20 de março de 2020

Muitas cigarras e poucas formigas


Sem pretender fazer juízos errados e injustos, e por isso sem generalizar, mas apenas como uma reflexão, percebe-se que é em tempos de dificuldades e crises, como a que extraordinariamente vivemos, que vêm ao de cima os erros e más políticas, nomeadamente na gestão de muitas empresas e mesmo no plano familiar.

Veja-se, de modo particular, o sector do turismo, como hotelaria, alojamento local e muito do tecido da restauração: É sabido que nos últimos anos tem gozado de um crescimento muito positivo, quase exponencial, com casas e espaços constantemente cheios, quintas de eventos com marcações em lista de espera, e desse cenário idílico resultou um "boom" de oferta de alojamento, nomeadamente em cidades com peso histórico, como no Porto e Lisboa, mas um pouco por todo o lado, mesmo na nossa vizinhança. Qualquer pardieiro, mesmo que incaracterístico, era vendido como se um palácio fosse. Anda bem, porque muitos e muitos encontraram ali mais do que um complemento de rendimento. A onda era alta e todos aproveitavam.

Mesmo a folga para irmos de férias para o exterior era muita e veja-se os milhares apanhados um pouco por todo o mundo com este encerrar de portas global. Nas agências de viagens os balcões estavam sempre cheios, com gente a marcar, a marcar, a marcar. Gastar, gastar, gastar!

Enfim, muita gente e muitas empresas ganharam muito dinheiro. Mas agora que estamos a lidar com algo inesperado que está a afectar toda a economia e de modo particular o sector do turismo, é vê-los, empresários e empresas já aflitos a reclamarem rápidos apoios do Estado, aparentemente mostrando-se incapazes de suportar pelo menos um, dois ou três meses de inactividade.

De tudo isto, resulta que na generalidade tanto particulares como muitas empresas não têm sabido lidar com o tempo de vacas mais gordas a ponto de não serem capazes de acumular bases e economias que possam ser usadas em tempo de crise, como lastro em barco em mar agitado. Pelo contrário, é vida boa, à grande e à francesa e as "cigarras" da nossa sociedade gostam é do "dolce far niente". Ninguém gosta de ser formiga, pois não.

Infelizmente é o que temos e não me parece que esta mentalidade de gozar à tripa farra venha a mudar depois de alguma bonança da actual tempestade. Mas a oportunidade é de ouro para rever prioridades e valores.

16 de março de 2020

Paradigmas...


A maioria dos países, nomeadamente os europeus, afectados pela pandemia da Covid-19 tem mostrado dificuldades na obtenção de artigos e equipamentos aparentemente básicos, como máscaras, luvas, ventiladores, etc. É certo que é num contexto extraordinário, numa situação de procura superior à oferta, rompendo-se as reservas e a capacidade de resposta que parece ser insuficiente, mesmo admitindo-se que os picos de propagação ainda estão longe de serem atingidos, mas a verdade é essa.

Mas dá que pensar, que países, como os principais da Europa, já nem falando de potências como Estados Unidos, Rússia e China, tenham um arsenal militar de centenas de milhares de milhões, entre Exército, Força Aérea e Marinha, tanques, aviões, helicópteros, vasos de guerra e porta-aviões e não tenham essa capacidade para ter em reserva coisas tão importantes como as ligadas à Saúde.

Porventura este vendaval à escala global poderá ajudar no futuro próximo a definir prioridades, mas temo que logo que a coisa passe e deixe ser notícia tudo voltará à normalidade e aos mesmos jogos de guerra e às mesmas prioridades.

Talvez.

15 de março de 2020

O amanhã...


Concerteza que se há-de ultrapassar esta situação, mesmo que ainda com consequências imprevisíveis.

Mas depois dos escombros, será importante que se aproveitem as lições, os ensinamentos. Desde logo ao nível do sistema de Saúde, na preparação e num estado de permanente alerta e prontidão, de stock de produtos, acessórios e equipamentos bem como valorizar todos os profissionais.

Depois que as pessoas aprendam a valorizar ainda mais as questões de saúde pública, todos os procedimentos de limpeza, tanto na nossa casa, em contexto privado ou público.

Mesmo, sobretudo para a China, que tire lições de uma absurda cultura alimentar em que se come tudo o que mexe, num comércio sem mínimas condições de higiene e controle sanitários, com contacto permanente com a vida selvagem com todos os perigos de contágio decorrentes. A revolução moderna desta grande nação também deveria passar por aí, pela mudança de cultura da higiene e da alimentação segura..

Em suma, há tanto e tanto para aprender para que depois de mitigada a crise a sociedade e humanidade em geral saia mais forte e mais preparada mesmo que tenha, e terá seguramente, mais custos.

Por ora, para além das medidas que são vão tomando em Portugal e na Europa, mesmo em todo o mundo, surpreende-me que por cima do meu quintal continuem a sobrevoar a cada minuto aviões, trazendo gente que aterra sem qualquer controlo. Nestas coisas tende a haver sempre paradoxos e Portugal é fértil neles. Não bastou tomar medidas de encerramento de escolas e outros estabelecimentos com pelo menos duas semanas de atraso, nem desvalorizar nos hospitais situações que indiciavam perigo de propagação, deixando gente livremente, para ainda se continuar de fronteiras terrestres e aéreas abertas. 

Até quando se vai continuar a facilitar?

13 de março de 2020

Reiteradamente às aranhas...


Pouco ou nada há a dizer mais sobre este filho da globalização a que chamam de Covid-19 ou Corona Vírus e que ameaça parar literalmente uma grande parte das nações, Portugal incluído.

Em todo o caso, pelo que se tem lido e ouvido de fiável por estes dias, e mesmo agora pelo que se conclui da introdução do programa "Sexta às 9", que irá passar mais logo na RTP, percebe-se que mesmo perante a inevitabilidade da propagação global, no nosso caso houve falta de bom senso e irresponsabilidade de quem leviana ou despreocupadamente foi de férias de Carnaval ou em viagens de negócios para Itália, já quando as notícias davam conta de ser um país com problemas sérios na propagação.

Por outro lado, tal como o recentemente falado caso da jovem diagnosticada com simples gripe no nosso Hospital de S. Sebastião, por várias idas à urgência, comprova-se que os serviços médicos reiteradamente desvalorizaram situações que no mínimo mereciam tratamento e análise. Não surpreende que esses casos desvalorizados tenham permitiram que os vários infectados, nomeadamente de Felgueiras, levassem a sua vida social com normalidade quase durante quinze dias, tornando-se até ao momento as principais fontes de casos no norte e que tendem a aumentar progressivamente. De quem é a responsabilidade? Dos serviços, das pessoas?

Em resumo, mesmo com o aparelho de Estado a papagaiar desde o início de que estávamos preparados, a verdade é que cedo se demonstrou que não, e mesmo com o problema ainda longe de ser mitigado, já não há capacidade de resposta e o serviço Linha 24 é disso exemplo.

Não tarda que, infelizmente, estejamos mergulhados num salve-se quem puder e cada um entregue a si próprio, quase à semelhança da peste negra na Idade Média. 

Neste aspecto, sempre que surgem estas tragédias vêm ao de cima as incapacidades e incompetências de quem nos vai governando.

Mas oxalá que toda esta reflexão não passe de um exagero e que a malta ache por bem aproveitar o fecho das escolas e universidades para dar um saltinho à praia..






9 de março de 2020

As estrelas também dançam


Confesso que não tinha conhecimento, nem é programa que faça gastar um minuto da minha atenção, mas ontem soube por terceiros que o reality show da TVI "Danças com Estrelas 2020", conta com a presença de Ângela Costa (Angie), de 19 anos de idade, neta do Sr. Arménio Costa e da Sr.ª São, da Gândara, sendo filha do Mário Costa.

Pelos vistos a jovem é considerada como uma youtuber influencer (coisas modernas) e está a causar furor na sua participação, concorrendo com outras estrelas do entretenimento caseiro. Está apurada para a fase seguinte e para os fãs e entusiastas da coisa que queiram participar  na escolha, podem sempre ajudar a jovem votando através do número 760 303 005.

Dizem que concorre neste momento com estrelas como Paulo Pires, Margarida Corceiro e Soraia Tavares.

Ora como nestas coisas nem só a componente artística conta, mas também o peso dos tele votos, certamente que todo o apoio poderá fazer a diferença na escolha final.

Isto é uma vergonha...


O que arrelia no discurso da maioria dos treinadores de futebol quando as coisas não correm bem, é um estilo do politicamente correcto alicerçado nos chavões do "manter o foco", "vamos trabalhar mais", "pensar jogo a jogo" e outros que tais, nomeadamente o de continuarem a falar como se dependessem apenas deles quando por vezes já não.

Esta situação, creio, está a acontecer agora com Bruno Laje, no Benfica, como antes aconteceu com Rui Vitória. Falo destes  mas poderia falar de outros que bons (maus) exemplos é que não faltam.

Em resumo, falam como se estivessem a falar para criancinhas ou mesmo para mentecaptos. Preferível seria mesmo admitir que "estamos a jogar um futebol de merda", "temos sido incompetentes", "pedimos desculpas aos adeptos porque isto é uma vergonha", e ou "não temos justificado os milhões que ganhámos e vamos indemnizar o clube e os adeptos". 

Seria tudo mais directo e honesto. O resto sabe-se que é futebol e mesmo quanto aos treinadores sabe-se que passam de bestiais a bestas num piscar de olhos. Eles sabem disso mas no fundo não se importam porque na generalidade mesmo um despedimento significa milhões e receber. Que o diga Mourinho.

Quanto aos adeptos, na generalidade e ressalvadas as devidas excepções, não se pode esperar grandes reflexões, muito menos lúcidas e independentes e o grau de formação não é filtro porque tanto desbocam o trolha e o agricultor, como descambam o doutor e o engenheiro, sem desprimor pela comparação. O fanatismo turva o pensamento e desfoca o bom senso e não há como rescaldos de êxitos ou descalabros para perceber isso. Neste aspecto as redes sociais são bons barómetros. Também no café, dá sempre para perceber isso, com alguns falando em tom de comício, invocando com tanto ou mais vigor o André Ventura na proclamação do "...isto é uma vergonha".

8 de março de 2020

A Lira cumpriu o seu destino


Morreu a Lira. Neste Domingo de Março, quando na cerejeira já despontam as flores de uma primavera anunciada. 
Jaz próximo da Chica, na cova onde um azevinho tão teimoso quanto viçoso também decidiu morrer e emprestar-lhe a sepultura. Em breve estará coberta de cidreira  e erva-de-s. roberto e a laranjeira vai-lhe fazer sombra nos quentes dias de Verão.

Uma gata branca, a Lira, que não era da casa mas andava por casa como se fosse a sua, porque a sua, onde chegou a ter dono, nunca encontrou poiso porque também não via qualquer migalha de comida muito menos um afago. 
Na casa que não a sua, nunca lhe faltou comida sempre que se aproximava da porta. Mesmo assim aquela presença insistente, era como se fosse da casa, não sendo.
Ainda ontem, sábado, comeu sôfrega um naco de comida húmida, destinada a um seu filho que, à hora marcada ainda não tinha aparecido.

Há uns dias que se adivinhavam os dias finais, porque magra e suja, já sem capacidade da auto-limpeza, tão características destes felinos.

Hoje de manhã estava à porta, numa nítida prostração que já não lhe permitiu comer nem beber. Foi colocada numa caixa quente, coberta, em local abrigado, para pelo menos morrer com dignidade e com um último afago, que  em vida não teve muitos, ou mesmo nenhuns.

Mas morreu essencialmente de velhice porque andava por cá há uma quase eternidade e foi mãe de  ninhadas a perder de conta, avó de netos e raiz de netos de netos.

Cumpriu o seu destino, a Lira, digna até ao fim, bem ao contrário de muita gente.

Foi merecida a lágrima teimosa.