História

Das origens


Os mestres da língua alemã inclinam-se para a opinião que sustenta ser a palavra “Guisande” de origem visigótica. Datará, pois, Guisande da época em que os visigodos, de origem germânica, invadiram a Península Ibérica, a partir do século V.
O Eminente filólogo Dr. José Leite de Vasconcelos deu o seguinte parecer sobre a origem da palavra Guisande: « “Guisandus” nome de homem, de origem germânica e que significará “verdadeiro no combate" ». Primitivamente deveria ser “Guisandi villa”.

Certo é que desde o século IX, há já muitas referências a Guisande – “Grisandi” – e às vilas que ali existiam, de que ainda hoje há vestígios: “Vila Fornos”, “Cimo de Vila e até a vila que se chama Guisandi: (É necessário esclarecer que “villa” é um termo genérico e significa “Quinta”, “prédio rústico”, “casal”, “granja”, “herdade” e às vezes, a “villa” era um conjunto de prédios existentes no mesmo local ou aldeia.)

Em 1137 (era de 1175) na carta real de fundação do Couto de Louredo, por doação de D. Afonso Henriques a Gonçalo Dias e sua mulher Maria Anaia, Guisande é referida na descrição dos limites ou confrontações desse território, bem como o Monte de Mó (montis de Mola).

No reinado de D. Afonso II, logo no princípio, em 1211, foi determinado que as Igrejas não adquirissem, por título de compra, mais bens de raiz. Fizeram-se inquirições para verificar os títulos de propriedade do clero e dos nobres e aparece para os Mosteiros e ordens, em vários julgados do Porto, uma relação em que está incluída a freguesia de Guisande.
Dona Ermelinda Guterres, abadessa de Rio Tinto, fez doação ao mosteiro de Grijó dum casal, que herdou do seu pai, e que está situado na vila que se chama “Guisandi”. A sentença das inquisições de 1288, dada em 1290, diz o seguinte: «A quintam que foi de Gotrim Perez e ora hé da Abadessa de Rio Tinto com toda essa aldeya de Guisandi…»


O titular de Guisande, ou seja, aquele sob cujo nome ou título foi fundada a Igreja, é S. Mamede, filho de S. Teodoro e de S. Rufina, descendentes de cavaleiros ilustres e de nobre linhagem. S. Mamede de Guisande sempre pertenceu à Comarca Eclesiástica da Feira que, há séculos, pertence à diocese do Porto.

Situada a 10 km da sede do Concelho, ao Norte – Nascente, com, Guisande confina a Norte, com Lobão e Gião; a Nascente, com S. Vicente de Louredo; ao sul, com Duas Igrejas e Pigeiros e a poente com Caldas de S. Jorge e Lobão.

Divide-se em duas partes: a mais elevada, que compreende os lugares do Viso, Cimo de Vila, Quintães, Outeiro, Estôse, Pereirada, Leira, Gândara e Igreja; a parte mais baixa compreende os restantes lugares: Reguengo, Barrosa, Fornos, Lama e Casaldaça. 
A igreja matriz está bem situada numa zona central e quem se coloca na sua frente verá um anfiteatro que começa no Monte do Viso, sobe até o Outeiro e Monte da Mó e desce pela Quintã e Estôse.

Em 1586 foi feito um inventário dos casais que estavam obrigados aos “votos” (um “voto” consistia numa medida de pão e outra de vinho para cada jugo de bois) nos actuais concelhos de Gaia, Feira e outros, onde Guisande vem mencionada. Eis os casais “voteiros” de Guisande: « O Casal da Barrosa que pagava um alqueire de centeio e um de milho, o Casal de Fornos, que pagava o mesmo; o casal de Trás-da-Igreja, o casal da Quitam, o casal de Estôse, o Casal de Outeiro, e o casal de Cimo de Outeiro. O total de 16 Alqueires»

Em 1687, no sínodo diocesano, foram ampliadas as faculdades para sacrário destinado à Eucaristia para os enfermos e consolação espiritual dos fiéis: «Ordenamos e mandamos que, em todas as Igrejas paroquiais que tiverem junto de si trinta vizinhos… haja decentes sacrários…»
No catálogo desta constituição vem a Comarca da Feira com 90 Igrejas paroquiais e a freguesia de Guisande aparece classificada com abadia com 86 fogos, 291 pessoas maiores e 46 menores

Passados alguns anos, a freguesia requereu a licença para o sacrário, nos seguintes termos: «Dizem os fregueses da paroquial Igreja de S. Mamede de Guisande consta de 90 fogos, com mais de 300 pessoas de comunhão e que na dita Igreja não existe o SS. Sacramento da Eucaristia. Nos casos de necessidade vão à Igreja de S. Tiago de Lobão, a qual por ficar em grande distância e ser mau caminho por motivo dos montes que estão em circuito pode acontecer falecerem alguns fregueses sem o SS. Viático pelo que querem os suplicantes obrigar-se a lâmpada perpétua e mais fábrica necessária na forma de constituição para terem o SS. Por Viático, porque também tem a dita Igreja mais de Trinta fogos como a mesma constituição dispõe:
“P. a V.Ilma lhes conceda licença para terem o SS. Por viático, fazendo primeiro a obrigação ordenada pelas constituições do Bispado.” Foi dado despacho, nos seguintes termos: «Fazendo os suplicantes termo de sujeição e obrigando-se a fábrica às despesas e conservação do sacrário com toda a decência, daremos a licença que pedem, vista a informação que temos.» Lisboa, 18 de Agosto de 1696.

Pouco tempo depois, esse termo de sujeição e obrigação às condições impostas foi lavrado em Pigeiros, onde compareceu o competente escrivão.
Em 11 de Setembro desse mesmo ano, mandou Dr. Manuel da Silva França, Provisor do Bispado, que o visitador da Comarca da Feira verificasse o número de fogos de Guisande, distância de Lobão, sacrário, pálio, véu de ombros, custódia e outros objectos indispensáveis.
O Visitador visitou a freguesia, dando parecer favorável e, preenchidas outras formalidades, foi concedida a licença para a conservação do SS. Sacramento, em 6 de Outubro de 1696. Era pároco o Reverendo Valério Alves.

Nada se sabe sobre a primitiva Igreja de Guisande. Sabe-se que em 1686 se fizeram várias obras na capela-mor e nas duas sacristias. Há, no aro do Cruzeiro, a data de restauro. A torre data de 1764, do tempo do pároco Dr. Manuel Rodrigues da Silva – 1750 que, em notas enviadas para o “Dicionário Geográfico de Portugal”, manuscrito existente na Torre do Tombo, dá a Guisande 126 vizinhos (fogos) e 398 pessoas. Diz ainda que, no terramoto de 1755, a Igreja não sofreu ruína considerável, embora caíssem pedaços de cal e, na residência, se abrissem brechas e fendas.

Consta que a freguesia de Guisande foi «muito apetecida e cobiçada até à lei da Separação – 1910, embora fosse pequeno o número de almas para salvar. Tinha bons campos, tapadas, juros de inscrições e ainda côngrua de ser tão apetecida.
O reverendo Manuel de Carvalho, de quem havia uma lápide no Cemitério, entretanto desaparecida, foi nomeado em 1710 e fundou a confraria de N. Srª. Do Rosário, em 1733, que ainda hoje se mantém viva e em actividade.

Escondida entre montes e pinheiros, parecendo um belo anfiteatro, Guisande lembra um solar antigo, cercado de grandes bens, em terrenos férteis e boas rendas, frequentado por convivas de boas classes: Cónegos, pessoas formadas, Sacerdotes de sangue azul…

O Presente

Hoje, Guisande já não é o tal solar rico e apetecido, mas continua a ser uma terra simpática, que sabe receber os forasteiros, pacata, sossegada e acolhedora.
Com uma área de aproximadamente 4,0 km2, de acordo com os dados dos Censos 2011, a freguesia tem uma população residente de 1237 habitantes, sendo 616 homens e 621 mulheres. Dispõe de 434 famílias, 579 alojamentos e 535 edifícios. Considera-se como uma pequena freguesia mas equilibrada nos dados demográficos.

A agricultura deixou de ser a única forma de subsistência, sendo mais uma actividade secundária.
Há algumas indústrias implantadas que dão emprego a muitos guisandenses e muitos outros de outras freguesias e concelhos. A freguesia está bem ordenada e equilibrada em termos de construção, embora se sinta a necessidade de oferta de lotes para construção, pois são muitos os jovens que os procuram.

nível de equipamentos tem o indispensável para a prática do desporto, polivalente e campo de futebol e um posto de enfermagem a funcionar na sede de junta de freguesia. A nível cultural tem uma associação, “O Despertar”, que funciona no rés-do-chão da junta de freguesia, onde tem instalada uma escola de música e uma escola de informática para jovens.
Na habitação social fomos contemplados com um edifício que alberga dezoito famílias, algumas das coisas provenientes de outras freguesias. Ou seja, edificou-se para além das reais necessidades da freguesia.
A freguesia despõe ainda de um moderno Centro Social, que aproveitou parte do edifício da Escola Primária do Viso. 

O Futuro

Ao fim de quase três décadas, a freguesia finalmente ficou dotada com a instalação de um Centro Social, mas devido a diferentes politicas e prioridades de diferentes Governos, bem como de alguma ou muita indiferença por parte das entidades autárquicas, continua-se a aguardar a efectivação do contrato programa aprovado pela Segurança Social há meia dúzia de anos, sem o qual o Centro não terá capacidade e sustentabilidade financeira.

O equipamento dispõe de várias valências, que passa por um auditório, local de convívio não só para os mais velhos, mas onde o passado, o presente e o futuro se interliguem de mãos dadas de forma que o futuro seja mais risonho, sobretudo, para os mais idosos e mais necessitados. Espera-se assim a concretização plena.

Actualização:

Com a Reforma Administrativa Nacional -  Lei n.º 11-A/2013 de 28 de Janeiro, imposta por decreto às populações, no desrespeito pela identidade social e cultural de freguesias com séculos de História, a freguesia de Guisande passou a integrar a União das Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, pelo que foram extintas quatro juntas de freguesia para passar a existir apenas uma, a Junta da União de Freguesias. Em rigor não foram extintas as freguesias mas sim as juntas. De todo o modo parece claro que as freguesias com menor número de população e eleitores perdem notoriedade e identidade para a freguesia maior e que encabeça a designação da união.
Das várias "cagadas" decorrentes da reforma administrativa do Governo PSD-CDS, seria um mal menor que tivesse sido atribuída uma designação comum a cada união, que não o nome de cada freguesia.
Com esta nova realidade administrativa, mesmo que a contragosto, há que seguir em frente e procurar fazer com que a união funcione de forma plena a favor das populações, mas sempre no respeito pelas diferenças de identidade e história de cada uma das quatro freguesias. Só assim será possível uma união na diferença potenciando-se o que cada uma tem de particular e mais positivo.
Entretanto, porque o tempo é feito de mudança, algumas coisas mudaram. Para além da situação administrativa, a Associação Centro Social S. Mamede de Guisande finalmente corporizou a edificação do seu Centro Cívico, com valências de centro social. O projecto englobou a integração e requalificação da Escola Primária do Viso, para além de uma parte criada de raíz. As obras estão completas e para o início da actividade falta apenas que o Governo e Segurança Social desbloqueiem as verbas inerentes ao acordo de cooperação.
O Guisande F.C. deixou de ter futebol oficial, deixando compromissos por resolver na Associação de Futebol de Aveiro e Finanças. Está, pois, sem actividade e sem corpos gerentes.  Apenas uma equipa de futebol de atletas veteranos, com a designação de Veteranos Guisande F.C. tem dado utilização às instalações disputando um campeonato organizado pela Associação de Atletas Veteranos de Terras de Santa Maria. Este grupo, com a colaboração da Câmara da Feira e Junta da União de Freguesias tem assegurado a manutenção das instalações.
Quanto à Associação Cultural de Guisande "O Despertar", com problemas de disponibilidade dos seus elementos, tem estado praticamente sem actividade e por falta de apoios e alunos acabou mesmo por terminar no ano lectivo (2016/2017) a sua escola de música, a qual vigorava desde meados dos anos 80. Está, pois, a necessitar de nova gente e gente nova que possa voltar a dinamizar esta nossa importante colectividade.

- Actualização de conteúdo: 25 de Novembro de 2020