3 de novembro de 2023
1 de novembro de 2023
Sessenta mais um
O que pode um homem escrever no dia do seu próprio aniversário? Tantas e tantas coisas, mas já de tanta experiência a fazer anos, já pouco importa o que escrever. Há um ano, a dobrar o cabo dos sessentas, fiquei-me por um poema, que a seguir relembro. Por conseguinte, é mais uma onda a rebentar na praia e cada vez mais, mansa e a espumar-se. Talvez já não valha a pena ter ondas à moda de Peniche, enormes, alterosas, como que ainda com toda a praia por sua conta onde rebentar. A esta altura da caminhada, uma onda tépida, macia, a massajar os pés, é quanto basta.
Seja como for, escreva-se o que se escrever, com mais ou menos filosofias, mesmo na forma de um poema, no fim de contas tudo se resume a elas, às contas. Mas, felizmente, ainda bem, a quantos anos chegaremos é uma dúvida que de algum modo nos aguenta. Os muitos que ao longo da história não resistiram à dúvida, determinaram eles o desfecho. Mas, porra, ainda não sou um Camilo, um Antero ou uma Florbela!
Haja caminho para se caminhar e vida para se viver!
Eis-me aqui, sereno, nos sessenta,
Se é que nisso haja importância;
Não mais que onda que arrebenta
Na dura costa da irrelevância.
Deixe-se, pois, que o mar do tempo
Se debata até que a falésia caia;
Virá depois, manso, em contratempo,
A espumar-se, sereno, na praia
31 de outubro de 2023
Na véspera dos 61
Só para o recordar daqui a mais alguns anos, se chegado lá. Um treinito de hoje, nocturno, na véspera dos 61. Nada mais nem sequer para ser levado a sério.
Subir, descer?
Num mundo de tempo
Em que nada se dá,
Porque tudo vendido,
Pela conta devida,
Sigo em passo lento
Mas certo, com afã,
Cada passo vencido,
No degrau da subida.
Mas já pouco importa
Se para lá se chegar
É a subir ou a descer:
Chegados a tal porta
Pouco há a esperar,
Não mais que morrer.
Manuel Rodrigues de Paiva e o Guisande F.C.
Quando uma instituição celebra aniversário é comum recordar pessoas que já partiram e que a ela estiveram ligadas e ajudaram à sua fundação ou crescimento. Por conseguinte o aniversário é um momento e pretexto para fazer elogios e enaltecer figuras.
Mesmo sabendo desse lugar comum, também entendo cá para mim que neste dia em que o clube da nossa terra celebra 44 de vida oficial, é justo que se recorde certas figuras, algumas que felizmente ainda são vivas e andam por cá e outros que já deixaram de percorrer este caminho terreno.
Assim, desde logo, e porque no acto fundador encabeçou e foi o primeiro subscritor da escritura pública do Guisande Futebol Clube, conforme o atesta o recorte publicado ao fundo, trago à memória a figura e o papel do Manuel Rodrigues de Paiva, que faleceu em 27 de Janeiro de 2021 e que à data da constituição do clube, em 31 de Outubro de 1979, tinha apenas 36 anos, completando 37 apenas no mês seguinte, no dia 20, pois nasceu em Novembro de 1942.
Manuel Rodrigues de Paiva, apesar de natural da freguesia de Romariz, foi uma figura com relevante intervenção cívica na freguesia de Guisande, tendo sido dirigente e presidente do Guisande F.C., sendo, como atrás referi, uma das figuras marcantes na fundação oficial do clube e da construção do Campo de Jogos "Oliveira e Santos". Foi secretário da Junta de Freguesia de Guisande, depois das eleições autárquicas de 16 de Dezembro de 1979, e ainda, em diferentes mandatos, elemento da Assembleia de Freguesia de Guisande, em representação do PSD e também da FJI - Força Jovem Independente no mandato de 1989/1993.
Como qualquer um de nós, a começar por mim, tinha alguns defeitos ou feitios que por vezes eram obstáculos para quem com ele colaborava, já que tantas vezes com a sua vontade de fazer depressa e avançar nas decisões e nas obras tinha tendência de contornar as etapas e não ter em conta o papel e a importância de quem tinha ao lado, isto, claro, na parte da sua intervenção cívica, abstendo-me de considerações fora dessa esfera.
Mas na sua intervenção de cidadania em Guisande tinha de facto esse voluntarismo. Mas se é certo que por vezes arrepiava caminho de forma mais ou menos unilateral, também é verdade que noutras tantas vezes se assim não fosse as coisas, as vontades e as obras não avançavam, à espera, tantas vezes, de quem não decidia. E dessa forma, por si ou bem ajudado, e outros mais velhos saberão disso melhor que eu, certo é que contribuiu para se fazer muitas coisas, porventura grandes demais para a pequena dimensão da freguesia. O Manuel Paiva tinha essa matriz, de pensar de forma objectiva e sempre para a frente. Foi nesse espírito que no plano pessoal foi sempre um homem de comércio e negócios bem sucedido, tendo até ficado com o apelido de "Manel do Negócio" e logo bem cedo na nossa terra quando instalou a pequena "Casa Notícia", ali no Largo de Casaldaça, no que era um pequeno espaço de garagem de um automóvel.
Por tudo isto, pela sua forma de fazer as coisas no que diz respeito à freguesia, tinha de muitos o justo reconhecimento do seu valor mas também alguns que tinham um entendimento diferente e pouco apreciadores desse estilo muito individualizado. Disso poderá falar bem melhor e com conhecimento de causa quem com ele directamente trabalhou, sobretudo no que diz respeito ao Guisande Futebol Clube. Nesse plano, apesar de termos tido sempre uma boa relação pessoal e de consideração mútuas, não tive a oportunidade de com ele trabalhar. Mas não foi por acaso que teve o papel que teve na vida do clube e se há várias outras figuras que também deram contributos valiosos, dedicados e resilientes, ninguém de boa fé, e sobretudo com o filtro do tempo, pode negar ou apoucar o papel e importância que teve o Manuel Rodrigues de Paiva na vida do Guisande Futebol, Clube, sobretudo nesses anos que remetem para a fundação e para as obras do actual campo de jogos e da sua consolidação.
Deste modo, sem esquecer outras importantes figuras que tanto deram ao clube, como directores, sócios e atletas, parece-me justo trazer hoje e aqui à memória a figura do Manuel Rodrigues de Paiva.
Olhares diferentes
Percorrer trilhos, caminhar, e não captar toda a beleza e singularidade de tudo o que nos rodeia, da paisagem natural, da transformada e humanizada, seria um exercício pouco mais que inútil, como ir a Roma e não ver o Papa, ou ter nozes e não ter dentes.
Mas para além das paisagens que prendem o primeiro olhar, seja em que diferente tempo do ano, há pormenores que pela mensagem que podem expressar, são autênticas pérolas e cada um deles daria para diferentes histórias.
Assim, sejam os animais domésticos, como cães, gatos, cabras, ovelhas ou mesmo os selvagens como as aves, os répteis ou insectos, as árvores, as plantas, as flores, as alminhas, os cruzeiros, etc, são sempre motivos deliciosos e quem não for capaz de ver e ler em cada um deles um pouco de poesia, que me desculpem, mas andam por aqui e por aí apenas por ver andar os demais.
Ficam aqui alguns desses muitos olhares particulares, mas poderiam ser centenas e milhares. E não me falta espólio.
Guisande Futebol Clube - 44 anos
Passam na data de hoje, 31 de Outubro de 2023, 44 anos sobre a data oficial da constituição do Guisande Futebol Clube como uma associação com finalidade desportiva, cultural e recreativa. De facto foi em 31 de Outubro de 1979 que foi celebrada a escritura pública da sua constituição. É certo que as raízes do clube são anteriores, pelo menos em 20 anos, mas, de forma oficial, é esta data que conta.
São assim 44 anos de vida embora com algumas paragens na sua actividade, altos e baixos, como é natural em qualquer organização. Felizmente, graças ao empenho e dedicação de um bom grupo de guisandenses, o clube está novamente a honrar os seus compromissos e com corpos gerentes constituídos e com actividade desportiva, no caso na modalidade de futebol com atletas veteranos a competir na Liga Masters da AFA - Associação de Futebol de Aveiro e conta ainda com uma vertente dedicada às corridas a que corresponde o núcleo do Guisande Trail Running, que acaba de organizar a 1ª edição do Trail do Viso.
Parabéns ao clube enquanto entidade imaterial mas sobretudo aos seus dirigentes.
Os tempos e contextos são muito diferentes daqueles em que levaram à fundação do clube, mas o seu papel agregador e identitário da nossa freguesia e comunidade ainda é deveras importante, tanto mais numa altura em que certos valores dessa mesma identidade e sentido de pertença têm seguido num processo de erosão. Há, pois, que "mudar o chip" e encontrar novas formas de renovar os fundamentos e objectivos mas manter sempre o espírito de clube e comunidade. Isso será uma forma de homenagear e valorizar quem aos longo deste quase meio século deu tempo e dedicação ao clube da sua terra. E foram muitos, em diferentes tempos.
Eu proprio tenho orgulho, mesmo que de forma muito simples, em ter feito parte dessa história, não apenas como associado mas tembém como director e mesmo que no final do mandato tivesse que suportar do próprio bolso o prejuízo nas contas, de resto como todos os demais directores. Posso não ser um assíduo assistente dos eventos, que não sou, mas o interesse, o apoio e carinho pelo clube e por quem o corporiza, mantém-se como há 44 anos.