia que melhor conhece e melhor o conhece.

Ainda por Gião, pelo PS, vai-se dizendo que será a Vera Silva, uma forte candidata, que faz parte do actual executivo da União de Freguesias.. 

Cá por Guisande, a única solução que me levaria a equacionar tomar parte seria uma lista independente, com elementos do PS e do PSD. Transmiti isso ao Celestino Sacramento e ao Dr. Rui Giro, já que foram estes as principais figuras no processo de reposição da freguesia de Guisande. Mas, no fim de contas, não vi que houvesse, de qualquer dos lados, um sério interesse em avançar com essa solução. Face a isso, será Celestino Sacramento — que também já foi presidente da Junta — a encabeçar a lista do Partido Socialista, mesmo que ainda não o tenha divulgado publicamente.

Quanto à lista do PSD, mesmo que com palpites, desconheço de todo quem será o cabeça-de-lista.

Quanto aos motivos que levam estas figuras da velha guarda a avançarem para os processos eleitorais — que são sempre desgastantes —, bem como às responsabilidades durante o mandato, caso eleitos, parece-me que se justificam por duas razões principais: porque sentem a responsabilidade, e mesmo o dever, de ajudar as freguesias a retomarem o seu destino — já que a transição traz inevitáveis dificuldades, de resto esperadas —, mas também porque, da parte das novas gerações, o desinteresse é quase geral. Fazer parte de uma Junta de Freguesia, ou mesmo de uma Assembleia, assumir responsabilidades e estar sob escrutínio público, sujeito a críticas — faça-se o que se fizer, pagando-se por ter e não ter cão —, não é propriamente estar na festa, na farra e nos copos numa qualquer Corga da Moura.

Não surpreende, pois, que se assista nesta fase ao regresso da velha guarda, de alguns “senadores”. No geral, creio que será uma mais valia, pois podem transmitir conhecimento e experiência, o que é sempre importante. Em todo o caso, estou certo de que, mesmo assim, saberão rechear as diferentes listas com gente mais nova, interessada e capaz — o que não é fácil, sobretudo em Guisande. Mas, entrados no processo, há que seguir em frente, como quem diz, "descalçar a bota".

Votos de boas campanhas e bom trabalho, independentemente de quem venha a avançar e a assumir responsabilidades.

17 de junho de 2025

Visto de fora - António Cardoso avança por Pigeiros

 


Não sou amigo de peito do Eng.º António Cardoso, mas com uma amizade e respeito suficientes para conhecê-lo o bastante, e de há anos, para ter a certeza de que, independentemente do que em consciência e liberdade decidirem os pigeirenses  lá para Outubro próximo, no rescaldo de uma campanha eleitoral que promete ser positiva para a renascida freguesia, ele conhece e gosta como poucos da sua terra de Pigeiros, mesmo que até já tenha andado por Guisande a defender as suas redes. Coisas da bola e de outros tempos.

Sei que, pela idade e trajecto já percorrido em cidadania, como autarca e deputado, seria bem mais fácil e apetecível manter-se alheado destas lutas que, mesmo que decorram dentro do melhor espírito democrático e respeito mútuos pelas diferenças de visão para uma mesma terra e comunidade, são sempre desgastantes, mas também sei que não vira a cara à luta e terá sido nesse sentimento, espírito e quase dever, que aceitou o repto de concorrer ao cargo de presidente de Junta de Freguesia de Pigeiros, depois de uma infrutífera e penosa relação no contexto da União de Freguesias em que estava inserida com Caldas de S. Jorge.

Falo, pois, de fora, mas com a simpatia por Pigeiros e com uma imparcialidade não obrigatória mas de respeito pelas partes que vão estar em disputa, na certeza de que o António Cardoso será uma excelente opção. Tivesse Guisande gente dessa qualidade e com essa disponibilidade para defender os interessas da terra e sua gentes, na recuperação de uma dúzia de anos em que se andou como o caranguejo, de marcha atrás.

Sei, porque falamos sobre isso aqui há uns tempos, quando se começava a ver a luz ao fundo do túnel no processo sinuoso da desagregação, que também ele partilhava a mesma e minha opinião de que neste recomeço, seria vantajosa uma lista independente, a congregar gente de ambos os lados, numa forma de unir e não o contrário. Por motivos e contornos que desconheço e nem são da minha conta, as coisas não terão ido nesse sentido e devido a isso, temos assim o António Cardoso a encabeçar uma lista proposta pelo Partido Socialista, que certamente também terá gente jovem, a surgir como uma boa alternativa aos pigeirenses.

Pelo PSD, concorre o jovem Tiago Afonso, que conheço apenas circunstancialmente, mas de quem tenho referências também positivas quanto ao gosto e interesse que demonstra pela freguesia e suas gentes. 

Naturalmente que serão duas visões diferentes, até porque também de gerações, mas estou certo que ambos com Pigeiros e suas gentes como foco central. O resto será luta partidária e, o Cardoso, melhor que ninguém, sabe o que isso é, para o bem e para o mal. Portanto, parte prevenido.

Em suma, é uma luta que vou apenas ver da bancada, e que apenas os pigeirenses decidirão, mas fico satisfeito em ver que o António Cardoso diz presente à freguesia num momento importante depois da tão ansiada desagregação pela qual foi voz e figura activa.

Votos de boa campanha a ambas as partes, mas pela amizade que tenho para com o Eng.º António Cardoso, faço votos que o trabalho que o espera seja recompensado pelos pigeirenses, na certeza que serão sempre estes quem decidirão!

Comissão de Extinção da União de Freguesias - O meu balanço

 


Ao fim de quatro longas reuniões, terminaram os trabalhos da Comissão de Extinção da União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, nas condições, competências e critérios definidos pela Lei n.º 25-A/2025, de 13 de Março, nomeadamente pelos artigos 6.º e 7.º.

Como balanço pessoal de membro desta Comissão de Extinção, e porque é coisa pública e que a todos e todas deve interessar, considero que, no geral, a distribuição do quadro de pessoal com vínculo à União de Freguesias, a partilha dos bens imobiliários, veículos, equipamentos, ferramentas e outros bens móveis de maior ou menor valor, bem como de outros aspectos de organização e gestão, como a individualização e independência do sistema informático, inerentes a uma adequada transição para as futuras freguesias resultantes da desagregação, ficou estabelecida de forma pragmática, dentro das propostas gerais apresentadas pelo presidente da Junta de Freguesia, Sr. David Neves, e que, no geral, com a excepção que à frente referirei, foi consensual na maioria das matérias que competiam decidir.

Porventura, a partilha não seguiu outros critérios possíveis, como os da proporcionalidade entre número de eleitores e territórios, previstos pela alínea a) do art.º 7.º da referida Lei, os quais, embora tendo, de logo de início, sido por mim suscitados, não chegaram a ser formalmente discutidos e definidos como base para todo o processo, mas apenas como critério para a distribuição do eventual saldo positivo que se venha a verificar no final do exercício do actual mandato. Tivesse a Comissão seguido estritamente esse caminho, para além do apuramento rigoroso do número de eleitores e das áreas geográficas reais, importaria também estabelecer critérios para determinar o peso de cada um dos factores, o que não seria de determinação linear, tendo em conta apenas os números, mas de outros factores considerados importantes como a extensão e natureza das redes viárias, espaços públicos, equipamentos públicos, infra-estruturas, etc.

Exceptuando a partilha dos bens imóveis, prédios rústicos ou urbanos, que não ofereceu qualquer dificuldade à Comissão, por estarem, por natureza, já integrados nas respectivas áreas geográficas de cada freguesia, efectivamente todos os demais bens repartíveis poderiam ser partilhados em função do potencial valor comercial que lhes fossem atribuídos. Todavia, o curto prazo entre a data da nomeação e tomada de posse da Comissão de Extinção, que ocorreu em 10 de Abril de 2025, com a primeira reunião realizada apenas em 19 de Maio, e a data fixada por lei para aprovação dos mapas finais de transferência de bens móveis e imóveis, de universalidades, direitos e obrigações e de trabalhadores para cada freguesia a repor, 15 de Junho de 2025, mostrava-se francamente insuficiente para levar a cabo uma avaliação exaustiva, pura e dura. Para tal, teria que se consultar o mercado, eventualmente de forma dupla, e estabelecer o potencial valor de mercado ou comercial de cada um dos itens a partilhar. Por outro lado, mesmo a consulta e confirmação atenta de cada um dos artigos constantes nos inventários fornecidos pela Junta seria, só por si, uma tarefa não impossível mas demorada de concretizar.

Na consideração do que previa a alínea e) do art.º 7.º da Lei n.º 25-A/2025, de 13 de Março, poderiam também ter sido adoptados outros critérios que a Comissão de Extinção, fundamentadamente, entendesse considerar. A meu ver, para além do apuramento dos valores dos bens, poderia fazê-lo no sentido de procurar uma partilha justa e proporcional, contabilizando todos os investimentos em obras e melhoramentos e apoios directos a cada uma das quatro freguesias, ocorridos durante os anteriores mandatos e o actual até à data. Seria possível, porque, por princípio, tudo está documentado, mas seria igualmente uma tarefa com alguma complexidade, porventura com factores subjectivos e susceptíveis de diferentes pontos de vista de análise, por isso pouco prática e, sobretudo, morosa. Neste aspecto, face ao curto prazo com que se deparava a Comissão, tal critério não foi adoptado, mesmo que daí, a jusante e já fora do âmbito da Comissão de Extinção, possam naturalmente suscitar-se diferentes pontos de vista mas que já não importarão ao processo.

Por conseguinte, face a todas as limitações de prazo e de praticabilidade de apuramento de valores, considero que a forma pragmática proposta desde o início pelo Sr. Presidente da Junta foi a que melhor se adequou ao processo, aos objectivos da Comissão de Extinção e, reitera-se, sobretudo devido ao escasso tempo de decisão. Para além disso, no geral, e mesmo com algumas discussões, por vezes laterais e até descontextualizadas ao aobjectivo e competências da Comissão, concordou-se com o princípio definido pela alínea d) da Lei, que expressa a alocação à freguesia reposta dos bens, direitos e obrigações que se encontravam na esfera da freguesia extinta, através da Lei n.º 11-A/2013, de 28 de Janeiro.

Quanto à questão da eventual divisão de dinheiros da Junta, considerou-se que fugia da competência desta Comissão, uma vez que o mandato da actual União de Freguesias termina apenas com a tomada de posse dos futuros órgãos das quatro freguesias e, por conseguinte, com um Plano de Actividades em curso e cingido ao orçamento respectivo. Ou seja, nesta fase, não será possível determinar se, no final do mandato, de acordo com o grau de execução do Plano, haverá ou não saldo a distribuir e qual o seu montante. Quanto a este aspecto, como já o referi acima, considerou-se, e bem, apenas estabelecer critérios de divisão, constantes em acta, caso tal venha a acontecer e depois de saldados todos os compromissos e obrigações da União de Freguesias, nomeadamente no cumprimento das despesas correntes e encargos com pessoal. Para tal, e de forma mais directa e tangível, acordou-se o critério de número de eleitores inscritos em cada freguesia, já que a considerar as populações teria que se recuar aos Censos de 2011 uma vez que os de 2021 considera a população como um todo da União.

Em resumo, pela parte que me cabe enquanto membro desta Comissão de Extinção, considero que a partilha, se não a ideal nem rigorosamente justa e proporcional, foi a possível, pragmática e num equilíbrio relativamente consensual, bem como ajustada às várias condicionantes e também o facto de a Lei n.º 25-A/2025, de 13 de Março, ser muito sintética e até vaga, o que não ajudou ao processo nem ao entendimento de alguns aspectos inerentes. Poderia, de facto, a Lei, ser mais detalhada, prevendo e dando resposta a todos os aspectos susceptíveis de serem colocados num processo de partilha, com respostas a algumas particularidades, nomeadamente na definição de alguns assuntos burocráticos e financeiros que importarão às futuras quatro freguesias logo no dia seguinte à tomada de posse dos respectivos órgãos executivo e deliberativo.

Para além do resultado no seu todo, o que a mim e aos demais colegas da Comissão pareceu o possível, só lamento que a proposta inicial apresentada pelo Sr. presidente da Junta quanto à distribuição dos veículos, no caso, de duas carrinhas entre Louredo e Guisande, acabasse por gerar oposição de alguns elementos e viesse mesmo a ser contrariada. Por conseguinte, infelizmente, até à reunião final, foi o único ponto onde não houve consenso geral. A minha presunção inicial de haver no processo a possibilidade de algum sentido de solidariedade entre as partes, caíu por terra.

Sem sobressaltos ou atitudes intempestivas, como a de alguém que, infelizmente, sem razões compreensíveis, acabou por abandonar os trabalhos na última reunião, por se mostrar contra a partilha de um veículo e da votação inerente, quando pelo seu papel de representatividade partidária no contexto de todas as freguesias, se lhe exigiria mais contenção e diplomacia, Pelo contrário, Guisande, numa demonstração de bom senso e de pacificação, acabou, ainda que resignado, por aceitar, mesmo sem votação, a proposta menos favorável, mesmo que com o sentimento de sair a perder. 

No meu entendimento sai a perder porque, como já o escrevi há tempos, Guisande antes da União de Freguesias, estava com orçamentos anuais na casa dos 150 mil euros, ou seja,  600 mil euros por mandato. Em 3 mandados, 12 anos, é legítimo considerar 1 milhão e 800 mil euros em orçamentos, mesmo sem contar com o natural aumento anual e com a majoração das verbas do Estado que ocorreu no primeiro ano do primeiro mandato. Por alto, considerando, por absurdo, o gasto de metade desse valor em despesas correntes e das insuficientes limpezas dos espaços públicos, e até mesmo a liquidação dos cerca de 150 mil euros de dívidas com que a freguesia entrou na União, pergunta-se, onde, como e quando foi aplicado o remanescente? Quem tiver tempo e queira fazer as contas, que as faça, sobretudo os cépticos e contrários à desagregação. Que sejam esses a fazer contas. 

Para além da liberdade deste meu pensamento, que admito possa ser sujeito a contraditório quanto a essa visão sobre as contas, fico com a convicção de que em 12 anos Guisande nada ganhou, para além do muito que perdeu em aspectos tão importantes como a proximidade dos eleitos aos eleitores, e que a curto prazo, se não já no próximo, seguramente nos futuros mandatos, a freguesia e a sua população sairão a ganhar, porque na certeza de que cada euro do orçamento será aplicado e gerido em Guisande onde e melhor convier, sem serem outros a decidirem por nós.

No geral, mesmo que desalinhado com algumas das opções de gestão da actual Junta, não obstante, no que se refere à sua postura neste processo de partilha e do que estava em causa dividir, só tenho a dar nota positiva ao Sr. presidente da Junta, que procurou ter sempre uma postura de entendimento e procura de consensos. Pessoalmente lamento, apenas, que a sua proposta inicial quanto à divisão dos veículos, e no que tinha proposto para Guisande, não tenha sido respeitada e merecido concordância por algumas das partes. Tivesse havido esse respeito e compreensão e dentro dos vários condicionalismos, poder-se-ía dizer que a partilha tinha sido, senão exemplar, pelo menos adequada e até com uma componente solidária. Da Comissão, creio que não se pode dizer que neste processo Guisande foi obstáculo ou a exigir mais do que o merecido ou justo. 

Agora, dado este passo, o processo seguirá. Entretanto os mapas da partilha aprovados por esta Comissão, serão ratificados em Assembleia de Freguesia, marcada para o dia 24 de Junho, pelas 21:00 horas, no polo da sede da Junta em Louredo. Serão, também, nessa sessão, empossadas as comissões instaladoras às quais competirá preparar os actos elitorais e determinar as sedes das juntas..

Pessoalmente, e preferia, sinceramente, não ter tido esta tarefa, mas que uma vez assumida procurei corresponder, apenas, repito, saio triste pela particularidade acima referida,  mas que apenas confirma as minhas baixas expectivas e a prova provada de que esta, na realidade, nunca foi uma verdadeira União de Freguesias. Porventura não tanto pelas pessoas, mas pelas particularidades de cada freguesia, circunstâncias e premissas subjacentes à criação da União, que já nasceram tortas e ao arrepido da vontade das populações.

Encerrado que fica este capítulo, importa, agora, andar para a frente por nossa conta e responsabilidade, sendo que até às eleições e tomada de posse dos novos órgãos da Assembleia e Junta, ainda há caminho a percorrer, nomeadamente na formação de listas concorrentes, de que, em contexto partidário não farei parte, desejando, contudo, votos de bom trabalho a quem venha a tomar essas responsabilidades.

8 de junho de 2025

Tão bem que leem....

 


Quando ouço as nossas crianças a ler em diferentes situações de celebrações religiosas, ligadas à Catequese, e presumo que o mal é geral, pergunto a mim próprio o que é andam a fazer nas escolas ou se têm professores a sério quanto ao grau de exigência, ou se apenas no regime de quanto baste. É que, tirando da equação as mais novas e ainda nas primeiras classes e até algum nervosismo, em regra leem mal, muito mal, sem os pressupostos a uma boa leitura, coisa que os professores de outros tempos ensinavam e obrigavam. Mas eram outros tempos e hoje em dia a disciplina e rigor estão substituídos pelo “deixa andar” e ao “sabor do vento”. Deste modo são desleixados os princípios fundamentais como, ler com clareza, compreensão do que se lê, respeitar a pontuação, entoação, ritmo e expressividade, e outros mais, desde logo a prática regular de leitura em voz alta e não apenas interiormente.

Seja como for, com as actuais tecnologias em que bastará apenas saber accionar botões e dar ordens para se apresentar contas e textos, convenhamos que a tarefa é difícil para os professores e o grau de pouca exigência tantas vezes já reside nos pais e educadores, também eles com falta desses atributos de leitura e escrita.

Mas se no geral leem mal, não é difícil supor que escreverão pior. Mas isso é outra história. Além do mais, muitos adultos também têm tanto que aprender no que se refere à leitura pública, sobretudo no contexto litúrgico. Eu próprio não me sinto o melhor dos exemplos, embora me esforçe.

Retomando ao ponto das crianças lerem as leituras em missas  mais ou menos solenes, onde a importância do ministério exige que se observem certas condições: idade, preparação, capacidade de ler bem, entendo eu e vários especialistas, que preferível seja que a iniciação das crianças, ao acto da leitura, seja feita em celebrações da Palavra que lhes sejam especialmente destinadas. 

Em resumo e em contrapartida,  há quem considere que as criancinhas a ler nas missas ficam sempre bem na fotografia, os papás gostam e os responsáveis acham que com isso poderá a árvore dar frutos. A experiência diz-nos que quase nunca, até porque terminada a catequese, ou antes, a larga maioria deixa de frequentar, mas, continuamos todos a ter essa esperança. Pode ser que na cidade de Nínive desta reallidade de alheamento, residam um ou dois leitores futuros. Se assim for, poderá ter valido a pena alguns sacrifícios de os ouvir ler tão mal a ponto de muitas vezes pouco ou nada se perceber quanto mais entender.

Haverá opiniões contrárias, legítimas, considerando que não é tanto assim, ou que devemos relevar, mas é precisamente esta desculpabilização, esta condescendência que faz com que o nosso grau de exigência ande nivelado por baixo. Para estas e para outras coisas. De resto, o bom sempre foi inimigo do óptimo, dirão!


[imagem: aleteia.org]

5 de junho de 2025

Eleições à vista


Há pouco, discutia com um amigo as perspectivas ou previsões quanto às próximas eleições autárquicas, que deverão realizar-se lá para o final do Verão, concretamente quanto à nossa freguesia de Guisande, agora com a importância acrescida de que, ao invés dos últimos três mandatos, volta-se a votar para a antiga realidade da freguesia como dona dos seus destinos. Os eleitores Guisandenses já não terão que escolher um cabeça-de-lista proveniente de Lobão, mas alguém dos nossos, de cá da terra. É esse o primeiro passo para a proximidade, em muito perdida durante 12 anos.

Logo que se concretizou a desagregação, considerei e tornei pública a sugestão de que o melhor seria que na freguesia se fosse capaz de congregar gente proeminente ligada aos dois habituais principais partidos, PSD e PS e com essa união de esforços se promovesse uma lista independente. Seria uma forma de unir e não desunir neste novo momento de transição em que importa voltar a pôr a freguesia a funcionar por ela própria. Mesmo em conversas informais com gente de peso nas freguesias de Pigeiros e Louredo, concordaram nas vantagens desse pressuposto mas também nelas parece que a ideia não passaou disso mesmo.

Mas chegados aqui, resolvidas que estão as precipitadas eleições legislativas, o foco volta-se para as autárquicas e para a natural necessidade de haver listas concorrentes e com vontade de assumir as responsabilidades da gestão da nossa freguesia. 

Depois de algumas conversas mais ou menos informais, ficou-se a saber que o Celestino Sacramento foi o primeiro a confirmar que iria avançar a eleições, no que considerava como uma resposta ao compromisso assumido com as gentes de Guisande com o processo atribulado da desagregação. Por princípio também concordou que seria vantajosa uma lista independente com gente dos dois lados. Apesar disso, mesmo antes de ser equacionada qualquer possibilidade de uma lista independente, o PSD já estava em campo a convidar gente para encabeçar a sua lista. Tudo normal e legítimo, mas assim, em grande parte, esvaziava-se a possibilidade de uma lista independente de consenso aos dois partidos.

Face a esta situação, e porque havendo tempo, é importante que este não se perca, tudo aponta para que a tal lista independente, que pudesse ser apoiada largamente por gente conotada com os partidos PS e PSD, no momento está praticamente posta de lado. Assim tudo indica que teremos uma disputa normal entre os partidos. Para além do Celestino Sacramento ainda não são conhecidos outros nomes.

De minha parte, já o disse e escrevi publicamente, apesar de vontades e influências de várias pessoas e amigos, de forma convicta e ponderada não farei parte de qualquer lista partidária. A única possibilidade de reflectir e eventualmente aceder a participar, seria apenas num contexto de lista independente alargada a gente de ambas as partes, conforme atrás escrito.

Mas nada de mais porque é uma mera decisão pessoal de um simples eleitor. Com figura A ou B, os partidos seguirão os seus caminhos e agendas. Será certo, pois, que de um lado ou outro teremos gente disposta a fazer parte dos destinos da freguesia para os próximos quatro anos. Isso é o que importa e é positivo de realçar.

A tarefa da futura Junta será difícil, porque se trata de um recomeço e é necessário refazer os alicerces e voltar a pôr a freguesia a comandar os seus destinos. 

De minha parte, face ao mais que provável cenário de concorrência de listas partidárias, reservo-me  na legítima posição de apoiar ou não qualquer uma das partes, dependendo da sua configuração e do juízo que farei de quem nela participa, muito mais do que os programas ou promessas, porque estes e estas serão sempre difíceis de levar a cabo face às dificuldades intrínsicas a qualquer Junta e à a crónica escassez de recursos humanos e financeiros. Ainda não dominamos o milagre da multiplicação. De um modo ou outro, a coisa vai andar e assim terá de ser.

No resto, de tudo quanto se possa resumir do passado, e para os já eventualmente saudosistas ou os que tinham uma posição contrária à desagregação, mesmo que legítima, para demonstrar que os ganhos com a União estão por provar, podemos sempre fazer estas contas, embora, na realidade, já não contem para o totobola: Aquando da agregação na União de Freguesias, os orçamentos anuais da Junta de Freguesia de Guisande já andavam a rondar os 150 mil euros/ano, por isso 600  mil por mandato de quatro anos. Em três mandatos, 12 anos, é legítimo considerar-se pelo menos  1 milhão e 800 mil euros. ´

Feitas estas contas, mesmo que por arredondamento, agora podem questionar, onde e em quê, em Guisande, nestes últimos 12 anos, foi aplicada essa verba?  Mesmo que admitindo que metade desse valor, ou mesmo um pouco mais, consumiu-se  em despesas correntes, limpezas e algum apoio monetário, nomeadamente ao Centro Social, e mesmo considerando o pagamento no primeiro ano das dívidas herdadas (150 mil), para onde foi o resto? O que foi feito que justifique esse valor? Quem souber que responda!

A nova realidade a partir de Outubro próximo será esta: Bem ou mal empregues ou geridas, Guisande passará a dispor para si dessas verbas, sem que se ponha em dúvida se, proporcional ou desproporcionalmente, onde e como foram aplicadas, se mais ou menos nesta ou naquela freguesia. Numa analogia que todos percebem, num ninho de passarinhos, com quatro bocas, por preferência de quem distribuí a paparoca ou por força e esforço de quem recebe, há sempre alguma que, mais aberta, mais come e se sacia enquanto que as demais podem comer menos ou mesmo passar fome. É da natureza. Ao contrário, num ninho de filho único as contas passarão a ser fáceis de fazer porque  só uma boca a alimentar. 


4 de junho de 2025

Eleições Autárquicas - Duvídas e poucas certezas


Têm já sido anunciados alguns cabeças-de-lista que concorrerão às próximas eleições autárquicas que deverão realizar-se entre 22 de Setembro e 14 de Outubro deste ano de 2025. No nosso concelho tem estado à frente nesse andar da carruagem o PSD.

Mas no geral, considerando o universo habitual dos partidos concorrentes, ainda há muito por definir. Por Guisande, por exemplo, algumas indicações informais mas de certezas tornadas públicas, por enquanto ainda nada. E vai sendo tempo.

Face à dúvida do prazo em que terão de ser apresentadas as listas de candidatos,  a resposta é até ao 55º dia anterior à data do acto eleitoral. 

A data das eleições será marcada pelo Governo, prevendo-se que entre 22 de Setembro e 14 de Outubro, com pelo menos 80 dias de antecedência.  Por conseguinte, grosso modo, podemos dizer que será até final de Julho, o que dá aindaquase dois meses para que os partidos ou os grupos de cidadãos interessados definam as respectivas listas.

As listas devem ser apresentadas ao juiz do juízo de competência genérica com jurisdição no município. 

Se o município for abrangido por um juízo local cível, as listas são apresentadas ao juiz desse juízo. 

Os candidatos ou mandatários também devem indicar por escrito ao presidente da câmara municipal os delegados e suplentes para as assembleias e secções de voto até ao vigésimo quinto dia anterior ao da eleição.

21 de maio de 2025

O valor da palavra assumida ou a falha dela

Dizia o nosso povo, e uso o pretérito imperfeito do modo indicativo, porque isso era noutros tempos, que não os de agora, que “palavra dada, palavra honrada”. 

Mesmo que mais lenda que facto, os mais velhos terão aprendido na escola primária o quadro da nossa História em que face à incapacidade de cumprir a sua promessa em nome de D. Afonso Henriques, o aio D. Egas Moniz se fez apresentar perante D. Afonso VII, rei de Leão, com a sua família, com a corda ao pescoço, num sinal de oferta das suas vidas como penhor da palavra não honrada.

A palavra dada, e honrada, é um dos pilares mais antigos e fundamentais da convivência humana. Mesmo antes dos contratos escritos, eram as promessas verbais que definiam alianças, acordos, parcerias e até destinos inteiros de pessoas e reinos. Dar a palavra é mais do que falar — é empenhar algo de si mesmo. É colocar a própria honra em jogo. Quando alguém diz "eu prometo", "pode contar comigo", ou "estarei lá", está, de forma simbólica, estendendo a mão e oferecendo confiança.

Assumir um compromisso mesmo que não escrito, porque a palavra é volátil e não deixa vestígio, é reconhecer a responsabilidade que vem com a confiança depositada. É compreender que alguém dependerá da sua presença, da sua acção, da sua fidelidade àquilo que foi dito. E isso vale tanto para compromissos grandes, como um contrato de trabalho, quanto para pequenas coisas do dia-a-dia.

O valor da palavra está justamente na coerência entre o que se diz e o que se faz. Uma palavra honrada constrói reputações sólidas, fortalece vínculos e inspira respeito. É a base da confiança, sem a qual não há relacionamentos duradouros, nem comunidades verdadeiramente unidas. Logo, quem se compromete com a palavra e a honra, mostra o valor do seu carácter. O contrário também.

Por outro lado, quando a palavra é quebrada, quando o compromisso não é honrado, o dano vai além da situação pontual. Rompe-se um elo invisível. A decepção que nasce do não cumprimento de uma promessa fere mais do que o atraso ou o erro prático. Ela fere a confiança. E confiança, uma vez quebrada, é difícil de reconstruir.

A falha da palavra revela descuido, desrespeito, às vezes até desinteresse ou interesses mesquinhos ou objectivos negativos. Não cumprir o que se prometeu é dizer, com acções, que o outro não importa tanto quanto parecia importar no momento da fala. É banalizar o compromisso, transformar o que deveria ser sagrado em algo descartável, mutável, adaptado às conveniências.

Por isso, é sempre melhor prometer menos e cumprir tudo, do que prometer muito e falhar. E quando a falha acontece — pois todos somos humanos — o mínimo que se espera é a humildade de reconhecer, pedir desculpas e buscar reparar.

No fim, a palavra é um reflexo daquilo que somos. Quem cuida do que diz, cuida também das relações que constrói. E num mundo tão cheio de ruídos e desconfiança, ser alguém cuja palavra tem valor é um acto de coragem, de caráter — e, sobretudo, de humanidade.

Em todo este contexto, não raras vezes, são os políticos, com mais ou menos impacto ou responsabilidades, nacionais ou locais, acusados de serem pouco cumpridores de promessas, compromissos, da palavra dada. Por dificuldades próprios ou simplesmente por despeito, estratégia e conveniência pessoal ou de grupo, facilmente se “vira o bico ao prego”, desonra a palavra, reduzindo-a a um valor de lixo, como se nunca tivesse sido proferida.

Sendo certo que ainda há políticos, pessoas e entidades que fazem por honrar a palavra dada, cumprir as promessas ou compromissos, infelizmente, vai sendo corrente o incumprimento, mais ou menos descarado, grosseiro, talvez porque o valor ou significado da honra ande, de há muito, desonrado.

Definitivamente, já não somos feitos da mesma massa dos nossos antepassados. A honra ou a desonra, a palavra ou a falha dela, valem agora tanto como dez réis de mel coado.

19 de maio de 2025

LEGISLATIVAS 2025 - GUISANDE

Inscritos: 1174

Votantes: 776

Brancos:9

Nulos: 14

Abstenção: 33,89%


AD: 317

PS: 177

CHEGA: 143

IL: 41

LIVRE: 21

BE:16

PAN: 12

ADN: 12


Que análises? Exaustivamente que as façam os entendidos. De resto não há muito a analisar, e a tendência em Guisande e na nossa União de Freguesias, foi a mesma do concelho (todo de laranja), do distrito e do país.

Como percepção pessoal, o tema da imigração, que numa política de portas escancaradas, sem controlo, sem assegurar o equilíbrio de legalidade, de procura e oferta e garantia de integração plena, com acesso a direitos e cumprimento de deveres e obrigações, num curto prazo aumentou a nossa população em mais de 10% , quase triplicando na última década, parece ter sido um factor que fez crescer quem explora o medo e a insegurança que essa mundança social implica para uma fatia significativa da população.

Também, parece-me, a esquerda tem perdido porque continua agarrada a conceitos ideológicos e sociais que há muito têm perdido importância e significado no mundo ocidental. Os anos 70 e 80 já são de um passado distante. Os revolucionários de farda e boina já se extinguiram.

Os extremismos não ajudam e começam a fazer falta figuras moderadas, com verdadeiro sentido de Estado, e menos presas aos rígidos cânones ideológicos e partidários. Parece evidente, mesmo a figuras pensantes do partido, que o PS quando se afasta do registo de moderação ao centro e pende demasiado à esquerda, perde.

Pedro Nuno dos Santos (outros pensarão o contrário) nunca me pareceu ser a figura de moderação de que precisava o Partido Socialista e o país, mesmo quando ainda como putativo sucessor de António Costa. Em muito. é o principal responsável por esta hecatombe eleitoral do seu partido. Veremos se o PS encontrará uma nova direcção e um rumo mais de acordo com a sua importância, porque continua a ser preciso à estabilidade necessária. Mas moderação precisa-se.

No resto, goste-se ou não, é a democracia a funcionar.