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30 de setembro de 2023

O Ti Albertino, a origem do apelido Pomar e outras histórias e nomes

 


Nesta foto, temos duas gerações representadas, o pai, o Albertino da Silva Santos e o Alberto Jorge, um dos seus filhos e meu bom colega de juventude.

O Ti Albertino foi casado com outra figura típica de Guisande, a Ti Dina, de nome Bernardina de Leite Resende e Silva, mulher abnegada de trabalho, amor pelos filhos e pela terra, à qual se dedicou quase até aos  derradeiros dias, mesmo que já sem forças. Quem é que não se lembra de, já pela noite alta, de a ver a vir carregada dos campos, com pasto ou outras coisas, algumas vezes acompanhando o carro puxado pelo gado ou mesmo à cabeça ou no atrelado de mão?

Sobre a família Leite de Resende, falaremos num futuro artigo.

Albertino da Silva Santos era filho de Benjamim da Silva Santos, conhecido como "Benjamim do Pomar" e de Joaquina da Conceição. Sobre este apelido "Pomar" falaremos adiante. Dos seus irmãos conheço ou conheci o Alberto, que viveu em Vila Seca, a Conceição, que casou com o Cèsar Rocha e viveu em Duas Igrejas, o António, que viveu na Lama e ainda a Isaura, que vive em Casaldaça.

Por sua vez, o Ti Albertino e a Ti Dina tiveram vários filhos, o Alcino, o Alberto Jorge, o Inácio, o Albertino, o Carmindo, a Cidália, a Florinda e a Madalena.

Como se vê pela foto acima, o Ti Albertino está ainda vivo da silva e com bom aspecto mas naturalmente já com o peso da idade, pois que vai fazer daqui a nada (1 de Novembro)  96 anos, por isso já a caminho dos 100. Encontra-se bem cuidado, num lar em Maceda - Ovar,  recebendo a visita frequente dos filhos. 

A figura do Sr. Albertino é por demais conhecida e dispensa apresentações para a maioria dos guisandenses, mas com características muito próprias e peculiares, podendo, sem sombra de dúvidas, ser o modelo de pessoa calma e pacata, a quem uma casa a arder ou uma vaca  a parir não causam a mínima aflição. 

Sobre este seu modo de ser, há muitas histórias divertidas, umas mais que as outras mas em todas elas o traço da sua personalidade calma. Desde logo, invariavelmente, chegava sempre à missa quando esta já tinha começado, ia a meio e ou tantas vezes já a acabar. 

Como muitos bem sabem, entre as suas ocupações que fazia calmamente, também fazia de barbeiro e os seus clientes, como o meu tio Neca, quando para lá iam sabiam ao que iam e por isso sem hora para chegar a casa. Contou-me, ele, o meu tio, que não raras vezes o corte da sua barba era interrompido a meio porque chegara alguém a casa do Albertino para este lhe lhe fazer chegar o touro à vaca. Como se sabe o Ti Albertino teve durante algum tempo um imponente touro de cobrição que se assegurava de emprenhar as vacas da freguesia e de outras vizinhanças. Ora um barbeiro a acumular outros trabalhos é coisa para trocar as voltas a quem precisava de cortar o cabelo ou escanhoar o rosto.

Ora lá ficava o meu tio Neca com metade da cara com a barba desfeita e outra metade ensaboada. Mas, dizia ainda o meu tio, que bastava chegar alguém e bater à porta, mesmo que por assunto de menor importância, que o Ti Albertino abandonava os clientes para dar uns dedos de conversa. Ora na realidade eram dois dedos, mais os três, a mão inteira e rapidamente um recado de dois minutos passava a  meia hora, esquecendo-se do tempo

Também se conta que uma vez o Ti Albertino e o Ti António, Simeão, do Viso, combinaram, cada qual na sua bicicleta, irem pela manhãzinha à Feira das Debulhas a Cabeçais, que se faz ali pelo 13 de Julho. Ora com tanta calma e tanta conversa com pausas, e as bicicletas a serem pouco ou nada usadas, ainda com uma paragem no Carvalhal para no  Barrigas molharem as gargantas secas de tanto paleio, certo é que quando chegaram à festa já os comerciantes estavam a desmontar as tendas. Só não chegaram de madrugada a casa pelo que o caminho de regresso era a descer até Santa Ovaia e depois de Cimo de Aldeia a Guisande e as bicicletas lá fizeram o seu papel. Mas era noite quando chegaram a Guisande.

O Benjamim do Pomar e a esposa Joaquina

Voltando ao pai do Ti Albertino, o Benjamim da Silva Santos, de que ainda tenho memória, nasceu em 28 de Julho de 1895 e faleceu em 12 de Maio de 1985. Era filho de Joaquim da Silva e de Margarida de Jesus Santos (nascida a 20 de Novembro de 1852). Era neto paterno de José Bernardo da Silva e de Micaela Maria Rosa e neto materno de Manuel José de Oliveira e de Ana Francisca dos Santos.

Para além de outros, que ainda não consegui pesquisar, era irmão de Maria dos Santos (nascida em 22 de Fevereiro de 1890 e falecida em 10 de Abril de 1979) esta que casou com Manuel Ferreira Coelho ( nascido em 5 de Abril de 1890 e falecido em 11 de Dezembro de 1951) (1). Este Manuel Ferreira Coelho e Maria dos Santos eram os pais da popular Ti Elvira da Conceição, esposa do Sr. Mamede, por sua vez pais do Américo, do Miguel e do David.

Era ainda irmã do Benjamim e da Maria, a Conceição, esposa do Domingos Caetano de Azevedo ( Patela), por sua vez pais da Professora Maria Célia Azevedo.

Ainda outros irmãos do Benjamim, o António Joaquim e a Olívia Rosa (nascida a 12 de Fevereiro de 1875).


Manuel Ferreira Coelho (Regedor) e Maria dos Santos (avôs maternos, entre outros, da professora Maria Célia Azevedo)


(1) Sobre este Manuel Ferreira Coelho, casado que foi com Maria dos Santos (avôs maternos, entre outros, da professora Maria Célia Azevedo), era filho de António Ferreira Coelho (do lugar de Fornos e professor da instrução primária) e de Maria Francisca da Silva ( de Canedinho - Gião). Era neto paterno de José Ferreira Coelho  e de Maria Joaquina de Jesus (do lugar de Fornos). Era neto materno de Manuel Ferreira Pinto (do lugar de Fornos) e de Francisca Joaquina da Silva (do lugar de Canedinho - Gião).

Este Manuel Ferreira Coelho exerceu em Guisande o cargo de regedor, pelo que era também conhecido pelo Ti Manel Regedor. Faleceu em 11 de Dezembro de 1951 com 61 anos de idade.

Quanto à origem do apelido Pomar:

Dos vivos, ninguém sabe ao certo a origem do apelido ou alcunha de "Pomar" dada a esta gente, deduzindo alguns que talvez pelo sítio do lugar de Casaldaça onde viviam, ser terra de muitas árvores de boa fruta, logo um pomar.

Todavia, das minhas pesquisas, tudo indica que este Pomar refere-se mesmo a um antepassado que tinha esse apelido no nome. Falo concretamente de António José do Pomar, casado com Maria Rosa de Jesus. Este António José do Pomar era avô  paterno de Margarida Jesus dos Santos, esta por sua vez a mãe do Benjamim. Ou seja, este António José do Pomar era avô materno do Benjamim e seus irmãos. Além do mais é de supor que este apelido Pomar seja ainda anterior, por isso já parte dos nomes do pai ou avós do António José do Pomar. A investigar.

Abel Fonseca - 92 anos


Está de parabéns neste dia último de Setembro o meu primo e tio, Abel Oliveira da Fonseca, do lugar da Gândara. São 92 anos bem feitos, ou 29 ao contrário, como gosta de dizer. Ainda há dias aqui falei dele.

É filho de Joaquim José da Fonseca (nascido em 10 de Dezembro de 1907 e falecido em 28 de Maio de 1980) e de Albertina Rosa Oliveira (nascida a 18 de Abril de 1907 e falecida em 14 de Março de 1978).´

É neto paterno de Raimundo José da Fonseca e de Margarida da Conceição, ali do lugar de Cimo de Vila. É primo direito de minha mãe, por isso meu primo em segundo grau.

É neto materno de José Barbosa da Silva (natural de Canedo( e de Ana Rosa de Oliveira (natural de S. Jorge). 

A sua mãe, Albertina Rosa de Oliveira, era do lugar do Reguengo. Era filha de José Barbosa da Silva (natural de Canedo) e de Ana Rosa de Oliveira (natural de S. Jorge). Era neta paterna de António Caetano Grilo e de Maria Barbosa da Silva e neta materna de João Correia e de Felismina Rosa de Oliveira (natural de Azevedo - S. Jorge).

Os pais do Sr. Abel casaram em  1 de Maio de 1931.

Pais do Sr. Abel. Joaquim e Albertina


É um de vários irmãos Fonsecas, alguns ainda vivos, como a Ilda, a Celeste, a Idília e a Madalena e outros já falecidos, como o Hilário, o Alexandrino, a Alzira e a Conceição.

Está casado com Maria da Conceição Gonçalves (tia de minha esposa) e tiveram uma catrefada de bons filhos, como a Adelaide, a Cecília, o Ilídio, o Paulo, o Alcino, o Eduardo e o Ventura. Creio que não me esqueci de mais algum.

Apesar de uma vida dura de trabalho e sacrifício, quase sem meninice, como todos os da sua geração, o Sr. Abel ainda mantém toda a lucidez, sendo bom conversador e guardião de muitas memórias, das boas e das nem por isso. Queixa-se dos ossos, pois não devia queixar-se quem teve como profissão trabalhar de joelhos e de costas vergadas, como calceteiro que foi? A expressão "ossos do ofício" aplica-se com todo o sentido à sua profissão.

Parabéns Sr. Abel! Que Deus o tenha por cá mais anos e se possível com essa lucidez que ainda conserva e também que não lhe falte a vontade de beber o seu copo de americano, como bem lhe recomendou o bom médico Dr. Vasconcelos. 

Bem haja!

28 de setembro de 2023

Marinho Ferreira Coelho - Gente nossa

Dizem-nos na rede social Facebook, que o Marinho Ferreira Coelho está de parabéns neste dia! Pois que se repita de forma feliz por muitos mais anos junto dos seus. Dizem que faz setenta e picos. Um jovem.

Pessoalmente, mesmo que um pouco mais novo, tenho por ele uma elevada estima e consideração porque reconheço e valorizo  o seu papel de cidadania na sua e nossa freguesia. Tem os seus defeitos, pois tem, e quem os não tem, começando por mim? mas tem mais virtudes e estas é que pesam na balança do deve e haver. 

Se não estou atraiçoado pela memória, ainda me lembro dele, novo, quando chegava com a sua mota a Casaldaça quando já namorava a sua esposa, a Felisbela, quando ela vivia com a sua família junto ao caminho que é hoje a Rua da Fonte. Quando ali passava em recado à mercearia da Senhora Amélia, ficava eu a admirar aquela moto que na altura me parecia imponente. De resto, já com o Marinho com toda aquela altura, que ainda hoje tem, não ficaria bem em qualquer motorizadeca. Logo só mesmo uma moto. De resto, do seu porte físico, recordo-me de em algumas situações comunitárias impor o seu respeito e era homenzinho para pegar nalgum desordeiro pelas golas e pô-lo no olho da rua.

Sei que fez pela vida e esteve emigrado por terras de França, onde lá terá nascido a sua filha a Carina, que assim é francesa. Voltou passados uns anos e tomou conta do pequeno negócio do Joaquim Ferreira Coelho, que vendia adubos, sementes, rações e pesticidas, mas que logo tratou de ampliar e dinamizar e hoje é um bom estabelecimento que explora com o seu filho Filipe, servindo toda a freguesia de Guisande e não só, num apoio imprescindível ao cultivo das terras, alimentação de animais, sementes e tratamento de plantas e muito mais, numa grande variedade de produtos e artigos.

O Marinho foi sempre uma pessoa envolvida com a freguesia fazendo parte do Guisande F.C. um seu  interessado sócio, adepto e patrocinador. Para ele pintei no campo de jogos do Guisande F.C. um painel publicitário à  sua loja. Já passaram pelo menos 35 anos. Também pintei a inscrição que tinha na fachada do seu estabelecimento, no tempo em que os números dos telefones tinham 6 algarismo.

Marinho Ferreira Coelho também se envolveu na política a nível da freguesia,  tendo sido tesoureiro da Junta de Freguesia de Guisande no mandato de 1993/1997, trabalhando com o Manuel Ferreira (presidente) e o Rodrigo Correia (secretário). No mandato anterior, de 1989 a 1993 foi presidente da Assembleia de Freguesia. Não era político mas apenas um interessado no desenvolvimento da freguesia e por isso, avesso a certas coisas da política, optou por não continuar.

Por tudo isto e não só, o Marinho Ferreira Coelho, mesmo com aquele ar de quem está zangado com ele próprio e com o mundo, é uma alma generosa, e creio, a avaliar pelos sinais dos seus, um bom marido, um bom pai e avô. Ainda, como eu, adepto do Benfica. Merece o nosso reconhecimento por em diferentes tempos ter dado o seu contributo à nossa freguesia e comunidade, continuando a ser um guisandense de corpo e alma apesar de ter feito casa e estabelecido o negócio ali no limite com Lobão, o que para ele e para nós é irrelevante. 

Parabéns, pois, Sr. Marinho e que venham mais anos e bons junto dos seus e de todos nós!

16 de setembro de 2023

Famílias Pedrosa das Neves e Santos da Gândara

Todos sabemos que as famílias são como as cerejas, pois relacionam-se e quando começamos a tentar deslindar o cacho acabamos por chegar à conclusão de que na realidade somos todos parentes uns dos outros, com maior ou menor grau, maior ou menor afastamento.

Um exemplo, de muitos:

O meu tio-avô Manuel José da Fonseca (irmão do meu avô materno, Américo José da Fonseca) casou com Ermelinda Pedrosa das Neves, de quem teve vários filhos dos quais conheço a Margarida, que ainda vive no lugar de Fornos, casada com o Sr. Justino, ainda a Lúcia, esta casada com o Sr. Óscar Melo, e residente no lugar da Mota, Canedo, o Joaquim, que creio que está viúvo e vive em Vila Nova de Cerveira, e ainda o Gil, que não vejo há muitos anos e que viverá por Lourosa.

Manuel José da Fonseca e Ermelinda Pedrosa das Neves


Esta Ermelinda Pedrosa das Neves era irmã de Américo Pedrosa das Neves, este casado com Ermelinda Ferreira da Conceição em Guisande, em 25 de Novembro de 1933. 

Este Américo Pedrosa das Neves  nasceu em 27 de Novembro de 1906 e faleceu em 19 de Maio de 1992. Era filho de António Oliveira Neves e de Margarida Pedrosa de Jesus. Era neto paterno de Manuel Joaquim de Oliveira e de Albina Rosa das Neves. Era neto materno de António Pereira Gomes e de Margarida Pedrosa. Teve como padrinhos de baptismo Rafael Pereira Gomes e Maria Pedrosa de Jesus 

A esposa deste Américo Pedrosa das Neves,  Ermelinda Ferreira da Conceição, nasceu em 21 de Agosto de 1910. Era filha de Manuel António da Mota e de Eusébia Henriques de Jesus. Era neta paterna de Eusébio António da Mota e de Emília Rosa de Jesus. Era neta materna de José Ferreira Coelho e de Maria Henriques de Jesus. O padrinho dela foi Manuel de Oliveira Pinto e Ermelinda Henriques de Jesus, esta na altura solteira e irmã da sua mãe. Faleceu esta Ermelinda aqui em Guisande em 25 de Fevereiro de 1981. 

Desse casal Américo Pedrosa das Neves e Ermelinda Ferreira da Conceição, nasceram a Maria da Ascenção Ferreira das Neves, falecida em 18 de Março de 2019, casada que foi com Custódio Alves dos Santos, em Cimo de Vila - Guisande e ainda outros irmãos, como o Joaquim, a Irene, a Arminda, o Américo Neves, este residente em Vila Nova de Gaia (e que me ajudou nalguns dados) a Alcina, a Madalena e os outros também já falecidos. Teriam sido 9 ou 10 irmãos.

A mesma referida Ermelinda Ferreira da Conceição tinha outra irmã, a Laurinda, nascida a 25 de Outubro de 1905. Casou tarde, m em primeiras núpcias, no Porto, com um António dos Anjos Moura, de Fregim - Amarante, em 8 de Abril de 1951 e depois da morte deste, em 8 de Abril de 1951 voltou a casar na Sé do Porto com um José Maria Vieira de Sousa, de Medas - Gondomar em 22 de Dezembro de 1960.

Tenho ainda a indicação da existência de mais dois irmãos da Ermelinda, Laurinda e Grancida, o Albertino e o Reinaldo, de que de momento ainda não disponho de datas de nascimento.

Havia ainda outra irmã, a Gracinda, do lugar da Gândara, que casou com o Sr. Firmino, sendo mãe da Iria (que vive em Lisboa), do António, que vive na Teixugueira - Lobão, do Manuel (Neca dos Santos - já falecido), da Elvira, da Conceição, esposa do Sr. Arménio Costa e da Isaura, esposa do Belmiro Lopes.

Firmino e Grancinda, do lugar da Gândara.


Esta Gracinda da Conceição nasceu em 15 de Outubro de 1907 e faleceu em Fevereiro de 2005. Como se disse atrás, era irmã da Ermelinda Ferreira da Conceição e filha de Manuel António da Mota e de Eusébia Henriques de Jesus. Era neta paterna de Eusébio António da Mota e de Emília Rosa de Jesus. Era neta materna de José Ferreira Coelho e de Maria Henriques de Jesus.

Esta Gracinda casou em 8 de Agosto de 1926 com Firmino Alves dos Santos, este natural de Guisande.

Este Firmino nasceu em 4 de Novembro de 1904 e faleceu em 22  de Setembro de 1987. Era filho de José Alves dos Santos Ferreira e de Ermelinda Joaquina dos Santos, de Lobão. Era neto paterno de Manuel dos Santos e Augusta de Jesus. Era neto materno de Manuel Ferreira Lavoura e de Maria Joaquina, de Lobão.

Voltando atrás, o Américo Pedrosa das Neves, nasceu em 27 de Novembro de 1906 e faleceu em 19 de Maio de 1992. Era filho de António Oliveira Neves e de Margarida Pedrosa de Jesus. Era neto paterno de Manuel Joaquim de Oliveira e de Albina Rosa das Neves. Era neto materno de António Pereira Gomes e de Margarida Pedrosa. Teve como padrinhos de baptismo Rafael Pereira Gomes e Maria Pedrosa de Jesus

Por sua vez o António Oliveira Neves, pai do Américo Pedrosa das Neves, nasceu em 30 de Abril de 1879 e era filho de Manuel Joaquim de Oliveira e de Albina Rosa das Neves. Era neto paterno de Ana de Oliveira (à data solteira) e neto materno de António Pinto das Neves e de Ana Pinto.

15 de setembro de 2023

Família Dias de Paiva - Joaquim, Bernardo, Guilherme e outros

De novo de volta de alguns dados genealógicos de algumas famílias ou gente de Guisande. Deste vez da família Dias de Paiva e depois ligações à família Fontes que foi do lugar de Trás-da-Igreja - Guisande. 

Por nenhuma ordem especial nem cronológica, começamos por Guilherme Dias de Paiva, que para quem não conhece, e os mais novos de certeza absoluta que não, é o pai de Joaquim Correia de Paiva (conhecido pelo "Joaquim do Peita") do lugar de Fornos, bem como das suas irmãs que ainda vivem no lugar de Casaldaça.

Este Guilherme teve outros irmãos, de que abaixo, dos que conseguimos apurar, deixaremos algumas notas, nomeadamente o Joaquim, conhecido entre nós pelo "Joaquim do Pisco" que foi um reputado alfaiate, que viveu no lugar da Igreja - Guisande, e casado que foi com a  Ti Luzia, ainda  o Bernardo, que era o pai da Adelaide, viúva do Rufino Sá, de Casaldaça, ainda o António, a Miquelina e o José.

Guilherme Paiva, nasceu em 18 de Dezembro de 1907, sendo filho de Francisco Dias de Paiva (este natural de Caldas de S. Jorge) e de Margarida Augusta da Conceição (esta natural de Guisande). Era neto paterno de Jerónimo de Paiva e de Maria Teresa de Oliveira. Era neto materno de António de Pinho e de Maria de Jesus. No seu baptismo, em 27 de Dezembro de 1907, teve como padrinhos Joaquim Ferreira Pinto, professor, de Casaldaça, e Guilhermina Rosa Duarte.

Casou o Guilherme com a Custódia Correia, natural de S. Miguel do Maro, Arouca, no dia 14 de Janeiro de 1936. Faleceu em 30 de Abril de 1968.

Custódia Correia, que foi esposa de Guilherme Dias de Paiva


António Dias de Paiva, nasceu em 19 de Março de 1898, sendo baptizado em 20 do mesmo mês e ano. Foram padrinhos  António de Pinho, avô materno e Maria da Conceição de Jesus, do lugar do Viso.

Este António casou com Clara da Silva Santos. A Ti Clara, com quem ainda conversei, ali naquele casebre que ainda existe ao lado da casa do Ti Elísio Alcino, nasceu em 10 de Outubro de 1900 e foi baptizada no dia 13 do mesmo mês e ano. Era filha de Manuel da Silva Soares e de Amélia dos Santos. Era neta paterna de Tomás Soares e de Margarida de Pinho e neta materna de Joaquim da Silva e de Margarida de Jesus. Faleceu no dia de Natal, 25 de Dezembro de 1982.


A Ti Clara e o filho Manuel


Desse casamento, conheço pelo menos um filho, o Manuel Dias de Paiva (o Neca da Clara), nascido em 4 de Fevereiro de 1925 e falecido em 13 de Janeiro de 1997.


Na actualidade, o casebre, pouco mais que em ruína, onde viveu o António Dias de Paiva e a Ti Clara.


Miquelina Paiva, nasceu em 2 de Janeiro de 1900, sendo baptizada em 6 do mesmo mês e ano. Foram padrinhos José Joaquim Gomes de Almeida, do lugar do Viso, e Maria Rosa de Conceição, de Casaldaça.

Rufino Dias de Paiva, nasceu em 12 de Março de 1910, sendo baptizada em 19 do mesmo mês e ano. Foram padrinhos José Joaquim Gomes de Almeida, do lugar do Viso, e Maria Rosa de Conceição. Foram padrinhos de baptismo, Rufino da Silva Santos e Maria Rosa da Conceição. Casou com Maria Gomes em 26 de Julho de 1934. Ficou viúvo em 13 de Julho de 1993 e faleceu em 15 de Novembro de 1996 em Milheirós de Poiares.

José Dias de Paiva, nasceu em 5 de Fevereiro de 1909, sendo baptizado em 12 do mesmo mês e ano. Foram padrinhos de baptismo José Ferreira Coelho e Margarida dos Santos. Faleceu menor em 16 de Abril de 1910, apenas com um ano de idade.

José Dias de Paiva. Ainda sem dados do nascimento, nasceu ainda um outro filho a que se deu o nome do que faleceu de menor idade, conhecido popularmente como Zé do Monte, Zé da Helena ou ainda com o apelido de "Cabouco". Entre outros atributos, era um exímio reparador de guarda-chuvas. Pessoalmente, com recado do meus pais,  recordo-me de ir várias vezes a sua casa, no monte de Casaldaça,  com alguns guarda-chuvas para ele reparar o que fazia com mestria.

Joaquim Dias de Paiva


Luzia Rosa de Jesus, esposa de Joaquim Dias de Paiva

Joaquim Dias de Paiva, nasceu em 24 de Setembro de 1906, sendo baptizado no dia 27 do mesmo mês e ano, tendo como padrinho Manuel de Pinho e Maria da Luz, do lugar do Viso, esta  minha avó paterna. Casou em 26 de maio de 1926 com Luzia Rosa de Jesus, de Nogueira da Regedoura. Faleceu em 11 de Fevereiro de 2003. Foi como atrás se disse, um exímio alfaiate. Viveu no lugar da Igreja, junto à ribeira. Deixou filhos e filhas.

Bernardo Dias de Paiva e Ermelinda

Bernardo Dias de Paiva, nasceu em 28 de Março de 1905, sendo baptizado em 31 do mesmo mês e ano, tendo como padrinhos Bernardo Ferreira, das Caldas de S. Jorge e Jovita Gomes da Conceição, da Barrosa.  Casou em 20 de Junho de 1927 com Ermelinda Ferreira Gomes (1). Faleceu em 16 de Dezembro de 1966.

(1) A Ermelinda, esposa do Bernardo nasceu em 1 de Julho de 1899 e faleceu em 20 de Junho de 1989. Era filha de Manuel Joaquim de Fontes e de Maria Ferreira Gomes. Era neta paterna de Joaquim de Fontes (2) e de Maria Pinto, do lugar da Igreja - Guisande. Era neta materna de Joaquim Custódio e Margarida Gomes, do lugar de Casaldaça. Consegui apurar três irmãs, a Ana (3), nascida em 8 de Abril de 1891, a Guilhermina, nascida em 27 de Dezembro de 1894 e a Maria da Conceição, nascida a 12 de Agosto de 1897.

(3) Esta Ana casou no Porto com Abílio de Oliveira no dia 6 de Janeiro de 1923. Faleceu em 18 de Janeiro de 1979.

Tenho ainda indicações de que terá havido ainda uma outra filha, a Rosária.

Interligação com as famílias Fontes e Henriques:

(2) Este avô paterno da Ermelinda, Joaquim de Fontes, que era do lugar da Igreja - Guisande, era filho de José de Fontes e Ana Maria de Fontes. Era casado com Maria Joaquina, tendo esta como pais o Manuel José Custódio e Ana Maria de Jesus. A esposa maria Joaquina tinha como pais Manuel José da Conceição , carpinteiro, da freguesia do Vale, e Mariana, da freguesia de Louredo.

Para além do Manuel Joaquim, pai da Ermelinda, o Joaquim de Fontes teve vários filhos, entre os quais a Maria, nascida a 5 de Março de 1855, a Rosa, nascida a 21 de Janeiro de 1858, o Domingos Joaquim (4) nascido a 5 de Outubro de 1862 e falecido em 26 de Março de 1954, o José, nascido a 14 de Abril de 1864 e o Manuel, nascido a 18 de Julho de 1866.

(4) Este Domingos Joaquim de Fontes, filho de Joaquim de Fontes, era o pai da Ti Ana da Conceição Fontes (5), do lugar da Igreja, que faleceu solteira, e ainda da sua irmã Ermelinda da Conceição (6).

(5) Ana da Conceição Fontes, como se disse era filha de Domingos Joaquim de Fontes. Nasceu no dia 22 de Abril de 1901. Faleceu em 3 de Agosto de 1991. Vivia na casa dos pais em cujo local edificou casa a minha cunhada Anabela Henriques Gonçalves esposa do José Carlos da Silva Bastos.

(6) Esta Ermelinda, irmã de Ana da Conceição Fontes, nasceu no dia 31 de Janeiro de 1906 e foi baptizada no dia 4 do mesmo mês e ano. Teve como padrinhos Rufino da Silva (de Casaldaça) e Maria Rosa de Sá (do Vale). Faleceu em 26 de Junho de 1992.

Os seus pais eram o referido Domingos Joaquim de Fontes e Joaquina Rosa da Conceição (da freguesia do Vale). Casou a Ermelinda da Conceição Fontes com Belmiro Gomes Henriques (7) em 7 de Outubro de 1939. São avôs maternos de minha esposa Maria Preciosa Henriques Gonçalves, porque pais da sua mãe, Maria Margarida da Conceição Henriques.


O casal Belmiro Gomes Henriques e Ermelinda Fontes, avôs da minha esposa, aqui no nosso casamento.

(7) Este Belmiro Gomes Henriques, marido de Ermelinda da Conceição Fontes, nasceu a 29 de Março de 1906. Era filho de Joaquim Gomes Henriques, natural de Azevedo - S. Jorge, e de Margarida de Jesus, natural de Lobão. Era neto paterno de José Gomes Henriques e de Maria Rosa de Jesus, do lugar de  Azevedo - S. Jorge e neto materno de Manuel Pinto e Albina  de Jesus, de S. Miguel - Lobão. Faleceu no dia 1 de Março de 1996.

Este casal Belmiro e Ermelinda teve vários filhos: A Conceição, casada com o Jorge Tavares, de Azevedo - S.Jorge, há anos residentes da África do Sul, e que à data que actualizo estes apontamentos soube que terá falecido, a Maria Margarida, mãe da minha esposa, que foi casada com Germano da Conceição Gonçalves, a Isaura, que está casada com o José Fernando Gomes de Almeida, do lugar do Reguengo, irmão do Raimundo Gomes de Almeida, do lugar da Barrosa, ainda o António da Conceição Gomes Henriques, casado com a Maria Glória Ferreira da Silva, da casa dos Sebastiões de Cimo de Vila, falecido em 2 de Setembro de 2007, e que deixou como filhos a Madalena (esposa do meu irmão Adérito), o Fernando António, casado com a Fátima, e o Jorge, ainda solteiro.

Deste Belmiro Gomes Henriques consegui apurar que tinha uma meia-irmã, a Rosália, nascida em 27 de Abril de 1898. Era irmã apenas de pai já que a mãe era Olinda Rosa de Jesus. Por isso era neta paterna de José Gomes Henriques e de Maria Rosa de Jesus, do lugar de  Azevedo - S. Jorge e neta materna de Francisco Caetano dos Santos e de Ana Joaquina dos Santos.

Tinha este Belmiro, outro meio irmão, o Bernardino Gomes Henriques (8), que por sua vez era pai de Raimundo Gomes Henriques (com apelido de "Pega"), actualmente ainda vivo, solteiro, morador no lugar da Lama - Guisande. Por conseguinte o Belmiro e o Bernardino eram meio-irmãos porque apenas de pai.

(8) Este Bernardino, pai do Raimundo "Pega", nasceu no dia 14 de Junho de 1902 e casou em 4 de Outubro de 1930 com Maria da Conceição (9). Faleceu em 12 de Janeiro de 1979. Este apelido "Pega" não é exclusivo do Raimundo, mas extensível aos seus primos e com origem aos antepassados.

(9) Esta Maria da Conceição, mãe do Raimundo, nasceu em 29 de Novembro de 1911 e era filha de Joaquim Francisco da Silva (de Agras - Mansores - Arouca) e de Maria Rosa da Conceição. Era neta paterna de João Francisco da Silva e de Maria Joaquina e neta materna de avô incógnito e de Rosa Margarida dos Santos, de Casaldaça.


Observação: Os dados acima indicados podem padecer de imprecisões e podem não corresponder à totalidade dos familiares, referindo-se estes elementos apenas ao que foi possível pesquisar e encontrar pelo autor. Se obtidos novos elementos ou motivos a corrigir, far-se-á a actualização.

A D. Anunciação da Barrosa





Ali no lugar da Barrosa, aqui em Guisande, no gaveto entre a Rua 25 de Abril e a Rua Senhor do Bonfim, ainda sobram as ruínas do que foi uma casa abastada e importante e de uma das ilustres famílias guisandenses. Ali morou uma figura ainda conhecida dos mais velhos, e de que eu próprio ainda tenho memória, mas uma ilustre desconhecida para os mais novos. Falo da figura da D. Maria da Anunciação de Leite Resende, que, sabem os mais velhos, chegou a ser organista no Grupo Coral de Guisande. Aquele velho órgão de foles que existia na nossa igreja matriz, e no qual ainda eu toquei, e que no tempo do Padre Francisco, já sem a D. Anunciação a tocar, ele usava para os ensaios dos novos cânticos.

Esta ilustre senhora terá tido, pois, uma esmerada educação e dizem que terá estudado piano no Porto, onde também teria origens familiares por parte da mãe, de nome Jovita Gomes da Conceição. 

Os pais da D. Maria da Anunciação, Raimundo e Jovita casaram na paróquia de Nossa Senhora da Vitória, na cidade do Porto, em 22 de Agosto de 1887. Quando casaram tinha ele 25 anos e ela 17. Do que foi possível apurar, do casamento nasceram duas filhas, a Maria da Anunciação, a Maria e o António, que abaixo identificaremos.

O pai da D. Anunciação e por isso marido de D. Jovita era um ilustre guisandense do seu tempo, o Raimundo José de Leite Resende, que chegou a ser presidente da Junta Paroquial de Guisande, equivalente à Junta de Freguesia, no final do séc. XIX.

Raimundo Almeida de Leite Resende nasceu no dia 24 de Fevereiro do ano de 1872.  Era filho de António Leite de Resende e Margarida Felizarda de S. José. Era neto paterno de José Leite de Resende e Teresa de Jesus e neto materno de Domingos José Francisco de Almeida e de Maria Felizarda de S. José. Foi padrinho de baptismo Raimundo José de Almeida (morador no lugar da Lama e tio materno, e Rita Felizarda de S. José (tia materna). Faleceu em Guisande em 1933 com 61 anos.

Este Raimundo teve pelo menos uma irmã, a Maria, nascida 3m 28 de Julho de 1858 e falecida em 5 de Julho de 1941.

Quanto a Margarida Felizarda de S. José, esposa de Raimundo Almeida de Leite Resende, era bisneta paterna de Domingos Francisco de Almeida Vasconcelos (de Mafamude - Gaia) e Clara Angélica Rosa. Este Domingos Francisco era filho de Manuel Francisco Trindade e de Maria de Almeida (da Sé-Porto). Esta Clara Angélica era filha de Domingos Francisco e de Teresa Vitória (de Cortegaça-Ovar)

Ainda quanto ao Raimundo, era bisneto paterno de José Leite de Resende (do lugar de Trás-da- Igreja) e Teresa Maria. Este José Leite de Resende era filho de Manuel José de Resende e de Mariana da Silva. Esta Teresa era filha de Veríssimo Fernandes dos Santos e de Maria Francisca

Jovita Gomes da Conceição nasceu no lugar da Estrada, freguesia de Mansores, concelho de Arouca, a 31 de Janeiro de 1870, tendo sido baptizada na igreja paroquial local em 25 de Março de 1870. Era filha de António da Conceição Neves Cardoso e de Ana Gomes da Conceição Neves Cardoso (de Estrada - Mansores - Arouca). Era neta paterna de Manuel da Conceição e de Maria Rosa. Era neta materna de Ana Margarida. Faleceu em Guisande em 12 de Abril de 1940 com 70 anos. Sobreviveu ao marido 9 anos.



D. Jovita Gomes da Conceição


Os filhos de Raimundo de Almeida Leite Resende e Jovita Gomes da Conceição:


António de Leite Resende, nasceu em 21 de Abril de 1889. Foi baptizado em Guisande em 24 de Abril de 1889. Foi padrinho Raimundo José de Almeida, seu tio e a avó materna Ana Gomes da Conceição Neves Cardoso.

Maria Leite Resende, nasceu a 30 de Novembro de 1890. Foi baptizada em Guisande no dia 1 de Dezembro de 1890.

Foram padrinhos de baptismo António Joaquim dos Reis Oliveira (do Reguengo) e Margarida Felizarda de S. José (avó paterna).

Foi casada com Joaquim Gomes de Almeida, este falecido em Guisande no dia 1 de Julho de 1915 e ela faleceu em 15 de Dezembro de 1927.

Maria da Anunciação Leite Resende, nasceu em 4 de Julho de 1908. Foi baptizada no dia 9 do mesmo mês e ano na igreja matriz de Guisande. Foram padrinhos de baptismo António Joaquim dos Reis Oliveira (do Reguengo) e a sua irmã Maria, então solteira, com 17 anos. Faleceu a 5 de Maio de 1989, no Hospital em S. Paio de Oleiros, com 81 anos de idade.


Observação: Os dados acima indicados podem padecer de imprecisões e podem não corresponder à totalidade dos familiares, referindo-se estes elementos apenas ao que foi possível pesquisar e encontrar pelo autor. Se obtidos novos elementos ou motivos a corrigir, far-se-á a actualização.

13 de agosto de 2023

Manuel e Ângela - 50 anos de matrimónio

 


Manuel da Conceição Gonçalves e sua esposa Ângela Ferreira, do lugar da Gândara, celebraram matrimónio há 50 anos, em 12 de Agosto de 1973, por isso com Bodas de Ouro Matrimoniais. Uniram-se na igreja matriz de S. Martinho de Argoncilhe, terra natal da Ângela.

Não é para todos atingir tal meta de vida em comum e será cada vez mais raro já que os casamentos e compromissos matrimoniais, pelos modernos tempos que correm, são embarcações frágeis, cascas de noz, que naufragam facilmente com umas ligeiras brisas, quanto mais com tempestades e vendavais próprias do dia a dia entre dois seres humanos, por vezes tão diferentes.

Sendo assim, porque é gente boa, gente nossa, os nossos parabéns e votos de continuação  na caminhada diária, sendo que sabemos que não é fácil e ninguém é perfeito nem há manuais ou livro de instruções para um casamento duradouro e frutificador. Mas está na compreensão da imperfeição, das limitações e fragilidades, no respeito e tolerância mútuas o segredo de um matrimónio longo. No fundo o trazer à prática o compromisso perante Deus cimentado nos opostos das circunstâncias, na saúde e na doença, na prosperidade e na pobreza, na alegria e na tristeza. Mas, hoje os deuses são notários e conservadores civis e, isto  cá para nós, com o devido respeito por quem pensa diferente, sem a componente sacramental e sacralizadora da união, têm a mesma importância que a celebração de um contrato de compra de um carro, de uma casa, ou de uma ovelha. 

Bem hajam, Manuel e Ângela, e parabéns!

7 de agosto de 2023

O Sr. Manuel Alves que também é senhor Neca





Isto de falar dos outros, tanto mais quando ainda são vivinhos da silva, tem que se lhe diga, porque quem o faz corre o risco de ser injusto ou então excessivamente simpático, o que alguns dirão de lambe-botas. Mas assumo o risco e o que a seguir escreverei resulta apenas da minha percepção e experiência pessoais ao longo de muitos contactos e testemunhos, mais privados ou circunstanciais. E mais do que isso, com sinceridade, porque sem obrigação ou propósito de qualquer outra natureza.

Estou a falar do Sr. Manuel Alves, ainda entre nós apesar da sua já linda e avançada idade. A caminho dos 91 anos já que nasceu a 21 de Agosto de 1932. Uma pessoa quando é muito conhecida, pode ter vários nomes e o Sr. Manuel Alves é tratado de diferentes formas, como apenas Sr. Alves, Sr. Neca ou ainda por Nequita. Ainda Nequita do Viso ou Neca da Loja, por herança dos tempos em que em Casaldaça tinha uma mercearia e tasca. Ainda, não raras vezes, como o Neca da Tina, como é típico dos portugueses relacionar o nome do homem ao da esposa ou vice-versa.

Pessoalmente trato-o por Sr. Neca. Conheço-o desde que ainda criançola descia várias vezes do Viso a Casaldaça à mercearia da Sr.a Amélia. Nunca foram os meus pais clientes da farta mercearia do Sr. Neca, mas mesmo assim era frequentada por mim, porque que mais não fosse para comprar alguma coisa que no momento estivesse em falta na mercearia ao lado. Além do mais, mesmo já em adolescente, muitas vezes aos domingos à tarde alí íamos como gente grande merendar, um pirolito, umas zeitonas, amendoins ou então, quando com algum dinheiro inesperado no bolso, uma sandes de queijo. À fartazana! Também a comprar cromos da bola e dos cowbóys.

Mas, queira-se ou não, o Sr. Neca por um conjunto de razões é uma personalidade muito singular na nossa comunidade e freguesia e de algum modo um seu património ainda vivo mas que perdurará para o futuro. Como se sabe e já o disse, durante muitos anos exerceu a profissão de comerciante explorando a mercearia e tasca em Casaldaça, que a tomou das mãos da Sr.a Conceição e do Sr. Domingos "Patela",  e mais, tarde encerrada porque em edifício arrendado, mudou-se para o lugar do Viso, onde ainda vive, e ali continuou sobretudo com a afamada confecção de boa broa de milho e regueifa doce à moda de Guisande, aproveitando as mãos laboriosas e o saber da esposa de há 70 anos, a senhora Tina. Infelizmente tudo tem um fim e devido às limitações impostas pelo peso da idade, também essa actividade acabou há já alguns anos. Felizmente, no que toca à regueifa, creio que passou alguns segredos à minha prima Cilita. Mas ficam as memórias da azáfama, sobretudo em vésperas de Páscoa com o forno a parir deliciosas regueifas que gente de muito lado procurava.

Para além disso, o senhor Neca foi regedor na freguesia, no período que antecedeu o 25 de Abril de 1974, então um cargo que conferia respeito e autoridade e que a representava e no exercício do qual me contou algumas engraçadas histórias. Pano para outras futuras mangas. Foi por pouco tempo, é certo, e numa época em que os regedores já perdiam importância face à criação e proliferação pelas zonas rurais de postos da GNR, como aqui por perto em Canedo. Logo após o 25 de Abril de 1974 e assente a poeira da revolução, criadas as condições para as primeiras eleições autárquicas, o Sr. Manuel Alves fez parte como presidente da Junta de Freguesia de Guisande de 1982 a 1989, em represnetação do PSD. Mesmo depois disso, e perdidas as eleições em 1989 para o Partido Socialista, voltou a recandidatar-se mesmo que, já noutra dinâmica, não tivesse logrado a reconquista. 

Fez ainda parte da Comissão Fabriqueira e era pessoa muito considerada pelo saudoso pároco Pe. Francisco Gomes de Oliveira.

Foi autarca e presidente de Junta num período muito específico e singular, ainda num contexto muito particular e com uma forma de gerir nem sempre de forma mais escrutinada e com as contas porventura sem o rigor dos actuais tempos, de resto o que era prática em muitas pequenas autarquias, no que se dizia vulgarmente ser de contabilidade de mercearia, mas apesar disso, foi um período em que quase tudo estava por fazer e era preciso desbravar caminho. Mesmo que nem sempre da melhor forma e passível de conbtraditório, a verdade é que durante o seu período de governação fez-se muita obra, com abertura de várias ruas, como as ligações a Louredo e a Gião, que não existiam, alargamentos, pavimentações, melhoramentos vários, etc. Fez-se a sede da Junta, construiram-se os jardins de infância de Fornos e Igreja, fizeram-se obras nas escolas primárias, ampliou-se o cemitério, etc, etc.

Pessoalmente tenho a maior das considerações pela sua pessoa e pelo seu passado mesmo que em determinadas alturas, principalmente quando fazíamos parte do jornal "O Mês de Guisande" tivéssemos tido um papel de escrutínio e tantas vezes de crítica e de algum modo responsáveies pela mudança política. Mas nesse aspecto foi sempre o Sr. Neca de um grande sentido democrático e nunca tomou as coisas a peito, deixando na política o que era da política, o que nem todos foram capazes de fazer pelo que ainda subsistem alguns ódios de estimação que só servem para dividir mesmo em momentos e objectivos comunitários.

Por várias vezes convidou-me a participar em listas a eleições mas sempre recusei por mera opção de não envolvimento na política, mas revela a confiança que tinha nas minhas simples capacidades. Em algumas situações mais pessoais foi sempre de uma enorme consideração, respeito e seriedade. Por diversas vezes ofereceu-se para me ajudar em diversas situações e quando foi preciso não deixou de o fazer e apoiar.

Por conseguinte, estas simples palavras sobre o Sr. Neca, são apenas um reconhecimento pessoal do seu papel e do seu contributo de cidadania na freguesia, mesmo reconhecendo que, como eu e cada um de nós, não é perfeito e terá também e certamente os seus pecados e omissões. Obviamente que pode haver que tenha uma percepção diferente mas, como seres imperfeitos que somos pela nossa própria humanidade, todos estamos sujeitos a análises menos simpáticas e até tantes vezes injustas ou desonestas. Quem de algum modo se envolve em actos ou acções de cidadania, infelizmente e como desmotivação, acaba por merecer mais críticas do que merecimentos. Isto não é novidade e na nossa própria comunidade, apesar de bons exemplos e de muita gente reconhecedora, o que não falta é desconsiderações e em grande parte por pessoas que nunca nada fizeram. Daí a velhinha sentença de que só não erra quem nada faz. Não surpreende, por isso, que não faltem por aí artistas que nunca erraram na vida, na justa medida de que nunca nada fizeram a favor dos outros e da comunidade onde se integram.

Sendo assim, e porque felizmente ainda anda por aqui, parecem-me ser justas estas simples palavras sobre o nosso Sr. Neca. Não me levará a mal. Bem haja por tudo quanto fez.

5 de agosto de 2023

Quando a amizade resiste ao tempo



Num bom convívio a envolver gente estranha, e até onde terá estado o Salazar, a avaliar pelo imponente Buick ali estacionado, mas certamente todos boas pessoas, para além de esgotarem o stock de barris de cerveja, mas também com gente conhecida e amiga, a alegria de reencontrar velhas amizades que o tempo e suas vicissitudes levaram para longe. 

De facto o encontro com o David Conceição, a esposa Fátima e ainda o Américo Santos (infelizmente vítima, mas a recuperar de um problema de saúde) valeram mais que a fartura de comida e bebida e das partidas de um certo Mr. Bean. 

Depois do espanto de quem se revê passada uma ausência de dezenas de anos, o retorno a velhas memórias comuns e a constatação que apesar do cinzel do senhor Tempo, esse escultor que nos molda a todos,  ficamos com a sensação que num repente tudo volta aos tempos de outros tempos, isto porque no fundo, mais velhos, mais gordos ou magros, engelhados e com menos cabelo ou este já alvo, continuamos a ser aquilo que sempre fomos, nós próprios.

21 de julho de 2023

O Ti Abel Fonseca na sua alegre casinha

Saí de casa para uma simples caminhada, para relaxar as pernas cansadas de corridas. Mas dos seis quilómetros que planeei fazer numa hora foram apenas dois, porque passando ao portão da casa do Ti Abel, meti conversa, ou terá sido ele, não vem ao caso, e num repente, entre tagarelecices de circunstância e outras sobre outros tempos, o tempo, o de agora, passou rápido e lá tive que atalhar para casa. 

Importa já esclarecer que fico sempre na dúvida se o devo tratar por tio se por primo. Em rigor e se nestas coisas vale mais a cepa familiar e a sua seiva, então o Sr. Abel é meu primo, em segundo grau, porque directo de minha mãe. Os seus pais, o Joaquim e o Américo, eram irmãos, filhos do mesmo Raimundo Fonseca e Margarida da Conceição, que Deus a todos tenha. Quanto a tio, é, como diz o povo, por afinidade e indirecto pois é por ser marido de uma tia de minha mulher. Seja como for, porque uns bons anos mais velho, acaba por assentar melhor o tio, mesmo sabendo-se que há tios mais novos que sobrinhos, pois há.

Mas então que seja! Primo ou tio, andava o Ti Abel do Fonseca a varrer a erva seca da calçada que um neto tinha vindo cortar com "uma máquina moderna" e que assim lhe poupou mais uma carga de trabalhos às suas já cansadas costas de calceteiro que foi toda a vida. 

Ali naquela cena tudo cheirava a outros tempos, a um certo bucolismo que sentido à distância temporal emanava ainda a aromas dos meus tempos de criança. Estava a varrer a calçada feita por si com uma vassoura entretecida de giestas, coisa já em desuso, como se a limpar o terreiro do lugar onde à noitinha haveria bailarico ao som de uma harmónica de beiços. Mas não, esses tempos de juventude lá para os lados de Cimo de Vila, onde a pretexto de tudo e de nada se armava uma festa pela noite dentro, já se dissiparam há muito e agora apenas residem nas memórias da sua cabeça que diz ainda estar fresca e finória. Queixa-se é dos ossos, das costas e sobretudo das pernas. Mas vai-se mexendo e remexendo nas coisas da terra ali à volta da pequena e alegre casinha que construiu com o seu suor lá pelos idos de 60. 

Quando não aguenta as costas e os ossos de arrancar ervas, guiar tomates e feijões de vagem, senta-se ali naquele banco sob a fresca ramada de americano, onde não tem conta aberta nem dinheiro em depósito, mas o valor do descanso que vale o peso em ouro de uma vida a lidar com pedras. Fora isso, vai andando, mesmo que a tomar quatro comprimiditos todos os dias e que ainda não dispensa às refeições (que já vêm do Centro Social) o copito de vinho. Não de americano, como gostaria e de há muito recomendado pelo Dr. Vasconcelos, mas do bom, do maduro, que assenta melhor.

Depois de perguntar pela idade da mãe, quis saber quantos anos tinha eu e respondendo à minha resposta disse-me que ainda era um jovem. Claro que não sou jovem, longe disso pelo menos uns quarenta, mas de facto fez-me pensar na relatividade das coisas e mesmo da própria idade. Mas esta relatividade, queira-se ou não, conforme se for caminhando lá virá a desvanecer-se e a transformar-se em realidade absoluta como a de outro meu tio, o Tio Neca, que em Outubro próximo fará 100 anos e não há na freguesia quem vá à sua frente na marcha do viver. Todos marcham atrás de si, incluindo eu e o Ti Abel.

Quanto à sua própria idade, disse que lá para o fim deste Verão fará 92 anos. Isto ontem, com aquela memória fresca e eu agora, passado um dia, já sem a garantia de que tenha dito 92 ou 93. Ai, cabeça, cabeça! Mas naquela certeza exclamada fiquei eu na dúvida se o disse com orgulho ou se já com algum desalento por ter em conta que nestas idades cada dia que passa tem um peso que verga ainda mais o corpo e amolece a vontade de viver. Mas, bem vistas as coisas, creio que o disse com claro orgulho e ciente de que chegou até aqui com a dignidade de quem viveu com trabalho e honra e se Deus quiser ainda andará por cá mais uns bons anos. 

Que mais pode um homem querer? Fez-se à vida e pela vida. Fez-se homem ainda quando era menino, trabalhou e mourejou. Casou com a Ti Maria,  fez uma casa pequenina como um ninho e seguindo o projecto feito em ditado de "terra quanta vejas e casa quanta caibas" que carimbou na fachada com um painel de azulejos com os sagrados corações de Jesus e Maria, como a pedir bençãos para o lar. Mas de tão pequena a casa, como homem do campo foi ampliando as instalações com capoeiras, currais e alpendres para nelas recolher galinhas, gado, alfaias e pastos. 

Produziu, deu nome e criou uma catrefada de filhos que de há muito, como pardais, voaram do ninho. Mesmo calcetando de paralelos quilómetros de ruas e vielas, nunca largou as terras. Plantou árvores e arbustos e tem defronte da casa, num canteiro em forma de ás de ouros, um já mais alto e direito do que ele e com um tronco que já pede avaliação de madeireiro. Supus eu que tivesse mais idade mas lembrou-se o Ti Abel, como se ainda fora ontem, que tinha trinta anos, pois plantado que foi por 1993. Os outros, mais pequenos, são mais novitos.

A juntar a toda essa carga dos noventa e picos e às dores dos ossos, o Ti Abel tem ainda o que diz ser uma cruz bem pesada, a de cuidar da esposa já em situação de perda de faculdades cognitivas, mas que aceita e suporta com a mesma dignidade e no cumprimento de votos jurados defronte do padre há já uma carrada de anos. O casamento também é isso, ou sobretudo isso. Melhor dito, era assim, porque agora as coisas são diferentes e casamentos são apenas compromissos, não com Deus mas com o notário ou conservador, como uma conta ou contrato a prazo e pretextos para bodas em quintas, porque os divórcios estão pré-anunciados. 

Bem, Ti Abel, vou andando! - Vai lá rapaz, vai! Despediu-se enquanto tentava meter na cabeça da Ti Maria, debruçada na janela da marquise, quem era quem com ele conversara. Infelizmente, terá sido tarefa inglória.

Dali a nada, no fundo dos Quatro Caminhos, passando aos campos das suas ribeiras, ladeadas de altos choupos, que já não pode fazer, com pena, tomei o caminho de casa a remoer essas coisas e o seu significado. Afinal uma conversa tem sempre que lhe diga. Haja ouvidos e o que  entre por um não esvazie pelo outro.

Perdi uns poucos quilómetros de caminhada mas ganhei uma viagem no tempo e naquela conversa, de algum modo já repetida noutras ocasiões, dei um saltinho aos meus tempos de criança em que tantas vezes entrei na casa que foi paterna do Ti Abel. Relembrei naquele largo  as brincadeiras, as desfolhadas, os bailaricos e um rol de gente então fresca mas, cada um na sua vez, já partidos. Regressei dessa viagem e de novo à realidade do tempo presente mas até esse, que apenas foi ontem, é já passado. 

O tempo é assim, como areia seca a esvair-se numa mão,  mesmo que fechada, em que os milhares de grãos, um a um retornam ao imenso areal.

26 de junho de 2023

Muitos anos a virar frangos


Diz quem o sabe, os próprios, que a coisa já vai em 43 anos. Por conseguinte, são literalmente muitos anos a virar frangos.

A Churrasqueira da Serra, do Valdemar ou de Estôse, como é conhecida, está em Guisande a assar bom frango de churrasco desde o início da década de 1980, sempre com a mesma consistência e qualidade, fruto do saber e da velha máxima de que em equipa vencedora não se mexe. E neste caso a "equipa" é formada naturalmente pelos membros da família, sobretudo a Ana Mariae o seu marido Crispim, a mãe da Ana, a D. Fernanda, e vários outros como o Agostinho e o Valdemar que, de forma mais regular ou de vez em quando, vão ajudando, mas é também a forma e o processo de assar, a preparação dos frangos com a marinada, que, diz a Ana, continua a ser preparada pela mãe, mas também, e não menos importante, o molho com que se vai regando os pitos e que bem sabemos que nesta coisa de churrascos faz muita da diferença. Certamente que há nele um segredo familiar que é bem guardado, como convém ao negócio.

Noutros tempos, ao fim-de-semana, o espaço funcionou igualmente com serviço de refeições baseadas no churrasco, mas também de bom bacalhau, e ali acorriam a cada semana clientes certinhos. Mas a vida, é sabido, dá muitas voltas e desde há anos que apenas é assegurado aos fins-de semana o churrasco para venda directa para fora, por isso em regime do que modernamente se diz de "take-away".

É certo que churrasqueiras de frango há várias nas redondezas, mas poucas, mesmo raras, as que com a qualidade com que nos habituaram o pessoal da churrasqueira de Estôse.

A freguesia, os clientes locais mas igualmente muitos de freguesias vizinhas, têm que estar reconhecidos a quem lhes permite a oportunidade de numa refeição rápida ou num convívio familiar comer um delicioso e tenro frango de churrasco, eventualmente uma posta de bacalhau ou até mesmo um generoso coelho, quando encomendados com antecedência. Até para compor a coisa, uma salsicha e um saquinho de batata frita caseira.

Por todo este passado e historial, a churrasqueira de Estôse, é por direito próprio uma instituição da freguesia. Apesar de, naturalmente, como em qualquer negócio ou actividade, a coisa ter que dar lucro a quem a ela se dedica, seguramente quem o faz não precisaria deste extra pelo que por isso há muito de dedicação pessoal que vai para além do negócio e não será certamente um passatempo, porque o trabalho é exigente e a merecer constante controlo. E neste caso o eufemismo de trabalhar para aquecer não poderia fazer mais sentido.

Certamente que um dia a coisa terminará, porque não há muita gente disposta a sacrificar Sábados e Domingos para assar franguinhos para quem acaba de chegar da praia, de uma festa ou de um passeio. Será certamente uma perda, mas a vida é mesmo assim. Em todo o caso, certamente que perdurará na memória da freguesia ainda por muitos e bons anos. E de algum modo e nesse sentido fica aqui estampado este simples apontamento como uma simples mas justa homenagem.


8 de maio de 2023

Pe. Francisco Oliveira - 25 anos sobre a sua partida


No próximo dia 15 de Maio, passam 25 anos, um quarto de século sobre o falecimento do Pe. Francisco Gomes de Oliveira, que foi pároco da nossa freguesia de Guisande durante quase 60 anos. Tomou posse em 23 de Setembro de 1939. Celebrou na nossa comunidade as Bodas de Prata em 15 de Agosto de 1964 e Bodas de Ouro Sacerdotais  e paroquiais em 15 de Agosto de 1989.

Pelo simbolismo da data, esperava que a comunidade fizesse a sua evocação de forma mais significativa e com alguma iniciativa paralela. Poderia ser de várias formas, como uma actividade religiosa e cultural ou mesmo uma romagem da comunidade ao cemitério onde se encontra sepultado. Eventualmente a publicação de um livreto ou pagela comemorativa.

Considerando que o dia 15 será precisamente já na próxima segunda-feira, daqui a oito dias, e tendo sido anunciada apenas uma de várias intenções integrada numa normal missa, parece-me que nada mais vai ser realizado ou evocado até lá. É pena! Pessoalmente esperava algo mais! E creio que a paróquia de algum modo tinha essa obrigação moral ou mesmo até sob um ponto de vista biográfico.

De minha parte, e já o tinha anunciado, tinha perspectivado lançar por esta altura um livro monográfico sobre a freguesia e tendo o Pe. Francisco como pedra central do mesmo. Infelizmente, apesar do conteúdo estar praticamente pronto, alguns problemas de saúde que me condicionaram nos últimos três meses do ano passado bem como os gastos pessoais a somar aos relacionados com os dois anteriores livros que publiquei, um deles de distribuição gratuita, e face aos custos mais significativos com a nova publicação e para os quais não contarei com qualquer apoio ou subsídio, fizeram-me decidir pelo adiamento da publicação que espero, se não for para depois deste Verão, venha a concretizar-se na primeira metade do próximo ano.

Em todo o caso, não me está esquecida a memória do Pe. Francisco Gomes de Oliveira e o seu papel indelével que deixou na nossa comunidade paroquial num tão largo período temporal. Aqui, ainda antes da data, evoco a sua memória à passagem dos 25 anos sobre o falecimento, e este meu espaço tem sido um repositório de algumas memórias a ele associadas.

Deixo de seguida alguns dados biográficos sobre a sua pessoa e percurso sacerdotal:


08/07/1915

 Nasceu no lugar de Vilar,  freguesia de Fiães - Vila da Feira.

1928

Entrou para o Seminário de Vilar.

1932

Mudança para o Seminário da Sé, Porto.

1937

Deu-se o falecimento do P.e Custódio, pároco de Guisande, ficando a exercer o cargo o P.e Benjamim Soares, pároco de Louredo.

1938

Foi nomeado pároco de Guisande o P.e Guilherme Ferreira.

06/08/1939

Foi ordenação como sacerdote na Sé do Porto.

15/08/1939

Celebração de Missa Nova na igreja matriz de Fiães, sua terra natal.

30/08/1939

É nomeado pároco das freguesia de Guisande e de Pigeiros.

19/09/1939

Primeira visita à freguesia de Guisande.

23/09/1939

Tomada de posse como pároco de Guisande e de Pigeiros, com residência na primeira.

24/09/1939

Celebração da primeira missa na igreja matriz de Guisande.

1938/1945

Entre esta data a paróquia de Pigeiros esteve anexada a Guisande, desde, portanto, do tempo do P.e Guilherme Ferreira.

1945

A paróquia de Pigeiros é anexada à paróquia das Caldas de S. Jorge. O P.e Francisco passa a prestar serviço religioso na paróquia de Louredo, por troca ordenada pelo Bispo, com Pigeiros.

1950

É designado novo pároco de Louredo o P.e Romeiro.

1956

Faleceu o P.e Rufino Pinto de Almeida, pároco de Lobão, e por incumbência do Bispo, entre Fevereiro e 20 de Outubro, o P.e Francisco toma a seu cargo essa paróquia.

1962

Em 28 de Dezembro foi nomeado pelo Bispo D. Florentino de Andrade e Silva, como Vigário, substituindo no cargo o P.e Manuel Fernandes dos Santos, então pároco de Romariz.

15/08/1964

Comemoração das Bodas de Prata Sacerdotais (25 anos). O banquete foi realizado no salão paroquial de Guisande, o qual por essa altura ainda estava em obras.

1971

Entre 27 de Janeiro e 12 de Junho paroquiouLobão por doença do P.e Aurélio.

Em 21 de Dezembro foi reconduzido como Vigário da Vara para o triénio de 1972 a 1974.

1979

Foi exonerado como Vigário, sendo substituído pelo P.e Santos Silva, pároco do Vale

1981 a 1993 - Foi colaborador regular do jornal "O Mês de Guisande".

15/08/1989

Comemoração das Bodas de Ouro Sacerdotais (50 anos). Foi realizada uma grande festa com a participação geral da paróquia que culminou com um almoço convívio que mobilizou a maior parte da população.

15/05/1998

Depois de alguns problemas de saúde, que o obrigou a hospitalizações e a ser substituido nos serviços paroquiais pelo seu sobrinho Pe. Benjamim, acabou por falecer com quase 83 anos. Foram celebradas cerimónias fúnebres em Guisande, com a presença do Bispo do Porto, D. Armindo, e depois na sua terra natal, Fiães, onde foi sepultado em jazigo de família no cemitério local onde jaz  ao lado de seus pais.

5 de fevereiro de 2023

Bodas de Ouro matrimoniais de Joaquim e Margarida


Ontem, Sábado, dia 4 de Fevereiro, celebraram Bodas de Ouro matrimoniais o casal Joaquim e Margarida, do lugar de Fornos desta nossa freguesia. A celebração foi feita durante a missa comunitária das 17:30 horas, celebrada pleo nosso pároco Pe. António Jorge.

Por isso há meio século que o Sr. Joaquim, natural de Argoncilhe, chegou a Guisande para um casamento para a vida com a D. Margarida.

Certamente que chegaram até esta data com altos e baixos, com momentos de alegria ou mesmo de dissabores e dificuldades, porventura com algumas situações de desânimo, como é próprio da natureza de qualquer casamento, mas certo é que para se chegar até aqui é demonstrativo de que foram capazes de cumprir o essencial do compromisso dado mutuamente quando se enlaçaram, o de fidelidade e de amor, tanto nos tempos de alegria como nos de tristeza, na saúde e na doença, todos de os dias da vida em comum. 

Amadureceram como pessoas, construíram o seu lar e dessas sementes têm filhas e netos. Fazem parte de uma família mais ampla, a da nossa comunidade onde sempre se integraram.

Pode parecer coisa de somenos importância, mas não é. É difícil, e pelo padrão dos tempos que correm já será proeza celebrar Bodas de Prata por vinte e cinco anos de vida em casal quanto mais cinquenta anos. Tal só se consegue com muito conhecimento mútuo, compreensão e tolerância sob os valores do casamento cristão. Ora estes valores, não constituindo regra, são quase a excepção que a confirma. Não surpreende, pois, o ritmo e a preponderância dos divórcios temporãos e das uniões a prazo, à experiência como se de coisas descartáveis se trate. Hoje em dia as ligações são quase só isso: Experiências em que ao primeiro desafio, mesmo sem ser grande o vendaval, o barco vacila e afunda-se. É o que é.

Ora o casal Joaquim e Margarida não serão um modelo perfeito de casal cristão, porque os não há, mas nesta conta redondinha de vida matrimonial, como as alianças que agora renovaram, têm demonstrado ser um casal muito unido, dois bons seres humanos optimistas e sempre bem dispostos, por vezes contagiantes, prontos para a brincadeira, convívio e um pé-de-dança, uma das qualidades que todos lhe reconhecem.

Merecem, pois, não só da sua família o orgulho, como da nossa comunidade, o apreço, respeito e votos de felicidades durante o tempo que Deus lhes quiser conceder.

Parabéns e venham mais 25!


[foto: cortesia de Domingos Magalhães]

18 de outubro de 2022

As memórias da casa chanfrada


Há casas assim, que mesmo de portas e janelas fechadas estão permanentemente, dia e noite, escancaradas às nossas memórias. Entramos nelas com pézinhos de lã, como fantasmas, damos umas voltinhas e voltamos a sair sem ter feito ranger o velho soalho ou fazer chiar os gonzos das portas.

Esta casa, a da fotografia, todos a conhecem. Fica ao fundo do monte do Viso. Chamo-lhe eu a casa chanfrada, não porque lá viva ou tenha vivido gente com umas quartas-feiras a menos; bem pelo contrário, sempre lá viveu gente ajuizada, de nome, honrada e de trabalho. 

Casa chanfrada porque tão somente tem uma das suas esquinas recortada com um chanfro, como se o mestre pedreiro ali fosse ao canto e..zás, lhe cortasse uma talhada e, por conseguinte, dessa esquina resultou uma face adicional na qual, em cima e em baixo rasgaram portas, sendo que a de cima, a do Andar, dá para uma elegante varanda, a que o nosso povo designa de sacada. Já agora, a encimar as duas portas do Andar, duas belas padieiras com florões bem talhados na pedra.

Do que me lembra, pertenceu a casa a Manuel Alves da Silva, depois a seu filho António Alves da Silva e já depois da partida da sua esposa, Maria da Conceição Ferreira Fontes, em Abril de 2020, com 94 anos, pertence ainda à herança, mas dela usufrui sobretudo a filha Micas, e é sabido que se há alguém com um passado e ainda presente de trabalho laborioso nas coisas da terra é a esposa do Manuel Tavares. De resto, pela fotografia acima, veem-se ainda ali espigas a dourar num final de Outono, mas poderia ser um montão de espigas de dentadura a sorrir, vindas das ribeiras, prontas a desfolhar ou um carrego de bandeiras de milho ou feijão a secar. Aquele fundo do monte foi sempre assim, desde que me conheço, uma eira do povo, mas sobretudo da Micas. 

De resto eram assim, noutros tempos, os largos dos lugares. No monte do Viso, atrás da capela, era uma eira comunitária do tamanho do mundo onde secavam palha, espigas e milho já malhado a assolhar dourado estendido em lençóis. 

Pois bem, só por si, esta estreita fachada orientada para sudeste, tem muita história, porque, pessoalmente, me remete para as tardes de Domingo, em que o antigo proprietário, o saudoso senhor Antoninho (António Alves da Silva), abria aquelas portas de par em par  e enchia o lugar com o som da sua aparelhagem em que punha a rodar um velho disco de uma qualquer sinfonia de Beethoven, Mozart ou Wagner. 

Era uma das suas paixões, a música clássica e os respectivos discos. Outra, era conhecido o seu gosto por café, que o levava várias vezes ao dia à Corga de Lobão, onde normalmente o tomava. Talvez se apaixonasse por esta mulata bebida quando com seus pais esteve no Brasil, daí, para alguns, ter ficado com o apelido de "Toninho da Brasileira".

Não sabia do actual destino dessa boa colecção de discos de vinil, mas informou-me a neta que ali continua intacta à guarda da família. Quanto a tocar, porventura não, ou esporadicamente, mas as orquestras ainda soam sinfonicamente na memória como que orientadas pela batuta do maestro do tempo.

Escusado será dizer que entrei várias vezes nessa saleta onde o senhor Antoninho se deliciava a ouvir a sua música intemporal. Nesse aspecto partilhava com ele o gosto e paixão pela música clássica. 

- Ó Almeida, sobe cá acima. Anda aqui ouvir uma coisa! - Desafiava-me por vezes quando ali passava depois do almoço de Domingo. E sabia, naturalmente discutir essa música, os nomes dos grandes compositores e sua obras.

A reboque desse gosto comum pela música, chegou-me a emprestar, com recomendações de mil cuidados, porque o não concedia a mais ninguém, alguns discos para eu passar na saudosa Rádio Clube de Guisande. Recordo-me particularmente do disco com o oratório Messiah de Georg Friedrich Händel, com o tão popular Hallelujah, que passei por alturas da Páscoa.

Mas para além desta particularidade relacionada à música clássica, a casa chanfrada traz-me muitas mais memórias. Desde logo, o referido senhor Antoninho durante anos teve ali uma barbearia. Não era propriamente um desenrascado Fígaro, como o da ópera de Rossini (O Barbeiro de Sevilha), que  naturalmente deveria ter na sua colecção de discos, mas era o quanto bastasse a ser o barbeiro do Viso. 

Mas se é verdade que o senhor Antoninho tinha sensibilidade para a música clássica, não posso dizer tanto da sua arte de barbeiro. Por várias vezes saía de lá, eu e as demais crianças do lugar, com golpes de tesouradas no pescoço e nas orelhas e até mesmo na véspera da minha comunhão solene deu-me uma golpada inadvertida no belo remoinho que por esse tempo tinha no cabelo junto à testa. As fotografias que guardo dessa solenidade, são testemunhas dessa sinfonia de tesouradas. Mas, verdade se diga, em defesa do mestre barbeiro, as crianças eram irrequietas e ali presas naquela toalha que parecia uma camisa de forças, o melão não lhes  parava quieto pelo que se punham a jeito para uns deslizes do Ti Antoninho.

Se encontrava um piolho, bicho que por esses tempos era um caseiro habitual nas cabeçolas da rapaziada, o Senhor Antoninho aniquilava-o logo ali, esmagando-o com a  unha do polegar contra a própria cabeça do dono. Morria o piolho e ali já ficava sepultado na cova aberta, tal era a pressão feita no couro cabeludo.

Por outro lado, para rapar  a parte detrás dos pescoços e junto às orelhas, usava aquelas velhas máquinas manuais de corte de cabelo, que mais pareciam um corta relva, que pressionava com força. Sentir aquele tcheq-tchec-tcheq, pela cabeça acima era uma aflição danada. Depois, para terminar o trabalho, umas valentes chapadas encharcadas de Pitralon para queimar e desinfectar os cortes e arranhões. 

Feito o trabalho, revirados o assento e o encosto da cabeça para o cliente seguinte, que tanto poderia ser o meu tio Neca, como o Ti David ou o António Santiago, e retirado o lençol com que nos amortalhava, assim, aliviado e sem saudade daquele castigo capilar, deixava eu a barbearia para trás. Lampeiro, como a fugir, não fosse ser chamado para algum retoque, subia o monte com o pescoço vermelho como o de um peru e a cabeça e rosto a arderem num formigueiro desgraçado. Dali a pouco meses repetir-se-ia o calvário, porque, regra geral, pelo menos três vezes ao ano. Pela Festa do Viso, Natal e Páscoa.

Mas era assim, e as barbearias, como a do Viso do Ti Antoninho, por esse tempo não tinham contemplações com esquisitices de limpeza. A barba era aparada à navalhada e só de ver o barbeiro a afiar aquela espada numa tira de couro oleada já dava tremuras. Pela prateleira frontal, onde estavam dispostos pentes, tesouras e navalhas, ali eram penduradas tiras de papel de jornal onde a cada passagem da navalha pelas fuças, o barbeiro nelas depositava, um a seguir ao outro, montes de espuma com barba. 

O chão, esse parecia um posto de tosquia de ovelhas, como um relvado de cabelos de todos os tons, lisos, encaracolados, de crianças, jovens e velhos. Era varrido à vassourada apenas quando acabava o dia. 

Finalmente, ainda outra memória: Por muitas vezes, quando eu criança descia o monte mandado pela minha mãe à loja (mercearia) a Casaldaça, o Sr. Silva (Manuel Alves da Silva), pai do referido senhor Antoninho, debruçado na janela central de cima, atirava-me uma moeda de 1 escudo e pedia: - Ó Merquito, traz-me uma maço de cigarros Sporting! Compra rebuçados com o troco!

Nessa altura havia cigarros com nomes dos principais clubes. Não sei qual seria o clube do Sr. Silva, mas é de supor, pela marca dos cigarros, que o Sporting. A verdade é que se não fora os belos cromos com as vistosas camisolas  encarnadas a vestir jogadores como o Eusébio, o Coluna, o Simões, o José Augusto e o Águas, entre outros, e eu não seria benfiquista mas sim sportinguista à custa de comprar tantos maços de tabaco às riscas verdes-brancas para o Sr. Silva do Viso e dos rebuçados que o pouco troco me permitia lamber.

Mas, fechando a cancela a estas memórias, toda essa saudosa gente boa, o Sr. Silva, a sua mulher, a Dona Carolina, o seu filho António, tratado por Antoninho ou Toninho, ou mesmo a mulher deste, a Ti São, já todos partiram e hoje já só subsistem em algumas das nossas memórias. Nas dos familiares, certamente,  mas nas minhas, seguramente.

Por tudo isto, a casa chanfrada continua ali a avivar-me esses tempos, episódios e figuras passadas. 

Mas volvidas décadas, desaparecidas umas pessoas e envelhecidas outras, mantém-se sempre gracioso aquele cisne, na sua pose cimentada, ali ao fundo da balaustrada da escada da casa, a fazer-nos lembrar a música do bailado do Lago dos Cisnes, de Tchaikovski, que certamente na sala de cima tantas vezes o Sr. Antoninho pôs a tocar no velho gira-discos.

Se há alguém que terá ouvido todas aquelas sinfonias, óperas e concertos, o cisne será certamente um deles. 

É perguntar-lhe!

Finalmente, mesmo que já não fazendo parte das minhas memórias, importa dizer que nesta casa chegou a funcionar pelos anos 1940 uma escola destinada a raparigas. Isto antes da construção da escola primária do Viso.