14 de março de 2022

A singeleza da Primavera


No verde pousio dos campo

Emergem estrelas cintilantes,

Florzinhas brancas na verdura;

Nesse carrocel de encanto

As aves tornam-se amantes

Numa Primavera de frescura.


Mil flores enlaçadas, singelas

Numa paleta de cores sadias

Que o artista semeou no acaso;

Manhãs frescas, doces e belas,

Na serenidade de todos os dias,

Da liberdade fora do vaso.


A Primavera chama-se liberdade,

A das coisas, da natureza

e outras mais que nos consomem.

Afinal, é uma só a verdade,

Que se cumpre plena de certeza,

Quando se une a terra ao homem.


A.Almeida

13 de março de 2022

Pleno de nada


Eu queria ser o que não sou,

Ter o que não tenho,

Amar o que não amei.

Mas sou o que disso sobrou

Sem esforço ou empenho,

Tão somente pelo que sei.


Há vazios que não se preenchem,

Oceanos de solidão salgada,

Rios que desaguam nos montes;

Tais medos, plenos, me enchem,

Num imenso lago de nada

Onde a sede nasce nas fontes.


A. Almeida

A cabidela e o destino


Entre muitas outras definições, a enciclopédia livre, conhecida como a Wikipédia, diz-nos que " O destino é geralmente concebido como uma sucessão inevitável de acontecimentos relacionada a uma possível ordem cósmica. Portanto, segundo essa concepção, o destino conduz a vida de acordo com uma ordem natural, segundo a qual nada do que existe pode escapar".

Assim, sem grandes empirismos, o destino é o desfecho das coisas e das pessoas. Por mais voltas que demos à nossa vida, todo o desfecho dela é um destino. Em resumo, o destino é uma fatalidade, uma inevitabilidade. Como um buraco negro na astronomia, não há como fugir a ele, nem que luz fôssemos, porque a sua condicionalidade é impossível.

Em todo o caso, a forma como vemos ou interpretamos o destino e as coisas que para ele concorrem, é no fundo um mistério insondável, mesmo que o seu desfecho ocorra por decisões próprias, nossas, individuais.

Assim, sendo certo certo que todos os nossos actos, concorrem necessariamente para o nosso destino, também é verdade que por vezes, porventura muitas, também decidimos o destino dos outros.

Vejamos um caso tão paradigmático quanto real: A D. Brilhantina (e já é abusar do destino dar a uma filha tal nome) decidiu prendar os filhos, noras e genros, com um fausto arroz de cabidela e vai daí, agarrou pelo pescoço do galo maior da capoeira, daqueles com espigões nas patas maiores que navalhas, e num ápice e sem qualquer estremecimento, sangrou-o para a tijela imaculada como numa oferenda bíblica. Mas, coisas do destino, a Brilhantina foi pouco brilhante de tanta rudeza no apertar do gaulês que este estremeceu como se ainda a anunciar a derradeira aurora, e nesse esbracejar alado lá se foi para o caneco, em cacos, o pequeno alguidar e com ele a vitalidade líquida ali sangrada.

Mas, o destino tem destas coisas e o que não tem remédio, remediado está, e o segundo galo na hierarquia da capoeira, que já se preparava para usufruir dos prazeres de tão vasto harém, viu-se logo destronado, agarrado pela manápula dura da Brilhantina e pouco depois o seu sangue já estava reservado para a cabidela. 

Há destinos assim, que se escrevem num instante, como num fogacho de palha seca, que tudo transforma e que não permitiu que o reinado de um galo durasse mais que um golpe de faca afiada. 

11 de março de 2022

Nota de falecimento

 



Faleceu Laurinda da Silva Baptista, de 88 anos de idade (07 de Abril de 1933-11 de Março de 2022). Residia no lugar da Barrosa - Guisande.

Cerimónias fúnebres no Domingo, dia 13 de Março de 2022, pelas 10:00 horas, na igreja matriz de Guisande, indo no final a sepultar em jazigo de família no cemitério local.

A missa de 7º Dia terá lugar na igreja matriz de Guisande na próxima Sexta-Feira, dia 18 de Março às 19:00 horas.

Sentidos sentimentos a todos os familiares. Paz à sua alma! Que descanse em paz!

A hipocrisia é fodida...


Acredito que no recente caso de Mariana Mortágua (que acumulou regime de exclusividade na AR com programa remunerado na SIC), como aconteceu com o seu camarada Robles, ambos não pretenderam de má fé cometer qualquer ilegalidade. No fundo serão ambos boas pessoas e honestass quanto baste. E têm que mostrar isso porque enquanto figuras públicas são escrutinadas.

Todavia, o que irrita, neles e no seu BE - Bloco de Esquerda, é uma profunda hipocrisia nas lições de moral que constantemente estão a pretender dar a outros, nomeadamente à Direita, quando na realidade eles próprios têm telhados de vidro e mesmo que inadvertidamente também estão sujeitos a estas fífias. Ou seja, calha a todos, mesmo aos mais cautelosos.

Não basta, pois, vir de seguida fazer figuras de anjinhos, prontificando-se a regularizar, pois é o mínimo que se espera. É preciso um pouquinho mais, porventura menos hipocrisia e um boa pitada de humildade.

À passagem do 11 de Março



 Lugar à dor

 

De novo a onze,

Ontem de Setembro,

Ao alvorecer do Outono,

Hoje de Março,

Ás portas da Primavera.


Não, não há nada a dizer,

Chorar, talvez…

Quero dar lugar à dor

Certo de que outros onzes

Continuarão a matar, a matar,

Só a matar…


A. Almeida


(À passagem do 11 de Março de 2004 - Atentados terroristas em Espanha)

10 de março de 2022

Ad perpetuam rei memoriam


A sério que não gosto de partilhar e replicar "memes" que já andam por aí há cagalhiões de tempos pela internet, sobretudo pelo Facebook. Mas, mesmo assim, há coisas tão bem escavacadas e quase certeiras que apetece partilhar mais uma vez, ou mesmo guardar para "ad perpetuam rei memoriam".

Neste caso, o autor, que em rigor se desconhece, entre alguns naturais exageros e alguns números já desactualizados, acerta mesmo em muitas das situações elencadas em que supostamente pretende criticar os paradoxos e contradições do nosso Estado, do português, pois claro.

Agora é moda, não faltam sites de verificação de factos (Fact Checks), que se especializam em descobrir as caraceas de muitas notícias e mensagens, mas, sob pena de andar distraído, certo é que ainda não vi o conjunto de afirmações partilhadas abaixo serem devidamente analisadas e comprovadas ou desmontadas. Pessoalmente analisei algumas que batem certo e outras são tão evidentes que dispensam qualquer fact-check.

Segue-se, pois, uma boa lista de paradoxos e contradições tão próprias deste nosso querido Portugal.


 -Uma adolescente de 16 anos pode fazer livremente um aborto mas não pode pôr um piercing. 

- Um jovem de 18 anos recebe 200 € do Estado para não trabalhar; um idoso recebe de reforma 236 € depois de toda uma vida do trabalho.

-O marido oferece um anel à sua mulher e tem de declarar a doação ao fisco; O mesmo fisco penhora indevidamente o salário de um trabalhador e demora 3 anos a corrigir o erro.

-Nas zonas mais problemáticas das áreas urbanas existe 1 polícia para cada 2000 habitantes; o Governo diz que não precisa de mais polícias.

-Um professor é sovado por um aluno e o Governo desculpa-se que é das causas sociais (O professor defende-se e é´considerada  agressão ao aluno e é suspenso ou demitido)

- O café da esquina fechou porque não tinha WC para homens, mulheres e empregados. No Fórum Montijo o WC da Pizza Hut fica a 100 mts e não tem local para lavar mãos. (onde está a ASAE?)

- O governo incentiva as pessoas a procurarem energias alternativas ao petróleo e depois multa quem coloca óleo vegetal nos carros porque não paga ISP (Imposto sobre produtos petrolíferos).

- Nas prisões são distribuídas seringas gratuitamente por causa do HIV, mas é proibido consumir droga nas prisões!

- Um jovem de 14 anos mata um adulto, não tem idade para ir a tribunal. Um jovem de 15 anos leva um chapada do pai, por ter roubado dinheiro para droga, é violência doméstica!

- Militares que combateram em África a mando do governo da época na defesa de território nacional não lhes é reconhecido nenhuma causa nem direito de guerra, mas o primeiro-ministro elogia as tropas que estão em defesa da pátria no Kosovo, Afeganistão e Iraque, entre outros locais.

- Começas a descontar em Janeiro o IRS e só vais receber o excesso em Agosto do ano que vem, não pagas às finanças a tempo e horas e passado um dia já estás a pagar juros.

- Fechas a tua varanda e estás a fazer uma obra ilegal, constrói-se um bairro de lata e ninguém vê.

- Se o teu filho não tem cabeça para a escola e com 14 anos o pões atrabalhar contigo num ofício respeitável, é exploração do trabalho infantil,

- Se és artista e o teu filho com 7 anos participa em gravações de telenovelas 8 horas por dia ou mais, a criança tem muito talento, sai ao pai ou à mãe!

-Numa farmácia pagas 0.50€ por uma seringa que se usa para dar um medicamento a uma criança. Se fosse drogado, não pagava nada!

Divulgada a lista, posso facilmente eu próprio arranjar mais uma série de boas contradições, mas fico-me por por apenas mais algumas sob pena de se tornar fastidioso:

- No PDM de Santa Maria da Feira, a zona do Monte de Mó era uma ampla extensão de zona verde abrangendo território de Guisande, Romariz, Vale e Louredo, onde não se podia edificar um curral ou um galinheiro; Actualmente passa lá uma auto-estrada e existe uma subestação eléctrica e uma plantação de postes e torres metálicas. Um parque electromagnético um bocadito maior que um curral de ovelhas, diga-se.

- No licenciamento de uma habitaçáo reprova-se o projecto por uma soleira ter 3 cm quando devia ter 2 e nas instalações do Tribunal da Feira, as soleiras têm 15 cm, e na larga maioria dos edifícios de serviços públicos pelo país fora  não são cumpridas as regras impostas aos privados.

- Em Santa Maria da Feira, há pessoas que dispensavam as ligações e fornecimento de água e esgotos e são obrigadas a tê-las e a pagá-las, mesmo não as usando; Em contrapartida há pessoas que gostariam  de ter e ser servidas pelas mesmas redes mas a concessionária não as realiza. Em Guisande há situações dessas.

- Em Santa Maria da Feira há utilizadores que pagaram forte e feio pela instalação das ligações às redes de águas e esgotos e a partir de determinada altura deixou de ser obrigatório para os demais, não sendo ressarcidos os primeiros. Uma exemplar democraticidade e direito constitucional de igualdade.

- Atrasei-me num dia no pagamento do IUC (imposto de circulação) e na volta do correio já paguei a coima; Fiz um serviço de perito avaliador para um Tribunal e só recebi os honorários ao fim de quase dois anos, sem qualquer juro de mora e sujeito a IVA e IRS.

- Fui alvo de roubo de uma conta em serviço de vendas, cujo ladrão procurou vender em meu nome, de forma enganosa, um bem móvel. Fiz queixa às autoridades e mesmo disponibilizando dados e contactos (telemóvel e conta bancária) do larápio, as autoridades nunca o procuraram nem incomodaram e a mim convocou-me várias vezes de forma intempestiva e autoritária para ir prestar declarações à sede da Judiciária ao Porto. De vítima a criminoso, acabei por desistir da queixa.

E fico-me por aqui. A lista de contradições seria longa.