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26 de maio de 2014

Podia ser verdade…. Passadiço na ribeira da Mota

 

Pode já ninguém lembrar-se, mas as obras do que seria o Parque de Lazer da Ribeira da Mota, próximo da ponte da Lavandeira, foi uma das bandeiras do programa eleitoral da lista do Partido Socialista nas eleições autárquicas de 2009 para a freguesia de Guisande. Claro que foi uma das muitas promessas por cumprir. Nada se fez como, pelo contrário, o espaço original, com alguma vegetação e árvores, foi destruído com o depósito de terras e britas que ali funcionou durante as obras de construção da A32, sendo que ninguém sabe quanto rendeu tal aluguer. Uma triste tristeza mas nada que espante tal a miséria de governação a que estivemos sujeitos.


Entretanto, e podia ser verdade, sabe-se que uma das primeiras obras a realizar no território de Guisande pela futura Junta da União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, será a construção de um passadiço e circuito na margem da ribeira da Mota, desde o lugar da Igreja até ao lugar do Reguengo, sendo que a obra será para continuar para norte passando pela ponte do Cascão entre Louredo e Gião e continuando pelo menos até ao lugar da Mota já em território de Canedo.


Esta obra, a exemplo do que já acontece nas Caldas de S. Jorge, Lobão e Fiães, junto ao rio Uíma, permitirá a prática saudável de passeios e caminhadas junto ao rio num ambiente de natureza, podendo-se ouvir o coaxar das rãs e sinfonias de melros e outras passaradas canoras. Podia ser verdade…

Abaixo algumas imagens de como poderá ficar (clicar para ampliar):

 

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16 de janeiro de 2014

Os Loureiros

 


Na aldeia de Sandiães não havia família mais numerosa que a dos Loureiros, que só à sua conta formava quase o lugar inteiro de Casal do Viso.

O rasto da origem da família recuava a Bonifácio Loureiro, bisavô daquela gente toda. Ainda criançola e de pés descalços viera ter a Sandiães, a casa de um parente afastado, mandado e recomendado pelos pais, pobres caseiros dos lados de Cabreiros, com pedido de lhe dar carga de trabalho e rédea curta. Em troca receberia apenas a escola primária e pouco mais que uma côdea molhada de caldo de couves e feijões.

Quase de origem misteriosa, que as poucas falas adensavam,  cresceu e fez-se homem o Bonifácio Loureiro, que à custa de tanto trabalho e de um casamento feliz e espertalhão com a Alzirinha, filha única do João dos Travassos, timbrado debaixo de uma meda de palha à sombra do estio de um Agosto, em poucos anos conseguiu aumentar o rol de leiras, várzeas e tapadas e morreu de velhinho com fama de lavrador abastado com bens ao sol e ao luar e várias cabeças de gado a pastar pelos viçosos lameiros.

Deixou uma corja de filhos e filhas que entre si dividiram propriedades e nelas, dispostas ao longo do velho caminho, edificaram  um casario juntinho como ramos apegados ao mesmo tronco. É esta, pois, a breve história da origem dos Loureiros em Sandiães.

Unida nessa fraternidade serrana, nunca ninguém subtraiu a fama de trabalhadores a essa famelga. Lavradores, pedreiros e trolhas, os Loureiros eram exemplos de como se faz vida cavando e construindo de sol a sol. 

Apesar dessa imagem de mouros e gente de trabalho, os Loureiros não gozavam de grande fama na freguesia porque poucas vezes iam ao redil do padre Arnaldo e deste pouca farinha faziam da cantilena de que nem só de pão vive o homem. Desde o mais velho, o Joaquim até à mais nova, a Celina, os Loureiros gostavam pouco de missa e muito menos de sermões. Por desfastio, e porque até por entre tojo e carqueja brotam as mais delicadas flores, eram, todos eles, devotos zelosos de S. Tiago, que se abrigava na capela do lugar e onde, lá pelos calores de Julho, se celebrava uma rija romaria. 

Por essa altura, era ver os Loureiros, zelosos e vaidosos, ou  na sua opa escarlate a empunhar a vara do juiz da festa ou a segurarem as pernas da aranha do pálio que regava de sombra a careca macia do padre Arnaldo, ou então na sacristia a recolherem as esmolas e promessas. Mesmo na véspera, a Celina, a Rosa e  Cassilda bordejavam o arraial e capela de enfeites e grinaldas de papel de crepe.

Porém, dançada a última cantiga e estourado o último foguete, a famelga voltava à aridez do trabalho e da canseira nos campos, e para com as demais festas, fossem elas quais fossem, mesmo que pelo Natal ou Reis, a carranca de Lazarim era a cara com que recebiam peditórios e rusgas de Janeiras. Para estas, mal se ouvia o tinir do ferrinho e o chocalhar da pandeireta lá no alto da curva do caminho velho, trancas à porta e luzes amortiçadas. – Que passassem e andassem! - Dali, esmolas só para o S. Tiago!


Américo Almeida