3 de junho de 2023

Cartazes e cartazes

 

Reúno aqui, sem qualquer ordenamento de data ou temática, alguns simples cartazes para diversos eventos da paróquia e outros, que fui realizando ao longo dos últimos anos.






























































2 de junho de 2023

Pó da terra


O homem num desígnio bíblico

É de pó feito, transformado,

E à terra em pó tem seu retorno

Como fraqueza de humanidade.

Mas será um destino ciclíco,

Num recomeço renovado

Ou apenas um inerte abandono

À terra por toda a eternidade?


A. Almeida


O poema aborda a condição humana em relação à mortalidade e à sua conexão com a terra. Através de uma análise técnica e poética, podemos explorar os elementos presentes no poema e sua significância.

A estrutura do poema é marcada por duas estrofes curtas, ligadas, e versos breves, o que contribui para transmitir uma sensação de concisão e contundência. O uso de rimas num esquema ABCD, ABCD, e a métrica regular procuram conferir um ritmo cadenciado à leitura, enfatizando os contrastes presentes no conteúdo.

O poema inicia-se com a afirmação de que o homem é feito de pó e que, eventualmente, retorna à terra. Essa imagem evoca a ideia bíblica da criação do homem a partir do pó da terra e sua consequente morte e decomposição. A primeira estrofe também sugere uma reflexão sobre a transitoriedade e fragilidade da condição humana, ressaltando a inevitabilidade do fim.

Na segunda estrofe, surge a indagação sobre o destino do homem após seu retorno à terra. O termo "ciclíco" indica a possibilidade de um recomeço ou renovação, sugerindo a ideia de um ciclo sem fim. Essa interpretação pode estar relacionada à noção de renascimento ou reencarnação presente em algumas tradições espirituais.

No entanto, a última linha da estrofe sugere uma outra possibilidade: a de um "inerte abandono à terra por toda a eternidade". Essa expressão poética evoca a ideia de um fim definitivo e a noção de que, após a morte, o homem estaria abandonado à terra, sem qualquer tipo de existência ou consciência.

A análise técnica e poética desse poema permite-nos perceber a forma como o autor explora contrastes e questões existenciais. O uso de imagens bíblicas, como a criação do homem a partir do pó e seu retorno à terra, adiciona uma dimensão simbólica e religiosa ao texto. A ambiguidade presente nas possibilidades de um destino cíclico ou um abandono inerte cria uma tensão entre a esperança e a resignação diante do inevitável ciclo da vida e da morte.

Em suma, este poema apresenta essencialmente uma reflexão sobre a condição humana, explorando a transitoriedade, a mortalidade e diferentes perspectivas sobre o destino após a morte. Através de sua linguagem poética e imagética, o poema convida o leitor a refletir sobre a natureza efêmera da existência humana e as questões relacionadas à vida, morte e eternidade.

1 de junho de 2023

Contradições



Para quê ser todo sorrisos

Se meus lábios estão presos?

Importará ser criança meiga

Se não sei como ela brincar?

Meus passos vão indecisos,

Na noite há medos acesos;

Sou um rio preso na veiga

Que demora a chegar ao mar.


Para quê tentar ser doce

Se a amargura me inunda?

Porquê esperar suave cetim

Se não sou mais que  rudeza?

Sou a modos, como se fosse

Uma inquietação profunda

A contradizer tudo em mim,

Onde até a dúvida é certeza.


A. Almeida


"Contradições" é um poema que explora o tema das contradições internas e a luta entre diferentes aspectos da personalidade. ma e sua expressão lírica.

O poema é composto por quatro estrofes, ligadas duas a duas, cada uma com quatro versos, seguindo uma estrutura regular de quartetos com um esquema de rimas ABCD, ABCD, ABCD, ABCD.  A combinação de versos curtos e a presença de pausas criam um ritmo marcado e uma cadência pausada.

A primeira estrofe apresenta a contradição entre a aparência externa e a realidade interna. O eu lírico questiona a necessidade de parecer alegre e inocente quando, na verdade, seus lábios estão presos e ele não sabe como ser uma criança brincalhona. Essa contradição revela uma tensão entre a persona que se mostra para o mundo e a essência interior.

Na segunda estrofe, o eu lírico expressa a indecisão e os medos que o acompanham durante seus passos incertos. A imagem do rio preso na veiga, que demora a chegar ao mar, representa a sensação de restrição e a dificuldade em alcançar a plenitude ou a liberdade desejada. Essa estrofe reforça a ideia de limitação e frustração.

A terceira estrofe aborda a contradição entre a tentativa de ser doce e a presença constante de amargura. O eu lírico se pergunta por que esperar por suavidade quando é envolto pela rudeza. Essa dicotomia entre a doçura desejada e a amargura presente cria um conflito interno que o eu lírico enfrenta.

A quarta estrofe revela uma contradição profunda dentro do eu lírico, em que até a dúvida se transforma em certeza. Essa afirmação sugere uma inquietação constante e uma tendência à contradição interna. O poema termina destacando a luta entre diferentes aspectos da personalidade, enfatizando a complexidade e a ambiguidade do eu lírico.

"Contradições" procura um retrato da experiência humana de viver com conflitos internos e a dificuldade de se adequar a expectativas externas. O poema utiliza imagens vívidas e metáforas fortes para expressar a tensão entre a aparência e a realidade, entre o desejo e a limitação.

A repetição das palavras "para quê" no início de cada estrofe enfatiza a busca de respostas e a reflexão sobre a relevância de certos comportamentos ou expectativas. As contradições apresentadas no poema refletem a complexidade da existência humana e a luta constante para conciliar diferentes facetas da personalidade.

A linguagem poética é marcada por uma dicotomia entre opostos, como sorrisos e lábios presos, criança meiga e desconhecimento de como brincar, doçura e amargura, suavidade e rudeza. Essas contradições intensificam a sensação de conflito interno e a dificuldade em encontrar.

A. Almeida