São, de facto, cada vez mais correntes os episódios de agressões de filhos, mesmo de crianças, aos pais, de alunos aos professores, dos bandidos às forças de segurança e autoridade. No limite, como ainda agora esta semana, a notícia chocante de um filho adolescente, com 14 anos, em Vagos, a assassinar a mãe à queima-roupa, por motivos fúteis. Paralelamente parece registar-se uma onda de suicídios de gente jovem.
O que estará a contecer? Estamos a colher os frutos do que temos vindo a semear enquanto sociedade, que, com políticas centrais erradas e permissivas, tem vindo a desleixar ou mesmo a perder valores, como a importância da família, da autoridade e da disciplina?
Algumas reflexões e possíveis causas:
- Crise de sentido e de valores
É certo! Vivemos numa época de grande incerteza — moral, social e emocional. As referências tradicionais (família, religião, comunidade, escola) perderam parte da sua autoridade e coesão. Muitos jovens crescem sem um "norte" claro, sentindo-se perdidos, sem propósito ou esperança.
- Má influência das redes sociais e da cultura digital
As redes sociais têm tido um impacto enorme na autoestima, na perceção da realidade e nas relações humanas.
Comparação constante: Os jovens comparam-se com vidas "perfeitas" e sentem-se inferiores e insatisfeitos com a vida que têm.
Desumanização: O excesso de interações virtuais ajudar a diminuir a empatia e aumentar comportamentos agressivos.
Banalização da violência e morte, nas redes sociais, na televisão, no cinema, nos jogos, etc.
Isolamento: Apesar da hiper-conectividade, há solidão e sensação de desconexão real.
- Famílias fragilizadas e ausência emocional
A família convencional está cada vez mais desestruturada. Os divórcios são coisa vulgar com todos os problemas inerentes quanto ao enquadramento dos filhos. Em muitas famílias, há pais ausentes (mesmo que fisicamente presentes); falta de diálogo e escuta; sobrecarga emocional e económica; inversão de papéis (filhos com demasiado poder, pais sem autoridade).
O amor sem limites e a ausência de estrutura podem ser tão prejudiciais quanto o autoritarismo e a falta de afecto.
- Pressão psicológica e saúde mental
A ansiedade, a depressão e outros distúrbios emocionais estão a aumentar de forma alarmante entre jovens. As causas incluem: exigência de sucesso constante (escola, aparência, popularidade); insegurança quanto ao futuro; falta de espaço para lidar com a frustração e o erro.
Muitos jovens não aprenderam a gerir emoções — e quando a dor se torna insuportável, alguns dirigem-na contra si próprios (suicídio) ou contra os outros (violência).
- Contexto social e cultural mais amplo
Vivemos num mundo marcado por desigualdade e sensação de injustiça; consumo como valor central (o ter a ser mais importante que o ser); perda da confiança nas instituições; percepção de insegurança e descrédito das entidades que a deviam controlar; discurso público agressivo e polarizado.
Tudo isso cria um ambiente emocional tóxico, onde a empatia e o respeito pelos outros, incluindo próximos, parecem estar em falta.
- Para uma pergunta de100 milhões de euros para a resposta certa, o que se pode fazer, sabendo-se que as coisas já não se resolvem apenas no seio familiar mas com medidas de carácter geral que envolva a sociedade e o próprio Estado, no que parece ser uma impossibilidade de inversão do combóio em movimento?