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16 de março de 2024

Partiu o Chico

O meu gato, de que aqui há poucos dias dei conta de não aparecer em casa, como lhe  era habitual, encontrei-o hoje, morto, na valeta, com todos os sinais de ter sido envenenado.

Não longe de casa. Naturalmente não sei quem para isso contribuiu, nem quero saber, porque a quem foi não lhe perdoarei. Não é próprio de cristão, mas por ora, com este sentimento de alguma raiva e frustração por ver um animal tão bonito e delicado, com menos de dois anos de vida, resgatado à nascença de uma morte certa por abandono da mãe, morrer assim, custa e dói.

Mas é assim a vida dos animais e dos gatos e o preço de ser livre tem custos, como este. Ainda há dias, já na procura, por indicação de alguém, a que volto a agradecer, ali no lugar de Azevedo no limite com Guisande, também um outro gato morto, parecido nas cores, mas que não era o meu.

Já está sepultado o Chico, ao lado de outros, da Chica, da Lira e do Pança, à sombra da laranjeira e de touças de cidreira e loureiro.

Preferia que estivesse vivo, mesmo que roubado por alguém, mas a morte por vezes é retemperadora porque mesmo que dolorosa encerra a dor maior que é a angústia e a dúvida sobre alguém que não sabemos onde pára, onde está, com quem, se morreu e em que circunstância. Isto para um animal de estimação, mas obviamente que com todo o sentido sobre uma pessoa, e por isso percebe-se a angústia de um pai ou uma mãe que vê um filho ou filha desaparecer sem lhe saber o rasto e destino.

Já descansa o Chico, em paz. Não teve sete vidas como dizem que têm os gatos, e a que teve foi curta mas feliz. Podia durar, pois podia, mas o seu instinto de gato queria andar por fora e ser livre. Foi-o!

O meu agradecimento aos poucos que no Facebook se preocuparam com o assunto e partilharam. Bem hajam! A maioria já não liga a estas coisas e apenas as boçalidades e banalidades têm eco. É o que é e de uma laranjeira não se pode esperar que produza azeitonas.

1 de março de 2024

Os meus livros no catálogo da Biblioteca Nacional Portuguesa


Link

Flores e pedras


Como alguns saberão, mantenho há quase 24 anos este meu espaço online "Eu e a minha aldeia de Guisande" onde, como consta da introdução, é "um espaço de olhares sobre a minha freguesia e partilha de coisas pessoais e impessoais".

Como tudo tem um fim, há alturas em que me dá uma vontade de pausar o projecto ou mesmo desligar as máquinas. Mas logo de seguida, principalmente quando verifico as estatísticas e vejo que na maior parte dos dias são pelo menos 500 visitas diárias, sinto um quase dever de lhe alimentar a continuidade, porque num contexto local é um número interessante de gente interessada.

Não é só pelas minhas coisas mais pessoais, como histórias, fotografias e poemas, abafos e desabafos, mas também e sobretudo pelas coisas que contam para a comunidade local, bem como  para os emigrantes dos quais vou tendo eco de que seguem sempre com atenção e interesse o que vou publicando. Muitas dessas visitas são deles.

Mas isto tem custos, não de tempo nem de dinheiro, que pouco contam, mas de exposição e escrutínio, porque entre leitores interessados e que vão transmitindo incentivos, há quem sub-repticiamente, escrutine, anote e faça disso pedras que não hesitará em atirar na primeira oportunidade. Não que isso me preocupe, porque esses vêm de carrinho, mas também é certo que não contribuiem para o alento que toda a empreitada pró bono precisa.

Posto isto, agrada-me verificar que o espaço continua com um muito interessante número de diário de visitas, com oscilações, pois claro, mas não raras vezes entre os 500 e um milhar que por aqui passam.

Neste contexto, entre flores e pedras, vai continuando, pelo menos a caminho dos 25 anos. Quem sabe se então a não a merecer uma festinha discreta das bodas de prata. Quem sabe...

11 de janeiro de 2024

Rua da Leira às escuras e cerejas

 


Noutros tempos, antes da razia feita às freguesias, havia a tal proximidade dos eleitos aos eleitores e estas coisas eram detectadas com tempo e reportadas a quem de direito. Mas para isso é preciso sentido de serviço e dar umas voltas pelo território, mesmo à noite, quiçá a perder tempo, gastar gasolina e fazer telefonemas. Por agora as modas são outras e quem quiser cerejas tem que subir à cerejeira.

Assim sendo, à falta de certas coisas, e de cerejas, informei eu próprio a E-Redes, de que em Guisande,  o troço da Rua da Leira, a partir do entroncamento com a Rua da Ramada, até ao ao limite de Guisande com o lugar de Azevedo - Caldas de S. Jorge, que interliga à Rua da Arroteia, está sem luz pública desde há várias semanas.

Já agora, no Google Maps parte desse troço da Rua da Leira aparece como Rua da Arroteia, o que está incorrecto porque ali aqueles primeiras casas ainda são em território de Guisande e não do lugar de Azevedo, mas isso são outras histórias.

Quanto à iluminação pública, vamos aguardar que a reposição seja efectuada. Para já, às escuras.


1 de janeiro de 2024

Ano novo


Dia de novo ano,

O primeiro de quantos faltar,

O princípio do fim,

O começo do resto.

Do passado ufano

Pouco adianta dele contar

O que fez por mim,

Porque ténue, funesto.


Assim correm os dias,

Os meses e os anos:

Alegres, em correrias,

Relevando desenganos.

30 de dezembro de 2023

Mini Trail do Bolo-Rei

 


Mini-Trail do Bolo-Rei. Classificação: Geral: 1.º e último. Escalão M60: 1.º e último.

24 de dezembro de 2023

Trail do Leite Creme - 1.º e último

 

Trail do Leite Creme. Classificação: Geral: 1.º e último. Escalão M60: 1.º e último.

16 de dezembro de 2023

Trail da Aletria - 1.º e último

 



Trail da Aletria. Classificação: Geral: 1.º e último. Escalão M60: 1.º e último.

Uma bombástica e épica prova que me fez levantar o ego, o pénis e a auto-estima. Uau! Awsome! E baratinho, sem consumo de água, nem de powerades, redbulls,  de géis, de gelatinas, de barritas ou de suplementos xpto à campeão.

Fora de brincadeiras, e publico isto só para dois ou três amigos, porque quem andou não tem para andar, foi um treino solitário e esforçado numa bonita manhã de sábado. Amanhã sai a bicicleta!

4 de dezembro de 2023

Livros, tempo e vontade


Estou em falha para comigo e para com os meus leitores, na publicação do livro de apontamentos monográficos sobre a freguesia de Guisande, que havia perspectivado para a primeira metade deste ano que está quase a terminar. Razões? Várias, mas sobretudo por alguma preguiça, porque no essencial tenho quase todo o conteudo que quero incluir e mesmo em quantidade que daria para um segundo volume. O principal trabalho prende-se com a paginação e correcção ortográfica já que não tenho dinheiro que me permita dispensar esse serviço e pagá-lo à editora.

Por outro lado, e sabendo que até é possível uma candidatura ao programa de apoio cultural da Câmara Municipal, o mesmo ainda está bastante burocratizado e por isso desmotivante. Creio e  parece-me, que neste tipo de situação, publicação de livros, os mesmos poderiam ser apoiados já depois de publicados, mesmo que mediante uma análise qualificada ao seu eventual interesse cultural e importância. Mas isto é apenas uma opinião e de resto a minha vontade de publicar não dependerá de qualquer apoio monetário, prévio ou à posteriori. De resto assim foi com os meus dois livros já publicados em que não recebi um cêntimo que fosse da Câmara Municipal. Além do mais, foi manifestada a vontade de apoio o meu livro infantil com a aquisição de 50 exemplares para a rede pública da Biblioteca Municipal mas tal nunca se concretizou. Nem o espero, diga-se.

Posto isto, serve este apontamento para dizer, até porque o têm perguntado, que a intenção mantém-se mas para já sem data definida. Eventualmente para o próximo ano. A ver vamos se reúno vontade e tempo de finalizar a parte editorial, paginação, correcção, estudo de capa, etc porque no que toca a investimento e gastos terá que ser, naturalmente, à minha custa. Em todo o caso, ao dar mais algum tempo à coisa até permite-me amadurecer e melhorar um ou outro assunto a incluir no livro e há sempre coisas novas e interessantes a surgirem e que será importante incluir.

Para além deste livro de apontamentos monográficos, há ainda a vontade de publicar um segundo livro de poemas, pequenos contos e outros textos, que até poderá acontecer ser publicado antes. A ver vamos!

18 de novembro de 2023

Treino matinal 18112023

 


Vale o que vale, até ao Vale. Um treino matinal por Guisande, Caldas de S. Jorge, Louredo e Vale.

4 de novembro de 2023

Treinito matinal 04112023 - Rio Uíma

 

Treinito matinal. Objectivo: Ir a Pigeiros e fotografar o rio Uíma no lugar da Várzea. Caudal bem cheio. Regresso pelo caminho dos Corgos, bem encharcado. Como diz o LB, "...é assim que a malta gosta!"























1 de novembro de 2023

Sessenta mais um

O que pode um homem escrever no dia do seu próprio aniversário? Tantas e tantas coisas, mas já de tanta experiência a fazer anos, já pouco importa o que escrever. Há um ano, a dobrar o cabo dos sessentas, fiquei-me por um poema, que a seguir relembro. Por conseguinte, é mais uma onda a rebentar na praia e cada vez mais, mansa e a espumar-se. Talvez já não valha a pena ter ondas à moda de Peniche, enormes, alterosas, como que ainda com toda a praia por sua conta onde rebentar. A esta altura da caminhada, uma onda tépida, macia, a massajar os pés, é quanto basta.

Seja como for, escreva-se o que se escrever, com mais ou menos filosofias, mesmo na forma de um poema, no fim de contas tudo se resume a elas, às contas. Mas, felizmente, ainda bem, a quantos anos chegaremos é uma dúvida que de algum modo nos aguenta. Os muitos que ao longo da história não resistiram à dúvida, determinaram eles o desfecho. Mas, porra, ainda não sou um Camilo, um Antero ou uma Florbela! 

Haja caminho para se caminhar e vida para se viver!


Eis-me aqui, sereno, nos sessenta,

Se é que nisso haja importância;

Não mais que onda que arrebenta

Na dura costa da irrelevância.


Deixe-se, pois, que o mar do tempo

Se debata até que a falésia caia;

Virá depois, manso, em contratempo,

A espumar-se, sereno, na praia

7 de outubro de 2023

Centenário - Ti Neca do Viso


Manuel Joaquim Gomes de Almeida, ou familiarmente o Ti Neca do Viso, completa 100 anos de vida neste dia 7 de Outubro de 2023. Detém desde há vários anos, o estatuto de ser o homem mais velho da nossa freguesia de Guisande. É meu tio, irmão do meu pai.

Nasceu, pois, no mesmo dia e mês do ano de 1923 em Cimo de Vila, naquele casarão mesmo por detrás da capela do Viso.


Certidão de nascimento/baptismo

É filho de Joaquim Gomes de Almeida, nascido em 27 de Abril de 1885 e falecido em 23 de Dezembro de 1965) e de Maria da Luz , nascida em 18 de Novembro de 1890 e falecida em 1967.

Pelo lado de seu pai é neto de Raimundo Gomes de Almeida, nascido a 19 de Janeiro de 1849 e falecido em 10 de Dezembro de 1905, e de Delfina Gomes de Oliveira (esta de Casal do Monte - Romariz), nascida em 19 de Julho de 1859 e falecida em 15 de Fevereiro de 1934. Pelo lado de sua mãe é neto de José Joaquim Gomes de Almeida e de Maria da Conceição de Jesus. 

Pelo lado de sua mãe é neto de Domingos José Gomes de Almeida (falecido em 1894)  e de Joaquina Rosa de Oliveira (falecida em 1884). Pelo lado de sua mãe é bisneto de António Joaquim Gomes de Almeida e Joaquina Antónia de Jesus.

Pelo lado da sua avó paterna, é bisneto de António José de Oliveira e Maria Joana Rodrigues e de Manuel José Rodrigues e de Maria Rosa.

Pelo lado do seu pai é trineto de Domingos José Francisco de Almeida e de Maria Felizarda de São José Gomes Loureiro. Ainda pelo lado se seu pai e tetraneto de Domingos Francisco de Almeida Vasconcelos e de Clara Angélica Rosa, (estes de Mafamude-Vila Nova de Gaia) e pentaneto de Manuel Francisco da Trindade e de Maria de Almeida (estes da cidade do Porto).

Pela ramificação familiar acima descrita, percebe-se que tanto pelo lado do pai como da mãe tinha antepassados comuns. Por conseguinte, os seus pais eram primos em grau afastado. Ou seja, os bisavôs de meu Tio Neca, tanto pelo lado do pai como da mãe eram irmãos (Domingos José Gomes de Almeida, nascido em 22 de Março de 1813,  e António Joaquim Gomes de Almeida, nascido em 1820).

O meu Tio Neca teve vários irmãos, sendo ainda viva a Laurinda, a mais nova da prole, também a caminho dos 100 anos. Já partiram a Delfina, o José, o António (meu pai), o Joaquim José e a Maria Celeste.

Houve ainda uma primeira Laurinda que faleceu pouco depois do nascimento.

Foi seu padrinho de baptismo o Sr. Manuel Moreira da Costa, da casa Moreira do lugar de Trás-da-Igreja (Igreja), de quem dizia que uma vez recebeu de prenda uma pata. Foi sua madrinha Josefina Gomes de Oliveira, do lugar do Viso.


Os pais do meu tio Neca (meus avôs paternos), Joaquim Gomes de Almeida e Maria da Luz.



Não sabemos quantos mais anos tem Deus reservados para o meu Tio Neca. Serão os que forem. Para já encontra-se bem, no Lar da Misericórdia, em Arouca, estando bem tratado e cuidado. Sempre alegre, risonho, a brincar com o sobrinho Adérito o qual desde há anos é o seu principal companheiro, seu ajudante e em grande medida cuidador. Sempre bem disposto embora já com a memória por vezes a dar sinais da longa idade, mas no geral, mesmo que com os naturais problemas de mobilidade, ainda bem de saúde. Que Deus o conserve por mais anos se for essa a Sua vontade!

Ainda hoje, depois do almoço, alguns de nós contaremos estar com ele em Arouca para com um bolo celebrarmos o centenário.

18 de setembro de 2023

Notas genealógicas - Porquê?



A propósito das notas de genealogia que tenho por aqui publicado sobre algumas famílias em Guisande e suas interligações, incluindo dos vários ramos da minha família paterna e materna, alguém me perguntou o porquê e qual o interesse. 

Pois bem, antes de tudo, um mero interesse documental e para memória futura, espero. Também procurar perceber as ramificações das famílias e como elas, ao fim e ao cabo, são a teia com que se tece a nossa comunidade. Finalmente, e não menos importante, interessa-me conhecer as pessoas da minha família mas também da minha comunidade. Um pessoa para se conhecer a si própria tem que conhecer as suas origens.

Bem sei que na actualidade, a maior parte dos que andamos por cá, e sobretudo os mais novos, para além dos pais, conhecem ou conheceram os seus avôs, paternos e maternos, mas já dificilmente os seus bisavôs. Pessolamente dos meus bisavôs, pais dos meus avôs, apenas conheci a bisavô materna Margarida, mãe do meu avô materno, Américo José da Fonseca. 

Por conseguinte, se a coisa já é assim difícil ao nível do conhecimento dos nossos avôs e ainda mais difícil quanto aos bisavôs, naturalmente que esse desconhecimento, mesmo que meramente documental se torna mais denso quanto mais se recua no tempo, porque os documentos onde é possível pesquisar e procurar dados nos diferentes arquivos, nos velhos registos e assentos de nascimentos, casamentos e óbitos, são escassos, de difícil acesso e com baixa qualidade de leitura porque em suportes deteriorados pelo tempo e incúria no seu manuseamento e conservação e ainda por caligrafias e ortografias quase sempre difíceis de decifrar.

Em resumo, as notas que tenho publicado e espero continuar por aqui a partilhar, não têm outras pretensões para além de serem  meros apontamentos e início de pontas de intrincados novelos que depois outros, ou familiares interessados, eventualmente poderão deslindar. Mas mesmo que procurando ir até ao nível dos nossos bisavôs, ou trisavôs, eventualmente tetravós, recuar pelo séc. XIX ou até a meados do séc. XVIII, parece-me que já não é mau e já dá pano para muitas mangas Mas claro que isso obriga a tempo e paciência, coisa que ainda não tenho, pelo que, para já, estes apontamentos que vou produzindo sem nenhuma ordem especial, são meramente curiosidades superficiais.

2 de setembro de 2023

Guelras sem sangue

Algumas das notícias deste Sábado, JN e RTP, dizem que as dádivas de sangue em Portugal continuam a diminuir apesar dos apelos. Em dez anos, entre 2012 e 2022, foram quase menos cinquenta mil os dadores. Por sua vez, os dadores são cada vez menos e mais velhos.

Tenho para mim que estas notícias têm o mesmo efeito de surpresa de alguém que por um elaborado estudo científico e matemático nos vier dizer que a soma de 2 +2 é 4.

Esta constatação adivinhava-se há vários anos, principalmente quando os governantes desrespeitaram no seu todo os dadores benévolos, ao cortar nos já poucos incentivos e privilégios. Mais tarde vieram tentar emendar o erro mas mesmo assim repondo apenas uns pózinhos, mas já sem resultado.

Veja-se o que aconteceu na nossa freguesia, em que de uma situação de várias dezenas de participantes, que, duas vezes ao ano, faziam fila para doar sangue, agora aparecem a conta-gotas, e na sua larga maioria adultos e, como eu, quase rés-vés campo de ourique no limite de idade, mesmo que já, desde Fevereiro de 1991, com quase meia centena de dádivas válidas. Há quase um ano que, esclarecido o histórico,  me prometeram a merecida medalha prateada correspondente às dádivas, mas a coisa ainda não chegou à caixa-de-correio. Mesmo para o reconhecimento do número de dádivas efectivas foi uma luta travada e o bater a muitas portas reclamando da injustiça e da falta de rigor no registo.

Perante estas desconsiderações, o que esperam os senhores que mandam nestas coisas?

Além do mais, os mais jovens, e também analisando por Guisande, sujeitam-se às picadelas de tatuagens em tudo quanto é centímetro de pele, mas mostram relutância por serem picados para doar sangue. Por outro lado, das 9 às 13 de sábado, na sua maioria ainda estão a dormir de ressaca.

É o que é e, mesmo sem generalizar, e passe algum sarcasmo, a coisa não anda longe desta realidade.

27 de agosto de 2023

Avançando


Sim, claro, ainda me lembro disso,

Mesmo que trinta e cinco passados;

Eu e tu, ali juntinhos, enlaçados,

Nesse sim ao amor, ao compromisso.


É prosseguir, porque só avançando,

Rumo ao destino, mesmo que incerto,

A cada passo ficaremos mais perto

E o caminho só se faz caminhando.


A.A. /P.G. -27-08-1988/27-08-2023

2 de agosto de 2023

Colheita


Na borda daquele caminho, além,

Num terrão que o sol beija todas as manhãs,

Há uma macieira, não sei se plantada por mão ou vento.


Mas, meu Deus, como sabe tão bem,

Quando no fim do Verão colho nela as maçãs,

Em ansiada canseira em dia e hora marcadas p´lo tempo.


Há frutos assim, que se desejam colher,

Como a chegada cansada ao fim de um trilho,

Ou se no ventre  lançada a semente na mulher,

Que germine pura e, no tempo, se colha um filho.


A.Almeida - 25072023

Um mundo ao contrário


Tenho um mundo todo meu, imaginário

Por onde vagueio absorto, dormente;

Tudo nele é estranho, ao contrário:

Nasce-se da terra, morre-se no ventre.


É de nuvens macias a casa onde moro,

Os regatos e os rios nascem no mar,

As fontes são olhos em eterno choro,

As flores têm lábios e sabem beijar.


Mas nesse mundo estranho, imperfeito,

Vives a meu lado nessa igual desarmonia,

A envolver-me como amante em seu leito 

À luz do sol, porque o luar só nasce de dia.


Tenho um mundo só meu, imaginário,

Por onde corro livre, sem destino;

Sou actor de uma peça sem cenário,

Onde nasci velho e morrerei menino.


A.Almeida - 01082023

1 de agosto de 2023

Uma imagem que precisa de mil palavras


É da gíria dizer-se que uma imagem vale por mil palavras, mas nem sempre a imagem só por si é reveladora de tudo quanto possa dizer. Nem sempre tem a objectividade óbvia, a leitura clara e por isso importa que o texto, as palavras, complementem tanto o que os olhos veem como o que está para além dela.

Uma imagem pode mostrar, por exemplo, um simples caminho, com pedras gastas pelo tempo e para muitos olhares não passará disso mesmo, um trecho incaracterístico já gasto por passos e rodados de outros tempos, agora pouco percorrido, desinteressante e mais ou menos similar a muitos outros. Mas as palavras podem acrescentar que é um trecho de uma milenar calçada romana, das muitas realizadas por todo o império e que ligavam cidades, províncias e regiões, da Hispânia, Gália e Britannia a Roma, segundo técnicas de construção que permitiram que chegassem sólidas aos nossos dias, quando, obviamente, não destruídas pela voragem dos tempos modernos e pela indiferença e indistinção dos valores do património histórico e cultural.

Mas adiante, porque a imagem que ilustra este artigo nada tem a ver com romanos, suas estradas ou outras façanhas de engenharia. Mas, como um caminho, ainda que metaforicamente, a imagem com a casa e o espaço onde se ergue, conduzem a outros tempos e lugares, a pessoas e a momentos, unicos e singulares.

Para quem não conhece, esta casa ali nas traseiras da capela do Viso, foi de meu bisavô paterno, Raimundo Almeida, depois de seu filho Joaquim, meu avô, que a ampliou e que já pelo fim da sua vida a transmitiu a alguns dos seus filhos, uma parte das quais a meu pai. Por conseguinte, pertence por herança e por aquisição de algumas das partes a alguns dos irmãos, a meus pais, e ainda uma parte inferior a primos. 

Pela sua antiguidade, pelas vicissitudes e efeitos de desgaste do tempo, bem como ainda por não pertencer todo o edifício a uma só propriedade, por conseguinte com os obstáculos inerentes a um edifício que é de todos e de ninguém, certo é que se tem acentuado o seu desgaste e por isso está hoje em dia com um aspecto triste e decadente, de resto como tantas outras similares construções, espalhadas pelo nosso concelho como por outros, nem sempre, ou nunca, protegidas no seu valor arquitectónico pelos organismos e instrumentos de gestão territorial, ficando assim entregues às garras do tempo e de outras vontades urbanísticas. No fundo são, em muito, umas ilustres casas de Ramires, testemunhando a decadência de homens e seus tempos, porque o tempo e as suas mudanças não se compadecem com lirismos de nobres tempos antigos e dos seus vetustos valores. O progresso e o vendaval das suas mudanças trouxeram igualmente rupturas e decadência porque quase sempre num barco a navegar sem homens ao leme.

Em grande parte, estas casas ditas de lavrador eram os solares de gente abastada mas que vivia essencialmente do seu trabalho e da vida ligada ao campo, à floresta e aos animais. Gente que no geral não nascia já rica por desígnio maior, mas que se fazia a si própria com muito sacrifício, trabalho e esforço. Por conseguinte, são estas casas uma espécie de solares minhotos ou beirões, bem mais modestos, sem brasão no cimo do portão da entrada, porque não foram erigidas sobre dinheiro de emigrantes fazendeiros arrancado lá pelos brasis, ou de condes, viscondes ou morgados, ou de qualquer outro título de nobreza de fachada, tantas vezes cimentada à custa do suor dos demais que os serviam a preço de uma côdea e água por jeira. Ainda por um oportunismo avaro da ignorância inocente de gente mal remediada. Sempre foi assim porque "em terra de cegos quem tinha um olho era rei". 

Não faltam, pois, por aí e mesmo por aqui, histórias de gente e famílias que foram salteadas em cartórios, porque quem sabia ler e escrever redigia contratos e escrituras que eram assinadas literalmente de cruz. Surripiar à luz de contratos ardilosos várzeas e soutos a gente boa mas iletrada, era como roubar doces a bébés. Assim se consolidaram fortunas, ampliaram tapadas e largas ribeiras, ao abrigo do resgate por incumprimento tantas vezes falhado, não por falta de palavra, que era lei e honra, mas por ratoeiras e estratagemas de clérigos e doutores.

Mas adiante, porque ali por aquela casa do Ti Jaquim do Viso sempre morou gente, não tica mas remediada e sobretudo honrada, e não fosse assim, o património de terras ao luar seria imensuravelmente superior. Ainda sobrou um bom naco e feita a partilha ainda em vida, cada um dos muitos filhos pôde herdar um bom quinhão composto de leiras, campos e matos, porque dinheiro vivo esse era raro, mesmo em casa dos mais abastados lavradores. Pena que apenas alcondorados em montes íngremes e ribeiras apertadas, longe das ruas que ladeiam o casario e que o progresso urbanístico valoriza. Servem agora para pasto de chamas e alfobres de giestas e tojo. E nem o raio da auto-estrada ali passou para serem expropriadas a preço de ouro. Por ali até o diabo perderia as sandálias.

Todavia, em rigor não é principal propósito deste texto falar da casa em si, embora naturalmente me entristeça assistir à sua decrepitude num misto de naturalidade e impotência. Acima de tudo,  pela sua proximidade, porque ali à sombra da capela de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António, quero realçar a relação da casa com o nossa festa do Viso. 

Tanto a capela como a parte mais antiga da casa serão mais ou menos contemporâneas, por isso construídas ali pelo ano de 1869 onde naquele monte nascia apenas carqueja, esteva e alguns sobreiros. Por conseguinte, a casa e a gente que nela foi habitando, em diferentes tempos e gerações, assistiram a muitas festas, a momentos de devoção, de partilha e diversão. Gente que trabalhava no campo mas que naquele dia, no primeiro Domingo do estival Agosto, celebrava a vida na abundância de uma pipa de vinho aberta e do sacrifício de um porco ou galo subtraídos ao aido ou à capoeira. Ainda e principalmente a celebração da fé e a sua religiosidade na figura e invocação materna de Maria, sob o título de Nossa Senhora da Boa Fortuna. Também a Santo António porque por esses tempos o gado e os animais tinham valor de gente e o lisboeta que morreu francsicano em Pádua era o seguro a quem se recorria. Não surpreende que por ele e na exaltação das suas virtudes ali no púlpito da capela, em dias de festa, se tenham proclamado inflamados sermões por abades mestres da oratória, principalmente em tempos em que a importância de chamar um afamado pregador tinha a mesma que agora contratar um Quim Barreiros ou outro que tal.

Havia foguetes, bandas de música, como sardinhas em lata aninhadas em pequenos e coloridos coretos; tascas a aviar vinho e iscas de bacalhau. Na própria casa funcionou durante muitos anos uma mercearia e taberna que nesses dias de festa eram uma roda viva de forasteiros com o balcão repleto de copos de quarteirão inundados de vinho a empurrar azeitonas, iscas e pataniscas; havia à volta da capela tendas onde se vendia fruta e sobretudo melão que grupos de rapazes e namorados compravam a partilhavam em doces talhadas ali à sombra do velho sobreiro; havia concertinas, harmónicas, violas e bailaricos onde homens e mulheres, rapazes e raparigas ganhavam ali o direito e permissão para se enlaçarem ao ritmo de um vira ou malhão.

Chegava gente com promessas a cumprir, da nossa terra mas também das aldeias vizinhas, de Louredo, do Vale e Romariz, entre outras. Durante muitos anos, ainda criançola, habituei-me a ver ali as mesmas pessoas que depois da missa estendiam a toalha à sombra do sobreiro ou das austrálias e a cesta de verga paria coisas boas, como enchidos, doces e fruta.

É claro que com o tempo foram envelhecendo, os romeiros e a casa  avoenga, esta perdendo as suas cores, atapetando-se já o musgo nas paredes e telhado, cumes levantados pelo vento, que no Viso sopra mais alto. Também as pessoas que ali passaram as suas vidas, subindo e descendo escadas, abrindo e encerrando portas e janelas, também, uma a uma, foram partindo e no que diz respeito à festa, senão radicalmente, é pelo menos diferente, mas com coisas e ritmos que permanecem imutáveis tanto hoje como há cem anos, desde logo a fé, a devoção, o amor à terra e às suas coisas. A casa e a capela, como irmãs, já velhinas, permanecem ali, de algum modo imutáveis nos seus alicerces sob a fraga do monte, na sua essência e na sua alma mesmo que desbotadas na cor e com a cal e o saibro a cairem às lascas. 

Pode mudar tudo, porque até as pedras envelhecem, mas que não se mude nem perca o mais fundamental: a alma, a nossa identidade, o sentido de pertença e o respeito por nós próprios e pelo terrão onde se implantam as nossas mais profundas raízes. Quando estes valores forem desconsiderados e mesmo esquecidos, então, mesmo que não mortos, estaremos irremediavelmente pobres, ocos e escancarados como uma velha casa sem telhado, sem portas e janelas ou se ainda com elas, já empenadas e sem gonzos. 

Há imagens que precisam de mil palavras, mas estas serão sempre escassas e insuficientes na descrição que se queira fazer sobre as visões que apenas estão presentes no mais profundo de cada um de nós.

Esta imagem, pois, para além dela própria, tem muitas outras que mesmo que invisíveis são bem mais indeléveis porque profundas.

31 de julho de 2023

Onde habita o segredo


Para lá das portas onde habita o segredo

Há labirintos intrincados, imaginários;

Teu corpo é prisão que me tem em degredo

Onde vou penando por pecados solitários;


Não sei quantos quartos tens fechados

E neles quantas camas já remexidas,

Com lençóis húmidos de corpos suados

Onde se encontraram ou perderam vidas.


Mas há em mim esta constante tentação

De te ter toda aberta, acolhedora, pura,

Possuir a chave mestra da fechadura,

Aceder à profundidade do teu coração.


Não sei que segredos guardas, zelosa,

Como a mais bela pérola a rude ostra,

Como espinhos a envolver a suave rosa,

Como seguro jogador a fazer a aposta.


Não sei que segredos tens escondidos

Nem em que gavetas e cofres encerrados,

Tão pouco se os tens, porque já perdidos,

Ou se apenas, sem pena, desencontrados.


A.Almeida - 31072023