25 de abril de 2023

In memorian - Tio Zeca



Faleceu José Índes Alves da Fonseca, o meu tio Zeca, irmão de minha mãe, natural de Guisande. 

Nasceu a 10 de Fevereiro de 1945 e faleceu a 24 de Abril de 2023, com 78 anos, tendo hoje ido a sepultar. 

Apesar de, por contigências da vida, os contactos terem sido poucos desde há muitos anos, e vi-o  pela última vez precisamente há quase 22 anos quando veio ao funeral do seu pai e meu avô, está presente nos nossos pensamentos. 

Que esteja em eterno descanso!

25 de Abril de 1974 - Qual a visão certa?

 


E hoje é feriado nacional em comemoração da data de 25 de Abril de 1974, chamada romanticamente de "revolução dos cravos", que se traduziu num golpe de estado militar que conduziu à queda do governo de ditadura então liderado por Marcelo Caetano, que uns anos antes sucedera a António de Oliveira Salazar.

Apesar da sua importância histórica e social para o nosso país, continua ainda a não ser concensual em muitos dos seus aspectos, nomeadamente quanto aos objectivos que a ela conduziram. Para muitos foi a conquista da liberdade e da democracia e a data é sinónimo desses dois valores que temos como fundamentais, mas em rigor os mesmos só foram conquistados ao longo dos anos subsequentes à revolução e ainda há quem diga que não estão de todos plenamente conquistados. Já passaram 49 anos e daqui a mais 50 ainda andaremos a dizer isto. De facto, nos tempos imediatos à data, tudo estava a ser conjugado e direcccionado para uma nova ditadura, sucedendo à de direita, uma de esquerda. Parte dos militares envolvidos, tudo fizeram para a cubanização do país e só depois dos acontecimentos do 25 de Novembro de 1975 é que as coisas se começaram a encarreirar para uma democracia. Ainda anda por aí muita gente que dava tudo para sermos uma Cuba.

Em resumo, o 25 de Abril de 1974 foi sendo pintado com cores que não foram as originais mas em muito a reacção corporativa de uma elite militar descontente com o rumo da guerra no ultramar. Seja como for, de uma forma ou de outra, desvirtuado ou não, resultou a data na interrupção de 40 anos de ditadura (48 se considerado o período anterior de ditadura militar de 1926 a 1933). Mas 40 ou 48, em rigor, são já mais os anos de democracia após 25 de Abril de 1974 do que os de ditadura no antes da data. A classe militar, sempre ela, começou e terminou a ditadura. 

Passados 49 anos, e para o próximo ano passa meio século sobre a data, o país apesar de viver numa democracia, com todos os seus defeitos e virtudes, ainda continua aos solavancos ou em marcha lenta, muito atrás dos melhores indicadores dos países desenvolvidos, nomeadamente dos europeus. É certo que todos temos como adquirido que vivemos em melhores condições, com mais direitos e regalias, na saúde como na educação, as despensas e frigoríficos fartos e as garagens com vários carros, mas a que custo? Em grande parte por força de dinheiros europeus e muito pela enorme dívida pública da qual nem daqui a um século nos livraremos, sendo daquelas coisas que dizem que nunca é para saldar, antes para gerir, ora descendo, ora subindo. Caloteiros mas a viver bem.

No resto continuam as desigualdades, a precariedade no trabalho, uma justiça para ricos e outra para pobres, acessos à saúde e educação diferenciados para ricos e pobres. Estes, os pobres, são cada vez mais e os outros, os ricos, um grupo restrito que acumula a maior parte da riqueza, por isso esta mal distribuida. 

Continuamos com grandes níveis de corrupção e de controlo da governação pelos mesmos dois partidos os quais reservam para si os cargos nos governos e na administração pública, instalando amigos e  familiares, premiando-se com chorudas compensações, subvenções, indemnizações e reformas milionárias. Um fartote embrulhado em democracia.

O povo, esse ainda continua a ter uma vida fodida, com melhor nível de vida no geral, mas em grande parte ilusória porque endividado dos cabelos da cabeça às unhas dos pés, repleto de compromissos, fustigado com uma alta carga tributária e afogado em despesas mensais para os diferentes serviços de água, esgotos, telecomunicações, televisão, automóveis, educação, saúde, etc. 

Naturalmente que em Abril de 1974 havia algum atraso no desenvolvimento de Portugal comparativamente com outros países ( e hoje não é assim?) mas também não se pode escamotear nem esquecer o desenvolvimento que o Estado Novo trouxe, sobretudo na sua primeira metade de governação. Não se pode omitir da história o estado caótico flagelado por constantes golpes militares e guerrilhas civis que marcaram todo o período após a instauração da república. Salazar tomou conta de um país financeiramente destruído. Fez-se muita e importante obra pública, como estradas, pontes, barragens, construiram-se escolas, hospitais e bairros operários. Claro que havia ainda muito a fazer nos diversos sectores e áreas tidas como de desenvolvimento territorial e social mas com tempo certamente que seria feito. Ninguém intelectualmente honesto pode afirmar que, mesmo que hipoteticamente tivesse continuado um regime de ditadura ou de estado totalitário, que Portugal não estivesse neste tempo actual com um bom nível de desenvolvimento. Será sempre uma questão sem resposta porque seja ela qual for nunca será concensual porque qualquer uma delas será apenas hipotética e definida por ideologias.

O grande e capital pecado do regime foi sem sombra de dúvidas a opção pelas guerras coloniais quando deveria ter permitido a independência dos estados ultramarinos, numa transição que poderia ter sido vantajosa para ambos. Mas não, e por isso levou para a guerra e morte toda uma geração de homens e destroçando uma sociadede e recursos económicos que tão importantes seriam para a continuação do desenvolvimento do país. 

Já depois do 25 de Abril, os países ultramarinos foram abandonados num processo sem qualquer controlo, numa total anarquia e com elevados custos para quantos portugueses que ali viviam a tinham nascido, regressando forçadamente a Portugal com o estigma de retornados, com elevados custos para a sociedade de então. Esse foi um dos grandes pecados da revolução que não teve nem peso nem arte nem engenheo, nem porventura vontade, para assegurar uma independência e transição equilibradas e que salvaguardassem os interesses dos portugueses nesses países africanos. Mesmo para os próprios países foi deixado um caldo de guerra civil que durou décadas e que ainda hoje tem feridas abertas e com pseudo-democracias, como em Angola e Moçambique. Uma lástima, um cravo da revolução, e este forjado com sangue suor e lágrimas, uma realidade muito menos suave e romântica do que a a revolução em si.

Estou certo que sem a guerra colonial, mesmo que a ditadura continuasse por mais alguns anos, o país teria outro desenvolvimento. E creio que mesmo por necessidade e mudança do tempo e das políticas mundiais e europeias, aos poucos o regime teria que entrar numa transição para a democracia como de resto entraram muitos outros países, nomeadamente os do leste europeu.

Quanto à visão pessoal do 25 de Abril de 1974, compreendo e valorizo a sua importância histórica e social, mas como a de milhões de portugueses que ainda viveram algum tempo na ditadura, não tem um valor muito especial. Quem vivia o dia a dia, trabalha e metia-se à sua vida, não sentia o peso da ditadura. Até parecia que havia dois regimes, uma  para o povo em geral e outro para a classe política e para os revolucionários e estes é que se queixavam, mas em regra doutores e engenheiros, filhos de burgueses, dos quais muitos também queriam tomar parte na gamela. Muitos deles, logo que alterado o regime, entraram apressados no curral e comeram e têm comido à fartazana. Para si e para os seus familiares, amigos e correligionários. Não ficou teta por ser chupada. Dos pobres, poucos se metiam nessas coisas da política e da oposição. Queriam era trabalho, pão, paz e sossego. Liberdade, nunca nos faltou.

Quando ocorreu o 25 de Abril de 1974, eu tinha 11 anos e meio, frequentava o 5.º ano da escolaridade. A notícia foi dada na escola e já não tivemos aulas e viemos para casa ver televisão que nesse dia só falava no assunto. Obviamente que com essa idade não compreendia o seu alcance e motivos.

Vivia no seio de uma família modesta que como a maioria trabalhava para viver, sem luxos mas com a dignidade possível e nunca nos faltou pão, alguma carne, bacalhau e sardinhas na mesa. Andávamos na escola, vestidos e calçados e nunca nos sentimos em insegurança, nunca fomos incomodados pela polícia, presos ou torturados. Ou seja, como a larga maioria dos portugueses de então, não dávamos pela ditadura e dos seus efeitos nefastos. 

Sendo verdade, como atrás já ficou dito, que hoje em dia vivemos relativamente bem, com todos os confortos da vida moderna, importa não esquecer o custo disso para que a mudança sentida entre os dois tempos, mesmo que decorrido quase meio século, não seja apenas ilusória. Se vivemos bem, isso decorre da passagem do tempo e sobretudo dos altos encargos do país e dependência pela alta dívida pública. Certamente que as maiores vantagens decorrentes do 25 de Abril foi a conquista da plena liberdade e de outros direitos como o da liberdade de expressão, mas mesmos esses continuam ainda mancos e em muitos aspectos a nossa democracia é uma ditadura disfarçada a que damos legitimidade com o nosso voto.

25 de Abril sempre, certamente, e que importa não esquecer, mas com uma visão esclarecida e não por um olhar meramente revolucionário, ideológico e político, porque isso, tanto na ditadura como nas revoluções e como na democracia, sempre interessou e interessa a um grupo restrito das sociedades. O resto é povoce que de uma forma ou outra andará sempre subjugado e a dançar ao som da música que nos dão. Democracia e liberdade só por si, é pouco. Importa todo o resto. E como cantava há quase 50 anos o Sérgio Godinho, ainda hoje faz pleno sentido.


Viemos com o peso do passado e da semente

Esperar tantos anos, torna tudo mais urgente

E a sede de uma espera só se estanca na torrente

E a sede de uma espera só se estanca na torrente

Vivemos tantos anos a falar pela calada

Só se pode querer tudo quando não se teve nada

Só quer a vida cheia quem teve a vida parada

Só quer a vida cheia quem teve a vida parada

Só há liberdade a sério

Quando houver

A paz, o pão, habitação

Saúde, educação

Só há liberdade a sério quando houver

Liberdade de mudar e decidir

Quando pertencer ao povo o que o povo produzir

E quando pertencer ao povo o que o povo produzir


(foto: Eduardo Gageiro]

24 de abril de 2023

Festa do Viso 2023 - 3.º Torneio de Sueca

 

Diário de Bordo 24/04/2023


Da imprensa: 

"José Sócrates já não vai ser julgado pelos crimes de falsificação de documentos relacionados com o apartamento de Paris e com a tese de doutoramento. A defesa ganhou tempo e já não será humanamente possível avançar com uma decisão antes de os crimes prescreverem.

A defesa de José Sócrates ganhou, junto do Tribunal da Relação de Lisboa, mais três meses para argumentar que houve nulidades e irregularidades na decisão instrutória do juiz Ivo Rosa, para avançar com um eventual recurso"

Conclusão: A Justiça portuguesa no seu melhor. Quem tem nome, dinheiro e poder, vence sempre. É outro campeonato!

Política:

"Em entrevista à RTP, na qualidade de secretário-geral do PS, ao ser questionado sobre o futuro político do ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação, Costa reiterou a promessa de não interferir na escolha do seu sucessor e que tem procurado "identificar quem são os melhores quadros" do partido para que "provem as suas capacidades e que possam ser tudo aquilo que eles desejem ser e que os militantes do PS desejem que eles possam ser". E "Pedro Nuno Santos é indiscutivelmente um dos grandes quadros políticos do PS". [fonte: DN].

Comentário:  O problema de alguns dos nossos políticos é terem-se sempre em grande conta. Têm "muitos e bons quadros" mas falta-lhes espelhos. 


Futebol:

Continua igual a ele próprio: O Grupo de Desportivo de Chaves na última jornada venceu o primeiro classificado da I Liga e na jornada seguinte, ontem, não foi capaz de vencer o último. Problema de pilhas?

Quanto ao Benfica, uma vitória sofrida e já nem sabe converter um penaltie. Tão duvidosamente assinalado quanto mal marcado. A derrocada está a caminho.

Por cá:

Depois de longas semanas de abre, tapa, destapa e volta a tapar, aparentemente foram colocadas as redes de águas e esgotos na Rua de Trás-os-Lagos. Falta agora saber quantas semanas ou meses vai demorar a ser feita a repavimentação. Até lá, covas, lombas, pó e lama.

23 de abril de 2023

Galinheiros não, viadutos, sim.

 


No Reino dos Paradoxos, era uma vez uma vasta zona verde na qual, por ser protegida, não era permitido construir um galinheiro ou um curral de cabras...

21 de abril de 2023

Cada terra tem o regedor que merece

Eu bem que tento desviar-me destas coisas da nossa política, até por uma questão de saúde mental e de higiene, porque o Governo nesta altura devia usar fraldas porque está num estado de incontinência tal que as cagadas são a toda a hora. Mas como hoje somos bombardeados de tudo quanto é buraco mediático, e até no relógio temos notícias, é complicado fugir a elas. Teria que ir como ermitão para a solidão do monte mais inóspito, mas não me estou a ver a viver de comer gafanhotos e rebentos de silvas e amoras, até porque estas só no Verão. Adiante.

Mas voltando ao Governo, ainda agora esta história de que Costa, o primeiro ministro, recusou fornecer um certo parecer jurídico que fundamentava o despedimento por justa causa da CEO da TAP, uma tal francesa, alegando a "defesa do interesse público". Ou seja, para o nosso Governo o defender o interesse público é ocultar os documentos ao  público ou aos seus representantes. Está tudo esclarecido!

Mas pasme-se, a coisa não ficou por aqui, porque ouvido o ministro das Finanças, o Medina, este veio dizer que afinal não havia qualquer parecer jurídico. Ou seja, se não for mais uma mentira e trapalhada, António Costa não queria divulgar um parecer que  afinal não existia? Vá lá, organizem-se!

Como diz alguém por aí, cada terra tem o regedor que merece. Ou então, se isto fosse um país a sério, como o Paquistão, já tinha havido um glope de estado.

Olha a novidade...

 Da imprensa: 


"FC Porto é a quarta equipa com mais penáltis no mundo desde 2020 - Apenas os costa-riquenhos do Herediano (44), os egípcios do Zamalek (43) e os croatas do Hajduk Split (43) beneficiaram de mais grandes penalidades desde 2020.

O FC Porto foi a quarta equipa das 75 principais ligas mundiais que beneficiou de mais grandes penalidades desde 2020, segundo uma conclusão publicada esta quinta-feira pelo Observatório do Futebol (CIES).

Neste período, os dragões viram ser-lhe assinaladas a favor 41 penáltis a favor, o mesmo número dos turcos do Fenerbahçe. Apenas os costa-riquenhos do Herediano (44), os egípcios do Zamalek (43) e os croatas do Hajduk Split (43) beneficiaram de mais grandes penalidades.

O top 10 fica completo com os colombianos do Deportivo Cali (40), os sauditas do Al Nassr (39) e do Al Hilal (38), os turcos do Galatasaray (38) e os gregos do PAOK (3)".

[fonte: JN] 

Esta estatística não tem nada de surpreendente. De resto, bem à maneira portuguesa, até a "olhómetro" se sabia dessa particularidade que tem, em muito, ajudado o  F.C. do Porto a conseguir títulos. Ainda no último jogo, beneficiou de 2 penalties. Não é por acaso que nas últimas décadas tem tido bons profissionais da arte do mergulho na relva. Tantos e tão bons. Afinal, o azul faz-nos sempre lembrar uma piscina e é fácil a tentação, tanto mais quando os homens que apitam jogos do Porto vêm mosquitos em África.

Já agora, com os devidos créditos ao blog "Influência Arbitral", fica aqui um quadro mais pormenorizado relativo às épocas de 2021/2022 a 2022/2023.


Caso se pretenda recuar a análise a uns anos mais para trás: Desde a época 2008/2009 a 2022/2023 (esta ainda a decorrer), o F.C.do Porto continua a liderar no número de penalties a favor, no caso 140, contra 130 para o Sporting, 118 para o Benfica e 82 para o Braga,

Coisas do futebol...