29 de junho de 2023

Amoras

 


A tua boca linda

Doce de amoras

Toda me deste,

Plena, só minha.


Mas mais, ainda,

Tudo o que foras,

Flor campestre,

Dócil avezinha.


AA - 29-06-2023


A leitura e interpretação de um poema podem variar de acordo com cada pessoa, pois cada indivíduo traz consigo as suas próprias experiências, emoções e perspectivas da vida e das suas coisas. No entanto, existem algumas directrizes tidas como gerais que podem ajudar a compreender e sentir um poema.

- Leitura atenta: Um poema deve ser lido mais de uma vez para captar nuances e detalhes. Devem ser observadas as escolhas linguísticas, como palavras, ritmo, estrutura e recursos literários, como metáforas, aliterações, entre outros.

- Atmosfera emocional: É importante a atenção às emoções evocadas pelo poema. As palavras e as imagens usadas podem despertar sentimentos de alegria, tristeza, melancolia, esperança, amor, entre outros. A ligação com as emoções que o poema evoca em cada um de nós é um dos pontos fortes na leitura e interpretação de um poema.

- Contexto e temática: Devemos considerar o contexto em que o poema foi escrito e os possíveis temas abordados. Pode-se questionar sobre o que o poeta está a tentar transmitir. Os temas podem variar desde os mais comuns como amor, morte, natureza, questões existenciais, etc. . Interessa sempre identificar a mensagem central ou as ideias subjacentes a um poema.

- Imaginação e visualização: A imaginação deve fluir na leitura de um poema. Importa visualizar as imagens que ele cria em nossa mente, também as cores, as formas, os sons e cenários que são evocados pelas palavras.

- Reflexão pessoal: Um poema pode permitir-nos uma relação com as nossaa próprias experiências, memórias ou visões do mundo e de tudo quanto nos rodeia. Perguntemo-nos como o poema ressoa na nossa vida, nas emoções e pensamentos. Que reflexão sobre as questões levantadas pelo poema e como elas se aplicam a cada um de nós ou ao mundo em redor? Por conseguinte um poema pode dizer-nos muito se estiver em linha com as nossas orientações pessoais ou nada ou mesmo um sentimento adverso se versar ideias opostas às nossas. Há por conseguinte, na poesia, uma necessidade de compreensão,  de respeito pelo lado poético do outro, dos outros.

A interpretação de um poema é, apesar de tudo, muito subjetiva, e não há uma resposta única, convencional ou tida como correcta. O mais importante é permitir o envolvimento com a poesia, explorar sua linguagem e mergulhar nas emoções e significados que ela possa despertar. 

Neste contexto, sem prejuízo de outras leituras, outros sentimentos e outras interpretações, este meu simples poema acima, pode suscitar estas interpretações:

Propõe-se a retratar a beleza e a importância da boca da mulher amada ou desejada, através de uma linguagem poética e mesmo sensorial ou sedutora. No início da primeira estrofe o uso da expressão "A tua boca linda" cria logo uma atmosfera de encantamento, destacando a beleza e a atração que ela exerce sobre o poeta.

A referência à boca como "Doce de amoras" adiciona uma dimensão sensorial ao poema, evocando o sabor carnudo, adocicado e prazeroso das amoras. Essa comparação sugere que a boca da mulher é algo que o poeta deseja e saboreia intensamente.

A expressão "Toda me deste" expressa a entrega completa e apaixonada da amada através dos lábios. Essa frase revela a intensidade do amor e a fusão entre os amantes, como se a própria essência da pessoa estivesse sendo doada através do beijo.

O verso "Plena, só minha", enfatiza a exclusividade desse amor, onde o poeta se sente completo e plenamente pertencente à amada. Essa afirmação procura ressaltar a união profunda entre os dois.

A segunda e última estrofe, que inicia com "Mas mais, ainda", introduz uma mudança de tom ao explorar outros aspectos da amada. A comparação com uma "Flor campestre" transmite uma imagem de delicadeza, beleza natural e pureza, como que suavizando a abordagem mais carnal ou mesmo erótica que pode emanar da primeira parte. A metáfora de "Dócil avezinha"  reforça essa pureza de sentimento e sugere uma natureza  livre, tranquila e suave.

No geral, apesar da sua simplicidade com uma estrutura de duas estrofes com versos curtos, o poema destaca a importância universal da boca como um símbolo poderoso do amor e da conexão entre os amantes. Através de uma linguagem poética, o poema explora diferentes facetas da amada, desde a doçura até a delicadeza, criando uma atmosfera de amor e encantamento.


Américo Almeida