9 de outubro de 2023

Família Leite Resende - Trás-da-Igreja


D. Laurinda Resende e Dr. Joaquim Inácio

A descendência de um ramo da família Leite Resende, relacionada ao lugar designado, noutros tempos, de Trás-da-Igreja, ou mesmo Detrás-da-Igreja, mas actualmente apenas na forma simplificada de lugar da Igreja, é uma das mais importantes e consideradas da nossa freguesia. A mim parece-me interessante sob um ponto de vista documental e mesmo genealógico dispensar-lhe alguns apontamentos. Na actualidade relacionamos esta família à Casa do Dr. Joaquim Inácio.

A importância desta família, como de outras similares e noutras aldeias, naturalmente decorre da sua  posição social no contexto da freguesia, mas porventura terá sido de forma mais notória noutros tempos quando os extractos sociais eram mais vincados. Nesses tempos em que a subsistência da maioria das pessoas dependia das terras e do rendimento que retiravam delas, fosse na parte agrícola ou nos matos e pinhais, logo quem as possuía em quantidade era considerado como proprietário e a sua família como abastada.

Em regra, pela quantidade de propriedades, sobretudo as agrícolas, e face à incapacidade da própria família as explorar no seu todo, até porque, com recursos, os filhos em regra eram destinados a seguir estudos e formações académicas superiores, estas, pela sua disponibilidade, eram arrendadas a caseiros que assim as agricultavam mas pagando uma renda anual, eventualmente em dinheiro mas, à escassez deste, quase sempre com os próprios frutos da terra. Assim, dependendo das características e dimensões do campo, uns pagariam com um certo número de alqueires de milho, de feijão, centeio e mesmo de uvas. O meu pai, apesar de possuir como seus vários campos, como a família a manter era grande, chegou também a ter um tomado de renda a esta família da Casa do Dr. Joaquim Inácio e cuja renda era paga anualmente pelas vindimas com um determinado número de jigas de uvas, mais tarde convertidas em sacos. No caso eram uvas brancas que depois de vindimadas eram transportadas para a casa do senhorio e depositadas em lagar. Não raras vezes os caseiros ainda ajudariam na pisa.

Mais tarde o campo, que para além de uma extensa ramada de vinho que o circundava, era pouco produtivo, foi entregue e sem quem o cultivasse depressa se transformou em mato e hoje em dia está ocupado com parte de uma plantação de eucaliptos promovida pela família.




Casa da família do Dr. Joaquim Inácio



Espigueiros pertencentes à casa.

A esta família, que como todas as outras vão sofrendo alterações ao longo dos tempos, desde logo pela renovação das gerações, o povo de Guisande refere-se como a Casa do Dr. Joaquim Inácio, sendo que este nome a ela só é incorporado numa fase tardia e com ligação por via de casamento e não por descendência directa. Há algumas décadas atrás era mais conhecida pela Casa do Sr. Moreira, que era o pai da D. Laurinda Moreira de Resende e sogro do Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva.

D. Laurinda Moreira de Resende

Laurinda Moreira de Resende, que muitos de nós ainda conhecemos, carinhosamente como D. Laurindinha, era uma figura muito respeitada na freguesia, sendo depois da morte do marido, Dr. Joaquim Inácio, a matriarca da casa e da família.

Laurinda Moreira de Resende nasceu no dia 20 de Novembro de 1917. Faleceu em 1 de Março de 2009. Era filha de Manuel da Costa Moreira e de Maria da Conceição Leite de Resende. A sua mãe, era a terceira filha de nome de Bernardo Leite Resende e de Margarida Pereira de Resende (de Fiães). Era neta paterna de José Leite de Resende e de Teresa Maria de Jesus e neta materna de João Pereira e Josefa Rodrigues Pereira.

Nota: Em alguns assentos, parece haver confusão com o nome da esposa de Bernardo Leite Resende, surgindo como Margarida Rodrigues Pereira (que condiz com a assinatura) e Margarida Pereira de Resende. Sendo que dadas ambas como esposa de Bernardo, não encontrei provas de serem pessoas diferentes. Também a Josefa Rodrigues Pereira aparece como Josefa Rodrigues de Oliveira.


No jazigo capela da família, existente no cemitério de Guisande, obra de cantaria e escultura do meu bisavô materno (Raimundo José da Fonseca), seu pai e irmãos (que foram do lugar do Carvalhal - Romariz), existe ali a lápide (conforme imagem acima) com os nomes de Margarida Pereira de Resende e  Josefa Rodrigues Pereira.

O avô materno da D. Laurinda, Bernardo Leite de Resende, como se disse atrás era filho de José Leite de Resende e de Teresa Maria de Jesus. Por sua vez este José Leite de Resende, de que temos nota de ter tido uma irmã de nome Custódia, falecida em 9 de Novembro de 1773, era filho de Manuel José de Resende e de Mariana da Silva (trisavôs maternos da D. Laurinda). Como irmã deste José consegui identificar uma Ana Maria que nasceu em 22 de Março de 1878. Por sua vez, este Manuel José de Resende, era filho de Bartolomeu José de Resende e de sua segunda mulher Josefa Maria de Resende (tetravôs maternos da D. Laurinda). Mariana da Silva, a esposa de Bernardo, era filha de Manuel da Silva e de Ana Fernandes.

Este Bartolomeu José de Resende e a sua mulher Josefa tiveram ainda duas filhas gémeas, a Maria e a Ana, nascidas a 30 de Outubro de 1730 e baptizadas em 2 de Novembro do mesmo ano. Como curiosidade, a Maria teve como padrinho o Pe. Manuel Gomes de Pinho, irmão da mãe, a Josefa, e então pároco da Santa Maria de Arrifana. Por sua vez a Ana também teve como padrinho um sacerdote, o Pe. Manuel Alves da Conceição, natural de Guisande e morador no lugar de Cimo de Vila.

Quanto a Maria Teresa de Jesus, esposa do José Leite de Resende, era filha de Veríssimo Fernandes dos Santos e de Maria Ferreira. 

Ainda quanto ao José Leite de Resende e Teresa Maria de Jesus, bisavôs maternos da D. Laurinda, para além do Bernardo Leite de Resende (seu avô materno), tiveram outros filhos, dos quais apurei o José Leite de Resende, nascido em 5 de Maio de 1806 e que casou em 28 de Setembro de 1846 com Maria Pinto de Almeida (esta falecida em 4 de Junho de 1869 com 56 anos), sendo esta filha de Manuel Caetano dos Santos e de Maria Joaquina, do lugar de Estôse; o António Leite de Resende, nascido em 28 de Maio de 1808, a Maria, a Ana, o Joaquim, nascido em 8 de Junho de 1811 e que casou em 23 de Janeiro de 1857 com Maria Felizarda Gomes, esta filha de Francisco de Paiva e de Ana Margarida, de Cimo de Vila, e o Domingos nascido em 26 de Maio de 1816.

Destes nomes acima, filhos de José Leite de Resende e Teresa Maria de Jesus, o António Leite de Resende, nascido em 28 de Maio de 1808, falecido em 17 de Dezembro de 1871, veio a casar  em 27 de Maio de 1856 com uma descendente da Casa do Loureiro, da Barrosa, a Margarida Felizarda de São José Gomes de Almeida, que foram os pais de, entre outros, da Teresa, nascida em 1 de Abril de 1860, a Maria e o Raimundo Almeida de Leite Resende, este que foi pai, de entre outros, da D. Anunciação de Leite Resende, de que aqui já falámos.

Quanto à mãe da D. Laurinda, a Maria da Conceição Leite de Resende, como já ficou dito atrás, era a terceira filha de nome de Bernardo Leite Resende e de Margarida Rodrigues Pereira (de Fiães). Nasceu em 20 de Agosto de 1883 e faleceu em 14 de Dezembro de 1956. Casou com Manuel da Costa Moreira,  em 14 de Junho de 1916.

Os pais da D. Laurinda, Manuel da Costa Moreira e Maria da Conceição Leite Resende

Manuel Moreira da Costa, pai de D. Laurinda, era natural do lugar de Goim da freguesia de Romariz. Nasceu em 8 de Dezembro de 1890. Era filho de António da Costa Moreira e de Delfina Rodrigues de Oliveira. Era neto paterno de Manuel Alves Moreira  e de Maria Josefa Rodrigues. Era neto materno de Manuel José Rodrigues de de Rosa de Oliveira. Faleceu viúvo em 18 de Fevereiro de 1962. Este Manuel da Costa Moreira foi padrinho de baptismo do meu tio paterno Manuel Joaquim Gomes de Almeida (acabado de completar 100 anos de vida - 7 de Outubro de 2023).


O Sr. Moreira com o seu automóvel, defronte da sua casa, com o Pe. Francisco - Anos 40. O Sr. Moreira foi sempre uma pessoa de proximidade do Pe. Francisco.


O Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva al lado do Pe. Francisco - 1979

A D. Laurinda veio a casar em 18 de Fevereiro de 1943 com o Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva, do lugar de Aldeia da freguesia de Pigeiros, também proveniente de uma importante família e que por lá ainda tem descendentes. Era filho de Manuel Inácio da Costa Silva Júnior e de Ermelinda  Baptista de Pinho, que casaram em 19 de Julho de 1889. Era neto paterno de Manuel Inácio da Costa e Silva e de Margarida Henriques de Jesus (esta de Romariz). Era neto materno de Custódio António de Pinho e de Joaquina Maria Baptista de Jesus, da Casa da Quintão, do Outeiro - Guisande.

Por parte de seu avô, era sobrinho do reverendo Pe. António Inácio da Costa e Silva, que nasceu em 17 de Julho de 1864 e faleceu em 18 de Julho de 1938. Foi pároco da sua terra natal onde se encontra sepultado.


O Pe. José Inácio da Costa e Silva, tio paterno do Dr. Joaquim Inácio


Era ainda, pelo mesmo ramo, igualmente sobrinho do Pe. José Inácio da Costa e Silva, nascido em 21 de Junho de 1872 e que faleceu em 12 de Março de 1944, com 74 anos de idade, encontrando-se sepultado em Pigeiros. Este sacerdote foi pároco em Fermedo-Arouca e em Caldas de S. Jorge desde 1905 a 1939.

Ainda quanto a clérigos na família. o Dr. Joaquim Inácio teve um irmão sacerdote, o Pe. António Inácio da Costa e Silva Júnior, nascido em 6 de Junho de 1899. Chegou a ser pároco na freguesia do Vale. O ainda vivo e pároco de S. Vicente de Louredo, Pe. Eugénio de Oliveira e Pinho, é primo do Dr. Joaquim Inácio, já que é filho do seu tio António Baptista de Pinho.

Ainda da família Leite Resende, existiu o Pe.Manuel Leite de Resende, que nasceu em 4 de Setembro de 1758. Era filho de Manuel José de Resende e de Mariana da Silva (trisavôs maternos da D. Laurinda). Era neto paterno de Bartolomeu João e de sua segunda mulher Josefa Maria de Resende. Era neto materno de Manuel da Silva e de Ana Fernandes, do lugar da Lama. Era  irmão do Pe. José Leite de Resende, este nascido em 19 de Setembro de 1766.  

A mãe do Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva, Ermelinda  Baptista de Pinho, era de Guisande, filha de António Custódio de Pinho, da Casa da Quintão, do lugar do Outeiro.

O Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva era advogado com escritório na Vila da Feira. Era uma importante figura em Guisande. Após as primeiras eleições autárquicas realizadas depois do 25 de Abril de 1974, concretamente em 12 de Dezembro de 1976, chegou a ser presidente da Mesa da Assembleia de Freguesia de Guisande, entre 1976 e 1979.

Foi sempre o Dr. Joaquim Inácio uma figura respeitada e estimada pelos guisandenses e ajudou em muito ao desenvolvimento da freguesia, cedendo parcelas de terreno para benefício de abertura e alargamento de ruas bem como possibilitou a venda, a preços justos, de várias parcelas onde alguns guisandenses puderem edificar a sua habitação. Mesmo depois de falecido, a sua esposa e família continuaram receptivos à cedência de terrenos para permitir melhoramentos, como o caso do terreno onde existe a alameda frontal à igreja matriz. A freguesia, reconhecida, propôs ali a instalação de um busto de reconhecimento à sua figura mas a família, considerou, numa atitude de desprendimento, não a aceitar, mas em todo o caso a freguesia deu, com justiça e reconhecimento, o seu nome à respectiva alameda, no que foi inteiramente de justiça. 

Mais recentemente, e já depois do falecimento da D. Laurinda, a família acolheu a proposta da então Junta de Freguesia no sentido de ceder os terrenos envolventes à sede da Junta onde  seriam edificados futuros equipamentos, numa contrapartida a envolver a Câmara Municipal e compensações no processo de urbanização de terrenos no sítio de Linhares que a família estava a concretizar.

Apesar deste acordo ter suscitado por parte da oposição municipal algumas dúvidas e creio que mesmo uma fiscalização, considero pessoalmente, sem sombra de dúvidas que a freguesia de Guisande saíu a ganhar com esta permuta pois ficou com um amplo terreno pronto a ser utilizado em futuras necessidades de equipamentos e simultaneamente ficaram disponíveis parcelas de terreno para venda. A cena política deu uma reviravolta e os projectos então previstos, como o Centro Escolar de Guisande e a futura sede da Junta, não passaram de boas intenções. Mas isso são outras histórias.

Do casamento da D. Laurinda com o Dr. Joaquim Inácio, nasceram vários filhos, de que tenho memória da Manuela, a Odete, a Maria José, a Alcina, o António e o Manuel Inácio.

Nesta renovação própria das famílias, continua a Casa do Dr. Joaquim Inácio a pertencer a uma importante família no contexto da nossa freguesia e ainda muito considerada e respeitada.

Creio que das várias famílias guisandenses consideradas pelo povo como de abastadas, terá sido esta que ao longo dos tempos mais tem contribuído para o desenvolvimento da freguesia. 

Das demais famílias de Guisande com algum estatuto social, pouco se sabe e conhece de cedências, apoios e contributos a favor da freguesia ou se sim com contrapartidas bastantes. Eventualmente a Casa da Quintão, no tempo de António Custódio de Pinho (avô materno do Dr. Joaquim Inácio), que foi benfeitor em várias obras de melhoramentos na igreja matriz, mas pouco mais. Para além disso, alguns desses outros grandes proprietários raramente se mostraram disponíveis a dispensar património e a vender parcelas de terreno para construção e com isso condicionando e atrasando o progresso e crescimento urbanístico, bem ao contrário do que aconteceu em freguesias similares e nossas vizinhas que desse modo nos ultrapassaram em crescimento demográfico.

Para além do motivo meramente documental destes meus simples apontamentos genealógicos de uma importante família de Guisande, há uma outra leitura que deles se pode extrair, que de resto nem é novidade. Refiro-me ao facto das principais famílias abastadas de Guisande nesses outros tempos, terem ligações entre si por força de casamentos entre os seus membros. Assim é possível verificar ligações e relações familiares entre esta família de Trás-da-Igreja, com a da Casa da Quintão e a Casa do Loureiro. Com a Casa da Quintão, por via de descendência, também a Casa do Santiago. Mas há ainda outras ligações a outras casas igualmente consideradas no então contexto social da freguesia de Guisande.

Era de facto normal e de forma geral e sobretudo pelo estatuto social em que os grandes proprietários procuravam que os seus filhos e filhas casassem com outros da sua condição, mantendo e ampliando os patrimónios. Foi assim durante muito tempo. Na actualidade, com as melhores condições de vida e o aparecimento da classe média, as coisas são bastante diferentes e por isso vemos príncipes e princesas a casar com gente da "plebe". 

Por outro lado, os estatutos sociais e diferenças de classes foi-se diluindo e perdendo importância e já qualquer modesta família vive relativamente bem e com os seus filhos a poderem também asiprar, até por direito, a serem doutores e engenheiros. Filhos padres, como era vulgar nesses tempos passados nas famílias bastadas, é que já não, ou raridades.

Naturalmente que muito mais, mesmo em termos genealógicos poderia ser escrito sobre esta família, mas parece-me que o que aqui ficou escrito já é um bom contributo para a sua caracterização e, sobretudo para os mais novos, uma forma de melhor conhecerem as raízes de algumas das famílias da nossa freguesia e comunidade.

Bem sei que, à maioria, o tema e assunto pouco importará, até porque sempre teve sentido do provérbio que sentencia que "Deus dá nozes a quem não tem dentes". Ontem como hoje há verdades imutáveis.


Nota final: Os apontamentos aqui escritos, por dificuldades várias e escassez de documentos podem padecer de alguns erros ou imprecisões ou omissos quanto a alguns dados como nomes de familiares e datas. Por conseguinte baseiam-se apenas no que foi pssível pesquisar. Quaisquer informações que possam servir para completar ou corrigir são bem-vindas.