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5 de dezembro de 2022

Nascimento do rio Uíma e outras questões - Rio Ul e rio Antuã

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Há dias, a propósito de uma publicação no Facebook pela Junta de Freguesia de Arrifana, em que nela era referido que ali nascia o rio Uíma (posteriormente alterada ou corrigida para ...aqui nasce o afluente do rio Uíma), gerou-se, naturalmente, uma reacção, alguns comentários e daí alguma celeuma sobre a legitimidade da paternidade deste importante curso de água que nasce e percorre grande parte do concelho de Santa Maria da Feira, até que, a norte, depois de percorrer terras do concelho de Vila Nova de Gaia, ali desagua na margem esquerda do rio Douro, na localidade de Crestuma, ligeiramente a jusante da barragem de Crestuma-Lever.

Confesso-me um interessado em matéria de hidrografia e dos rios e ao assunto dedico algum tempo e atenção. E do muito que sei e procuro saber, verifico que a questão do nascimento dos rios e até dos seus nomes, é pano para muitas mangas e por isso para muitas confusões, discussões e controvérsias. Algumas vêm de tempos imemoriais, outras mais ou menos recentes. 

Uma destas questões que ainda não tem consenso nem decisão pelas estâncias oficiais nesta matéria, que serão o Instituto Geográfico Português e ou o Instituto Hidrográfico, prende-se com a confusão entre os rios Ul e Antuã. ACâmara Municipal de S. João da Madeira decidiu em determinada altura (2004) mudar o nome do seu parque da cidade, inicialmente baptizado de Parque do Rio Antuã, para Parque do Rio Ul, porque depois de ter solicitado a alguém um parecer sobre o assunto, considerou que o rio Ul é o que passa pela cidade e pelo parque. Assim, nesta versão adoptada pelos sanjoanenses e por muitos outros defendida, o Ul é o rio que nasce próximo da aldeia de S. Mamede, lugar da freguesia de Fajões, do concelho de Oliveira de Azeméis e que depois segue pelos lugares de Monte Calvo e Vila Nova da freguesia de Romariz, passando ainda por Milheirós de Poiares, S. João da Madeira, a poente da cidade de Oliveira de Azeméis e vai precisamente confluir com o rio Antuã entre as freguesias de Ul, Travanca e Loureiro, de Oliveira de Azeméis, um pouco abaixo do actual Parque Temático Molinológico de Ul. 

Por conseguinte, os defensores desta versão em contraponto defendem que por sua vez o rio Antuã é o que nasce na encosta da Serra Grande, junto ao lugar de Alagoas, freguesia de Escariz, do concelho de Arouca, e que depois desce por Fajões, passando por Carregosa e ainda por outras freguesias de Oliveira de Azeméis e pelo poente desta cidade, até então recolher as águas do seu afluente Ul, seguindo o seu curso passando pelo concelho e centro da cidade de Estarreja para logo depois finalmente desaguar na ria de Aveiro perto da localidade de Salreu.

Defendendo esta versão do rio Antuã que também nasce em Escariz - Arouca, por sua vez este rio recebe pela sua margem esquerda ainda um importante afluente, o rio Ínsua, que nasce também em Escariz na encosta poente da Serra Grande, entre as aldeias de Coval e Caçus. Dali desce pela baixa do lugar de Nabais e já no vale de Carregosa encontra-se com o rio Antuã. Mas msmo aqui, há elementos cartográficos que confudem o Ínsua com o Antuã, como no caso do mapa acima. Ou seja, a somar à principal controvérsia, soma-se uma segunda confusão.

Como se disse, esta questão sobre o rio Antuã incide apenas sobre os dois troços a montante do ponto de confluência entre ambos,  já que depois dele para jusante o nome é concensual e não oferece dúvidas. Para quem defende o rio Ul como o que passa por S. João da Madeira, invocam documentos antigos, onde surge tal designação, logo no séc. XII, em 1177, no documento de doação do Couto ao Mosteiro Cucujães, por D. Afonso Henriques, mas também o facto de passar pela freguesia de S. Tiago de Riba Ul, o que parece justificar-se. Todavia, é muito comum que os rios tenham um nome associado a uma determinada terra ou aldeia mas que por vezes passem bastante ao lado o que por si só não servirá de justificação.

Por outro lado, os que defendem o rio Antuã como o que passa por S. João da Madeira, invocam tambem documentos antigos que invocam esse nome anteriormente, no tempo do período da ocupação romana. Ainda esgrimem o princípio internacional que estabelece que quando dois rios se juntam o nome que se dá ao rio após a junção é a do rio mais comprido desde a nascente ao ponto de confluência. Ora por esta regra o troço do rio com maior extensão até à confluência de ambos é o que passa por S. João da Madeira (18 Km contra 17 Km), de resto como é descrito nas cartas oficiais do Instituto Geográfico do Exército nas suas populares cartas militares.

Esta velha questão do Ul e do Antuã, será, pois, para continuar, e mesmo que venha a ser tomada uma decisão oficial, a controvérsia há-de manter-se porque com diferentes argumentos e ambos válidos.

Quanto ao rio Uíma e a questão do seu ponto de origem ou nascimento de que falei no início: Tenho também para mim, do que conheço, que principia no lugar de Duas Igrejas, na zona de aplainamento da encosta poente do Monte Crasto, por sua vez este uma extesão do Monte de Mó. O lugar onde nasce o seu troço principal, porque outro há que vem da zona mais a norte do vale do lugar de Duas Igrejas, é conhecido como Fintuma, ou seja, Fonte do Uíma, já que em tempos antigos o rio era também conhecido como Uma, daí a origem do nome dos lugares associados de Tresuma (Trás do Uma), em Pigeiros e Crestuma (Crasto do Uma). Esse local onde dizem que antigamente brotava num forte bolhão superficial, fica muito próximo da zona também conhecida por Valos, um pouco a norte/nascente do campo de futebol do Romariz F.C.

Assim sendo, não nos parece crível nem ajustado que a freguesia de Arrifana o considere como nascido no seu território. É certo, que de Arrifana o Uíma tem um pequeno afluente, o Ribeiro do Regueirinho, mas de muito inferior extensão e caudal, mesmo intermitente, a ponto de ser considerado como fonte de nascimento. Parece-me, pois, excessiva tal pretensão e por isso e daí a tal publicação ter sido posteriormente corrigida ou actualizada fazendo então referência ao afluente, que deverá ser o tal ribeiro do Regueirinho.

Em todo o caso, e isto só reforça a realidade das confusões que são de origem antiga, a ter em conta as respostas do pároco de S. Jorge ao inquérito que em 1758 veio dar lugar à compilação designada de "Memórias Paroquais", quando é feita a referência ao rio Uíma, este é indicado como nascendo em Milheirós de Poiares.  Ora pelo que atrás ficou dito, também soa a tremenda asneira, já que sendo certo que passa pela freguesia de Milheirós de Poiares, na zona onde se desenvolve a curva pronunciada que inflecte o seu sentido de curso de norte/sul para sul/norte, e também recebe dois pequenos afluentes na margenm esquerda, um deles o ribeiro do Casal e outro vindo dada zona da Espinheira, não é de todo razoável atribuir ali a sua nascença, já que de facto o troço principal vem precisamente de norte para sul do lado de Pigeiros e já com caudal forte e regular.

Como se vê, estas questões com os rios, suas origens, seus traçados e seus nomes, é coisa para muita confusão e diferentes versões. Ademais, quanto aos nomes, é muito comum, e aceite, que um mesmo rio tenha diferentes nomes consoante os lugares, terras e aldeias onde passam. Como exemplo, no caso da ribeira que nasce em Guisande e passa por Gião, Louredo, Vale e Canedo, até desaguar no rio Inha, tem diferentes nomes. Oficialmente é descrito como ribeira da Mota, e há motivos para isso, de que noutra altura falarei, mas popularmente também é conhecido por rio da Lavandeira (há uma acta da Junta de Freguesia dos anos 1940 que o menciona por esse nome) e já na zona de Louredo é mais conhecido por rio Cascão. Mesmo na zona do lugar de Serralva, da freguesia do Vale, na sua margem direita, era conhecido noutros tempos, e talvez ainda nos actuais, como rio Fajouco, um topónimo que remete para o sentido de lugar baixo ou fundo.

Hão-de, pois, durar no tempo este assunto e estas questões. Apesar disso, os rios não são de niguém em particular, mas de todos e por isso e como tal devem ser preservados, limpos e valorizados como um bem comum pela riqueza ambiental e paisagística que oferecem. Com a onda e moda dos passadiços, que se generaliza por todo o país, por vezes até com aparatos despropositados, os rios e ribeiras e as suas margens vão sendo oferecidas à fruição de caminhantes. Mas mais rios e ribeiras no nosso concelho continuam esquecidos e mesmo desprezados sem qualquer limpeza regular. Há, pois, ainda muito a fazer pela sua requalificação e criação de acessos pedestres marginais.

21 de abril de 2022

Janela Aberta - Folha Dominical


Muitos já estarão esquecidos porque passam já quase seis anos (Junho de 2016) sobre a publicação do último número da "Janela Aberta", a folha dominical da nossa paróquia de S. Mamede de Guisande.

Por conseguinte, tem a importância que tem, mas tem já, seguramente, um lugarzinho na história ou nas estórias da nossa freguesia.

Como com todas as coisas, a "Janela Aberta" teve uma origem; Antes, pois, que fiquemos mais esquecidos vamos aqui relembrar a desta simples publicação.

Na última semana de Novembro de 2012 o nosso ex-pároco Pe. Arnaldo Farinha começou a compor e a publicar uma folha dominical para distribuição na igreja, dando-lhe precisamente esse nome "Folha Dominical". Era uma folha do tamanho A4 dobrada a meio, por isso apresentada no formato A5. Era composta pelos textos da liturgia do respectivo Domingo, algumas informações de agenda e horários e algumas imagens a ilustrar.

Este formato inicial durou seis números, referindo-se o último a 30 de Dezembro de 2012.

Nessa altura, por achar que o aspecto gráfico estava pobrezinho e que poderia ser feito de forma mais apelativa, falei com o pároco e propus-me a ajudar, ficando responsável pela composição e grafismo. Propus ainda que a publicação tivesse um outro título, que de algum modo emprestasse uma melhor identidade à publicação. O Pe. Farinha aceitou imediatamente, gostou da ideia e assim dali em diante, semanalmente, a partir do Nº 7, a folha dominical passou a publicar-se nessa nova etapa com o título "Janela Aberta", impressa em sistema laser, com muita qualidade, ao contrário dos primeiros números produzidos na impressora da paróquia em sistema de jacto de tinta.

Mas o título "Janela Aberta" não surgiu do acaso porque considerei interessante que fosse retomado do boletim informativo do Grupo da LIAM, com esse mesmo nome, uns anos antes, quando por minha iniciativa, o grupo então orientado pela saudosa D. Laurinda da Conceição, publicou mensalmente durante quase três anos esse boletim, com o primeiro número a sair em Janeiro de 2001 e que terminou no Nº 14, correspondente ao período de Janeiro/Junho de 2003.

Por conseguinte, a "Janela Aberta" enquanto folha paroquial e dominical teve o seu início quase 10 anos depois do boletim informativo do Grupo da LIAM.

Durante o período de publicação, a "Janela Aberta" teve dois formatos: Começou no formato original, no tamanho A5 (folha A4 dobrada a meio), com 4 páginas a cores e depois passou para o mesmo formato mas com 8 páginas e numa fase final, desde o Nº 117  de 24 de Janeiro de 2016 ao Nº 139 de 26 de Junho de 2016, passou para o formato A4 (folha A3 dobrada a meio) mas apenas a preto e branco de modo a compensar os gastos com o tamanho.

Depois da habitual paragem para férias, com a publicação do atrás referido Nº 139, a publicação não voltou a ser impressa. 

Importa referir que a paragem apenas se deveu à contenção de gastos pela paróquia pois a publicação, entre 80 a 100 exemplares, era distribuída gratuitamente e por conseguinte era sempre uma despesa regular a ter em conta semanalmente, apesar do baixo custo conseguido na impressão em sistema a laser. Por isso, pela minha parte, apesar do trabalho semanal de composição e impressão,  que me ocupava umas horas e naturalmente sem qualquer paga, a publicação teria continuado a ser composta e impressa.

Seja como for, é uma inevitabilidade que estas coisas tenham os seus momentos e períodos e nada dura eternamente, tanto mais quando representam custos que de algum modo não são compensados.

Na sua fase final, para além da habitual publicação da liturgia dominical, o conteúdo englobava ainda reflexões sobre a mesma liturgia, apontamentos relacionados às intervenções semanais do Papa Francisco, ainda a agenda dos serviços religiosos e alguns outros apontamentos ou informações de interessa da paróquia, particulares ou de âmbito geral. Creio que era uma interessante publicação e que por muitos era valorizada. Não sei se alguém guardou a totalidade dos números, mas quem o fez certamente que tem um documento interessante e que mais valor terá no futuro. 

Foi bonito enquanto durou e, como se disse no início deste apontamento, a "Janela Aberta" tem um lugarzinho na história da nossa comunidade paroquial. 

Abaixo deixo a reprodução de alguns números relacionados à transição das diferentes versões da "Janela Aberta", começando pelo tal primeiro número do boletim do Grupo da LIAM datado de Janeiro de 2001 em cujo texto de abertura se explicam e justificam as razões para a sua publicação.









Abaixo alguns outros números














3 de abril de 2022

Natalidade ou falta dela



A propósito do assunto da baixa de natalidade que flagela o nosso país e por conseguinte também da nossa freguesia, que de resto já tem sido por aqui motivo da minha reflexão, a título de comparação com tempos passados, vejamos a diferença:

Em 24 de Abril de 1962, estava eu já em andamento para nascer dali a pouco mais de seis meses, quando o então nosso pároco, Pe. Francisco Gomes de Oliveira respondeu a um Questionário emanado da Diocese em que se pretendia saber o número de crianças em idade  escolar e delas quantas frequentavam a catequese, entre outras questões.

Pois bem, a resposta, conforme fotocópia acima do documento,  foi de que havia 80 meninos e 69 meninas, por isso 149 crianças. Todas elas frequentavam a Catequese, distribuída esta em quatro classes, a qual por esse tempo estava ao encargo de 12 catequistas. Dava, pois, arredondando, uma média de 37 crianças por cada uma das quatro classes e 12 crianças por catequista.

Confesso que na actualidade não sei o número exacto de crianças na catequese, entre os 6 e 10 ou 11 anos) (alguém saberá e responderá) ou em idade do ensino primário (1ª, 2ª, 3ª e 4ª classes), mas obviamente e seguramente que muito longe das 149 crianças referenciadas no referido inquérito. Eventualmente a diferença até fará coçar a cabeça de tão abismal.

As coisas são como são e para aqui não são chamadas as razões positivas ou negativas das quais decorre um decréscimo da natalidade no nosso país ou mesmo na Europa. Apenas uma pura constatação numérica.

2 de janeiro de 2022

S. Mamede - Painel de azulejos

 


O revestimento da torre da nossa igreja matriz com azulejos terá ocorrido no ano de 1949. De resto, no painel de azulejos com a figura de Santo António, aplicado do lado nascente da torre, tem precisamente essa data inscrita. 

Ainda como prova de que terá sido nesse ano de 1949, há nas papeladas da paróquia uma factura com a compra de outro painel, no caso aquele que representa a figura do nosso padroeiro, S. Mamede (na imagem acima), aplicado no lado norte da torre da igreja. De resto há ainda mais facturas da compra de outros quadros em azulejos, também colocados no revestimento da torre de que falaremos noutra ocasião.

Quanto a este painel, foi pintado a partir da imagem do nosso padroeiro conforme existente no altar-mor, como se pode comparar pela foto abaixo.



Como se verifica pela cópia da factura acima, a data da compra foi em 15 de Junho de 1949. Informa-nos ainda o documento que o quadro custou 650$00, o que era bastante dinheiro para a época. 

Os azulejos e respectivos painéis foram fabricados e vendidos pela Fábrica Cerâmica do Carvalhinho, de Vila Nova de Gaia, na qual ao longo da sua existência saíram interessantes obras de arte de azulejaria portuguesa e de modo especial com motivos religiosos. De resto, todos os azulejos aplicados na nossa igreja, incluindo o interior e a fachada principal, foram fabricados pela respectiva fábrica. 

No nosso concelho da Feira são inúmeros os locais que têm azulejos produzidas por esta emblemática fábrica, nomeadamente junto à arcada no Museu da Cortiça em Santa Maria de Lamas, mas também no seu interior.


Sobre a Fábrica de Cerâmica do Carvalhinho, a primeira instalação ficava situada no Porto, junto à Capela do Senhor do Carvalhinho, local que inspirou o nome da fábrica, pertencente à Quinta da Fraga, junto à Calçada da Corticeira.

A sua fundação ocorreu em 1840, por Thomaz Nunes da Cunha e António Monteiro Catarino, seus fundadores, ambos então com experiência no campo da cerâmica. Em 1853 a fábrica sofreu ampliações que lhe permitiram lançar-se, definitivamente, no campo comercial.

Em 1870 Castro Júnior, que é genro de Thomaz Nunes da Cunha sucede-lhe e toma os destinos da fase seguinte de fábrica. Na viragem do século e em conjunto com a fábrica das Devesas, a fabrica resistiu à transição atingindo mesmo um elevado grau de desenvolvimento industrial.

Os azulejos de parede foram produzidos, pela primeira vez, nesta fábrica que recebeu ao longo dos quase 140 anos de existência diplomas de mérito nesta área, constituindo o maior exemplo disso a própria fachada de azulejos da Fábrica Carvalhinho, no Largo S. Domingos.

No início do século XX, as fábricas de cerâmica portuguesas debateram-se com dois problemas: o surgir de produtos cerâmicos estrangeiros (Inglaterra e França); e o atraso tecnológico das máquinas utilizadas, comparativamente com as concorrentes.

Em 1906 a fábrica é ampliada. Renovou-se a parte técnica conseguindo-se alcançar melhor e maior produção, exportando para o Brasil e África os seus produtos em grande escala.

Seguindo modelos de fábricas de cerâmica da Alemanha e Inglaterra nascem as novas e modelares instalações da fábrica do Carvalhinho, dotadas do mais moderno equipamento tecnológico da época.

Em 1930 o sócio A. Pinto Dias de Freitas vê-se obrigado a, devido a grandes dificuldades financeiras, associar-se à Real Fábrica de Louça de Sacavém de grande prestígio na época e para onde se transfere a sede da Carvalhinho sob a direcção do Sr. Herbert Gilbert. Nesta fase a fábrica atingiu o que se considerou "a idade de ouro".

Depois da morte de António Dias de Freitas, em 1958, é nomeado Frederick W. Sellers para gerente da fábrica de Gaia em colaboração com Eng.º António de Almeida Pinto de Freitas, um dos filhos do anterior sócio, que acaba por retirar-se mais tarde devido a desentendimento com aquele gerente.

Em 1965 juntamente com um irmão, compra à fábrica de Sacavém a sua parte no capital da empresa.

Não são, no entanto bem sucedidos, estes dois irmãos, uma vez que contraindo enormes prejuízos, vêem-se obrigados a entregar a fábrica em haste pública ao Sr. Serafim Andrade.

Esta encontrava-se já numa fase de total decadência, acabando por encerrar definitivamente em 1977 perdendo-se, assim, uma das mais notáveis unidades de cerâmica do nosso país.

1 de janeiro de 2022

Torneio de Futebol Juvenil "O Mês de Guisande" - 1982

 


Em 1982 o jornal "O Mês de Guisande" promoveu e organizou o seu 1º Torneio de Futebol Juvenil. Nos anos seguintes o torneio teve continuidade já sob a designação de "Guisandito".

Nesta edição de 1982, ainda no campo da Barrosa, participaram quatro equipas: Guisande-Jornal "O Mês de Guisande, organizada e dirigida pelo Américo Santos, e que ficou em 3º lugar, o  Caldas de S. Jorge,, que venceu o torneio, a do CIC - Lobão, em 2º lugar e uma equipa do lugar de Azevedo_Caldas de S. Jorge, que ficou com o 4º e último lugar.

Equipa de Azevedo - 4º lugar

Equipa do CIC-Lobão - 2º lugar

Equipa do Caldas de S. Jorge - 1º lugar

31 de dezembro de 2021

Grande Encontro da Juventude - Abril de 1963

 


Nos dias 20 e 21 de Abril de 1963 realizou-se em Lisboa, com a concentração a ter lugar no Estádio do Restelo, em Belém, a I Assembleia de Dirigentes de Organismos Católicos, que ficou conhecida como “Grande Encontro da Juventude”, realizado sob o lema «Os novos escolhem Deus».

Segundo as noticias da época, o encontro “serviria para despertar nos jovens o significado e as exigências da vida cristã através duma consciencialização progressiva da mensagem do evangelho” (in Notícias de Campelo, nº 11, de 02/1963) 

Segundo relato de um dos participantes, o meu primo Zé Almeida, de Fornos, a paróquia de Guisande também se fez representar, indo a Lisboa com um autocarro com vários jovens da freguesia. O próprio  facultou o guião do encontro, cuja capa acima reproduzimos. O guião é isso mesmo, com vários textos de abertura e reflexão, o programa, uma via-sacra, vários cânticos e orações e ainda as letras e músicas de hinos do encontro, do adeus e da Acção Católica.


Foto: Isabel Caeiro




Extracto do Jornal "Chama" do Liceu da Covilhã,
de 15 de Abril de 1963,
antevendo a realização do Grande Encontro da Juventude

Extracto do jornal "Notícias de Campelo",
de Fevereiro de 1963, também antevendo o encontro

28 de dezembro de 2021

Festa Diocesana da Infância

 


Noutros tempos a Diocese do Porto realizava a nível diocesano a Festa da Infância, organizada pelo Secretariado Diocesano da Educação Cristã. Assim, de cada paróquia participavam crianças que frequentavam as diferentes quatro classes de Catequese. O impresso acima refere-se à participação das crianças da paróquia de S. Mamede de Guisande no ano de 1961, que teve lugar no Palácio de Cristal, na cidade do Porto, a 30 de Abril desse ano.

O então pároco Pe. Francisco inscreveu 36 crianças das diferentes classes,logo a abrir com o Jorge Silva Ferreira, presumindo-se que tenham participado todas. 

Uma das premissas da participação era de que as crianças tivessem registo de bom comportamento e sem faltas às aulas de Catequese. Para as crianças que se distinguiam na Catequese eram atribuidos prémios, que mais não fosse, uma espécie de Diploma, conforme o abaixo reproduzido, nesse ano atribuído ao menino Manuel Bastos Monteiro, da 2ª Classe.



 A festa, para além da parte religiosa, certamente com uma celebração, englobava uma parte recreativa com a exibição de vários números ensaiados pelas crianças, como representação teatral, danças e cantares regionais, etc. A ter em conta uma das reportagens do evento, a coisa era bastante participada e apreciada tanto pelos adultos como pelas próprias crinaças.





Pessoalmente, um pouco mais novo, não tenho memória de ter participado numa dessas festas, não porque fosse mal comportado ou com faltas, mas ou porque não se voltaram a realizar ou porque a paróquia não participou, uma vez que tal englobava custos com o transporte.

Não sei se com os mesmos objectivos, certamente que não, até porque os tempos são outros, mas a participação de crianças da Catequese num evento algo parecido acontece agora anualmente no Santuário em Fátima, na forma de peregrinação,  habitualmente no dia 10 de Junho.

Apesar da simplicidade do assunto, não deixa de ter alguma importância o documento acima até porque identifica algumas das crianças que por essa data frequentavam a Catequese.

23 de dezembro de 2021

O Salão Paroquial de Guisande



Salão Paroquial na actualidade.

Para quem nasceu depois da primeira metade dos anos de 1960, sempre conheceu o Salão Paroquial de Guisande tal como ainda está nos dias de hoje, sendo um edifício destinado à catequese,  à realização de eventos comunitários ligados à paróquia, como encontros, reuniões, convívios, espectáculos, saraus recreativos, teatro, etc.

O Salão Paroquial tal como o conhecemos, foi edificado na primeira metade dos anos 1960, tendo a maior parte das suas obras sido realizadas no ano de 1964 e terá sido concluído por volta de 1965 ou mesmo início de 1966. 

Desenvolve-se em dois pisos, Rés-do-Chão e Andar, com a comunicação vertical entre os pisos a ser assegurada por uma escada exterior praticada na fachada lateral a norte. O acesso do espaço público ao edifício processa-se pelo caminho público localizado entre o salão e a igreja.

A planta é rectangular, de orientação poente/nascente e com dimensões aproximadas de 15,00 x 8,00 m, por isso com uma área de implantação de 120,00 m2.

Plantas dos dois pisos do Salão paroquial.
Em baixo o piso do Rés-do-Chão e em cima o pavimento do Andar.

No piso térreo desenvolve-se o salão propriamente dito, com um espaço amplo e na parte posterior um palco elevado a cerca de 1,00 m. Não tem espaços de apoio ao palco pelo que os acessos processam-se por detrás do cenário, tanto dos lados como na parte posterior. A zona do palco tem uma saída directa para o exterior do lado norte.

O Andar é composto por 5 pequenas salas, numa organização aproximadamente simétrica, a que se acedem a partir de um vestíbulo central o qual desemboca no pátio da escada exterior.

Este edifício emblemático da nossa freguesia e paróquia, foi implantado no mesmo local onde até então e desde de 1909 existiu um outro edifício, com uma implantação de área aproximada ao actual edifício mas apenas com um piso térreo, chamado de Casa dos Mordomos ou Casa das Sessões. Para além de um espaço de arrumos e apoio às actividades da paróquia, o mesmo dispunha de uma ampla sala onde a Junta de Freguesia e antes dela a Junta Paroquial, bem como os mordomos das diferentes festas, confrarias e irmandades, tinham as suas reuniões.

Pelo que é possível perceber de algumas poucas fotografias dessa antiga construção, a mesma estava implantada à face do caminho, mais larga que o actual salão e dotada com duas  portas na fachada principal, dispostas simetricamente, voltadas a poente e encimadas na parte superior central por um elemento talhado em pedra, tipo florão, com um anagrama formado pelas letras C A P. 

Não tenho a certeza do significado do anagrama, mas sendo plausível que possa corresponder a Casa de Administração Paroquial, considero, todavia, que a mais provável e para a qual me inclino, se refere a Custódio Alves de Pinho, rico proprietário do lugar do Outeiro, que terá contribuído para a construção desse edifício e que assim desse modo quis ou quiseram perpetuar esse benemérito. De resto o seu nome também está gravado na parte exterior da caixilharia do guarda-vento no entrada principal de igreja matriz a propósito das obras de melhoramentos ocorridas entre os anos de 1923 e 1929.

Florão em granito, com o anagrama C.A.P.

De referir que este elemento, na imagem acima, foi aproveitado mas afixado no actual edifício do salão, mas na fachada norte, na zona debaixo do vão da escada exterior. Creio que se o mesmo tivesse um significado relacionado ao nome ou função do salão, o Pe. Francisco teria colocado o mesmo sobre a fachada principal e não de forma discreta e quase escondida na fachada lateral norte, debaixo da escada, como já referi. Ainda lá está para ser testemunhado como o único vislumbre da antiga Casa dos Mordomos. 

Ainda quanto à configuração da antiga Casa dos Mordomos, esta teria uma cobertura com desenvolvimento em "quatro-águas", solução que acabaria por ser adoptada igualmente no edifício que lhe sucedeu.



Fotografia (colorizada) do princípio dos anos 1940, em que se vislumbra parcialmente a antiga Casa dos Mordomos.

A foto acima, datada do início dos anos 1940, apesar de captar parcialmente o edifício, será uma das poucas que permite deixar perceber o aspecto da fachada da antiga Casa dos Mordomos, com as tais duas portas, com umbreiras em cantaria e o tal florão em granito incrustado na parte central da fachada. Veja-se que, pela projecção do alinhamento do muro norte do cemitério, o antigo edifício estaria implantado um pouco mais para sul do que o actual salão.

Também pelo que é dado testemunhar por algumas fotografias da época, as paredes exteriores do nível do rés-do-chão do actual salão foram erigidas com granito, dito perpianho, e certamente aproveitando a pedra da antiga construção. Já o piso superior, o Andar, foi realizado com paredes exteriores em tijolo de barro vazado. As lajes de pavimento e tecto do Andar foram realizadas com laje em cimbre. A cobertura tem estrutura de madeira e revestimento de telha de barro do tipo "francesa".

Quando o Pe. Francisco celebrou as suas bodas de prata sacerdotais, em 15 de Agosto de 1964, o salão ainda estava em obras, praticamente na fase de pedreiro, mas foram adiantadas e mesmo com acabamentos improvisados para que no Rés-do-Chão ali fosse possível acolher com a dignidade possível a boda da celebração. Há fotografias desse evento e nota-se que o interior estava revestido com panos e elementos de verdura para disfarçar as paredes que certamente ainda não tinham o acabamento final. Mesmo o pavimento estaria apenas em cimento.


Nas fotos acima, datadas de 8 de Julho de 1964 (data de aniversário do Pe. Francisco, que então completava 49 anos de idade, pois nasceu em 1915), vê-se partes das fachada do salão paroquial e como se percebe, as paredes estavam ainda em pedra e tijolo à vista, sem reboco ou acabamento, bem como se nota no interior alguns materiais. Mesmo o beiral da cobertura ainda estava com escoras.

Já agora, na foto, reconhecem-se várias pessoas, para além do Pe. Francisco e suas irmãs, o Pe. António Santiago e seu pai,  Dr. António da Casa do Loureiro, O Sr. Domingos Azevedo “Patela”, o Sr. Belmiro Henriques, da Igreja e o Sr. José Gomes, do Reguengo. Os demais, não os identifiquei.

Como as bodas de prata seriam dali a pouco mais de um mês, a 15 de Agosto de 1964, certamente que as obras ao nível do piso térreo foram aceleradas. Nas fotos publicadas abaixo, referentes a momentos do almoço do evento celebrativo, já se percebe que pelo menos havia porta exterior e janelas, embora, como atrás se disse, com as paredes ainda em pedra e revestidas com panos brancos.


Na foto acima, também do ano de 1964 mas já depois da data das Bodas de Prata do Pe. Francisco, em 15 de Agosto desse mesmo ano, vê-se parcialmente o salão, percebendo-se as paredes do Rés-do-Chão realizadas em granito e as paredes do Andar realizadas em tijolo de barro mas já com as janelas colocadas. Também se nota que no Andar já estavam colocadas as janelas e o edifício já tinha cobertura e telhado. 




Pela leitura das fotos acima, que captam momentos do banquete das Bodas de Prata Sacerdotais e Paroquiais do Pe. Francisco, percebe-se que devido à necessidade de acolher o almoço, as obras foram aceleradas. Distingue-se o embelezamento das paredes com panos brancos bem como como existência da porta principal e certamente as janelas.

Certamente que depois de passada a data e cerimónias das Bodas de Prata foi dada continuidade aos trabalhos, tendo começado o revestimento com reboco, tanto na parte interior como na exterior e seguindo-se naturalmente os demais acabamentos, de modo a que as obras se concretizariam nos meses seguintes.

Só por 1965 é que as obras terão sido concluídas oficialmente como terminadas em fevereiro de 1966. Há fotografias (acima uma sequência de algumas delas) de um sarau recreativo, coma  data de 16 de Maio de 1965 (um Domingo), pelo que corresponderão à data da inauguração e entrada ao serviço. Esse evento recreativo constou de danças, pequenas peças de teatro e mesmo a actuação de um grupo musical, que, a ter em conta informações de alguém mais velho, terá sido o Conjunto Típico “Os Peles Vermelhas”, vindos de Lourosa.

A paróquia esmerou-se com os ensaios e apresentação do sarau que para além da parte musical contou com peças de teatro e danças. Terá sido, assim um dia importante e memorável na vida e História da paróquia.




Apesar dessa data referida como da inauguração, certo é que o prédio foi dado como concluído em 15 de Fevereiro de 1966, e dado como ocupado no dia 20 do mesmo mês.  Foi inscrito nas Finanças em 25 de Fevereiro de 1966, conforme o documento reproduzido abaixo


A importância do salão Paroquial:

O Salão Paroquial tem sido ao longo dos tempos de uma extrema importância no contexto não só da paróquia como da freguesia, mesmo que em muitos aspectos tenha sido sempre bastante básico, com uma escada exterior, sem instalações sanitárias e com o salão sem espaços de arrumos e de camarins que possam servir de apoio às actividades teatrais. Também devido às técnicas e materiais de construção, foi sempre bastante frio, sobretudo a parte do auditório, por isso desconfortável sobretudo no Inverno.

Vista da fachada norte do actual salão.

Por conseguinte, ao longo dos anos, para além do desconforto em tempos de catequese e reuniões, foi sempre um cabo dos trabalhos ali realizar teatro, como nos tradicionais saraus de Natal e de Reis, sobretudo em tempo de chuva e de frio. Quem de algum modo já ali participou em eventos recreativos e culturais compreende sobremaneira estas dificuldades, tendo que se trajar no Andar e transportar móveis e outros adereços, escada acima, escada abaixo, muitas vezes expostos ao frio e chuva. 

Neste contexto, se por um lado se compreende que o edifício não tenha de início, por dificuldades financeiras, sido dotado com os referidos elementos que em muito tornariam o espaço mais funcional, prático e confortável, espanta, por outro lado, que nos tempos posteriores nunca se tenha tido a iniciativa e coragem de fazer esses melhoramentos. Cheguei a propô-los ao Pe. Francisco, mas certo é que nunca se entusiasmou com a ideia. 

Por parte das consecutivas juntas de freguesia, o facto do terreno e do prédio ser pertença do Paço (Diocese) também foi sempre uma barreira e obstáculo a qualquer obra que ali se pudesse acrescentar. Por conseguinte, com mais ou menos obras de conservação, como pinturas e substituição de caixilharias exteriores, certo é que o velhinho Salão Paroquial se mantém tal qual foi edificado há mais de meio século. 

Por outro lado, nunca na freguesia, nem mesmo com a construção do edifício sede da Junta de Freguesia de Guisande, inaugurado em 1981, se projectou qualquer coisa em grande e que contemplasse um auditório polivalente e espaço para as diferentes associações ou grupos. Mesmo bem mais recente, a construção do Centro Social, aproveitando o edifício da velhinha escola primária do Viso, também não previa resposta a esse requisito sendo que com a junção das duas salas numa única (por minha sugestão ao presidente do Centro, a que a arquitecta autora do projecto, acedeu), pelo menos criou-se uma sala ampla e com alguma versatilidade e polivalência. Mesmo que com algumas adaptações, como a colocação de um palco ou estrado amovível, será possível ali realizar pequenos espectáculos culturais e recreativos bem como espaço de jantar. 

Do mal o menos, mas certo é que Guisande continua sem um grande auditório projectado e edificado de raiz, tal como têm, por exemplo, Louredo e Lobão. Por outro lado e em contraponto, o movimento associativo nunca andou tão mal e desinteressado pelo que pode-se colocar a questão sobre a necessidade de construção de um auditório ou casa de cultura se não há dinâmica associativa que o justifique? Veja-se, por exemplo, o caso do rinque polidesportivo em Casaldaça, há muito abandonado e sem qualquer uso e utilidade e com as instalações já degradadas. Esta é a realidade actual. Poderá ser que no futuro por um qualquer “milagre” as coisas venham a melhorar, mas por ora é o que a casa vai gastando.

Apesar de tudo isso, e por tudo isso, o Salão Paroquial de Guisande tem um lugar marcado na história da nossa paróquia, freguesia e comunidade e de várias gerações de guisandenses, seja por ali frequentarem a catequese, seja por terem realizado ou assistido a momentos recreativos de teatro e variedades ou mesmo participado em reuniões da paróquia ou tão simplesmente participarem nas dádivas de sangue, que ali também se realizaram.

Alguns elementos sobre a construção do Salão Paroquial:

Como atrás ficou dito, as obras de construção do Salão Paroquial ocorreram na sua maior parte em 1964 e parte de 1965.

Consultando no meio de papeladas da paróquia, demos com alguns elementos curiosos sobre as obras. Fica-se a saber que a empreitada de pedreiro foi realizada por Manuel da Conceição, a parte de trolharia a cargo de Joaquim Gomes da Silva, de Cimo de Vila e a carpintaria também da responsabilidade de um outro Joaquim Gomes da Silva. As grades da escada e portão, foram realizadas por Bernardo Pereira Baptista.

Nos documentos abaixo estão representados alguns dos comprovativos de pagamentos aos empreiteiros. Pela sua leitura constata-se que as obras de pedreiro terão custado 31.662,50 escudos.